Aula 1 - Optativa 1º-2014 - documento

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas Departamento de História Tópicos de História IV Disciplina Optativa – 1º Semestre 2014 Império Romano e cristianismo antigo (séc. I-V) Módulo 1 Império Romano, Palestina e o “movimento de Jesus” Aula 1 DOCUMENTOS HISTÓRICOS O sonho de Cipião 1 (10) (Narrativa de Cipião Emiliano) […] acontece de fato ordinariamente que nossas reflexões e conversas provoquem algo no sono tal qual Ênio escreve de Homero, de que sem dúvida muito frequentemente em vigília costumava refletir e falar - mostrou- se a mim naquela forma que me era conhecida mais a partir de sua imagem do que a partir dele próprio. Quando o conheci [isto é, Cipião o Africano, seu avô], de fato tremi; mas ele diz: “Sê de ânimo e deixa o temor, Cipião, e o que eu disser transmite à memória. (11) “Vês aquela urbe que coagida por minhas ações a obedecer ao povo romano renova antigas guerras e não pode repousar?” (E mostrava Cartago de um certo lugar elevado e cheio de estrelas, iluminado e claro). “À qual tu vens agora quase soldado para sitiá-la; cônsul, nestes dois anos destruí-la-ás e terás esse cognome, causado por tuas ações, que tens até aqui, hereditário de nós. E, quando tiveres destruído Cartago, tiveres marchado em triunfo e tiveres-te tornado censor e tiveres percorrido como embaixador o Egito, a Síria, a Ásia, a Grécia, serás eleito segunda vez cônsul, estando ausente, e concluirás a maior guerra, arruinarás Numância. Mas, quando tiveres sido levado em carro ao Capitólio, encontrarás a república perturbada por projetos de meu neto”. […] (13) “Mas, para que sejas, Africano, mais ardoroso para guardar a república, tem como certo a todos que tenham conservado, ajudado, aumentado a pátria haver no céu um lugar definido, onde, felizes, gozem de vida eterna. De fato, nada há àquele principal deus que rege todo o mundo, que aconteça na terra, mais aceitável do que assembleias e reuniões de homens, unidas pelo direito, que são chamadas cidades; os dirigentes destas e guardiães, tendo partido daqui, para cá voltam”. MAIA JÚNIOR, Juvino Alves. “O Sonho de Cipião no De Re Publica, de Cícero”. In: Scientia 1 Traductionis. Nº 10, 2011. p. 241-257. p. 246-248.

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS!Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas!

Departamento de História!!Tópicos de História IV!

Disciplina Optativa – 1º Semestre 2014!!Império Romano e cristianismo antigo (séc. I-V)!!

Módulo 1!Império Romano, Palestina e o “movimento de Jesus”!!

Aula 1!!DOCUMENTOS HISTÓRICOS!!

O sonho de Cipião  !1!(10) (Narrativa de Cipião Emiliano) […] acontece de fato ordinariamente que nossas reflexões e conversas provoquem algo no sono tal qual Ênio escreve de Homero, de que sem dúvida muito frequentemente em vigília costumava refletir e falar - mostrou-se a mim naquela forma que me era conhecida mais a partir de sua imagem do que a partir dele próprio. Quando o conheci [isto é, Cipião o Africano, seu avô], de fato tremi; mas ele diz: “Sê de ânimo e deixa o temor, Cipião, e o que eu disser transmite à memória. (11) “Vês aquela urbe que coagida por minhas ações a obedecer ao povo romano renova antigas guerras e não pode repousar?” (E mostrava Cartago de um certo lugar elevado e cheio de estrelas, iluminado e claro). “À qual tu vens agora quase soldado para sitiá-la; cônsul, nestes dois anos destruí-la-ás e terás esse cognome, causado por tuas ações, que tens até aqui, hereditário de nós. E, quando tiveres destruído Cartago, tiveres marchado em triunfo e tiveres-te tornado censor e tiveres percorrido como embaixador o Egito, a Síria, a Ásia, a Grécia, serás eleito segunda vez cônsul, estando ausente, e concluirás a maior guerra, arruinarás Numância. Mas, quando tiveres sido levado em carro ao Capitólio, encontrarás a república perturbada por projetos de meu neto”. […] (13) “Mas, para que sejas, Africano, mais ardoroso para guardar a república, tem como certo a todos que tenham conservado, ajudado, aumentado a pátria haver no céu um lugar definido, onde, felizes, gozem de vida eterna. De fato, nada há àquele principal deus que rege todo o mundo, que aconteça na terra, mais aceitável do que assembleias e reuniões de homens, unidas pelo direito, que são chamadas cidades; os dirigentes destas e guardiães, tendo partido daqui, para cá voltam”.!!!

� MAIA JÚNIOR, Juvino Alves. “O Sonho de Cipião no De Re Publica, de Cícero”. In: Scientia 1

Traductionis. Nº 10, 2011. p. 241-257. p. 246-248.

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Vida do divino Augusto escrita por Suetônio  !2!90. No tocante aos assuntos religiosos, eis o que sabemos. Morria de medo de trovões e raios e, por isso, usava sempre e em toda parte uma pele de foca como capa e, a cada ameaça de tempestade um pouco mais forte procurava se refugiar num lugar subterrâneo posto que, em tempos passados, enquanto viajava foi aturdido por um raio que lhe caiu ao lado, como dissemos. !91. Não deixava de lado os sonhos que tinha ou que tinham os outros sobre ele. Uma vez, no campo de Felipe, embora houvesse decidido não sair da tenda por conta de uma enfermidade, acabou saindo advertido pelo sonho de um amigo; e isso lhe redundou em bem, pois quando o acampamento foi capturado, os inimigos destruíram a sua liteira imaginando que ele estivesse lá a dormir. Por toda a primavera, ele tinha muitas e extraordinárias visões de coisas vãs e falazes, no resto do tempo, as visões eram raras e com coisas menos coisas vãs. Como frequentava assiduamente o templo de Júpiter no Capitólio, uma vez sonhou que Júpiter Capitolino lamentava-se que seus devotos lhe foram tomados e que ele respondeu dizendo que o Tonante havia sido posto apenas como porteiro e, por isso, logo em seguida mandou colocar no fastígio do templo muitas sinetas, porque estas eram sempre postas nas portas das casas. Por conta de visão noturna, todos os anos em determinado dia ele pedia esmolas ao povo, estendendo a palma da mão a quem podia lhe oferecer algo.![…]!94. E porque tocamos nesse assunto, não será fora de propósito mencionar os fatos ocorridos antes que nascesse e no dia de seu nascimento e mesmo após, porque dessas coisas se podia ver e esperar a sua futura grandeza e perpétua felicidade. Quando uma parte da muralha de Veletri foi atingida por um raio, acreditou-se que um cidadão daquela cidade, um dia ou outro, seria o portador do poder. Por confiar nessas coisas, os veliternos de então e os pósteros guerrearam contra o povo romano quase até o extermínio; mais tarde, porém, se deram conta de que aquilo prenunciava a potência de Augusto. Júlio Márato nos conta que, poucos meses antes de [Augusto] nascer, ocorreu em Roma um prodígio que se tornou público e que anunciava que a natureza estava para parir um rei para o povo romano; o Senado, atemorizado, determinou que aquele que nascesse naquele ano não seria criado; todos os que tinham mulheres grávidas, esperando que aquilo podia acontecer com ele, faziam de tudo para que aquela lei não vigorasse. Nos Teologùmenoi de Asclepíades de Mende, li que Ácia foi durante a noite ao templo de Apolo para participar de uma cerimônia solene; mandou, então, colocar a sua liteira no templo e, quando as demais matronas já iam embora, ela caiu no sono; caindo no sono, eis que uma serpente, de surpresa, se aproximou dela e, pouco depois, foi embora; ela, acordando, foi tomar banho como se tivesse tido relações com seu marido; imediatamente, no seu corpo,

� CASORATI, Francesco (ed.). Gaio Svetonio Tranquillo. Vita dei Cesari. Edizione integral 2

con testo latino a fronte. Roma: Grandi Tascabili Economici Newton, 2008. p. 162-166.

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tornou-se visível uma mancha como se fosse uma serpente pintada na pele, mancha que não podia ser retirada de modo que, desde então, ela deixou de vez de frequentar os banhos públicos. Passados nove meses, nasceu Augusto e, por isso, foi considerado filho de Apolo.!!

Livro de Enoque  !3Capítulo 6 e 7![1] E aconteceu depois que os filhos dos homens se multiplicaram naqueles dias, nasceram-lhe filhas, elegantes e belas. [2] E quando os anjos, os filhos dos céus, viram-nas, enamoraram-se delas, dizendo uns para os outros: "Vinde, selecionemos para nós mesmos esposas da progênie dos homens, e geremos filhos”. [3] Então seu líder Samyaza disse-lhes: "Eu temo que talvez possais indispor-vos na realização deste empreendimento; [4] E que só eu sofrerei por tão grave crime”. [5] Mas eles responderam-lhe e disseram: "Nós todos juramos; [6] (e amarraram-se por mútuos juramentos), que nós não mudaremos nossa intenção, mas executamos nosso empreendimento projetado". [7] Então eles juraram todos juntos, e todos se uniram por mútuo juramento. Todo seu número era duzentos, os quais descendiam de Ardis, o qual é o topo do monte Armon. [8] Aquele monte portanto foi chamado Armon, porque eles tinham jurado sobre ele, e uniram-se por mútuo juramento. [9] Estes são os nomes de seus chefes: Samyaza, que era o seu líder, Urakabarameel, Akibeel, Tamiel, Ramuel, Danel, Azkeel, Saraknyal, Asael, Armers, Batraal, Anane, Zavebe, Samsaveel, Ertael, Turel, Yomyael, Arazyal. Estes eram os prefeitos dos duzentos anjos, e os restantes estavam todos com eles. [10] Então eles tomaram esposas, cada um escolhendo por si mesmo; as quais eles começaram a abordar, e com as quais eles coabitaram, ensinando-lhes sortilégios, encantamentos, e a divisão de raízes e árvores. [11] E as mulheres conceberam e geraram gigantes [12] cuja estatura era de trezentos cúbitos. Estes devoravam tudo o que o labor dos homens produzia e tornou-se impossível alimentá-los; [13] Então eles voltaram-se contra os homens, a fim de devorá-los; [14] e começaram a ferir pássaros, animais, répteis e peixes, para comer sua carne, um depois do outro, e para beber seu sangue. [15] Então a terra reprovou os injustos.

� Book of Enoch. From The Apocrypha and Pseudepigrapha of the Old Testament. Trad.: R. 3

H. Charles. Oxford: Clarendon Press, s/d. In: http://wesley.nnu.edu/index.php?id=2126 [acessado dia 10/02/2014.