Aula 5 ruth sá

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Língua Portuguesa: a pesquisa e o trabalho em sala de aula dlp em ação diálogos sobre ensino e pesquisa - 2012

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Língua Portuguesa: a pesquisa e o trabalho em sala de aula

dlp em açãodiálogos sobre ensino e pesquisa - 2012

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O processo de produção do artigo de

opinião

5º Encontro

Ruth Sá

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Por que trabalhar com artigo de

opinião no F2

Importância da escrita na vida de qualquer cidadão

Importância de saber argumentar e,

consequentemente, do texto argumentativo

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O artigo de opinião, seu contexto

de produção e seu leitor

Caráter argumentativo

Contexto de produção

Público leitor

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Apresentação da pesquisa

Leitura e discussão de três artigos de opinião publicados na Folha de São Paulo;

Aplicação da primeira produção;

Aplicação de questionário sobre processo de produção.

Análise de cinco textos de referência (artigos de opinião sobre a legalização da maconha, publicados no jornal Folha de São Paulo);

Análise dos 25 artigos de opinião escritos pelos alunos, com base nos aspectos relevantes levantados na análise dos textos de referência.

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A sequência argumentativa

segundo J. M. Adam

Protótipo que apresenta sucessão de quatro fases:

- Fase de premissas (ou dados) em que se propõe

uma constatação de partida;

- Fase de apresentação de argumentos (elementos

que orientam para uma conclusão provável);

- Fase de apresentação de contra-argumentos

(restrição em relação à orientação argumentativa);

- Fase de conclusão (ou nova tese), que integra os

efeitos dos argumentos e contra-argumentos.

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Planificação sequencial nas

subpartes do gênero

Subpartes do

gênero

Sequências

predominantes

Sequências

secundárias

Abertura/

Introdução

Argumentativa Narrativa: localiza

fatos no tempo e no

espaço

Desenvolvimento Argumentativa Explicativa: explicita

causas e/ou razões

da afirmação inicial,

assim como as das

questões e

contradições que

essa afirmação

suscita.

Conclusão Argumentativa

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Análise do artigo de referência 1:

sequências

Sequência argumentativa 1

Semanas atrás, a Folha noticiou a proposta de criar-se uma agência especial para pesquisar os supostos efeitos medicinais da maconha, patrocinada pela Secretaria Nacional Antidrogas do governo federal » fato, constatação

Esse debate nos dias atuais, tal qual ocorreu com o tabaco na década de 60, ilude sobretudo os adolescentes e aqueles que não seguem as evidências científicas sobre danos causados pela maconha no indivíduo e na sociedade » premissa inicial: fato + tese

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Análise do artigo de referência 1:

sequências

Argumento

Na revisão científica feita por Robim Room e

colaboradores ("Cannabis Policy", Oxford

University, 2010), fica claro que a maconha produz

dependência, bronquite crônica, insuficiência

respiratória, aumento do risco de doenças

cardiovasculares, câncer no sistema respiratório,

diminuição da memória, ansiedade e depressão,

episódios psicóticos e, por fim, um

comprometimento do rendimento acadêmico ou

profissional.

Apesar disso, o senso comum é o de que a maconha

é "droga leve, natural, que não faz mal".

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Análise do artigo de referência 1:

sequências

Sequência argumentativa 2

Reformulação da tese » Pesquisas de opinião no Brasil mostram

que a maioria não quer legalizar a droga, mas grupos

defensores da legalização fazem do eventual e ainda sem

comprovação uso terapêutico de alguns dos componentes da

maconha prova de que ela é uma droga segura e abusam de um

discurso popular, mas ambivalente e perigoso.

Argumento 1» O interesse recente da ciência sobre o uso da

maconha para fins terapêuticos deveu-se à descoberta de que

no cérebro há um sistema biológico chamado endocanabinoide,

onde parte das substâncias presentes na maconha atua.

Um dos medicamentos fruto dessa linha de pesquisa, o

Rimonabant, já foi retirado do mercado, devido aos efeitos

colaterais. Até hoje há poucos estudos controlados, com

amostras pequenas, e resultados que não superam o efeito das

substâncias tradicionais, que não causam dependência. »

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Análise do artigo de referência 1:

sequências

Argumento 2 » Estados americanos aprovaram leis

descriminalizando o uso pessoal de maconha, que é

distribuída sem controle de dose e qualidade.

Contradição enorme, pois os médicos são os

"controladores do acesso" para uma substância

ainda sem comprovação científica.

De outro lado, orientam os pacientes sobre os

riscos do uso de tabaco. Deve-se relembrar que os

estudos versam sobre possíveis efeitos terapêuticos

de uma ou outra substância encontrada na

maconha, não sobre a maconha fumada.

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Análise do artigo de referência 1:

sequências

Conclusão » Os pesquisadores brasileiros interessados no tema

devem realizar mais estudos por meio das agências já existentes,

principalmente diante do último relatório sobre o consumo de drogas

ilícitas feito pelo Escritório para Drogas e Crime das Nações Unidas,

que aponta o Brasil como o único país das Américas em que houve

aumento de apreensões e consumo da maconha.

E se, no futuro, surgir alguma indicação para o uso medicinal da

maconha, o processo de aprovação, que ainda não atingiu os

padrões de excelência, deve contextualizar esse cenário, assim como

o potencial da maconha de causar dependência.

Espera-se que a política nacional sobre drogas seja redirecionada em

caráter de urgência, pois enfrenta-se também aqui o aumento das

apreensões e consumo de cocaína e crack, que exige muitos esforços

e recursos para sua solução.

Que nem pesquisadores nem nossa população se iludam de que

exista hoje uma indicação terapêutica para utilizar maconha

aprovada pela ciência.

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Análise do texto de referência 2:

Fato, constatação, premissa » Ainda não foi desta vez que os californianos liberaram a maconha. Mas, a julgar pelo resultado deste primeiro plebiscito, no qual a legalização da erva para fins recreativos obteve a adesão de impressionantes 46% dos eleitores, isso acabará ocorrendo em algum momento nos próximos anos . Fato, constatação, premissa

Argumento 1» Desconfio um pouco dessas iniciativas em favor da maconha. Não, ainda não me tornei um membro do Tea Party, um conservador empedernido, daqueles que gostam de fritar estupradores na cadeira elétrica e acham que lugar de viciado é a prisão. Meu problema com esse gênero de proposta é que, ao limitar a discussão à maconha, deixando de lado as outras drogas ilícitas, não promovemos uma abordagem mais racional do problema .

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Análise do artigo de referência 2:

sequências

Argumento 2 » Convenhamos que o "statu quo" não muda

muito se liberamos a maconha, mas mantemos a cocaína e as

drogas sintéticas proibidas. As supostas vítimas do delito

seguiriam fazendo fila à porta do traficante para entupi-lo de

dinheiro com o qual corrompe autoridades e financia outras

atividades ilegais.

A grande verdade é que a linha proibicionista, que vigora há

cem anos, fracassou. Gastamos centenas de bilhões de dólares

por ano para manter o consumo mais ou menos estável ao

longo da última década -em torno de 5% da população com

mais de 15 anos, segundo a ONU. É provável, como querem os

proibicionistas, que, sem a repressão, a prevalência fosse

maior, mas ninguém sabe ao certo se esse efeito é real nem em

que grau ocorreria, pois nenhum país testou ainda a

legalização.

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Análise do artigo de referência 2:

sequências

Conclusão » O que me faz pender definitivamente

para a liberação, mais do que considerações

epidemiológicas, é a convicção filosófica de que

existem limites para a interferência do Estado na

vida do cidadão. Eu pelo menos nunca firmaria um

contrato social no qual abriria mão de decidir o que

posso ou não ingerir. Esse é um direito que, creio,

vem no mesmo pacote do da liberdade de ir e vir e

de dizer o que pensa.

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Análise do artigo de referência 1:

mecanismos de coesão

Coesão sequencial: Emprego majoritário do presente do

indicativo: seguem, fica, produz, é, faz, quer, fazem,

atua, superam, causam, são, orientam, versam, devem,

aponta, espera-se, enfrenta-se, exige, iludam

Emprego de conectores lógico-semânticos:

“Apesar disso, o senso...”; “De outro lado, orientam...” ;

“Que nem pesquisadores nem...”, delimitando as

subpartes

Coesão referencial: recorrência palavra maconha 13

vezes, retomada como droga 3 vezes e uma vez por ela e

que

Impessoalidade:

Deve-se, espera-se, enfrenta-se

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Análise do artigo de referência 2:

mecanismos de coesão

Coesão sequencial:

Emprego majoritário do presente do indicativo

Emprego reduzido de conectores lógico-semânticos

Emprego de orações subordinadas subjetivas:

convenhamos que, é provável que, o que me faz

pender para

Emprego de verbos no futuro do pretérito do

indicativo na conclusão

Coesão referencial:

A palavra maconha é empregada apenas três vezes

e é retomada apenas uma vez pela palavra erva

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O que mostrou a análise dos

textos de referência

impessoalidade do sujeito;

uso do léxico para conduzir argumentações;

emprego do presente do indicativo (premissa e argumentos);

coesão por encadeamento e conexão (conectores lógico-discursivos);

conclusões dos artigos: presente ou futuro do presente;

não aparece contra-argumento;

único artigo assinado: primeira pessoa; opiniões declaradas; uso do futuro do pretérito nas conclusões (soam mais como sugestões).

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Análise de produção do aluno

Eduardo

Legalização da Maconha

Acredita-se que atualmente a maconha seja mais um meio de

chamar atenção ou de incluir o usuário em um grupo desejado. São

feitas passeatas para a legalização da maconha, onde milhares de

“rebeldes” se coalizam; porém essas passetas foram, recentemente

proibidas pelo governo.

Segundo pesquisas, a droga tem poder de iludir a mente do

usuário, o que além de causar mal aos pulmões, danifica milhões de

neurônios sadios. Ao utilizar a droga em público, o usuário pode

influenciar muitas outras mentes inocentes, como a de jovens ou

idosos deprimidos .

Conclui-se que a droga deve ser parcialmente legalizada. Não

pode ser utilizada em locais públicos: praças, ruas, parques,

restaurantes, bares, etc. O dependente tem apenas o direito de se

iludir em seu território particular; o tráfico de drogas deveria acabar,

permitindo o comércio da maconha apenas em empresas registradas

e aprovadas pela lei.

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Análise de produção do aluno

Eduardo: sequências

Premissa » Acredita-se que atualmente a maconha seja mais um meio de chamar atenção ou de incluir o usuário em um grupo desejado. São feitas passetas para a legalização da maconha, onde milhares de “rebeldes” se coalizam; porém essas passetas foram, recentemente proibidas pelo governo.

Premissa » Segundo pesquisas, a droga tem poder de iludir a mente do usuário, o que além de causar mal aos pulmões, danifica milhões de neurônios sadios. Ao utilizar a droga em público, o usuário pode influenciar muitas outras mentes inocentes, como a de jovens ou idosos deprimidos .

Conclusão » Conclui-se que a droga deve ser parcialmente legalizada. Não pode ser utilizada em locais públicos: praças, ruas, parques, restaurantes, bares, etc. O dependente tem apenas o direito de se iludir em seu território particular; o tráfico de drogas deveria acabar, permitindo o comércio da maconha apenas em empresas registradas e aprovadas pela lei.

» Falta argumento ao texto

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Análise de produção do aluno

Eduardo: mecanismos de coesão

Coesão sequencial: emprego do presente do indicativo, de conectores lógico-semânticos e de impessoalidade :

Acredita-se que atualmente a maconha seja mais um meio de chamar atenção ou de incluir o usuário em um grupo desejado. São feitas passeatas para a legalização da maconha, onde milhares de “rebeldes” se coalizam; porém essas passetas foram, recentemente proibidas pelo governo.

Segundo pesquisas, a droga tem poder de iludir a mente do usuário, o que além de causar mal aos pulmões, danificamilhões de neurônios sadios. Ao utilizar a droga em público, o usuário pode influenciar muitas outras mentes inocentes, como a de jovens ou idosos deprimidos .

Conclui-se que a droga deve ser parcialmente legalizada. Não pode ser utilizada em locais públicos: praças, ruas, parques, restaurantes, bares, etc. O dependente tem apenas o direito de se iludir em seu território particular; o tráfico de drogas deveria acabar, permitindo o comércio da maconha apenas em empresas registradas e aprovadas pela lei.

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Análise da produção do aluno

Eduardo: mecanismos de coesão

Emprego do futuro do pretérito na conclusão:

O dependente tem apenas o direito de se iludir em

seu território particular; o tráfico de drogas deveria

acabar, permitindo o comércio da maconha apenas

em empresas registradas e aprovadas pela lei.

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O que mostrou a análise das

produções dos alunos

uso do presente do indicativo para premissa e argumento →

entendem a adequação desse tempo para a argumentação;

maioria partiu de uma premissa, mas usou apenas um

argumento → necessidade de aprender a desenvolver

argumentos

30% optou pelo futuro do pretérito na conclusão → relativizar

opiniões (sugerir);

coesão sequencial marcada por articuladores lógico-

discursivos → preocupação com a sequenciação textual;

esquema estrutural/macroproposições: introdução,

desenvolvimento e conclusão → alguma maturidade escritora;

apenas 16% declararam ter revisado o texto final contra 56%

que afirmaram ter parado para pensar durante a escrita→ não

preocupação com a revisão.

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Possibilidades de trabalho na

sequência didática

repertoriar mais e melhor os alunos com artigos de

opinião;

discutir mais sobre contexto de produção e

representação de leitor;

trabalhar o emprego do léxico com efeito discursivo-

argumentativo;

trabalhar o uso da impessoalidade;

desenvolver sequências argumentativas:

premissa/s, argumento/s, reformulação da

premissa, novo/s argumento/s, contra-

argumento/s, conclusão.