Aula 1 teologia pentecostal

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Existe uma grande dificuldade na distinção feita da origem

e diversificação das igrejas cristãs através da história.

Estabelecer esse tipo de marco não é uma tarefa simples,

em se tratando dos diversos grupos que foram

incorporados à igreja cristã. O cristianismo possui uma

única origem: partiu do movimento sectário (a seita “do

Caminho”) que surgiu no mundo antigo judaico, com a

manifestação de Jesus Cristo e, depois, foi difundido por

seus apóstolos no mundo inteiro.

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Houve uma fase que se caracterizou pelo domínio oriental, com

base na igreja primitiva de Jerusalém; depois, como

consequência da multiplicação das comunidades evangelizadas

e influenciadas socialmente, aliada à conversão do imperador

romano Constantino, o governo da igreja mudou-se para o

Ocidente e se estabeleceu em Roma. Essa mudança de

influência política representa, depois da formação de igrejas

gentílicas pela intermediação do apóstolo Paulo, a segunda

grande transição na história do cristianismo.

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A Reforma, mais que uma transição, representou uma

ruptura que veio a culminar na criação de uma igreja

paralela e concorrente, fato nunca antes acontecido na

história da igreja. O bloco reformado se segmentou em

diversas ordens protestantes; além disso, outros grupos

cristãos mais aproximados do protestantismo do que do

catolicismo reivindicaram o status de protestantismo

paralelo em relação ao movimento reformador.

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O termo “pentecostal” origina-se de Pentecostes, nome

dado a uma festa anual do povo judeu, celebrada

cinqüenta dias após a Páscoa, também conhecida

como a festa das semanas, realizada no fim da sega

do trigo, ou dia seis do terceiro mês, Sivân (junho), em

comemoração ao recebimento do Decálogo. A relação

do pentecostalismo com a citada festa é indireta e

acidental, por duas razões:

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Primeiro, porque a doutrina pentecostal está diretamente

relacionada à descida do Espírito Santo; segundo, por causa

da afirmação doutrinária da manifestação dos dons da

glossolalia, falar em línguas estranhas, e da profecia como

sinais que acompanharam a inédita manifestação do Espírito

Santo. Como se pode perceber, o termo pentecostalismo não

faz alusão à festa judaica (o sentido legítimo do termo), mas

evoca as primeiras manifestações dos carismas do Espírito

enviado à igreja, coincidentemente ocorridas no dia de

pentecostes.

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Grande parte da pesquisa científica afirma que o

pentecostalismo descende de um protestantismo do espírito,

iniciado por três movimentos sucessivos ancestrais do

pentecostalismo — dos anabatistas, dos quacres e dos

metodistas — e pelos reavivamentos norte-americanos a

partir do século 18. Essa designação omite um forte

antecessor do pentecostalismo moderno, o montanismo.

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Esse movimento cristão surgiu no segundo século,

em meio ao declínio das crenças na volta de Cristo

e na inspiração constante do Espírito Santo. O

movimento reclamava a especial dispensação do

Espírito Santo no presente, praticava uma nova

manifestação do dom da profecia e apregoava a

proximidade do fim dos tempos.

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A eclosão do movimento pentecostal nos Estados Unidos,

de onde se disseminou para o mundo, deu-se entre a

população negra; em praticamente todos os lugares, as

igrejas pentecostais iniciaram suas comunidades

eclesiásticas entre as populações de baixa renda. A

indicação da ancestralidade dos três movimentos é em

parte procedente, sobretudo no que diz respeito ao

emocionalismo, à força do conceito de revelação direta do

Espírito Santo para os anabatistas e à ênfase na

iluminação do Espírito, acompanhada de tremores físicos,

difundida pelos quacres.

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Dois grandes avivamentos nos Estados Unidos são marcos

importantes para a emergência do pentecostalismo moderno.

O primeiro grande despertamento aconteceu no início do

século 18 e enfatizava a conversão como imperativo para a

participação da vida na igreja. Os pregadores avivalistas que

se destacaram na época foram: Theodore J. Frelinghuysen,

Gilbert Tennent e, sobretudo, o pastor congregacional

Jonathan Edwards, bem preparado intelectualmente e

profundo conhecedor da filosofia do seu tempo.

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Jonathan Edwards proclamava uma espiritualidade fruto

da comunhão direta entre Deus e a alma humana. Suas

reuniões aconteciam dentro de uma intensa atmosfera de

emoção. Esse perfil ministerial inspirou o surgimento

posterior de vários movimentos do tipo revival

(reavivalista) e holiness (santificador), que acreditavam

num novo estágio do cristianismo mediante o exercício da

glossolalia, evidência da conversão.

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O Segundo Grande Avivamento surgiu no fim do século 18 e se

prolongou até os anos 50 do século 19. Começando pela Igreja

Congregacional, alcançou os batistas, os presbiterianos e os

metodistas. O movimento foi menos marcado pelo

emocionalismo exagerado. O pregador que se destacou nesse

segundo despertamento foi um advogado do interior de Nova

York, ordenado pastor presbiteriano, chamado Charles

Grandison Finney. As sociedades voluntárias, voltadas para as

missões domésticas e estrangeiras, tiveram participação

importante nesse acontecimento.

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Ao longo dos séculos, os cultos de tradição pentecostal

incorporaram características distintas no que diz respeito aos

aspectos doutrinários e às ênfases carismáticas. Também são

bem perceptíveis a diversificação de sua clientela e as

mudanças que geraram novos tipos de performance de sua

liderança. Os valores morais da crença tiveram, também, ao

longo do tempo alterações visíveis, que revelaram ao mundo

social um pentecostalismo mais moderado e socialmente mais

participativo.

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O movimento pentecostal tem sido considerado um ramo

(desdobramento) tardio da Reforma. No princípio, foi

notadamente questionado; sobretudo pelas igrejas de

tradição reformada. Para elas, as comunidades

pentecostais não passavam de seitas. Foi necessário que

transcorresse meio século para que essa identidade

sectária perdesse força gradualmente. Convém lembrar a

natureza ideológica do conceito de seita.

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A história da Igreja Cristã é marcada por grandes reuniões

de debates teológicos e doutrinários. Foi assim desde Atos

15 até os Concílios históricos de Nicéia, Constantinopla,

Éfeso, Calcedônia e Trento, só para citar alguns, passando

pelos princípios que ensejaram a Reforma Protestante e

chegando às modernas expressões do protestantismo e

do movimento evangélico pentecostal e, mais

recentemente, neopentecostal.

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A teologia do pentecostalismo clássico, sobretudo, sua

concepção de antropologia parece inegavelmente

valorizar mais a alma e espírito do que o corpo.

Entretanto esta desvalorização do corpo não parece

ser uma posição tipicamente pentecostal, antes se faz

presente no cristianismo ao longo de sua história, e

parece perdurar e se mostrar explícita no modo cristão

pentecostal.

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Nos primórdios do cristianismo percebe-se certa

ambiguidade em torno da ideia de ser humano. A

Igreja nos primeiros séculos teve trabalho para

enfrentar as concepções grega e platônica, que

negavam o corpo e o apresentava junto com tudo

o que é material como coisa intrinsecamente má.

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Na obra intitulada “Fédon” de Platão (que muito

influenciou o pensamento cristão) a alma e o corpo

são tratados como entidades separadas, porque

pertencem a mundos antagônicos. A relação entre

corpo e alma é retratada de modo negativo, pois o

corpo é concebido como uma prisão para a alma. Esta

tensa relação entre corpo e alma, no pensamento

platônico é que vai influenciar a teologia cristã.

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O que é afirmado sobejamente nas Escrituras é a fé na

ressurreição dos mortos. Já o platonismo afirma a

imortalidade da alma e não reconhece a ressurreição,

amplamente defendida no Novo Testamento. A mistura

desses dois pensamentos (imortalidade da alma –

platônica; ressurreição – cristã) deu origem à seguinte

teologia: depois da morte do cristão a alma vê-se diante de

Deus, goza de sua presença até o fim dos tempos quando

será novamente reunida ao corpo ressuscitado. “A doutrina

da imortalidade da alma dos gregos foi completada com a

outra bíblica da ressurreição dos mortos”.

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Muitos gnósticos negavam a encarnação de Jesus,

pois diziam eles que Deus não poderia ter se

tornado matéria sem contaminar-se. Sendo assim,

Jesus apenas aparentava ser humano, todavia, seu

corpo não era real, apenas aparente. O Evangelho

de João, assim como as epístolas joaninas

claramente combatem o equívoco desse

ensinamento gnóstico (Cf. Jo 1.1-18; 1 Jo 4.1-3).

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A Escola de Valentino defendia a existência de três

classes de pessoas: os pneumatikoi (espirituais)

eram os salvos, os psychikoi (seguidores da alma)

poderiam alcançar a salvação se fossem iniciados

na gnosis e os sarkikoi (carnais) estavam perdidos,

para eles não havia esperança de salvação.

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Assim, o dualismo religioso e filosófico, desde os

primórdios, assedia o cristianismo com certa concepção

antropológica e de mundo caracterizado por séria

desconfiança em relação à matéria e toda corporeidade.

Outra problemática surgiu em torno de alguns escritos

do primeiro teólogo da igreja cristã, isto é, Paulo. Seus

escritos pareciam afirmar um certo dualismo

carne/espírito.

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Assim, se tem o desafio para os pais da Igreja definir o

que significava carne nos escritos de Paulo. Para

muitos, que realizavam uma interpretação literal, o

termo carne refere-se ao corpo humano; para outros,

que faziam uma leitura alegórica da Escritura, poderia

significar a natureza humana decaída. Acabou

prevalecendo a primeira concepção.

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Não é exagero afirmar que nenhuma outra filosofia da

antiguidade marcou tão fortemente a história inicial da

teologia cristã quanto o platonismo. Principalmente, no

período da Patrística o dualismo antropológico de origem

platônica é facilmente diagnosticado. As máximas desse

período relativas ao corpo comprovam: “O corpo é uma

prisão, um túmulo da alma; é preciso arrancar a alma

das ‘cadeias da carne’, do laço com um cadáver. A

carne é como um lodo em que a alma não pode deixar

de manchar-se e degradar-se”.

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No período Medieval (séc. VI-XV) a concepção de ser

humano é formulada a partir da Bíblia, porém, de

acordo com instrumentos teóricos provenientes da

filosofia grega. Daí se explica que uma concepção que

supunha o ser humano como unitário tenha cedido

espaço a uma concepção dualista.

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Este dualismo antropológico deve-se principalmente a

influência de um dos mais importantes teólogos da

História da Igreja, a saber, Agostinho. Sua influência

foi muito forte tanto no lado católico quanto protestante.

Pode-se afirmar que a mesma sobrepujou a Idade

Média, vindo na verdade a perdurar por toda a história

subsequente do cristianismo ocidental.

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Para Agostinho a busca de Deus equivale à busca da

verdade incorpórea. Isso ocorre não em detrimento do

corpo, mas como esforço de superação do mesmo. O

corpo, segundo Agostinho, não é um mal pois é

criatura de Deus, porém, é elemento em superação no

processo místico de encontrar a verdade absoluta.

Portanto, o encontro com Deus é compreendido como

uma ascese que não rejeita o corpo, contudo, procura

subordiná-lo à alma inteligente.

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Devido a notável influência do trabalho teológico de

Agostinho, a primeira metade da Idade Média esteve

dominada pela cosmovisão do filósofo Platão.

A segunda grande influência helênica no pensamento

cristão ocidental se deu mediante a adoção da teologia

escolástica, principalmente a de Tomás de Aquino

(1225-1274), pela igreja medieval e, sobretudo, pela igreja

romana, influencia esta que perdurou até o século XIX.

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Conforme Tomás de Aquino, a união entre corpo e alma

é uma união profunda e não um mero encontro acidental

entre duas realidades distintas. É uma relação entre dois

elementos que se completam totalmente. Para Tomás de

Aquino não existe oposição e exclusão entre corpo e

alma. Contudo, a perspectiva tomista ao defender a

constituição do ser humano a partir de dois princípios, a

alma e a matéria que unidos formam o corpo, também

não supera o dualismo aceito por Agostinho. A crença

tomista na imortalidade da alma igualmente mantém o

dualismo antropológico.

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Enfim, a influência grega e platônica marcou o cristianismo

ao longo da sua história e acabou por determinar a

interpretação bíblica, impingindo-lhe o conceito da

imortalidade da alma e a consequente desvalorização do

corpo mortal. Essa desvalorização da dimensão material da

vida não ficou apenas nos debates teológicos, ou nos

centros de estudo e interpretação da Escritura, mas atingiu

a espiritualidade cotidiana do cristão.

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Com a Reforma Protestante no século XVI o dualismo

antropológico não sofreu significativas mudanças. Convém

lembrar, que o mundo dos reformadores neste período era

constituído pela cultura cristã da Europa medieval em

transição.

Sendo assim, os reformadores Martinho Lutero (1483-1546),

João Calvino (1509-1564) entre outros, foram influenciados

pelos escritos de Agostinho, cujo pensamento se apóia no

neoplatonismo, especialmente o de Plotino.

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O reformador Lutero apresenta uma antropologia

de perfil mais integral, comparado com o seu

tempo. Conforme Hägglund: “Freqüentemente [sic]

se diz que a concepção de <<todo o homem>>

(totus homo) caracteriza Lutero. Ao invés do

dualismo escolástico entre corpo e alma, poderes

superiores e inferiores, Lutero introduziu o conceito

de totalidade no contexto teológico”.

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Para Lutero a totalidade humana foi atingida pelo

pecado, de modo que, não há dimensão do ser humano

que não tenha sido corrompida pelo pecado. Portanto,

não faz sentido perguntar por aspectos superiores ou

inferiores da constituição humana. Todavia, em Lutero

podem-se perceber em seu conceito dos dois reinos, o

espiritual e o secular, traços dualistas do seu contexto

religioso medieval.

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Para João Calvino a superioridade da alma sobre o corpo

é uma realidade inegável. Portanto, em seu pensamento se

encontra um dos principais fundamentos do dualismo

antropológico, que marca boa parte da teologia protestante,

especialmente de linha reformada. Calvino disse: “[...] que o

ser humano consta de alma e corpo, deve estar além de

controvérsia. E pela palavra ALMA entendo uma essência

imortal, contudo, criada, que lhe é [das duas] a parte mais

nobre”. Calvino é fiel à tradição platônica ao afirmar que o

corpo não passa de prisão da alma.

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Esse ascetismo calvinista vai seguir adiante nas igrejas de

tradição reformada e outras igrejas que sofreram a sua

influencia, direta ou indiretamente. Mais tarde, o pietismo

fundado por Filipe Jacó Spener (1635-1705) coloca uma

nova ênfase dentro da teologia cristã no âmbito

protestante, sobretudo luterano. Spener destacava a

experiência como o fundamento de toda fé autêntica.

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Em se tratando de uma experiência pessoal subjetiva

de transformação interior, a exterioridade, o mundo

material, assume uma dimensão negativa. O sinal de

uma vida em comunhão com Deus será demonstrado

pela abstenção do “mundano”, dos prazeres e das

diversões. Desta maneira, o corpo fica sob suspeita e,

assim, estabelece-se o dualismo antropológico.

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Augusto H. Franke (1663-1727), discípulo de Spener

concebeu um pietismo em alguns aspectos mais rígido que

seu mestre. Considerando o natural como

intrinsecamente pecaminoso, propôs o constante auto-

exame e a erradicação dos sentimentos naturais. Desse

modo, surge um dualismo entre o corpo e o interior do

indivíduo regenerado.

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Novamente o ser humano é concebido como dividido

em seu ser. A sua interioridade ocupa uma posição

privilegiada, tem contato com a santidade divina,

enquanto que o corpo é visto como ameaça que precisa

ser controlado e vigiado constantemente, pois

facilmente inclina-se ao mal.

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O pietismo, posteriormente exerceu considerável influência

sobre o metodismo, fundado no século XVIII pelo teólogo

inglês John Wesley, cuja ênfase teológica era a experiência

religiosa da conversão e santificação. Convém destacar que

o pentecostalismo tem suas raízes imediatas nos

movimentos avivalistas norteamericanos, que por sua vez

são oriundos do metodismo de John Wesley.

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O pentecostalismo que apareceu em 1909-1910 no Brasil,

Argentina e Chile e que experimentou extraordinário

crescimento mundial, é de caráter dualista em sua

antropologia. Segundo Klein o pentecostalismo é uma das

expressões religiosas atuais de caráter dualista. Porém, de

modo geral, essa tem sido a característica da maioria das

igrejas evangélicas, que têm demonstrado indiferença para

com o corpo e grande valorização da alma.

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Diante desta realidade, o pentecostalismo, fiel ao seu

contexto eclesiástico segue na mesma tendência. Os efeitos

disso podem ser uma exagerada valorização do espiritual,

que esquece o “aqui e agora”, e enfatiza a salvação da

alma. Esta pesquisa pressupõe que o dualismo

antropológico, ainda que moderado, se constitui numa das

características da teologia pentecostal brasileira. Isso

explica a insuficiência em práticas que visam à

transformação da realidade social e material, bem como o

distanciamento dos pentecostais da vida social.

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Os pentecostais, por várias décadas, mantiveram-se presos a

um rígido estereótipo. Bastava vê-los para que logo fossem

identificados, pejorativamente, como “crentes”, “bíblias”, “glórias”,

“aleluias”, etc. As igrejas neopentecostais promoveram uma

ruptura na identidade estética, na aparência desses religiosos,

abandonando os tradicionais usos e costumes de santidade

pentecostal. Usos e costumes é uma expressão utilizada pelos

pentecostais para se referir ao rigorismo legalista, às restrições

ao vestuário, uso de jóias, produtos de beleza, corte de cabelo e

a diversos tabus comportamentais existentes em seu meio

religioso, que paulatinamente foram amenizados.

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Esses antigos usos e costumes podem ser considerados como um

código por meio do qual se esperava alcançar a salvação, através

da observância de certos tabus, tais como os referentes à bebida

alcoólica, televisão, cinema e cigarro, visando destacar

publicamente os pentecostais da sociedade. Essas proibições e

restrições erguiam uma barreira entre o fiel evangélico e o mundo.

Os anos 50 marcaram o início do processo de alteração no perfil

estético e nos costumes dos evangélicos. Entretanto, somente nos

anos 80 é que efetivamente despontaram significativas mudanças

na estética, nos costumes e hábitos dos novos evangélicos.

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Os jovens neopentecostais aboliram as “veste dos santos”. Os

membros das denominações do neopentecostalismo, muitos

deles oriundos do pentecostalismo clássico e do

deuteropentecostalismo, das igrejas protestantes históricas e

renovadas, adotaram ritmos musicais, vestuário, comportamentos

e estilos de vida similares aos seus pares não evangélicos,

subvertendo de vez o padrão estético que boa parte dos

pentecostais ainda adota, como a Assembléia de Deus.

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Além, das afirmações doutrinárias contidas nas obras

da Casa Publicadora das Assembléias de Deus - CPAD

(que serão analisadas posteriormente) pode-se

perceber o dualismo corpo/alma no “Credo oficial das

Igrejas Assembléias de Deus no Brasil”, maior

representante do pentecostalismo brasileiro:

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“No perdão dos pecados, na salvação presente e perfeita e

na eterna justificação da alma recebidos gratuitamente de

Deus pela fé no sacrifício efetuado por Jesus Cristo em

nosso favor”. Assim, omite-se a afirmação cristã da

“ressurreição do corpo”.

O credo da AD não menciona a salvação do corpo do ser

humano, mas somente a “eterna justificação da alma”,

revelando desse modo um verdadeiro reducionismo

antropológico e soteriológico.

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O "Cremos" é uma declaração de fé concisa e sintetizada,

que equivale aos Credos elaborados e presentes na Grande

Tradição Cristã. Sua origem nas Assembleias de Deus no

Brasil remonta ao ano de 1938, quando o missionário norte-

americano Theodoro Stohr, que atuava no interior de São

Paulo, na edição do Mensageiro da Paz da segunda

quinzena de outubro, p. 2, publicou um artigo traduzido por

ele, sob o título "Em que crêem os pentecostais (no

evangelho integral)", onde um "Cremos" foi citado. As razões

para a publicação do artigo de Sthor foram as constantes

difamações, e as concepções errôneas acerca do movimento

pentecostal.

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O atual "Cremos" das Assembleias de Deus no Brasil,

publicado no Mensageiro da Paz desde 1969, afirma:

CREMOS,

1) Em um só Deus, eternamente subsistente em três pessoas:

o Pai, o Filho e o Espírito Santo (Dt 6.4; Mt 28.19 e Mc 12.29);

2) Na inspiração verbal da Bíblia Sagrada, única regra infalível

de fé normativa para a vida e o caráter cristão (2Tm 3.14-17);

3) Na concepção virginal de Jesus, em sua morte vicária e

expiatória, em sua ressurreição corporal dentre os mortos e sua

ascensão vitoriosa aos céus (Is 7.14; Rm 8.34 e At 1.9);

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4) Na pecaminosidade do homem que o destituiu da glória de

Deus, e que somente o arrependimento e a fé na obra

expiatória e redentora de Jesus Cristo é que pode restaurá-lo a

Deus (Rm 3.23 e At 3.19);

5) Na necessidade absoluta do novo nascimento pela fé em

Cristo e pelo poder atuante do Espírito Santo e da Palavra de

Deus, para tornar o homem digno do Reino dos Céus (Jo 3.3-

8);

6) No perdão dos pecados, na salvação presente e perfeita e

na eterna justificação da alma recebidos gratuitamente de

Deus pela fé no sacrifício efetuado por Jesus Cristo em nosso

favor. (At 10.43; Rm 10.13; 3.24-26 e Hb 7.25; 5.9);

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7) No batismo bíblico efetuado por imersão do corpo inteiro uma só

vez em águas, em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo,

conforme determinou o Senhor Jesus Cristo (Mt 28.19; Rm 6.1-6 e

Cl 2.12);

8) Na necessidade e na possibilidade que temos de viver vida santa

mediante a obra expiatória e redentora de Jesus no Calvário,

através do poder regenerador, inspirador e santificador do Espírito

Santo, que nos capacita a viver como fiéis testemunhas do poder

de Cristo (Hb 9.14 e 1Pd 1.15);

9) No batismo bíblico no Espírito Santo que nos é dado por Deus

mediante a intercessão de Cristo, com a evidência inicial de falar

em outras línguas, conforme a sua vontade (At 1.5; 2.4; 10.44-46;

19.1-7);

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10) Na atualidade dos dons espirituais distribuídos pelo Espírito

Santo à Igreja para sua edificação, conforme sua soberana

vontade (1Co 12.1-12);

11) Na Segunda Vinda premilenial de Cristo, em duas fases

distintas. Primeira — invisível ao mundo, para arrebatar a sua

Igreja fiel da terra, antes da Grande Tribulação; segunda —

visível e corporal, com sua Igreja glorificada, para reinar sobre o

mundo durante mil anos (1Ts 4.16, 17; 1Co 15.51-54; Ap 20.4;

Zc 14.5 e Jd 14);

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12) Que todos os cristãos comparecerão ante o Tribunal

de Cristo, para receber a recompensa dos seus feitos em

favor da causa de Cristo na terra (2Co 5.10);

13) No juízo vindouro que recompensará os fiéis e

condenará os infiéis (Ap 20.11-15);

14) E na vida eterna de gozo e felicidade para os fiéis e

de tristeza e tormento para os infiéis (Mt 25.46

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O pentecostalismo é um movimento cristão oriundo do

protestantismo evangélico, que afirma a importância da

experiência com o Espírito Santo, iniciada pelo batismo no

Espírito Santo e confirmada pelos dons de falar novas

línguas. Entre suas principais características, pode-se

destacar: ênfase na espiritualidade e nos dons espirituais,

nova dinâmica litúrgica, a tendência à leitura literal dos

textos bíblicos, a intensa atividade de leigos na expansão e

administração das comunidades pentecostais e a busca da

salvação da alma.

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A teologia pentecostal no Brasil, representada pela AD,

ainda está em processo de construção. Destaca a pessoa

do Espírito Santo, o batismo do Espírito Santo e a

atualidade dos dons do Espírito, assim como a santificação

e vinda de Jesus. A teologia pentecostal possui um aspecto

dinâmico pela sua abertura à experiência do Espírito e, a

certos aspectos religiosos da cultura brasileira, por outro

lado é de natureza dogmática e fundamentalista,

priorizando uma leitura da Bíblia de caráter literalista.

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A teologia pentecostal atualmente esforça-se para

apresentar uma feição mais coesa e coerente com suas

crenças e práticas. Isso porque em suas primeiras

décadas, o pentecostalismo brasileiro não tinha o ensino

teológico formal como a sua prioridade básica. Gunnar

Vingren, um dos pioneiros da denominação no país, era

um pastor com formação teológica, e muito se preocupou

em instruir os primeiros crentes, com ênfase para as

doutrinas pentecostais.

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Daniel Berg e Gunnar Vingren

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Os anos de 1910 e 1911, socialmente marcados por movimentos

operários em busca de melhores condições de trabalho, viram

surgir as duas mais antigas e mais importantes igrejas

pentecostais em terras brasileiras: a Congregação Cristã do Brasil

e a Assembleia de Deus. A primeira foi fundada em 1910 na

capital paulista, no bairro do Brás, então densamente povoado de

italianos. Seu fundador, Luigi Francescon, viveu algum tempo nos

Estados Unidos, como imigrante, foi presbiteriano e depois

abraçou o pentecostalismo. A segunda nasceu um ano depois, em

Belém do Pará.

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Nasceu a Congregação de uma cisão entre presbiterianos,

da mesma forma que um ano mais tarde a Assembleia de

Deus iria surgir, em Belém, de batistas dissidentes. O

rompimento que eclodiu na igreja presbiteriana do Brás foi

de carater estritamente religioso e não social, pois os

presbiterianos não andavam metidos com as greves.

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A raiz da cisão emergia da novidade trazida por Francescon — o

batismo no Espirito Santo, como uma etapa além da conversão.

Cindia-se a igreja presbiteriana, no Brás, não por influencia de

pastores, e sim de simples crentes sob o carisma de um líder.

Era um dia de culto. A convite do próprio pastor, Francescon

ocupou o púlpito. A pregação do pentecostal deixou o dirigente

da igreja de tal modo irritado e contrafeito que este acabou por

expulsar do templo o estranho pregador. Ao abandonar o recinto,

Francescon viu-se cercado por um grupo de evangélicos. Eram

as primeiras adesões.

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Com eles fundou o grupo inicial da Congregação. Nascia um

pequeno templo no Brás, que mais tarde se transformaria na

igreja-mãe da Congregação. De Francescon o grupo recém-

criado recebeu os primeiros traços de sua organização,

inteiramente diferente da presbiteriana. Através dele a

Congregação incorporou simultaneamente a crença no poder

do Espírito e forte tendência iluminista caracterizadora de uma

maneira peculiar de se comunicar com Deus — o Espirito Santo

segreda ao crente, em oração, o que dele deseja.

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Absorveu ainda as marcas do rigorismo valdense trazido

por Francescon dos anos vividos no norte da Italia. Ainda

hoje perduram, transparecendo em vários comportamentos

religiosos e sociais dos crentes. Da Biblia o fundador

retirou, além da fundamentação das crenças, as categorias

dos funcionários da nova igreja: ancião em vez de pastor;

cooperador em lugar de presbítero.

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Contrastando com as demais igrejas pentecostais, a

Congregação não tem escolas dominicais. Geralmente é nelas

que os crentes adquirem o conhecimento dos textos bíblicos.

Para a Congregação, este dispositivo de aprendizagem acaba

torcendo a inspiração individual, imprimindo um rumo nas

crenças. Afastando-as, o iluminismo religioso acampa sozinho

na leitura individual da Bíblia, quando o crente vai aprendendo

sob a inspiração de Deus.

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Corria o ano de 1911 quando um estranho acontecimento

começou a sacudir o ambiente religioso de uma igreja batista

em Belém do Pará. Uma crente falou em línguas estranhas.

Não uma vez. Mas muitas vezes, Muitos crentes presenciaram.

Espalhou-se a noticia do inusitado fenômeno. No centro dessa

ocorrencia estavam dois pentecostais, Daniel Berg e Gunnar

Vingren, Suecos de nascimento, americanos pela nova religião

que traziam para o Brasil. Tinham sido batistas antes de se

tornarem pentecostais, lá nos Estados Unidos, razão pela qual

receberam fraternal acolhimento dos batistas de Belém.

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Nua e crua, para quem quisesse ver, lá estava a

prova da glossolalia, estampada nos gestos e na

linguagem desconhecida de uma crente brasileira.

Nascia a cisão e era uma alternativa. A outra era a

igreja batista se tornar pentecostal, ao que os

pastores se opunham. As discussões passaram das

casas dos crentes para o interior do templo.

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Ate que, num culto, ficando por demais acirradas, a

consequência foi um agudo desentendimento entre os

missionários americanos e o próprio dirigente da

celebração. Expulsos por este, os dois pentecostais

carregaram consigo um punhado de batistas.

Fundava-se a primeira igreja da Assembleia de Deus

em Belém do Para, em junho de 1911.

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A Bíblia de Estudo Pentecostal afirma que o espírito é o

componente imaterial do ser humano pelo qual se tem

comunhão com Deus. A alma, igualmente imaterial é a sede das

emoções, da razão e da vontade. Anela pelo contato com o

mundo e o faz por intermédio do corpo. O corpo é a parte do ser

humano que serve de abrigo para a dimensão espiritual, isto é, a

alma e espírito e que volta ao pó quando a pessoa morre.

Page 72: Aula 1 teologia pentecostal

Bergstén disse: “Deus, que é trino, criou o homem como um ser

tríplice, isto é, composto de corpo, alma e espírito”. A teologia

pentecostal compreende que embora os termos “alma e espírito”

sejam usados intercaladamente, persistem diferenças

fundamentais em vários textos das Escrituras. Assim, ensina que

o Novo Testamento afirma que o ser humano é um ser tripartido,

composto de espírito, alma e corpo (1 Ts 5.23).

Page 73: Aula 1 teologia pentecostal

Em Azusa, os cultos eram longos e, de forma geral,

espontâneos. Nos primórdios, a música era à capela, embora

um ou dois instrumentos fossem tocados. Os cultos incluíam

cânticos, testemunhos dados por visitantes ou lidos daqueles

que escreviam para a Missão, oração, momento de apelo

para pessoas aceitarem Cristo, apelo à santificação ou ao

batismo no Espírito Santo, e fervorosa pregação.

Page 74: Aula 1 teologia pentecostal

Pearlman, teólogo pentecostal cita quatro distinções da alma:

1. A alma distingue a vida humana e a vida dos irracionais

das coisas inanimadas e também da vida inconsciente como a

vegetal;

2. A alma do ser humano o distingue dos irracionais. Estes

possuem alma, mas é alma terrena que vive somente

enquanto durar o corpo. A alma do homem é qualitativamente

diferente, sendo vivificada pelo espírito;

Page 75: Aula 1 teologia pentecostal

3. A alma distingue o ser humano de outro e dessa maneira

forma a base da individualidade. A palavra “alma” é,

portanto, usada frequentemente no sentido de “pessoa”;

4. Finalmente, a alma distingue o ser humano não somente

das ordens inferiores, mas também das ordens superiores

dos anjos, porque estes não têm corpos semelhantes aos

dos homens.

Page 76: Aula 1 teologia pentecostal

A antropologia teológica pentecostal defende que o homem

“espírito”, é capaz de ter conhecimento de Deus e comunhão

com Ele. Sendo “alma”, ele tem conhecimento de si próprio.

Sendo “corpo”, através dos sentidos tem conhecimento do

mundo. Assim sendo, as funções ficam assim definidas:

a) - Espiritual: Deus habita no espírito;

b) - Moral: O eu habita na alma;

c) - Física: Os sentidos habitam no corpo.

Page 77: Aula 1 teologia pentecostal

Na antropologia teológica pentecostal há uma verdadeira

hierarquia da constituição humana, atribuindo-se maior valor

à parte “espiritual”, do que a material do ser humano. Desse

modo é caracterizado por um dualismo moderado de

natureza axiológica. Bergstén afirma: “(...) o real valor do

corpo está na sua alta finalidade de ser a morada, o

tabernáculo em que habita a alma e o espírito do homem

(...)”. O corpo, desse modo, não possui valor em si mesmo,

antes seu valor consiste em ser “morada” da alma.

Page 78: Aula 1 teologia pentecostal

Década de 50- AD São Cristóvão

Page 79: Aula 1 teologia pentecostal

Década de 50- O Brasil para Cristo

Page 80: Aula 1 teologia pentecostal

Década de 50-Cruzadas de Boatright

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Page 82: Aula 1 teologia pentecostal

Década de 70- AD Pernambuco

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Page 84: Aula 1 teologia pentecostal

Década de 90- Cruzada Evangelistica

Page 85: Aula 1 teologia pentecostal

Década de 2000- Cruzada Evangelistica

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