AUTONOMIA E EMANCIPAÇÃO NA CONSTRUÇÃO DO SABER EM AMBIENTE VIRTUAL(EAD NO ENSINO SUPERIOR)
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UNIVERSIDADE NOVE DE JULHO – UNINOVE
FORMAÇÃO DE DOCENTES PARA ENSINO SUPERIOR - EAD
AUTONOMIA E EMANCIPAÇÃO NA CONSTRUÇÃO DO SABER
EM AMBIENTE VIRTUAL(EAD NO ENSINO SUPERIOR)
VERUSCHKA CAVALCANTE CAZORLA
SÃO PAULO
2015
VERUSCHKA CAVALCANTE CAZORLA
AUTONOMIA E EMANCIPAÇÃO NA CONSTRUÇÃO DO SABER
EM AMBIENTE VIRTUAL(EAD NO ENSINO SUPERIOR)
Artigo apresentado na Universidade Nove
de Julho – Uninove, como requisito
parcial para a obtenção do grau de
Especialização em Formação em Didática
do Ensino Superior.
Orientadora: Profª. Ms.Eneida de Almeida
dos Reis
SÃO PAULO
2015
AUTONOMIA E EMANCIPAÇÃO NA CONSTRUÇÃO DO SABER
EM AMBIENTE VIRTUAL
CAZORLA, Veruschka Cavalcante
REIS, Eneida de Almeida dos.
RESUMO
O presente trabalho busca realizar um breve levantamento bibliográfico sobre os
conceitos de Autonomia e Emancipação apresentados na obra de FREIRE E
MORIN, procurando relacionar estes conceitos dentro do contexto de aprendizagem
e ensino na modalidade EAD e associar sua aplicabilidade e contribuições
ideológicas junto ao contexto da construção do saber em ambiente virtual.
PALAVRAS CHAVES : Autonomia, Emancipação, Educação a Distância,
This study aims to carry out a brief literature review on Autonomy and Emancipation
concepts presented in the work of FREIRE and MORIN, trying to relate these
concepts within the context of learning and teaching in distance education mode and
associate their applicability and ideological contributions by the construction context
of knowledge in virtual environment.
KEYWORDS: Autonomy, Emancipation, Distance Education,
INTRODUÇÃO
A grande propagação de cursos em Nível Superior na modalidade EAD, resultado
das transformações político econômicas vividas na sociedade contemporânea e fruto
das exigências que emergem da Globalização e da Sociedade da Informação,
suscitam diversos questionamentos sobre o grau de eficiência e qualidade do tipo de
ensino que esta sendo oferecido a grande massa que necessita de formação
Superior e que por diversas questões de configuração sócio econômica, ou de
tempo e espaço, recorrem a esta modalidade.
Por outro lado, o surgimento desta modalidade não emergiu apenas como resposta
a questões de mercado ou devido a interesses econômicos, mas principalmente
como meio e recurso de inclusão social, democratização do conhecimento, e,
portanto, de significação e cidadania para inúmeros brasileiros que se viam
excluídos das condições de formação superior devido a várias dificuldades e
restrições que encontravam dentro da estrutura pedagógica presencial existente até
então, e a partir da realidade constatada, novos desafios foram identificados. Desde
então, a prática pedagógica em ambiente virtual passa a ser objeto de estudo no
sentido de aprimoramento e adequação para preservação de suas perspectivas de
ensino; porém, adaptada e bem coordenada com os recursos tecnológicos e
didáticos próprios do meio utilizado.
Dentre os diversos desafios que despontam no EAD, podemos destacar dois
principais, onde um, é o esforço existente para que esta modalidade não se torne
apenas uma transposição do sistema pedagógico tradicional para o virtual,
utilizando-se apenas como diferença o meio e os recursos pela qual se apresenta e
do qual FREIRE (1975), denomina de “educação bancária” e ou pedagogia da
transmissão. E outro que está baseado na relação professor x aluno que se
apresenta em estrutura bastante diferenciada, deixando o professor de ser o
detentor do saber, o transmissor exclusivo que “deposita” o conhecimento, para
mediador e “tutor” do saber, aquele que dentro da estrutura baliza, acompanha,
assessora, avalia e esclarece, porém na maior parte do tempo por meio da
linguagem escrita, excluindo na maior parte das vezes, recursos que em sala de
aula tradicional são complementados por entonação, tom de voz e linguagem
corporal. Considerando as partes envolvidas, surge o desafio da qualidade e
assertividade da comunicação; do aluno: a organização, disciplina, cumprimento de
prazos e autodidatismo para compreensão do conteúdo ou discussão proposta, e
assim também, de criticidade, raciocínio lógico, normas cultas de linguagem,
associação de conteúdos e correlações práticas junto a sua história de vida, enfim, a
necessidade da construção de uma pedagogia do diálogo, da construção da
estrutura de vida relacional do aluno em seu meio e interações entre as partes que
resulte neste aprendizado contemporâneo e que ao mesmo tempo qualifica o
discente para a formação continuada necessária para a sua atuação profissional e
interação social.
O objetivo deste trabalho é a identificação de como os autores escolhidos
apresentam a operacionalização desta realidade, de como conceituam e apresentam
cada qual de sua maneira, o discente, o sujeito que é agente da própria construção
de saberes e o docente como catalisador deste processo.
Com objetivo de delimitação da pesquisa, excluiu-se a abordagem da interferência
de recursos tecnológicos no alcance dos objetivos pedagógicos e a descrição dos
recursos de plataformas e meios didáticos utilizados, procurando abordar
exclusivamente o uso dos conteúdos ensinados e as interações que se utilizam da
linguagem no sentido de delimitar o estudo do tema ao embasamento teórico da
construção da relação professor x aluno e aluno x conhecimento x professor e assim
por diante.
A escolha dos autores FREIRE E MORIN, também compõem parte da delimitação
da pesquisa bibliográfica, do qual este trabalho tem como foco, e que, devido ao
campo de pesquisa ser demasiadamente extenso e profundo, necessitou ser
delimitado a visão dos autores escolhidos.
1. EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA – CONSIDERAÇÕES
A Educação a Distância no Brasil foi incluída oficialmente na Lei de Diretrizes e
Bases em 20 de dezembro de 1996, Lei n.º 9.394, e apresenta em seu artigo nº 80 o
Poder Público Brasileiro como principal incentivador para “o desenvolvimento e a
veiculação de programas de ensino a distância, em todos os níveis e modalidades
de ensino, e de educação continuada.” Após a sua instituição, em de 20 dezembro
de 2005, ela passou a ser regulamentada por meio do Decreto nº 5.622 que
descreve a Educação à distância como:
[...] modalidade educacional na qual a mediação didático-pedagógica nos processos de ensino e aprendizagem ocorre com a utilização de meios e tecnologias de informação e comunicação, com estudantes e professores desenvolvendo atividades educativas em lugares ou tempos diversos.” (Decreto n.º 5.622, art. 1º).
Da definição apresentada acima podemos perceber o uso de alguns termos
descritivos que sinalizam os diferenciais desta modalidade de ensino em relação ao
ensino presencial e que podem nos auxiliar melhor no estabelecimento de suas
diferenças, das quais podemos perceber: “a mediação didático-pedagógica [...] com
a utilização de meios e tecnologias de informação e de comunicação” e o
envolvimento e desenvolvimento dos lados que compõem este processo sendo
provenientes de diferentes “lugares ou tempos diversos”. (Decreto n.º 5.622, art. 1º)
Conforme o artigo 1º deste Decreto a nova configuração do espaço e lugar onde o
processo de ensino e aprendizagem é produzido no EAD passa a exigir algumas
alterações na rotina até então utilizada no ensino presencial, e com isto, a
necessidade de alterações de ordem organizacional tanto por parte de alunos como
dos educadores.
Além das questões de tempo e espaço, surgem também as alterações e
adequações necessárias na dinâmica pedagógica e na operacionalização deste
processo e que KENSKI (1998, p. 68), descreve como a necessidade de uma nova
forma de pensar, de compreender estas mudanças e encará-las como oportunidade
de vivência de um contexto de mundo “com uma nova lógica, uma nova cultura, uma
nova sensibilidade” e “uma nova percepção”.
2. Configurações e Características do Ensino em Amb iente Virtual
O corpo textual apresentado no artigo 1º do Decreto nº 5.622/2005 descreve e
define por si só o que se considera fruto da prática docente no Ensino a Distância e
o denomina de: “mediação didático-pedagógica”, ressaltando a necessidade de
remodelamento da postura adotada anteriormente do professor que antes era a
principal fonte de transmissão do conhecimento (mesmo utilizando-se dos meios
didáticos e para didáticos usuais) passando assim a ser considerado como de
mediador, e esta mediação didático-pedagógica feita por meio dos recursos
tecnológicos e de comunicação.
É preciso que o professor, antes de tudo, posicione-se não mais como o detentor do monopólio do saber, mas como um parceiro, um pedagogo, no sentido clássico do termo, que encaminhe e oriente o aluno diante das múltiplas possibilidades e formas de alcançar o conhecimento e de se relacionar com ele.(KENSKI, 1998, p.68)
E sobre as possibilidades emergentes da prática didático-pedagógica nesta
modalidade KENSKI afirma ser necessário adotar:
Não mais, apenas, a perspectiva estrutural e linear de apresentação e desenvolvimento metodológico do conteúdo a ser ensinado; nem tampouco a exclusiva perspectiva dialética. Uma outra lógica, baseada na exploração de novos tipos de raciocínios nada excludentes, em que se enfatizem variadas possibilidades de encaminhamento das reflexões, se estimule a possibilidade de outras relações entre áreas do conhecimento aparentemente distintas. A apropriação dos conhecimentos neste novo sentido envolve aspectos em que a racionalidade se mistura com a emocionalidade; em que as intuições e percepções sensoriais são utilizadas para a compreensão do objeto do conhecimento em questão. (KENSKI,1998, p.68)
Assim, no EAD exige-se do aluno e professor uma abertura para uma vivência
diferenciada da experiência presencial, uma responsabilidade maior em relação á
administração dos conteúdos, seja na elaboração ou na leitura, na maneira de
integrar e se relacionar, e na postura pró ativa e auto gestora dentro de todo
processo.
No processo de ensino-aprendizagem desencadeado segundo esse modelo o professor tem papel importante. É ele o mediador da aprendizagem, aquele que instiga, provoca e lança desafios. É ele também quem planeja todo o processo, oferecendo condições para que as atividades educacionais sejam desafiadoras e interessantes, de acordo com o nível e o perfil dos aprendentes. Para isso, a formação desse profissional deve lhe garantir condições para estar preparado para o novo, para lidar com as diferenças, para a imprevisibilidade de um ambiente em que os alunos trazem¸ freqüentemente, novos assuntos e novas propostas de discussões. (KENSKI, 2009, p.224)
Quando analisadas as condições e padrões necessários de ensino que são
componentes do EAD podemos concluir que o único fator que difere dos conceitos
de aprendizagem ensinados por FREIRE e MORIN é a plataforma em que este
conhecimento e esta prática pedagógica é apresentada, ou seja, os meios
tecnológicos e de comunicação.
3. Considerações sobre tecnologia, ensino e aprendi zado
A inserção destas considerações neste artigo foi efetuada no sentido de possibilitar
o estabelecimento de elementos comuns existentes entre estes três assuntos:
tecnologia, ensino e aprendizado, procurando demonstrar que suas especificidades
não são postulados apenas deste tempo que se é denominado de a “Era do
Conhecimento” ou da “Sociedade da Informação”, como muitos afirmam ser, e sim
componentes de um elemento da história vivida presentemente, configurada dentro
do nosso tempo e espaço, do agora, e que analisado no tempo passado, sempre
existiram conforme os recursos e limitações de seu tempo, denominados igualmente
de tecnologia, assim como sobre a monta de seus avanços presentes, tenciona,
motiva e inspira avanços maiores no futuro.
Desta forma, o ambiente tecnológico virtual que é oferecido pelo espaço da internet
nos oferece um universo de conteúdos que são possíveis pelos meios de acesso
que uma pessoa possui, seja internet via ondas, rádio, cabo ou satélite, isto é uma
realidade existente no agora, nada impede de alcançarmos em futuro próximo,
meios muito mais avançados de acesso a este “universo de informações” ou até
mesmo outros, seja quais ou por quais meios forem, por conexão elétrica,
eletromagnética, micro-ondas ou até mesmo telepatia, como a ficção científica
costuma apresentar, enfim o futuro é uma incógnita e apenas quando ele se tornar o
“presente” é que vislumbraremos suas possibilidades reais, assim como no passado,
as aulas transmitidas pelas ondas dos rádio ou pelas imagens da TV eram
consideradas “última geração” para aqueles que viveram aquela realidade.
Conforme KENSKI:
[...] as tecnologias são tão antigas quanto a espécie humana. Elas existem desde a idade da pedra, quando os mais fortes se destacavam com ideias para a sua própria sobrevivência e, à medida que iam sobrevivendo, surgiram novas necessidades, de modo que novas tecnologias foram sendo criadas. Esse processo ocorre até os dias atuais, isto é, no decorrer da evolução originaram-se diferentes tecnologias. Atualmente, temos uma evolução tecnológica bem diferente da realidade da idade da pedra, mas que possui os mesmos objetivos, sempre buscando novas formas de melhorar os processos existentes que ocorrem nos diversos setores da sociedade, desenvolvendo mudanças tanto na vida coletiva, como na vida individual. (KENSKI, 2007, p. 15)
Quanto á tecnologia Paulo Freire em seu livro: A Pedagogia da Autonomia, diz que:
“Divinizar ou diabolizar a tecnologia ou a ciência é uma forma altamente negativa e
perigosa de pensar errado.”(FREIRE, 1996, p.19), já no livro: Conscientização, ele
alerta sobre o risco de que a tecnologia, caso não seja bem administrada, possa
repetir erros anteriores que a evolução dos recursos científicos não conseguiram
superar.
Se se considera que a tecnologia não é somente necessária, mas que representa uma parte do desenvolvimento natural do homem, a questão que se apresenta aos revolucionários é saber como evitar os desvios míticos da tecnologia. As técnicas de “relações humanas” não constituem resposta porque, em última análise, não são mais que outra maneira de domesticar e de alienar os homens para que produzam em maior proporção. (FREIRE, 1979, p.47)
Considerando sua visão mais ideológica no livro: A pedagogia do Oprimido, o autor
refere-se à tecnologia, na maior parte das vezes, de maneira crítica, abordando ela
como uma continuação do processo de segregação e opressão dos que são
excluídos pela falta de acesso a mesma, visão esta declaradamente pessoal, porém
não exclusiva, pois também demonstra e reconhece sua importância e necessidade
em outras de suas obras, como no livro A pedagogia da Autonomia (1996, p.53) e
reforça sua tese ao afirmar que na ocasião de sua passagem como Secretario de
Educação da Cidade de São Paulo fez chegar “à rede das escolas municipais o
computador”.
Não tenho dúvida nenhuma do enorme potencial de estímulos e desafios à curiosidade que a tecnologia põe a serviço das crianças e dos adolescentes das classes sociais chamadas favorecidas. (FREIRE, 1996, p.53)
E não vai nesta consideração nenhuma arrancada falsamente humanista de negação da tecnologia e da ciência. Pelo contrario é consideração de quem, (...) a olha ou mesmo a espreita deforma criticamente curiosa.(FREIRE, 1996, p.18)
MORIN também apresenta sua visão sobre o risco social que a tecnologia pode
apresentar utilizando o termo “fratura social” quando se refere à nova sociedade que
emerge deste contexto e os cidadãos que se encontram excluídos, e afirma: “o
mesmo processo está em andamento no acesso às novas tecnologias de
comunicação entre os países ricos e os países pobres.” (MORIN, 2005, p.112)
Com a tecnologia, inventamos modos de manipulação novos e muito sutis, pelos quais a manipulação exercida sobre as coisas implica a subjugação dos homens pelas técnicas de manipulação. Assim, fazem-se máquinas a serviço do homem e põem-se homens a serviço das máquinas. E, finalmente, vê-se muito bem como o homem é manipulado pela máquina e para ela, que manipula as coisas a fim de libertá-lo.(...)
Em outras palavras, não aplicamos os esquemas tecnológicos apenas ao trabalho manual ou mesmo à máquina artificial, mas também às nossas próprias concepções de sociedade, vida e homem. (MORIN, 2005, p.109)
Embora percebamos as preocupações de MORIN sobre os efeitos da tecnologia na
sociedade, mais a frente estudaremos sua visão bastante enriquecedora e seu
conceito sobre o aprendizado necessário para o futuro que esperamos viver.
De qualquer forma, assim como o conhecimento tecnológico é entendido com
existente “desde sempre”, utilizado para fins diversos, e que desde o inicio da
humanidade existiu com as peculiaridades próprias de sua era, também ocorreu com
o ensino e aprendizado, existente desde que o homem se entendeu homem, e que
sem ele talvez, muito provavelmente, não existiria a tecnologia, pois os avanços que
existem são sobreposições e remodelamento de ideias que partiram do simples ao
complexo, que foram aprendidas, assimiladas, ensinadas, reelaboradas até chegar
ao que se visualiza nos dias de hoje. “Já agora ninguém educa ninguém, como
tampouco ninguém se educa a si mesmo: os homens se educam em comunhão,
mediatizados pelo mundo.” (FREIRE, 1987,p. 39)
Para Paulo Freire o aprender veio antes do ensino e do espaço escolar, e a
percepção do ser humano quanto a isto foi progressiva no decorrer do tempo, porém
desde que ele entendeu-se como ser, e isto teve seu inicio pelo reconhecimento de
si e do outro.
Ensinar inexiste sem aprender e vice-versa e foi aprendendo socialmente que, historicamente, mulheres e homens descobriram que era possível ensinar. Foi assim, socialmente aprendendo, que ao longo dos tempos mulheres e homens perceberam que era possível - depois, preciso - trabalhar maneiras, caminhos, métodos de ensinar. Aprender precedeu ensinar ou, em outras palavras, ensinar se diluía na experiência realmente fundante de aprender.
No fundo, passa despercebido a nós que foi aprendendo socialmente que mulheres e homens, historicamente, descobriram que é possível ensinar. Se tivesse claro para nós que foi aprendendo que percebemos ser possível ensinar, teríamos entendido com facilidade a importância das experiências informais nas ruas, nas praças, no trabalho, nas salas de aula das escolas nos pátios dos recreios, em que variados gestos de alunos, de pessoal administrativo, de pessoal docente se cruzam cheios de significação. Há uma natureza testemunhal nos espaços tão lamentavelmente relegados das escolas. (FREIRE, 1996, p.12)
Assim, podemos concluir que o ensino em ambiente virtual, propagado e sustentado
pelos meios tecnológicos e de comunicação (TIC’s) não é apenas um fruto do
avanço da tecnologia que tem invadido e alcançado cada dia mais espaços em
nossa sociedade ou resultado de mais uma forma de imposição de alguma classe ou
segmento, e sim que ele é o processo de acompanhamento da evolução própria
deste tempo, da mesma maneira como o ensino na era da pedra pôde ser feito por
meio de desenhos nas paredes ou por meio do balbuciar do “homosapiens” ou do
uso dos correios para formação por meio de correspondência nos anos 70 aos 90.
Assumir uma postura puramente criticista sobre este assunto acaba por tornar a
discussão um aspecto um tanto pragmático e retrógrado. Não que o EAD não
possua aspectos em que necessite de melhorias, longe disto, porém, torna-se
importante cada dia mais o enfrentamento das realidades e necessidades do ensino
deste tempo, para que estes mesmos problemas possam ser superados e, com
estas resoluções, buscar utilizá-lo como meio de resgate dos mecanismos de
exclusão e alienação.
4. SOBRE A PRÁTICA EDUCACIONAL DE FREIRE E MORIN
Embora a posição ideológica de Freire seja abertamente defendida por ele como
progressista (esquerdista); o EAD ser considerado por alguns críticos, alcunhados
de “tecnofóbicos”, como uma ferramenta a serviço dos ideais liberalistas que
infundem a Globalização como meio de dominação e imposição hegemônica, neste
sentido denominada de “Globaritarismo”, e de MORIN ser considerado em alguns
momentos por estes mesmos setores de paladino destas vozes por propor uma
consciência global, usando termos como “consciência planetária, era planetária e
identidade terrena” e portanto acusado de desterritorialização do ensino, torna-se
importante deixar claro que o objetivo neste artigo é não considerar as dicotomias ou
discussões que são de cunho ideológico político e sim o estudo específico dos
conteúdos de FREIRE e MORIN sobre as configurações de ensino e aprendizado
propostas por este autores e as possíveis relações com as necessidades e
condições que são necessárias para o bom desenvolvimento da ação docente e
discente na plataforma EAD.
Tendo realizado até aqui as considerações pertinentes a abordagem do contexto em
que se procede este estudo passamos agora a definição específica dos conceitos
apresentados pelos autores conforme o delineamento apresentado no objeto deste
artigo.
4.1 Autonomia – Definição e Visão dos Autores
No dicionário Aurélio a palavra autonomia esta definida como: 1 - Faculdade que
conserva um país conquistado de se administrar por suas próprias leis. 2 - Liberdade
moral ou intelectual. 3 - Independência administrativa.
Para FLICKINGER (2011) o conceito inicial de autonomia foi exposto por I. Kant e
referenciado sempre no contexto da idéia de maioridade, da responsabilidade “legal
e política” do indivíduo, e ao mesmo tempo, “ético-moral”, exemplificando o conceito
ele explica que a “autonomia, no seu sentido originário grego, significa a capacidade
de dar a si mesmo as normas de comportamento e atuação. A competência de auto-
legislação é seu cunho.”
“A tarefa de tirar a pessoa do estado da menoridade, dando-lhe a competência de decidir sobre seus interesses e sua atuação, sem intromissão de outros, marca o centro da argumentação kantiana. Usar seu próprio entendimento é a virtude do homem esclarecido, que dele faz um ser autônomo. Por isso, “a saída do homem de sua menoridade,da qual ele mesmo é culpado” deveria marcar o projeto iluminista da formação que se preocupa, antes de tudo, com o desenvolvimento da pessoa em direção à conquista de sua autonomia.” (FLICKINGER, 2011, p.9)
Para FREIRE o conceito de autonomia é definido, e melhor entendido, junto ao
contraponto da heteronomia, conceito também apresentado por I. Kant, que é
utilizado para explicitar o sujeito que é “submisso a vontade de outros” ou o indivíduo
que é regido por normas e regras de conduta que não são próprias, para Vicente
Zatti “é a determinação passiva do sujeito pelo que lhe é externo” (ZATTI, 2007 p.9 )
Se trabalho com crianças, devo estar atento à difícil passagem ou caminhada da heteronomia para a autonomia, atento à responsabilidade de minha presença que tanto pode ser auxiliadora como pode virar perturbadora da busca inquieta dos educandos, se trabalho com jovens ou adultos, não menos atento devo estar com relação a que o meu trabalho possa significar com estimulo ou não à ruptura necessária com algo defeituosamente assentado e à espera de superação. Primordialmente, minha posição tem de ser a de respeito à pessoa que queira mudar ou que recuse mudar. Não posso negar-lhe ou esconder-lhe minha postura mas não posso desconhecer o seu direito de rejeita-la. (FREIRE, 1996, p.42)
O autor apresenta portanto, o processo do ensino e aprendizagem como uma ação
construtiva que propicia ao educando a construção gradual de sua independência
intelectual, o nascimento de sua maturidade em relação ao que aprende e o que
assimila, a partir disto, suas escolhas no tocante ao que aprende, resultando assim
um ato de liberdade e de afirmação de sua capacidade de gerir-se, por si só,
baseado no que aprende e apto a transformar a realidade por meio disto, assim “É
com ela, a autonomia, penosamente construindo-se, que a liberdade vai
preenchendo o espaço antes habitado por sua dependência. Sua autonomia que se
funda na responsabilidade que vai sendo assumida.” (FREIRE, 1996, p.58)
Para ele “o educando que exercita sua liberdade ficará tão mais livre quanto mais
eticamente vá assumindo a responsabilidade de suas ações. Decidir é romper e,
para isso, preciso correr o risco” (FREIRE, 1996, p.57), e continua:
Ninguém é autônomo primeiro para depois decidir. A autonomia vai se constituindo na experiência de várias, inúmeras decisões, que vão sendo tomadas. (...) Ninguém é sujeito da autonomia de ninguém. Por outro lado, ninguém amadurece de repente, aos 25 anos. A gente vai amadurecendo todo dia, ou não. A autonomia, enquanto amadurecimento todo dia, ou não. A autonomia, enquanto amadurecimento do ser para si é processo, é vir a ser. Não ocorre em data marcada. É neste sentido que uma pedagogia da autonomia tem de estar centrada em experiências estimuladoras da decisão e da responsabilidade, vale dizer, em experiência respeitosas da liberdade. (FREIRE, 1996, p. 67)
Para MORIN em sua obra “A Cabeça Bem Feita”, que dedicou á educação e ao
ensino, apresenta o lado crítico ao conceito da heteronomia quando se refere a
utilização do termo “formação” no ensino, do qual entende possuir “conotações de
moldagem e conformação”, e portanto impeditivos ao pensamento livre e
desenvolvimento do aprendizado que sobrepuja a mera assimilação de conteúdos
pré estabelecidos, conforme ele:
“Tem o defeito de ignorar que a missão do didatismo é encorajar o autodidatismo, despertando, provocando, favorecendo a autonomia do espírito. (...) A missão desse ensino é transmitir não o mero saber, mas uma cultura que permita compreender nossa condição e nos ajude a viver, e que favoreça, ao mesmo tempo, um modo de pensar aberto e livre.” (MORIN, 2005, p.10 e 11)
Antes de iniciar a abordagem mais específica das idéias de MORIN sobre autonomia
e emancipação, torna-se necessário antes discorrer um pouco sobre o contexto em
que elas se apresentam e que o autor denomina como “o pensamento complexo” e
que é a raiz de todo arcabouço ideológico apresentado pelo autor, do qual a
autonomia torna-se um meio do educando/educador preparar-se para o que MORIN
denomina de a “reforma do pensamento” e que segundo ele:.
é de natureza não programática, mas paradigmática, porque concerne à nossa aptidão para organizar o conhecimento. É ela que permitiria a adequação à finalidade da cabeça bem-feita; isto é, permitiria o pleno uso da inteligência. Precisamos compreender que nossa lucidez depende da complexidade do modo de organização de nossas idéias. (Morin, 2003, p. 96)
Sobre o pensamento complexo MORIN (2000) afirma que “o primeiro mal-entendido
consiste em conceber a complexidade como receita,como resposta, em vez de
considerá-la como desafio e como uma motivação para pensar.”(p.176)
De fato, a aspiração à complexidade tende para o conhecimento multidimensional. Ela não quer dar todas as informações sobre um fenômeno estudado, mas respeitar suas diversas dimensões: assim como acabei de dizer, não devemos esquecer que o homem é um ser biológico-sociocultural, e que os fenômenos sociais são, ao mesmo tempo, econômicos, culturais, psicológicos, etc. Dito isto, ao aspirar a multidimensionalidade, o pensamento complexo comporta em seu interior um princípio de incompletude e de incerteza. (Morin, 2000, p. 177)
E assim, dentro da necessidade de manutenção deste conceito de “incompletude e
de incerteza” que entra a necessidade da autonomia, do auto gerir-se em busca da
complementaridade do saber que não esta pronto, que não é formatado ou estático,
e aqui o pensamento dos dois autores se encontram quando FREIRE fala sobre o
saber e do ser que é “inconcluso” que esta em construção e que por isto precisa de
uma normatividade interna que o motive, a intenção de busca consciente, a
autonomia do individuo em buscá-lo para ser e se tornar ser, e ainda assim
continuar sua procura:
A inconclusão, repito, faz parte da natureza do fenômeno vital. Inconclusos somos nós, mulheres e homens, (...) Entre nós, mulheres e homens, a inconclusão se sabe como tal. Mais ainda, a inconclusão que se reconhece a si mesma, implica necessariamente a inserção do sujeito inacabado num permanente processo social de busca. (FREIRE, 1996, p.32)
Quando saio de casa para trabalhar com os alunos, não tenho dúvida nenhuma de que, inacabados e conscientes do inacabamento, abertos à procura, curiosos, “programados, mas para aprender”, exercitaremos tanto mais e melhor a nossa capacidade de aprender e de ensinar quanto mais sujeitos e não puros objetos do processo nos façam. (FREIRE, 1996, p.17)
Para ele, “é na inconclusão do ser,que se sabe como tal, que se funda a educação
como processo permanente”(IDEM, p.34), e aqui mais um conceito do saber de
nossa época, o aprender a aprender e o buscar o saber para elaborá-lo, atualizar e
inter-relacioná-lo, o que demanda que os sujeitos usem de autonomia em seu
processo de aprendizado.
Voltando ao pensamento complexo de MORIN, vemos que:
A complexidade humana não poderia ser compreendida dissociada dos elementos que a constituem: todo desenvolvimento verdadeiramente humano significa o desenvolvimento conjunto das autonomias individuais, das participações comunitárias e do sentimento de pertencer à espécie humana. (MORIN, 2000, p.55)
Complexus significa o que foi tecido junto; de fato, há complexidade quando elementos diferentes são inseparáveis constitutivos do todo (como o econômico, o político, o sociológico, o psicológico, o afetivo, o mitológico), e há um tecido interdependente, interativo e retroativo entre o objeto de conhecimento e seu contexto, as partes e o todo, o todo e as partes, as partes entre si. Por isso a complexidade é a união entre a unidade e a multiplicidade (...) A educação deve promover a ´inteligência geral´ apta e referir-se ao complexo, ao contexto, de modo multidimensional e dentro da concepção global. (MORIN, 2005, p. 180-181)
Desta forma para MORIN o desenvolvimento da “autonomia individual” do ser é um
requisito para continuidade do desenvolvimento humano e global, necessária para
subsistência e manutenção dos avanços já conquistados, e portanto, uma das
condições em que tornará possível sua continuidade, para ele existe a necessidade
de “civilizar nossas teorias, ou seja, desenvolver nova geração de teorias abertas,
racionais, críticas, reflexivas, autocríticas, aptas a se auto-reformar.” (MORIN, 2000,
p.32). Segundo ele a ausência destas posturas pode acarretar um retrocesso ou
paralisação do desenvolvimento humano:
As possibilidades de erro e de ilusão são múltiplas e permanentes: aquelas oriundas do exterior cultural e social inibem a autonomia da mente e impedem a busca da verdade; aquelas vindas do interior, encerradas, às vezes, no seio de nossos melhores meios de conhecimento, fazem com que as mentes se equivoquem de si próprias e sobre si mesmas. (MORIN, 2000, p.33).
Nesse sentido, o desenvolvimento supõe a ampliação das autonomias individuais, ao mesmo tempo em que se efetiva o crescimento das participações comunitárias, desde as participações locais até as participações planetárias. Mais liberdade e mais comunidade, mais ego e menos egoísmo. (MORIN, 2000, p.103)
A autonomia para MORIN não torna-se apenas um atributo individual “para o
indivíduo”, mas também para o exercício de sua cidadania para a coletividade
também, o uso da idéia central de comunidade planetária, de conhecimento coletivo,
noosfera e o próprio conceito da cibernética para MORIN envolve conceitos
civilizatórios apresentados por ele que demonstram a realidade da interdependência
humana, fatores existentes e necessários também dentro do conceito de construção
do saber seja ele em modalidade presencial ou em ambiente virtual, aqui mais
precisamente no EAD .
4.2 - Emancipação – Definição e Visão dos Autores
Da mesma maneira no dicionário Aurélio a palavra emancipar esta descrita como: 1
- Ato ou efeito de emancipar. 2 - Estado daquele que, livre de toda e qualquer tutela,
pode administrar os seus bens livremente. 3 - Libertação. 4 Alforria.
Dentro do contexto deste artigo então podemos concluir que o processo de
emancipação que estamos tratando é aquele do indivíduo que assume sua
responsabilidade sobre seu aprendizado e seu saber, aquele que “livre de qualquer
tutela” administra de maneira autônoma sua carreira acadêmica, o seu processo de
aprendizado, seja ele mediado por algum tutor, meio, conteúdo ou recurso qualquer
que seja, possui em si a iniciativa sobre o que aprende e o que faz com o aprendido
e assume as “rédeas” daquilo que intenta alcançar ou realizar com o que foi
adquirido.
ADORNO (1995) ao falar sobre emancipação se remete ao conceito inicialmente
apresentado por Kant no ensaio: "Resposta à pergunta: o que é esclarecimento?" e
conceitua definindo:
a menoridade ou tutela e, deste modo, também a emancipação, afirmando que este estado de menoridade é auto-inculpável quando sua causa não é a falta de entendimento, mas a falta de decisão e de coragem de servir-se do entendimento sem a orientação de outrem. "Esclarecimento é a saída dos homens de sua auto-inculpável menoridade". (ADORNO, 1995, p. 167)
Desta maneira ADORNO apresenta sua perspectiva da visão de emancipação por
meio do ensino onde:
A educação seria impotente e ideológica se ignorasse o objetivo de adaptação e não preparasse os homens para se orientarem no mundo. porém ela seria igualmente questionável se ficasse nisto, produzindo nada além de well adjusteã people, pessoas bem ajustadas, em conseqüência do que a situação existente se impõe precisamente no que tem de pior. Nestes termos, desde o início existe no conceito de educação para a consciência e para a racionalidade uma ambigüidade.Talvez não seja possível superá-la no existente, mas certamente não podemos nos desviar dela.(...)a idéia da emancipação, como parece inevitável com conceitos deste tipo, é ela própria ainda demasiado abstrata, além de encontrar-se relacionada a uma dialética. Esta precisa ser inserida no pensamento e também na prática educacional. (ADORNO, 1995, p.143 e 144)
Conforme o texto abaixo podemos perceber que para ADORNO o processo do
pensamento, do raciocínio crítico, relacional e de sua aplicação prática,
“experiencial” é indissociado da educação para emancipação
aquilo que caracteriza propriamente a consciência é o pensar em relação à realidade, ao conteúdo — a relação entre as formas e estruturas de pensamento do sujeito e aquilo que este não é. Este sentido mais profundo de consciência ou faculdade de pensar não é apenas o desenvolvimento lógico formal, mas ele corresponde literalmente à capacidade de fazer experiências. Eu diria que pensar é o mesmo que fazer experiências intelectuais. Nesta medida e nos termos que procuramos expor, a educação para a experiência é idêntica à educação para a emancipação. . (ADORNO, 1995, p.150)
Na visão dos autores em estudo neste artigo podemos ver que para FREIRE a
práxis pedagógica deve ser permeada da iniciativa permanente da pesquisa, da
procura, do questionamento e da intervenção, no meio e por meio do que se obtém
deste processo, e isto não existe sem a postura emancipatória do
educador/educando:
Não há ensino sem pesquisa e pesquisa sem ensino. Esses que - fazeres se encontram um no corpo do outro. Enquanto ensino continuo buscando, reprocurando. Ensino porque busco, porque indaguei, porque indago e me indago. Pesquiso para constatar, constatando, intervenho, intervindo educo e me educo. Pesquiso para conhecer o que ainda não conheço e comunicar ou anunciar a novidade [...]. (FREIRE, 1997, p.32).
[..]. a responsabilidade ética, política e profissional do ensinante lhe coloca o dever de se preparar, de se capacitar, de se formar antes mesmo de iniciar sua atividade docente. Esta atividade exige que sua preparação, sua capacitação, sua formação se tornem processos permanentes. Sua experiência docente, se bem percebida e bem vivida, vai deixando claro que ela requer uma formação permanente do ensinante. Formação que se funda na análise crítica de sua prática (FREIRE, 1993, p. 28).
Por outro lado a visão de emancipação para MORIN aborda um outro aspecto que
para ele é essencial para a continuidade da espécie humana, que é a emancipação
dos processos separatistas, da manutenção isolada das partes para a subsistência
do todo, é a emancipação do individual para a realidade coletiva, sem a anulação
das individualidades mas também sem a alienação que ela carrega consigo dentro
do pensamento vigente.
Nesse sentido, o desenvolvimento supõe a ampliação das autonomias individuais, ao mesmo tempo em que se efetiva o crescimento das participações comunitárias, desde as participações locais até as participações planetárias. Mais liberdade e mais comunidade, mais ego e menos egoísmo. (MORIN, 2000, p.103)
Para MORIN o pensamento individualista da atualidade apresentou diversos
aspectos que resultaram na dicotomia avanço x retrocesso:
A modernidade comportava em seu seio a emancipação individual, a secularização geral dos valores, a diferenciação do verdadeiro,do belo,do bem. Mas doravante o individualismo significa não mais apenas autonomia e emancipação, significa também atomização e anonimato. A secularização significa não mais apenas libertação em relação aos dogmas religiosos, mas também perda dos fundamentos, angústia, dúvida, nostalgia das grandes certezas.A diferenciação dos valores resulta não mais apenas na autonomia moral, na exaltação estética, na livre busca da verdade, mas também na desmoralização,no estetismo frívolo,no niilismo.(MORIN, 2003, p.77)
O individualismo, fonte de responsabilidade pessoal pela sua conduta de vida, é também fonte de fortalecimento do egocentrismo. Este se desenvolve em todos os campos e tende a inibir as potencialidades altruístas e solidárias, o que contribui para a desintegração das comunidades tradicionais. Essa situação favorece não apenas o primado do prazer ou do interesse em relação ao dever, mas também o crescimento de uma necessidade individual de amor em que a busca da felicidade pessoal a qualquer preço. (MORIN, 2007, p.26).
E partindo destas hipóteses ele apresenta o que acredita ser a resposta corretiva
aos “desvios” que aponta onde, para ele, é necessário realizar “a civilização da
civilização”, e que isto “requer a intercomunicação entre sociedades, e mais ainda:
sua associação orgânica em escala planetária”.(MORIN, 2003, p.115). ou que em
seu livro “A cabeça bem feita” ficou denominado de “repensar a reforma, reformar o
pensamento”.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O EAD, a princípio e superficialmente falando, parece oferecer como principal
diferencial apenas uma resposta prática aos problemas de acesso físico a espaços
educativos, de disponibilidade de tempo e uma ferramenta muito produtiva para
alcançar as intenções e projetos de universalização do ensino técnico e superior em
países em desenvolvimento.
O fato é que o ensino e aprendizado em ambiente virtual pode oferecer solução para
tudo isto com bastante propriedade, porém conforme o estudo da opinião dos
autores sobre a própria atitude de ensinar, percebemos que uma série de novos
conceitos e necessidades estão sendo apresentados á educação deste presente
tempo em que vivemos e vislumbramos que o EAD possui como potencial a
capacidade de fornecer espaço e condições, dento da plataforma virtual, para o
aprimoramento da prática pedagógica do professor e do aprendizado por parte do
aluno, possibilitando alcançar assim, um resultado ampliado a médio e longo prazo
das características do tipo de profissional ou aluno que assimilou a experiência do
processo autônomo e autodidata de aprendizado.
Entre outras palavras podemos considerar que, ainda que o ensino em ambiente
virtual fosse utilizado apenas como uma transposição das mesmas estruturas de
ensino tradicionais do ensino presencial (professor:fornecimento de informações x
aluno: assimilação de conteúdos), ainda assim ele pode tornar-se um recurso de
ampliação das condições de autonomia e emancipação no ensino pois ele
proporciona, aos dois pontos extremos da relação didático pedagógica (docente -
discente), as condições de criação de hábitos de leitura e compreensão de textos,
atitude ativa para a aquisição e elaboração do conhecimento, o surgimento da
capacidade e responsabilidade de gerir e auto gerir-se dentro do aspecto de tempo
(assíncrono), da prática do diálogo consciente, do fornecimento, pesquisa, acesso e
construção de conteúdos e conhecimento e também de administração de todo o
processo de ensino e aprendizagem como algo dinâmico e responsável.
A bem da verdade, o que se espera do professor de EAD, não é a repetição dos
moldes de ensino tradicionais existentes, mas sim o desenvolvimento de habilidades
de comunicação e expressão, relacionais, de pesquisa, auto gestão de conteúdos, e
de domínio no uso dos recursos tecnológicos disponíveis no tocante a utilizá-los de
maneira eficiente para mediação do processo de ensino e aprendizagem, assim
como a consciência de que estes recursos são e serão úteis e emergentes para
melhoria e aperfeiçoamento do processo de ensino, podendo oferecer uma maior
amplitude da área de atuação do educador, a ampliação do campo de alcance da
prática pedagógica e produzir resultados de aprendizagem que no ensino presencial
muitas vezes ficou restrito devido a estrutura e hábitos tradicionais de ensino e
aprendizagem que acabavam por cristalizar as maneiras do educador lecionar e a
maneira do aluno aprender.
Por fim, entendemos que os conceitos apresentados por FREIRE E MORIN foram
compostos em sua especificidade para o ensino e a educação em si, não limitando-
se aqui em qual plataforma ele fosse delineado e nem direcionado tão somente ao
ambiente virtual. As idéias dos autores foram e são de extrema importância para o
contexto realístico da sociedade que vivemos hoje, demonstram a necessidade de
quebras de paradigmas tradicionais da relação professor/aluno,
ensino/aprendizagem, indivíduo/sociedade e ainda territórios/planeta. Os dois
autores falam sobre o fazer o saber e construir o conhecimento baseados em
vivências relacionais e conceitos, sobre novas posturas de forma, essência, escuta,
olhar e entendimento, conceitos de liberdade e responsabilidade com o apreender
para transformar e transformar o aprender. Enfim, conceito para a educação em
geral, mas que dentro do contexto de estudo abordado aqui, demonstraram também
e de maneira mais intensa, sua importância e aplicabilidade.
É pertinente mencionar que a produção acadêmica dos autores é de grande
extensão, abundância e conteúdo, o que demandaria com certeza muito maior
espaço e tempo de pesquisa para uma abordagem adequada e de maior
profundidade, porém, conforme descrito no resumo inicial, a intenção deste trabalho
foi apresentar um breve levantamento bibliográfico dos autores sobre os conceitos
abordados, tarefa que acredito ter alcançado tendo em vista a limitação do espaço
que define um trabalho em formato de artigo, mas não posso deixar de mencionar
que a realização de outros estudos neste sentido, tanto pelo conteúdo como pelos
autores, é algo de imenso merecimento.
REFERÊNCIAS
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