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Psicopatologia das perturbações da linguagem e pensamento
M. Luisa Figueira
Perturbações do Discurso
• Linguagem quantitativamente diminuída - o doente restringe a sua fala ao mínimo necessário, com respostas monossilábicas ou muito sucintas, sem frases ou comentários adicionais
• Fluxo lentificado- são notadas longas pausas entre as palavras e/ou latência para iniciar uma resposta.
Perturbações do Discurso
• Prolixidade - o doente fala muito, discorrendo longamente sobre todos os tópicos, porém ainda dentro dos limites de uma conversação normal.
• Fluxo acelerado- o doente fala, continuamente, e com velocidade aumentada. O examinador, geralmente, encontra dificuldade ou não consegue interromper o discurso do doente.
Perturbações da Linguagem
• Neologismos - o doente cria uma palavra nova e ininteligível para as outras pessoas, geralmente uma condensação de palavras existentes.
• Ecolalia - repetição de palavras ou frases ditas pelo interlocutor, às vezes com a mesma entoação e inflexão de voz.
Perturbações Formais do Pensamento
• Neste item, deve ser examinada a organização formal do pensamento, a sua continuidade e eficácia em atingir um determinado objectivo.
• Estas perturbações podem respeitar o ritmo, a continuidade, a forma, o conteúdo e a finalidade do pensamento
• As perturbações do pensamento conceptual ou abstracto são as mais comuns na esquizofrenia e perturbações cerebrais orgânicas
Perturbações do curso do pensamento
Ritmo
Continuidade
Pensamento circunstaciado Pensamento inibido Pensamento lentificado Pensamento acelerado Fuga de ideias Pobreza do pensamento
Perseveração ideativa e verbal Pensamento bloqueado ou Bloqueio do pensamento
Perturbações da forma do pensamento
Tangencialidade Pensamento desagregado Pensamento incoerente
Perturbações da posse ou controle do pensamento
Roubo do pensamento Difusão do pensamento Influenciamento, Imposição ou intromissão do pensamento
Perturbações do conteúdo do pensamento
Delírios primários
Delírios secundários
Humor delirante Percepção delirante
Ideias delirantes primárias
Perturbações do Ritmo do Pensamento (1)
• Pensamento Circunstanciado - o objetivo final de uma determinada fala é longamente adiado pela incorporação de detalhes irrelevantes e entediantes. Há uma incapacidade de distinguir o essencial do acessório. O sujeito perde-se em pormenores, sem perder a meta do discurso
Perturbações do Ritmo do Pensamento(2)
• Pensamento Inibido - o doente sente o seu pensamento como globalmente refreado, irregular ou hesitante. Esta inibição é vivida subjectivamente
• Pensamento Lentificado - É observável no discurso do doente pela latência das respostas e lentidão do discurso (tem uma contrapartida nas Perturbações do discurso já descritas)
Perturbações do Ritmo do Pensamento (3)
• Pensamento acelerado – aumento da velocidade do fluxo do pensamento
• Reflecte-se no discurso no aumento do débito verbal (anteriormente descrito nas perturbações do discurso)
Perturbações do Ritmo do Pensamento (4)
• Fuga de ideias - ocorre sempre na presença de um pensamento acelerado e caracteriza-se pelas associações inapropriadas entre os pensamentos, que passam a serem feitas pelo som ou pelo ritmo das palavras (associações por assonância).
• O pensamento é digressivo, perdendo o sujeito o fio condutor dos enunciados do discurso que parece desprovidos de objectivo
Perturbações do curso do pensamento
Ritmo
Continuidade
Pensamento circunstaciado Pensamento inibido Pensamento lentificado Pensamento acelerado Fuga de ideias Pobreza do pensamento
Perseveração ideativa e verbal Pensamento bloqueado ou Bloqueio do pensamento
Perturbações da forma do pensamento
Tangencialidade Pensamento desagregado Pensamento incoerente
Perturbações da posse ou controle do pensamento
Roubo do pensamento Difusão do pensamento Influenciamento, Imposição ou intromissão do pensamento
Perturbações do conteúdo do pensamento
Delírios primários
Delírios secundários
Humor delirante Percepção delirante
Ideias delirantes primárias
Perturbações da Continuidade do Pensamento (1)
• Pobreza do pensamento – há uma redução dos conteúdos ideativos por diminuição dos centros de interesse, enfraquecimento da riqueza do pensamento e/ou polarização sobre um numero reduzidos de temas. Pobreza do conteúdo do pensamento.O doente fala de forma tão vaga, que apesar da fala estar quantitativamente adequada, pouca informação é transmitida
Perturbações da Continuidade do Pensamento (2)
• Perseveração ideativa – é uma preseveração dos conteúdos. O doente repete a mesma resposta à uma variedade de questões, mostrando uma incapacidade de mudar sua resposta a uma mudança de tópico
• Perseveração verbal – falta de fluidez das ideias que se manifesta pela repetição de palavras ou frases que já não tem sentido no contexto actual da entrevista mas que tivera anteriormente (não confundir com verbigeração – repetição sem sentido de palavras – que é uma paracinésia)
Perturbações da Continuidade do Pensamento (3)
• Bloqueio do pensamento ou pensamento bloqueado - ocorre uma interrupção súbita da fala, no meio de uma frase. Quando o doente consegue retomar o discurso, o faz com outro assunto, sem conexão com a ideação anterior.
Perturbações do curso do pensamento
Ritmo
Continuidade
Pensamento circunstaciado Pensamento inibido Pensamento lentificado Pensamento acelerado Fuga de ideias Pobreza do pensamento
Perseveração ideativa e verbal Pensamento bloqueado ou Bloqueio do pensamento
Perturbações da forma do pensamento
Tangencialidade Pensamento desagregado Pensamento incoerente
Perturbações da posse ou controle do pensamento
Roubo do pensamento Difusão do pensamento Influenciamento, Imposição ou intromissão do pensamento
Perturbações do conteúdo do pensamento
Delírios primários
Delírios secundários
Humor delirante Percepção delirante
Ideias delirantes primárias
Perturbações da Forma do Pensamento (1)
• Tangencialidade - o objetivo da fala não chega a ser atingido ou não é claramente definido. O doente afasta-se do tema que está sendo discutido, introduzindo pensamentos aparentemente não relacionados, dificultando uma conclusão.
• Respostas ao lado – ou pararespostas. O doente não responde directamente às perguntas, mesmo as mais simples, embora as tenha correctamente
Perturbações da Forma do Pensamento (2)
• Pensamento incoerente/desagregado - ocorre uma perda na associação lógica entre partes de uma frase ou entre frases (afrouxamento de associações). O pensamento e a linguagem perderam a coesão. Há uma destruturação sintática.
• Numa forma extrema de incoerência, observa-se uma sequência incompreensível de frases ou palavras (salada de palavras).
Processos subjacentes às Perturbações formais do pensamento – Cameron (1944)
• Assindese ou pensamento asindético – falta de ligações adequadas entre pensamentos sucessivos. O doente usa um conjunto de sequências pouco relacionadas entre si e palavras aproximadas (metonímias), de tal modo que o pensamento surge como vago, inexacto e idiossincrático.
Processos subjacentes às Perturbações formais do pensamento – Cameron (1944)
• Sobre-inclusão (ou hiperinclusividade) – o doente não mantém os os limites dos conceitos (incluindo atributos de outros conceitos), não se restringe ao problema que lhe é colocado, sai fora dos seus limites incluindo no processo de pensamento aspectos exteriores ao problema.
Processos subjacentes às Perturbações formais do pensamento – Goldstein (1944)
• Atitude concreta – semelhante aos doentes orgânicos cerebrais (em oposição à atitude abstracta) - O doente não lida com as suas vivências de forma conceptual, não percepciona os objectos como pertencendo a uma classe ou categoria, mas valoriza as suas qualidades acidentais. O doente é influenciado predominantemente pelos estímulos externos e é incapaz de abstração
• Este item pode ser avaliado, através da observação de algumas manifestações espontâneas, durante a entrevista (p.ex., diante da pergunta “como vai” o doente responde “vou de autocarro”, ou através da solicitação para que o doente interprete provérbios habituais para sua cultura
Processos subjacentes às Perturbações formais do pensamento – Carl Schneider (1930)
• Fusão – justaposição de conteúdos heterogéneos e incompreensíveis
• Suspensão ou omissão – súbita interrupção da intenção contida num determinado pensamento
• Descarrilamento ou substituição (“derailment”) – o curso do pensamento perde-se de repente, substitui-se ou extravia-se para uma linha colateral de pensamentos acessórios
• Disparatamento (“drivelling”)- miscelânea de fragmentos de pensamentos heterogéneos
Perturbações do curso do pensamento
Ritmo
Continuidade
Pensamento circunstaciado Pensamento inibido Pensamento lentificado Pensamento acelerado Fuga de ideias Pobreza do pensamento
Perseveração ideativa e verbal Pensamento bloqueado ou Bloqueio do pensamento
Perturbações da forma do pensamento
Tangencialidade Pensamento desagregado Pensamento incoerente
Perturbações da posse ou controle do pensamento
Roubo do pensamento Difusão do pensamento Influenciamento, Imposição ou intromissão do pensamento
Perturbações do conteúdo do pensamento
Delírios primários
Delírios secundários
Humor delirante Percepção delirante
Ideias delirantes primárias
Perturbações da posse ou controle do pensamento (1)
• Roubo do pensamento – também designado por subtracção ou expropriação do pensamento. O doente tem a vivência de que se apoderam dos seus pensamentos, de que lhos roubam
• Influenciamento do pensamento. O doente refere que as suas ideias, e representações mentais são influenciadas ou induzidas do exterior. Os pensamentos são-lhe impostos, não lhe pertencem (imposição do pensamento, intromissão do pensamento)
Perturbações da posse ou controle do pensamento (2)
• Difusão do pensamento – o doente refere que os seus pensamentos já não lhe pertencem só a si, que os outros lêem os seus pensamentos (leitura do pensamento) que os seus pensamentos são conhecidos dos outros (divulgação do pensamento)
• Eco do pensamento (sonorização do pensamento) – é uma perturbação da percepção para alguns autores (Fish), uma vivência ou experiência alucinatória auditiva. O doente ouve os seus pensamentos em voz alta.
Perturbações da Vivência do Eu
Perturbações da:
• unidade do “eu”
• identidade da pessoa no tempo
• delimitação entre o “eu” e o “mundo exterior”
• propriedade ou posse das vivências pessoais. Esta última perturbação é designada por alguns autores como incluída nas “perturbações da posse do pensamento”
Perturbações da Vivência do Eu
• Desrealização – o mundo externo surge deformado, estranho, fantástico, irreal. O sujeito tem uma impressão de não-familiaridade, um sentimento de estranheza
• Despersonalização – sentimento de estranheza em relação a si próprio, de uma mudança, de perda da própria identidade
Perturbações do curso do pensamento
Ritmo
Continuidade
Pensamento circunstaciado Pensamento inibido Pensamento lentificado Pensamento acelerado Fuga de ideias Pobreza do pensamento
Perseveração ideativa e verbal Pensamento bloqueado ou Bloqueio do pensamento
Perturbações da forma do pensamento
Tangencialidade Pensamento desagregado Pensamento incoerente
Perturbações da posse ou controle do pensamento
Roubo do pensamento Difusão do pensamento Influenciamento, Imposição ou intromissão do pensamento
Perturbações do conteúdo do pensamento
Delírios primários
Delírios secundários
Humor delirante Percepção delirante
Ideias delirantes primárias
Perturbações do conteúdo do pensamento
• Idéias sobrevalorizadas - o conteúdo do pensamento centraliza-se em torno de uma idéia particular, que assume uma tonalidade afetiva acentuada, é irracional, porém sustentada com menos intensidade que uma idéia delirante.
Perturbações do conteúdo do pensamento
• Delírios - crenças que refletem uma avaliação falsa da realidade, não são compartilhadas por outros membros do grupo sócio-cultural do doente e das quais não pode ser dissuadido, através de argumentação contrária, lógica e irrefutável
Delírios Primários, ideias ou vivências delirantes primárias
• Ideias ou vivências que não estão associadas
a outros processos psicológicos e não derivam deles.
• Tem um carácter de evidência, em que surge um novo significado, súbito e revelador associado a percepções ou acontecimentos psicológicos
Delírios Primários, ideias ou vivências delirantes primárias
• Humor delirante
• Percepção delirante
• Intuição delirante
Kurt Schneider, 1959
Delírios Primários, ideias ou vivências delirantes primárias
• Humor delirante
o doente tem o conhecimento de que algo está a acontecer à sua volta, o inquieta, tem um carácter ameaçador mas o doente não sabe exactamente o que é.
Klaus Conrad, 1958; Kurt Schneider, 1959
Delírios Primários, ideias ou vivências delirantes primárias
• Percepção delirante – atribuição dum
novo significado, geralmente auto-referenciado, a um objecto normalmente percepcionado. Este novo significado não pode ser entendido como decorrendo do estado afectivo do doente ou de vivências prévias
Kurt Schneider, 1959
Delírios Primários, ideias ou vivências delirantes primárias
• Intuição delirante – o delírio surge
completamente formado na mente do doente, como uma ideia súbita
• distinguir de recordações delirantes
Kurt Schneider, 1959
Delírios secundários
• quando derivados ou vinculados a outros processos psicológicos
• derivados de uma alucinação,
• associados à depressão ou mania
Grau de organização dos delírios
• Sistematizados - relacionados a um único tema, mantendo uma lógica interna, ainda que baseada em premissas falsas, o que pode conferir maior credibilidade
• Não sistematizados - quando envolvem vários temas, são mais desorganizados e pouco convincentes.
Temáticas delirantes
• delírio de referência - atribuição de um significado pessoal a observações ou comentários neutros
• persecutório - idéia de que está sendo atacado, incomodado, prejudicado, perseguido ou sendo objeto de conspiração
• de grandiosidade - o conteúdo envolve poder, conhecimento ou importância exagerados
Temáticas delirantes
• somáticos ou hipocondríacos o conteúdo envolve uma mudança ou perturbação no funcionamento corporal
• de culpa – o doente acredita ter cometido uma falta ou pecado imperdoável
• de ruína – acredita que está arruinado
• niilista – o mundo terminou, nada existe
Temáticas delirantes
• erotomaníacos – o doente está convencido que alguém está apaixonado por ele
• de ciúmes - acredita na infidelidade do parceiro
• de controle - acredita que seus pensamentos, sentimentos e acções são controlados por alguma força externa.