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Instituto de Artes e Ofcios Universidade Autnoma de Lisboa

Curso: Conservao e Restauro de Mobilirio Trabalho Final: Curso 1998/2000 Aluno: Victor Manuel E. Duarte Correia Professores: Cristina Weber Correia Henrique Pinto da Silva Lisboa, Setembro de 2001

NDICEINTRODUO1 PARTE - EVOLUO HISTRICA EGIPTO GRCIA ROMA BIZNCIO IDADE MDIA ROMNICA IDADE MDIA GTICA RENASCIMENTOITLIA FRANA ESPANHA INGLATERRA ALEMANHA FLANDRES

2 4 5 5 6 6 7 8 9 9 10 10 11 11 12 13 13 13 14 14 14 14 15 16 16 16 17 17 18 18

SCULO XVII TRANSIO PARA O BARROCOFRANA

Luis XIII BARROCO DO SC. XVIIITLIA FRANA

Luis XIVFLANDRES INGLATERRA

Estilo Jacobino Estilo Restaurao William and MaryALEMANHA ESPANHA PORTUGAL

i

BARROCO DO SC.XVIIIFRANA

19 19 19 20 21 22 22 23 23 24 25 25 26 27 27 27 28 30 30 31 31 32 33 33 33 34 34 35 35 36 36 37 37 38 ii

Estilo Regncia Estilo Luis XVITLIA INGLATERRA

Estilo Queen Anne Estilo Georgiano Early Georgean ChippendaleALEMANHA ESPANHA PORTUGAL PASES BAIXOS

NEO-CLSSICOFRANA INGLATERRA PORTUGAL

SCULO XIX ESTILO IMPRIOFRANA PORTUGAL

ROMANTICOFRANA

Estilo Restaurao Estilo Louis-Philipe Perodo Napoleo IIIINGLATERRA

Estilo Regncia Estilo Vitoriano Movimento Arts and CraftsALEMANHA USTRIA

Biedermeier Mobiliario Thonet- ustria

ESPANHA

38 38 39 39

Estilo IsabelinoPORTUGAL

SCULO XX

2 PARTE - A MADEIRA. O QUE A MADEIRA COMO SE FORMA A MADEIRA ESTRUTURA ANATMICATERMOS UTILIZADOS TIPOS DE CORTES QUE SE PODEM FAZER NUM TRONCO ANIS DE CRESCIMENTO O VEIO DA MADEIRA MADEIRA DO CERNE E MADEIRA DO BORNE

41 42 42 44 44 45 46 47 47 48 48 49 51 51 52 52 52 52 53 53 53 54 54 54 55 55 55 56 iii

TIPOS DE MADEIRASMADEIRAS BRANDAS MADEIRAS DURAS

CARACTERSTICAS FSICAS E QUMICASCOR BRILHO PROPRIEDADES DETECTVEIS AO TACTO CHEIRO DENSIDADE E PESO ESPECFICO DUREZA FLUORESCNCIA TESTES QUMICOS

CARACTERSTICAS PARTICULARESO ASPECTO DA MADEIRA

Tipos de corte Veios Colorao Ns IDENTIFICAO DAS MADEIRAS

O QUE SE DEVE ANALISAR FORMA DA MEDULA

57 58 58 60 60 61 61 61 62 62 62 62 62 62 63 63 64 64 64 64 65 67

PROBLEMAS NA IDENTIFICAO DA MADEIRA NO MOBILIRIO TCNICAS DE IDENTIFICAOCHAVES PARA A IDENTIFICAO DAS MADEIRAS

CLASSIFICAO SISTEMTICANOMES CIENTFICOS

A MADEIRA E A HUMIDADETeor de humidade Humidade Humidade absoluta Humidade relativa gua retida gua livre

SECAGEM DA MADEIRA COMO LIDAR COM AS MOVIMENTAES DA MADEIRA Encolhimento prvio Controlo da atmosfera Limitao do movimento atravs da fora mecnica Estabilizao qumica COMO SECAR A SUA PRPRIA MADEIRA O ARMAZENAMENTO DA MADEIRA DEPOIS DA SECAGEM

3 PARTE FICHAS DE MADEIRAS MADEIRAS MACIAS ResinosasABETO CASQUINHA CEDRO ESPRUCE LARCIO TEIXO TUIA

68 69 70 71 72 73 74 75 76 77 iv

MADEIRAS DURAS Folhosas

BTULA BUXO CARVALHO CASTANHO CEREJEIRA BANO FAIA FREIXO GAIACO GONALO ALVES JACARAND DA BAA MOGNO NOGUEIRA PADREIRO PAU ROXO PAU SANTO PEREIRA TECA TILIA TULIPEIRO

78 79 80 81 82 83 84 85 86 87 88 89 90 91 92 93 94 95 96 97 98

BIBLIOGRAFIA

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INTRODUOJ na Civilizao Egpcia se fazia a utilizao da madeira para a manucfatura de peas de mobilirio. De ento at aos nossos dias a madeira tem sido o material mais vulgarmente usado na confeco de mveis. As variedades de madeira utilizadas para mobilirio tm sido ao longo dos tempos as mais diversas com os mais variados tipos de utilizaes. A madeira utilizada tem variado ao longo da evoluo histrica do mobilirio com as modas e tendncias das diferentes pocas e com as diferentes conjunturas sociais, econmicas e polticas, que tm tambm influencia na forma como aquela utilizada no mobilirio.

As tcnicas de construo e de decorao do mobilirio tm variaes e evolues ao longo das diferentes pocas. Isto tem implicaes na forma e tipo de madeira utilizada. Por isto tudo este trabalho tem como finalidade fazer uma revista o mais exaustiva possvel da evoluo histrica da utilizao da madeira. Comeando por se situar as pocas e estilos no tempo, fazendo uma caracterizao o mais sucinta possvel, e quando se justifique, referencia a tcnicas ou tipologias a que um determinado tipo de madeira esteja associado, no esquecendo nunca que o objetivo deste trabalho a utilizao da madeira no mobilirio.

Em relao ao sculo XX, constatei com alguma frustrao depois de esforada pesquisa bibliogrfica, que as referencias s madeiras utilizadas eram escassas e no permitiam o cruzamento da informao em fontes diferentes, de forma a resultar num trabalho bem fundamentado e rigoroso. Talvez porque a madeira perdeu para outros materiais o estatuto de material de eleio na confeco do mobilirio e deixou por isso de ser importante. Por estas razes tomei a deciso de terminar a resenha histrica no sc. XIX, tendo conscincia que dificilmente alguma madeira usada no sc.XX no tivesse j sido usada antes, em pocas em que a madeira tinha uma importncia fundamental na construo do mobilirio, e que por isso este trabalho, que como j se disse visa a madeira, no ficaria prejudicado na sua qualidade e rigor.

Pretende ainda fazer-se uma breve explicao do que a madeira como entidade fsica, como formada e que tipos de madeira existem. Vai tambm fazer-se referencia a formas prticas de identificao de madeira. Por fim vai fazer-se uma descrio dos nomes botnicos e dos nomes 2

vulgares nas diferentes lnguas, caractersticas fsicas e tipos de utilizao de algumas variedades de madeira utilizadas no mobilirio.

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1 PARTE

EVOLUO HISTRICA

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EVOLUO HISTRICA

EGIPTO

As madeiras indgenas do Egipto como a accea, alfarrobeira, palmeira, tamarindo, figueira do egipto, salgueiro, chopo, sicmoro no eram as mais propcias para a construo de peas de mobilirio mais fino, quer pelas suas caractersticas fsicas quer pelo fraco desenvolvimento das rvores o, que dava troncos de escassa dimenso e tbuas de pouca largura. Apesar disso, os artesos egpcios que se dedicavam construo de mobilirio tiravam o melhor partido possvel destas madeiras para a confeco de peas de mobilirio domstico, mais simples, e para a confeco de caixes. Para isso aperfeioaram a tcnica de unir peas de madeira umas com as outras. A escassez de madeira no Egipto fazia com que esta fosse um bem valioso e por isso muitas vezes era usada no mobilirio mais simples madeira que hoje consideraramos de refugo.

Mas o mobilirio no Egipto no era s feito de madeiras autctones. Para o mobilirio mais fino e de maiores dimenses a madeira era importada de outros locais. O bano do Sudo, a oliveira, figueira, zimbro, o cipreste, o cedro e o pinho da Fencia e da Sria.

A tcnica do folheado era j utilizada pelos egpcios na I Dinastia para cobrir a madeira de menor qualidade. O folheado em placas de espessura considervel era fixado com cavilhas de madeira, at que na XVII Dinastia apareceu o grude o que possibilitou , associado evoluo das tcnicas de corte da madeira, um folheado em placas muito mais finas com considervel economia das madeiras de melhor qualidade. A tcnica de encurvamento da madeira pela aco do calor era tambm j dominada pelos artesos egpcios.

GRCIA

Da Grcia no chegou at ns qualquer pea de mobilirio de madeira. A partir de pinturas em vasos de cermica possvel imaginar o tipo de mobilirio utilizado. Sabe-se que no havia 5

falta de madeira na Grcia e que a utilizao desta no mobilirio obvia, embora os gregos usassem tambm outros materiais para a confeco do seu mobilirio,tais como a pedra e os metais.

Na Grcia empregavam-se principalmente as madeiras autctones como o cedro,o pinho e o cipreste e algumas outras de diversas provenincias. A tcnica do embutido, com madeiras exticas, era usada na decorao de algumas peas de mobilirio em madeira, assim como a tcnica do encurvamento da madeira pelo calor que era utilizada para os ps das cadeiras Klismos.

ROMA

A influencia da Grcia faz-se sentir a todos os nveis no mobilirio romano de tal forma que alguns tipos de mobilirio eram reproduzidos exactamente. A utilizao de outros materiais para alm da madeira, tais como a pedra e os metais, foi tambm uma caracterstica do mobilirio romano. De tal forma que os romanos criaram uma nova tcnica de trabalho do bronze cinzelado que produziu exemplares de mobilirio com detalhes e elementos originais. Os mveis de bronze adquiriram uma extraordinria importncia uma vez que a maioria do mobilirio de luxo se fazia daquele material.

Mas os romanos usaram tambm a madeira no mobilirio, principalmente nos armrios e nos leitos. Algumas delas foram encontradas carbonizadas mas em bom estado nas escavaes de Pompia e de Herculano. As espcies de madeira empregues na construo de mobilirio em Roma era variadissima e de grande riqueza, sendo quase todas oriundas das colnias e provncias do Imprio.

BIZNCIO

No Imprio Romano do Oriente a madeira era o material mais importante na construo de mobilirio. Mas dada a escassa durao deste material no chegou at ns qualquer exemplar. O estudo do mobilirio deste perodo s foi possvel atravs de peas em materiais mais durveis e atravs de registos pictricos e representaes grficas. 6

Sabe-se no entanto que a madeira de predileo era o carvalho que era utilizado tambm na construo das peas mais representadas nos registos que eram os tronos e as cadeiras. Os tronos eram em geral pesadas peas em madeira com baldaquino e forma arquitectnica, colocados num estrado e com um banquinho para os ps. A decorao era vulgarmente pintada mas a marchetaria com madeiras raras, o trabalho de torneado e a talha eram tambm utilizados.

As tcnicas e competncia dos marceneiros clssicos foram preservadas no Imprio do Oriente por isso supe-se que as peas de mobilirio eram de elaborada confeco. Nos mveis de luxo a madeira de carvalho era chapeada a marfim ou a metais preciosos. Nas casas mais modestas as arcas eram rectangulares e de madeira, com construo almofadada em madeira pintada ou marchetada, as camas de madeira tinham os ps torneados muito elaborados.

IDADE MDIA ROMNICA

Neste perodo da Idade Mdia o mobilirio adaptou-se naturalmente s necessidades vitais daquela poca conturbada em termos sociais e polticos. Os mveis tinham portanto na sua concepo uma pura viso utilitria respondendo smente s necessidades prticas.

Os rudimentares mtodos de construo produziam mveis muito toscos e sem cuidados especiais na sua aparncia. Sem ornamentao que no fosse as ferragens que asseguravam a unio das partes, eram simples e rsticos. S a partir do sc XII o mobilirio comeou a ser mais bem construdo e com maiores cuidados no seu aspecto, uma vez que agora o mvel servia tambm como forma de distino social. Passaram ento a ser decorados com pinturas e com talha com motivos inspirados na arquitectura. O torneado e a marchetaria eram tcnicas decorativas usadas nos mveis de influencia oriental ou mourisca.

No que toca tipologia, a pea de mobilirio mais importante neste perodo foi a arca, que aparecia tanto nas casas ricas como nas modestas e nestas a arca tinha por vezes funo de mesa e de cama para alm de servir para arrumao.

A madeira de carvalho pela sua solidez e durabilidade era a mais utilizada na Europa naquela poca e principalmente nos povos do Norte. Na Europa Central usavam-se tambm a tilia e as 7

madeiras macias dos Alpes enquanto que em Espanha o carvalho e a nogueira e o castanho so as madeiras mais correntes assim como em Frana e Itlia.A par destas variedades de madeira era comum a utilizao do pinho e outras madeiras inferiores.

IDADE MDIA GTICA

Neste perodo assim como no anterior a madeira o material mais empregue na construo do mobilirio, embora se utilizasse o ferro para a construo de algumas peas, particularmente mveis de assento.

A madeira de carvalho ainda a mais freqentemente usada em quase toda a Europa e sobretudo nas regies mais setentrionais e ser assim sem alteraes at aos finais do sc.XV. A nogueira era tambm utilizada em Frana e Itlia, mas no tanto como o carvalho. No Norte da Europa as madeiras prprias daquela zona como a tlia, o pinho, o zimbro e o abeto, eram tambm utilizadas com frequncia. Em Espanha usava-se tambm o azinho em algumas peas de mobilirio para alm do carvalho e da nogueira .

A evoluo deste perodo acompanhada pela evoluo das tcnicas de construo. Novas tcnicas de unir as peas de madeira, permitem obter estruturas mais firmes e maior qualidade de construo. O aparecimento na Alemanha da serra hidrulica permitiu aproveitar melhor a madeira possibilitando o corte dos troncos em tbuas em vez de os fender com cunhas e depois os desbastar com machados como era uso fazer at ento. As tbuas grossas e pesadas que serviam de frentes aos mveis, passaram a ser substitudas por armaes rectangulares, onde eram inseridos painis de madeira, agora de espessura reduzida. Isto permitiu uma economia e um melhor aproveitamento da madeira.

Na decorao dos mveis, a marchetaria desaparece quase por completo, sendo a talha, a douragem e a pintura as formas de decorao mais utilizadas. As arcas continuam a ser a pea de mobilirio mais comum nesta poca, embora se tenham vulgarizado outras peas como o armrio.

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RENASCIMENTOITLIA

Foi em Itlia que o Renascimento apareceu muitos anos antes de se expandir pelo resto da Europa. Pode considerar-se que comeou em Itlia no sc. XIV, enquanto a Europa vivia ainda no perodo Gtico.Deve mencionar-se que em Itlia o Gtico no chegou a ser to assimilado como no resto da Europa e que por outro lado nunca chegou a perder a sua forte feio Clssica.

No Renascimento os ideais foram alterados e o mobilirio sofreu as conseqncias disso. Antes os mveis desenvolviam-se em altura e agora passam a desenvolver-se em largura como expresso da serenidade clssica. A ornamentao, particularmente a talha, tambm se alterou. Deixou de ser geomtrica e de um naturalismo rgido e simblico para passar a ser uma talha mais natural e de simbolismo pago. Houve tambm alterao na tipologia uma vez que no Renascimento passou a haver um mobilirio civil com maior importncia em oposio ao mobilirio medieval que tinha um cariz eminentemente religioso.

As alteraes introduzidas chegaram tambm madeira utilizada para a manufactura de mobilirio, sendo o carvalho,usado at aqui em primazia,substitudo pela madeira de nogueira. Podemos mesmo considerar que a nogueira foi a madeira do Renascimento,por ser uma madeira que se presta admiravelmente execuo de talha,que passou a ser a principal tcnica de decorao do mobilirio. A marchetaria (Intarsia) com madeiras exticas e materiais nobres voltou a ser utilizada tambm. A nogueira uma madeira mais macia e de veios mais finos que o carvalho, tem cores quentes que so realadas pelo seu brilho natural. Mesmo assim a nogueira no a nica madeira a ser usada nesta poca. No caso de mveis pintados ou estucados a madeira podia ser o pinho ou o cedro. Alm disso no mobilirio mais popular o carvalho, o castanho e outras madeiras de qualidade mais inferior continuaram a ser utilizadas. Estas madeiras de menor qualidade e mais correntes eram chapeadas na sua face externa com madeiras mais nobres e exticas, com maior qualidade decorativa. Neste caso o bano e o pau santo eram particularmente apreciados pela sua beleza e pelo acabamento que proporcionavam s superfcies. 9

FRANA

Foi o primeiro pas da Europa a adoptar o Renascimento Italiano por influencia da campanha militar que Carlos VIII empreendeu em Npoles em 1495. Quando regressou trouxe consigo no s o saque que inclua mobilirio, mas tambm as idias e o tipo de vida do Renascimento. Portanto a iniciao deste Estilo em Frana tem lugar nos reinados de Carlos VIII e Luis XII e tem o seu auge nos reinados de Francisco I (1515-1547) e Henrique II (1547-1610).

No reinado de Henrique II o Renascimento em Frana adquire uma identidade nacional que culmina no reinado de Henrique IV e termina no reinado de Luis XIII onde se vai dar a transio para o Barroco por influencia Flamenga.

Nas regies do Sul da Frana a madeira mais utilizada nesta poca passou a ser a nogueira, enquanto que nas regies do Norte o carvalho continuou a ser a madeira mais utilizada. Mais para o final do perodo o bano comeou a ser muito utilizado como madeira extica para alm de outras madeiras tambm importadas. A utilizao da madeira de bano deu origem ao nome de benista, que passou a designar os marceneiros mais especializados e que faziam a decorao e acabamento dos mveis, enquanto que os marceneiros se encarregavam do trabalho com as madeiras mais correntes, na construo das estruturas dos mveis.

ESPANHA

O Renascimento chegou a Espanha j no sc.XVI. Apesar das influencias recebidas de Itlia, Frana, Alemanha e Paises Baixos serem muito fortes, o mobilirio Espanhol do Renascimento teve um estilo caracterstico pela forma e decorao utilizadas. Exemplos disso so o mobilirio Mudejar de influencia Mourisca, e a decorao com marchetaria plateresca usada nos contadores vargueo.

Tambm em Espanha a madeira de nogueira era a mais representativa neste perodo. E como o inicio deste perodo do Renascimento Espanhol coincidiu com o descobrimento da Amrica, deve assinalar-se que o mogno chega a Espanha no final do perodo e muito antes de chegar ao resto da Europa. O pau-santo e outras madeiras com origem no Novo Mundo tambm se usam 10

em marchetaria e chapeados, assim como o bano. Mas estas no so as nicas madeiras usadas em Espanha na manufatura do mobilirio, visto que em Espanha existe uma grande variedade de espcies como o carvalho, a azinheira, o castanho e o pinho.

INGLATERRA

O Renascimento chegou tardiamente a Inglaterra, quando em Itlia e em Frana este tinha j um pleno desenvolvimento. Inglaterra, situada na orla cultural do Norte da Europa, recebe este novo estilo principalmente por influencia da Flandres.

com Henrique VIII (1498-1550) que se inicia este estilo em Inglaterra e que vai depois prolongar-se pelo reinado de Isabel I (1558-1603) no qual vai atingir o seu maior desenvolvimento. Pode dizer-se que a influencia do Renascimento em Inglaterra se fez sentir at muito tarde naquele pas, praticamente at quase ao final do sc.XVII, visto que a transio para o Barroco s se faz sentir com Jaime II em 1685.

no reinado de Jaime I (1603-1625) que o Renascimento Ingls inicia a sua expresso no estilo Jacobino, que perdura no reinado de Carlos I e na Repblica de Cromwell. O estilo Jacobino pois um estilo de transio entre o Renascimento e o Barroco. A transio para o Barroco d-se a seguir com Jaime II. a chamada poca do carvalho em Inglaterra porque esta praticamente a nica madeira utilizada. S no perodo da Republica de Cromwell que aparece a nogueira que vem dos paises do Sul, por se adaptar melhor ao torneado e talha.

ALEMANHA

O Renascimento chega Alemanha pela influencia de Itlia e da Flandres. Esta influencia justifica-se pela proximidade geogrfica da Flandres, com a qual tem fronteiras a Norte, e da Itlia a Sul. Uma vez que as influencias so diferentes, o desenvolvimento do estilo tambm vai ter as suas diferenas.

Os Kleinmeisters, desenhadores de ornatos, foram os que mais influenciaram a decorao dos mveis visto que seguiram com avidez o exemplo dos artistas Italianos, substituindo os 11

ornatos Gticos pelos Clssicos. nos centros do Sul, Nuremberg e Augsburg que o mobilirio Alemo alcana o seu apogeu no Renascimento por influencia Italiana e atravs de Fltner que em 1540 introduz, depois da sua estadia em Itlia, as novas tendncias.

Tal como em qualquer poca, certo que os materiais pela sua proximidade e disponibilidade influem muito no desenvolvimento do carcter do mobilirio, mas na Alemanha isto particularmente verdade neste perodo. Assim e no Sul usavam-se as madeiras macias de conferas como o pinho o abeto e o larcio, chapeados com a tlia e o freixo, at que por volta de 1600 se inicia a utilizao da nogueira. Nas regies do Norte pelo contrrio as madeiras duras eram as mais utilizadas tais como o carvalho que dominante. S a partir do sc.XVII que se comea a utilizar o bano como nos outros paises da Europa.

Sendo assim, verifica-se que existe uma diferena acentuada entre o mobilirio Alemo do Renascimento do Norte, que se assemelha mais ao dos Paises Baixos e do Norte da Franca e Inglaterra, e o do Sul, que se assemelha mais com o do Norte de Itlia.

FLANDRES

Os Paises Baixos comearam a sentir a influencia do Renascimento no sc XVI embora o estilo Gtico tivesse perdurado at segunda metade daquele sculo. Como pas rico e burgus com importantes trocas comerciais com outros paises e com as suas colnias, vai ter um desenvolvimento importante na arte da construo do mobilirio.

O mobilirio da Flandres desta poca tem caractersticas muito prprias onde se fundem o carter prtico com a elegncia e beleza, sem ser excessivamente sumptuoso, e com a excelente qualidade de construo.

A madeira de carvalho comeou a ser substituda pela de nogueira medida que a nova esttica do Renascimento se impe. J em plena poca a madeira de bano fez a sua apario, e pela sua extraordinria dureza e dificuldade em ser trabalhada e ainda por ser cara, exigiu uma evoluo na tcnica da sua utilizao que faz surguir a benisteria como Ofcio, semelhana do que acontecia em Frana. Os benistas vo levar at perfeio as tcnicas em uso na construo, decorao e acabamento dos mveis. O pau-santo e outras madeiras raras 12

chegavam Flandres atravs do comrcio regular com as ndias, e eram usadas em placagem de outras madeiras mais vulgares.

SCULO XVII TRANSIO PARA O BARROCO

FRANA

LUIS XIII

Na histria do mobilirio existe um perodo claro de transio do Renascimento para o Barroco que comeou em Itlia muito antes de ter comeado no resto da Europa, mas em Frana no reinado de Luis XIII (1610-1661) que adquiriu maior singularidade. Este perodo corresponde a uma poca em que paira nas mentalidades e atitudes uma certa tristeza, severa e grave. O prprio monarca uma figura apagada e triste que ultrapassada pela figura do Cardeal Richelieu. Esta conjuntura vai influenciar o estilo do mobilirio da poca, por isso os mveis so austeros, pesados na sua opulncia e sobriedade onde no existe o luxo na decorao, dando a impresso de apenas servirem uma utilidade prtica. A influencia Espanhola atravs da Rainha Ana de ustria filha de Filipe III de Espanha, tem grande importncia na sobriedade e austeridade mencionadas.

Contudo, com Luis XIII que surgem novos tipos de mobilirio tais como as cmodas, as secretrias, as chaise longe, o lit de reps, o canap, os roupeiros e louceiros, peas estas de menores dimenses e mais fceis de deslocar e que facilitavam a arrumao e decorao de interiores.

As madeiras mais utilizadas neste perodo em Frana so o carvalho e a nogueira, mas no final do reinado de Luis XIII comeou a usar-se mais o bano do que se usava at ai. Para as estruturas dos mveis e para os armrios usavam-se madeiras indgenas e menos nobres como o choupo. A pereira e a madeira das fruteiras tambm eram utilizadas escurecidas. Tambm se fazia a placagem com pau roxo (amaranto). 13

BARROCO SC. XVII

ITLIA (1600-1690)

O bero do Barroco foi a Itlia tanto na Arquitetura como no mobilirio onde as primeiras expresses se comearam a revelar ainda no sc. XVI. A gradual modificao da vida das pessoas e os novos costumes da burguesia e da crte exigem agora uma maior exuberncia, riqueza e comodidade nos mveis. Por outro lado, o aperfeioamento das tcnicas e a introduo de novos materiais e madeiras exticas como o mogno, e a criao de novos tipos de mobilirio, impem um novo estilo. Estilo este que promoveu uma nova traa mais flexvel e que transmitia movimento ao desenho do mobilirio. um corte com a linha recta do Renascimento, a esttica transforma-se em dinmica, e as grandes superfcies planas fazem-se curvas. Comea a dar-se mais importncia aparncia, exibio e ao luxo ostentoso.

Mas em Itlia, onde se estava demasiado apegado s regras e normas do Renascimento, no permitido mais do que a evoluo natural das antigas estruturas, e poucos tipos novos de mobilirio vo aparecer.

No que toca s madeiras utilizadas, a nogueira continua a ser a madeira mais utilizada para alm do carvalho. O bano tambm muito usado para alm de outras madeiras exticas importadas como o pau-santo e o mogno.

FRANA

LUIS XIV (1661-1715)

a Frana que h de ditar as normas do mvel Barroco em toda a Europa, apesar de as modas da crte Francesa terem sido influenciadas pelo gosto Barroco Italiano. O Estilo Luis XIV representa a plenitude do Barroco do sc.XVII em Frana. um estilo ditado puramente pelo gosto do Monarca Rei Sol onde este exerce a sua influencia pessoal a todos os nveis da Arte. 14

Este estilo espalha-se por todo o continente atravs da produo de peas feitas nas manufaturas de Gobelins que foram fundadas em 1662 e onde se juntaram a trabalhar os melhores artistas e artesos da poca incluindo os benistas. O Director destas indstrias, Charles Brun, teve uma importncia decisiva na forma como as artes e o estilo evoluram.

Como j se viu o Estilo Luis XIV era um estilo ulico mas que era reproduzido pela burguesia, com mais modstia, em mveis em que a madeira no era to ricamente decorada e a talha se baseava em motivos mais populares. Neste estilo a madeira mais utilizada para os mveis da crte era a nogueira, que era dourada quase sempre. No mobilirio burgus a nogueira no recebia o processo de douragem normalmente, e eram utilizadas tambm outras madeiras como o carvalho e a faia para o mobilirio de assento. A madeira para a construo dos grandes mveis, como os armrios e as bibliotecas continuava a ser o carvalho.

A madeira de carvalho era cortada em toros e deixada a secar vrios anos. Depois os toros eram cortados em pranchas no sentido do comprimento e colocadas em pilhas com as tbuas intercaladas por calos para que o ar circulasse e ajudasse a secagem. Estes tratamentos rigorosos tinham o objetivo de evitar a deformao posterior da estrutura dos mveis que ia servir depois de base para a placagem e marchetarias. Era portanto sobre uma estrutura, que graas s tcnicas de construo apuradas e s novas tcnicas de secagem da madeira, era de uma solidez a toda a prova, que se colavam as madeiras de placagem ou a marchetaria.

Para as cadeiras a madeira de nogueira continua a ser a preferida por ser mais dcil que o carvalho para o trabalho de entalhador. Mas no final do sc.XVII e medida que os motivos esculpidos vo sendo menos exuberantes e abundantes, a madeira de faia comea a generalizar-se para a construo de mobilirio de assento como as cadeiras e os fauteuils, pela sua durabilidade e resistncia aos choques. A placagem em bano to em voga no estilo Luis XIII, substituda progressivamente, por placagem e marchetaria em madeiras das Ilhas em cores contrastantes.

FLANDRES -(1550-1690)

Nesta poca, e com o final do domnio Espanhol, a Flandres era uma regio rica com um grande domnio dos mares. Esse domnio possibilita a facilidade de trocas mercantis de 15

produtos do Oriente, sendo que na altura a Flandres era a porta de entrada na Europa de todos os produtos vindos daquelas paragens. Isto fez crescer na Flandres uma classe burguesa de prsperos mercadores que detinham o poder e dominavam o gosto e a moda. Sendo pessoas de trabalho, embora ricas, tinham um gosto simples, austero e sem ostentao, o que determinou a evoluo do mobilirio Barroco na Flandres.

O uso do folheado foi desenvolvido pelos benistas da Flandres e as marchetarias naturalistas com motivos de flores e de frutos, que pareciam verdadeiras pinturas, eram muito usados na ornamentao do mobilirio.

As madeiras mais utilizadas eram o carvalho e a nogueira. A nogueira era tambm utilizada em placagem assim como o pau santo e o bano. As madeiras de fruteiras, limoeiro, pereira, cerejeira, amendoeira, laranjeira e amoreira, em conjunto com o bano eram utilizadas em embutidos. Na marchetaria a nogueira era utilizada assim como a oliveira e a tlia. O castanho e a sorveira eram tambm usadas em algumas peas de mobilirio.

INGLATERRA

Em Inglaterra este perodo do Barroco do sc.XVII, engloba trs estilos, a referir: O Estilo Jacobino de 1603 a 1660 O Estilo Restaurao de 1660 a 1670 Estilo William and Mary de 1670 a 1695

O Estilo Jacobino tinha ainda um grande cariz Renascentista embora as influencias do Barroco fossem j sentidas naquela primeira metade do sculo. Os perodos conturbados da guerra civil e da Rpublica de Cromwell, em boa verdade atrasaram o processo de adopo do estilo Barroco. Que s veio a recomear em 1660 durante o reinado de Carlos II com o estilo Restaurao. O estilo Jacobino pode pois ser considerado um estilo de transio do Renascimento para o Barroco.

No Estilo Restaurao, a influencia chegou via Holanda devido s boas relaes e trocas comerciais entre essas duas naes Europias e porque Carlos II esteve exlado na Holanda assim como esteve em Frana. de referir o contributo de algumas caractersticas do 16

mobilirio Portugus do sc.XVII, que influenciaram o mobilirio Ingls desta poca, atravs da Rainha Catarina de Bragana que era portugusa. O reinado de Carlos II no pode, no entanto,considerar-se que seja j um perodo de pleno Barroco.

Segue-se outro perodo de indefinio no reinado de Jaime II (1665-1670) e que corresponde ao final do estilo Restaurao. O primeiro estilo Ingls que se possa considerar verdadeiramente inserido no esprito do Barroco foi o de William and Mary, j no final do sc.XVII, e com forte influencia Flamenga atravs de Ghilherme de Orange que era Holands. por isto que se pode afirmar que a verdadeira expresso do Barroco em Inglaterra se manifesta j tarde.

A madeira mais utilizada na primeira metade do sculo continua a ser a de carvalho, mas a partir dai e medida que o Barroco comea a ser introduzido a nogueira comea a estar na moda. O pinho era tambm usado para fazer arcas e cofres de viagem que eram forrados a couro. Os carpinteiros foram dando lugar aos benistas medida que as tcnicas da placagem e da marchetaria iam passando a ser mais utilizadas. A placagem era feita com madeiras como o freixo, o pau violeta e a oliveira. A madeira de espinheiro e a raiz de nogueira eram utilizadas para fazer embutidos em madeiras contrastantes.

ALEMANHA (1610 a 1680)

O Barroco chegou Alemanha, atravs das suas fronteiras com a Frana e com a Flandres, em meados do sc. XVII, em conseqncia do intercambio de artistas entre estes Paises.

A madeira de nogueira ainda a mais utilizada em conjunto com as madeiras nacionais do Sul como o pinho, o abeto e o larcio. Estas madeiras eram enriquecidas em marchetarias e embutidos de madeiras exticas e bano.

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ESPANHA As influencias do Barroco comeam a fazer-se sentir em meados do sc.XVII. Tal como na Europa a indstria do mobilirio em Espanha tem escolas, com diferentes tendncias e influencias nas diferentes regies do pas. Na Galiza as influencias mais importantes so as de Portugal e Inglaterra, na Catalunha de Itlia, na Andaluzia de Inglaterra tambm. A Escola Salmantina ou Churriguerresca (por influencia de Jos Churrigerra) foi sem duvida a mais representativa do Barroco em Espanha. No reinado de Carlos II desenvolve-se um Barroco mais nacional em que o nome de Jos Churriguerra est indissoluvelmente associado.

As madeiras utilizadas no mobilirio Espanhol do Barroco do sc.XVII so em primeiro lugar a nogueira depois o carvalho e por ultimo o castanho, para alm do pinho que se usava escurecido ou coberto com plaqueados de outras madeiras. O bano e o mogno, que chegou a Espanha muito antes de ao resto da Europa, eram tambm usados mas somente em plaqueados.

PORTUGAL

O mobilirio Barroco Portugus do sc.XVII foi pela sua originalidade e pelos motivos decorativos utilizados o nico mobilirio Portugus que se imps pelo seu carter muito prprio. O sc.XVII em Portugal sob o aspecto poltico e econmico foi um perodo difcil marcado pelo domnio da cora espanhola seguido das guerras da restaurao. Para compensar o isolamento em relao Europa, os contactos com o oriente so intensificados, o que vai ter influencia no mobilirio conferindo mais exotismo e originalidade.

A primeira metade do sculo que corresponde ao perodo Filipino (Maneirismo-Barroco Inicial), produziu peas de carter mais austero com linhas mais retilneas, sem volumes salientes, de regra mais clssica, com torneados mais singelos. Na segunda metade do sculo (Barroco) o mobilirio torna-se mais exuberante, os torneados tornam-se mais volumosos e com mais movimento com grandes bojos e estrangulamentos vincados. neste perodo que o mobilirio portugus adquire caractersticas de maior personalidade e originalidade destinguindo-se de todos os estilos europeus, de tal forma que Robert Smith lhe chamou Estilo Nacional Portugus.

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Na tipologia dominante destingem-se os contadores cuja caixa com gavetas vista geralmente decoradas, se ajustava a uma trempe, bufetes, as cadeiras e os leitos que nesta poca rivalizavam em beleza com o melhor que se fazia na Europa. Para a sua confeco , assim como para muitas outras peas de mobilirio, escolhiam-se madeiras exticas entre as quais predominava o pau santo cuja essncia dura e lustrosa permitia aos artesos mostrarem a sua percia na execuo dos goivados e dos tremidos .

O mobilirio Indo-Portugus assumiu em todo o sc.o estatuto de mobilirio de luxo, visto que as peas vindas do oriente no eram abrangidas pelas leis de austeridade Filipinas, o que tornou estas peas de particular fascnio. As peas encomendadas na ndia tem formas ocidentais mas utilizam madeiras e algumas tcnicas de construo e temas orientais atingindo portanto uma especificidade prpria e que se pode considerar um estilo hbrido muito peculiar.

Na primeira metade do sculo as madeiras da terra, o carvalho, o castanho, e a nogueira eram as mais utilizadas. A estas vm juntar-se as de fora, o pau santo, o pau rosa, o bano, o Gonalo-Alves e o vinhtico. Na segunda metade do sculo as madeiras mais usadas eram a nogueira, o carvalho, o castanho, o vinhtico, o pau santo, e a sucupira. No mobilirio Indo-Portugus as principais madeiras utilizadas so o bano o pau santo, a sucupira, o siss e a teca

BARROCO DO SC.XVIIIFRANA

Estilo Regncia 1700-1723

o estilo de transio entre os estilos de Luis XIV e Luis XV, cujo nome lhe atribudo pelo perodo de Regncia do Duque de Orlans. Apesar de ser um estilo que deu os seus primeiros passos ainda no reinado de Luis XIV quando este mandou redecorar algumas divises do Palcio de Versailles. Com a regncia do Duque a crte mudou-se para Paris e a vida comeou a ser diferente. Perdeu-se a pompa o fausto a opulncia e o formalismo que eram obrigatrios com Luis XIV. A burguesia que ditava agora a moda na direco do gosto pela leveza e 19

elegncia associados ao conforto, com um estilo de vida mais tolerante e livre. Os ambientes tornam-se mais leves e ntimos e por isso o mobilirio passa a ser de dimenses mais reduzidas e mais confortvel. H quem considere que esta poca no corresponde a um estilo mas sim a um perodo no qual se deitou terra a semente do Rocaille.

Neste perodo a madeira de nogueira continua a ser utilizada, principalmente no Norte e no Oeste para os beaux meubles e cadeiras, por ser mais fcil de trabalhar na talha. O carvalho continua a ser a madeira de base para a maior parte dos grandes mveis , armrios e buffets. No mobilirio do Sudoeste, cujo centro Bordus comea a utilizar-se o mogno.

A faia apesar de ser considerada uma madeira inferior, flexvel e resistente e por isso muito usada no s no mobilirio da provncia mas tambm no mobilirio de assento da crte, na sua prpria cor ou dourada. A tlia tambm se usa dourada, e alis, por os seus veios e contra-veios no contrariarem o trabalho de talha, era a madeira considerada ideal para acabamentos a dourado, que se utilizava nas consolas e nas molduras de quadros e espelhos.

As madeiras das fruteiras como a cerejeira o limoeiro e a pereira tambm se utilizavam. A pereira enegrecida acabou por substituir quase completamente o bano que por ser mais caro e difcil de trabalhar caiu em desuso.

O abeto servia para a construo de mveis correntes e para mobilirio marchetado com outras madeiras. Na marchetaria usavam-se madeiras exticas como o pau cetim, pau santo, pau roxo, pau rosa, pau violeta, e tambm madeiras indgenas como o padreiro e o limoeiro, e ainda razes de olmo.

Estilo Luis XV 1723-1774

O perodo do Rocaille Francs corresponde poca de ouro do mobilirio Francs. O pacfico reinado de Luis XV foi um perodo de desenvolvimento das artes e das cincias, com a construo de novos Palcios e o reflorescimento da pintura e da escultura. Tudo isto numa conjuntura social e poltica propcia a uma forte mudana e evoluo. Desde o inicio do Sc.XVIII que o desejo de mudana aponta na direo de rejeitar tudo o que invocava a inflexibilidade e o rigor de Luis XIV, e na tentao pelas formas que ainda faltava inventar. Foi 20

portanto a rejeio das linhas retas e riguidas, da simetria, com a opo pelas linhas curvas e assimtricas que apesar de parecerem caticas tem um admirvel equilbrio na sua aparente desordem.

As pernas dos moveis passam de direitas a curvas em S ou cabriolet. O mobilirio passa portanto a ser airoso, leve, claro e alegre apesar de exuberante o que joga perfeitamente com o ambiente social. Esta mudana no estilo do mobilirio reflete tambm o talento dos benistas que foram os responsveis pela interpretao do esprito da poca e de o traduzirem na sua arte.

Para os grandes mveis a madeira mais utilizada continua a ser o carvalho porque assegurava estruturas slidas. Era tambm utilizado para estruturas de outros mveis que eram marchetados e folheados para os quais se utilizava tambm o abeto e a tlia. Para as cadeiras usava-se a faia pintada ou dourada, por ser malevel e resistente. A nogueira continuava a usar-se para o mobilirio entalhado.

A marchetaria toma grande importncia neste perodo uma vez que a importao de madeiras exticas oferece uma grande escolha de cores variadas, o que permite aos benistas fazer autenticas pinturas em madeira. O mogno, o pau santo e a sua variante pau violeta, o pau rosa, o pau cetim, o sndalo e a macacaba, que eram importadas, eram utilizadas em conjunto com madeiras nativas como a oliveira, buxo, uva-espim, junquilho, e o bordo. As madeiras das fruteiras como a cerejeira brava, pereira, limoeiro, e ameixeira eram tambm usadas em folheados e em marchetarias.

ITLIA

Em Itlia o estilo rococ apresenta-se como uma interpretao exagerada do Rocaille e produziu verdadeiros exageros na explorao das linhas e tendncias decorativas do rococ Francs.

A madeira de nogueira passa a ser a mais utilizada neste perodo.

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INGLATERRA

Em Inglaterra o Rococ no passou de uma breve fantasia. Com esta poca chega o momento do apogeu no mobilirio Ingls. Houve alguns factores que tiveram influencia decisiva, como o facto de a nao entrar em perodo de paz e estabilidade; a introduo do mogno, cuja facilidade em ser trabalhado, finura e beleza fazem dela uma madeira muito apreciada; e por ultimo a aco de um grande artista Thomas Chippendale.

Chippendale que vem de uma antiga famlia de banistas nasce em 1718, trabalha durante os reinados de Jorge II e Jorge III e morre em 1779. Com Chippendale a Arte burguesa torna-se evidente e a sua influencia estende-se tambm a outros paises da Europa. O mobilirio palaciano da poca foi grandemente influenciado por William Kent. O seu estilo era arquitetural e pesado, estava carregado de ornamentos clssicos.

As madeiras que usava em certas peas, alm do mogno, como a faia e o pinho podiam ser elaboradamente entalhadas e depois douradas. Estas madeiras macias eram muito apetecidas pelos insetos xilfagos e por isso poucas peas sobrevivem hoje.

Estilo Queen Anne

No reinado da Rainha Anne (1702-14) chega-se ao estilo chamado de Queen Anne, o primeiro estilo barroco puro, sbrio, simples, racional, elegante e confortvel. Caracterizava-se pela acentuada preferncia pela simplicidade e beleza das linhas onde a ornamentao tinha um papel secundrio.

um perodo de acalmia entre dois estilos mais exaltados, o W. and Mary e o Early Georgean, onde se difunde e caracterstica a perna em forma de S alongado. Esta perna, que era usada como suporte em todos os tipos de cadeiras e mesas, era cortada numa pea nica de madeira de seco quadrada.

A nogueira continua a ser a madeira mais usada durante o reinado da Rainha Anne. o ultimo estilo do perodo da nogueira. Com o emprego deste tipo de madeira nasce a tcnica da placagem em Inglaterra que substitui muitas vezes a madeira macia. Alguns moveis mais 22

preciosos so plaqueados a pau violeta, freixo e oliveira, trabalhados de maneira a tirar partido da beleza natural da madeira. A raiz de nogueira era tambm utilizada.

Estilo Georgiano

O reinado de Jorge I inicia o perodo longo do Estilo Georgiano que dura 110 anos de1720 a 1830 e que inclui vrios estilos com tendncias que vo do barroco ao neoclssico. O Early Georgean ou Georgiano primitivo que dura de 1720 a 1740; o Chippendale que vai de 1740 a 1760. Este estilo continua na segunda metade do sculo XVIII na corrente esttica do Neoclssico com os estilos de Adam e Hepplewhite (1760-90) e Sheraton (1780-1800) e que vo ser tratados no perodo do Neoclssico.

Early Georgean

No reinado de Jorge I, a influencia do arquiteto e projetista de mveis William Kent, trs um estilo de grande exuberncia que tem muito a ver com o barroco Italiano, muito escultural com talha muito profunda e decorao variada. Durante esta primeira poca do Estilo Georgiano (Georgiano primitivo) o trabalho de talha passou a ser mais elaborado e o uso do mogno passou a substituir a nogueira. o estilo que inicia o perodo do mogno.

A escassez de nogueira vinda de Frana por causa do embargo que os franceses colocaram a Inglaterra, provocou uma maior procura de alternativas. Os construtores de mobilirio passaram a importar a nogueira da Virginia, at que em 1721 foi abolido o imposto que incidia nas madeiras das colnias inglesas na Amrica central e ndias ocidentais, o que incentivou a utilizao do mogno das Antilhas, e que veio a ter grande aceitao por parte dos construtores e dos clientes. Assim sendo, em 1725 introduzida a madeira de mogno que se impe como a madeira de eleio para o mobilirio. Muito resistente, e refratrio s picadas dos insectos da madeira, adquire brilho mais facilmente que a nogueira e quando tingido adquire uma cor avermelhada muito apreciada. No fcil de utilizar em placagem mas presta-se muito bem ao trabalho de entalhador.

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Chippendale

O reinado de Jorge II trs um estilo de puro e perfeito barroco Ingls, o Estilo Georgian que caracterizado pelo desempenho de Chippendale. nesta altura que o mobilirio Ingls, aburguesado e confortvel, se destaca definitivamente com caractersticas prprias, do mobilirio Barroco do continente.

O mobilirio torna-se mais rico em talha e decorao desaparecendo os torneados e as marchetarias. Em geral o mobilirio Barroco Ingls caracteriza-se pela sua linha estrutural lgica, pela elegncia do conjunto e pela continuidade da silhueta mais que pela riqueza e profuso da talha que no chega a ser to exagerada como no continente. O dinamismo do Barroco em Inglaterra muito contido.

Chippendale conseguiu conciliar a arte da concepo do mobilirio com a sua industrializao.Criou uma firma para a comercializao das suas linhas de mobilirio que eram acessveis a um grande nmero de pessoas de diferentes estratos sociais. As peas mais caractersticas do seu estilo, embora fizesse todo o tipo de mveis, eram as cadeiras. O seu estilo sofre ao longo deste perodo influencias de trs fontes diferentes a referir: do Rocaille Francs; do exotismo do oriente e particularmente da china; e do revivalismo do Gtico.

Chippendale adopta com carter quase absoluto a madeira de mogno, passando esta a ser a madeira da poca. Trata-se de uma madeira que com o tempo e uso adquire uma bela patina, slida, fcil de trabalhar at na talha onde a sua rijeza e veio apertado permitem um trabalho minucioso, com grande variedade de tons e veios, e que permite fazer tabuas largas para tampos de mesas e ilhargas de guarda fatos, para alem de resistir bem ao apodrecimento. de mencionar que o mogno no era utilizado no mobilirio eclesistico. Era possvel distinguir diferentes variedades como o mogno de cuba, e o mogno de So Domingo mais escura, sendo a primeira mais fcil de trabalhar e mais fina. Os grandes planos dos mveis eram chapeados com madeiras exticas ou eram lacados ou dourados.

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ALEMANHA

O Estilo Rococ foi avidamente adotado na Alemanha, que na altura estava dividida em vrios estados. Mas como cada prncipe estava interessado em impr na corte o seu gosto pessoal havia muitas variaes. Os dois estilos com mais definio foram o Rococ Bvaro e o Rococ Fredericano (ou Potsdam) que se desenvolveu no norte de 1740 a 1760.

Kambly, Hoppenhaupt e Cuvillis so os artistas que caracterizam mais fortemente este perodo do barroco na Alemanha. O Rococ Alemo teve como caracterstica um exagero dos modelos quer de Frana quer de Inglaterra .

A madeira de nogueira e as madeiras nacionais do sul continuam a usar-se como as principais, enriquecidas com marchetarias e embutidos de madeiras exticas. Usava-se tambm o mogno para as cadeiras.

ESPANHA

com Filipe V - Prncipe Francs que inicia a dinastia dos Borbons - que as tendncias do Rocaille Francs so assumidas em Espanha , e isto observa-se principalmente nos mveis da corte.

Em 1759 quando Carlos III (VII de Npoles) regressa a Espanha trs consigo de Itlia os artistas e mobilirio dos seus palcios que de Estilo Luis XV. Deve referir-se que Carlos III regressa impressionado com as recentes descobertas nas escavaes de Pompia, e por isso que no final do seu reinado assim como no resto da Europa acontece um retorno ao gosto clssico (Neoclssico). atravs destas duas fortes influencias, a Francesa e a Italiana que o mvel espanhol vai perdendo a rigidez e austeridade que o caracterizavam, para nunca mais voltar a criar peas com carter que possam voltar a fazer escola.

O mobilirio da corte e da aristocracia era encomendado principalmente em Frana, e o mobilirio nacional limitava-se a imitar o importado, mas com uma execuo deficiente. As madeiras utilizadas continuam a ser a nogueira e o mogno como as mais nobres, e o carvalho e o castanho e o pinho bravo, que so abundantes em Espanha, para o mobilirio popular. 25

No se deve esquecer que o mobilirio da crte e da aristocracia vinha de Frana e por isso era feito com as madeiras a usadas na poca.

PORTUGAL

O Rococ encontra em Portugal a sua expresso nos Estilos de D. Joo V (1706-1750) e de D. Jos I (1750-1770) que so estilos com interpretaes nacionais das influencias recebidas de Inglaterra e Frana. Os estilos de mobilirio em Portugal foram influenciados pelos acordos mercantis com Inglaterra e pelo j duradouro comrcio com as ndias e com a Amrica do sul. A influencia do Rocaille francs foi adaptada em formas menos exuberantes e com muitos elementos do mobilirio ingls. S na crte de D. Joo V que o rococ foi acolhido com toda a sua riqueza.

Em Portugal vive-se uma poca de grande cosmopolitismo. As riquezas do Brasil possibilitam uma grande abertura Europa de onde vm mveis e artistas de todas as reas. D. Joo V como grande mecenas fz encomendas sumptuosas. Os marceneiros portugueses sentiram grande empatia pelo Rococ e com a sua singular capacidade de adaptao das influencias estrangeiras imitaram e recrearam-nas misturando estilos, ajudados pela qualidade das madeiras do Brasil que permitiam todos os virtuosismos. No fundo, nacionalizaram todas as influencias conseguindo peas plenas de expressividade e inconfundveis. As cadeiras dos estilos ingleses Queen Anne e Chippendale foram reinterpretadas numa forma

inconfundivelmente portugusa, muitas vezes em pau santo em vez de nogueira

Os mveis portugueses desta poca caracterizam-se por terem uma tendncia utilitria apesar de serem ricos em talha. Que pode ir da pujana e plasticidade barroca finura da interpretao Rocaille da talha no estilo D. Jos, de baixo relevo mas precisa e preciosa, especificamente Nacional. O partido tirado das superfcies lisas, onde se deixa a madeira falar, sem serem necessrios elementos decorativos, tambm uma caracterstica deste estilo.

Tal como nos outros paises da Europa a idia de conforto acentua-se. E medida que se vai impondo essa ideia novas tipologias vo aparecendo. So de destacar como mais caractersticos em Portugal o mobilirio de assento e sem duvida a cmoda, que apesar de no ser uma nova tipologia, adquire formas e funes nunca antes exploradas. Tm na sua maioria gavetas at ao 26

cho e podem ser papeleiras com ou sem alado, que pode ter uma infinidade de variaes das quais se deve destacar o oratrio.

Inicia-se a moda dos marchetados com madeiras claras, como o pau rosa e o espinheiro, por influencia do rocaille. A madeira de pau santo, e as suas variaes, a mais utilizada embora se use tambm a nogueira. O carvalho continua a ser usado mas coberto com acharoados e dourados. O castanho tambm se usava pintado e dourado.

PASES BAIXOS

Durante a primeira metade do sc.XVIII o mobilirio Ingls era muito apreciado na Holanda. Por isso o mobilirio Holands tm muito em comum com o Ingls. A nogueira era escolhida para as peas de maior qualidade. Em alternativa usavam-se as madeiras de laburno, accia ou outras madeiras exticas.

NEO-CLSSICO

FRANA

Em finais do sc.XVIII surge na Europa o No-Classicsmo em conseqncia dos achados histricos de escavaes feitas em Pompia e Herculano,que estimularam um exaltado culto pela antiguidade clssica.

ainda no reinado de Luis XV, quando a sociedade aristocrtica comeou a ficar cansada do Rocaille, que se inicia uma reaco ao dinamismo do Rococ, e se observa que o mobilirio comea a ser menos exaltado e mais equilibrado. As linhas curvas e revoltas do Barroco passam a ser rectas e repousadas e a sua decorao passa a ser mais austera e clssica.

No final do sculo com o reinado de Luis XVI os mveis so cada vez mais nmerosos e a sua tcnica chega a uma perfeio mxima. A habilidade dos artfices franceses chega ao seu 27

apogeu. A grande variedade de materiais era utilizada com extrema percia. O mvel no perde o seu carter francs e os modelos so perfeitos, com uma grande pureza de linhas, equilbrio e proporo. O retorno ao clssico no brusco porque se enlaa com o estilo anterior. O estilo Luis XVI que no mais do que a primeira fase do Neo-Clssico, portanto um estilo de transio entre o Rocaille de Luis XV e o estilo que surge aps a revoluo francesa que ao acabar com a monarquia procura renovar os costumes das antigas repblicas Grega e Romana.

Surge o Estilo Directrio (1795-99) e mais tarde o Consulado , que so evolues do Neoclssico em direco ao Estilo Imprio que o culminar da tendncia neo-clssica j no sc.XIX. Aps a revoluo o mobilirio torna-se mais severo e menos rico. Abandona-se a marchetaria e outras tcnicas decorativas mais ricas. Aparecem novos modelos que podiam ser a la grega, a la etrusca, revolucionaria etc.. No fundo so modelos Luis XVI simplificados e ornamentados com smbolos revolucionrios.

Nesta altura em Frana o mogno era j uma madeira insubstituvel e que se usa agora quase sempre na sua cor original, embora possa aparecer pintado em cores claras. No entanto o carvalho, a faia , a nogueira e o castanho e a cerejeira ainda so utilizadas. Utiliza-se as madeiras exticas em placagem, tais como o sapeli, pau rosa, e o pau santo. As bordaduras escuras dos tampos ou mesmo os grandes planos so em pau santo e bano. Os filetes em madeiras claras e rosadas. Folheados em tuia e pau rosa de Timor (amboyna). As marchetarias em pau rosa, pau violeta, pau roxo, e pau cetim.

INGLATERRA

Tambm em Inglaterra se vai observar o mesmo movimento que no continente e o mobilirio afasta-se das linhas dinmicas e desequilibradas do Barroco para se tornar mais clssico, de linhas mais finas e vigorosas com uma decorao mais escassa e sbria, mas com uma evoluo quase sem relao com a do continente. Este perodo (1760-1800) tambm conhecido como Late Georgian.

Chippendale, que foi o artista mais significativo do Barroco, passa a executar mveis com as novas normas. Mas o perodo de Chippendale est a acabar, e novos artistas e criadores do 28

novo estilo comeam a destacar-se. Destes, os irmos Adam, Hepplewhite e Sheraton so os que mais se destacam.

As obras de Adam confundem-se com as de Hepplewhite e Sheraton, mas no por falta de personalidade mas porque os estilos tm semelhanas. Hepplewhite tem um temperamento mais flexvel e requintado que se coaduna mais com Chippendale, enquanto que Sheraton representa uma maior rigidez e severidade que tem mais a ver com o Diretrio e o Imprio franceses. Todos eles so contemporneos e as fontes so as mesmas e o intercambio de influencias constante. Os Adam adoptam as formas francesas e italianas e adaptam-nas ao gosto burgus Ingls. R. Adam (1728-1792) substituiu a moda paladiana que predominava por um estilo mais elegante, gracioso e verstil que agradou a todas as classes sociais.

Hepplewhite que tem uma grande sensibilidade aperfeioa os seus prprios modelos com a introduo de linhas curvas suaves e onduladas em vez de linhas retas e rgidas. Sheraton tem um carcter prprio, mais rigidamente ligado linha reta. A sua severidade e simplicidade tm grande sintonia com as correntes que chegam do continente nos primeiros anos do sc.XIX que se ligam ao Estilo Imprio Francs. De todos Sheraton que viveu ate 1806 o nico que chega a conhecer a evoluo completa do Neo-clssico ao Imprio.

Sob a influencia de Adam, Hepplewhite e Sheraton as artes do folheado, do embutido e da marchetaria alcanaram o maximo da perfeio e beleza. A decorao pintada do mobilirio andava a par com o gosto pelas madeiras claras. A madeira de mogno usada sem a sobreposio de decoraes em bronze das pocas passadas e s realada pela marchetaria que estava esquecida desde os tempos da Rainha Anne, mas usada smente com um sentido geomtrico e arquitetnico.

Outra madeira utilizada normalmente em plaqueado ou folheado o limoeiro. uma madeira muito clara e brilhante que se usa para realce em embutidos com outras madeiras escuras ou com pinturas. A madeira de faia usada pintada. O cer e o pau cetim so tambm utilizados no final do sculo. Usa-se folheados de madeiras claras como o padreiro, o tulipeiro e a pereira, e de madeiras exticas asiticas e americanas como o pau rosa e o pau violeta.

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PORTUGAL

No ultimo quartel do sc.XVIII, durante o reinado de D.Maria I, d-se como em toda a Europa uma reaco aos excessos do Barroco e agitao do Rococ que esteve na origem do aparecimento de formas e decoraes clssicas ao gosto neo-clssico.

O Estilo Neo-clssico chegou a Portugal em 1770 e os Portuguses, com a sua tradicional facilidade de adaptao, adoptaram as suas formas, produzindo uma verso Nacional do estilo de Luis XVI. visvel uma perda da fora criadora e do sentido mstico do Barroco, mas mesmo assim e apesar das influencias Francsas e principalmente Inglsas, o Estilo D.Maria atinge um carter prprio. Tonalidades mais claras quer nas madeiras quer na pintura, que lhe do uma certa frescura e leveza. As cmodas que adoptaram uma frente tripartida retangular, assentavam em pernas de seco quadrangular que afunilavam em direo do cho e eram trabalhadas com embutidos e marchetaria em motivos geomtricos. Uma caracterstica prpria destas cmodas era os aventais e os puxadores das gavetas em forma de medalhes esmaltados.

O mobilirio de assento revelava a influencia dos livros Inglses de projetos, particularmente os de Sheraton. No virar do sculo a influencia do Estilo Imprio Francs tornou-se vasta como em toda a Europa. As madeiras utilizadas eram: pau santo, pau rosa, pau roxo, nogueira, carvalho entalhado e pintado em fingimento ou dourado, castanho, buxo, casquinha entalhada e depois dourada ou pintada, espinheiro, pau cetim e limoeiro.

SCULO XIXNo sculo XIX o mobilirio com a influencia do Imprio continua com um carcter mais aburguesado e evolui no sentido de uma arte sem transcendncia, adormecido entre a mecanizao, que foi a verdadeira revoluo do sc XIX, e a industrializao.

o sculo dos grandes inventos burgueses, chamado das luzes, da vida prtica e confortvel. tambm o sculo das grandes lutas polticas e sociais, em que a burguesia em rpida

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expanso punha em causa outros poderes e impunha a sua vontade e o seu gosto, e do grande movimento romntico em que se idealizam as coisas de outros sculos.

O Romantismo surge em toda a Europa como reaco, s convenes disciplinadas do neoclassicismo, e crescente mecanizao e ao progresso cintifico, e faz apelo ao regresso aos estilos do passado. O romntismo caracterizado por ser um movimento revivalista e ecltico. A Alemanha redescobriu primeiro a Idade Mdia e depois o Renascimento e o Barroco. Na ustria deu-se o reaparecimento do Rococ. Em Frana a seguir ao reaparecimento do Gtico segue-se o regresso aos estilos dos sculos XVI, XVII e XVIII.

Com este movimento surgem no mobilirio os revivalismos, neo-gtico, neo-renascimento, neo-rococ. Que produziam peas de mobilirio com estruturas modernas e que pretendiam imitar, muitas vezes mal, os originais, que nem sequer so feitas por verdadeiros artistas, e que muitas vezes so adaptadas s necessidades modernas. Com o aumento da procura a forma tradicional de confeco e comercializao do mobilirio deixou de poder dar resposta a um mercado em grande expanso. Havia que procurar novos mtodos de fabrico, novas tcnicas e novos materiais mais acessveis.

Na industria do mobilirio o aumento da produo foi conseguido no tanto custa de uma maior mecanizao, mas sim com a introduo de novos mtodos de montagem do mobilirio nas oficinas, em que cada artfice s fazia uma parte do mvel. Isto traduziu-se numa perda de qualidade. E esta perda de qualidade era proporcional ao desenvolvimento tecnolgico.

ESTILO IMPRIO

FRANA

Em 1804 inicia-se o Estilo Imprio, pompso e solene, em Frana. Nesta altura o destino da Europa est dependente de Napoleo e por isso os reis, a poltica, os costumes e os ambientes giram em redor da sua figura. No de admirar portanto que este estilo se tenha difundido, com grande carter nacionalista, quer em Frana quer nos outros paises da Europa. A esttica converte-se numa questo de estado porque a arte uma constante evocao da Roma imperial. 31

O mobilirio em todo o continente tem o mesmo carter do Francs com a interveno de artistas franceses, dos quais se destacam Percier, Fontaine e Prudhon.

Percier e Fontaine foram os artistas do regime porque interpretaram com xito as idias de Napoleo, criando um estilo de luxo e opulncia austeros, a partir do esplendor das artes de Roma antiga que tanto encantavam o Imperador. Este estilo no seu af de adaptao s formas clssicas, tem pouca personalidade embora tenha originalidade. O mobilirio adquiriu formas simples, sbrias e geomtricas em que dominavam as linhas rectas e as superfcies lisas e com poucos ornatos. A talha e a marchetaria quase desapareceram.

Em conseqncia das campanhas napolenicas no Egipto o mobilirio tornou-se uma mistura de prottipos Romanos, Gregos e Egpcios, porque os desenhos dos achados e dos monumentos e tmulos que foram trazidos dessa campanha despertaram muito interesse. um estilo com to grande implantao e influencia que dura mais quinze anos aps a abdicao de Napoleo em 1814, e com ele pode dizer-se, que terminam os estilos histricos de Frana e da Europa no mobilirio.

A madeira de mogno geralmente massia ou em placagem continua a ser a madeira mais apreciada, e cujo valor aumentou devido ao bloqueio que Napoleo imps em 1808 e que impediram que fossem importadas madeiras das colnias Inglsas, o que obrigou tambem utilizao de madeiras indgenas como a nogueira, o cer, o freixo, o olmeiro, o cedro, o limoeiro e oliveira. Eram utilizadas diferentes qualidades de mogno com caractersticas visuais diversas: mogno moir, mogno flamm, mogno ronceux (espinhoso). A faia era utilizada algumas vezes nas cadeiras, mas era depois pintada e dourada.

PORTUGAL

No primeiro quartel do sc. XIX e durante a regncia e reinado de D.Joo VI, predominava em toda a Europa o Estilo Imprio como nova face do Neo-clssico. Nesta altura em Portugal acentua-se a diminuio da criatividade e a importao de mobilirio foi to forte que chegou a afetar a produo nacional.

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O estilo foi pouco assumido em Portugal por vrias razes. Primeiro pela falta de clientela, uma vez que a crte se encontrava no Brasil em conseqncia das invases Francsas, o que tornou o perodo conturbado e sem o ambiente propcio ao desenvolvimento de um estilo que para mais era trazido pelo invasor. Alm disso as linhas e formas convencionais deste estilo diziam muito pouco aos marceneiros Portuguses, ainda mais que os obrigava a trabalhar uma madeira, o mogno, com pouca tradio no Pas.

Madeiras utilizadas eram o mogno macio ou folheado, a casquinha faixeada, o pau santo e o pau cetim.

ROMANTICOFRANA

Estilo Restaurao O retorno da dinastia de Bourbon ao poder em 1814, quando Luis XVIII se tornou rei, iniciou o revivalismo dos estilos clssicos que tinham sido to queridos na crte de seu irmo Luis XVI. Esta moda revivalista que os outros paises da Europa seguiram tambm, no obrigou a uma rendio incondicional aos estilos inspiradores, mas sim, era feita uma recreao aligeirada dos estilos.

Mais tarde com Carlos X, aparece o revivalismo do gtico e depois o neo-Henrique II com elementos Renascntistas. Uma das caractersticas, talvez a mais marcante deste Estilo Restaurao, foi a inverso cromtica em relao ao estilo anterior,o Imprio. Passa a usar-se as madeiras de tons mais claros com ornatos de cores mais escuras.

Em Frana quase exclusivamente se utilizou o carvalho como madeira de base. Isto por causa do embargo decretado por Napoleo para isolar Inglaterra e porque o mogno passou a ser difcil de encontrar. As madeiras utilizadas na decorao eram a faia, o mogno de tons mais claros e o pau santo no neo-gtico, o amaranto e o cer que eram consideradas as madeiras claras que dominaram os anos 20 do sculo at ao final do reinado de Louis-Philipe. A madeira era sempre de boa qualidade e muito bem acabada. 33

As estruturas das cadeiras eram normalmente de faia, apesar de a nogueira ser algumas vezes utilizada. Estas duas madeiras eram fceis de tornear e serviam de boa base para a douragem. No entanto a nogueira j no era to popular como tinha sido no sc.XVIII em Frana. O pltano, a cerejeira, o limoeiro, a laranjeira, a pereira, e o padreiro eram madeiras indgenas tambm utilizadas, muitas vezes escurecidas para imitarem o mogno, assim como as madeiras escuras como o freixo, o olmo e o bordo que eram usadas nas decoraes e nas marchetarias que eram agora retomadas como forma de decorao.

Estilo Louis-Philipe 1830-1848 um estilo ainda mais ecltico que o anterior, e quando se comeam a acentuar os revivalismos, que vo do neo-gtico ao neo-barroco. Estes estilos aparecem copiados, adulterados e misturados nos ambientes. Louis-Philipe, o Rei cidado, quando sobiu ao poder trouxe para as esferas mais importantes gente de gostos simples e fraca cultura esttica, o que justifica o facto de no haver uma exigncia esttica rigorosa.

O mobilirio Louis-Philipe evoca um conforto burgs onde se misturam todas as influencias que emergiram aps a Restaurao. Apesar de tudo, havia ainda neste perodo cuidado na construo do mobilirio. O aumento da mecanizao e da produo em pequena srie por operrios sem formao especializada, provocou uma perda gradual da qualidade de construo.

As madeiras utilizadas tm a ver com o revivalismo correspondente e por isso todos os tipos de madeiras so usados. O carvalho para o neo-gtico; o pau rosa para o neo-Luis XV; a nogueira para o neo-Henrique II. Para alm destas continuavam a usar-se a faia, a cerejeira, o pltano, o pau santo, o pau rosa, o bano, a pereira escurecida e o mogno que entretanto reaparece e utilizado em placagem e folheados finos cortados maquina.

Perodo Napoleo III Neste perodo o revivalismo e o ecletismo atingem o seu apogeu. A qualidade de construo do mobilirio decresce drsticamente. o pastiche e o kitsch no seu expoente maximo. portanto o culminar do Romntismo em Frana.

A produo em massa faz diminuir o preo que vai tambm trazer uma reduo da qualidade de construo e dos acabamentos. As cpias eram feitas s pela aparncia sem se reproduzirem 34

as tcnicas de produo originais. As madeiras utilizadas eram a nogueira, pau rosa, pau santo, bano, e a pereira escurecida.

INGLATERRA

Estilo Regncia-(1800-1830) O Rei Jorge IV foi um grande fomentador deste estilo que evolui do Imprio Francs mas que no se pauta pela mesma austeridade. Este estilo que indissocivel da figura de Napoleo e do carcter Francs e imperial, em Inglaterra mais original e antecipa-se aos caprichos do pblico e consegue criar-se um Imprio especial Ingls, com um certo carcter Ingls, aburguesado, e por isso mais prximo do estilo Directrio, que passa a ser conhecido por Estilo Trafalgar. O mobilirio da crte continua a sujeitar-se mais aos modelos continentais.

Em 1806 quando Henry Holland morreu deixou o estilo Regncia j perfeitamente implantado por sua influencia. Os seus projetos tinham a mesma orientao dos de Percier e Fontaine em Frana . Apesar das grandes influencias do estilo Francs, o seu trabalho apresentava um toque muito Ingls. George Smith publicou em 1808 um livro que passou a ser a bblia do estilo clssico da Regncia.

Numa poca em que os revivalismos estavam na ordem do dia, o mobilirio do Regncia constitui uma amalgama de vrios estilos, dos Clssicos ao Barroco passando pelo Gtico. As madeiras como o mogno e o pau rosa, escuras e brilhantes tinham preferncia, assim como as madeiras muito decorativas como o pau zebra e o pau rosa de Timor.

Os artesos da poca evitavam o emprego de tcnicas e materiais onerosos, mas usaram madeiras de qualidade e de boa aparncia. Privilegiavam as madeiras com os veios mais evidentes, zebradas ou satinadas, e as madeiras sarapintadas como o pau rosa de Timor e o cer americano, ou mosqueadas como o cer europeu, das quais evidenciavam os seus desenhos naturais. Os embutidos ficavam caros para a maioria das pessoas porque o nmero de entalhadores estava a diminuir. Passou a juntar-se o lato que era barato com as madeiras escuras como principal modo de decorao.

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Estilo Vitoriano 1837-1901 Foi um estilo que se caracterizou pelo revivalismo, pelo ecletismo e pela utilizao de novos materiais. Foi neste perodo que surgiram as correntes de pensamento que levaram aos movimentos Reformista e Estticista.

Ainda que o gosto pelo mobilirio por volta de 1830 fosse essencialmente catico e que diversos estilos se sobrepusessem com pouco vontade, a perfeio do trabalho mantinha-se a bom nvel. De novo as madeiras nativas estavam na moda, e as flores e plantas nativas reconquistaram popularidade, em alternativa aos motivos decorativos clssicos. Era vulgar encontrar numa casa as diferentes divises decoradas com estilos diferentes e que se consideravam mais prprios para determinada funo. O Gtico para as salas mais utilizadas pelos homens, o Rococ para a sala de visitas e para o toucador, etc. O Estilo Naturalista que derivou do estilo Luis XIV, caracterizou-se por ter uma rica talha naturalista com formas proeminentes.

A escolha das madeiras era cuidada de forma a criar diferentes estados de esprito. As madeiras claras criavam um ambiente amigvel e de bem estar para as salas de visitas e para os quartos de dormir. O carvalho e o mogno para darem um estado de esprito de sossego nas bibliotecas, salas de jantar e sales.

Uma caracterstica tpica do mobilirio Vitoriano da primeira fase era a forma arredondada de quase todas as peas, independentemente do seu estilo histrico. A nogueira e a faia eram das madeiras mais utilizadas. O bano, o loureiro e a tlia da Amrica tambm se usavam. A teca e a cnfora eram utilizadas para o mobilirio das embarcaes e de viagem.

MOVIMENTO ARTS AND CRAFTS

W. Morris defendia que a arte devia ser acessvel ao comum dos cidados, e pretendia fazer mobilirio artstico mas pouco dispendioso. No entanto o seu mobilirio, porque fazia recurso ao trabalho manual, s tcnicas tradicionais de construo e aos bons materiais, acabou por ser demasiado dispendioso para o cidado comum. 36

Utilizou o bano para folhear as cadeiras Sussexe o carvalho para os mveis de aparato no estilo Gtico. Godwin utilizou tambm o carvalho folheado com bano no seu mobilirio. Mackmurdo utilizou o mogno nas cadeiras com as costas entalhadas com motivos de Arte Nova.

ALEMANHA USTRIA

Biedermeier

Em meados do sc.XIX (1815-1901) estamos numa poca em que a burguesia quer imitar luxuosos interiores com aparncia teatral e modesta, com detalhes de falta de sofisticao e gosto, que fazem pressentir a chegada do chamado Estilo Biedermeier, que em Inglaterra representado pelo Estilo Vitoriano, em Espanha pelo Isabelino e em Frana pelo Segundo Imprio.

O nome Biedermeier provm da unio do adjectivo alemo bieder , que quer dizer simples (simplrio), com um sobrenome Alemo, muito vulgar, Mier. utilizado para designar o mobilirio burgus produzido nas Naes de lngua Alem nas trs primeiras dcadas do sc.XIX. um estilo que se inspira fortemente no Imprio e nos modelos do mobilirio Ingls e que vai produzir mveis adaptados s necessidades prticas e de conforto da burguesia. um Estilo adaptado a um estilo de vida mais simples visto que as crtes da Europa estavam despojadas devido guerra com Napoleo e o prprio Imperador Austraco o praticou e estimulou.

Talvez o mais famoso desenhador de mobilirio Biedermeier seja o Viens J. Danhauser (1780-1829), cujas peas eram da melhor qualidade e os seus desenhos notveis na utilizao das formas curvas abstratas. A decorao com ferragens de bronze, foi desaparecendo, dandose preferncia s madeiras claras.

No norte da Alemanha o mogno era de utilizao normal, enquanto que no sul as madeiras mais claras e indgenas tais como a cerejeira, a pereira, a macieira, a nogueira, o freixo, o larix, o cer, o abeto, a btula, o vidoeiro e o teixo eram mais usuais. 37

Mobiliario Thonet- ustria

A industria experimental de mobilirio, que constitua um caminho paralelo em relao orientao geral do revivalismo histrico, utilizava novos materiais com novos processos. Os modelos mais excitantes da industria de mobilirio deste sculo surgiram na ustria onde Michel Thonet inventou um processo industrial adaptado aos processos de produo em srie, de encurvar a madeira de faia, com as formas mais variadas, com o auxilio de calor e vapor de gua.

ESPANHA Estilo Isabelino O Estilo Isabelino que decorreu entre os anos de 1830 e 1870, durante o reinado de Isabel II de Espanha, divide-se em trs periodos: o primeiro chamado de a rainha governadora; o segundo que corresponde primeira poca do seu reinado; e o ultimo, que simultneo ao Segundo Imprio Francs e ao reinado da Rainha Vitria de Inglaterra,.e que vai at ao final do seu reinado.

Na primeira fase o mobilirio tem caractersticas do Imprio, feito principalmente em mogno, em que as decoraes de bronze so reduzidas a desenhos muito esquemticos ou substitudos por filetes e marchetarias muito simples. Os cantos dos tampos e a pouca talha aparecem dourados.

No segundo perodo que dura at metade do sculo, perduram as formas que vm do j degenerado Imprio e tambm do Diretrio Francses. No ultimo perodo inicia-se, paralelemente a Frana, uma tendncia a repetir os modelos dos Luises (IV, V e VI). Constroem-se mveis em que no se distingem os estilos, misturando os motivos decorativos uns com os outros.Fazem-se mveis ao estilo de Boulle e de Riesener.

Em suma, o mobilirio cada mais aburguesado, modesto e repetido, uma vez que de um modelo se fazem um nmero ilimitado de cpias. Os materiais so tambm cada vez mais pobres e a madeira de mogno macia substituda pelo folheado ou faixeado a mogno 38

consoante o mvel liso ou entalhado. Os bronzes cinzelados so agora simples chapas de lato com relevos cunhados. H uma madeira muito rica e que alterna e substitui o mogno em quase todas as suas utilizaes que o pau santo, o que devolve a estes mveis alguma riqueza e nobreza. S s vezes, nos mveis para a crte ou para famlias mais abastadas, se usam as marchetarias em bano ou pau santo, buxo e limoeiro.

PORTUGAL

Em Portugal aps uma fase de evidente influencia Inglsa e a partir de 1820 adpta-se o Estilo Biedermeier da Alemanha. De seguida comeou o revivalismo dos estilos tradicionais Portugueses do sc.XVII e XVIII.

Em Portugal houve um revivalismo marcado do Estilo Manuelino (Neo-Manuelino) que expressa a nostalgia dessa poca de glria. Tal como em toda a Europa o ecletismo era uma das notas dominantes, em que a mistura de estilos era evidente. O Palcio da Pena em Portugal o paradigma do Romntico.

As madeiras utilizadas eram diversas consoante os diversos revivalismos, embora a preferncia fosse por madeiras escuras. O carvalho, o castanho, a nogueira e o mogno continuam a ser usadas, assim como o pau santo em todas as suas variedades.

SCULO XXDurante a segunda metade do sc.XIX e durante o sc.XX, em que o mobilirio passa a ser para todas as classes sociais, sucedem-se uma srie de tentativas e movimentos de criao e produo de mobilirio, que se sucedem to rapidamente, com a utilizao de novos materiais que no a madeira,que se torna impossvel tentar caracteriz-los a todos. Nem isso caberia no mbito deste trabalho, que pretende abordar as madeiras utilizadas. Ainda mais que com a introduo de novos materiais, agora a madeira deixa de ter o estatuto de exclusividade, que teve outrora na construo do mobilirio. A madeira perde a importncia que tinha, passando a

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ser substituda por materiais alternativos e sucedneos da madeira mais propcios fabricao industrial em massa. Por estas razes e outras ainda que so explicadas na introduo, decidiu terminar-se aqui a resenha histrica da utilizao da madeira na manufatura do mobilirio.

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2 PARTE

A MADEIRA

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O QUE A MADEIRA o tecido de suporte de uma rvore. Trata-se de uma poro da matria de uma rvore que constituda pela parte lenhosa e por matria orgnica. As madeiras so constitudas por celulose, hemicelulose e lenhina, e em menores quantidades, gomas e resinas e substncias extrativas como os fenis e os taninos os quais diferem na sua quantidade e composio consoante a espcie. Estes conferem a cada espcie caractersticas fsicas diversas, como a cor, o brilho, o cheiro, a densidade, a dureza, conservao, resistncia ao ataque de organismos, facilidade em serem trabalhadas etc. A madeira utilizada pelo homem desde tempos imemoriais com diferentes finalidades, sendo a que nos interessa agora a utilizao na manufactura do mobilirio.

Matria nobre, quente e rica, estimula desde h sculos o arteso, desafiando-o a tirar o melhor partido das suas qualidades e a pr em evidencia a sua beleza.

COMO SE FORMA A MADEIRAA madeira desenvolveu a sua textura como parte funcional de uma planta, e no como material desenhado para servir as necessidades de um carpinteiro/arteso. Assim, para poder trabalh-la com sucesso, preciso saber como a madeira se desenvolve na natureza.

Numa floresta uma rvore nasce de uma semente. Ano aps ano vai crescendo em altura e largura at chegar maturidade. As razes, que absorvem gua e sais minerais do solo, e as folhas, que retiram compostos de carbono do ar, encarregam-se de a alimentar. Em cada primavera e vero, ela forma um novo anel de crescimento que envolve os outros formados em anos anteriores. Em anos bons de calor e humidade, os anis sero mais espessos, ao contrario dos anos em que h seca ou temperaturas baixas, em que os anis sero mais finos. Cada episodio da vida de uma rvore ser gravado na madeira dos seus troncos. Quando a rvore atinge a maturidade, floresce e d sementes. Todos os anos se vai repetindo este processo at que a rvore morre ou algum a abate.

Uma rvore funciona como uma fbrica biolgica, em que um dos produtos a madeira. As matrias primas so a gua, os nutrientes fornecidos pelo solo, o anidrido carbnico (CO2) do ar e a luz do sol. Os produtos so os constituintes orgnicos (carboidratos, resinas e taninos) do tronco e ramos das razes e das folhas. O subproduto o oxignio que restitudo ao ar e que para a

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Humanidade to importante. As razes esto ligadas s folhas atravs de vasos que percorrem o tronco, em sentido ascendente uns e em sentido descendente outros, transportando a seiva. A seiva bruta uma soluo em gua de sais minerais absorvidos nas razes e transportados at s folhas pelos vasos ascendentes, que se encontram na madeira mais recente. Por um fenmeno de capilaridade, provocado pela transpirao ao nvel das folhas nos estomas, a seiva bruta, contrariando a fora da gravidade, chega s folhas. Os estomas tm a funo de controlar a transpirao e, na ausncia de luz, so responsveis pela eliminao do vapor de gua resultante da respirao. por isso que a temperatura tambm importante neste processo, porque quanto mais alta for a temperatura (at certos limites, dependendo da espcie,) maior vai ser a evaporao nas folhas e maior vai ser a velocidade de ascenso da seiva e mais rpida a produo da seiva elaborada atravs da funo clorofilina das folhas. Portanto, mais rpida vai ser a acumulao de reservas e por isso o crescimento.

Copa

Dixido de carbono Oxignio

Tronco O cerne d resistncia rvore O entrecasco transporta os nutrientes das folhas para as razes Borne Casca O cmbio fica entre o entrecasco e o borne; a zona de crescimento

A seiva das razes sobe pelo borne

gua e minerais

Razes

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A fotossntese um processo atravs do qual as clulas das folhas, especializadas na funo clorofilina, conseguem combinar o carbono do CO2 com os constituintes da seiva bruta, utilizando a energia da luz, para a transformarem em seiva elaborada. A seiva elaborada desce pelos vasos descendentes, que se encontram junto casca, e vai servir para alimentar os tecidos vivos da rvore e para ser acumulada como reservas no parnquima dos troncos e das razes. Estas reservas servem para manter as funes vitais da rvore no inverno, quando o crescimento pra ou reduzido em condies climticas adversas. Deve referir-se que as rvores na ausncia de luz em vez de utilizarem a funo clorofilina, utilizam a respirao atravs da qual consomem oxignio e libertam CO2. atravs destes processos que as rvores formam a madeira, em conseqncia do seu processo de crescimento.

ESTRUTURA ANATMICAA anatomia da madeira pode ajudar-nos a compreender o seu comportamento e a fazer a sua identificao.

TERMOS UTILIZADOS

-Cerne, duramen ou corao: parte interna do lenho que est envolvida pelo borne, geralmente mais escura e durvel que aquele. a parte do lenho mais apreciada para o trabalho da marcenaria.

-Borne, alburno ou carnaz: parte externa do lenho que est entre o cambio vascular e o cerne, geralmente mais claro e de menor durao que aquele.

-Lenho: conjunto do cerne e do borne.

-Cmbio vascular: assentada geradora de clulas, que envolve o lenho e est envolvido pela casca.

-Raios lenhosos: so toalhas de clulas de parnquima orientadas perpendicularmente ao eixo do tronco e empilhadas umas por cima das outras.

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-Prosnquima: um tecido com clulas alongadas, que podem ter funes de suporte, de transporte ou as duas em conjunto.

-Parnquima: um tecido de clulas curtas de parede celular pouco espessa destinadas a fazer a acumulao e distribuio dos hidratos de carbono, e que se encontram disseminadas no prosnquima.

-Traquedos: clula do prosnquima, longitudinal ou radial.

-Folhosa- arvore de folha caduca de folhas planas e geralmente largas da classe das Dicotiledneas como o carvalho, o castanho e a nogueira. (Madeiras duras)

-Resinosa- rvore de folha persistente do tipo agulha da classe das Conferas como o pinheiro, o abeto e o cipreste. (Madeiras brandas)

TIPOS DE CORTES QUE SE PODEM FAZER NUM TRONCO

-corte transversal: corte feito transversalmente (na perpendicular) direo geral das fibras. Ou seja, o corte feito na perpendicular do eixo do troncoRaio lenhoso BORNE

Crescimento anual MADEIRA DO CERNE

-corte longitudinal: -tangencial: corte feito na longitudinal do eixo do tronco, mas perpendicularmente a um corte radial.

Raio Lenhoso

Crescimento anual

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-radial: corte feito na longitudinal do eixo do tronco, mas que passa pelo eixo ou medula.

Cre scime nto anual

Raio Lenhoso

Ma deira do Cer ne

Os cortes feitos nestes trs planos possibilitam a identificao das madeiras atravs do arranjo dos componentes estruturais do lenho. Cada espcie tem o seu prprio arranjo estrutural, que pode variar com as condies em que a rvore cresceu. A madeira de cada espcie sempre constituda pelo mesmo tipo de clulas associadas de maneira idntica e cada rvore dotada de uma arquitetura (plano lenhoso) que lhe prpria.

ANIS DE CRESCIMENTO Nos cortes transversais podem apreciar-se os anis concntricos de crescimento anual, os quais vo alternando anis mais claros com anis mais escuros. Os mais claros correspondem ao crescimento de primavera desse ano. Quando a primavera chega aparecem novos rebentos, e isto faz com que haja uma maior necessidade de seiva. O cmbio vascular responde produzindo uma camada de madeira nova constituda por vasos de paredes finas e com grande espao interior para facilitar a circulao da seiva. banda circular de madeira que resulta deste processo chama-se madeira de primavera.Diagrama de um segmento em cunha de um ramo de 5 anos de folhosaMedula Madeira de Outono Madeira de Cmbio Primavera Anel de crescimento Seco transversal

a di Ra o c SeTa Sec nge o nci alBorneEntrecasc o

lCerne

Raios

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Quando o outono chega, o cmbio vascular subitamente muda o tipo de madeira que produz. A maior parte da seiva que a arvore precisa pode circular pela madeira de primavera, mas o tronco precisa agora de mais apoio estrutural porque se tornou mais pesado e maior. Assim, durante o outono, o cmbio produz fibras com as paredes grossas e as cavidades pequenas. Em resultado disso, a madeira de outono mais escura, pesada e forte.

Considera-se aqui que a primavera o perodo mais propcio ao crescimento rpido e o outono o de crescimento mais lento, mas isto depende do clima e pode variar ao longo do ano em climas tropicais, onde pode haver mais do que um perodo de crescimento activo. Portanto, quando se aprecia os anis de crescimento, devemos sempre reportarmo-nos ao clima em questo.

O VEIO DA MADEIRA A palavra veio utilizada para indicar o contraste entre a madeira de primavera e a madeira de outono. Quando a diferena ntida, diz-se que a madeira tem um veio irregular (p. ex. pinho amarelo). Quando se nota pouco contraste, a madeira de veio regular (p. ex. tlia). Entre estes plos, h designaes intermdias, como por exemplo. veio bastante regular ou veio pouco irregular.

MADEIRA DO CERNE E MADEIRA DO BORNE Como j se referiu, toda a madeira feita para transportar seiva. Assim, a madeira comea por ser madeira de borne. Com o passar dos anos, as clulas da zona mais central perdem a sua atividade biolgica e funcional, deixando a seiva de circular; a sua cor torna-se mais escura por aco dos taninos. medida que o tronco se torna mais largo e pesado, a zona mais central deixa de servir para essa finalidade, mas passa a servir para a funo de suporte. As alteraes qumicas que se do nos anis de crescimento mais centrais transformam a madeira de borne em madeira de cerne. Esta madeira mais escura, forte e resistente ao ataque de organismos estranhos. As substncias que se formam nas alteraes qumicas referidas podem tambm mudar as propriedades da madeira. Nalgumas espcies, reduzem a permeabilidade do tecido da madeira, tornando a secagem do cerne mais lenta, e a sua impregnao com produtos qumicos mais difcil. Essas substncias podem tornar o cerne um pouco mais denso do que o borne, e um pouco mais estvel em relao oscilao das condies de humidade. Quando o borne se torna cerne, nenhuma clula retirada ou adicionada. A resistncia bsica da madeira no afetada. No borne a seiva circula, de forma que quando a rvore abatida, essa zona do lenho tem seiva e gua que propiciam o ataque de organismos que dela se alimentam. H madeiras que apresentam grandes diferenas de colorao entre o cerne e o borne e outras em que no existe essa diferena.

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TIPOS DE MADEIRASMADEIRAS BRANDAS

A madeira das Conferas (resinosas), ou seja das rvores com folhas em agulha, chamada de madeira branda, por regra geral se tratar de uma madeira relativamente macia e fcil de trabalhar.

A estrutura das madeiras brandas relativamente simples, quando comparada com as madeiras duras. A maioria das clulas encontradas em madeiras brandas so traquedos que constituem 90 a 95% do volume da madeira. Traqueidos so clulas fibrosas que tm de comprimento aproximadamente 100 vezes mais do que tm de dimetro. Segundo as espcies, o seu

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comprimento pode variar entre 2 e 6 mm. Na madeira de primavera, os traquedos so mais amplos no dimetro e de membrana mais fina; na madeira de outono a membrana torna-se mais grossa e o dimetro mais reduzido. Esta variao entre madeira de primavera e madeira de outono determina a regularidade ou irregularidade do veio. Uma consequncia tpica de um veio irregular a inverso da cor no acabamento. Isto acontece em espcies em que a madeira de primavera mais clara e mais porosa que a madeira de outono. Por isso, a primeira absorve o acabamento com mais facilidade, ficando por sua vez mais escura depois da aplicao do acabamento.

MADEIRAS DURAS a madeira das rvores de folha larga e plana. uma madeira que normalmente mais forte e densa que a madeira das resinosas. Estas madeiras tm uma estrutura anatmica semelhante

mas mais complexa que a das madeiras brandas.

Ao comparar a anatomia das madeiras duras com a das madeiras brandas, uma srie de diferenas gerais tornam-se evidentes. A maioria das madeiras no dispe de canais de resina, mas de uma maior variedade de clulas e maior variao na sua disposio. As madeiras duras, geralmente assumidas como sendo mais tardias na sua evoluo do que as madeiras brandas, desenvolveram os vasos, umas clulas especiais que servem funo de conduta e suporte. Os vasos so extremamente largos no dimetro, mas com membranas relativamente finas. As suas pontas so abertas e encostadas ao prximo vaso, de forma a permitir o transporte contnuo da seiva. Os vasos variam no seu tamanho tanto de espcie para espcie, como dentro delas. 49

As fibras, por seu lado, so estreitas no dimetro, com pontas fechadas e membranas fortes. Com estas caractersticas, no tm funo de transporte, servindo sim para fortalecer a madeira.

Quando os vasos so cortados de forma transversal, a ponta exposta designada por poro. Uma vez que todas as madeiras duras possuem vasos elas so tambm designadas por madeiras porosas, ao contrrio das madeiras brandas que so madeiras no-porosas.

O tamanho, o nmero e a distribuio dos vasos e das fibras so determinantes no aspecto e na dureza de cada espcie. Em algumas espcies, os poros so concentrados na madeira de primavera. Este tipo de madeira caracterizado como sendo de poro anelar (p. ex. freixo). Este tipo de estrutura causa, normalmente, um veio da madeira bastante irregular, assim como um desenho distinto. A capacidade de absoro do acabamento torna estas camadas de poro anelar ainda mais salientes. Outras madeiras duras tais como cerejeira, cer, btula, tlia ou choupo apresentam uma distribuio dos poros bastante regular, razo pela qual so

designados por madeiras de poros difusos. Nas madeiras duras, o tamanho dos poros determina a textura.

Alm dos vasos, os outros tipos de clulas longitudinais que aparecem (fibras, traquedos, etc.), so de pequeno dimetro e uniformes, e no se distinguem na sua forma individual, mas apenas em conjunto. Um conjunto de fibras parece normalmente mais escuro, um conjunto de traquedos mais claro. Estas disposies podem ajudar na identificao da madeira.

A estrutura radial pronunciada de algumas madeiras importante para o arteso, pois representam zonas de fraqueza estrutural da madeira. Por outro lado, as zonas radiais podem conferir um desenho interessante superfcie da madeira (p. ex. a superfcie radial do padreiro).

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CARACTERSTICAS FSICAS E QUMICASAlgumas caractersticas fsicas, como a cor, o brilho, o cheiro e a dureza podem ser detectados por simples observao e manipulao de uma pea de madeira. Outras caractersticas, especialmente as qumicas, s se revelam mediante testes indiretos. Ambos os tipos de caractersticas constituem um complemento importante das caractersticas morfolgicas e histolgicas da madeira, sendo mesmo suficientes nalguns casos para a identif