AUTO DA ÍNDIA

4
AUTO DA ÍNDIA Argumento: Diferente dos outros autos, o Auto da Índia é uma peça de enredo cuja intriga se desenvolve ao longo de vários anos, contendo abreviações de tempo que imprimem agilidade e vivacidade ao seu andamento. A personagem principal é uma mulher de Lisboa cujo marido parte numa carreira da Índia, à procura de fortuna, deixando-a sozinha. Se mesmo quando o marido está na cidade esta mulher tem uma vida dúbia, durante a sua ausência a mulher vai levando uma vida de diversão. Com a cumplicidade da moça, mantém simultaneamente duas ligações extraconjugais. Regressado do Oriente sem riqueza, o marido conta as suas façanhas que nada tiveram de dignificante: "Fomos ao rio de Meca,/ pelejámos e roubámos". A mulher, disfarçando uma alegria que não sentia pelo seu regresso, mente tranquilamente dizendo que sentiu muitas saudades durante a sua ausência. O auto termina com o retomar pacífico da vida em comum pelo casal, como se nada se tivesse passado. Ideologicamente, este auto configura uma crítica, vendo-se facilmente nele "o reverso do mito dos Descobrimentos". Na verdade, através das falas das personagens que nos fazem recordar o discurso do "Velho do Restelo" do episódio "As despedidas de Belém" de Os Lusíadas, o autor apresenta os malefícios que a saída para o "desconhecido" comporta, nomeadamente no que se refere às mortes desnecessárias de muitos dos navegadores e ao comportamento menos lícito dos portugueses face ao "outro civilizacional" (a cristianização pela força das armas). Mas a crítica mais notória é feita ao abandono das mulheres e família que enveredavam muitas vezes por comportamentos pouco dignificantes que conduziam à desestruturação da célula familiar.

Transcript of AUTO DA ÍNDIA

Page 1: AUTO DA ÍNDIA

AUTO DA ÍNDIA

Argumento: Diferente dos outros autos, o Auto da Índia é uma peça de enredo cuja intriga se desenvolve ao longo de vários anos, contendo abreviações de tempo que imprimem agilidade e vivacidade ao seu andamento. A personagem principal é uma mulher de Lisboa cujo marido parte numa carreira da Índia, à procura de fortuna, deixando-a sozinha. Se mesmo quando o marido está na cidade esta mulher tem uma vida dúbia, durante a sua ausência a mulher vai levando uma vida de diversão. Com a cumplicidade da moça, mantém simultaneamente duas ligações extraconjugais. Regressado do Oriente sem riqueza, o marido conta as suas façanhas que nada tiveram de dignificante: "Fomos ao rio de Meca,/ pelejámos e roubámos". A mulher, disfarçando uma alegria que não sentia pelo seu regresso, mente tranquilamente dizendo que sentiu muitas saudades durante a sua ausência. O auto termina com o retomar pacífico da vida em comum pelo casal, como se nada se tivesse passado. Ideologicamente, este auto configura uma crítica, vendo-se facilmente nele "o reverso do mito dos Descobrimentos". Na verdade, através das falas das personagens que nos fazem recordar o discurso do "Velho do Restelo" do episódio "As despedidas de Belém" de Os Lusíadas, o autor apresenta os malefícios que a saída para o "desconhecido" comporta, nomeadamente no que se refere às mortes desnecessárias de muitos dos navegadores e ao comportamento menos lícito dos portugueses face ao "outro civilizacional" (a cristianização pela força das armas). Mas a crítica mais notória é feita ao abandono das mulheres e família que enveredavam muitas vezes por comportamentos pouco dignificantes que conduziam à desestruturação da célula familiar.

Page 2: AUTO DA ÍNDIA

QUESTIONÁRIO GERAL:

Por que razão é que esta peça se intitula Auto da Índia se a acção se passa em Lisboa?2. Situe a acção do Auto da Índia no espaço e no tempo.3. Descreva o espaço cénico.4. Procure delimitar a introdução, o conflito e o desenlace da história.5. Identifique a personagem principal da peça e caracterize-a.6. Por que razão a cama está no centro do palco?7. Que papel representa a Moça? Justifique.8. Que função desempenham os apartes ditos pela Moça?9. Refira alguns exemplos de cómico de linguagem e de cómico de situação.10. Por que razão é que a Ama pede a roca à Moça?11. Refira a situação económica da família.12. A quem é que a Ama se refere quando diz «aquele fastio»? Justifique.13. De que modo é que a Ama se refere ao Marido? Justifique.14. Explique o significado da expressão «esperando polo vento» utilizada pela Ama.15. Diga o que entendes por ceitil, eramá e necia.16. Explicite o papel desempenhado pelo Castelhano.17. Quem pretende Gil Vicente criticar com a personagem Lemos?18. Comente a relação amorosa entre a Ama e os dois amantes.19. Parece-lhe que a relação amorosa entre a Ama e os dois amantes é sincera? Justifique.20. Refira o comportamento da Moça em relação aos amantes da Ama.21. Comente a ironia presente no nome Constança que Gil Vicente dá à Ama.22. Comente a expressão «Partem em Maio daqui / quando o sangue novo atiça».23. Por que razão é que na peça se fala de Calecu?24. Que nome se dá ao corte brusco do tempo? Justifique.25. A Moça, da primeira vez que foi saber da armada, regressou cantando; da última vez vem «morta». Porquê?26. Diga em que medida o Marido é também alvo da crítica vicentina.27. Identifique o recurso de estilo presente nas falas da Ama e justifique o seu emprego.28. A Ama, quando vê o Marido, tem atitudes contraditórias. Refira-as.29. Comente aquilo que o Marido conta à Ama sobre as suas andanças pelo Oriente.30. Explicite de que modo o Auto da Índia apresenta o reverso dos Descobrimentos Portugueses.31. Desenvolva o tema da crise moral da família na época dos Descobrimentos, referindo as causas que a motivaram, e confronte-a com a situação actual.32. Numa composição cuidada, fale das vantagens e desvantagens da emigração, dando como exemplo algum caso que conheça.33. Confronte a visão dos Descobrimentos dada por Gil Vicente no Auto da Índia com a visão dada por outros autores que tenha estudado.