Aula 16 folkcomunicação

50
Teorias da Comunicação Folkcomunicação Prof. Ms. Elizeu N. Silva

description

Folkcomunicação

Transcript of Aula 16 folkcomunicação

Teorias da

Comunicação

Folkcomunicação

Prof. Ms. Elizeu N. Silva

Folkcomunicação

Pesquisas realizadas desde meados do século passado

mostraram que as pessoas são bastante influenciadas pelo

contato face a face. Os estudos sobre o papel do líder de

opinião ganharam destaque na área de Comunicação na

década de 1940 nos Estados Unidos, quando Paul Lazarsfeld

participou, juntamente com os pesquisadores Bernard

Berelson e Hazel Gaudet de uma pesquisa em Erie County,

estado de Ohio, sobre a decisão de votos dos eleitores.

2

Folkcomunicação

Naquela época era comum a crença de que os meios de

comunicação de massa desempenhavam um papel

fundamental na escolha de voto do eleitor. Após vários meses

de pesquisa em Erie, os pesquisadores perceberam que as

pessoas pareciam muito mais influenciadas nas decisões

políticas pelo contato face a face do que diretamente pela

comunicação de massas. Eles reviram seus processos e

descobriram então, o papel do líder de opinião, alguém que

fazia a ponte entre as mensagens dos meios de comunicação

e o eleitorado.

3

Folkcomunicação

Foram esses estudos - considerados um marco na história da

Communication Research - que iriam influenciar a abordagem

pioneira de Luiz Beltrão, jornalista e professor universitário,

que estudou o papel do líder de opinião nas classes populares

no Brasil no viés da Teoria da Folkcomunicação (1967), por

ele formulada.

4

Folkcomunicação

No início da década de 1980, enquanto a maioria dos

pesquisadores na área da comunicação estava voltada para a

problemática da comunicação de massa e suas mensagens, o

pesquisador Luiz Beltrão, que já havia estudado a

comunicação jornalística, lançou o livro Folkcomunicação: a

comunicação dos marginalizados, no qual buscou identificar

na cultura popular um sistema pelo qual milhões de brasileiros

que estavam fora da cultura erudita intercambiariam

mensagens, informação e educação dentro de suas condições

socioeconômicas:

5

Folkcomunicação

Folkcomunicação é, assim,

o processo de intercâmbio

de informações e

manifestações de opiniões,

ideias e atitudes da massa,

através de agentes e

meios ligados direta ou

indiretamente ao folclore.

(BELTRÃO, 2001, p. 79)

6

Folkcomunicação

7

Folkcomunicação

8

Folkcomunicação

No sistema da Folkcomunicação, a comunicação é estruturada

como um processo horizontal, ou seja, semelhante à

comunicação interpessoal, pois suas mensagens são

elaboradas por um comunicador - o líder de opinião - que

conhece e vive a realidade da audiência, ainda que dispersa.

9

Folkcomunicação

10

Folkcomunicação

11

Folkcomunicação

Os líderes de opinião desempenham papel importante na área

de estudo da Folkcomunicação. Com características acima da

média em relação a conhecimento sobre o tema, prestígio na

localidade, mobilidade e contato com fontes externas, esses

líderes exercem o papel de "tradutores", "intermediários" entre

as mensagens midiáticas e o público, bem como o de

conselheiros da audiência, que os procura nas formas de

manifestação da cultura popular.

12

Folkcomunicação

13

México

Folkcomunicação

14

Rio de Janeiro

Folkcomunicação

15

Jerusalém

Folkcomunicação

16

Os Gêmeos

Folkcomunicação

17

Folkcomunicação

18

Banksy

Folkcomunicação

19

Banksy

Folkcomunicação

20

Folkcomunicação

21

Pichação

Folkcomunicação

22

Pichação

Folkcomunicação

23

FolkcomunicaçãoWolfgang Teske

Folkcomunicação tem origem com Luiz

Beltrão. Em 1963, ele fundou o Instituto

de Ciências da Informação da

Universidade Católica de Pernambuco

(ICINFORM), que era um centro

acadêmico de caráter nacional de estudos

midiáticos. Também foi criador e editor da

primeira revista brasileira de Ciências da

Comunicação, Comunicações &

Problemas.

24

Luiz Beltrão, 1918–1986

Segundo Beltrão, “um dos grandes

canais de comunicação coletiva é

sem dúvida, o folclore. Das conversas de boca de noite, nas

pequenas cidades interioranas, na farmácia ou na barbearia;

da troca de informações trazidas pelo chofer de caminhão,

pelo representante comercial ou pelo ‘bicheiro’, ou, ainda,

pelos versos do poeta distante, impressos no folheto que se

compra na feira (...) - é que a semente da informação

germinou no espírito dos analfabetos”.

25

FolkcomunicaçãoWolfgang Teske

Os estudos iniciais sobre a folkcomunicação acompanham

muitas manifestações dos homens do campo, mais

precisamente dos “homens do campo que estão à margem

dos centros de poder e decisão, o que Beltrão chama de

‘marginalizados’”.

26

FolkcomunicaçãoWolfgang Teske

Em Folkcomunicação: a Comunicação dos Marginalizados

(BELTRÃO, 1980), é possível observar a preocupação do

autor principalmente com a forma usada por essa classe de

pessoas para criar e estabelecer os processos de

comunicação, e, assim, transmitir seus valores, suas

referências, seus conhecimentos e sentimentos.

27

FolkcomunicaçãoWolfgang Teske

Beltrão divide os receptores marginalizados em três grupos

distintos:

a) Os grupos rurais marginalizados, sobretudo devido ao

seu isolacionismo geográfico, sua penúria econômica e

baixo nível intelectual.

b) Os grupos urbanos marginalizados, compostos de

indivíduos situados nos escalões inferiores da sociedade,

constituindo as classes subalternas, desassistidas,

subinformadas e com mínimas condições de acesso.

28

FolkcomunicaçãoWolfgang Teske

c) Os grupos culturalmente marginalizados, urbanos ou

rurais, que representam contingentes de contestação aos

princípios, à moral ou à estrutura social vigente.

Ao estudar esses processos de comunicação, percebeu que

os grupos marginalizados reelaboram a sociedade e suas

relações apresentando uma visão própria à sua gente,

diferente e às vezes questionadora da visão dominante e

institucionalizada.

29

FolkcomunicaçãoWolfgang Teske

“É tempo de não continuarmos a apreciar nessas

manifestações apenas os seus aspectos artísticos, a sua

finalidade diversionista, mas procurarmos entendê-las como

a linguagem do povo, a expressão do seu pensar e do seu

sentir tantas e tantas vezes discordante e mesmo oposta ao

pensar e ao sentir das classes oficiais e dirigentes”. Luiz

Beltrão.

30

FolkcomunicaçãoWolfgang Teske

Beltrão fez uma sistematização “sobre as manifestações da

comunicação nordestina, ancorando-as nas teorias do folk-

lore e confrontando-as com os paradigmas da mass

communication” (MARQUES DE MELO, 2008, p. 20).

31

FolkcomunicaçãoWolfgang Teske

Para o autor da folkcomunicação, um dos fatores que não

permitia a comunicação e a comunhão entre governo e povo,

elite e massa, residia no não reconhecimento dos primeiros

em relação aos segundos. “A literatura, a arte, as crenças, os

ritos, a medicina, os costumes dessas camadas sociais – os

seus meios de informação e de expressão – continuam

ignorados em toda a sua força e verdade”. (BELTRÃO, 1980,

p. 18)

32

FolkcomunicaçãoWolfgang Teske

As classes populares criam e usam meios próprios de

comunicação, tais como “folhetos, volantes, atos de

presença, grafitos”, entre outros.

33

FolkcomunicaçãoWolfgang Teske

Essas camadas elitistas pretendem, como os romanos, os

colonizadores portugueses e outros povos que existiram no

passado, e os que existem atualmente, o seu momento

histórico de liderança, civilizar nações, grupos e pessoas,

impondo-lhes seu imperialismo cultural, que inclui sobretudo

a dominação econômica e política, de acordo com modelos

tecnológicos e filosóficos que alcançaram e cuja eficácia lhes

conferiu a supremacia de que gozam.

34

FolkcomunicaçãoWolfgang Teske

Acreditam que o caminho e as diretrizes, as instituições que

as elevaram ao topo da pirâmide internacional são, não

apenas únicos, mas aplicáveis a qualquer povo ou indivíduo

que luta por seu lugar ao sol. Dogmatizam a filosofia de vida

e convivência social que adotaram e põem todo o empenho

em obter a adesão de todo o mundo à sua ideologia e aos

seus próprios propósitos de realização (BELTRÃO, 1980, p.

20).

35

FolkcomunicaçãoWolfgang Teske

Segundo Beltrão, existiam os excluídos do sistema de

comunicação social implantado, também denominados de

públicos marginalizados que, por um lado, não eram

atingidos com a mensagem pelos meios de difusão midiática

e, por outro lado, não deixavam de estabelecer um

intercâmbio com as mensagens culturais.

36

FolkcomunicaçãoWolfgang Teske

Para isso, esses grupos

marginalizados se utilizavam de

“um outro complexo de

procedimentos, modalidades,

meios e agentes elaboradores e

emissores de mensagens, ao

nível de sua vivência, experiência

e necessidades, e expressivas de

sua ideologia, aspirações e

opiniões” (BELTRÃO, 1980, p.

23). 37

FolkcomunicaçãoWolfgang Teske

Ex-votos

38

FolkcomunicaçãoWolfgang Teske

Ex-votos

FolkcomunicaçãoJosé Marques de Melo

No momento em que a sociedade midiática atinge o seu

apogeu, a Folkcomunicação de Luiz Beltrão mostra-se

robustecida na Aldeia Global de McLuhan. Bem contrário das

previsões apocalípticas daqueles que vaticinaram seu

esgotamento gradativo.

39

FolkcomunicaçãoJosé Marques de Melo

Trata-se de um campo de estudos que vem sendo fortalecido

e atualizado, justamente pela permanência, na sociedade de

classes, daquelas formas de sentir, pensar e agir dos

segmentos economicamente pauperizados, das

comunidades situadas na marginalidade cultural ou dos

grupos que padecem a segregação política.

40

FolkcomunicaçãoJosé Marques de Melo

Costumes, tradições, gestos e comportamentos de outros

povos, próximos ou distantes, circulam amplamente na

aldeia global. Da mesma forma, padrões culturais que

pareciam sepultados na memória nacional, regional ou local,

ressuscitam profusamente. Facilitando a interação entre

gerações diferentes, eles permitem o resgate de

celebrações, ritos ou festas aparentemente condenados ao

esquecimento.

41

FolkcomunicaçãoJosé Marques de Melo

Nos EUA, o “homem industrial”, vivendo nas periferias das

megalópoles, inseria-se numa cultura de massa enraizada

nas tradições populares. Este é inegavelmente o “segredo”

do êxito alcançado pela indústria midiática dos EUA,

alicerçando-se no arsenal simbólico das comunidades

urbanas amalgamadas à forte cultura popular norte-

americana, preservada pelo aparato estatal e ao mesmo

tempo fortalecida pelas agências socializadoras atuantes em

todo o território nacional.

42

FolkcomunicaçãoJosé Marques de Melo

O Brasil perfilava-se [perfila-se] como uma sociedade

marcada pela vigência de uma mídia elitista, ancorada nos

valores da cultura erudita. Donde a necessidade de

decodificação das suas mensagens para serem assimiladas

pelas camadas populares da nossa sociedade.

43

FolkcomunicaçãoJosé Marques de Melo

Ao processo de tradução dos conteúdos midiáticos pelos

“meios populares de informação de fatos e expressão de

ideias”, BELTRÃO (1967) denominou Folkcomunicação.

Sua tese de doutorado foi dedicada a elucidar as estratégias

e os mecanismos adotados pelos agentes

folkcomunicacionais no sentido de tornar inteligíveis fatos

(informações), ideias (opiniões) e diversões (entretenimento).

44

FolkcomunicaçãoJosé Marques de Melo

Em pesquisas posteriores BELTRÃO (1980) comprovou que

a imprensa, o rádio, a televisão e o cinema difundem

mensagens que não logram a compreensão de vastos

contingentes populacionais. Esses bolsões “culturalmente

marginalizados” reagem de forma nem sempre ostensiva,

robustecendo um sistema midiático alternativo. Constroem e

acionam veículos artesanais ou canais rústicos, muitas vezes

estabelecendo também uma espécie de feedback em relação

ao sistema hegemônico.

45

FolkcomunicaçãoJosé Marques de Melo

As pesquisas desenvolvidas pelos discípulos de Luiz Beltrão

atestam contemporaneamente a pujança dos processos

folkcomunicacionais na base da nossa sociedade. Seus

resultados demonstram a persistência daqueles contingentes

“marginalizados” da sociedade de consumo, que ainda

demandam a decodificação “popular” dos conteúdos elitistas

veiculados pela mídia convencional (BENJAMIN, 2000).

46

FolkcomunicaçãoJosé Marques de Melo

Portanto, a Folkcomunicação configura hoje um segmento

inovador de pesquisa latino-americana no âmbito das

ciências da comunicação (BENJAMIN, 1998). Dedica-se ao

“estudo dos agentes e dos meios populares de informação

de fatos e expressão de ideias”.

47

FolkcomunicaçãoJosé Marques de Melo

O objeto de pesquisa dessa nova disciplina (MARQUES DE

MELO, 2005) situa-se na fronteira entre o Folclore (resgate e

interpretação da cultura popular) e a Comunicação de Massa

(difusão industrial de símbolos através de meios mecânicos

ou eletrônicos destinados a audiências amplas, anônimas e

heterogêneas).

48

FolkcomunicaçãoJosé Marques de Melo

Se o Folclore compreende formas grupais de manifestação

cultural protagonizadas pelas classes subalternas, a

Folkcomunicação caracteriza-se pela utilização de

estratégias de difusão simbólica capazes de expressar em

linguagem popular mensagens previamente veiculadas pela

indústria cultural.

Luiz Beltrão a entendia como processo de intermediação

entre a cultura das elites (erudita ou massiva) e a cultura das

classes trabalhadoras (rurais ou urbanas).

49

Folkcomunicação

Bibliografia

GUARALDO, Tamara. O papel do líder de opinião na teoria da folkcomunicação.

Revista eletrônica Razón y Palavra. México. Disponível em

www.razonypalabra.org.mx; Acesso em 25/11/2014.

MARQUES DE MELO, José. De volta ao futuro: da folkcomunicação à folkmídia.

In: SCHMIDT, Cristina. Folkcomunicação na arena global: avanços teóricos e

metodológicos. São Paulo, Editora Ductor, 2006.

TESKE, Wolfgang. Teoria da folkcomunicação: da origem aos processos

folkmidiáticos. In: FERNANDES, Guilherme Moreira; MARQUES DE MELO, José.

Metamorfose da folkcomunicação: antologia brasileira. São Paulo, Editae

Cultural, 2013.

50