Aula- Estrofes, Versos, Rimas

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Metrificação e Rimas, Figuras de dicção (Milena Pereira Silva, PPGMLS)

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Metrificação e Rimas, Figuras de dicção

(Milena Pereira Silva, PPGMLS)

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Verso Por verso, entende-se a sucessão de sílabas ou fonemas

formando unidade rítmica e melódica, correspondente ou não a uma linha do poema. Cada verso pode compor-se de sub-unidades ou células métricas, caracterizadas pelo agrupamento de sílabas, denominado pé* na versificação greco-latina; ou compor-se de uma sequência de sílabas ou fonemas, como de uso entre as línguas românicas. No primeiro caso, a quantidade ou duração das sílabas é o que importa; no segundo, o seu número; ali temos o sistema quantitativo, aqui o silábico, qualitativo acentuativo (MOISÉS, 2004. p. 465);

*Pé: designa a unidade rítmica e melódica do verso, composta de um grupo de sílabas. Remonta aos gregos e romanos, que mediam os versos em sequências temporais separadas por intervalos regulares. Cada sequência, ou célula métrica, compunha-se de duas ou mais sílabas, cuja mensuração se fazia pelo tempo despendido na sua prolação.

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Icto (ictus): Lat. «ictus», golpe, choque, compasso. Designava, na versificação greco-latina, o movimento

vertical do pé ou da mão para marcar a cadência do verso e assinalar o ponto em que a sílaba era acentuada dentro da célula métrica, ou pé. Correspondendo ao gesto de baixar o pé ou a mão, incidia geralmente sobre a sílaba breve, onde recaía a tese (MOISÉS, 2004. p. 230);

Quando apresentam idêntico ritmo (cadência), os versos de um poema são isorrítimicos; se ostentam diversa modulação, denominam-se heterorrítmicos;

Quando contem igual número de sílabas, diz-se que são isométricos; se variada a medida dos versos, recebem a designação de heterométricos;

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Tipos de versos (metrificação românica) Versos Simples (não apresentam cesura): Monossílabo: uma sílaba poética: “Vagas,/

Plagas,/ Fragas,/ Soltam/ Cantos” (Fagundes Varela, Predestinação);

Dissílabo (ou bíssilabo): duas sílabas poéticas: “Tu, ontem,/ Na dança/ Que cansa,/ Voavas” (Casimiro de Abreu, A Valsa);

Trissílabo (ou quebrado de redondilho maior, redondilho quebrado, cola): três sílabas poéticas: “És engraçada e formosa/ Como a rosa”;

Tetrassílabo: quatro sílabas: “Tu, flor de Vênus/ Corada rosa” (Bocage, A Rosa);

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Versos compostos (acima de 4 sílabas métricas) Pentassílabos (ou redondilho menor): 5

sílabas métricas: “Eles verdes são/ E têm por usança/ Na cor esperança/ E nas obras não” (Camões);

Hexassílabo (heróico quebrado ou heróico menor): 6 sílabas métricas: “Quer pouco: terás tudo,/ Quer nada: serás livre” (Ricardo Reis);

Heptassílabo (ou septissílabo ou redondilho maior): 7 sílabas métricas: “Vou-me embora pra Pasárgada/ Lá sou amigo do rei” (Manuel Bandeira);

Octossílabo: 8 sílabas métricas: “Edifiquei certo castelo/ por uma esplêndida manhã” (Guilherme de Almeida);

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Eneassílabo: 9 sílabas métricas: “Enquanto a vida não se desdobra,/ E apenas rompe, róseo botão” (Junqueira Freire);

Decassílabo: 10 sílabas métricas. Geralmente acentua-se na 6ª sílaba; quando o acento recai na 6ª e na 10ª, recebe o nome de

heróico: “Depois de procelosa tempestade,/ Noturna sombra e sibilante vento” (Camões, Os Lusíadas. C. IV, v. 1-2);

Se o acento incide na 4ª, 8ª e 10ª sílabas, o decassílabo chama-se sáfico: “Nauta inexperto lhe dirige o leme,/ Chusma bisonha lhe mareia o pano” (Bocage);

Se na 4ª, sétima e décima, chama-se provençal: “Por meu mal é que tan bem parecedes/ e por meu mal vos filhei por senhor” (Martim Soares);

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Hendecassílabo (verso de arte maior): 11 sílabas métricas. Cesura na 5ª e outros acentos variáveis, na 3ª, na 7ª, na 11ª: “No meio das tabas de amenos verdores;/ Cercadas de troncos-cobertos de flores,/ Alteiam-se os tetos d’altiva nação” (Gonçalves Dias);

Dodecassílabo ou Alexandrino: 12 sílabas métricas: Alexandrino clássico ou francês: icto na 6ª sílaba

(soma de dois hexassílabos): “O Pensamento ferve, e é um turbilhão de lava” (Olavo Bilac);

Alexandrino trímetro: ictos na 4ª, 8ª e 12ª: “Perto de Tebas, junto a um monte, sobre o Ismeno” (Olavo Bilac);

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Estrofes

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Estrofe, Estância, Copla ‘Por estrofe, entende-se cada uma das secções que

constituem um poema, cada agrupamento de versos, rimados ou não, com unidade de conteúdo e de ritmo ou cadência’ (MOISÉS, 2004. p. 171);

‘(...) o vocábulo ‘estância’ (it. Stanza, morada, ponto de parada) serve para nomear as estrofes regulares, a sequência de grupos de versos organizados segundo um único padrão. Diferentemente da estrofe, a estância implica a repetição do mesmo dispositivo estrófico: agrupamentos com número fixo de versos, sujeitos a idêntica medida e igual arranjo de rima’ (MOISÉS, 2004. p. 171);

Copla: poesia popular espanhola, com estâncias curtas e métrica variável, geralmente cantada com acompanhamento de música improvisada; dístico ('parelha') ou estrofe em canções espanholas tais como o vilancico (HOUAISS, 2001).

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Classificação das Estrofes

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Quanto ao número de versos: Monóstico: estrofe composta de um verso; Dístico (parelha, ou pareado): 2 versos; Terceto (trístico): 3 versos; Quarteto (quadra, ou tetrástico): 4 versos; Quinteto (quintilha ou pentástico): 5 versos; Sextilha (sexteto ou hexástico): 6 versos; Sétima (septilha, septena, hepteto ou

heptástico): 7 versos; Oitava (octástico): 8 versos; Nona (eneagésima): 9 versos; Década (décima*, decástico): 10 versos;

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Quanto ao metro: Isométricas: quando apresentam versos com igual número de

sílabas:

“A/s ar/ma/s e os/ ba/rõe/s a/ssi/na/la/dos (10 sílabas métricas)

Que/ da o/ci/den/tal/ prai/-ia /lu/si/ta/na” (10 sílabas métricas)

(Camões, Os Lusíadas)

Heterométricas: quando apresentam versos de número variável de sílabas; irregularidade métrica dos versos ao longo do poema:

Es/tou/ far/to/ do/ li/ris/mo/ co/me/di/do (11 sílabas métricas)

Do/ li/ris/mo/ bem/-com/por/ta/do (8 sílabas métricas)

Do/ li/ris/mo/ fun/cio/ná/rio/ pú/bli/co/ com/ li/vro de/ pon/to ex/pe/di/en/te/ pro/to/co/lo e/ ma/ni/fes/ta/ções/ de a/pre/ço

ao/ sr. / Di/re/tor (36 sílabas métricas)

(Manuel Bandeira, Poética)

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Quanto ao ritmo (ou cadência) Isorrítmicas: quando os versos de uma

estrofe, seja qual for o seu número, desenvolvem igual cadência:

Meu/s o/lhos/ são/gar /ços, / são/ cor/ das/ sa/fi/ras (2ª, 5ª, 7ªe 10ª)

Têm/ luz/ da/s es/tre/las, / têm/ mei/go/ bri/lhar;/I/mi/ta/m as/ nu/vens/ de um/ céu/ a/ni/la/do,As/ co/re/s i/mi/tam/ das/ va/gas/ do/ mar/!

(Golçalves Dias, Marabá)

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Heterorrítimicas: quando os versos de uma estrofe apresentam o mesmo número de sílabas mas ritmo diverso, em consequência da irregularidade dos acentos, ou seja, de cadência:

É/ um/ não/ que/ rer/ mais/ que/ bem/ que/ rer; / (6ª e 10ª)

É/ u / m an/ dar/ so/ li/ tá/ rio en/ tre a/ gen/te; (7ª e 10ª)

É/ nun/ ca/ con/ ten /tar/ -se/ de/ con/ ten/ te; (6ª e 10ª)

É/ um/ cui/dar/ que/ ga/nha em/ se/ per/der. (6ª e 10ª)

(Soneto ‘Amor é um fogo’, Camões)

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Quanto à estrutura: Isostróficas ou regulares: quando ostentam a

mesma estrutura; neste caso, seriam chamadas propriamente de estâncias;

Cessem do sábio Grego e do TroianoAs navegações grandes que fizeram;Cale-se de Alexandro e de TrajanoA fama das vitórias que tiveram;Que eu canto o peito ilustre Lusitano,A quem Neptuno e Marte obedeceram:Cesse tudo o que a Musa antígua canta,Que outro valor mais alto se alevanta.

E vós, Tágides minhas, pois criadoTendes em mim um novo engenho ardente,Se sempre em verso humilde celebradoFoi de mim vosso rio alegremente,Dai-me agora um som alto e sublimado,Um estilo grandíloquo e corrente,Porque de vossas águas, Febo ordeneQue não tenham inveja às de Hipoerene.

(Os Lusíadas, Camões. 3ª e 4ª instâncias)

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Alostróficas ou combinadas: quando apresentam estrutura diversa. Um raio 

Fulgura No espaço Esparso, De luz; E trêmulo E puro Se aviva, S’esquiva Rutila, Seduz!

Vem a aurora Pressurosa, Cor de rosa, Que se cora De carmim; A seus raios As estrelas, Que eram belas, Tem desmaios, Já por fim.

O sol desponta Lá no horizonte, Doirando a fonte, E o prado e o monte E o céu e o mar; E um manto belo De vivas cores Adorna as flores, Que entre verdores Se vê brilhar.

Um ponto aparece, Que o dia entristece, O céu, onde cresce, De negro a tingir; Oh! vede a procela Infrene, mas bela, No ar s’encapela Já pronta a rugir! Não solta a voz canora No bosque o vate alado, Que um canto d’inspirado Tem sempre a cada aurora; É mudo quanto habita Da terra n’amplidão. A coma então luzente Se agita do arvoredo, E o vate um canto a medo Desfere lentamente, Sentindo opresso o peito De tanta inspiração.

Fogem do vento que ruge As nuvens aurinevadas, Como ovelhas assustadas Dum fero lobo cerval; Estilham-se como as velas Que no alto mar apanha, Ardendo na usada sanha, Subitâneo vendaval.

Bem como serpentes que o frio Em nós emaranha, — salgadas As ondas s’estanham, pesadas Batendo no frouxo areal. Disseras que viras vagando Nas furnas do céu entreabertas Que mudas fuzilam, — incertas Fantasmas do gênio do mal!

E no túrgido ocaso se avista Entre a cinza que o céu apolvilha, Um clarão momentâneo que brilha, Sem das nuvens o seio rasgar; Logo um raio cintila e mais outro, Ainda outro veloz, fascinante, Qual centelha que em rápido instante Se converte d’incêndios em mar.

Um som longínquo cavernoso e ouco Rouqueja, e n’amplidão do espaço morre; 

Eis outro inda mais perto, inda mais rouco, Que alpestres cimos mais veloz percorre, Troveja, estoura, atroa; e dentro em pouco Do Norte ao Sul, — dum ponto a outro corre: Devorador incêndio alastra os ares, Enquanto a noite pesa sobre os mares.

Nos últimos cimos dos montes erguidos Já silva, já ruge do vento o pegão; Estorcem-se os leques dos verdes palmares, Volteiam, rebramam, doudejam nos ares, Até que lascados baqueiam no chão.

Remexe-se a copa dos troncos altivos, Transtorna-se, tolda, baqueia também; E o vento, que as rochas abala no cerro, Os troncos enlaça nas asas de ferro, E atira-os raivoso dos montes além.

Da nuvem densa, que no espaço ondeia, Rasga-se o negro bojo carregado, E enquanto a luz do raio o sol roxeia, Onde parece à terra estar colado, Da chuva, que os sentidos nos enleia, O forte peso em turbilhão mudado, Das ruínas completa o grande estrago, Parecendo mudar a terra em lago.

Inda ronca o trovão retumbante, Inda o raio fuzila no espaço, E o corisco num rápido instante Brilha, fulge, rutila, e fugiu. Mas se à terra desceu, mirra o tronco, Cega o triste que iroso ameaça, E o penedo, que as nuvens devassa, Como tronco sem viço partiu.

Deixando a palhoça singela, Humilde labor da pobreza, Da nossa vaidosa grandeza, Nivela os fastígios sem dó; E os templos e as grimpas soberbas, Palácio ou mesquita preclara, Que a foice do tempo poupara, Em breves momentos é pó.

Cresce a chuva, os rios crescem, Pobres regatos s’empolam, E nas turvam ondas rolam Grossos troncos a boiar! O córrego, qu’inda há pouco No torrado leito ardia, É já torrente bravia, Que da praia arreda o mar.

Mas ai do desditoso, Que viu crescer a enchente E desce descuidoso Ao vale, quando sente Crescer dum lado e d’outro O mar da aluvião! Os troncos arrancados Sem rumo vão boiantes; E os tetos arrasados, Inteiros, flutuantes, Dão antes crua morte, Que asilo e proteção!

Porém no ocidente S’ergue de repente O arco luzente, De Deus o farol; Sucedem-se as cores, Qu’imitam as flores Que sembram primores Dum novo arrebol.

Nas águas pousa; E a base viva De luz esquiva, E a curva altiva Sublima ao céu; Inda outro arqueia, Mais desbotado, Quase apagado, 

Como embotado De tênue véu.

Tal a chuva Transparece, Quando desce E ainda vê-se O sol luzir; Como a virgem, Que numa hora Ri-se e cora, Depois chora E torna a rir.

A folha Luzente Do orvalho Nitente A gota Retrai: Vacila, Palpita; Mais grossa Hesita, E treme E cai.