AUTO-SOROTHERAPIA - José Pinto Cabral

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    JOSE PINTO CABRAL

    UTO-SOROTHERAPIADISSERTAO INAUGURAL

    APRESENTADA

    FACULDADE DE MEDICINA DO PORTO

    J U L H O bE 1920

    IMPRENSA NACIONAL de Jaime Vasconoelos 204, Rua Jos Falco, 206

    PORTO

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    AUTO-SOROTHERAPIA

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    JOSE CORREIA ABREU PINTO CABRAL

    AUTO-SOROTHERAPIADISSERTAO INAUGURAL

    APRESENTADA A

    FACULDADE DE MEDICINA DO PORTO

    JULHO E 1920

    IMPRENSA NACIONAL

    de Jaime Vasconcelos 204, Rua Jos Falco, 206

    PORTO

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    FACULDADE DE MEDICINA DO PORTO

    DIRECTOR

    br. Maximiano Augusto de Oliveira Lemos

    PROFESSOR SECRETRIO

    Dr. lvaro Te ixei ra Bastos

    CORPO DOCENTEP r o f e s s o r e s O r d i n r i o s

    Anatomia descritiva Dr. Joaquim Alberto Pires de UmaHistologia e Embriologia . . . Dr. Abel de Lima SalazarFisiologia geral e especial . . . Dr. Antnio de Almeida GarrettFarmacologia Dr. Jos de Oliveira LimaPatologia geral Dr. Alberto Pereira Pinto de AguiarAnatomia patolgica Dr. Augusto Henriques de Almeida BrandoBacteriologia e Parasitologia . . Dr. Carlos Faria Moreira RamalhoHigiene Dr. Joo Looes da Silva Martins JniorMedicina legal Dr. Manuel Loureno GomesMedicina operatria e pequena

    cirurgia Dr. Antnio Joaquim de Sousa JniorPatologia cirrgica Dr. Carlos Alberto de LimaClnica cirrgica Dr. lvaro Teixeira BastosPatologia mdica Dr. Alfredo da Rocha PereiraClnica mdica Dr. Tiago Augusto de AlmeidaTeraputica geral Dr. Jos Alredo Mendes de MagalhesClnica obsttrica Vaga (1)

    Histria da medicina e Deontologia Dr. Maximiano Augusto de Oliveira LemosDermatologia e Sifiligraia . . . Dr. Luis de Freitas ViegasPsiquiatria Dr. Antnio de Sousa Magalhes LemosPediatria Vaga (2)

    Professores Jubi lados

    C) Cadeira regida pelo Prof, livreDr. Manuel Antnio de Morais Frias(2) Cadeira regida pelo Prof, ordinrioDr. Antnio de Almeida Garrett!

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    Faculdade no responde pelas doutrinas expendidas na dissertao.(Art. 15." 2.0 do Regulamento privativo da Faculdade de Medicina do Porto,de 3 de Janeiro de 1920).

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    I l

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    INTRObUCfiO

    O assumpto que me propuz estudar, fora deduvida, sujeito a uma critica a que eu no me poderia furtar se, em vez de lhe dar uma feio pra

    tica sob o ponto de vista da observao clinica,entrasse em consideraes theoricas adaptveis aomomento actual da sciencia, pois neste caso teriade me esbarrar com enormes difficuldades, advindoumas da pouca pratica, advindo outras da deficincia de dados laboratoriaes.

    E, para completar um estudo d'esta natureza,to complicado como elle se nos apresenta, necessrio se tornava a ajuda de quem, com competncia pudesse investigar no laboratrio um certo numero de elementos que a clinica prev, mas s olaboratrio pode confirmar.

    Desde ha muito tempo que a auto-sorotherapia

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    se faz; porem tem sido abandonada e esquecidavarias vezes, motivada sem duvida pela falta d'umestudo laboratorial completo em que ella se appoie.No admira que na pratica os enthusiasmos tenhamsido grandes em favor de tal therapeutica, comograndes tambm tem sido as frequentssimas decepes.

    Mas isto, longe de ser um motivo de desalento, pelo contrario um incentivo para o prosegui-mento deste methodo therapeutico, pela forma evidente como elle demonstra, no momento actual, anossa impotncia em face da complexidade dosprocessos naturaes.

    So bem sugestivas as curas expontneas aque frequentes vezes assistimos e outras interessantssimas que a historia medica nos lega, parad'ahi tirarmos concluses e previses dum futurotherapeutico coroado dos melhores xitos.

    Pela maneira impressionante como os factos se

    passam, no devem ser descurados estes processosnaturaes de cura, porque s d'elles alguma coisa podemos esperar em determinadas circumstancias pa-thologicas.

    "Nunca contrariar a natureza, auxilial-a sempre o papel do medico.

    E oxal no venha longe o dia em que elle na

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    posse de conhecimentos physiopatologicos procedacom segurana na applicao dos processos que oconduzam a levar ao organismo elementos de queelle carece e que impotente para os elaborar nasvariadas circumstancias pathologicas.

    "Ningum melhor do que a natureza triumpha

    dos seus processos. levado por este critrio que eu escolhi esteassumpto para minha these.

    Estudado o melhor possvel na medida das minhas foras, luctando com enormes difficuldades

    para a realizao d'um fim satisfactorio, eu no pretendo neste meu trabalho, que representa um grandeesforo da minha parte para, por obrigao, conquistar um diploma, fazer mais do que uma prova experimental d'um methodo ainda to pouco estudado.

    *

    Os casos de cura expontnea, j no quero falar nos obtidos pela auto-sorotherapia, bastam paradeixar no espirito do observador a impresso de

    que alguma coisa ha no organismo no que elle pre-

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    parou, que o torna dominante sob a aco malficado agente.Falta precisamente para definir-lhe a aco, um

    certo numero de conhecimentos que uns j estohoje esclarecidos, mas que outros permanecemainda na obscuridade.

    Se hoje, por trabalhos recentes, se sabe j alguma coisa sobre o transformismo microbiano,embora no estejam ainda bem explicadas e bemassentes as condies que o originam, no nosdeve surprehender que o emprego da sorotherapiadeve a cada momento falhar, e que demais notendo iguais as necessidades para as clulas domesmo grupo, mas em indivduos diversos, tam

    bm no devem ser eguaes os modos de reacopara o mesmo agente microbiano.

    D'ahi, uma nica concluso, que s do organismo podemos esperar o que havemos de utilizar.

    E ainda mesmo assim a nossa investigao devia ir mais do que vae ao encontro da indicaofornecida pelo organismo.

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    Historia da auto-sorotherapiae suas bases physiologicas

    ao Dr. Gilbert, de Genebra, que pela commu-nicao feita ao Congresso de Roma em 1894, ca

    bem as honras da auto-sorotherapia, pelos resultados obtidos na cura das pleurisias exsudativas pormeio de injeco sub-cutanea de uma pequena quantidade deste mesmo liquido pleuritico.

    Quasi simultaneamente o Dr. Marcou, de Petro-grado, como o referem varias revistas, faz igualmentea applicao do liquido pleuritico em injeco sub-cutanea de 2 c.c. no tratamento das pleurisias comderrame, qualquer que seja a sua causa, com a condio deste no ser purulento ou sro-purulento,obtendo os melhores resultados. Mais tarde em1899, seguindo esta mesma technica, Breton, tentando este tratamento na pleurisia sro-fibrinosa,refere egualmente os bons resultados colhidos.

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    a reabsorver-se, e medida que esta reabsorpose ia fazendo proporcionalmente, com espanto seassistiu a uma rpida melhora do estado geral eegualmente a uma rpida fuso de todos os tumores metastaticos, curando a doente.

    Uma outra observao devida a Hodenpyl de

    Nova-York, e a Semaine Mdicalde 28 de Junhode 1911 que a relata sob o titulo de "Tratamentodo Cancro pela sorosidade ascitica proveniente deindivduos cancerosos,; e que eu passo a transcreverintegralmente.

    "Ha dezesseis mezes, o Dr. E. Hodenpyl (de

    Nova-York) tornou conhecida a historia d'umamulher de 37 annos de edade, attingida d'um cancro no seio e que apezar d'uma operao radical,apresentou recidivas mltiplas ao nivel do pescooe da cicatriz operatria.

    Estas localisaes foram cuidadosamente extir

    padas, mas no emtanto viu-se aparecer novas metastases cancerosas no pescoo e no seio, pelasquaes se julgou impossvel intervir, pela razo dascomplicaes locaes e do estado de cachexia avanada da doente. Finalmente formaram-se grossostumores no figado, enchendo quasi completamentea cavidade abdominal e seguidos cedo da appariod'uma ascite chyliforme excessivamente abundante.

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    O prognostico era deplorvel e a morte pareciaeminente.Comtudo os neoplasmas do pescoo e do seio

    diminuram gradualmente e acabaram por desaparecer. Tambm os tumores abdominaes retrocederam progressivamente ao mesmo tempo que o f

    gado se tornara mais liso e mais pequeno. Quatroannos aproximadamente depois da primeira operao, o fgado parecia pouco mais ou menos normal, as-cicatrizes, a emaciao e a ascite postas de

    parte, no restava nenhum trao da affeco primitiva. Em presena d'est facto surprehendente, o

    Dr. Hodenpyl lembrou se no curso do desenvolvimento dos neoplasmas do abdomen no se teriam produzido algumas modificaes physicas ou physiologicas nas secrees orgnicas ou internas,tendo por effeito a accumulao, ou pelo menos, aformao de substancias oppondo-se ao desenvol

    vimento das clulas cancerosas. Esta hypothse parecia justificada pelas experincias que Hoden pyl instituiu sobre ratos, aos quaes se tinha previamente inoculado, com successo, o cancro, e nosquaes as injeces de sorosidade ascitica, provindoda paciente de que acabamos de relatar a historia,trouxeram uma necrose accentuada dos tumorescom diminuio notvel do seu volume, quasi

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    mesmo a desapario completa. Anlogos ensaiosforam praticados no homem e deram resultadosnada menos satisfactorios. Injeces de pequenasquantidades de liquido ascitico, praticadas directamente em pleno neoplasma ou na visinhana d'est,assim como as injeces de quantidades mais considerveis nas veias, determinaram uma vermelhido temporria, com sensibilidade e tumefacoem Volta do tumor. Estes phenomenos no tardaram a desaparecer e ento via-se produzir o amolecimento e necrose do tecido neoplasia, que sereabsorvia ou eliminava, dando logar ao tecidoconjunctive

    Em todos os casos os tumores diminuam devolume e por vezes desapareciam mesmo completamente. Por seu turno o Dr. E. Risley, de Boston,acaba de dar conhecimento do resultado dos estudos feitos na Massachussette General Hpital, pelacommisso do cancro da Harvard University, relati

    vamente ao tratamento dos tumores malignos ino- peraveis por diversos lquidos do organismo, nor-maes ou anormaes, e notadamente pela sorosidadeascitica d'origem cancerosa.

    Este inqurito que conta at ao presente sessentae cinco casos, mostrou que as injeces de liquido

    ascitico proveniente de indivduos cancerosos que2

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    mostram uma certa resistncia afeco, so susceptveis de trazer, n'uni bom numero de casos, umamelhora symptomatica considervel, traduzindo-sepela attenuao dos phenomenos dolorosos, assimcomo pelo levantamento da nutrio e do estadogeral. N'alguns doentes, pode-se mesmo esperar

    vr produzir-se uma paragem no desenvolvimentodo neoplasma, sem que, no emtanto, a evoluo doprocesso mrbido se encontre porisso influenciadad'uma maneira persistente, a durao da paragemem questo variando de um a cinco mezes. O cancro da bocca e dos maxilares parece fazer excepo regra, as injeces de sorosidade ascitica ameaando trazer, em tal occorrencia, antes uma acela-rao da marcha da afeco.

    Ajuntemos que, n'uma mulher attingida d'umcancro do ovrio, Risley viu sobrevir uma melhora notvel do estado geral com as injeces deliquido ascitico proveniente da propria doente. De

    finitivamente, as injeces de que se trata parecemmerecer logar na teraputica dos cancros inopera-veis; tudo como os raios de Rntgen, em algumas

    pacientes, onde a curetagem com alguns enxertos consecutivos em casos de ulceras epithelio-matosas torpidas, o processo em questo sus

    ceptive! de prestar bons servios nos doentes cujo

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    estado parecia, primeira vista, perfeitamente desesperado. N'um caso clinicamente curado de que tenho

    conhecimento, de meningite tuberculosa, deve-seobom resultado auto-sorotherapia do liquido cefa-loraquideano.

    E como da leitura d'estes factos, natural setorna a explicao da sua razo physiologica, nsa tentaremos, fazendo historia dos estudos empre-hendidos n'esse sentido e d'outros, que sem o ser,servem no emtanto para esclarecel-a.

    Para isso invocarei experincias, todas ellas feitas no sentido de explicar a aco neutralizante dos

    exsudados e do liquido intersticial dos edemasartificiaes sobre os micrbios, as toxinas microbianas e outras substancias toxicas. As reaces dasserosas variam segundo a natureza do virus e"omodo de infeco. Assim que as pleurisias, as

    pritonites e as artrites tuberculosas primitivas so

    mais benignas do que as secundarias.Estas reaces so de duas ordens :

    Reaces cytologicas e reaces humoraes

    a) As reaces cytologicas das serosas variam

    segundo a causa do derrame, tendo Widal e Ra-

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    vaut utilizado esta propriedade ao diagnostico (cyto-diagnostico).A formula cytologica do derrame em certas

    doenas mais ou menos typica, mais ou menosdefinida. Para outras uma formula mixta.

    Sobre a natureza e origem destas formulas leu-cocytarias, diversamente explicadas pelos physiologistes, o que parece comprovado que a intensidade e o modo de infeco que fazem variar a formula cytologica do que propriamente a naturezad'esta infeco.

    b) As reaces humoraes, dependendo em partedas leucocytarias, gosam um papel importante na

    defeza das serosas. Nos exsudados encontra-sesempre grande quantidade de albumina e de fibrinae outras substancias especificas bactericidas ouaglutinantes. Constatou-se que os exsudados temuma toxidade varivel, e que esta toxidade, sobretudo na tuberculose, proporcionalmente directa

    gravidade da doena.Com determinados exsudados, entre elles os de

    natureza tuberculosa, podem provocar-se pheno-menos de anaphylaxia.

    O modo de defeza dos lquidos exsudativosdeve ser procurado no seu mechanismo physio-pa-

    thologico, ainda hoje mal explicado e a que mais

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    adeante me referirei. Dupr considera-o como umphenomeno secundrio, ligado aco defensiva daserosa. E assim deve ser comprehendido da designao de ascite tuberculosa chronica benigna dainfncia, com que Marfan rotulou esta localisao

    bacilar.Tambm o Dr. Evaristo Barreto, de Lisboa,

    baseando-se em factos clnicos da sua observao,diz que na ascite tuberculosa, formao do liquidose oppe ao desenvolvimento das granulaes, porisso mesmo que esta forma exsudativa maisbenigna do que a scca.

    E sobre este conceito e ainda levado pelo facto de

    que a laparotomia era um dos meios mais eficazesda sua cura, pelas propriedades que o exsudadoadquiria com o arejamento, o Dr. Barreto assentouas bases do novo tratamento da tuberculose pormeio de injeces de sorosidade proveniente deindivduos portadores de ascite tuberculose, que

    havia forosamente de cair no desanimo. Ora, o quese pode afirmar do valor curativo d'estes exsu-dados, que elle dependente dos anticorpos ed'outras substancias que contem.

    Um derrame rico em fibrina cura melhor doque o que o no . As propriedades bacteriolyticas

    e aglutinantes, postas em evidencia respectivamente

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    por Pffeifer e Widal, observam-se em todos os exsudtes.

    P. Courmon virificou que o liquido pleuriticotuberculoso at certo ponto bactericida para o bacilo de Koch, e a intensidade do poder aglutinante dos derrames est na razo inversa da gravidade da doena.

    Vejamos agora como se comportam os lquidos intersticiaes dos edemas artificiaes em face dastoxinas microbianas e outras substancias toxicas.Se se injectar na pata posterior de um coelho, previamente ligada por uma faxa constritiva, uma poro de toxinas microbianas (experincia de Char-

    rin e Vitry), ou uma dose mortal de estrichinina, ouchlorydrato de cocana (experincia de Ren deOaulejac), verifica-se que estas substancias em contacto prolongado com o liquido intersticial produzido pela estase venosa, perdem a sua aco toxica.

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    Physiopathologia

    Segundo a theoria de Metchenickoff, so osleucocytos os principaes elementos encarregadosda defeza do organismo, sempre que uma causairritante de qualquer natureza actue sobre elle, determinando uma diapedse abundante no logar dairritao; e hoje, que este facto no nos merece amais pequena duvida, offerece-nos uma especialatteno e varias hypotheses tm sido formuladaspara explicar a transformao da diapedse normal

    em diapedse pathologica, tornada conhecida porConheim, e as condies que a determinam.

    Seguiram-se muitas experincias para explicaro seu mechanisno.

    Para Conheim, a alterao da parede dos vasos produzida pela causa irritante, que determina a

    sahida dos leucocytos, emquanto para outros phy-

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    M

    siologistas a excitao dos vaso-dilatadores poraco reflexa. Depois da celebre experincia dePfeiffer, demonstrando a existncia da chymiotaxiaem certas plantas moveis, Massard e Bordet mostraram por sua vez que os Ieucocytos eram tambmdotados de propriedades chymiotaxicas.

    Existe nos venenos d'origem microbiana, segundo as concluses de Bouchard, uma substanciaque impede a diapedse e diminue assim a phagocytose, a ponto de ser vencida a immunidade naturalou adquirida. Foi Charrin quem demonstrou que asubstancia a que Bouchard deu o nome de anecta-sina, actuava sobre o centro vaso-dilatador paraly-sando-o, impedindo desta forma a diapedse. Aolado da anectasina existe egualinente nos productosde origem tambm microbiana, uma outra substancia a que elle deu o nome de ectasina, que actuandoegualmente sobre o centro vaso-dilatador, exci-tando-o, produz uma forte congesto no ponto

    d'onde parte a irritao, com um afluxo grande deIeucocytos e uma abundante exsudao serosa.

    o que se observa nos pontos lesados pelatuberculose, quando no organismo se injecta alimpha de Koch, porque esta ectasina existe emgrande quantidade na tuberculina.

    Froiu e Ramond estudando os exsudados tuber-

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    culosos chegaram concluso de que elles contemuma certa quantidade de tuberculina, que pde serutilisada em teraputica.

    Tudo portanto parece residir no velho pro blema da immunidade. E no sem razo que eume quero furtar, n'este meu humilde e despreten-

    cioso trabalho, acerba critica, orientando-o nosentido da aplicao clinica e desviando-o o mais possvel dessa Babylonia de hypotheses que procuram explicar um facto biolgico, a immunidade.

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    Observaes

    i

    A. 0. Edade, 33 annos. Estado, casado. Natural, Sin-fes. Profisso, jornaleiro.

    Entrou para a enfermaria n. 4 com o n. 71 cama7, no dia 1 de Maio de 1918. Observao a 3 de Maio.

    ESTADO ACTUAL. Palidez. Decbito lateral esquerdo.Lingua levemente saburrosa. Apetite. Dyspnea.

    APPARELHO RESPIRATRIO. Tosse scca, muito rara,indolor. Movimentos respiratrios = 24.

    INSPECO DO TRAX. Abaulamento do hemitorax

    esquerdo. Movimentos respiratrios reduzidos d'est lado.Retraco inspiratria dos espaos intercostaes apenas visveis direita.

    PERCUSSO E AUSCULTAO.

    frente e esquerda: No vrtice.Macissez, expirao soprada, broncho-

    fonia. signal de Baceli, signal de Pitres.

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    Na base.

    Respirao nula. vibraes vocaes nulas,sonoridade nula, signal de Pitres. Macissez no espao deTraube.

    A frente e direita:No vrtice. Respirao augmentada, vibraes vocaes

    augmentadas.

    Atraz e esquerda:

    No vrtice. Macissez, expirao soprada, signal deBaceli, bronchofonia, vibraes vocaes nulas. Na base. Macissez, respirao nula, vibraes vo

    caes augmentadas.

    APPARELHO CIRCULATRIO. Ponta do corao direitado externo, junto do raamillo direito. Pulso pequeno, hypo-tenso; 84 pulsaes.

    ANTECEDENTES HEREDITRIOS. Pae morto ha 25 annos.Me viva cora 70 annos. Duas irms vivas saudveis. Umirmo fallecido em criana.

    ANTECEDENTES PESSOAES. Varicela em criana. Fu-runculose aos dezesete annos, que tem continuado. Temduas filhas vivas. A mulher teve um aborto.

    EVOLUO DA DOENA. A 3 do mez de Abril, andandono seu servio de jornaleiro, sentiu os primeiros symptomas:

    Pontada do lado esquerdo do trax, obrigando-o a recolher cama. Arripios. Febre elevada. Delrio durantetoda a noite e dia seguinte. Cephalalgia intensa.

    Ao fim de alguns dias: Tosse scca; dyspnea, que se

    foi accentuando; anorexia.

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    DIAGNOSTICO.Pleurisia esquerda.E-lhe feita uma puno exploradora que deu um liquidocitrino, transparente e lmpido, com reaco de Rivalta positiva.

    Enviada ao laboratrio Nobre a amostra com o n.6.315, deu como resultado analytico:

    Cytologia.Franca lymphocytose, raros mononucleares,clulas endoteliaes, glbulos rubros.

    Bacilo de Koch. Negativo ao exame directo e homo-genisao.

    Inoculao. Positiva.O doente entrou a fazer uma febricula oscilando

    entre 36,5 e 37.5. No dia i fez-se-lhe uma thora-centese extrahindo-se 2.500 c. c. de liquido, pratican-do-se conjuntamente uma injeco subcutnea de 10 c. c.d'est liquido. A diurese comeou a reduzir-se progressivamente; de 1.300 c. c. baixou a 350 c. c. at aodia 12.

    No dia 13 segunda injeco de 10 c. c. de liquidopleuritico.

    A diurese que n'este dia tinha sido de 1.100 c. c. voltou a reduzir-se nos dias seguintes; o numero de pulsaes

    augmentou; a temperatura raras vezes attingiu 37.No dia 22. terceira injeco de 10 c. c. de liquido pleu

    ritico. A quantidade de urinas manteve-se abaixo de 1litro, a temperatura comeou a oscilar entre 36,5 e 37,5.O peso do doente durante este mez de Maio baixou de 55,5quilos a 55 quilos.

    No dia 2 de Junho cuti-reaco positiva. No dia 13,

    thoracentese extrahindo-se 1.300 c. c. A quantidade de uri-

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    nas comeou a augmentar attingindo no dia 22, 2.000 c. c.(O doente fazia uso n'esta altura da teobroraina).Para os fins do mez a temperatura attingia 37,5. O

    peso n'esta altura era de 54.5 kilos.Alm da auto-sorotherapia o doente fez uso da estry-

    chnina, glicerophosphato de cal e teobromina.

    II

    S. P. A. Edade, 30 annos. Estado, solteira. Profisso,

    servial. Residncia, S. Roque da Lameira.Entrou para a enfermaria n. 7 no dia 21 de Agostode 1917 com o numero 11, cama 11.

    Observao a 25 de Agosto de 1917.

    ESTADO ACTUAL. Cefalalgia. Suores muito mais abundantes durante o somno. Anorexia. Lingua saburrosa emau gosto na bcca. Dores abdoininaes estendendo-se a todoo abdomen. Dr presso. Abdomen abaulado = 8lcm-.Tyinpanistno. Ascite. Diurese reduzida. Pulso pequeno,hypotenso e frequente = 100 pulsaes. Temperatura 39,5.Ausncia de menstruao.

    ANTECEDENTES HEREDITRIOS. Me fallecida aos 17em consequncia da complicao d'um parto. Pae, 48 annos

    e saudvel. 4 irmos saudveis.

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    SI

    ANTECEDENTES PESSOAES. Sarampo quando criana.

    EVOLUO DA DOENA. Doente ha um mez, apresentando anorexia, dores abJominaes, cansao e diarrea alternando com obstipao, abdomen volumoso.

    A puno exploradora revelou a existncia de umliquido citrino com a reaco de Rivalta positiva.

    Poucos dias aps a entrada na enfermaria a doente

    comeou a apresentar a seguinte symptomatologia do lado doapparelho respiratrio: Dr presso nos espaos inter-costaes do lado direito e frente, respirao soprada eatritos pleuraes. Atraz e tambm direita vibraes vocaes,sonoridade e respirao diminudas.

    DIAGNOSTICO. -Pleurisia e pritonite tuberculosa.

    No dia 1 de Setembro de 1917 fez-se uma paracentseextrahindo-se 3 litros de liquido citrino e fez-se uma injecosubcutnea de 10 c. c do mesmo liquido. No dia 10 segunda paracentse e injeco de 10 c. c. de liquido ascitico. Nodia 22 injeco de 10 c. c. de liquido ascitico. No dia 1 deOutubro injeco de 10 c. c. de liquido ascitico. No dia 10de Outubro injeco de 10 c. c. de liquido ascitico.

    A curva trmica pouco se modificou e a diurese man-teve-se reduzida at que nos meados do mez de Dezembroa temperatura comeou a baixar, normalisando-se comotambm a diurese comeou a augmentai' attingindo 1.300c. c. Nos princpios de Janeiro de 1918 a doente sem febree com o seu estado geral melhorado, sahiu do Hospital.

    Alm da auto-sorotherapia a doente fez durante o mez

    de Agosto a applicao de gelo. Nos mezes seguintes fez

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    uso da estrychnina, injeces de cacodylato de soda, glicero-phosphato de cal. cryogenina e leo de ligado de bacalhau.

    111

    R. J- L. Edade, 19 annos. Estado, solteira. Profisso,servial. Residncia. Gaia.

    Entrou para a enfermaria numero 7 no dia 28 deMaro de 1918 com o numero 68. cama 3.

    ESTADO ACTUAL. Emmagrecimento. Apetite. Cefalal-gias rontaes, porvezes. Fadiga com qualquer movimento.

    Ausncia de menstruao. Temperatura vespral 38.Lingua ligeiramente saburrosa. Degeta todos os dias. maspor vezes diarrea. Abdomen abaulado. Permetro abdominal= 95CI"-. Ascite. Rede venosa abdominal. Diurese reduzida 300 c c. Ausncia de albumina. Tosse com ligeiraexpectorao. Vmitos com o esforo da tosse. Movimentosrespiratrios == 40. Pulso, pequeno, hypotenso e frequente

    = 120 p. Ganglios cervicaes.PERCUSSO E AUSCULTAO.

    A. frente e esquerda:Respirao rude.A frente e direita:Respirao rude e expirao soprada no vrtice. Atritos

    pleuraes discretos.

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    Atraz e direita :Macissez na base e atritos pleuraes. respirao rude.Atraz e esquerda:Macissez na base. Atritos pleuraes. Respirao dimi-

    nuida.

    ANTECEDENTES HEREDITRIOS. Me failecida em consequncia de ictercia. Pae com 40 annos. saudvel, irmos

    dos quaes um fallecido em criana com variola, e os outrossaudveis.

    ANTECEDENTES PESSOAES. Sarampo quando criana.

    EVOLUO DA DOENA. Doente ha 3 annos com : perdade foras, anorexia, dyspnea com a marcha, tosse scca.

    vmitos de manh com esforo da tosse. Melhorou depoisum pouco pela interveno da medicao que acalmou um pouco estes symptomas. Ha um anno, peorou. A anorexiatornou-se maior, a dyspnea com o esforo passou a tel-a norepouso. Emmagrecimento, tosse scca e vmitos de manh.Ha 6 mezes agravamento maior de todos estes symptomase apparecimento de ascite com diurese reduzida.

    D I A G N O S T I C O . P R I T O N I T E E P L E U R I S I A T U B E R C U L O S A .

    A puno exploradora revelou a existncia de liquidocitrino na cavidade pleural esquerda com reaco de Rivalta positiva; direita revelou a existncia de liquido sero-sanguinolento, enquistado. No dia 1 de Abril foi-lhe feitauma paracentse extrahindo-se 3.450 grammas de liquido econjuntamente uma injeco subcutnea de 10 c. c. d'est

    3

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    liquide No dia 16 outra paracentse extrahindo-se 6.500gramas e nova injeco de 10 c. c. de liquido ascitico.Egual injeco foi praticada nos dias 11. 18 e 25 d Maioe 8 de Junho. No dia 15 de Junho uma paracentse extrahindo-se 3 litros de liquido ascitico e injeco de 10 c. c.d'est liquido. Alm d'est tratamento fez uso da teobro-mina. lactose, glycerophosphate de cai. adrenalina e compressas d'alcool. No dia "25 do mez de Junho de 1918 adoente

    sahiu no mesmo estado. Embora tivesse augmentado de pesodurante a estada no Hospital, o certo que a temperaturamanteve sempre a mesma irregularidade cora remisses eexacerbaes grandes como tambm uma diurese bastantereduzida.

    IV

    M. G. S. Edade, 18 auuos. Estado, solteira. Profisso,servial. Residncia, Porto.

    Entrou para a enfermaria n. 7 no dia 29 de Marode 1918 com o n. 69cama 2.Observao a 1 de Maio de 1918.

    ESTADO ACTUAL.Palidez. Cephalalgia frontal. Suoresnocturnos. Temperatura 38,9. Perda de foras. Anorexia.Diarrea j depois de internada, mas actualmente ausente.

    Empastamento da regio epigastrica, com defeza e dr.

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    Dores thoracicas direita, face anterior. Tosse scca. svezes ligeira expectorao. Dyspnea augmentando com osmovimentos. Movimentos respiratrios = 40. Diurese redu-zida=250 grammas. Pulso pequeno, hypotenso. frequente= 128 p. Desvio da ponta do corao para a linha media.Ausncia de menstruao ha 4 mezes.

    . PERCUSSO E AUSCULTAO. Macissez para a base do

    hemi trax esquerdo. Respirao nula d'est lado e na base.Respirao soprada no vrtice esquerdo. Respirao sopradano vrtice direito.

    ANTECEDENTES HEREDITRIOS.Pae fallecido, ignoran-do-se a causa. Me fallecida em consequncia de parto.

    ANTECEDENTES PESSOAES. Sarampo, quando criana.

    EVOLUO DA DOENA. Doente ha trez mezes: anorexia, perda de foras, suores nocturnos, dyspnea, tossescca, vmitos com esforo da tosse. Peorou ha 32 dias,com os esforos que fazia e aos quaes era obrigada peloseu mister, entre os quaes o de tirar agua de um poo,

    comeou a apresentar emmagrecimento mais acentuado ecrescendo dia a dia, anorexia, mais suores diurnos e nocturnos, dyspnea augmentada e mais tosse.

    DIAGNOSTICO PLEURISIA EXSUDATIVA. Puno explo-

    radora positiva, dando a reaco de Rivalta positiva.Enviada ao Laboratrio Nobre a amostra com o n. 6.343,

    a analyse qualitativa do liquido pleuritico deu o resultado

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    seguinte: Predomnio de lymphocytos e alguns glbulos rubros. A pesquiza do bacilo de Koch foi negativa. No dia 3apresentou dores abdominaes em forma de picadas. A 16d'est mesmo mez appareceram atritos pleuraes do ladodireito frente e atraz o que levou a fazer o diagnosticode pleurisia scca d'est lado. No dia 24 de Abril a cuti-reaco deu positiva. A doente que fazia temperaturas entre37 e 38,5, nos princpios de Maio passaram para 36,5e 37.5. No dia 8 d'est mez fez-se a extraco de 10 c. c.de liquido da cavidade pleural e injeco subcutnea d'estliquido. A temperatura nada modificou e a diurese au-gmentou ligeiramente. No dia 16 nova injeco de 10 c c.de liquido pleuritico. As oscillaes de temperatura torna-ram-se menores; a diurese reduziu-se. No dia 23 outrainjeco de 10 c. c. de liquido pleuritico. A doente nomais teve febre e a diurese augmentou. No dia 30, injecode 10 c. c. de liquido pleuritico. A doente manteve oestado anterior, diminuindo apenas o numero de pulsaese o numero de. movimentos respiratrios. A ultima injecode 10 c. c. de liquido pleuritico foi praticada no dia 6 deJunho porque no dia 13 d'est mesmo mez a puno pleuralfoi negativa. O estado geral da doente melhorou; o pulso,

    a respirao e a diurese normalisarara-se, augmentandotambm de peso. No dia 20 de Junho sahiu da enfermaria,melhorada. Alm da auto-sorotherapia a doente fez uso dateobromina, glycerophosphato de cal, estrychnina.

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    3?

    Y

    S. L. Edade, 30 annos. Estado, solteira. Profisso,servial. Residncia. Mattozinhos.

    Entrou no dia 20 de Agosto de 1917 para a enfermaria numero 10 com o numero 371.

    HISTORIA DA DOENA. Ha 3 semanas approximada-mente que sentiu pontada na base do hemitorax esquerdo,exacerbando-se com a tosse ou movimentos respiratriosmais intensos e movimentos dos braos. Dyspnea e ligeira

    tosse.

    DIAGNSTICO. Pleurisia sero-fibrinosa do lado esquerdo.

    O exame bacteriolgico do liquido pleuritico no revelou bacilos de Koch. O exame cytologico revelou numerosos lymphocytos, alguns grandes raononucleares, poucos po-lynucleares e alguns glbulos rubros.

    ANTECEDENTES HEREDITRIOS. Pae, ignora, porqueno vive com elle; me, sofre do reumatismo. Cinco irmosvivos e saudveis.

    ANTECEDENTES PESSOAES. Variola aos 20 annos.Tenia aos 28 annos. Foi sempre fraca, qualquer exerccio

    mais violento a fatigava. Syphilis.

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    No dia 24 de Agosto a altura do liquido correspondia quarta costella. Faz-se-lhe uma injeco subcutnea de1 c. c. de liquido pleuritico.

    No dia 26 a altura do liquido mantinha-se a mesma;nova injeco de 1 c. c. foi applicada.

    No dia 28 a altura do liquido correspondia 6.a costella. voltando a applicar-se outra injeco de 1 c. c. deliquido pleuritico.

    No .dia 30 a altura do lquido correspondia 9.a costella e uma injeco de 1 c. c. foi-lhe novamente applicada.

    No dia 31 o liquido estava reabsorvido. A doenteentrou com a temperatura de 38*. 1. baixando no dia seguinte para 37,7.

    No dia 3 de Setembro auscultao notaram-se atritos pleuraes em todo o hemitorax esquerdo. A temperatura

    continuou a baixar fazendo apenas durante uns dias umafebricula que rapidamente desappareceu.

    Sem outra medicao a doente consideravelmente melhorada, deixou a enfermaria pelos meados do mez deSetembro.

    VI

    J. A. Edade, 21 annos. Estado, solteiro. Profisso,servial. Residncia, Porto.

    Entrou para a enfermaria numero 10 com o numero

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    1658, no dia 22 de Maro de 1917, com o diagnostico de:Pleurisia do lado esquerdo.

    HISTORIA DA DOENA. Em meados de Fevereiro sentiu dr intensa no hemitorax esquerdo, poro infra-lateral.A dr tornou-se depois mais intensa e irradiou para todoo hemitorax. Doze dias depois apresentava: Cephalalgia;Arripios; Tosse; Dyspnea; Anorexia; Sede; Urinas raras

    e carregadas. No podia deitar-se sobre o lado direito.

    ANTECEDENTES HEEEDITAKIOS. Pae morreu aos 50annos com febre typhoide, tendo sido sempre saudvel. Metambm j fallecida com 50 annos approximadamente foisempre fraca. De 15 irmos, 11 so vivos e saudveis,ignorando a causa da morte dos outros.

    ANTECEDENTES PESSOAES.Teve sarampo; aos 14annos teve a febre typhoide contagiada pelo pae.

    Observao em 23 de Maro.

    INSPECO.Movimentos respiratrios 26. Typo respiratrio costal-superior. Immobilidade do cavado epigastrico.Menor mobilidade do hemitorax esquerdo. Ligeira mobilidade inspiratria. Forma obliqua ovalar do hemitoraxesquerdo.

    MENSUEAO. Hemitorax esquerdo 45,5 centmetros. Hemitorax direito 40,3 centmetros. Desvio doesterno para a esquerda 1,2 centmetros.

    PALPAO. Ponta do corao bate ao nvel da linha

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    mamillar direita. Abolio de vibraes vocaes no hemito-

    rax esquerdo. Signal dos espinaes pouco ntido, onda torcica positiva, principalmente fluctuao intercostal.

    PERCUSSO.Macissez em todo o hemitorax esquerdo.Macissez no espao de Traube.

    AUSCULTAO.Abolio do murmrio vesicular. So

    pro principalmente intenso no espao intercapular.

    DIAGNOSTICO.Pleurisia sero-fibrinosa de naturezatuberculosa. Cuti-reaco ligeiramente positiva. Expectoraobacilo de Koch negativa. Expectorao.Albumina. Reaco positiva. No dia 24 fez-se-lhe uma thoracen-tese extrahindo-se um litro de liquido pleuritico. Enviada ao

    laboratrio a amostra com o numero 7.223. a analyse qualitativa revelou existncia de muito poucos elementos celulares e o exame cytologico revelou bastantes lymphocytos,alguns grandes mononucleares e alguns polynucleares. Nodia 27 uma segunda thoracentese extrahindo-se egualmenteum litro de liquido e fazendo-se simultaneamente umainjeco subcutnea de 7 c. c. de liquido pleuritico. No dia

    2 de Abril injeco subcutnea de 10 c. c. de liquido pleuritico. No dia 10 de Abril injeco de 20 c. c. de liquido pleuritico.

    No dia 16 de Abril constatou-se que o liquido estavareabsorvido, sendo negativa uma puno exploradora feitanessa occasio, apresentando a doente a seguinte sympto-matologia :

    Tosse; exagero de vibraes vocaes na fossa infra-

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    clavicular esquerda e exagero d'estas vibraes no resto dp

    pulmo. Macissez em todo o hemitorax. principalmente naossa infia-clavicular e diminuio do murmrio vesicularno resto do pulmo. Sarridos crepitantes e atritos pleuraesdisseminados. A 19 d'est mez. apresentou vmitos, gas-tralgia e anorexia, que no dia 26 desappareceram. N'estamesma data ligeira ampliao da base esquerda. Vibraesdiminuidas esquerda, no vrtice; na base as vibraes

    normaes. Sonoridade diminuda esquerda em toda aaltura. Murmrio vesicular diminudo na base esquerda ;quasi normal no vrtice. Em 15 de Maio: atritos pleuraes.sarridos hmidos de medias bolhas. A 16 de Julho atritos pleuraes desapparecidos assim como os sarridos. O pulmoapresenta-se permevel, a sonoridade normal e^as vibraes vocaes tambm normaes.

    Clinicamente esta doente est curada.Por indicao do Director da enfermaria a doente vae

    para ares de campo.A 9 de Setembro aps a estada no campo, nova

    mente observada.Augmentou 6 quilos em peso.O estado pulmonar, bom.

    Vejamos agora se sim ou no esta doente beniticioucom a auto-sorotherapia.A doente entrou a fazer temperaturas superiores a

    39,5. No dia 2 de Abril, quando a temperatura estava a38. 1. foi-lhe feita uma injeco de 10 c. c. de liquido pleu-ritico. N'esse dia a temperatura baixou at s 3 da tarde,vindo para 37,8, comeando em seguida a subir at s 6

    horas da tarde chegando a 39,8 para baixar em seguida

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    uo dia seguinte a 36,5 at ao meio dia. attingindo 37,5s 3 da tarde.

    Nos dias seguintes a temperatura no ultrapaou 39, podendo dizer-se que oscilava entre 37 e 38,5 em media.

    No dia 10 quando a temperatura estava a 38 s 9horas da manh, foi praticada a injeco de 20 c. c. de liquido pleuritico. A temperatura subiu n'esse dia tarde a 39,5.At ao dia 21, manteve-se elevada, todos os dias attingia

    em mdia 38,5. O que era para notar que as remissesmatinaes eram de dia para dia maiores, attingindo os 37no dia 21.

    Assim passou o mez de Abril com temperaturas inferiores a 38,8, e superiores a 37.

    Do ilia 8 de Maio em deante a temperatura o mximoa 38. e o minimo a 36,7.

    Do dia 23 em deante passou a fazer temperaturasraras vezes attingindo 37,5, de ordinrio 37V2 e comremisses at 36,2. Gada vez estas oscilaes se foramtornando mais pequenas at que do dia 20 de Junho emdeante, a temperatura se manteve sempre abaixo de 37.Da analyse observao apresentada, v-se que duas thoracenteses foram feitas e apesar d'isso o liquido se reformou.

    Com a primeira e segunda injeco de 10 c. c. o liquidomanteve-se estacionrio, mas com a terceira injeco de20 c. c. o liquido comeou a reabsorver-se. Desde que estainjeco foi praticada a diurese comeou a augmentai'. N'esta doente havia leses pleuro-pulmonares que curarame cuja cura no pode ser attribuida seno absorpo, oumelhor dizendo, entrada na torrente sangunea do exsu-

    dado pleuritico. Qual o biomecanismo da cura? a maio-

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    ria das opinies dos biologistas que a introduco dos exsu-dados na corrente circulatria d logar ahi formao desubstancias imunisantes, tal como acontece com as auto-vacinas. E n'esta doente bem parece provada esta hypothse pois com certa progresso lenta e desapodada d'outramedicao que vimos effectuai'-se a cura feita nas melhorescondies.

    Eu tive occasio de observar alguns doentas hospitali-

    sados, que tendo tido a applicao da auto-sorotherapia,apresentavam certas particularidades na forma como reagiram a esse tratamento, que nos obrigaram a abandonal-o.Outros mostraram uma completa indifferena a este tratamento, como aconteceu doente R. J. L. da enfermaria 7,evoluindo a doena sem a menor paragem dos seus symptomas.

    Uma outra doente com ascite tuberculosa, com asegunda injeco de liquido peritoneal de 10 c. c. comeou aa fazer temperaturas elevadas e com grandes oscilaes, oque nos levou a no praticar outra injeco.

    Pergunto agora se em virtude da elevao de temperatura que precedeu a 2.a injeco, ao contrario do quesuccedeu com a l.a, devia constituir n'este caso uma contra,

    indicao ao uso da auto-sorotherapia? Se esta elevao detemperatura no seria ma indicao para fixarmos aquantidade de liquido a injectar em prximas applicaes?No ser o organismo susceptvel de modificar a quantidadede tuberculinas sob a influencia d'estas injeces e d'ahi anecessidade de alterar a quantidade a injectar?

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    Como se deprehende das observaes apresentadas, os resultados obtidos so muito diversos emuito diffrente o modo seguido na applicao

    para cada doente, se bem que o critrio, a traoslargos, se}a o mesmo para todos. Isto significaapenas o quanto este trabalho de deficiente representa, pela falta de uma longa observao, que podesse marcar um certo numero de princpios bem assentes, nos quaes residisse todo o xitotherapeutico.

    Mas, da comparao de todas estas observaes, alguns factos importantes resaltam immediata-mente, dos quaes nos permitimos tirar algumasconcluses.

    Referir-me-hei technica, s indicaes e con-tra-indicaes.

    Technica

    Uma seringa da capacidade de 20 c. c. e umaagulha de platina de 6 c. de comprimento, em mdia,renem todo o material. Uma vez diagnosticado o

    derrame, a puno exploradora torna-se indispen-

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    svel para a determinao da sua natureza, de maneira que, n'uma s operao podemos satisfazertrez fins, procedendo da seguinte maneira: com aagulha montada na seringa convenientementeesterilisada para no fazermos associaes micro bianas, ou ento tornar infectado o que at ahi

    no estava

    faz-se a puno de forma a que a ponta da agulha mergulhe no seio do exsudado,o que facilmente se reconhece, quer pela sensaode resistncia que se nota ao atravessar os diferentes tecidos, quer pela facilidade na maior partedos casos, de se fazer dar um movimento de cir-cunduo seringa. Faz-se a aspirao lentamente,e desde que o calibre da agulha seja sufficiente parano se deixar obstruir, o que vulgarissimas vezesacontece desde que haja membranas formadas ounumerosssimos elementos celulares aglutinados,ns immediatamente reconhecemos se o exsudado seroso, purulento ou hemorrhagico ou uma e outra coisa. Segundo Gilbert, sempre que o derrameseja seroso ou sero-hemorrhagico, inflammatorio ouno, ns devemos adentro das indicaes clinicasdo methodo fazer a auto-sorotherapia, para o que,retirando lentamente a agulha de forma a ficar a ponta no tecido cellular subcutneo, ns fazendo

    uma prega na pelle n'ella depois introduzimos a

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    agulha, injectando a quantidade que fixarmos, segundo os dados clnicos determinados previamente.Retira-se em seguida bruscamente a agulha, desfazendo o trajecto por meio de compresso entre opollegar e o indicador da mo esquerda, primeiro, edepois a obstruo com um pouco de algodo em-

    bido em colodio. Satisfeitos assim, n'uma s operao, estes dois fins, o restante da colheita serve paran'elle se fazer uma srie de exames chymicos, physicos e biolgicos, sem que o doente paraisso tenha de ser muito massado e exposto sgraves complicaes d'uma puno, que em determinadas circumstancias podem sobrevir.

    Repetida na mesma forma, as vezes que foremnecessrias, tem sempre o mesmo valor pelosensinamentos que nos d na sua seriao, isto como quem diz sobre a quantidade e a qualidade.E vem ento a propsito dizer, que o logar deeleio para a puno no deve ser indiffrente,devendo pelo contrario obedecer a umas poucas deindicaes a que submettemos o nosso critrio.D'esta forma, do logar da puno ns podemosconcluir e fazer depender concluses.

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    Indicaes e contra-indicaes

    Nesta parte eu terei em especial linha de conta,attentas as observaes apresentadas, o que se refere pleurisia sero-fibrinosa e ascite tuberculosa, o

    que vem a recahir um pouco na therapeutica d'estasformas de tuberculose, mas no emtanto eu no deixarei de concordar que ela applicavel a todos oscasos de exsudados em geral.

    Se o valor therapeutico dos exsudados tuberculosos reside na quantidade de auto-tuberculinasque contem, fcil estabelecer as indicaes e contra-indicaes da sua applicao, procedendo tal-qualmente como com as tuberculinas.

    Aps uma injeco de sorosidade devem atentamente observar-se as reaces trmica, local egeral. sobretudo a temperatura que mais nosdeve guiar.

    Se a curva trmica se altera depois duma in jeco, devemos abstermos de praticar uma segunda. Muitas das vezes podem sobrevir pheno-rnenos de anaphylaxia que constituem at certo ponto uma contra-indicao. , no emtanto maisfcil manejar as tuberculinas do que fazer a auto-sorotherapia. Esta falha o mais das vezes, porque

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    procedemos muito empiricamente. Para que osresultados fossem seguros era preciso que fossedeterminada a quantidade de auto-tuberculinas existente em cada centmetro cubico de sorosidade e por outro lado o coefficiente opsonico bem determinado no sangue do doente.

    D'esta maneira poder-se-hia com segurana esperar o.s. bons resultados.

    flpplicaes clinicas e seu valor therapeutico

    Ainda que pouco generalisadaa auto-sorothera-pia a meu ver, a sua applicao deve estender-se atodos os casos, qualquer que seja a natureza doderrame.

    sobretudo na tuberculose que ella tem sidomais applicada. No emtanto seja qual fr a causa doderrame sempre um tratamento a tentar, desdeque as condies do doente o permitam. Tem-se praticado este tratamento em casos em que o derrame no inflammatrio, como por exemplo nohydrocele e na ascite por cirrose heptica. O que curioso, que no se dando nestes casos a cura,nota-se algumas vezes uma melhora aprecivel,por. vezes at a reabsorpo completa, mas tempo-

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    rariamente. Para os derrames inflammatories, almd'esta propriedade cujo mechanismo physiolgico obscuro, o valor therapeutico d'est methodo consiste em aproveitar os anticorpos existentes nos ex-sudados. portanto autotherapia que se pretendefazer. Sendo assim, porque razo, na tuberculoseno procuramos ns tambm as auto-tuberculinasnos escarros, no ps dos abcessos frios e nos derrames purulentos? No existem ellas ahi? Bem sei quea par d'essas substancias defensivas existem outrasaltamente nocivas, mas os artifcios do laboratrio, para alguma coisa ho-de servir.

    i

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    Proposies

    Anatomia descriptiva e topographica. A topogra-phia dos rgos impares justifica a desigualdade dos rgospares e symetricos.

    Physiologia. A funco mais complexa a da phagocytose.

    Pathologia geral. A immunidade deve definir-se: aresultante do conjuncto de factores physicos, chymicos e

    biolgicos que um organismo emprega em sua defeza.

    Hygiene.A hygiene moral a base da hygiene phy-

    sica.

    Clinica medica. As perturbaes cardacas na gripe pneumnica so na maior parte dos casos devidas intoxicao do pneumogastrico.

    Clinica cirrgica. O methodo de Bier realiza em

    parte a autotherapia.

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    Operaes. Na reseco do joelho, a conservao da

    rotula deve considerar-se objecto de luxo.

    Partos. Nas mulheres gravidas e cora a influenza pneumnica, o aborto a regra.

    Medicina legal. Nos casos de falncia moral dos pes ou tutores dos menores que necessitem de consenti

    mento para sofrerem qualquer interveno cirrgica, quese imponha, devia esta auctorisao depender d'uni conselhomedico-legal.

    Visto Pode imprmir-se

    cTfiiixao 3'almeida, Sltaxvmiano XevnoS,

    Presidente.

    *