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FISIOLOGIA CARDÍACA E CARDIO-CIRCULATÓRIA
Hipólito Reis
Fisiologia cardíaca e cardio-circulatória
Programa das aulas
Aula 1 – 29/05/2009 – Hipólito Reis
- Revisão da anatomia do coração e grandes vasos. Actividade eléctrica cardíaca. Potencial de membrana. Condução nas fibras
musculares cardíacas. Excitabilidade da célula cardíaca. Sistema de condução cardíaco. Electrocardiografia. Músculo cardíaco.
Ciclo cardíaco.
Aula 2 – 03/06/2009 – Hipólito Reis
-- Regulação da frequência cardíaca e da tensão arterial. Influência do sistema nervoso sobre o coração. Regulação da função
miocárdica. Função cardíaca sistólica e diastólica. Débito cardíaco e factores de regulação. Circulação coronária.
Fisiopatologia da isquemia do miocárdio. Treino e adaptação cardiovascular ao esforço.
Aula 3 – 05/06/2009 – Carla Roque
- Insuficiência cardíaca e sua fisiopatologia. Mecanismos de compensação na insuficiência cardíaca: sistema nervoso, rim,
sistema renina-angiotensina-aldosterona, outros. Insuficiência cardíaca aguda e crónica. Insuficiência cardíaca esquerda e
direita. Resistência vascular periférica.
Aula 4 – 17/06/2009 – Pinheiro Vieira
- Métodos directos e indirectos para o estudo cardio-circulatório: electrocardiograma e monitorização electrocardiográfica,
ecocardiograma, Rx tórax, testes analíticos, teste de tilt, estudo electrofisiológico, cintigrafia de perfusão do miocárdio,
cateterismo e angiografia cardíaca, TAC e ressonância magnética cardíaca. Revisão dos métodos clínicos de avaliação e estudo
do doente cardíaco.
Bibliografia
Fisiologia cardiovascular
1. BERNE RM, LEVY, MN, KOEPPEN BM, STANTON BA. Fisiologia, 5ª ed., Guanabara Koogan, Rio de Janeiro, 2004.
2. GUYTON AC, HALL JE. Tratado de Fisiologia Médica. 11. ed., Guanabara Koogan, Rio de Janeiro, 2005
FISIOLOGIA CARDÍACA E CARDIO-CIRCULATÓRIA
Hipólito Reis
29/05/2009
Fisiologia cardíaca e cardio-circulatória
Programa das aulas
Aula 1 – 29/05/2009 – Hipólito Reis
Sumário
- Introdução
- Revisão da anatomia do coração e grandes vasos.
- Actividade eléctrica cardíaca.
- Potencial de membrana.
- Condução nas fibras musculares cardíacas.
- Excitabilidade da célula cardíaca.
- Sistema de condução cardíaco.
- Electrocardiografia.
- Músculo cardíaco.
- Ciclo cardíaco.
Fisiologia cardíaca e cardio-circulatória
Introdução
Coração órgão altamente sofisticado / apesar do baixo peso ( ≈ 300 g) e tamanho é capaz de
desempenhar um trabalho especializado durante as 24 horas do dia, ano após ano.
• 100.000 batimentos/dia
• 2.500.000.000 durante uma vida estimada em 70 anos
• 4-5 L/min., em repouso
• 250 – 300 L/h
• 5.700 – 7.200 L/dia
• 2-2.5 milhões L/ano
• débito cardíaco 2 x em exercício ligeiro
• débito cardíaco 4-5 x em exercício vigoroso
• débito cardíaco 35-40 L/min. em atletas treinados
Funções
Sistema circulatório
• transposta e distribui as substâncias essenciais aos tecidos (O2 e nutrientes)
• remove os produtos do metabolismo
• também participa nos mecanismos homeostáticos tais como:
• regulação da temperatura corporal
• manutenção dos fluídos
• ajuste de O2 e nutrientes para diferentes estados fisiológicos
Introdução
Sistema circulatório
• Participa, ainda, em mecanismos tais como:
• emergência e reparação permanente
• defesa
• comunicações (circulação de hormonas)
Composição
Sistema cardiovascular
• coração (bomba)
• vasos arteriais (tubos de condução e distribuição do sangue aos tecidos, mantendo a pressão
intravascular e o fluxo adequada)
• capilares (sistema extenso de vasos finos que permitem trocas rápidas de substâncias sólidas,
líquidas e gasosas entre o compartimento vascular e as células dos tecidos)
• sistema vascular venoso (propriedade da variação da capacidade para permitir o retorno de um
volume sanguíneo variável ao coração, mantendo a reserva desse volume)
• sistema linfático (via acessória pelo qual pode fluir líquido do espaço intersticial para o sangue;
pode transportar proteínas e grandes partículas)
Composição
Sistema cardiovascular
• vasos (parede: 4 componentes em quantidades variáveis):
• endotélio – camada que reveste a parte interna, participa do controle do tónus muscular e
separa o sangue dos demais constituintes
• tecido elástico – confere rigidez, elasticidade e distensibilidade aos vasos
• músculo liso – faz o controle activo do calibre
• tecido conjuntivo – também confere rigidez, elasticidade e distensibilidade aos vasos
• artérias – ricas em tecido elástico e pobres em musculatura lisa
• veias – paredes delgadas em relação ao calibre interno, com quantidades semelhantes de tecido
muscular e conjuntivo, distensíveis quando vazias e semi-cheias e rígidas quando distendidas
• capilares – constituídos somente por endotélio (paredes não elásticas), com raio fixo
Vasos sanguíneos
Sistema cardiovascular
• características histológicas:
• aorta – predomina estrutura elástica
• arteríolas – predomina camada muscular
Capilares
Sistema cardiovascular
• vasos muito finos - uma camada celular
• área total - extensa
• velocidade de fluxo - lenta
condições ideais para troca de substâncias sangue / tecidos
Coração – sistema circulatório
Sistema cardiovascular
2 bombas em série:
• circulação pulmonar – sangue pulmões para trocas gasosas
(O2 / CO2)
• circulação sistémica – sangue tecidos do organismo
Fluxo de sangue:
• unidireccional (válvulas cardíacas).
• contínuo para os tecidos periféricos – apesar do débito cardíaco ser intermitente; propriedade de
retracção elástica da aorta e resistência ao fluxo pelas arteriolas.
Coração – posição no tórax
Anatomia do coração e grandes vasos
Clavícula
Esterno
Vertebra
Aorta
Esófago
Esterno
Localizado centralmente no tórax, ligeiramente deslocado
para a esquerda e rodeado por uma grade de protecção
formada pelas costelas.
Situado à frente e no meio dos pulmões.
A base é superior e faz a ancoragem do coração com o resto
do corpo através dos vasos sanguíneos.
O ápex aponta para baixo e para a esquerda e localiza-se +/-
10 cm lateralmente ao apêndice xifóide.
coração
Anatomia do coração e grandes vasos
Coração
Aorta
Artéria pulmonar esquerda
Veias pulmonares
Aurícula esquerda
Válvula aórtica
Válvula mitral
Septo interventricular
Ventrículo esquerdo
Ápex
Veia cava superior
Válvula pulmonar
Apêndice auricular direito
Válvula tricúspide
Ventrículo esquerdo
Músculo papilar
Veia cava inferior
Coração – vista posterior
Anatomia do coração e grandes vasos
Aorta
Artérias pulmonares
Veia cava superior
Veias pulmonares
Veia cava inferior
Aurícula esquerda
Ventrículo esquerdo
Coração – vista postero-inferior
Anatomia do coração e grandes vasos
Veia cava superior
Veia cava inferior
Veias pulmonares
Aorta
Artérias pulmonares
Aurícula esquerda
Ventrículo esquerdo
Ventrículo direito
Pericárdio
Anatomia do coração e grandes vasos
Pericárdio
Pericárdio
Pericárdio
• serosa constituído por dupla membrana (visceral e parietal)
• assegura a posição apropriada do coração no tórax
• tem funções de protecção
• segrega um líquido lubrificante que previne a fricção entre as 2 camadas, permitindo o suave deslizamento das paredes do órgão durante e seu funcionamento mecânico.
Pericárdio – vista anterior
Anatomia do coração e grandes vasos
Pericárdio visceral
Pericárdio parietal
Anatomia do coração e grandes vasos
Artérias coronárias e veias do seio coronário
Tronco comum
Coronária direita
Artéria circunflexa
Artéria descendente anterior
Seio coronário
Anatomia do coração e grandes vasos
Artérias coronárias
Coronária direita
Anatomia do coração e grandes vasos
Artérias coronárias
Coronária esquerda
Tronco comumArtéria circunflexa
Artéria descendente anterior
Aurícula direita
Anatomia do coração e grandes vasos
Óstio do seio coronário
Veia cava inferior
Veia cava superior
Válvula tricúspide
Apêndice auricular
Septo interauricular
Ventrículo direito
Anatomia do coração e grandes vasos
Válvula pulmonar
Artéria pulmonar
Válvula tricúspide
Apêndice auricular
Ventrículo esquerdo
Anatomia do coração e grandes vasos
Válvula mitral
Aorta
Apêndice auricular
Aurícula esquerda
Veiaspulmonares
Músculos papilares
Ápex ventrículo esquerdo
Anatomia do coração e grandes vasos
Válvulas cardíacas
Válvula mitral
Válvula tricúspide
SístoleDiástole
Cavidades cardíacas
Anatomia do coração e grandes vasos
Aurícula esquerda
Ventrículo esquerdo
Aurícula direita
Ventrículo direito
Anatomia do coração e grandes vasos
Enervação do coração
Coração – estrutura ricamente enervada sob influência reguladora do SNC, permitindo uma
adaptação rápida e contínua às diferentes necessidades do fluxo sanguíneo ao organismo
Sistema nervoso autónomo:
• sistema nervoso simpático (nervos simpáticos) – função estimuladora
• sistema nervoso parassimpático (nervo vago) – efeito inibidor
Anatomia do coração e grandes vasos
Enervação do coração
• Funções externas e internas do organismo controladas de forma a adaptarem-se de forma rápida,
fiável e automática às diferentes solicitações e ambientes.
• Controle automático
• mediado pelo sistema nervoso próprio do coração;
• existe também alguma influência exercida por hormonas circulantes e enzimas (controle mais
lento).
• A informação é colectada por células nervosas especiais que têm receptores sensíveis a diferentes
tipos de estímulo.
• Estímulos: térmicos, químicos, mecânicos ou eléctricos.
• Condução dos estímulos ao SNC por vias nervosas sensitivas (vias aferentes).
• O SNC (cérebro e medula) processa a informação, transmitindo depois sinais de resposta através de
vias eferentes para os músculos e glândulas.
Anatomia do coração e grandes vasos
Enervação do coração
• Sistema nervoso autónomo (involuntário ou neurovegetativo) influencia o estado funcional e as
propriedades dos diferentes componentes do órgão pela libertação de substâncias químicas
neurotransmissoras:
• estimuladoras – noradrenalina, outras (simpático)
• inibidoras – acetilcolina, outras (parassimpático)
Constituição
Membrana celular
Dupla camada fosfolipídica
proteína
Constituição
Membrana celular
Transporte através da membrana
Membrana celular
• Difusão passiva
• Difusão “facilitada”
• Transporte activo
• Endocitose e exocitose
• Transporte epitelial
Movimento de moléculas através das membranas celulares
Membrana celular
Transporte através da membrana
• Difusão
• Lipossolubilidade
• Tamanho da molécula
• Canais
• Carga eléctrica
Movimento de moléculas através das membranas celulares
Na+
K+
Actividade eléctrica cardíaca
Potencial de repouso
O potencial de repouso da célula cardíaca é fundamentalmente determinado pelos gradientes de
concentração e de voltagem do K+ através da membrana celular
em repouso, só os canais do K+ permanecem permeáveis.
[K+] in150 mM
[K+] out5 mM
Gradiente de concentração
Gradiente de voltagem
+++
---
Equação de Nernst = - 26.7 in ( K+ in / K+ out ) = - 91 mV
Actividade eléctrica cardíaca
Excitabilidade da célula cardíaca
• as células miocárdicas geram potenciais de acção apenas na presença a um estímulo externo – em
resposta a um potencial de acção de uma célula vizinha ou a um pulso de voltagem de um pacemaker
artificial.
• este estímulo leva à despolarização da membrana e se neste processo o potencial de membrana atinge
um determinado limiar gera-se um potencial de acção.
• os potenciais de acção normais são sempre idênticos na forma e na amplitude (norma de tudo ou nada).
• os canais iónicos são macromoléculas que formam poros na membrana celular – são vias de baixa
resistência à condução dos iões (Na+, K+, Ca2+ e Cl-); a sua abertura ou encerramento depende das
condições eléctricas da membrana.
• Alteração do potencial durante o potencial de acção é devida ao fluxo transmembrana de vários iões:
Na+, K+ e Ca2+.
Potencial de acção
• Todas as células cardíacas (pacemaker / sistema de condução / musculares) são electricamente
excitáveis podem desenvolver um potencial de acção.
• Potencial da acção alteração do potencial de membrana desencadeado sempre que um estímulo tem
intensidade suficiente para atingir um limiar de excitação.
• Em repouso o espaço intracelular tem um potencial inferior ao do espaço extracelular (polarização de
cargas com concentração de cargas negativas dentro da célula e positivas fora dela)
• Durante a propagação do impulso ocorre um ciclo de despolarização (o potencial transmembrana inverte-
se e torna-se positivo na face interna da membrana), seguido de repolarização (retorno da polaridade ao
valor inicial).
Actividade eléctrica cardíaca
Potencial de acção
• Gradiente de voltagem transmembrana - potencial de repouso – em geral entre – 80 e - 90 mV
(resulta da de cargas eléctricas intra e extracelulares).
• Deve-se à difusão dos iões de K+ para fora do espaço intracelular seguindo o gradiente de concentração.
• Processo passivo (não é necessário dispêndio de energia para manter um potencial de difusão).
• todas as células miocárdicas são capazes de alterar o potencial transmembrana no sentido de
desenvolverem excitação transitória - potencial de acção.
Actividade eléctrica cardíaca
Registo de potenciais transmembrana
Potencial de acção
Actividade eléctrica cardíaca
Potencial de acção
Célula cardíaca: célula excitável capaz de gerar um potencial de acção
5 fases:
• fase 0 – despolarização rápida
da permeabilidade ao Na+ (gradiente de )
• fase 1 – repolarização inicial
Potencial de membrana 0 mV por
transitório da permeabilidade à saída de K+
• fase 2 – repolarização - plateau (+/- 0 mV)
2 correntes a funcionar em sentidos oposto
(Ca2+ a entrar na célula / K+ a sair da célula)
• fase 3 – repolarização - período final da repolarização
regresso do potencial transmembrana a –90mV;
- inactivação dos canais Ca2+, continuação da saída de K+.
• fase 4 – potencial de repouso
Actividade eléctrica cardíaca
Bomba Na+-K+ e saída Ca++
(Na+/Ca++ e Ca++-ATPase)
Potencial de acção
Fase 0 – despolarização rápida
• estímulos eléctricos, químicos e mecânicos desencadeiam uma elevação da permeabilidade da
membrana ao Na+ que penetra na célula.
• o potencial de membrana altera-se e ao atingir o limiar de excitação (-70 a –65 mV) desencadeia a
abertura explosiva dos “canais rápidos de Na+”.
Actividade eléctrica cardíaca
Potencial de acção
Fase 1 – repolarização precoce
• o influxo de Na+ para dentro da célula, inverte rapidamente a distribuição de cargas em relação à
membrana, tornando o espaço intracelular positivo em relação ao extracelular – potencial de membrana
atinge valores de +20 a +35 mV.
• após a espícula inicial do potencial de acção ocorre um rápido período de repolarização com o potencial
de membrana a atingir valores próximos de 0 mV.
• esta fase ocorre pela inactivação da corrente rápida de Na+ e pela saída de K+.
Actividade eléctrica cardíaca
Potencial de acção
Fase 2 – plateau
• período em que a membrana permanece despolarizada por 0,2 a 0,3 seg., criando um plateau
(característica do potencial de acção do músculo cardíaco); ao mesmo tempo o fluxo de K+ para fora da
célula aumenta e inicia-se um influxo de Ca2+ para dentro da célula - estas duas corrente de iões
equivalem-se mantendo o potencial de membrana +/- constante.
Actividade eléctrica cardíaca
Potencial de acção
Fase 3 – repolarização
• com o encerramento dos canais lento de Ca2+ e com a restauração da alta permeabilidade ao K+ (a
corrente de K+ predomina), inicia-se um período de repolarização rápida (duração aproximada de 50 ms) -
durante esta fase a célula miocárdica retorna ao seu potencial de repouso.
Actividade eléctrica cardíaca
Potencial de acção
Fase 4 – repouso
• o Na+ acumulado no espaço intra-celular nas fases 0 e 2 é trocado pelo K+ extracelular que deixou as
células nas fases 2 e 3 pela actividade da bomba Na+ - K+ - ATPase.
• são eliminados 3 iões Na+ por cada 2 K+ recapturados, criando uma corrente de perda de cargas
positivas como resultado o potencial intracelular negativo é restabelecido e a membrana repolariza-se
voltando ao potencial de repouso da membrana.
• este potencial de acção descrito é encontrado nas células de músculo cardíaco contráctil e nas células
de Purkinje, conhecidas com células de resposta rápida.
Actividade eléctrica cardíaca
Potencial de acção / ECG
Actividade eléctrica cardíaca
Potencial de acção
ventricular
Despolarização
Repolarização
Potencial de repouso
Propriedades electrofisiológicas básicas do tecido de condução
Actividade eléctrica cardíaca
Potenciais de acção ≠s:
células contrácteis e as
células especializadas pacemaker e do tecido de condução
Propriedades electrofisiológicas básicas do tecido de condução
Actividade eléctrica cardíaca
1. A voltagem negativa máxima das células especializadas (células “pacemaker”) é menor (-60 mV) que as células
musculares auriculares e ventriculares (-90 mV).
- o potencial transmembrana menos negativo causa inactivação dos canais de Na+
2. Fase 4 não é estável: depende da entrada de iões Na+, mas por canais diferentes dos canais “rápidos” de Na+
da fase 0 das células musculares.
Aos – 40 mV (limiar) abrem-se os canais “lentos” de Ca++.
3. Despolarização (fase 0) menos rápida e menor amplitude (os canais “rápidos” de Na+ estão inactivados).
Propriedades electrofisiológicas básicas do tecido de condução
Actividade eléctrica cardíaca
A repolarização das células contrácteis e das células “especializadas” (células pacemaker e células de
condução) é semelhante:
1. Inactivação dos canais de Ca++
2. Aumento da activação dos canais de K+, com maior saída de K+ da célula
Repolarização
Propriedades electrofisiológicas básicas da célula cardíaca
Actividade eléctrica cardíaca
• Automaticidade
• Excitabilidade
• Condução
• Refractoriedade
Propriedades electrofisiológicas básicas da célula cardíaca
Automaticidade
• propriedade da célula cardíaca que permite a despolarização espontânea durante a fase 4 do
potencial de acção (diástole eléctrica), levando à génese de um estímulo eléctrico (actividade de
pacemaker).
(células não automáticas necessitam de estímulo extrínseco para potencial de acção).
• nó sinusal, nó aurículo-ventricular, fibras especializadas do sistema de His-Purkinje e algumas
fibras auriculares (localizadas na crista terminal e veias pulmonares).
• nó sinusal - > grau de automatismo marcapasso do coração.
• o grau de automatismo determina a frequência cardíaca – varia habitualmente entre 60 e 100/min.
Actividade eléctrica cardíaca
Propriedades electrofisiológicas básicas da célula cardíaca
Excitabilidade
• capacidade que a célula cardíaca tem de despolarizar em resposta a um estímulo eléctrico,
mecânico ou químico, gerando um potencial de acção que é conduzido ao longo do tecido de condução
cardíaco ou desencadeando uma resposta contráctil no caso do tecido muscular cardíaco.
Actividade eléctrica cardíaca
• Súbita e rápida despolarização “tudo-ou-nada” da membrana, que viaja ao longo da célula
Propriedades electrofisiológicas básicas da célula cardíaca
Condução
• capacidade de propagação do estímulo eléctrico, gerado num determinado local, ao longo de todo o
orgão.
Actividade eléctrica cardíaca
Despolarização
Os tecidos cardíacos estão electricamente unidos;
Propriedades electrofisiológicas básicas da célula cardíaca
Velocidade de condução (propagação do impulso eléctrico através do tecido cardíaco) – é
influenciada pelo grau de elevação da fase 4 e pela amplitude da fase 0 do potencial de acção.
Actividade eléctrica cardíaca
Músculo ventricular
Fibras de Purkinje
Nó AV
Músculo auricular
Nó sinusal
Relação do tempo de activação do tecido de condução e a morfologia e duração do potencial de acçãonos diferentes tecidos cardíacos.
Propriedades electrofisiológicas básicas do tecido de condução
Actividade eléctrica cardíaca
Despolarização
Condução nas fibras musculares cardíacas
Actividade eléctrica cardíaca
Condução do estímulo eléctrico através das células cardíacas
Gap Junction – junção intercelular de baixa-resistência
Sequência normal da despolarização
Actividade eléctrica cardíaca
Propriedades electrofisiológicas básicas do tecido de condução
Refractoriedade
• é a propriedade da célula cardíaca que define o período de recuperação necessário para haver nova
excitação das células cardíacas por um estímulo
• período refractário:
• absoluto
• efectivo
• relativo
• período supranormal
• uma vez completado o potencial de acção a excitabilidade restabelece-se e as resposta evocadas
têm características semelhantes às respostas espontâneas normais.
Actividade eléctrica cardíaca
Propriedades electrofisiológicas básicas do tecido de condução
Actividade eléctrica cardíaca
Período refractário - divide-se:
1. Período refractário absoluto – célula completamente inexcitável qualquer que seja a intensidade do estímulo
2. Período refractário efectivo - parte do potencial de acção na qual um estímulo pode evocar uma resposta
local não propagável
3. Período refractário relativo (parte final da fase 3) – célula excitável com estímulos mais intensos.
4. Período supranormal (logo após a fase 3) – estímulos menos intensos que o normal podem desencadear um
novo potencial de acção.
RepolarizaçãoPeríodo Refractário
Propriedades electrofisiológicas básicas do tecido de condução
Actividade eléctrica cardíaca
1. A duração do potencial de acção das células cardíacas é muito maior que nas células musculares esqueléticas.
Isto determina um período refractário prolongado, durante o qual o miocárdio não pode ser re-estimulado.
2. Este fenómeno é fisiologicamente importante porque:
• a) Permite que haja tempo para um preenchimento diastólico eficaz
• b) “Protege” o coração contra frequências cardíacas anormalmente elevadas
RepolarizaçãoPeríodo Refractário
Músculo esqueléctico / músculo cardíaco
Actividade eléctrica cardíaca
Estrutura “sincícial” do miocárdio
Placa motora – músculo esquelético
(Sincício – célula com muitos núcleos resultantes da fusão de várias células mais pequenas)
Músculo esqueléctico - tetania
Actividade eléctrica cardíaca
Cardiomioplastia
Actividade eléctrica cardíaca
Músculo esquelético / músculo cardíaco
Actividade eléctrica cardíaca
Potencial de membrana
Contracção
Músculo esquelético Músculo cardíaco
Estrutura microscópica
Activação
Força de contracção
Potencial de acção e período refractário
Fibras isoladas
Nervo motor e placa motora
Recrutamento unidades motoras e tetania
Curto 3 ms
Rede de fibras
Pacemaker cardíaco via condução
Alterações da relação excitação-contracção
Longo 300 ms
Sistema de condução cardíaco
Sistema de condução cardíaco
NÓDULOAURÍCULO-VENTRICULAR
NÓDULO SINUSALFEIXE DE HIS
RAMO ESQUERDO
RAMO DIREITO
SISTEMA PURKINJE
Tecido de condução cardíaco
Sistema de condução cardíaco
Nó sinusal
Nó aurículo-ventricular
Feixe de His
Ramo direito do feixe de His
Fibras de Purkinge
Tecido de condução cardíaco
Sistema de condução cardíaco
Ramo esquerdo do feixe de His
Aurícula esquerda
Aorta
Artéria pulmonar
Ventrículo esquerdo
Electrocardiografia básica
Electrocardiografia
• Nó SA - início da despolarização
• Nó AV - lentifica a condução
• Fibras de Purkinge - condução acelerada
Electrocardiografia básica
Electrocardiografia
Diagrama do sistema de condução
Electrocardiografia básica
Electrocardiografia
Electrocardiograma
• Electrocardiograma – gráfico obtido quando os potenciais de um campo eléctrico com origem no coração
são registados à superfície do organismo.
• Sinais – detectados por eléctrodos metálicos ligados aos membros e à parede torácica, sendo depois
amplificados e registados pelo electrocardiógrafo
Electrocardiografia
Electrocardiograma
Electrocardiografia
1º electrocardiógrafo
Electrocardiograma
Electrocardiografia
1 mm = 0.1 mV
0.01 sec = 10 mseg
Papel electrocardiográfico
Electrocardiografia
Papel ECG: tempos standard e voltagem
Triângulo de Eithoven
Electrocardiografia
Electrocardiografia básica
•
Electrocardiografia
• Onda P = activação sequencial (despolarização) da aurícula direita e esquerda;
• QRS = despolarização do ventrículo direito e esquerdo (normalmente activados em simultâneo): < 0.12 s;
• ST-T = repolarização ventricular;
• Onda U = origem não clara, provavelmente representa “pós-despolarizações” nos ventrículos
Electrocardiografia básica
•
Electrocardiografia
• Intervalo PR = tempo entre o início da despolarização auricular (onda P) e o início da despolarização ventricular (QRS)
• Duração do QRS = duração da despolarização do músculo ventricular: < 0.12 s;
• Intervalo QT = duração da despolarização e repolarização ventricular;
• Intervalo RR = duração do ciclo cardíaco ventricular (indicador da frequência ventricular)
• Intervalo PP = duração do ciclo auricular (indicador da frequência auricular)
ECG
Electrocardiografia
• Representação da actividade eléctrica cardíaca, registada a partir de eléctrodos colocados na superfície do corpo
• Informação espacial da condução cardíaca em 3 direcções ortogonais: - direita / esquerda; - superior / inferior; - anterior / posterior
ECG
• ECG – permite identificar:
• orientação anatómica do coração
• tamanho relativo das diferentes cavidades
• alteração do ritmo e da condução dos impulsos
• extensão e localização de lesões isquémicas
• efeitos de alteração na concentração de electrólitos
• influência de diferentes fármacos
Electrocardiografia
Histologia básica
• Miocárdio – composto por células individuais de músculo estriado (fibras), normalmente com 10 a 15 μm de
diâmetro e de 30 a 60 μm de comprimento.
• cada fibra contém múltiplos filamentos com estrias transversais (miofibrilhas), que correm ao longo da
fibra e que são compostas de uma estrutura que se repete em série – sarcómero – unidade de contracção
estrutural e funcional.
• o citoplasma remanescente, situado entre as fibrilhas, contém outros constituintes celulares como o núcleo
único localizado centralmente, numerosas mitocôndrias e sistema de membrana intracelular.
• histologicamente características de músculo esquelético (estriado / fibrocélulas compridas), mas
funcionalmente características de músculo liso (movimentos involuntários).
Músculo cardíaco
Discos intercalares – linhas de junção entre as células.
Histologia básica
Músculo cardíaco
• Célula uni ou bi-nucleada
• Estrutura básica sarcómero
• Mitocondrias (35% do vol. celular)
• Membrana celular sarcolema
• Discos intercalares
• Sistema tubular T (meio intra e extracelular)
Miócito - algumas características essenciais:
Sarcómero
Miócito
Proteínas contrácteisEstrutura do sarcómero
Histologia básica
Músculo cardíaco
Membrana celular
Sistema Tubular
Reticulo sarcoplásmico
Mitocondria
Disco intercalar
Capilar
NÚCLEO
Linha Z
Eritrócito
Miofibrilha
Cisterna lateral
Histologia básica
Músculo cardíaco
Ciclo cardíaco
Ciclo cardíaco
Despolarização Contracção muscular
Ciclo cardíaco
Ciclo cardíaco
Sístole
Sístole mecânica
Músculo esquelético
Sístole
isovolumétricaContracção isométrica
Contracção isotónica
Ciclo cardíaco
Ciclo cardíaco
Sequência normal da despolarização
Ciclo cardíaco
Ciclo cardíaco
Sístole Diástole
Ciclo cardíaco
Ciclo cardíaco
Ciclo cardíaco
Ciclo cardíaco
Curvas de pressões no “coração esquerdo”
1 encerramento da válvula mitral (válvula tricúspide no “coração direito”)2 abertura da válvula aórtica (válvula pulmonar no no “coração direito”)1-2 contracção isovolumétrica (aumento de P sem alteração de V)3 encerramento da válvula aórtica 2-3 sistole ventricular4 abertura da válvula mitral3-4 relaxamento isovolumétrico (diástole inicial)4-1 diástole (enchimento ventricular)
Ciclo cardíaco
Ciclo cardíaco
Onda aPulso venoso Onda c Descida x Onda v Descida y
Ciclo cardíaco
Ciclo cardíaco
PRESSÃO
VOLUME
EJECÇÃO
Sístole
ISOVOLUMÉTRICA
Sístole
ENCHIMENTO VENTRICULAR (Diástole)
ISOVOLUMÉTRICA
Relaxamento
Normal
Ciclo cardíaco
• Ciclo cardíaco – corresponde ao período compreendido entre um determinado fenómeno e a sua repetição
no ciclo seguinte (período de diástole e sístole cardíacas com intervalos intercalados).
• três eventos interdependentes, mas não simultâneos, possibilitam o ciclo cardíaco: 1) a despolarização
celular; 2) a contração miocárdica, que constituirá o ciclo fisiológico; e 3) o movimento cinético do sangue e
das valvas cardíacas que compõe o ciclo cardíaco propriamente dito. Apenas este último é o que determina
o que estudamos como ciclo cardíaco. Assim devemos compreender que os eventos contrácteis, são
precedidos dos eventos de excitação elétrica e, por sua vez, os eventos hemodinâmicos sucedem os
eventos contrateis.
• os fenómenos nas cavidades direitas são qualitativamente semelhantes; a diferença entre os 2 lados do
coração manifesta-se apenas por:
• pressões + baixas à direita
• desfasamento temporal fisiológico
Ciclo cardíaco
Contracção isovolumétrica
Contracção isovolumétrica
• o início da contracção ventricular coincide com o pico da onda R do ECG, manifestando-se na
curva de pressão ventricular por um aumento de pressão a seguir à contracção auricular.
• a válvula mitral encerra e a pressão ventricular aumenta progressivamente.
• como a válvula aórtica também está encerrada o volume intraventricular mantém-se constante.
• fase correspondente ao entre encerramento da válvula mitral e abertura da válvula aórtica
• apesar de não haver variação do volume esta fase não é verdadeiramente
isométrica uma vez que algumas fibras musculares se alongam e outras se
encurtam devido à alteração da forma ventricular.
• logo após o início da contracção ventricular o encerramento da válvula
mitral e o seu abaulamento para o interior das aurículas provoca um
aumento da pressão auricular – onda C na curva de pressão auricular.
Ciclo cardíaco
Fase de ejecção
Fase de ejecção
• inicia-se com a abertura da válvula aórtica, quando a pressão no
interior do ventrículo esquerdo excede a pressão no interior da aorta.
• subdividida em duas fases:
• ejecção rápida – precoce / curta duração
• ejecção lenta – tardia / longa
Ciclo cardíaco
corresponde aproximadamente ao 1º 1/3 da fase de ejecção, distinguindo da fase lenta por:
1. as pressões intraventricular esquerda e aórtica aumentarem + rapidamente;
2. o volume intraventricular esquerdo diminuir + abruptamente;
3. o fluxo aórtico ser > e aumentar progressivamente;
4. o gradiente de pressão VE/Ao ser positivo (pressão VE > pressão Ao).
Fase de ejecção
Fase de ejecção
• a inversão do gradiente de pressão VE/Ao na presença de um fluxo sanguíneo contínuo do VE para a aorta
(provocado pelo movimento do fluxo) fica a dever-se ao armazenamento de energia potencial nas paredes
estiradas das artérias o que provoca uma diminuição da velocidade de fluxo.
• o pico da curva de fluxo coincide com o ponto de inversão dos gradientes de pressão – a curva de pressão
aórtica intersecta a curva de pressão ventricular.
• a manutenção deste gradiente de pressão invertido faz com que o fluxo aórtico continue a diminuir durante a
fase de ejecção lenta.
Ciclo cardíaco
Fase de ejecção
Fase de ejecção
• durante a fase de ejecção a espessura da parede ventricular aumenta progressivamente e os diâmetros
ventriculares diminuem, à medida que as fibras musculares se encurtam.
• para a ejecção ventricular contribuem fundamentalmente as fibras musculares circunferenciais (contribuição
das fibras longitudinais – muito menos significativa).
• são os pequenos eixos ventriculares (antero-posterior e septo-lateral) que diminuem mais durante a ejecção
25% (80 – 90% do volume de ejecção) / grande eixo ventricular 9%.
• a pressão auricular diminuiu imediatamente após o início da ejecção ventricular em virtude da descida da base
ventricular e do consequente estiramento das aurículas.
• durante o restante tempo da fase de ejecção a pressão auricular aumenta progressivamente à medida que o
sangue retorna às aurículas.
• no final da fase de ejecção um determinado volume de sangue permanece na cavidade ventricular esquerda
(volume residual).
Ciclo cardíaco
Relaxamento isovolumétrico
Relaxamento isovolumétrico
• corresponde ao período entre o encerramento da válvula aórtica e a abertura da válvula mitral.
• caracteriza-se por uma queda acentuada da pressão ventricular sem alterações concomitantes do volume.
• o encerramento da válvula aórtica origina a incisura no ramo descendente da curva de pressão aórtica e
algumas vibrações na curva de pressão auricular.
• a pressão auricular continua a aumentar durante esta fase dando origem à onda “V”.
Ciclo cardíaco
Fase de enchimento rápido
Fase de enchimento rápido
• inicia-se com a abertura da válvula mitral quando a pressão no ventrículo esquerdo se torna inferior à pressão
na aurícula esquerda, sendo responsável pela maior parte do enchimento ventricular.
• durante a fase inicial desta fase a pressão no ventrículo diminuiu apesar do volume aumentar.
• isto é devido relaxamento miocárdio ainda em curso e ao recuo elástico da contracção que o precede
(fenómeno fisiológico conhecido por sucção ventricular).
• contributo do recuo elástico – diminuto em condições basais (+ evidente se contractilidade miocárdica
aumentada e o volume telessistólico diminuido).
Ciclo cardíaco
Diástole
Diástole
• durante este período as pressões auriculares e ventriculares são praticamente iguais diminuição acentuada
do fluxo aurículo-ventricular.
• o fluxo que subsiste deve-se à energia cinética criada pelo retorno venoso da circulação sistémica no caso do
ventrículo direito e da circulação pulmonar no caso do ventrículo esquerdo.
• este aumento relativamente lento do volume ventricular determina um aumento igualmente lento das pressões
auricular e venticular.
Ciclo cardíaco
Contracção auricular
Contracção auricular
• segue-se à onda P do ECG a qual representa a
despolarização das aurículas.
• é responsável pelo aumento da pressão auricular
e consequentemente por um segundo período de
enchimento rápido.
• apesar de não existirem válvulas na junção das veias cavas com a aurícula direita, nem na junção das veias
pulmonares com a aurícula esquerda, a maior parte do sangue é bombeado, em condições normais para os
ventrículos, uma vez que a inércia provocada pelo retorno venoso opõe-se ao movimento retrógrado do sangue
para as veias cavas ou pulmonares.
• em condições basais a contracção auricular não é indispensável ao enchimento ventricular; pode assumir, no
entanto, crucial importância em condições patológicas e durante o exercício; manifesta-se pela onda “a”na
curva de pressão auricular.
Ciclo cardíaco