Auroras boreais observadas em Portugal

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Auroras Boreais observadas em Portugal Ana Paula Silva Correia José Rodrigues Ribeiro Escola Secundária com 3º ciclo de Henrique Medina, Esposende Aceite para publicação em 7 de Fevereiro de 2011.

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Objecto da Semana da Casa das Ciências de 4 a 11 de Julho de 2011

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Page 1: Auroras boreais observadas em Portugal

Auroras Boreaisobservadas em Portugal

Ana Paula Silva Correia

José Rodrigues Ribeiro

Escola Secundária com 3º ciclo de Henrique Medina, Esposende

Aceite para publicação em 7 de Fevereiro de 2011.

Page 2: Auroras boreais observadas em Portugal

Introdução

A aurora boreal é um fenómeno comum nas regiões próximas dos pólos. A sua raridade emlatitudes médias ou baixas cria a convicção de ser impossível serem observadas em paísescomo o nosso. Porém, em Portugal também já foram observadas auroras boreais, algumasde tal forma grandiosas que provocaram alarme entre as populações.

Esta resenha cronológica – produto do levantamento feito pelos autores através daliteratura científica, complementado por uma pesquisa na imprensa portuguesa, espanholae francesa - das auroras boreais vistas em Portugal, pretende dar a conhecer essefacto, relativamente pouco divulgado. Para cada episódio, apresenta-se uma caracterizaçãosucinta, a par de descrições que retratam o impacto nas populações.

Os casos abordados cingem-se aos séculos XIX e XX, sem que tal signifique que antes nãotenham sido avistadas. Em particular na última metade do século XVIII, por efeitoconjugado da grande actividade solar e da posição dos pólos geomagnéticos, as aurorasforam um fenómeno frequente em Portugal. Porém, dada a quase ausência de imprensaperiódica, escasseiam os relatos, apesar de Vaquero & Trigo, 2005 terem recentementepublicado uma compilação das auroras avistadas em Lisboa entre 1781 e 1789.

Page 3: Auroras boreais observadas em Portugal

O que provoca as auroras boreais (1)Ao contrário das auroras boreais comuns, típicas das regiões polares, as aurorasobservadas em latitudes baixas ocorrem normalmente apenas em períodos marcados porelevada actividade solar, associada ao aparecimento de muitas manchas solares.

Também chamado número de Wolf, o índice de manchas solares (sunspot number), criadoem 1849 pelo astrónomo suíço Rudolph Wolf, é uma grandeza que mede a actividadesolar, a partir do número de manchas e de grupos de manchas solares. O valor oscilaciclicamente, com um período médio de 11 anos.

Dados do Solar Influences Data

Center (SIDC)Bruxelas

0

40

80

120

160

200

1700 1750 1800 1850 1900 1950 2000

Médias anuais do índice de manchas solares

Introdução

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O que provoca as auroras boreais (2)

As erupções solares podem provocar aejecção de matéria da coroa solar,CME (coronal mass ejection).

Milhões de toneladas de electrões,protões, etc. são lançados a enormevelocidade, atingindo a Terra cerca de3 a 4 dias depois.

A interacção dessas partículas de elevada energia com a magnetosfera terrestre ocasionauma tempestade geomagnética que, para além da formação das auroras boreais, podecausar graves avarias ou perturbações em satélites, sistemas de comunicações e navegaçãoe até a interrupção do fornecimento de energia eléctrica. Em 13 de Março de 1989, seismilhões de canadianos foram privados de energia eléctrica durante horas.

As partículas provocam também a ionização ou a excitação de átomos de oxigénio e deazoto, presentes nas camadas superiores da atmosfera. Os efeitos luminosos resultam dosubsequente processo de desexcitação que ocorre com emissão de luz visível. Quando estese dá a altitudes elevadas, a luz emitida é predominantemente vermelha; a altitudes maisbaixas (tipicamente, 80 km), é emitida luz verde ou azul.

Introdução

FONTE: http://sec.gsfc.nasa.gov

Page 5: Auroras boreais observadas em Portugal

O que provoca as auroras boreais (3)

É devido aos diferentes processos envolvidos que asauroras vistas em latitudes baixas são bastante distintasdas auroras comuns, observadas nas regiões polares.

A latitudes baixas, observa-se normalmente apenas aparte superior da aurora (altitude 250-400 km). Daío tom vermelho sanguíneo, que se presta a confusõescom o clarão de incêndios distantes, contrastando coma cor clara das auroras observadas nos países nórdicos.

Atenas, 20 de Novembro de 2003. Foto de Anthony Ayiomamitis (http://www.spaceweather.com)

Outra particularidade distintiva (também causada peladesigual altitude em que se formam) é que as aurorasdas regiões polares parecem cortinas luminosas eexecutam movimentos rápidos, ao passo que nasnossas latitudes são difusas (parecem nevoeiro)e os seus movimentos são bastante lentos.

Laukvik (Noruega), 27 de Novembro de 2010.Foto de Therese van Nieuwehoven (http://www.spaceweather.com)

Introdução

Page 6: Auroras boreais observadas em Portugal

Auroras boreais

observadas em Portugal

no séculos XIX e XX

Page 7: Auroras boreais observadas em Portugal

8 de Fevereiro de 1817

LOCAIS ONDE FOI VISTA

Portugal: Penafiel.

Espanha: NÃO AVISTADA.

Outros locais: Inglaterra, Irlanda, França, Alemanha, Suíça, EUA.

ÍNDICE DE MANCHAS SOLARES

Valor médio para o ano de 1831: 41,0

23

4856

3830

36

58

96

2621

40 37

0

20

40

60

80

100

Ago 1816 Nov 1816 Fev 1817 Mai 1817

Índice mensal de manchas solares

Page 8: Auroras boreais observadas em Portugal

8 de Fevereiro de 1817

“Jornal de Coimbra” volume XI – parte I 1817, p. 5. Observações de Fevereiro de 1817, por Antonio de Almeida, em Penafiel.

“Journal des débats” 10.2.1817

Page 9: Auroras boreais observadas em Portugal

7 de Janeiro de 1831

LOCAIS ONDE FOI VISTA

Portugal: Guimarães.

Espanha: Madrid, Lérida, Múrcia.

Outros locais: EUA, Inglaterra, França, Holanda, Suíça, Alemanha, Noruega, Itália.

ÍNDICE DE MANCHAS SOLARES

Valor médio para o ano de 1831: 47,8

8292

28 26

0 0

42 44

0 0

6762 66

82

44

0

45

0

20

40

60

80

100

30-12-1830 4-1-1831 9-1-1831 14-1-1831 19-1-1831

Índice de manchas solares

Page 10: Auroras boreais observadas em Portugal

7 de Janeiro de 1831

In “Efemérides Vimaranenses”, manuscrito de João Lopes de Faria, divulgado noblogue PEDRA FORMOSA da Sociedade Martins Sarmento, de Guimarães:

7 de Janeiro de 1831 – Das 7 para as 8 horas tocam os sinos a fogo em algumas torres davila e os voluntários realistas pegam em armas por se avistar da vila para o lado norte umfumo vermelho e averiguando-se depois veio-se ao conhecimento que tinha sido umaaurora boreal.

“El Estafeta de San Sebastián” 17.1.1831

Page 11: Auroras boreais observadas em Portugal

24 de Outubro de 1847

LOCAIS ONDE FOI VISTA

Portugal: Lisboa, Porto.

Espanha: Madrid, Barcelona, Sevilha, Victoria, Zamora, San Fernando.

Outros locais: Inglaterra, Irlanda, França, Alemanha, Itália, Estónia.

ÍNDICE DE MANCHAS SOLARESValor médio para o ano de 1847: 98,5

NOTA:

Tempestades geomagnéticas

a 23 e a 24 de Outubro.

167

192

232

164177

131145152

224

174

139

172

119

139

50

100

150

200

250

15-10-1847 20-10-1847 25-10-1847 30-10-1847 4-11-1847

Índice de manchas solares

Page 12: Auroras boreais observadas em Portugal

24 de Outubro de 1847

“O Nacional” 26-10-1847 PortoFenómeno – Anteontem à noite entre as 9 e 10 horas, com aatmosfera claríssima e a lua radiosa, apareceu entre opoente e o norte um muito extenso raio ou esteira de luzavermelhada, pessoas que se agruparam no largo da Torreda Marca supuseram ser fogo. Diz-se que desde 1828, aindanão se tinha visto um fenómeno semelhante.

“Periódico dos Pobres do Porto” 25-10-1847Fenómeno – Ontem à noite, das 9 para as 10 horas, estando aatmosfera limpa e a Lua em todo o seubrilhantismo, apareceu um fenómeno no horizonte, que erauma muito extensa e muito larga esteira de luz avermelhadada cor do fogo, e que alguém tomou por incêndio. Estendia-se majestosa e assustadora entre o Poente e o Norte, e emoposição à Lua, que conservou assim como a atmosfera omesmo estado de brilho. Muitas pessoas que se achavam noTeatro saíram à praça da Batalha a observar, pois sobre essesítio a cor sanguínea estava muito mais carregada, e seestendia até sobre a torre de Santo Ildefonso, onde terminou!Pouco depois se desfez, e depois sobreveio grande nevoeiro.

Page 13: Auroras boreais observadas em Portugal

19 de Dezembro de 1847

LOCAIS ONDE FOI VISTA

Portugal: Lisboa.

Espanha: Madrid.

Outros locais: EUA, Canadá, Inglaterra.

ÍNDICE DE MANCHAS SOLARES

Valor médio para o ano de 1847: 98,5

NOTAS:

Tempestades geomagnéticas a 17 e a 20

de Dezembro.

Entre 12 e 20 de Dezembro, fortes abalos de terra

sentidos em Lisboa e imediações.

133

209

125144

121

9787

107

69 57

9786

100102

50

100

150

200

250

1-12-1847 6-12-1847 11-12-1847 16-12-1847 21-12-1847

Índice de manchas solares

Page 14: Auroras boreais observadas em Portugal

19 de Dezembro de 1847

“Revista Universal Lisbonense” 29.12.1847

“El Clamor Publico” 21.12.1847 Madrid

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17 e 18 de Outubro de 1848

LOCAIS ONDE FOI VISTA

Portugal: Porto, S. Miguel (Açores).

Espanha: Sevilha, Valladolid.

Outros locais: EUA, Reino Unido, Áustria.

ÍNDICE DE MANCHAS SOLARES

Valor médio para o ano de 1848: 124,7

134146

135

187177

117

92110105

50

100

150

200

250

8-10-1848 13-10-1848 18-10-1848 23-10-1848 28-10-1848

Índice de manchas solares

Page 16: Auroras boreais observadas em Portugal

17 e 18 de Outubro de 1848

“O Angrense” 30.11.1848

“El Clamor Publico” 24.10.1848

Madrid

Page 17: Auroras boreais observadas em Portugal

17 de Novembro de 1848

LOCAIS ONDE FOI VISTA

Portugal: Lisboa, Porto, Açores.

Espanha: Ferrol, Corunha, Santiago deCompostela, Pontevedra, Baiona, Santander, Valladolid, Barcelona, Ávila, Madrid, Toledo, Valência, Cartagena, Sevilha, Cádiz, Huelva, Baleares, Canárias.

Outros locais: Reino Unido, França, Itália, Alemanha, Rússia, Estónia, EUA, Cuba, Austrália.

ÍNDICE DE MANCHAS SOLARESValor médio para o ano de 1848: 124,7

NOTAS:

Tempestades geomagnéticas

a 17 e a 18 de Novembro.

Perturbações nas comunicações

telegráficas.

107 100 99

170

204195

87

67 70

104

50

100

150

200

250

7-11-1848 12-11-1848 17-11-1848 22-11-1848 27-11-1848

Índice de manchas solares

Page 18: Auroras boreais observadas em Portugal

17 de Novembro de 1848

“Periódico dos Pobres do Porto” 18-11-1848Aurora Boreal – Ontem apareceu sobre o horizonte a maisperfeita aurora boreal que temos aqui observado. Pelas 8 horas emeia da tarde a sua base abrangia um arco de uns 120º denoroeste a nordeste; sobre um segmento de luz branca eviva, assentava uma zona purpúrea e brilhante que abrangiaaquele segmento, e que pouco a pouco se aproximava dozénite, para o qual convergiam raios brancos que cortavam aintervalos a zona purpúrea. Parece que começou pelas 6 horaspara nordeste e foi estendendo até aquela largura. Pelas 11 horasapenas restava a luz branca, tendo começado a esvaecer do ladoonde começara. A Lua ainda não estava sobre o horizonte.

“O Angrense” 30.11.1848

Page 19: Auroras boreais observadas em Portugal

28-29 de Agosto de 1859

LOCAIS ONDE FOI VISTA

Portugal: Lisboa, Porto, Viana do Castelo, Braga, Açores.

Espanha: Madrid, Sevilha, Granada, Tortosa, Pontevedra, Canárias.

Outros locais: EUA, Canadá, Cuba, Guatemala, Jamaica, Reino Unido, França, Itália, Suíça, Grécia.

ÍNDICE DE MANCHAS SOLARESValor médio para o ano de 1859: 93,8

NOTAS: Enormes tempestades geomagnéticas a 28 de Agosto e a 1-2 de Setembro. Graves perturbações registadas nas linhas telegráficas por todo o planeta.

146

112

161 164

126

145138

106 108 104

118

132

147

96

154

77

102

143

9789

142

50

100

150

200

20-8-1859 24-8-1859 28-8-1859 1-9-1859 5-9-1859 9-9-1859

Índice de manchas solares

Page 20: Auroras boreais observadas em Portugal

28-29 de Agosto de 1859

“O Viannense” 29.8.1859 Viana do Castelo

“O Parlamento” 31.8.1859 Lisboa

Page 21: Auroras boreais observadas em Portugal

12 e 17 de Outubro de 1859

LOCAIS ONDE FOI VISTAPortugal: Terceira (Açores), Lisboa.

Espanha: NÃO AVISTADA.Outros locais: EUA, Reino Unido, França, Itália, Croácia.

ÍNDICE DE MANCHAS SOLARESValor médio para o ano de 1859: 93,8

NOTAS: Tempestade geomagnética, com fortesperturbações das agulhas magnéticas, por toda a Europa, a 12 de Outubro.Nesse dia, máxima declinação magnéticado Outono em Lisboa). Comunicações telegráficas interrompidasem França e Inglaterra, durante algum tempo.

125127

140

156

131

72

87

100

141

162

96 99

112124

109121

107

94102

111114

50

100

150

200

5-10-1859 9-10-1859 13-10-1859 17-10-1859 21-10-1859 25-10-1859

Índice de manchas solares

Page 22: Auroras boreais observadas em Portugal

12 e 17 de Outubro de 1859

“O Angrense” 24.10.1859

MEMORIAS DA ACADEMIA REALDAS SCIENCIAS DE LISBOA

Tomo II (nova série), 1861, pp. 18-22(...) No presente mez, ainda quemenores, as perturbações teemcontinuado, tendo havido uma outraaurora, que parece ter sido vista emLisboa. (...)Lisboa, 20 de outubro de 1859.

“Journal des débats” 15.10.1859

Page 23: Auroras boreais observadas em Portugal

12 de Agosto de 1860

LOCAIS ONDE FOI VISTA

Portugal: Porto, Terceira (Açores).

Espanha: Madrid.

Outros locais: França, Alemanha, Áustria.

ÍNDICE DE MANCHAS SOLARESValor médio para o ano de 1860: 95,8

NOTAS: Perturbações das agulhas magnéticas emvários pontos do planeta entre 7 e 13 deAgosto. A 12 de Agosto, máxima declinação magnética do Verão em Lisboa. Perturbações nas linhas telegráficas em Espanha, entre 11 e 14 de Agosto.

132121

7788

109

127121 121

148

121

154

126121

127

7984

116

88

75

88

5850

100

150

200

1-8-1860 5-8-1860 9-8-1860 13-8-1860 17-8-1860 21-8-1860

Índice de manchas solares

Page 24: Auroras boreais observadas em Portugal

12 de Agosto de 1860

“O Angrense” 18.8.1860

“O Comércio do Porto” 13-8-1860Aurora boreal – Ontem, às 10 horas danoite, apareceu a NO uma aurora borealque, esvaindo-se gradualmente, às 11 emeia tinha desaparecido.

Page 25: Auroras boreais observadas em Portugal

24 e 25 de Outubro de 1870

LOCAIS ONDE FOI VISTA

Portugal: Porto, Lisboa, Coimbra, Figueira da Foz, Viana doCastelo, Guimarães, Braga, Évora, Moncorvo, Guarda, Campo Maior.

Espanha: Madrid, Barcelona, Santander, Gerona, Baleares, Canárias.

Outros locais: EUA, ReinoUnido, França, Bélgica, Alemanha, Suíça, Áustria, Croácia, Itália, Grécia, Egipto, Iraque, África do Sul, NovaZelândia.

ÍNDICE DE MANCHAS SOLARES

Valor médio para o ano de 1870: 139,0

NOTAS:

Tempestades geomagnéticas a 24 e 25 de Outubro.

Data deste episódio a introdução da expressão

“aurora boreal”no vocabulário político espanhol.

Um subserviente e alarmado governador provincial

telegrafou a Madrid a pedir instruções sobre o que

deveria fazer. A resposta irónica do ministro foi:

“ Quando aparece uma aurora boreal, o governador

deve de imediato apresentar a demissão”.

142

178187

141

205220

184

151

174

196

166

142154

145

121130135

157

112

132115

50

100

150

200

250

12-10-1870 16-10-1870 20-10-1870 24-10-1870 28-10-1870 1-11-1870

Índice de manchas solares

Page 26: Auroras boreais observadas em Portugal

24 e 25 de Outubro de 1870

“Jornal do Porto” 25.10.1870

“O Tribuno Popular” 26.10.1870 Coimbra

Page 27: Auroras boreais observadas em Portugal

12 de Fevereiro de 1871

LOCAIS ONDE FOI VISTA

Portugal: Lisboa

Espanha: NÃO AVISTADA

Outros locais: ------

ÍNDICE DE MANCHAS SOLARESValor médio para o ano de 1871: 111,2

NOTA:

A 12 de Fevereiro, máximadeclinação magnéticadesse mês em Lisboa.

75 7359 64

96

114

95

136 136

166

126139

147

162175

166 163 165 168

109 106

50

100

150

200

5-2-1871 10-2-1871 15-2-1871 20-2-1871 25-2-1871

Índice de manchas solares

Page 28: Auroras boreais observadas em Portugal

12 de Fevereiro de 1871

“Jornal do Porto” 15.2.1871

ANNAES DO OBSERVATÓRIODO INFANTE D. LUIZ

Volume nono, 1871, pág. 29FEVEREIRO 1871

Dia 12: Aurora boreal de intensidadepouco considerável e variável, vista porvezes desde as 7.30 às 9.40 da noite.

“A Revolução de Setembro” 15-2-1871Aurora boreal – No domingo viu-se em Lisboa uma aurora boreal quedurou desde as 8 horas até às 9 e meia da noite.

Page 29: Auroras boreais observadas em Portugal

4 de Fevereiro de 1872

LOCAIS ONDE FOI VISTAPortugal: Porto, Aveiro, Coimbra, Guimarães, Lisboa.

Espanha: Saragoça, Barcelona, Valência, Granada, Alicante, Canárias.

Outros locais: França, Croácia, Turquia, Guatemala, Rep. Dominicana, Arábia.

ÍNDICE DE MANCHAS SOLARESValor médio para o ano de 1872: 101,6

NOTAS: Enorme tempestade geomagnéticaa 4 de Fevereiro.Extensas e prolongadas interrupçõesdas comunicações telegráficasem todo o Mundo.

55 57

90103

135

113

163151

162

138148

168

148154

145134

126

96 97 92

5250

100

150

200

27-1-1872 1-2-1872 6-2-1872 11-2-1872 16-2-1872

Índice de manchas solares

Page 30: Auroras boreais observadas em Portugal

4 de Fevereiro de 1872

“Jornal do Porto” 6.2.1872

“O Tribuno Popular” 7.2.1872 Coimbra

“O Comércio do Porto” 7-2-1872AVEIRO – Segundo refere o “Distrito deAveiro”, no domingo, por volta das 8horas da noite, apresentou-se o céu deuma cor avermelhada na direcção donordeste a norte.Era uma aurora boreal que, estendendo-sedepois para o sul, foi-se dissipando poucoa pouco até que desapareceu.

Page 31: Auroras boreais observadas em Portugal

7 de Julho de 1872

LOCAIS ONDE FOI VISTAPortugal: Porto, Viana do Castelo, Valença, Póvoa de Varzim, Guimarães, Aveiro, Viseu.

Espanha: NÃO AVISTADA

Outros locais: Áustria, Eslovénia, Irlanda.

ÍNDICE DE MANCHAS SOLARESValor médio para o ano de 1872: 101,6

NOTAS:

Perturbações magnéticas em

7-9 de Julho.

A 8 de Julho, máxima declinação

magnética desse mês em Lisboa.

114124

99 100

117

96 93100

124130

196

172177169

132

108

82 78

9993

87

50

100

150

200

30-6-1872 5-7-1872 10-7-1872 15-7-1872 20-7-1872

Índice de manchas solares

Page 32: Auroras boreais observadas em Portugal

7 de Julho de 1872“O Comércio do Porto” 8-7-1872Aurora boreal – Ontem, depoisdas 9 horas da noite, patenteou-separa o lado do poente uma auroraboreal bastante intensa, que seestendia por grande espaço daabóbada celeste. Este fenómenoapresentava, como sempre, oaspecto de um grande incêndiolongínquo, o que a princípioassustou algumas pessoas. Aaurora boreal às 10 horas tinhadesaparecido.

“O Comércio do Porto” 12-7-1872VALENÇA – Do “Noticioso” de anteontemÀs 10 horas da noite do dia 7 do corrente, viu-se em Caminha umaaurora boreal. Do cais daquela vila desfrutava-seperfeitamente, porque se estendia em direcção da Guardia em frentede Seixas.AVEIRO – Do “Campeão das Províncias” de anteontemDas 10 para as 11 horas da noite de domingo, manifestou-se comtodo o brilho e extensão uma aurora boreal, tomando a parte norteda atmosfera e tornando clara a noite como se fizesse luar. Foi aquimuito vista.“O Comércio do Porto” 18 de Julho de 1872GUIMARÃES, 15 de JulhoPresenciou-se aqui no dia 7 do corrente, pelas 10 horas danoite, uma aurora boreal ao noroeste desta cidade.

“O Viriato” 12.7.1872 Viseu

“Aurora do Lima” 8.7.1872 Viana do Castelo

Page 33: Auroras boreais observadas em Portugal

25 de Janeiro de 1938

LOCAIS ONDE FOI VISTA

Portugal: Lisboa, Porto, Esposende, Barcelos, Madeira.

Espanha: Madrid, Barcelona, Sevilha, Pontevedra, Vigo, Cádiz, Huelva.

Outros locais: Reino Unido, França, Bélgica, Holanda, Alemanha, Suíça, Áustria, Polónia, Escandinávia, Itália, Croácia, Grécia, Norte de África.

ÍNDICE DE MANCHAS SOLARESValor médio para o ano de 1938: 109,6

NOTA: Tempestades geomagnéticasa 22 e a 25 de Janeiro.

104 106 111118

134

110 110104

119 123 122

149

10894

7667

76

59

79 76

50

100

150

200

12-01-1938 16-01-1938 20-01-1938 24-01-1938 28-01-1938

Índice de manchas solares

Page 34: Auroras boreais observadas em Portugal

25 de Janeiro de 1938

“O Cávado” 30.1.1938 Esposende

Page 35: Auroras boreais observadas em Portugal

21 de Janeiro de 1957

LOCAIS ONDE FOI VISTA

Portugal: Matosinhos, Viana do Castelo, Trancoso, Meda, Unhais da Serra.

Espanha: Madrid, Sevilha, Lugo, Orense, Gijón, Ávila, Jerez de la Frontera, Huelva, Canárias.

Outros locais: Inglaterra, Bélgica, Alemanha, Suécia, Checoslováquia, Áustria, Croácia, Suíça, Itália, Croácia, Marrocos.

ÍNDICE DE MANCHAS SOLARESValor médio para o ano de 1957: 190,2

NOTAS: Interrupção das comunicaçõesintercontinentais via rádio durantedez horas.Perturbação das comunicaçõestelefónicas em Inglaterra.

155

134121

86100

112

143

170 170177

193 191

209

184168

150141

132

107 108

50

100

150

200

250

12-01-1957 17-01-1957 22-01-1957 27-01-1957

Índice de manchas solares

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21 de Janeiro de 1957

“O Comércio do Porto” 22-1-1957Um fenómeno celeste com todas as características duma aurora boreal, foi observado, ontem, à noite, sobre a área de MatosinhosO fenómeno, interessante, como todos, foi observado por muitas pessoas, a avaliar pelo número detelefonemas recebidos na sede do Comércio do Porto. Seriam 22 horas de ontem, quandosurgiu, sobre a área de Matosinhos, possivelmente, rubro clarão, primeiramente de formasarredondadas, que, depois, se foi alargando, na direcção do mar, muito intenso, a princípio, talvezdurante cinco minutos, foi diminuindo a intensidade dessa luz, deslocando-se lentamente, nadirecção Senhora da Hora – Matosinhos, precisamente.A princípio, atribuiu-se o facto a qualquer grande incêndio, cujas chamas se reflectissem naatmosfera. No entanto, verificada a inexistência de qualquer sinistro do género, houve que dar novaversão ao caso e, assim, forçoso foi integrar aquilo que se viu no imenso circuito dos fenómenoscelestes, de resto sem grande esforço, dado que o fenómeno reúne todas as características de umaaurora boreal.Segundo insuspeita informação dum sacerdote que, anteontem, estava, à noite, na região doMarão, também ali foi observado o mesmo fenómeno, com surpresa e, até, certo receio, dos habitantesda região, a quem foi necessário prestar esclarecimentos convenientes, que serviram e bastaram parasossegar a boa gente, prestes a ser tomada por pânico.De resto, não é de admirar que os fenómenos celestes causem actualmente, certa apreensão nascamadas menos cultas, dado o estado de espírito vigente, compreensivelmente inclinado a ver emtudo as consequências funestas da maldade humana.

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21 de Janeiro de 1957

“Diário de Lisboa” 22.1.1957

“Diário de Lisboa” 23.1.1957

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Algumas observações duvidosas

• 14 de Novembro de 1837: Foi avistada uma aurora boreal emSevilha e nas Canárias. É por isso muito provável que também emPortugal tenha sido observada. Valerá a pena pesquisar.

• 8 de Agosto de 1872: Segundo “O Viriato”, bissemanário deViseu, foi avistada uma nessa cidade. Não encontrámos aindaobservações noutros locais, nem registos meteorológicas que aconfirmassem. Mas como nessa data a actividade solar e asperturbações magnéticas eram intensas, o relato poderá sercorrecto.

• 25 de Setembro de 1909: Segundo o DN, em Resende foi observadauma aurora boreal, coincidindo com uma das maiores tempestadesmagnéticas solares do século XX e com observações de aurorasboreais em vários pontos do globo. Não se conhecem contudorelatos de outras localidades do país.

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COLECÇÕES DE JORNAIS:

Hemeroteca Municipal de Lisboa, Hemeroteca Digital

Biblioteca Nacional de Portugal, BN Digital

Biblioteca Pública Municipal do Porto

Biblioteca Pública de Braga

Biblioteca Geral da Faculdade de Letras da Universidade do Porto

Biblioteca Municipal de Viana do Castelo

Biblioteca Municipal de Esposende

Universidade de Coimbra, Biblioteca Geral Digital

Centro de Conhecimento dos Açores, Biblioteca Digital

Fundação Mário Soares, Arquivo e Biblioteca Digital

Biblioteca Nacional de España, Hemeroteca Digital

CSBG, Prensa Galega

Biblioteca Municipal de Donostia – San Sebastián, Hemeroteca Digital

ABC, Hemeroteca

LA VANGUARDIA, Hemeroteca

Diputacion Provincial de Huelva, Hemeroteca Digital

Bibliotéque Nationale de France, Gallica

Biblioteca Nazionale Braidense, L Emeroteca Digitale

Fontes (1)

Page 40: Auroras boreais observadas em Portugal

ARTIGOS EM REVISTAS CIENTÍFICAS:

Carapiperis, L. N. “Some appearances of the aurora borealis in Greece”, Geofis. Pura e Appl., 35, 139-142, 1956.

Cliver, E. W. and Svalgaard, S. M. “The 1859 solar-terrestrial disturbance and the current limits of extreme space weather activity”, SolarPhys., 224, 407-422, 2004.

Lisac, I. and Marki, A. “The auroral events observed form Croatia and a part from surruonding countries”, Geofizika, 15, 53-68, 1998.

Nevanlinna, H. “A study on the great geomagnetic storm of 1859: Comparisons with other storms in the 19th century”, Adv. SpaceRes., 38, 180-187, 2006.

Rico Sinobas, M. “Noticia sobre las auroras boreales observadas en España durante el siglo XVIII y parte del XIX”, Memorias de la RealAcademia de Ciencias Exactas, Físicas y Naturales ,III (3), 77–91, 1855.

Silverman, S. M. and Cliver, E. W. “Low-latitude auroras: the magnetic storm of 14-15 May 1921”, J. Atmos. Solar Terr. Phys., 63, 523-535, 2001.

Vaquero, J. M., Gallego, M. C. and García, J. A. “Auroras observed in the Iberian Peninsula (1700-1855) from Rico Sinobas’ catalogue”, J. Atmos.Solar Terr. Phys., 65, 677-682, 2003.

Vaquero, J. M. and Trigo, R. M. “Auroras observed in Portugal in the late 18th century obtained from printed and manuscript meteorologicalobservations”, Solar Phys., 231, 157-166, 2005.

Vaquero, J. M., Trigo, R. M. and Gallego, M. C. “Sporadic aurora from Spain”, Earth Plan. Spa., 59, e49-e51, 2007.

Vaquero, J. M. et al “The 1870 space weather event: Geomagnetic and auroral records”, J. Geophys.Res., 113, A08230, doi:10.1029/2007JA012943, 2008.

Vázquez, M. , Vaquero, J. M. and Curto, J. J. “On the connection between solar activity and low-latitude aurorae in the period 1715-1860”, Solar Phys., 238, 405-420, 2006.

Vázquez, M. and Vaquero, J. M. “Aurorae Observed at the Canary Islands”, Solar Phys., DOI: 10.1007, 2010.

Fontes (2)

Page 41: Auroras boreais observadas em Portugal

OUTRAS PUBLICAÇÕES:

Actas das Sessões da Academia Real das Sciencias de Lisboa – vol III, 1849. (Google book)

Memorias da Academia Real das Sciencias de Lisboa – tomo II (nova série), 1861. (Google book)

Humboldt, Alexander von “Cosmos”, Bohn edit., London, 1848. (Google book)

Arago, Dominique F. “Meteorological Essays”, Longmans, London, 1855 (Google book)

Lowe, Edward “A Treatise on Atmospheric Phenomena”, Longmans, Nottingham, 1846 (Google book)

Annaes do Observatório do Infante D. Luiz, 1870, 1871, 1872. (http://www.idl.ul.pt/sign/anais.html)

Giornale di farmacia-quimica e scienze accessorie, 1831.

Biblioteca italiana, vol 61, 1831.

Revista de la Real Academia das Ciencias Exactas , Físicas y Naturales, 1860 .(site da instituição, http://www.rac.es)

Ana Paula S. Correia e José R. Ribeiro "Como Esposende presenciou a aurora boreal de 1938" Farol de Esposende, 5Setembro 1996

SITES:

http://sidc.oma.be/sunspot-data/dailyssn.php - valores do índice de actividade solar

http://helios.gsfc.nasa.gov/cme.html - CME, coronal mass ejections

http://solar.physics.montana.edu/press/faq.html - CME, coronal mass ejections

http://en.wikipedia.org/wiki/Aurora_(astronomy) - auroras boreal e austral

http://www.spaceweather.com – imagens de auroras

http://pedraformosa.blogspot.com/ - efemérides vimaranenses (Sociedade Martins Sarmento)

Fontes (3)

Page 42: Auroras boreais observadas em Portugal

Agradecimentos

• Ao Professor José Manuel Vaquero, da Universidad deExtremadura, Cáceres, pelo artigo “Auroras observed in theIberian Peninsula (1700-1855) from Rico Sinobas’ catalogue”.

• Ao Dr. António Amaro das Neves, presidente da direcção daSociedade Martins Sarmento, pelas informações a respeitode auroras boreais observadas em Guimarães.

• Ao Dr. Bernardo Silva Barbosa, director do periódico “AAurora do Lima”, o jornal mais antigo do continente, pelosrecortes de notícias sobre auroras boreais.