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Aula 2 - Revisão histórica:Século XX

Início do século XXIA Humanidade e o futuro: paradigmas ecológico, ético,

poético e direitos humanos

Faculdade Piaget - Suzano - 2º semestre de 2019Profº Ms Antonio Gracias Vieira Filho

Premissas e tópicos para debate [1]

Para que esta revisão histórica faça sentido, considerando a ementa da disciplina e as limitações de tempo, precisamos fazer algumas escolhas. Assim, é necessário estabelecer critérios para nosso recorte histórico e temático - ou corremos o risco de transformar esta revisão em mera coleção de fatos curiosos. Desse modo, vamos priorizar os seguintes elementos:

● O avanço econômico das grandes economias capitalistas;● Inovações científicas, tecnológicas, culturais e sociais

associadas à produção;● Eventos políticos que iniciaram grandes transformações

globais.


Por que a ênfase no desenvolvimento econômico?

Marx definiu o capitalismo como um modo de produzir coisas. E é importante perceber que o modo como produzimos tem um efeito profundo em nossa sociedade. A produção artesanal organizava a sociedade de uma forma específica, do mesmo modo que a produção massificada propiciada pelo fordismo gerou um outro tipo de conformação social. Isso inclui desde a maneira pela qual o trabalho é organizado até as formas como as famílias e os relacionamentos afetivos são estruturados.


Assim, a partir da definição de Marx, temos que:1. O capitalismo é um modo de produzir coisas;2. Esse modo de produzir coisas está tão presente em nossa

sociedade que é capaz de permear e organizar tudo, o que inclui trabalho, negócios, direito, afetos, moda, etc;

3. A faceta econômica da realidade pode, portanto, ser uma opção para explicar as transformações enfrentadas pelo mundo nos últimos 120 anos;

4. Essa é uma escolha metodológica, que tem por objetivo orientar esta análise. Do mesmo modo que escolhemos a economia, o foco poderia ser a política ou a cultura.

Sumário da apresentação

Parte 1: O mundo que Henry Ford criou, o mundo fordista:1.1 Um mundo marcado por turbulências (1900-1945);1.2 O auge da existência fordista (1945-1975);1.3 Crise e decadência do modelo fordista (1975 em diante);1.4 A transição toyotista;1.5 Sucessos e fracassos da humanidade ao longo do século XX.

Parte 2: Dos anos 1980 ao século XXI: a acumulação flexível de capital:2.1 O colapso da URSS (União das Repúblicas Socialistas Soviéticas);2.2 Desmonte do Estado de Bem-Estar Social (Welfare State);2.3 Transformações no âmbito da economia, produção e gestão;2.4 Transformações tecnológicas e culturais.

Eventos históricos que marcaram os séculos XX e XXI:● O fordismo;● A 1ª Guerra Mundial;● Crise de 1929;● New Deal;● 2ª Guerra Mundial;● Auge do fordismo/30 gloriosos

(1945-1975);● Crise do fordismo e advento do

toyotismo;● Neoliberalismo e acumulação

flexível de capital.O cosmonauta russo Yuri Gagarin (1934-1968), primeiro homem a alcançar o espaço, em 1961. Foto: alldayru.com, via ESA.

Parte 1. O mundo que Henry Ford criou: o mundo fordista

Foto: Henry Ford (1863-1947). Autor: Hartsook, 1919, domínio público.

A superação da produção artesanal

O período entre o início do século XX e a década de 1930 foi marcado pela consolidação da sociedade industrial de produção e consumo em massa, com a superação definitiva da economia artesanal. Antes do protagonismo do capitalismo industrial, o artesão era o proprietário dos meios de produção e regulava o ritmo de seu trabalho. Na economia industrial, com a produção massificada de mercadorias, o artesão se vê obrigado a buscar ocupação junto a empresas que irão regular seu modo de produzir e seus horários. O indivíduo que antes realizava várias tarefas se vê obrigado a atuar de forma especializada.

Estabelecimento do fordismo [1]O fordismo, com a popularização da linha de montagem e a introdução da linha de montagem móvel, teve papel decisivo na organização econômica, social e cultural da humanidade ao longo do século XX. Esse paradigma produtivo foi fundamental para o estabelecimento da produção industrial seriada e massificada. De forma concomitante, o fordismo criou um mercado consumidor igualmente massificado. O fordismo leva esse nome não apenas pelas inovações produtivas de Henry Ford, mas, também, por sua abordagem da relação capital/trabalho: ele acreditava que salários elevados e uma jornada laboral mais curta ajudariam a dinamizar o consumo.

Estabelecimento do fordismo [2]

De forma mais ampla, o termo fordismo descreve os sistemas econômicos e sociais que dominaram o mundo ao longo de todo o século XX. Tais sistemas são baseados na produção seriada, estandardizada e industrializada destinada ao consumo de massa. O termo ganhou proeminência quando foi usado pelo filósofo e sociólogo italiano Antonio Gramsci em 1934, no ensaio “Americanismo e Fordismo”, presente em seus Cadernos do cárcere (1929-1935). Desde então, tem sido utilizado por um grande número de teóricos das ciências humanas e sociais.

Estabelecimento do fordismo [3]No fordismo, as empresas estavam estruturadas em organogramas bem definidos e as carreiras profissionais eram pouco dinâmicas. A oferta de produtos para o mercado era limitada, com pouca variedade: Henry Ford dizia que uma pessoa poderia ter seu Ford T na cor que desejasse, desde que fosse a cor preta. Esse modelo produtivo era dedicado às necessidades do produto, não ao desejo dos clientes. Importante salientar que a rigidez do paradigma fordista gerou comportamentos, práticas sociais e modelos gerenciais igualmente rígidos.

Linha de montagem da Ford, por volta de 1913. Fonte: Ford Company.

1.1 Um mundo marcado por turbulências● A 1ª Guerra Mundial;● Crise de 1929;● New Deal;● 2ª Guerra Mundial.

A 1ª Guerra Mundial (1914-1918) [1]

A 1ª Guerra Mundial foi um dos maiores conflitos armados da história da humanidade e se desenrolou entre 1914 e 1918. Embora tenha assumido dimensões globais, podemos dizer que o principal palco para o conflito (teatro de operações) foi a Europa. Dois grandes blocos de países, com suas respectivas colônias, se mobilizaram:● Os aliados (vitoriosos), organizados a partir da Tríplice

Entente: França, Reino Unido e Rússia, com posterior adesão dos EUA;

● Os Impérios Centrais (derrotados), com Alemanha, Império Austro-Húngaro, Império Otomano e Bulgária.

A 1ª Guerra Mundial (1914-1918) - Causas [2]

Embora tenham concorrido elementos sociais e culturais, além de disputas fronteiriças e de protagonismo econômico na Europa, talvez o principal elemento detonador do conflito tenha sido as pretensões imperialistas dos envolvidos. Merece destaque a Alemanha, que havia ficado descontente com a partilha das colônias africanas e julgava que merecia uma maior quantidade de territórios. O estopim para o conflito foi o assassinato do arquiduque do Império Austro-Húngaro, Francisco Ferdinando (1863-1914), em 28 de junho de 1914.

Mapa da discórdia. Trata-se da África em 1914, de acordo com as fronteiras coloniais discutidas na Conferência de Berlim (1884-1885). Como é possível notar, as possessões alemãs, em verde escuro, são bem menores que as britânicas (verde claro) e francesas (marrom). A Alemanha e a Itália foram países de unificação tardia, o que atrasou a entrada dos mesmos nas disputas coloniais. Mapa: Nova Escola.

A 1ª Guerra Mundial (1914-1918) - Consequências [3]

Ao todo, foram mobilizados mais de 70 milhões de militares, sendo que 9 milhões destes morreram. Também perderam a vida, de forma relacionada à guerra, 7 milhões de civis. Por fim, há que se considerar as mortes (entre 50 e 100 milhões) indiretamente ligadas ao conflito, relativas a genocídios – como o Genocídio Armênio – e a pandemia de gripe que ficou conhecida como Gripe Espanhola. A alta letalidade do confronto é creditada à evolução tecnológica dos armamentos, o que incluiu o uso de aviões, tanques e armas químicas (como o gás). Além disso, as péssimas condições higiênico-sanitárias nas trincheiras tiveram grande impacto na saúde dos soldados.


O mapa europeu foi redesenhado após a vitória dos aliados/Tríplice Entente: os impérios Austro-Húngaro e Otomano deixaram de existir e foram divididos em Estados menores. A Alemanha e a Bulgária perderam territórios. Os países derrotados foram acusados de mover uma guerra de agressão e, assim, teriam de pagar uma pesada reparação. Esta será, sobretudo quanto à Alemanha, uma justificativa para o início da 2ª Guerra Mundial: os termos de paz definidos pelo Tratado de Versalhes (1919) foram considerados humilhantes pelos alemães. A partir de uma proposta do então presidente dos EUA, Woodrow Wilson (1856-1924), ocorreu a criação da Liga das Nações. Seu êxito como mecanismo de diálogo internacional foi muito limitado e a Liga, dissolvida em 1946, foi incapaz de evitar a 2ª Guerra Mundial.

Período entreguerras (1918-1939)

O entreguerras foi marcado pela ascensão do socialismo na Rússia, com a posterior formação da URSS (União das Repúblicas Socialistas Soviéticas), e a reconstrução das nações europeias devastadas pela 1ª Guerra. A Alemanha foi obrigada a carregar um pesado fardo por conta das obrigações de reparação para com os países vencedores. Nos EUA, cujo território não havia sido atingido pela guerra, havia grande prosperidade econômica e otimismo. No entanto, o cenário ficará dramático com o início da Crise de 1929, a tensão em torno das democracias liberais e o crescimento do sentimento totalitário - principalmente na Alemanha, com o nazismo.

Imagens icônicas dos Loucos Anos 1920, em sentido horário: Josephine Baker dançando Charleston (1925); revista de 1921 satirizando a moda “masculinizada” das mulheres; livro The Great Gatsby de F. S. Fitzgerald (1925); descarte de álcool durante a Lei Seca;

banda de jazz em Houston/Texas (1921).

Todas as imagens são de domínio público ou foram reproduzidas para fins educacionais.

A crise de 1929/Grande depressão [1]

A Grande depressão foi, essencialmente, uma crise dos excessos do capitalismo. Iniciada com a crise das bolsas em 1929, resultou de uma combinação de fatores. No entanto, podemos destacar dois elementos principais: a superprodução e a desregulamentação de mercados. A produção industrial em massa gerou enorme aumento de oferta e qualidade nas mercadorias destinadas ao mercado. Os EUA viviam um período de exuberância econômica, com o crescimento de sua produção industrial e boas safras de commodities agrícolas (caso do trigo, por exemplo). Uma parte desse crescimento foi estimulada pelo fornecimento de produtos à Europa, durante e após a 1ª Guerra Mundial, quando o continente europeu ainda se recuperava da devastação do conflito.

A crise de 1929/Grande depressão [2]

O período anterior à Grande depressão foi marcado pela euforia com os ganhos especulativos em bolsas de valores, em um mercado acionário pouco regulado. Pessoas comuns, trabalhadores, solicitavam empréstimos para realização de investimentos em ações. Mas havia um descompasso entre a real saúde econômica das empresas e o seu valor exagerado nas bolsas. A Europa, recuperada da guerra, não mantinha mais uma relação de dependência direta da produção estadunidense. Também não havia demanda suficiente para absorver a enorme oferta de produtos resultante da revolução fordista. Quando tal situação ficou evidente, a reação foi de pânico econômico, com queda vertiginosa do mercado acionário, falência generalizada de empresas e explosão do desemprego.

Restaurante popular criado para distribuição gratuita de sopa, café e bolo para desempregados. A cena foi registrada em Chicago (EUA) em 1931 e o restaurante foi criado por Al Capone. Foto: U.S. National Archives/domínio público.

Pequena favela, em Nova York, em 1935. Mais um efeito da Grande depressão iniciada em 1929. Foto: Berenice Abbott, domínio público.

Outro fenômeno que contribuiu para o agravamento da Grande Depressão, sobretudo em áreas rurais, foi o Dust Bowl. Uma série de tempestades de areia que atingiu a área das Grandes Planícies Centrais (que se estende do Texas a Montana) ao longo da década de 1930. Foto: tempestade de areia no Texas, em 1935. Domínio público.

O processo de recuperação pós-criseA recuperação econômica nos EUA se deu através do New Deal, um programa de investimentos públicos lançado pelo presidente Franklin Roosevelt. Tal programa, inspirado em princípios keynesianos, previa uma combinação de investimentos no setor de infraestrutura, aumento da assistência social, estímulo ao emprego e aumento da regulação econômica. A 2ª Guerra Mundial, embora tenha prejudicado certos aspectos do New Deal, permitiu a criação de um amplo complexo industrial-militar nos EUA. Após o fim do conflito, a reconstrução dos países europeus também serviu como estímulo ao crescimento econômico (Plano Marshall).

À esquerda, o presidente Franklin D. Roosevelt (1882-1945) e, à direita, o economista John Maynard Keynes (1883-1946): protagonistas na superação dos efeitos da Crise de 1929 e da subsequente Grande Depressão. Fotos de domínio público.

A 2ª Guerra Mundial (1939-1945) [1]A 2ª Guerra Mundial foi uma guerra global que durou de 1939 a 1945. A maioria dos países – incluindo todas as grandes potências – acabou por integrar uma das alianças militares em conflito: os Aliados (liderados por França, Reino Unido, EUA e URSS) e o Eixo Alemanha-Itália-Japão. Uma guerra total foi deflagrada, envolvendo diretamente mais de 100 milhões de pessoas de mais de 30 países. As nações protagonistas jogaram toda a sua capacidade econômica, industrial e científica no esforço de guerra. Esse foi o conflito mais mortal da história da humanidade, tendo produzido entre 70 e 85 milhões de mortos, a maioria dos quais civis da URSS e da China. [Foi consultado o artigo em inglês da Wikipédia. Acesso em 16/08/2019. Ver: https://en.wikipedia.org/wiki/World_War_II]

https://en.wikipedia.org/wiki/World_War_II

A 2ª Guerra Mundial (1939-1945) - Causas [2]

As causas da 2ª Guerra são complexas, mas podemos listar:● O Tratado de Versalhes, após a 1ª Guerra, que impôs termos

humilhantes à Alemanha, como o pagamento de pesadas indenizações e perda de territórios;

● A Crise de 1929, com a interrupção da prosperidade do Entreguerras e o questionamento dos regimes democráticos;

● A ascensão do nazismo na Alemanha e do fascismo na Itália;● A busca da Alemanha pelo “espaço vital” - na prática, uma

política de expansão e anexação de territórios;● A política expansionista e o militarismo japonês, em busca de

territórios e matérias-primas.


A 2ª Guerra foi marcada por atrocidades, entre as quais:● O Holocausto Judeu e o extermínio, nas câmaras de gás dos

campos de concentração, de outros grupos perseguidos: ciganos, homossexuais, comunistas, Testemunhas de Jeová, prisioneiros de guerra soviéticos; poloneses; etc;

● Mortes de prisioneiros em campos de concentração por fome premeditada e “experimentos científicos”;

● Guerra de aniquilação e extermínio contra a URSS;● Bombardeios estratégicos, principalmente contra a

Alemanha e o Japão, com mortes consideráveis de civis;● Bombas atômicas em Hiroshima e Nagasaki.


A 2ª Guerra terminou com a Europa destruída e sua reconstrução foi capitaneada pelos EUA, através do Plano Marshall. A URSS, embora também tenha sofrido pesadas baixas humanas e materiais, consolidou-se como uma grande potência mundial. Na Ásia, o Império do Japão foi desfeito e suas antigas possessões foram divididas entre China, EUA e URSS. O arquipélago japonês passou a fazer parte da zona de influência estadunidense no Pacífico. Os EUA ocuparam e administraram o Japão, de forma direta, entre 1945 e 1952, sendo que algumas partes do território ficaram sob seu controle até 1972.


Uma das principais consequências da guerra foi a divisão do planeta em dois grandes blocos, organizados em torno de modelos econômicos e sociais distintos: de um lado o bloco capitalista, liderado pelos EUA, e, de outro, o bloco socialista, liderado pela URSS. Entre 1945 e 1989, o mundo viverá a Guerra Fria. Uma situação de permanente tensão entre os dois blocos, com envolvimento indireto em conflitos (caso da Guerra do Vietnã); paranoia coletiva pelo risco de um novo conflito global, agora com armas nucleares; e luta pela liderança econômica, política e tecnológica.


Várias tecnologias e avanços científicos foram desenvolvidos e/ou popularizados durante a Guerra e passaram a ser largamente utilizados após seu término:● Tecnologia de motores a jato para aviação;● Tecnologia atômica/nuclear - tanto para armamentos

quanto produção de energia;● Tecnologia de mísseis balísticos - que, inclusive, será

apropriada pelos projetos de viagens para o espaço;● Tecnologias de monitoramento, como o radar e o sonar;● Desenvolvimento e utilização de novos medicamentos (sulfa

e penicilina) e maior uso de transfusões de sangue; etc.

Cenas da 2ª Guerra Mundial, em sentido horário: Hiroshima devastada pela bomba atômica (1945); a Conferência de Yalta entre Churchill, Roosevelt e Stálin (1945); vala comum no campo de concentração e extermínio de Bergen-Belsen (1945); e cena da Batalha de Stalingrado (1943). Imagens de domínio público.

1.2 O auge da existência fordista● Os 30 gloriosos;● A vida no fordismo:

○ Lutas coletivas;○ Grandes realizações tecnológicas e científicas;○ Indústria cultural;○ Estrutura familiar.

O auge do fordismo

Os 30 gloriosos (1945-1975) representaram o auge do modelo produtivo e gerencial fordista. Nos trinta anos que se seguiram ao final da 2ª Guerra Mundial, os países capitalistas desenvolvidos assistiram a um período de prosperidade sem precedentes, com aumento de salários, pleno emprego, expansão da atividade econômica e o auge do Estado de bem-estar social (Welfare state). Também nesse período, os EUA estabeleceram seu lugar como potência industrial incontestável. Durante os 30 gloriosos foi possível assistir ao auge e começo do declínio do fordismo. Os baby boomers foram protagonistas desse processo.

A vida no fordismo - Lutas coletivas [1]

A compensação pelo trabalho monótono do fordismo estava na previsibilidade. O trabalhador era capaz de estabelecer uma narrativa coerente para sua trajetória, com a possibilidade de planejamento em longo prazo. Exemplos:● Com a lenta e progressiva economia de rendimentos, um operário

podia construir sua casa e investir na educação dos filhos;● O trabalho de vida inteira em uma mesma empresa produzia um

círculo de sociabilidade, com a formação de amizades, casamentos e uma verdadeira extensão do ambiente familiar;

● Ao final de um longo ciclo de dedicação, havia o costume da entrega de um presente que marcava esse período (um relógio ou uma caneta de ouro, por exemplo).

A vida no fordismo - Lutas coletivas [2]Lutas coletivas: o uso intensivo de mão de obra gerou efeitos inesperados para o capitalismo. A junção de um grande número de pessoas em ambientes produtivos - como as fábricas - facilitou a criação de laços de solidariedade entre trabalhadores. Esse sentimento de comunhão teve consequências políticas. O fordismo corresponde a um período de destacada atuação dos sindicatos, com a realização de greves e mobilizações que resultaram em melhores salários, ampliação de direitos e garantias sociais. Criou-se, também, uma lógica de negociação tripartite dos conflitos trabalhistas, com a participação de empresários, sindicatos e representantes do Estado.

Greve na fábrica da GM na cidade de Flint, Michigan, EUA. A greve foi realizada entre o final de 1936 e o início de 1937 e foi fundamental para o fortalecimento do United Automobile Workers (UAW) - sindicato dos trabalhadores das indústrias automotivas. Foto: Sheldon Dick - Library of Congress, Domínio Público.

A vida no fordismo - Indústria cultural [1]Na arte e na cultura, foi replicada a lógica da produção em série. O mundo assistiu à criação de uma indústria cultural, com a produção de ícones e bens de consumo culturais massificados. Os exemplos são variados:● Grandes bandas de rock de alcance global, com vendas de

discos em larga escala. Essas bandas tinham uma imagem similar; produziam músicas de conteúdo e tamanho (aproximadamente 3 minutos) similar; e distribuíam sua produção no mesmo tipo de mídia (discos de vinil e fitas cassete). Exemplos: The Beatles, The Rolling Stones, The Who, The Monkees, The Kinks, The Animals, The Beach Boys, etc;

Na imagem ao lado, um conjunto de bandas de rock dos anos 1960 - em sentido horário, The Beach Boys (imagem maior), The Who, The Rolling Stones e The Beatles.

Créditos: The Beach Boys, REX, Michael Ward/Getty Images e domínio público. Reprodução para fins educacionais.

A vida no fordismo - Indústria cultural [2]

● Criação de uma arte que, ao mesmo tempo, se apropriava e satirizava a relação entre produção massificada e ícones culturais. Isso fica evidente nas obras do artista estadunidense Andy Warhol (1928-1987), quando este retratou as latas de sopa Campbell’s (Campbell's Soup Cans, 1962) e produziu retratos seriados e multicoloridos de Marilyn Monroe (Marilyn Diptych, 1962). Do mesmo artista é a famosa frase no futuro, todos serão mundialmente famosos por quinze minutos (1968);

Campbell's Soup Cans e Marilyn Diptych, as duas obras foram produzidas por Andy Warhol em 1962. Reprodução para fins educacionais.

A vida no fordismo - Indústria cultural [3]

● Criação de um aparato de comunicação com mecanismos para difusão massificada de informação e produtos culturais: rádio, televisão, revistas, etc. Os veículos de comunicação de massa seguirão a lógica da produção em série:○ Os mesmos modelos de programas infantis;○ Os mesmos programas de variedades;○ Os mesmos telejornais;○ As mesmas telenovelas;○ Os mesmos gêneros de filmes;○ A mesma segmentação no mercado editorial (revistas de

variedades, revistas femininas, revistas para jovens, etc).

Programas infantis dos anos 1980 e 90 no Brasil - em sentido horário, Xou da Xuxa, Show Maravilha (apresentado por Mara Maravilha) e Clube da Criança (Angélica).

Créditos: imagens de arquivo Globo, SBT e Manchete. Reprodução para fins educacionais.

A vida no fordismo - Família e afetividadeEstrutura familiar: trata-se do auge do American Way of Life, retratado na família modelo dos anos 1950: um casal heterossexual branco, com um marido que trabalha em um escritório, uma esposa que cuida do lar, dois ou três filhos, uma casa de subúrbio com um jardim, um cachorro e um carro na garagem. Nessa residência, veremos um conjunto de eletrodomésticos produzidos pela mesma indústria de massa que criou a família acima descrita. Foto: Fitz Family, anos 1950, reprodução para fins educacionais.

Publicidade de uma cozinha “completamente elétrica”, nos anos 1950. Destaque para os eletrodomésticos e a família feliz idealizada. Imagem: Hotpoint, reprodução para fins educacionais.

1.3 Crise e decadência do modelo fordista● Choques do petróleo;● Competição externa: Japão e toyotismo;● Aceleração dos ciclos tecnológicos;● Fragmentação dos laços sociais.

A crise do fordismo [1]Fatores que propiciaram a crise do modelo fordista, que se arrasta desde meados da década de 1970:● Excesso de rigidez interna;● Choques do petróleo (1973 e 1979): o petróleo, que até esse

momento era barato e abundante, teve seu preço repentinamente multiplicado. A demanda por eficiência não poderia mais ser negligenciada. Uma cena emblemática foi a instalação de painéis de energia solar na Casa Branca, durante a gestão do presidente Jimmy Carter (1977-1981);

● Aumento da competição externa, vinda principalmente da Ásia, com o toyotismo e suas inovações gerenciais.

A crise do fordismo [2]

Aceleração dos ciclos tecnológicos, com crescente uso de tecnologias da informação e comunicação. Os computadores tomam conta de todos os espaços e a comunicação passa a ocorrer de modo cada vez mais veloz. A base fordista, apoiada em paradigmas oriundos das engenharias - civil, elétrica, mecânica, etc - é posta em questão pela chegada do modelo informacional. As tecnologias tornam-se mais flexíveis e portáteis: dos computadores industriais às versões domésticas; dos telefones fixos às versões móveis; até a aceleração extrema do século XXI, com a convergência tecnológica (informática, nanotecnologia, ciências cognitivas e biotecnologia).

A crise do fordismo [3]

Fragmentação dos laços sociais e busca de maior flexibilidade também na vida pessoal. A partir da década de 196o, assistiremos a um choque existencial com sociabilidades alternativas, que surgiram nas rachaduras da rigidez fordista:● Hippies; o Flower Power; uso recreativo de drogas (LSD e

maconha); movimentos pela paz e amor livre; ● A busca por igualdade de direitos (mulheres, populações

negras e homoafetivas); ● O advento da pílula anticoncepcional e a possibilidade de

planejamento familiar, além de maior autonomia afetiva e sexual para mulheres.

Um outro exemplo de ruptura com o modelo fordista, no âmbito cultural, se dá na definição do conceito de família. O modelo familiar “padronizado” foi substituído pela aceitação e valorização de uma grande variedade de formatos familiares. Fotos: reprodução da internet para fins educacionais.

1.4 A transição toyotista

Embora Eiji Toyoda tenha sido o grande estrategista da Toyota por décadas (1967-1994), coube a Taiichi Ohno (foto) a criação e implementação do Sistema Toyota de Produção.Imagens: logo Toyota a partir de 1989 (domínio público) e Taiichi Ohno (TMHE, CC 2.0).

A transição toyotista

As montadoras japonesas, a partir da década de 1960, promoveram inovações gerenciais que tiveram profundo impacto na produção industrial de todo o mundo - surge o just in time. Com o toyotismo, assistimos a um aumento da qualidade, flexibilidade produtiva e variedade da oferta de produtos. A estabilidade do trabalho, em linhas gerais, permaneceu: estava mantida a segurança do trabalhador que dedicava sua vida à empresa. Mas uma nova atitude passou a ser exigida: maior comprometimento, combate ao desperdício e valorização de um comportamento proativo. O trabalhador deixava de ser mero apertador de parafusos para sugerir melhorias na produção.

O modo de produzir do toyotismo

Características básicas do toyotismo:● Just in time: fazer somente o que é necessário, somente

quando é necessário e somente na quantidade necessária;○ Produção puxada (ao contrário da produção empurrada

do fordismo);● Autonomação: automação com um toque humano;● Kaizen: busca da melhoria contínua;● Trabalho em equipes;● Padronização de produtos e processos, com a busca da

qualidade total (exemplos: 5S e programas de certificação);● Flexibilidade produtiva e aumento da variedade de produtos.

1.5 Sucessos e fracassos ao longo do século XX

● Degradação ambiental e iniciativas de conservação;

● A conquista do espaço e a revolução informática;

● Vacinas e a erradicação de doenças;

● Direitos humanos, guerras e genocídios: a permanência da intolerância.

Imagens, em sentido horário: Jonas Salk, inventor da vacina contra a pólio; sonda Voyager I; e desastre ambiental de Mariana (MG), 2015. Domínio público.

Problemas de matriz energética

Ao longo do século XX e início do XXI, a matriz energética de nosso planeta foi fonte de depredação e degradação de variados ecossistemas e da biosfera como um todo. O intenso uso de petróleo e seus derivados, além do carvão mineral, tem impactos que se manifestam desde sua extração até a emissão de partículas poluentes e geradoras de efeito estufa na atmosfera. Algumas possíveis soluções, implementadas de formas pouco responsáveis, acabaram por gerar novos e imprevistos problemas - caso do uso comercial de energia nuclear/atômica ou a utilização massificada do álcool de cana.

Desastres ambientaisSucessivos desastres ambientais foram observados, muitos deles causados por absoluto desinteresse em medidas de prevenção e estudo de possíveis impactos ambientais. Nessa lista, podemos citar:● Doença de Minamata (Japão): epidemia de doenças relacionadas

à contaminação por mercúrio, em virtude do despejo de material tóxico no mar pela indústria química Chisso entre 1932 e 1968;

● Acidente nuclear em Chernobyl, na Ucrânia (1986);● Vazamento do petroleiro Exxon Valdez no Alasca (1989);● Incêndio nos poços de petróleo do Kwait, durante a retirada do

exército iraquiano, na guerra entre os dois países (1991);● Ruptura das barragens de rejeitos químicos de Mariana (MG) e

Brumadinho (MG) no Brasil, respectivamente em 2015 e 2019.

Conservação e segurança energética

Para garantia da segurança energética, com opções menos destrutivas para o meio ambiente, algumas alternativas têm sido adotadas. Os níveis de engajamento em novos modelos energéticos podem variar de acordo com o país ou a administração de turno:● Energia eólica;● Energia solar/fotovoltaica;● Energia oriunda de biomassa, biocombustíveis e biogás;● Energia maremotriz (energia proveniente do movimento das

marés);● Processos de reciclagem e reaproveitamento de materiais.

A conquista do espaço [1] - O caminho à Lua

Um dos avanços mais notáveis da humanidade, em bases científicas e tecnológicas, diz respeito à conquista do espaço a partir de década de 1950. A Corrida Espacial teve seu auge entre 1957 e 1969, sendo a URSS e os EUA seus protagonistas:● 1957: primeiro satélite artificial, o Sputnik 1 (URSS);● 1957: primeiro animal a orbitar a Terra, a cadela Laika (URSS);● 1961: primeiro homem no espaço, Yuri Gagarin (URSS);● 1963: primeira mulher no espaço, Valentina Tereshkova

(URSS);● 1969: desembarque na Lua, com Neil Armstrong (EUA)

sendo o primeiro ser humano a pisar em solo lunar.

Em sentido horário: Sputnik 1; a cadela Laika; a cápsula Vostok 3KA, utilizada por Yuri Gagarin em sua viagem ao espaço; selo comemorativo da viagem de Valentina Tereshkova; e Neil Armstrong na superfície lunar. Imagens de domínio público.

A conquista do espaço [2] - As sondas Voyager I e II

As sondas espaciais Voyager I e II foram lançadas em 1977 para exploração da porção exterior do Sistema Solar. Foram visitados os planetas Júpiter, Saturno, Urano e Netuno e algumas de suas luas - Calisto, Europa, Ganimedes e Io (Júpiter); Encélado e Titã (Saturno); e Tritão (Netuno). As duas sondas ainda estão em funcionamento e enviam informações para Terra, sendo que já deixaram nosso Sistema Solar e agora estão oficialmente no espaço interestelar. Cada uma carrega um disco de ouro com saudações terrestres, caso sejam encontradas por outras formas de vida inteligentes. Os discos também contêm sons e imagens da Terra, além de instruções para localização de nosso planeta.

A conquista do espaço [3] - A conquista de Marte

A exploração espacial tem voltado suas atenções para Marte, com o envio de sondas e veículos de exploração comandados remotamente. Considerando apenas equipamentos dos EUA que pousaram com sucesso em solo marciano, temos as sondas Viking 1 e 2 (1976); Mars Pathfinder/Sojourner (1997); Spirit (2004); Opportunity (2004); Phoenix (2008); Curiosity (2012); e InSight (2018). Também há uma grande quantidade de satélites em sua órbita, para coleta de informações e mapeamento da superfície. Com o grande volume de dados e imagens já reunido, tem se especulado de forma intensa sobre quando ocorrerá a primeira viagem tripulada ao planeta.

A revolução informática [1]

Ao longo do século XX, a utilização de computadores tornou-se massificada. Inicialmente uma aplicação de uso científico e militar; posteriormente passou a fazer parte de instalações comerciais e industriais. A partir do final dos anos 1970, tornou-se item cada vez mais comum nas residências. Atualmente, os microprocessadores e a informática são praticamente onipresentes: estão nos smartphones, desktops, notebooks, servidores, tablets, etc. Além da crescente capacidade de processamento, assistimos à expansão das formas de comunicação via informática, principalmente com o advento da internet e suas múltiplas possibilidades.

A revolução informática [2]

Para além dos desenvolvimentos tecnológicos e econômicos propiciados pela revolução informática, há uma crescente preocupação com seus efeitos negativos não previstos. As novas TICs, Tecnologias da Informação e Comunicação, não só não realizaram a utopia do livre acesso à informação como criaram novas formas de opressão. A constante vigilância eletrônica e consequente perda de privacidade decorrem do monitoramento realizado por empresas como Facebook e Google. Nesse contexto, também há a disseminação das fake news, a criação de bolhas de (des)informação, a radicalização do embate político, a formação de comunidades extremistas, etc.

Saúde pública: vacinas e erradicação de doenças

Um sucesso da humanidade ao longo do século XX - que passa por um pesado ataque de fake news - diz respeito à criação de novas vacinas e a utilização desse meio de prevenção em grandes campanhas de saúde pública. A criação da vacina contra Poliomielite (“paralisia infantil”) pelo pesquisador e virologista Jonas Salk (1914-1995) foi um avanço notável na prevenção de uma doença de terríveis consequências e que causava verdadeiro pânico social. A luta contra essa doença também produziu a vacina Sabin (a “gotinha”), que é utilizada até hoje no Brasil. Outra vitória das campanhas mundiais de vacinação foi a completa erradicação da Varíola em 1979.

Direitos humanos, guerras e genocídios [1]

Após o grande número de mortes na 1ª Guerra Mundial, o fracasso da Liga das Nações e a enorme lista de atrocidades ocorridas na 2ª Guerra, foi criada a Organização das Nações Unidas (ONU), em 1945. Um de seus mais relevantes legados, para preservação da vida e garantia da dignidade humana, é a Declaração Universal dos Direitos Humanos, estabelecida em 1948. A declaração lista uma série de direitos e garantias a todos os seres humanos e que seriam inalienáveis. Em outras palavras, direitos que não podem ser retirados ou violados e que são a própria garantia do estatuto de humanidade dos indivíduos sob sua proteção.

Direitos humanos, guerras e genocídios [2]

A Declaração, por si só, no entanto, não foi capaz de evitar que uma série de outras guerras de extermínio e práticas genocidas fossem implementadas. Alguns exemplos:● Guerras de independência e processo de descolonização da

África, sobretudo entre as décadas de 1950 e 1970;● Genocídio no Camboja (1975-1979);● Ocupação e genocídio no Timor Leste (1975-1999);● Genocídio em Ruanda (1994);● Genocídio na Bósnia (1995);● Intimidação, ocupação de terras e genocídio das populações

indígenas do Brasil; etc.

Parte 2. Dos anos 1980 ao século XXI: a acumulação flexível de capital:

● O colapso da URSS (União das Repúblicas Socialistas Soviéticas);

● Desmonte do Estado de Bem-Estar Social (Welfare State);

● Transformações no âmbito da economia, produção e gestão;

● Transformações tecnológicas e culturais.

Na imagem acima, escritório do Google em Dublin, Irlanda. Uma prova de que é possível unir psicodelia e dominação mundial. Foto: Google, reprodução para fins educacionais.

Epígrafes

Tudo que era sólido e estável se esfuma, tudo o que era sagrado é profanado, e os homens são obrigados finalmente a encarar com serenidade suas condições de existência e suas relações recíprocas. (MARX & ENGELS, Manifesto Comunista, 1848)

Mas quem é a sociedade? Não existe tal coisa! Existem indivíduos, homens e mulheres, e há famílias e nenhum governo pode fazer nada, exceto através de pessoas e as pessoas olham para si mesmas primeiro. É nosso dever cuidar de nós mesmos e, em seguida, também ajudar a cuidar do nosso próximo. (THATCHER, M. Declaração proferida em 23 de Setembro de 1987, tradução livre. Disponível: http://bit.ly/1I3jQPn. Acesso em 15/11/2018)

http://bit.ly/1I3jQPn

O início de uma nova era

O atual estágio do modo de produção capitalista pode ser chamado de acumulação flexível de capital. O fato de vivermos sob esse paradigma produtivo, que se desenvolve sob nossos olhos, torna a tarefa de defini-lo particularmente difícil. Não obstante, podemos dizer que ele é o resultado do/a:1. Desmonte do paradigma fordista;2. Ascensão de um modelo político, econômico e social neoliberal;3. Aceleração exponencial dos ciclos tecnológicos;4. Consolidação da sociedade em rede;5. Radicalização do individualismo;6. Transformação das relações e instituições sociais, com a criação de

uma vida de “caráter líquido”.

2.1 O colapso da URSS (União das Repúblicas Socialistas Soviéticas)

Imagens: Dissolução da União Soviética, com lista dos países que a sucederam: (1) Armênia; (2) Azerbaijão; (3) Bielorrússia; (4) Estônia; (5) Geórgia; (6) Cazaquistão; (7) Quirguistão; (8) Letônia; (9) Lituânia; (10) Moldova; (11) Rússia; (12) Tajiquistão; (13) Turcomenistão; (14) Ucrânia; e (15) Uzbequistão; Mikhail Gorbachev, último líder da União Soviética; e a Queda do Muro de Berlim (1989). Reprodução para fins educacionais.

O colapso da URSS [1]

A URSS foi formada em 1922 e existiu até o ano de 1991. Tal entidade política se estendia da Europa até o litoral asiático no Pacífico. Seus indicadores, à época do colapso, eram os seguintes:● Área total: 22.402.200 km²;● População (1991): 293 milhões (terceira mundial);● PIB (estimativa 1990): US$ 2,7 trilhões (segundo mundial);● PIB per capita: US$ 9,200 (vigésimo oitavo mundial).

A União Soviética era uma potência na exploração espacial, em poderio militar, armas atômicas e era a principal liderança do bloco socialista mundial, em oposição ao bloco capitalista.


Entre as causas de sua dissolução, podemos listar:● Ausência de liberdades democráticas, como o direito à livre

manifestação ou associação;● A criação de uma burocracia administrativa privilegiada e, ao

mesmo tempo, cada vez mais ineficiente e desligada da realidade cotidiana;

● Impossibilidade de manutenção dos elevados gastos militares, sobretudo para acompanhar o programa “Star Wars” lançado pelo presidente Ronald Reagan, dos EUA;

● O acidente na central nuclear de Chernobyl, localizada na Ucrânia, em 1986;


● Ineficiência econômica e incapacidade para produzir bens de consumo em níveis condizentes com o avanço tecnológico e industrial alcançado. A mesma potência capaz de enviar pessoas ao espaço produzia liquidificadores, televisões e carros de baixa qualidade. Além disso, havia baixa variedade de produtos e racionamento de alguns itens;

● A adoção da Perestroika (“reestruturação”) e da Glasnost (“transparência”), reformas que pretendiam realizar, respectivamente, a abertura econômica e política da URSS. Tais iniciativas tiveram o imprevisto papel de desestabilização do regime, acelerando sua queda.

2.2 Desmonte do Estado de Bem-Estar Social

Ronald Reagan (1911-2004) e Margaret Thatcher (1925-2013) no Salão Oval da Casa Branca, 1988. Uma relação de afinidade ideológica e amizade que transformou o mundo.

Foto: domínio público/Ronald Reagan Presidential Library.

Desmonte do Estado de Bem-Estar Social [1]

O Estado de Bem-Estar social (Welfare State), foi predominante entre as grandes economias capitalistas a partir do final da 2ª Guerra Mundial. Esse modelo é definido por um amplo aparato estatal para concessão de direitos sociais, benefícios e serviços públicos à população. Tais serviços, de modo geral, possuem elevada qualidade e são administrados por uma complexa burocracia. A depender do país, pode haver maior intervenção na economia e presença de empresas estatais. Em todos os casos, o modelo é sustentado por uma pesada carga tributária.


O Estado de Bem-Estar passou a ser questionado, de forma bastante aguda, na passagem da década de 1970 para os anos 1980. As críticas a esse modelo tratavam de variados fatores:● O seu custo, sustentado por altas cargas tributárias; ● A necessidade de uma grande burocracia para sua gestão; ● Lentidão das respostas a um mercado cada vez mais

dinâmico;● Acusações de que o modelo teria viés paternalista; etc.

Nesse cenário, Reino Unido e EUA iniciaram uma guinada política e econômica que colocou em xeque o futuro do binômio fordismo-Estado de Bem-Estar.


● Eventos políticos:○ Eleição de Margaret Thatcher no Reino Unido (1979);○ Eleição de Ronald Reagan nos EUA (1980).

A eleição dessas lideranças foi marcada por uma retórica de ataque ao tamanho do Estado e seu papel na economia. Isso significou a ruptura com o pensamento econômico vigente durante os 30 gloriosos (1945-1975), com o questionamento das teses keynesianas e desenvolvimentistas. No caso específico dos EUA, o consenso político e econômico do New Deal entrou em colapso e ocorreu a ascensão de pautas conservadoras na esfera dos costumes.


O programa fundado no papel do Estado como promotor do desenvolvimento econômico e social foi substituído por outro, em que o mercado passa a ser protagonista. Na prática, ocorreu:● Diminuição do tamanho do Estado de Bem-Estar, com

eliminação de serviços e políticas sociais;● Adoção de medidas de severa austeridade econômica;● Desregulamentação econômica;● Investidas contra o poder dos sindicatos e teses coletivistas

de modo geral;● Ascensão do neoliberalismo.


Observação importante. Embora seja sempre citada a diminuição do Estado de Bem-Estar a partir dos anos 1980, cabe salientar que essa mudança é complexa e contraditória. No Reino Unido, por exemplo, mesmo com o discurso de austeridade de Margaret Thatcher, o Serviço Nacional de Saúde (National Health System, NHS), bastião do Welfare State nesse país, permaneceu praticamente intocado. Na verdade, o que se nota de mais claro contra o Welfare State é a consolidação de um discurso de corte neoliberal que rejeita a ideia de uma rede ampla de proteção social e passa a valorizar a ideia de que o indivíduo, de modo solitário, é o responsável por seu destino.

2.3 Transformações no âmbito da economia, produção e gestão

Apple Park, a sede neo-futurista da Apple em Cupertino, Califórnia. Foto: Daniel L. Lu (CC BY-SA 4.0).

Economia, produção e gestão [1]

Entre a década de 1980 e o início do século XXI, as transformações econômicas terão, como pano de fundo, a emergência do neoliberalismo. Inicialmente, esse fenômeno foi visto como um conjunto de ideias que preconizava a diminuição do Estado, desregulamentação da economia e um poder sem precedentes à iniciativa privada. Caberia ao mercado ser o principal promotor do desenvolvimento, sem grandes amarras burocráticas, controles estatais ou oposição sindical.


De forma mais recente, evidenciou-se o impacto social e cultural desse construto ideológico: a conversão do humano em capital. Nesse sentido, o neoliberalismo opera a transformação do conhecimento, relações sociais, afetividades, praticamente tudo, em capital.LinkedIn: onde termina a

amizade e começa o networking? Foto: divulgação.


A crise do fordismo, atrelada à ascensão neoliberal, transformou a produção industrial e a economia mundial como um todo. Essa mudança radical, na prática, teve as seguintes características:● Ênfase deslocada do produto para o consumidor: maior

flexibilidade para atender ao desejo de consumo;● A ênfase no modo de fazer e na eficiência (Taylor) é

deslocada para entrega de resultados/objetivos (Drucker);● Ganha destaque o trabalhador da área de serviços (white

collar) em contraste com a proeminência anterior do trabalhador da indústria (blue collar);

● A mulher ganha espaço no mercado de trabalho;


● Centros industriais mais antigos e tradicionais (EUA, Europa, Japão, entre outros) realizam um progressivo deslocamento para atividades relacionadas ao setor de serviços, tecnologia e inovação. Grandes corporações passam a atuar no desenvolvimento de projetos e produtos, na promoção publicitária, etc, sem que, de fato, produzam os itens que levam suas marcas. Nesse cenário, as palavras de ordem passam a ser conhecimento e inovação;

● A produção industrial, no entanto, não desaparece. Ela é, em grande parte, deslocada/terceirizada (outsourcing) para antigas periferias do capitalismo, como China e Índia.


Mudanças no universo do trabalho:

● Os sindicatos perdem espaço, bem como os movimentos centrados na solidariedade entre trabalhadores;

● Instabilidade no trabalho, com a impossibilidade de estabelecimento de uma carreira profissional bem definida e, portanto, ausência de planejamento da vida em longo prazo;

● Desregulamentação das relações trabalhistas;○ Trabalho à distância;○ Trabalho em períodos parciais;○ Regime de pessoa jurídica (microempresa, MEI, EPP, etc);


● Progressivo desaparecimento da estrutura de cargos: as pessoas passam a ser contratadas de acordo com seu estoque de competências. Isso terá um reflexo importante na educação: as formações tradicionais, voltadas a carreiras, darão lugar à formação flexível. O indivíduo passa a buscar apenas as competências necessárias à atuação profissional, com a proliferação de formações de curta duração, cursos EaD, mestrados executivos, MBAs, etc;

● Nomenclaturas e cargos tradicionais são substituídos por uma infinidade de “consultores” e “especialistas”.


O trabalho alienado ganha novas características:● Anteriormente: o trabalhador não se identificava com o

produto final por realizar apenas uma parte muito pequena do processo de produção. Exemplo: o metalúrgico que não monta um carro, apenas aperta alguns parafusos;

● Atualmente: a automação elimina completamente o conteúdo de certas ocupações. Exemplo: o padeiro que não produz pão, apenas programa uma máquina que produz pães de forma automatizada. Ou o caixa de um supermercado, cuja única função é a de passar produtos por um leitor de código de barras.

2.4 Transformações tecnológicas e culturais

Na sociedade em rede, todos estão permanentemente conectados, via computadores, tablets, smartphones e uma infinidade de dispositivos que permitem o compartilhamento de conteúdos em tempo real.

Imagem: Visualização gráfica de várias rotas em uma porção da Internet. The Opte Project.

Transformações tecnológicas e culturais [1]

A internet passa a ser um espaço para criação de novas sociabilidades. No “mundo virtual” há opções de lazer, aprendizado, contato entre grupos de interesse/comunidades, formação de amizades, criação de laços afetivos, etc. O volume de informação disponível multiplica-se e existe a sensação de aceleração do tempo. A permanente conexão permite o trabalho permanente: a cada email ou mensagem no WhatsApp, uma nova demanda profissional.

Transformações tecnológicas e culturais [2]Do ponto de vista econômico, a expansão das tecnologias da informação e comunicação, permitem:● Maior integração de operações de produção;● Trabalho remoto, com monitoramento constante de pessoas;● Compressão espaço-temporal, com a expansão das cadeias

de transporte e logística e redes de comunicação.

A própria ideia de trabalho se transforma. Na medida em que o mais importante é a entrega de resultados, perde relevância a minúcia do processo produtivo. As pessoas podem trabalhar em horários variados, à distância, com relativo desprezo por etiquetas corporativas.


A tecnologia passa a mediar as afetividades. Os indivíduos se oferecem à avaliação pública, listando suas qualidades (físicas, comportamentais, intelectuais, etc). O encontro presencial cede espaço à conexão virtual - que pode ou não se materializar.

Foto: divulgação/Tinder.

Transformações tecnológicas e culturais [4]Para garantir jornadas mais longas e maior empenho, basta convencer um funcionário de que não se trata de trabalho. Na imagem ao lado, escritório do Google em Londres, Reino Unido.

Foto: Google, reprodução para fins educacionais.


Em sentido horário: veículos elétricos da Tesla, Inc.; página inicial do YouTube; e o campeonato mundial de League of Legends (evento de Esports/Esporte eletrônico). Fotos, respectivamente: Mariordo/CC BY-SA 4.0; Fair use; Patar knight/CC BY-SA 4.0.

Definição de Acumulação Flexível de Capital [1]

Em uma definição inicial e, portanto, precária, trata-se de:

● Triunfo dos modelos gerenciais e produtivos flexíveis:○ O planejamento é flexível (scrum, diagrama canvas, etc);○ O trabalho é flexível: os modos de atuar podem variar,

desde que o objetivo seja cumprido;○ A produção é flexível: variedade, pequenos lotes e ênfase

no gosto do consumidor;● Organização de uma economia em rede, fortemente apoiada

em tecnologias da informação e comunicação, valorização dos processos de controle, automação e inovação;

Definição de Acumulação Flexível de Capital [2]

● Mercadificação das relações sociais, como subproduto da ascensão neoliberal;

● Desintegração da solidariedade de classe e instituições associadas (como sindicatos);

● Empreendedorismo: o indivíduo deve sempre ousar e inovar, por sua própria conta e risco;

● Meritocracia: o ataque às redes de proteção social vem com o discurso sobre a necessidade de todo indivíduo progredir pelo próprio esforço. Nesse sentido, deve ser abandonada a “relação paternalista” entre Estado e sociedade;

● O individualismo ganha espaço.

Bibliografia

Bibliografia

DARDOT, Pierre & LAVAL, Christian. A nova razão do mundo: ensaio sobre a sociedade neoliberal. São Paulo, Boitempo, 2016 [2009].DE MASI, Domenico. Futuro do trabalho: fadiga e ócio na sociedade pós-industrial. Rio de Janeiro, José Olympio, 2006 [1999].GAULEJC, Vincent de. Gestão como doença social. Aparecida (SP), Ideias & Letras, 2007.GORZ, André. O imaterial: conhecimento, valor e capital. São Paulo, Annablume, 2005.HARVEY, David. Condição pós-moderna. São Paulo (SP), Edições Loyola, 2008 [1989].SENNETT, Richard. A corrosão do caráter. Rio de Janeiro (RJ), Record, 2009 [1998].VIANA, Silvia. Rituais de sofrimento. São Paulo, Boitempo, 2013.

Muito obrigado por sua atenção!

Profº Ms Antonio Gracias Vieira Filho

Contato: [email protected]

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