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Geografia Geografia Frente III DESENVOLVIMENTO E SUBDESENVOLVIMENTO DESENVOLVIMENTO E SUBDESENVOLVIMENTO O QUE É DESENVOLVIMENTO? É bastante claro que o mundo em que vivemos é uma terra de imensos contrastes e desigualdades entre os povos. Por exemplo, o quinto (20%) mais rico da população mundial: → consome 45% da carne e do peixe, enquanto as pessoas mais pobres (também um quinto) consomem menos de 5%; → consome 58% da energia total, enquanto as pessoas mais pobres consomem menos de 4%; → possui 74% do total de linhas telefônicas, enquanto as pessoas mais pobres só têm 1,5%; → consome 84% do total de papel, enquanto as pessoas mais pobres consomem 1,1%; possui 87% dos veículos existentes em todo o mundo, enquanto as mais pobres têm menos de 1%. (dados do Relatório do Desenvolvimento Mundial de 1997, 1998 e 1999) Tais disparidades são vistas entre os diversos países e entre as pessoas dentro de um mesmo país. A noção de desenvolvimento e subdesenvolvimento vem das disparidades entre os países, notadamente no que se refere ao desenvolvimento humano (qualidade de vida e bem-estar). Isso se deve ao fato de, nos aspectos econômicos, termos países subdesenvolvidos com maior riqueza gerada que países subdesenvolvidos. É o caso, por exemplo, de Noruega (desenvolvida) e Brasil (subdesenvolvido). O PIB da Noruega é de US$400 bilhões, enquanto o do Brasil esbarra em US$1,5 trilhão, quase quatro vezes maior. O que difere os dois países, no entanto, é a qualidade de vida de cada habitante, sabidamente maior na Noruega. Em essência, é esse o fator que separa países desenvolvidos de subdesenvolvidos. Procure, nesse capítulo, por “PIB e PNB” para mais detalhes. Mas como podemos definir desenvolvimento? Sua noção vem da necessidade de comparar os diversos países segundo suas disparidades econômicas e sociais. Desse modo, desenvolvimento e subdesenvolvimento são inseparáveis como conceitos distintos, uma vez que o desenvolvimento de um acarreta alguns indicadores que, quando comparados com países mais pobres, geram o conceito de países menos desenvolvidos, no caso os subdesenvolvidos. Assim, o subdesenvolvimento não pode ser encarado como um estágio para se chegar ao desenvolvimento, mas apenas uma classificação decorrente de alguns indicadores econômicos e sociais. Um país pode ser considerado desenvolvido se a maior parte de sua população apresentar boas condições de vida, traduzidas em renda, expectativa de vida, poder de compra e outros indicadores. Na prática, tem-se como desenvolvidos os EUA, Canadá, Japão, Austrália, Nova Zelândia, Israel e a maior parte dos países da Europa (notadamente sua porção ocidental). Segundo relatório divulgado pela ONU em 2001, alguns países já detêm indicadores suficientes para serem considerados desenvolvidos. É o caso, por exemplo, de Cingapura e Hong Kong, países do Sudeste Asiático com indicadores econômicos e sociais comparáveis às nações desenvolvidas. Em algumas projeções, o Chile aparece, já em 2020, com indicadores de país desenvolvido (veja especial no fim do capítulo). A TEORIA DO DESENVOLVIMENTO – A DIVISÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO (DIT) CASD Vestibulares GEOGRAFIA 1

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DESENVOLVIMENTO E SUBDESENVOLVIMENTODESENVOLVIMENTO E SUBDESENVOLVIMENTO

O QUE É DESENVOLVIMENTO?

É bastante claro que o mundo em que vivemos é uma terra de imensos contrastes e desigualdades entre os povos.

Por exemplo, o quinto (20%) mais rico da população mundial:

→ consome 45% da carne e do peixe, enquanto as pessoas mais pobres (também um quinto) consomem menos de 5%;

→ consome 58% da energia total, enquanto as pessoas mais pobres consomem menos de 4%;

→ possui 74% do total de linhas telefônicas, enquanto as pessoas mais pobres só têm 1,5%;

→ consome 84% do total de papel, enquanto as pessoas mais pobres consomem 1,1%;

→ possui 87% dos veículos existentes em todo o mundo, enquanto as mais pobres têm menos de 1%.(dados do Relatório do Desenvolvimento Mundial de 1997, 1998 e 1999)

Tais disparidades são vistas entre os diversos países e entre as pessoas dentro de um mesmo país. A noção de desenvolvimento e subdesenvolvimento vem das disparidades entre os países, notadamente no que se refere ao desenvolvimento humano (qualidade de vida e bem-estar). Isso se deve ao fato de, nos aspectos econômicos, termos países subdesenvolvidos com maior riqueza gerada que países subdesenvolvidos.

É o caso, por exemplo, de Noruega (desenvolvida) e Brasil (subdesenvolvido). O PIB da Noruega é de US$400 bilhões, enquanto o do Brasil esbarra em US$1,5 trilhão, quase quatro vezes maior. O que difere os dois países, no entanto, é a qualidade de vida de cada habitante, sabidamente maior na Noruega. Em essência, é esse o fator que separa países desenvolvidos de subdesenvolvidos. Procure, nesse capítulo, por “PIB e PNB” para mais detalhes.

Mas como podemos definir desenvolvimento? Sua noção vem da necessidade de comparar os diversos países segundo suas disparidades econômicas e sociais. Desse modo, desenvolvimento e subdesenvolvimento são inseparáveis como conceitos distintos, uma vez que o desenvolvimento de um acarreta alguns indicadores que, quando comparados com países mais pobres, geram o conceito de países menos desenvolvidos, no caso os subdesenvolvidos. Assim, o subdesenvolvimento não pode ser encarado como um estágio para se chegar ao desenvolvimento, mas apenas uma classificação decorrente de alguns indicadores econômicos e sociais.

Um país pode ser considerado desenvolvido se a maior parte de sua população apresentar boas condições de vida, traduzidas em renda, expectativa de vida, poder de compra e outros indicadores.

Na prática, tem-se como desenvolvidos os EUA, Canadá, Japão, Austrália, Nova Zelândia, Israel

e a maior parte dos países da Europa (notadamente sua porção ocidental).

Segundo relatório divulgado pela ONU em 2001, alguns países já detêm indicadores suficientes para serem considerados desenvolvidos. É o caso, por exemplo, de Cingapura e Hong Kong, países do Sudeste Asiático com indicadores econômicos e sociais comparáveis às nações desenvolvidas. Em algumas projeções, o Chile aparece, já em 2020, com indicadores de país desenvolvido (veja especial no fim do capítulo).

A TEORIA DO DESENVOLVIMENTO – A DIVISÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO (DIT)

O que causa o desenvolvimento ou o subdesenvolvimento?

As disparidades do planeta já foram atribuídas aos climas, culturas, etnias. Mas, na verdade, os fatores causadores desses contrastes possuem natureza política, histórica, econômica e social.

Diferenças na distribuição de riquezas ocorrem desde a Antigüidade, mas a configuração que hoje existe é resultado da dinâmica do boom econômico posterior ao advento da Revolução Industrial, do final da Idade Moderna, que acabou gerando a sensível divisão entre nações com ou sem parque industrial desenvolvido. Você também verá mais detalhes sobre capitalismo e industrialização em outras aulas.

Instalou-se, a partir daí, a chamada Divisão Internacional do Trabalho (DIT), com subsistemas periféricos (países subdesenvolvidos) e subsistemas dominantes (os desenvolvidos).

Inicialmente, tinham-se as colônias fornecendo produtos primários (agrícolas, minerais) para as metrópoles, que cediam os seus manufaturados (industrializados), de maior valor agregado. Desse modo, a riqueza se concentrava nas metrópoles, enquanto as colônias continuavam atrasadas.

Assim, tal teoria defende que, com a perpetuação da DIT, as antigas colônias continuam a exercer seu papel clássico, tornando-se os atuais países subdesenvolvidos, enquanto as metrópoles continuaram a ser os subsistemas dominantes. Em geral, isso se aplica, apesar do subdesenvolvimento também apresentar causas internas, como má qualidade do gasto público (corrupção e inchaço estatal), serviços públicos de baixa qualidade, como educação e saúde, além de investimentos insuficientes no ganho de competitividade e incremento de infra-estrutura.

Mas e o caso de nações como os EUA, uma ex-colônia que é atualmente a maior economia do mundo? Ele pode ser explicado pelo fato de terem existido dois tipos básicos de colônias:

→ as colônias de exploração foram aquelas ocupadas para servir aos interesses de enriquecimento das metrópoles, sofrendo forte controle

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destas e tendo sua economia dependente da metropolitana. Esse controle é sintetizado pelo Pacto Colonial, que será abordado nas disciplinas de História. Tais colônias foram submetidas à DIT, no papel de subsistemas periféricos, e são hoje, em geral, países subdesenvolvidos. Quase todas as colônias foram deste tipo, como os países da África, da América Latina e Ásia.

→ as colônias de povoamento foram aquelas ocupadas por europeus fugidos de seus países (muitas vezes dissidentes religiosos ou até mesmo condenados da justiça). Eles implantaram o modo de vida que possuíam na Europa, criando um mercado interno e suas próprias manufaturas. Tais colônias não sofriam grandes pressões metropolitanas, não sendo forçadas a entrar na DIT como subsistemas periféricos. Esse é o caso dos EUA, Canadá, Austrália e Nova Zelândia, hoje países desenvolvidos.

No caso americano, um termo bastante utilizado é o da Negligência Salutar, baseada na falta de interesse da metrópole (Inglaterra) na exploração dos EUA, possibilitando o posterior desenvolvimento da economia americana.

CLASSIFICAÇÕES DOS PAÍSES QUANTO AO DESENVOLVIMENTO

Algumas classificações dos países de acordo com seu grau de desenvolvimento foram utilizadas nos últimos tempos. Vejamos as mais importantes.

Primeiro, Segundo e Terceiro Mundo

Tal classificação foi largamente utilizada durante a Guerra Fria (1945-1989), período marcado pela bipolaridade entre as superpotências capitalista (EUA) e socialista (URSS).

O Primeiro Mundo era composto pelos países capitalistas desenvolvidos. O Segundo Mundo era composto pelo bloco socialista. Já o Terceiro Mundo englobava os países capitalistas subdesenvolvidos (alguns autores colocam os países socialistas subdesenvolvidos no Terceiro Mundo, juntamente com os também subdesenvolvidos capitalistas).

Desenvolvidos e Subdesenvolvidos

Tal classificação ainda é largamente utilizada (usada inclusive por esse material) e já foi definida previamente.

Os países desenvolvidos seriam os subsistemas dominantes, fornecendo produtos industrializados para os subdesenvolvidos (subs. periféricos), que forneceriam produtos primários. Porém, na atual fase do capitalismo financeiro, essa conjuntura não é tão simples.

Por exemplo, alguns países subdesenvolvidos se industrializaram, como o Brasil. Essa industrialização se deu segundo um modelo bastante dependente de capital e tecnologia do mundo desenvolvido. Isso fez com que o processo industrial, em diversos países, estivesse vinculado a interesses

estrangeiros e não trouxesse o desenvolvimento característico da industrialização.

Na atual fase do capitalismo, a localização da indústria deixou de ser o fator preponderante. Torna-se primordial o fluxo de capitais, assim como a posse e produção de tecnologia.

Desse modo, passaram a existir dois tipos de países subdesenvolvidos: os países subdesenvolvidos industrializados e os subdesenvolvidos agrários (esse ‘agrários’ seria mais bem expresso por ‘não-industrializados’, uma vez que alguns deles podem ter sua economia baseada em fontes não agrárias, como mineração).

Mas a DIT clássica ainda existe (com algumas alterações); ocorre entre desenvolvidos e subdesen-volvidos agrários:

→ os subdesenvolvidos fornecem produtos primários mais capitais em forma de juros e lucros das empresas transnacionais.

→ os desenvolvidos fornecem produtos industrializados e algum capital (investimentos e empréstimos).

Para ilustrar a influência do fluxo de capitais, leia-se o trecho: “Entre 1980 e 1996 a África subsaariana pagou duas vezes o montante de sua dívida externa [com juros], mas hoje [1996, na época] encontra-se três vezes mais endividada que há 16 anos.”

Para os países subdesenvolvidos industriali-zados, a nova DIT é mais complexa:

→ os subdesenvolvidos fornecem produtos primários e industrializados mais capitais em forma de juros, royalties e lucros das empresas transnacionais.

→ os desenvolvidos fornecem produtos industrializados (em geral de maior tecnologia), tecnologias e capitais (investimentos e empréstimos).

Atualmente, utiliza-se bastante a classificação: países centrais (desenvolvidos), mercados emergentes (subdes. ind.) e países periféricos (subdes. agrários).

Países do Norte e do Sul

Tal classificação se baseia no fato de todos os países desenvolvidos estarem a norte da Linha do Equador, exceto Austrália e Nova Zelândia. Na verdade, todos eles (menos os dois do hemisfério Sul) estão acima do Trópico de Câncer.

Obviamente, a linha Norte-Sul econômica não é reta, se desviando para separar o mundo desenvolvido do subdesenvolvido.

INDICADORES

Como, porém, medir o desenvolvimento? Até agora, discutiu-se bastante sobre a essência do desenvolvimento, porém não se viram muitos dados concretos. Para isso, existem diversos indicadores socioeconômicos, que medem vários aspectos da população de um país.

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Analfabetismo

Indica a proporção de pessoas com mais de 15 anos de idade que não sabem ler nem escrever. É o indicador mais usado para avaliar a qualidade de educação de país. Nas nações industrializadas, esse é um problema praticamente resolvido. Em algumas, a ONU parou de calcular o analfabetismo, estimando uma taxa inferior a 5%.

Os países com maiores taxas de analfabetismo no mundo são: Burkina Faso (87,2%), Níger (85,6%), Mali (81%), Chade (74,5%), Serra Leoa (70,4%). Todos os 10 piores índices estão na África. Os dados são estimados pelo relatório do PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvi-mento) de 2005.

No Brasil, a taxa de analfabetismo é de 11,6%. Os estados brasileiros que apresentam menores índices de analfabetismo são (dados de 2003): DF (4%), RJ (4%), RS (5%), SP (5%) e SC (5%). Os maiores índices pertencem aos estados de Alagoas (30%), Piauí (28%) e Paraíba (25%).

Existe ainda o analfabetismo funcional, que compreende aquelas pessoas que oficialmente sabem ler e escrever, mas não possuem grande domínio sobre essas habilidades, ou seja, só lêem e escrevem o trivial, não usufruindo completamente delas. Esse é um problema muito comum em países subdesenvolvidos, onde muitos habitantes possuem baixíssima escolaridade.

Expectativa de Vida

Tempo de vida esperado para um bebê que acabou de nascer. Também chamado de esperança de vida, baseia-se nas condições de vida esperadas para o bebê durante toda sua existência (assistência médica, alimentação, etc.).

A esperança de vida está numa curva ascendente por causa, principalmente, dos avanços tecnológicos e do maior acesso a serviços de saúde, à educação e ao saneamento básico, que garantem maior bem-estar da população.

Em países desenvolvidos, a expectativa de vida ultrapassa os 75 anos, devido às boas condições de moradia, saúde e alimentação. Andorra é a nação que apresenta maior expectativa de vida: 83,5 anos.

Países subdesenvolvidos, sujeitos a guerras, epidemias, e com péssimas condições de saúde, moradia e alimentação geralmente apresentam expectativa de vida inferior a 60 anos. Por exemplo, Guiné Bissau (45,8 anos), Moçambique (42,8 anos), Serra Leoa (41,8 anos), Suazilândia (40,9 anos) e Zâmbia (40,5 anos).

No Brasil, a expectativa de vida é de 71,7 anos.

Mortalidade Infantil

Indica o número de crianças que morrem no primeiro ano de vida entre mil nascidas vivas. A

mortalidade infantil reflete as condições de saúde de um país.

Apesar de as taxas terem diminuídos nas últimas décadas, a disparidade entre as nações ricas e em desenvolvimento ainda é grande. A principal causa da mortalidade infantil é a desnutrição e a ausência de tratamentos básicos de saúde e higiene. As nações mais afetadas estão na África, América Latina e Ásia.

Os países com maiores índices de mortalidade infantil são (dados de 2005): Angola (187,49‰), Afeganistão (163,07‰), Serra Leoa (162,55‰), Libéria (161,99‰) e Moçambique (130,79‰). Os menores índices pertencem à Cingapura (2,29‰), Suécia (2,77‰), Japão (3,26‰), Islândia (3,31‰) e Finlândia (3,57‰).

No Brasil a mortalidade infantil é de 25,8 por mil. Os estados brasileiros com as maiores taxas são (dados de 2002): AL (57,7‰), MA (46,3‰), PB (45,5‰), PE (44,8‰) e RN (41,9‰). As menores taxas pertencem ao RS (15,4‰), SP (17,4‰), DF (17,5‰), RR (17,8‰) e SC (18,2‰).

PIB e PNB

São indicadores usados para medir a riqueza de um país. O Produto Interno Bruto (PIB) corresponde à soma do valor de toda a produção econômica (total de bens e serviços produzidos) gerada dentro de um país em determinado período, normalmente um ano.

Já o Produto Nacional Bruto (PNB) corresponde ao PIB (riqueza gerada), menos os rendimentos enviados ao exterior, mais os rendimentos recebidos do exterior.

Os países com maiores PIBs são, de acordo com dados de 2007 do Fundo Monetário Internacional (FMI): Estados Unidos (US$13,84 trilhões), Japão (US$4,38 trilhões), Alemanha (US$3,32 trilhões), China (US$3,25 trilhões) e Reino Unido (US$2,77 trilhões). O PIB brasileiro é de US$1,31 trilhões.

Renda per capita

Também um indicador econômico consiste em dividir o PIB ou o PNB pela população absoluta, calculando assim o rendimento médio de cada habitante do país. Por ser uma média, pode distorcer sensivelmente a realidade, visto que em nenhum lugar do mundo todos possuem a mesma renda.

Isso ocorre devido à desigual distribuição de renda nos países, em que os mais ricos concentram muito mais riqueza, e a maioria vive com uma renda bem abaixo da renda per capita. Tal fenômeno costuma ser mais gritante nos países subdesenvolvidos (pior distribuição).

Alguns países subdesenvolvidos podem ter altíssima renda per capita, como muitos dos grandes produtores de petróleo. Mas o subdesenvolvimento reside neles graças à alta concentração de renda.

Os países que apresentam a maior renda per capita são: Luxemburgo (US$99.104), Noruega

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(US$81.595), Suíça(US$74.879) e Islândia (US$69.063).

As menores rendas per capita pertencem a Malawi (US$667), Burundi (US$699), Congo (US$714), Tanzânia (US$744), e Níger (US$781).

A renda per capita brasileira é de US$10.050. Se considerarmos a média da população mundial, chegaremos a US$8.810.

IDH

O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) é um indicador criado pela ONU para medir de forma mais precisa a qualidade de vida das populações. Diferentemente dos outros indicadores, que medem aspectos específicos dessa qualidade de vida, o IDH tenta unificar os diversos aspectos.

O IDH leva em conta a expectativa de vida da população, o grau de escolaridade (não só o analfabetismo) e a renda per capita. Sua escala varia de 0 a 1. Quanto mais próximo de 1, melhor a qualidade de vida do povo de um país.

Diz-se que o IDH é alto quando é maior que 0,8; médio quando entre 0,5 e 0,8; baixo quando menor que 0,5.

Os maiores IDHs do mundo pertencem, de acordo com o PNUD em 2005, à Islândia (0,968), Noruega (0,968), Austrália (0,962), Canadá (0,961) e Irlanda (0,959).

Os piores são do Serra Leoa (0,336), Burkina Faso (0,370), Guiné-Bissau (0,374), Níger (0,374) e Mali (0,380), todos africanos.

O IDH nacional é de 0,800, sendo o 70º mundial. Para os estados (dados de 2000), os maiores são do DF (0,844), SP (0,814), RS (0,809), SC (0,806) e RJ (0,802). Os piores são MA (0,636), AL (0,649), PI (0,673), PB (0,678) e SE (0,687).

“Data marcada para ser rico”

Graças à economia aberta e à estabilidade política, o Chile já pode fazer as contas: em 2020, o país terá padrão de renda de Primeiro Mundo

Thomaz Favaro, de Santiago

O Chile vive uma perspectiva de deixar os vizinhos mortos de inveja: a de entrar para o time dos países ricos em curtíssimo prazo. Mantido o ritmo atual de crescimento, faltam apenas doze anos para o país atingir 21000 dólares de renda per capita. Esse patamar de renda – o triplo do brasileiro – é o mínimo exigido para um país ser considerado de Primeiro Mundo. A previsível mudança de categoria na comunidade internacional é fruto de duas décadas em que a economia chilena cresceu a uma média anual de 5,2%, superior ao índice regional de 2,6%. Nesse período, as taxas de criminalidade e de pobreza tornaram-se as mais baixas da América do Sul. Estima-se que em 2020, quando o país deve entrar no

grupo dos desenvolvidos, seus indicadores sociais estejam iguais aos da Nova Zelândia, um dos melhores do mundo.

A receita de sucesso – que bem poderia ser adotada como referência pelos vizinhos – é um modelo econômico e político cuja estabilidade se mantém há duas décadas. O Equador, com a mesma população do Chile, teve sete presidentes nos últimos dez anos. A renda dos equatorianos, que na década de 80 era igual, hoje é um terço da chilena. Desde 1990, os índices de pobreza no Chile despencaram de 38,6% para 13,7% da população e a indigência está próxima de ser erradicada. Cada ponto porcentual de aumento do PIB representou uma diminuição de 1,5 ponto na taxa de pobreza. Nenhum outro país da América Latina conseguiu ganhos tão rápidos na área social ou tem chance de chegar em tão curto prazo ao Primeiro Mundo (veja quadro).

Com a redução da pobreza, o Chile conseguiu criar uma classe média robusta. A classe C, considerada a porta de entrada para a sociedade de consumo, representa 51% da população, contra 46% no Brasil. Se morasse aqui, essa parcela de chilenos seria contada como classe A ou B, pois sua renda média familiar é quatro vezes a brasileira (2 500 dólares, contra apenas 620 dólares). Três em cada quatro chilenos moram em casa própria. A desigualdade social, medida pelo índice Gini, ainda é alta, mas está em queda desde 2000. A ascensão da nova classe média chilena pode ser testemunhada nos bairros mais afastados da capital. Em Colina, uma antiga favela na periferia de Santiago, a taxa de pobreza caiu de 29% para 12% em apenas seis anos. O foco na educação é o que vai dar sustentação de longo prazo para a redução da pobreza. Hoje, os jovens chilenos de bairros pobres têm 2,5 vezes mais anos de estudo que seus avós e 50% mais que seus pais. A educação primária e a secundária foram universalizadas, e sete em cada dez universitários são os primeiros de suas famílias a alcançar esse nível de ensino. Há no país um sistema que estimula a concorrência de escolas públicas e privadas por alunos e verbas do governo.

As medidas econômicas que colocaram o Chile à frente de seus vizinhos foram impostas em um contexto autoritário pelo general Augusto Pinochet. O ditador pôs um freio à nacionalização de empresas e à coletivização de terras do presidente anterior, o socialista Salvador Allende, aboliu o controle de preços e privatizou mais de 400 estatais. Com cortes no gasto público e um banco central independente, o país controlou a inflação, que chegou a alcançar três dígitos na década de 70. Essas foram as sementes para a criação de um ambiente excepcional para negócios no país, aprimorado a partir de 1990. "A sabedoria dos governos democráticos foi reconhecer a qualidade da política econômica da ditadura e conservá-la", disse a VEJA o ministro das Relações Exteriores, Alejandro Foxley. Segundo um ranking do Fórum Econômico

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ESPECIAL

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Mundial, o Chile tem uma economia mais competitiva do que a de países europeus como Espanha e Itália.

UM BRINDE AOS TRATADOSAlfonso Larraín comanda a Concha y Toro, a terceira maior fabricante de vinhos do mundo. Em 1994, ela foi a primeira empresa do setor a abrir o capital na bolsa de Nova York. Isso permitiu que investisse em tecnologias e novas variedades de uva. Com vinícolas no Chile e na Argentina, a Concha y Toro exporta 72% da produção. "Essas conquistas só foram possíveis graças aos tratados de livre-comércio", diz Larraín.

(...)

A contribuição do governo chileno para esse modelo de sucesso está na busca incessante e pragmática por novos parceiros comerciais. Segundo a Fundação Heritage, dos Estados Unidos, o Chile é uma das dez economias mais abertas do planeta. Com o tratado de livre-comércio com a Austrália, firmado em julho, o Chile conta agora com acordos bilaterais com 57 países. Para os empresários chilenos, isso significa poder vender com tarifas reduzidas a 85% do PIB mundial. Nos últimos anos, o foco dos acordos comerciais chilenos voltou-se para a Ásia. "Além de aumentar o volume de comércio e atrair mais investimentos da região que mais cresce no planeta, o Chile quer ser um ponto de articulação e de passagem entre a América do Sul e a Ásia", comenta Carlos Furche, diretor-geral de relações econômicas internacionais do Chile. Furche já participou da negociação dos tratados de livre-comércio (TLCs) com os principais países asiáticos – China, Japão e Índia. Vietnã, Malásia e Tailândia serão os próximos. Como sempre, o governo inclui nos tratados o vinho como um dos produtos a ganhar o benefício da tarifa zero. A estratégia fez com que, nos últimos vinte anos, o Chile se tornasse o maior exportador de vinhos do continente americano, superando a Argentina e os Estados Unidos.

Há, no Chile, um consenso de que esse é o rumo que o país deve continuar tomando daqui para a frente. "Já não existem reformas grandes a ser feitas, apenas ajustes pequenos em setores específicos e uma melhora na eficiência do estado", diz a

economista Rosanna Costa, que trabalha em um centro de pesquisas ligado à Aliança por Chile, coalizão de centro-direita, de oposição. Nos últimos meses, um inimigo público uniu os chilenos: a inflação anual atingiu a taxa de 9,5%, a quinta mais alta da América do Sul, atrás de Venezuela, Bolívia, Equador e Argentina. Esse índice é mais do que o dobro do limite de 4% estipulado como meta pelo banco central. "O Chile, que já vinha pressionado pelo excesso de demanda interna, foi pego de surpresa pela alta do preço dos alimentos e dos combustíveis no cenário internacional", explica Rosanna. Para piorar, demorou para que o banco central começasse a elevar as taxas de juro e o governo da presidente Michelle Bachelet continuou aumentando os gastos públicos. Se não se cuidarem, os chilenos correm o risco de ver anos de trabalho engolidos pelo dragão inflacionário. Seria uma pena para uma economia cuja exuberância está até ganhando um monumento de aço e concreto na capital, Santiago: o maior edifício da América do Sul, um centro comercial em fase de construção cuja torre principal terá setenta andares e 300 metros de altura – apenas 20 metros menos que o Chrysler Building, de Nova York.

(Revista Veja, edição 2078, 17 de setembro de 2008)

EXERCÍCIOS

Questão 1. (UECE) Ao considerarmos o mundo do ponto de vista das desigualdades internacionais, é correto afirmar:a) há dois importantes conjuntos de países: uma maioria que mantêm um sistema socioeconômico baseado no planejamento e os da economia de mercado.b) Dois conjuntos se diferenciam: os países do norte (desenvolvidos) e os do sul (subdesenvolvidos).c) Os países orientais e os países ocidentais se diferenciam, respectivamente, por suas condições socioeconômicas: desenvolvidos e subdesenvolvidos.d) Ainda se mantém como paradigma de diferenciação entre os países, os blocos fisiográficos da América, África, Europa e Ásia.

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Questão 2. (UDESC-SC) Observe a tabela:

RENDA PER CAPITA EM DÓLARESPAÍSES 1950 1980 1992EUA 2.536 11.360 22.560Rússia 699 4.550 3.220R. Unido 1.393 7.920 16.750França 1.172 11.730 20.600Alemanha 1.001 13.590 23.650Japão 382 9.890 26.920

Fonte: VESENTINI, José William. A Nova Ordem Mundial. São Paulo: Ed. Ática, 1995. p. 19.

Com base nessa tabela, assinale a alternativa CORRETA:a) a renda per capita se constitui um excelente indicador da distribuição de renda;b) os Estados Unidos, que em 1950 possuíam a maior renda per capita do Mundo, em 1992, perderam essa posição para o Japão e Alemanha, em virtude da Grande Guerra de 1985 contra a União Soviética;c) o maior crescimento da renda per capita registrado no período abrangido pela tabela foi do Japão, que cresceu mais de 70 vezes entre 1950 e 1992;d) o país que obteve o maior crescimento da renda per capita foi o Japão, em virtude de sua inserção no NAFTA;e) a Alemanha vem obtendo bons índices de crescimentos da renda per capita desde 1950, em virtude da pilhagem que pôde fazer, durante a Segunda Guerra Mundial, nos países por ela ocupados.

Questão 3. (UERN) Com relação à situação de países desenvolvidos e subdesenvolvidos, identifique as afirmativas verdadeiras.I. Os países subdesenvolvidos são, em geral,

dependentes economicamente dos países desenvolvidos.

II. As teorias mais aceitas na atualidade consideram a exploração colonial uma das principais causas das disparidades socioeconômicas existentes entre países desenvolvidos e subdesenvolvidos.

III. O subdesenvolvimento é apenas uma questão de atraso, já que muitos países antes subdesenvolvidos são hoje desenvolvidos.

A alternativa que indica todas as afirmativas verdadeiras é:a) I b) II c) IIId) I e II e) I, II e III

Questão 4. (UFSC) A alternativa que não expressa característica de subdesenvolvimento é:a) Dependência comercial e tecnológica.b) Fuga de capitais e evasão de cérebros.c) Distorção entre o crescimento demográfico e o crescimento econômico.d) Agricultura e indústria altamente articuladas.e) Enormes cifras do endividamento externo.

Questão 5. (UFU-MG) Por “divisão internacional do trabalho” entende-se:a) Produção de tudo de que um país necessita para seu desenvolvimento, isso em virtude de sua intensa industrialização.b) Organização dos países do Terceiro Mundo, responsável pela integração cada vez maior de suas economias.c) Autonomia entre países exportadores de matérias-primas e os exportadores de produtos industrializados.d) Especialização dos países na produção de determinadas mercadorias destinadas ao mercado internacional.e) necessidade de circulação de mercadorias, isto é, o comércio nos diferentes graus de desenvolvimento.

Questão 6. (FGV-SP) O índice de desenvolvimento humano combina e articula três componentes (longevidade, nível educacional e acesso a recursos) em uma escala de zero a 1. Quanto mais próximo de 1, melhores serão as condições de vida. A letra X identifica o Brasil.

Observando a posição dos países assinalados pelos algarismos I, II e III, pode-se afirmar que eles correspondem, na ordem, a: III II Ia-) Haiti Rússia Coréia do sulb-) Serra Leoa Kuwait Rússiac-)Índia Kuwait Coréia do suld-) Serra Leoa R. Tcheca Kuwaite-) Haiti Coréia do sul R. Tcheca

Questão 7. (UEL-PR) O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) brasileiro vem se alterando nas últimas décadas, como se pode observar na tabela abaixo.ANO 1975 1980 1985 1990 1997 1998IDH 0.639 0.674 0.687 0.706 0.739 0.747

A respeito desse índice e dos dados da tabela, é correto afirmar:a) O IDH brasileiro poderia ter se elevado mais rapidamente nas últimas décadas, não fosse o declínio da esperança de vida nos anos 80 e 90, em função da crise econômica.b) Os indicadores usados para o cálculo do IDH são: condições de moradia, saúde, educação e renda per capita.c) O IDH é elaborado por um grupo de técnicos e cientistas sociais contratados pelo FMI e BIRD, e visa servir de critério para orientar esses organismos na concessão de empréstimos a países em desenvolvimento.

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d) O IDH brasileiro ainda é considerado baixo, igualando-se ao dos países africanos. Isso se deve ao crescente número de analfabetos no país.e) Um dos problemas que o IDH não revela é o nível de concentração de renda no país.

Questão 8. (UNIOESTE-PR) A respeito da moderna divisão internacional do trabalho, é incorreto afirmar:a) Alguns países subdesenvolvidos, além de exportadores tradicionais de matérias-primas para os países desenvolvidos, exportam também produtos manufaturados, tais como calçados, tecidos e até automóveis.b) Empresas multinacionais instaladas nos países subdesenvolvidos remetem boa parte dos seus lucros aos países desenvolvidos.c) Bens manufaturados exportados pelos países subdesenvolvidos, via de regra, têm preços mais baixos e menor valorização no mercado internacional.d) A transferência de tecnologias e a proibição de remessas de lucro para o exterior tornaram-se importantes mecanismos utilizados pelas empresas multinacionais instaladas na América Latina para desenvolver nosso parque industrial após a década de 50.e) Empresas multinacionais têm-se utilizado de vasta mão-de-obra barata, das matérias-primas a baixo custo, dos incentivos fiscais e da freqüente inexistência de legislação ambiental nos países subdesenvolvidos.

Questão 9. (PUCCAMP-SP) O Grupo dos 7 é um bloco poderoso composto por alguns dos países com os maiores valores de produção do globo, sem sede e sem periodicidade de funcionamento previamente definidas, cujos representantes se reúnem periodica-mente para decidir sobre assuntos bem variados que dizem respeito à vida de seus próprios países e à dos demais países do mundo. Em uma reunião desse grupo, para discutir a questão das indústrias trans-nacionais mais poluidoras do mundo e as medidas para a contenção dos agentes poluidores de forma a não perder a lucratividade e a competitividade das em-presas, certamente estarão presentes, dentre outros:a) Rússia, Ucrânia, Japão e Estados Unidos.b) Estados Unidos, Canadá, França e Suíça.c) Canadá, Japão, Rússia e Itália.d) Estados Unidos, Dinamarca, Índia e Japão.e) Estados Unidos, Japão, Alemanha e Canadá.

Questão 10. (FEI-SP) Em um estudo realizado em 1992 com mais de 160 países, a ONU empreendeu uma classificação baseada no chamado IDH – Índice de Desenvolvimento Humano. Sobre o IDH e a classificação dos países com base nesse índice, é incorreto afirmar:a) o IDH combina fatores como expectativa de vida, acesso à saúde e educação, distribuição de renda e oportunidades de trabalho, entre outros.b) países como a Bolívia e o Egito apresentam um baixo IDH.c) países como o Canadá e o Japão apresentam um alto IDH.

d) o Brasil encontra-se numa situação intermediária, a despeito de seus problemas sociais.e) as posições ocupadas pelos países nessa classificação são baseadas fundamentalmente no PIB de cada um deles.

Questão 11. (FUVEST-SP) Analise a charge a seguir e assinale a alternativa que melhor expressa seu conteúdo.

a) O desemprego estrutural nos países ricos e o pleno emprego nos países pobres.b) A mundialização da economia e a exploração do trabalho nos países pobres.c) A divisão internacional e sexual do trabalho, decorrente do padrão produtivo nos dias atuais.d) O desemprego em países ricos e as condições de trabalho do setor terciário em países pobres.e) O desenvolvimento desigual entre os países e a exportação de manufaturados, produzidos por mão-de-obra qualificada.

GABARITO

1- B 6- A2- C 7- E3- D 8- D4- D 9- E5- D 10- E11- B

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