Autor : Edmundo de Drummond Alves Junior 1 Doutor … · 1 Publicado em Fernandez J F T, Montoya A...
Transcript of Autor : Edmundo de Drummond Alves Junior 1 Doutor … · 1 Publicado em Fernandez J F T, Montoya A...
A INTERGERACIONALIDADE CONTRIBUINDO À SUPERAÇÃO DOS MODELOS
ASSOCIATIVOS SEGREGACIONISTAS: A UNIVERSIDADE DO TEMPO LIVRE DE RENNES A
INTEGRANDO IDOSOS E APOSENTADOS
Autor : Edmundo de Drummond Alves Junior 1 Doutor em Educação Física
Prof. da Universidade Federal Fluminense Grupo de Pesquisa Envelhecimento e Atividade e Física
Grupo de Pesquisa ANIMA
Resumo
O envelhecimento da população mundial é um fato incontestável. Se durante muito tempo, o tempo destinado ao trabalho foi o maior referencial na vida das pessoas, verificamos que no século XX, um novo tempo passou a ser bastante significativo. O emprego do tempo disponível de trabalho em atividades de lazer passou a fazer parte do cotidiano do homem moderno, independente da classe social, sexo e idade. Nos interessou em especial investigar aqueles que envelheceram no século XX, aceitando que este grupo social passou a ser mais exigentes com relação ao seu lazer. Este fato certamente não passou despercebido pelos responsáveis pelas políticas de modo de vida na aposentadoria. A proposta das Universidades da Terceira Idade que surgiu na França pode servir como exemplo do preenchimento mais qualitativo do tempo disponível. O modelo inicial estava fundamentado em idades cronológicas para discriminar quem era o público alvo, porém, logo esta lógica foi posta em cheque, pois pode ser considerada como segregacionista. No Brasil as Universidades para idosos são mais recentes e o sistema de uso de idade cronológica ainda tem sido uma constante. Apesar de seguir em determinados aspectos o modelo associativo francês, encontramos bastante resistência à discussão da abertura do espaço a todos que têm tempo disponível, que passou a ser após a década de oitenta a nova proposta francesa. Procuraremos neste artigo, defender a importância da intergeracionalidade, mostraremos a organização de uma universidade francesa, a Universidade do Tempo Livre de Rennes, apresentando reflexões que podem orientar a elaboração de propostas semelhantes. Acreditamos que uma proposta associativa voltada para idosos e aposentados, mas desde que seja aberta a intergeracionalidade, que a nosso ver, não influirá no desenvolvimento das atividades propostas. Idosos, aposentados integrados a outras gerações se beneficiarão mutuamente com as trocas que vierem a ocorrer. Tomando como exemplo a UTL-Rennes que é situada na cidade de Rennes na França, apresentamos seu funcionamento e determinismo influindo na escolha das atividades, demonstrando que a superação do modelo ‘gueto de idosos’, possibilitou uma profícua interação entre todos interessados em preencher com mais qualidade seu tempo de lazer. Procuraremos também mostrar como lazer e cultura se relacionam e que a animação cultural está presente nas intervenções dos espaços associativos abordados no artigo.
Palavras chaves: Envelhecimento; lazer; animação cultural; intergeração.
1 Publicado em Fernandez J F T, Montoya A F O, Bedoya V A M, El ocio, el tiempo libre y la recreacion emn America Latina : problematizaciones y desafios, Medelin : Civitas, 2005, p. 139- 175.
Questionando modelos fundamentados em uma idade cronológica
Nos utilizamos aqui das palavras de Pierre Bourdieu (1980:145) que diz ser “a
idade uma variável biológica, socialmente manipulada e manipulável”, desta forma ela
deve ser considerada como plena de ambigüidades e de nada servirá tomá-la em
consideração isoladamente, como único parâmetro para dizer quando alguém passa a ser
velho. Devemos considerar entre outras, as seguintes variáveis: as influencias do meio
ambiente, as condições de trabalho, a classe social e o estilo de vida. Na verdade, os
cortes cronológicos contribuem a aumentar as barreiras entre gerações, e de certa forma
podemos até falar de um ‘ageismo’ (ALVES JUNIOR, 1992; 2004), neologismo
construído sobre modelos como racismo e sexismo.
É grande o interesse pelas coisas relacionadas ao envelhecimento populacional e
freqüente o uso de cortes cronológicos para impor comportamentos aos que
envelhecem. O modelo ‘terceira idade’ passou a ser a invenção mais midiática, que
parece estar dando certo. De imediato é necessário deixar claro que concordamos com
os argumentos críticos sobre esta e outras formas, que a nosso ver reduzem bastante e
homogeneízam o envelhecimento.
São várias as propostas que visam afastar o mau envelhecimento, de maneira
bem simplista, procuram camuflar ou negar o processo normal do curso da vida. Por
esse motivo já alertamos que falar em ‘terceira idade2,’ ‘feliz idade’, ‘melhor idade’,
‘boa idade’ ou qualquer outra maneira ingênua e acrítica sobre o envelhecimento3,
acaba por afastar dos verdadeiros problemas da grande maioria de pessoas que
envelhecem. Assim acabam por reforçar o modelo social que procura enaltecer a
jovialidade, os belos, os fortes e os que detém poder. Muitas vezes verificamos que
muitas destas propostas acabam por negar o envelhecimento normal e a sua
inexorabilidade, deslocando o sentido da velhice e do curso normal da vida. De certa
forma os decrépitos, inativos, dependentes estariam condenados ao mau
2 Em Alves Junior (1992) já discutiamos a pertinência da denominação terceira idade e propunhamos como alternativa, sem desconsiderar ainda posíveis críticas, que na dúvida de qual seria a melhor maneira de se referir aos velhos, sugeriamos a denominação idoso já que na sociedade velho estaria aliado a aspectos negativos do envelhecimento. 3 Em outra oportunidade falamos de uma “pastoral do envelhecimento ativo” (ALVES JUNIOR, 2004) e pensando nos preconceitos e temores com relação a velhice defendemos propostas que não só respeitem os que envelhecem mas que procurem integra-los ao resto da sociedade, possibilitando a sua interação com as outras gerações.
envelhecimento, a velhice, e os da terceira idade, seriam os ativos, autônomos,
participativos e que têm um bom envelhecimento. Pensando naqueles que se interessam
pela proposição de projetos associativos a idosos e aposentados trouxemos aqui algumas
reflexões que podem auxiliar a elaboração de novas associações.
Encontramos entre os praticantes da UTL-Rennes4 algumas pistas que podem
auxiliar na construção de modelos associativos voltados para a população que envelhece
no Brasil e dele estaremos apresentando alguns relatos baseados nas informações dos
seus associados. Um dos principais focos deste trabalho é o de fazer uma articulação
entre uma proposta de modelo associativo cuja maioria dos participantes é constituída
de aposentados e idosos, mas que não despreza a participação de outras gerações,
procurando articular com uma fundamentação teórica apoiada nos estudos do lazer.
Investigando os praticantes da Universidade do Tempo Livre de Rennes (UTL-
Rennes) verificamos os determinismos que influem na escolha das atividades, e como se
processaram nessa associação as mudanças estruturais do modelo inicial, que seguiu o
trabalho pioneiro elaborado por Pierre Vellas na Universidade de Toulouse posto em
prática a partir do ano de 1975.
Por mais de dez anos a UTL-Rennes chamava-se Universidade da Terceira Idade
de Rennes, havendo um critério cronológico mínimo para dizer quem podia ou não
participar das atividades. Esta limitação provocou profundos debates que ao fim de
alguns anos, veio a alterar seu estatuto, passando a ser a uma universidade para idosos
aberta para a intergeracionalidade.
Do tempo do trabalho ao tempo do lazer: a importância do lazer para a sociedade
moderna
A passagem de um tempo pleno de ocupações relacionadas ao trabalho, para um
outro como o tempo sem trabalho, tem servido a diversas temáticas de pesquisas sobre o
modo de vida das pessoas idosas ou aposentadas. Concordando com a multiplicidade
dos tempos sociais (GURVICH, 1958), observamos a discussão de uma nova ordem
temporal (GROSSIM,1986, 1987, 1989), que considera em importância, tal como o
tempo do trabalho, o tempo do lazer (MELO, ALVES JUNIOR, 2003).
A organização do tempo social das pessoas idosas é uma questão complexa,
porque cada sociedade encara seus velhos de maneira diferente, além do que, envelhecer
hoje em dia, não permite uma comparação com o que se considerava ser velho no início
do século passado. As oportunidades sociais ainda são bastante desiguais, reforçando os
argumentos de Raymond Lemieux (1990), em que se tornar um velho na atualidade é
uma experiência inédita, sem exemplos, já que uma variedade de recursos não só
prolongam a vida, como oportunidades das mais diversas fazem com que a vida dos que
envelhecem ganhe sentidos bastante diferenciados.
Após os anos setenta, uma política de modo de vida na velhice possibilitou aos
idosos franceses que envelheciam novas reflexões quanto ao emprego qualitativo dos
anos pós-aposentadoria5. A proposta associativa francesa visava inserção social,
evitando ao máximo a forma asilar. Como verificamos, a sociabilidade, passou a ser
considerada como um dos interesses culturais do lazer, que, acabou se aliando a outros
interesses (artísticos, manuais, intelectuais, físicos e turísticos), através de uma proposta
de educação permanente.
Verificando a organização das associações francesas, temos um exemplo prático
que pode dar subsídios para desenvolver propostas similares no Brasil, mas é evidente
que devemos reconhecer as especificidades do nosso país com relação ao acesso da
população à educação e aos bens culturais. Na pesquisa que desenvolvemos na
associação francesa, foram verificadas as relações entre determinadas categorias sociais
profissionais (CSP) 6, gênero, geração e uma vida engajada em atividades associativas
de cunho socioeducativo no tempo liberado de compromissos familiares, religiosos e de
trabalho. Estamos considerando que estas atividades socioeducativas podem ser postas
em prática a partir da compreensão desta necessidade social que é o lazer.
Temos alertado que não devemos pensar no lazer de forma ingênua
desassociando dos outros momentos da vida. A geração do que estamos chamando de
lazer, vem
4 ALVES JUNIOR (1994), DEA de sociologia que foi sustentado pelo autor na Universidade de Rennes 2. 5 A passagem de um tempo pleno de trabalho a um outro, como o tempo de aposentadoria, tem servido de temática de pesquisa que envolve vários domínios. Na abrangência do nosso grupo de interesse, incluímos também uma outra categoria de pessoas, que são aquelas que se dedicam regularmente a uma rotina de trabalho dentro de casa, seja cuidando de filhos, casa ou do cônjuge. Estas têm um gênero, são as mulheres que normalmente são conhecidas como “donas de casa” ou “do lar”. 6 Categorização específica para a populaçãp francesa, um importante instrumento utilizado para descrever a sociedade francesa (DESROSIERES, THEVENOT, 1992).
de uma clara tensão entre as classes sociais e da ocorrência contínua e complexa de controle/resistência, adequação/subversão. Estamos falando de um conjunto de ações traçadas e implementadas no grande palco das lutas das organizações sociais. Devemos estar atentos para compreender a articulação entre política, economia e cultura no âmbito do lazer, o que não significa submete-lo a qualquer destes ordenamentos: existe uma especificidade do fenômeno lazer que deve ser compreendida, até para melhor balizar nossas propostas de intervenção (MELO, ALVES JUNIOR, 2003: 10).
Com o processo da industrialização, ocorreu a artificialização do tempo do
trabalho e conseqüentemente do não trabalho, é nesse momento que acompanhada da
urbanização dos grandes centros, que surge o que estamos considerando como o lazer
moderno (MELO, ALVES JUNIOR, 2003). Logo que os trabalhadores organizados
passaram a lutar por mais tempo para si, diversas conquistas sociais vieram a ocorrer: o
final de semana remunerado, as férias pagas e a aposentadoria. O lazer é uma
necessidade social, que atualmente engloba reflexões das mais variadas e é foco de
interesse de diversos campos. Este fenômeno cada vez mais presente na
contemporaneidade vem alterando o emprego qualitativo do tempo livre ou disponível
das pessoas e não poderia ser diferente no que toca os idosos e aposentados. Falamos de
um tempo fora das obrigações profissionais ou familiares, assumindo um novo perfil
independente do fator idade, do gênero, ou se falamos de um trabalhador, de um
desempregado ou de um aposentado.
Nos anos cinqüenta discutia-se os modos de envelhecer baseando-se em teorias
psicosociais, uma delas, colocava mesmo em cheque a capacidade de engajamento dos
aposentados em novas empreitadas, sugerindo que para um bom envelhecimento o
‘desengajamento’ gradual das atividades seria a melhor proposta de envelhecer. Outras
vieram a se contrapor com a teoria da atividade que defendia o engajamento dos
aposentados no maior número possível de atividades a fim de ter um bom
envelhecimento. Esta teoria prece ter sido aquela que deu maiores subsídios para um
novo modo de envelhecer que se apresentava para os aposentados do final dos anos
sessenta nos países mais desenvolvidos. A vida associativa era estimulada e podemos
considerar que este estilo de vida ganhou bastante força desenvolvendo-se a partir do
que consideramos como uma verdadeira “Pastoral do Envelhecimento Ativo” (ALVES
JUNIOR, 2004)7.
Durante algum tempo não havia muita importância sobre a qualidade do que era
apresentado para os idosos e aposentados engajados em espaços associativos. Era o que
poderíamos chamar da ‘euforia generalizada’, de uma época em que passar o tempo
parecia ser o mais importante. Entretanto, a capacidade de se envolver em novas
atividades, como aprimorar ou continuar fazendo as anteriores buscando seu
desenvolvimento pessoal, passou a ser percebido como bastante possível. Na verdade o
que faltava parecia ser pessoas qualificadas para atuar com pessoas idosas e aposentadas
que fossem mais desprovidas de preconceitos com relação à velhice e ao
envelhecimento e espaços que possibilitassem o desenvolvimento cultural dos idosos no
seu tempo de lazer.
Para que seja possível o desenvolvimento qualitativo do lazer e pensando nele
como um espaço privilegiado de transmissão cultural e integração social, consideramos
fundamental que ele seja percebido a partir da sua relação com cultura, e seu aspecto
educacional. Consideramos a importância dos animadores que terão a seu dispor
ferramentas que possibilitem por em prática o duplo aspecto educativo do lazer:. Só
desta forma não teremos atividades sendo propostas só para ‘matar o tempo’.
Consideramos o lazer enquanto ferramenta educacional, e que a partir dele,
podemos, independente da idade, educar para e pelo lazer, sensibilizando o gosto dos
idosos e aposentados. Pensando naqueles que estão envolvidos nas intervenções,
estamos defendendo a adoção do nome ‘animador cultural’, para caracterizar aqueles
que atuam no campo da educação através do lazer. A partir da animação cultural, que
está bastante presente na educação estética e das sensibilidades, os indivíduos,
independente da idade podem vir a ser estimulados a terem um olhar mais crítico, já que
podem ser desenvolvidas “novas formas de julgar e criticar a partir do estabelecimento
de novos olhares acerca da vida e da realidade” (MELO, 2004 a: 14).
Ainda com o autor, ficamos sabendo que a intervenção cultural não se trata somente de pensar nos conteúdos e valores, mas também nas representações e sensibilidades. Determinadas percepções e sensibilidades podem se ajustar ou contestar determinado conjunto de valores,
7 Título da tese de doutorado por nós apresentada na Universidade Gama Filho.
mas muito dificilmente podem prescindir dele (MELO, 2004 a: 14).
Temos considerado como fundamental a formação daqueles que vão atuar com
pessoas idosas ou aposentadas, mas até o momento são poucas as abordagens
sistemáticas nos currículos universitários. Havendo esta lacuna e sendo atualmente um
excelente nicho de mercado, nem sempre vamos encontrar profissionais atentos a
determinadas especificidades de um grupo que nada têm de homogêneo, que tem
demandas que os diferencia substancialmente de crianças ou mesmo de adultos jovens
(ALVES JUNIOR, 2004).
Os momentos do lazer não podem ser compreendidos como instantes de alienação, desconectados da realidade social, tampouco como espaços de fuga, o que não significa que devamos desconsiderar o prazer, uma das características fundamentais de sua definição (MELO & ALVES JUNIOR, 2003: 51).
Concordamos com Victor, quando ele procurando encontrar a relação entre os
estudos culturais, animação cultural e os estudos do lazer, aponta a necessidade de
desmistificar o conceito de cultura levando-a a ser considerada de forma mais ampliada.
Creio que os Estudos Culturais, em seu intuito de estabelecer uma leitura da ‘alta cultura’ e da ‘cultura popular’, bem como estabelecer um certo olhar sobre a ‘cultura de massas’ (na verdade, rompe-se definitivamente com uma compreensão estática desses níveis culturais, agora entendidos profundamente relacionados e com fronteiras bem pouco precisas) pode apresentar perspectivas alvissareiras para pensarmos a Animação Cultural e os Estudos do Lazer (MELO, 2004 b: 88).
Acreditamos que a pouca discussão nas instituições educacionais e em especial
das universidades sobre o lazer e do que estamos chamando de gerontologia no seu
sentido mais amplo, ou seja, ciência que estuda o processo do envelhecimento, ainda
não possibilita a perfeita integração dos conceitos que pretendemos aplicar na proposta,
ficando ainda considerado o lazer de forma reduzida e pontual, muitas vezes como
passatempo sem qualquer maior comprometimento.
Procurando superar as discriminações
Atualmente os idosos param de trabalhar em melhores condições que
antigamente, tendo uma esperança de vida sem trabalho mais longa, tem oportunidade
de ocupar este tempo de maneira diferente. Contudo é necessário atentar que o tempo
livre após a aposentadoria nos dá uma falsa ilusão que não existiria mais durante este
tempo, as distinções sociais, que todos pertenceriam a uma mesma categoria social, a
qual tudo seria permitido e acessível, independente da condição social. A invenção
social da terceira idade (LENOIR, 1979), acabou sendo associada como a idade do lazer
graças a forte imposição e apelo midiático que faz do envelhecimento8 de alguns um
verdadeiro espetáculo (DEBORD, 1997). É freqüente o uso de exemplos individuais de
façanhas que certamente são inatingíveis pela maioria dos indivíduos, seja no aspecto
físico como também intelectual.
Podemos apontar algumas importantes distinções: inicialmente a velhice tem um
gênero, sendo ela predominante feminina, principalmente no que tange a freqüência nos
espaços associativos como os das Universidades e Clubes da Terceira Idade (ALVES
JUNIOR, 2004). Alia-se a este fato a questão da classe social e o interesse por
determinadas atividades de lazer. Nesse caso podemos ter como hipótese, que os
espaços sociais onde ocorre a sociabilidade vai se diferenciar conforme o sexo das
pessoas9. Outro fator de diferenciação tem origem na distribuição das classes sociais
que freqüentam determinados espaços associativos, como as universidades que
procuram oferecer programas de extensão para idosos e os clubes ou outros centros de
convivência.
Baseando-se nas dinâmicas sociais que produzem o tempo livre, Claudine Attias
Donfut (1981) fez um estudo sobre os lazeres10. A autora reconhecia que seu interesse
direcionava-se para um grupo que possuía uma ‘heterogeneidade social’, os
aposentados. Ela observou que certos comportamentos de lazer no tempo de
aposentadoria dos franceses, podem perfeitamente ser explicados pela classe social.
Neste caso, citamos a participação de uma classe média idosa no movimento associativo
constituído de clubes e universidades específicas para idosos, em relação a participação
em outras atividades de lazer de cunho mais geral. Estas reflexões reforçam a nossa 8 Apesar das observações mais críticas dos cientistas sociais, recusa de alguns em serem caracterizados como tal, não vem impedindo que este grande e promissor mercado do envelhecimento sirva para grandes negócios, surgindo outras invenções como a quarta idade, considerada como a idade da dependência e a quinta idade, considerada como a idade da decrepitude, reservada aos centenários (ALVES JUNIOR, 2004). 9 Numa rápida ida as praças da cidade do Rio de Janeiro, podemos facilmente constatar que a presença de homens idosos e aposentados se faz bastante presente. Por outro lado as mulheres estão mais presentes nos clubes e universidades para idosos. Em princípio aceitamos que as mulheres pouco a pouco preencheram determinados espaços que lhes foram limitados o acesso no passado.
defesa no sentido de que o processo do envelhecer na contemporaneidade esteja sendo
resignificado.
O envelhecimento: de um problema social a busca por uma segunda carreira, uma
nova idade se apresenta
A sociedade industrial nos fez viver segundo os ciclos de formação, produção e
inação. Xavier Gaullier11 sugeriu que esta tríade serviu de referência tanto no plano
social como no plano individual, por este motivo, recomendou considerar as
transformações dos tempos sociais sendo produzidas ao longo de toda uma vida. O autor
investigou pessoas que tinham em torno de 55 anos. Estando livres das obrigações
familiares ou profissionais, com todo tempo livre pela frente, eles se consideravam
jovens para serem rotulados como pertencentes da ‘terceira idade’. No entanto eram
rotulados como velhos para o trabalho, estando muitas vezes no ápice de sua capacidade
de produção.
Aliado a certos avanços da medicina social com a erradicação e controle de
certas doenças, diminuição das taxas de fertilidade12 e da mortandade infantil, a
expectativa de vida e a longevidade não parando de aumentar, os que envelhecem
certamente terão pela frente um longo período de tempo livre. Gaullier caracterizou
estas pessoas como pertencentes a uma ‘nova idade’. Num cenário favorável, no futuro
existiria para os anos subseqüentes aos 50 anos de idade, uma autonomia negociada,
onde as atividades de uma ‘segunda carreira’ se inseririam numa transformação mais
geral. Este novo tempo, desqualificou definitivamente a imagem que ligava a época da
aposentadoria ao repouso e permitiu o acesso a um novo tempo de viver e as atividades
livremente escolhidas (GAULLIER, 1999). Os lazeres, os trabalhos domésticos, a vida
familiar e a saúde são os pólos que organizam, limitam e que vão influenciar o tempo
livre dos que envelhecem. Os lazeres, longe de serem vividos como uma generosidade
10 Mais tarde a autora apresenta novas reflexões que levam em consideração a formação de gerações (ATIAS-DONFUT, 1988), abrindo espaço para discutir propostas intergeracionais. 11 Na pesquisa realizada por GAULLIER (1988) cujo título veio a ser a ‘segunda carreira’. ele dizia que os que tem mais de 50 anos estavam num processo de criar um novo espaço. Nem velhos nem jovens, o trabalhador que por algum motivo afasta-se das atividades profissionais encara um novo periodo que ele chama de autonomia negociada, o início de um longo periodo liberado de imposições. 12 O fenômeno da ‘transição demográfica’, decorrente da diminuição das taxas de fertilidade e da mortandade infantil, verificou-se nos países desenvolvidos e em outros em desenvolvimento como o Brasil, que vieram a ter um significativo e cada vez mais crescente desequilíbrio entre a proporção de jovens e velhos. Fatos que contribuíram para tornar a velhice e o envelhecimento num ‘problema social do momento’ (LENOIR, 1998).
ou uma assistência culpabilizante, são percebidos como merecedores e uma recompensa
prevista num contrato de trabalho (DUMAZEDIER, 1988).
Este autor consagrou grande parte de seus estudos a identificar a importância dos
lazeres na sociedade, considera no caso das pessoas idosas, uma resistência ao
envelhecimento e ao imobilismo imposto pela sociedade, que pode ser particularmente
constatado na utilização do corpo; através da prática das atividades físicas esportivas,
quer sejam elas organizadas ou informais (ALVES JUNIOR, 1992); nas férias, com o
turismo; na formação permanente, com a autoformação ou em cursos livres; na prática
do voluntariado e na vida associativa. Temos percebido que os novos engajamentos pós-
aposentadoria são assumidos com tal seriedade e empenho que podem ser
compreendidos como uma ‘segunda carreira’.
Como já afirmamos, nos posicionamos entre aqueles que desconsideram o fator
da idade cronológica enquanto fator determinante do modo de vida. Percebemos que
certos fatos sociais são uma decorrência de fenômenos de geração (ATIAS DONFOUT,
1988) e dentre eles incluímos a vida associativa pós-aposentadoria e a prática de
esportes e de atividades físicas.
A passagem do tempo de trabalho ao tempo de aposentadoria
Naquela que foi considerada como sendo a primeira pesquisa na França a adotar
uma metodologia longitudinal para acompanhar a passagem à aposentadoria, verificou-
se que a passagem da vida ativa para a aposentadoria vinha sendo percebida
favoravelmente por 60% das pessoas idosas (PAILLAT, 1989). Este indicava o
contrário da imagem de que haveria uma crise generalizada no período de passagem à
aposentadoria. Ao verificarmos o modo de vida desses novos aposentados, encontramos
pistas que nos auxiliaram a formular novas questões de estudo: será que neste novo
tempo social os que envelhecem vão se engajar em atividades diferentes ou terão eles a
tendência em continuar a fazer coisas similares as que faziam anteriormente13?
Em 1973, o Ministério da Cultura da França, realizou uma pesquisa para
conhecer os comportamentos culturais dos franceses de mais de 15 anos de idade.
Dando seqüência, duas outras pesquisas foram realizadas, uma em 1981 e outra em
1989. O conjunto destas três pesquisas serviu de suporte para se fazer uma projeção
13 Quatro teorias psicossociais permitiram interpretar este fato: desengajamento, atividade, subcultura do envelhecimento ou continuidade, todas já bastante discutidas pela gerontologia social e que foram por nós trabalhadas em outros momentos (ALVES JUNIOR, 1992, 1994, 2004).
para a população idosa francesa. No espaço de 15 anos em que os três levantamentos
foram realizados, constatou-se que há atividades específicas realizadas por idosos que
os distinguem fundamentalmente do resto da população. No período estudado a
tendência mais significativa encontrada foi o acentuado aumento do investimento das
pessoas idosas nas atividades de lazer. Na vida associativa, os dados confirmavam o que
outras pesquisas já tinham constatado, a forte e crescente participação de idosos e
aposentados na vida associativa.
Considerando o conjunto da população, em 1973, 28% dos franceses faziam
parte da vida associativa; em 1988 eles passaram a ser 39%. Foi entre as pessoas
consideradas idosas que o aumento foi mais significativo: em 1973, 14% das mulheres e
31% dos homens pertenciam a uma associação; já em 1988, eles passaram a ser
respectivamente 38% e 46%. Uma das conclusões tiradas deste trabalho, é que os
resultados revelam os efeitos de idade e de geração quando se observavam as
preferências de lazer. Revelou ainda, que o grupo que tinha 70 anos, mantinha
preferências pelos mesmos lazeres de quando eles tinham 20 anos menos.
O Instituto National de la Statistique et des Etudes Economiques (INSEE, 1990)
procurou traçar um perfil dos idosos franceses, verificando os dados referentes às
atividades do tempo livre. Observou-se que o tempo de lazer, nos tempos considerados
como livres, foi o mais importante, não sofrendo modificações profundas segundo as
diversas gerações estudadas. O que mais chamou atenção, foi a participação em uma ou
mais associações14, e em especial nas associações específicas para o grupo a que se
referia a pesquisa.
Envelhecendo e participando da vida associativa, uma forma de se distinguir
Encontramos uma variedade de projetos que foram implantados durante as
décadas de sessenta e setenta, visando a preparação para a aposentadoria, procurando
entre outros objetivos quebrar estereótipos relacionados ao envelhecimento, passando
novos conhecimentos no campo das artes e de uma nova maneira de envelhecer.
Podemos citar o projeto ‘Elders Hostel’ nos EUA e Canadá; ‘Self Help Learning’ na
Inglaterra; ‘Ciclo de Estudos’ na Suécia; ‘Universidades da Terceira Idade’ na França e
os programas de preparação para aposentadoria do Serviço Social do Comércio no
14 Na França era comum achar que o associativismo praticado por idosos e aposentados, não seria muito aceito pelos franceses, entretanto em 1987 já foram contabilizados 30 mil clubes e associações para pessoas idosas, sendo mais de 100 no formato de universidade (ROZENKIER, 1987).
Brasil (SESC). No entanto, logo foram feitas certas críticas ao caráter paternalista e à
formação de guetos de idosos a partir da constatação de que haveria mais segregação do
que a própria integração.
Maria Helena Novaes destaca que os obstáculos que se têm de enfrentar para
implantar esses programas são vários, originários de problemas de ordem “sócio-
política, além dos educacionais, por serem considerados sem muita utilidade, paliativos
e suplementares, não exigindo muito planejamento, nem organização acadêmica”
(NOVAES, 2000:141). Como solução encontrada para a superação desses problemas,
há necessidade de que obedeçam a um certo enquadramento ao sistema ou instituição educativa, através de cursos programados, seqüência de atividades previstas e delimitação de propósitos, além de serem reconhecidos pela especificidade dos seus conteúdos e metodologia (NOVAES, 2000:141-142).
A vida associativa no Brasil praticada em ambientes específicos de idosos e aposentados
teve nas experiências do SESC e dos Centros de Convivência da Legião Brasileira de
Assistência (LBA) seu momento inicial. Anos mais tarde, a partir de núcleos de estudos do
envelhecimento situados dentro das universidades, passou-se a incluir esse tipo de proposta nas
associações de ensino que normalmente eram freqüentadas por jovens. Tanto no modelo dos
clubes como no das universidades seguiu-se no Brasil, a proposta francesa, o que pode ser
constatado pela presença de técnicos do SESC realizando estágios na França como também pela
vinda de técnicos franceses ao Brasil.
Atualmente quando observamos o caso francês, pode se observar que enquanto a
participação nos clubes diminuiu e que a média de idade dos seus aderentes aumentou,
observa-se um efeito contrário nas universidades. Este fato é justificado pela maior
flexibilidade que a estrutura universitária permite, como também por mudanças de
fundo conceitual e prática. Foi fundamental a substituição do antigo nome ‘terceira
idade’ para universidade do ‘tempo livre’, ‘aberta’ ou de ‘todas idades’, que foi o
primeiro passo para o rejuvenescimento e renovação de seus aderentes15. Além disso, a
nova estrutura passou a estar mais aberta aos interesses culturais dos associados. As
propostas de oficinas, cursos e demais atividades passaram a sair das demandas dos
participantes, que também passaram a gerir os destinos das asociações. Conforme 15 As Universidades ditas da Terceira Idade, que depois vieram a se chamar de Interidades, Todas Idades ou do Tempo Livre e os Clubes da Terceira Idade ou de Aposentados, ainda têm forte representatividade na vida associativa dos idosos e aposentados.
consta no relatório da IV conferencia internacional de educação de adultos (RAPPORT,
1985) estas alterações permitiram importantes trocas intergeracionais.
Considerando a universidade como local privilegiado para a transmissão
cultural, nada melhor do que faze-la através do lazer. Alertamos mais uma vez para que
ele não seja confundido como mero entretenimento, com fim em si mesmo, pois sendo
assim, nada justificaria sua presença numa universidade.
O modelo associativo francês teve grande impulso devido à utilização das
capacidades dos idosos. Para isso, foi necessário incutir um novo modelo de gestão em
que o voluntariado passou a ser cada vez mais valorizado, havendo não só um
reconhecimento social do voluntário, que passou a atuar com tantas responsabilidades
que teve ampliado o sentido do seu lazer. No tocante aos idosos e aposentados, a prática
do voluntariado e mesmo de algumas atividades passaram a ser desenvolvidas como se
fossem uma ‘segunda carreira’, fazendo parte do ambiente associativo freqüentado por
idosos e aposentados.
Em associações que apresentavam aos seus quadros um leque de atividades
consideradas como educativas ou formativas, como no caso das universidades para
idosos e certos clubes considerados por muitos como mais elitizados, verificou-se, como
no caso da UTL-Rennes, que os voluntários, possuidores de uma bagagem cultural
maior do que a grande maioria dos associados encarava sua participação nas atividades
propostas com senso de responsabilidade e envolvimento, como se ainda estivessem no mundo do trabalho, mesmo que estas atividades possam por eles mesmos ser caracterizadas como lazer [...] é o prazer de fazer algo pelos outros. Enfim, o trabalho voluntário é mais dividir conhecimentos do que um trabalho (ALVES JUNIOR, 1994:35).
A ‘gerontologia educacional’ permitiria então o desenvolvimento das
necessidades dos idosos ao mesmo tempo em que contemplaria a necessidade de
formação de recursos humanos. Quanto as primeiras, chamam nossa atenção:
preparação para a aposentadoria e tempo destinado ao lazer; preparação para a segunda carreira e para exercer atividades na comunidade; preparação para manter e aumentar o bem-estar da saúde mental e física; preparação para mudanças de expectativas em papéis familiares; preparação para estilos de
vida alternativos; preparação para outras perdas significativas. (NERI; CACHIONE, 1999:126).
A proposta de levar os idosos e aposentados à universidade se diferencia das
primeiras associações que não tinham muita preocupação com a troca de conhecimentos
ou o desenvolvimento cultural de seus associados. Estas associações sendo mais
elaborados do que os clubes, também puderam se beneficiar de uma cobertura bastante
importante na mídia (ROZENKIER, 1987), sendo tanto na França como no Brasil,
incorporado às universidades a partir dos mais diversos departamentos e institutos16.
Com o desenvolvimento das universidades para idosos, difundiu-se uma nova
mentalidade a respeito do envelhecimento.
As universidades para a terceira idade foram criadas “com a finalidade de
contribuir para o progresso das pesquisas gerontológicas, lado a lado com os programas
de educação permanente” (VELLAS, 1990:105). Em sua essência, todo estabelecimento
que tem a pretensão de ser universitário deve integrar os três domínios, que são o
ensino, a pesquisa e a extensão. Porém, quando observamos a gênese das universidades
para as pessoas idosas, até agora é o ensino que vem sendo mais desenvolvido
(LEMIEUX; JEANNARET; MARC, 1992).
Seus projetos devem ser mais ambiciosos, declaram seus defensores, primando
por dimensões didáticas e pedagógicas, uma educação ‘para’, ‘pelos’ e ‘com’ os idosos
(LEMIEUX; JEANNERET; MARC, 1992). Entretanto, devemos reconhecer que o
acesso parece privilegiar certas categorias sociais, e isto está bem claro nos resultados
das pesquisas que procuram identificar as origens sociais dos associados. Todo
desenvolvimento cultural numa associação semelhante deve ser feito de forma ativa, e
não passivamente, quando se mantêm os idosos e aposentados como meros
consumidores – o que acaba acontecendo na grande maioria dos casos.
As universidades não deveriam ter como pretensão concorrer com os clubes de
idosos e nem deveriam ser confundidas com eles, devendo ser uma associação flexível e
dinâmica como todas as universidades em princípio. Seus defensores usam o argumento
16 Para informações sobre essa diversidade de exemplos no Brasil, ver ALVES JUNIOR, 2004. Consta que a primeira manifestação no gênero no país ocorre na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), no ano de 1983. Mas o que fica claro nos exemplos citados é que todos seguem o modelo francês, porém sem conseguir se desvencilhar de uma idade cronológica para delimitar quem pode entrar em seus programas. Ainda que a pressão dos novos aposentados e outras categorias tenham imposto a algumas a diminuição da idade de entrada passando alguns a adotar 45 anos, a nosso ver não resolve em nada o problema, pois a discriminação continua, não possibilitando a intergeracionalidade.
de que o pior serviço de uma universidade para idosos é o de se fazer uma instituição de
segunda categoria, incapaz de incorporar os três principais campos da Universidade. No
que abrange o ensino, seria destinada aos estudantes idosos e aos que atuam com grupos
de idosos. A relacionada à pesquisa é a mais desafiadora, e, quando se dá,
freqüentemente se desenvolve na forma de pesquisa-ação ou pesquisa participativa.
Pierre Brasseul (1985) observou que uma das características desse ‘fenômeno
urbano’ é um tipo de ensino desinteressado ligado ao conceito do lazer, capaz de dar um
sentido à aposentadoria e principalmente auxiliando a romper o isolamento social. Ao
desenvolver um papel cultural, as universidades contribuem também para melhorar as
relações entre as gerações. Sem obrigação ou imposição, sem ter de prestar qualquer
tipo de seleção, sem necessidade de um programa, diploma ou qualquer sanção, é um
campo privilegiado para colocar em prática experiências inovadoras.
A característica da grande presença feminina e de uma classe média típica é
evocada na pesquisa de Maximilienne Levet-Gautrat (1981), que investigou o conjunto
dos participantes de 16 universidades da terceira idade francesas. A autora procurou
estabelecer um perfil preciso dos idosos inscritos a partir de três questões básicas: quem
as freqüenta, qual é a pedagogia empregada e como se estabelecem as relações sociais
entre os participantes. Fundamentando-se nos aspectos sociológicos e nas motivações e
objetivos dos estudantes idosos, confirmou três hipóteses: no nível sociológico,
individual e de interação. No primeiro, o fato de ir à universidade seria uma
recompensa, representando a procura por um novo status social; na segunda, a aquisição
de conhecimentos é um mecanismo de defesa contra a angústia da morte; e a terceira
suscita o sentimento de estar em relação com o outro e ao mesmo tempo estar livre. O
determinismo sociológico de pertencimento social foi analisado por Vanbremeersch e
Margarido (1980), que também observaram o papel que a estruturação da família
desenvolve no momento da inscrição na universidade.
Uma pesquisa de campo: a Universidade do Tempo Livre de Rennes
Como as pessoas idosas e os aposentados vão ocupar este tempo livre fora de
suas atividades profissionais? Foi esta a questão principal que interessou o estudo que
procurou respostas a partir dos associados da UTL-Rennes17 que participaram do ano
17 Rennes é uma importante cidade do oeste da França, com uma população de duzentos mil habitantes existindo outras associações para idosos, todas na forma de clubes, a UTL-Rennes é a única com o título e status universitário. Segundo o seu boletim informativo, há atividades de formação geral (conferências);
universitário de 1992/1993. Com um leque de mais de 40 oficinas que podem se inserir
nos mais diversos interesses culturais do lazer, como se distribuem as escolhas dos
associados? Continuidade ou ruptura com as atividades de lazer anteriores a entrada na
UTL-Rennes? Como se organiza a associação? Nosso propósito foi de estabelecer um
perfil do conjunto dos aderentes.
Como hipótese principal, formulamos que o tempo dos aderentes principalmente
dos mais jovens (menos de 65 anos) não estava sendo vivido como um período de crise
e de rupturas. Nós fomos verificar esta hipótese e também se as desigualdades podiam
ser explicadas através do efeito das Categorias Sócio Profissionais (CSP), do gênero ou
de geração. Caso a hipótese viesse a ser confirmada, poderíamos considerar que existia
uma certa continuidade entre as atividades do lazer antes do engajamento na associação,
havendo alguma relação com o tipo de envolvimento profissional, ou seja, a
participação dos associados em certas atividades poderia ser explicado pelo seu
pertencimento a uma determinada CSP. Nós avançamos na hipótese dizendo que seriam
os antigos profissionais liberais e profissionais com nível superior e que exerciam
importantes cargos de direção, denominados ‘cadres’, são os que melhor explicariam a
distribuição das freqüências nas atividades propostas, aceitando também que outra
categoria como a ‘intermediária’, composta principalmente por profissionais de nível
médio como secretárias, técnicos diversos como de enfermagem e professores do ensino
básico, têm como característica comum já possuírem um interessante ‘capital cultural’
que certamente influiria nas suas escolhas.
Optamos por utilizar um método rápido e eficiente de coleta de dados. No
primeiro momento procedemos a uma observação direta das atividades e dos
associados. A partir da compreensão do funcionamento da Universidade passamos a
segunda fase, a análise dos dados de arquivos, consultando nas fichas de inscrição os
dados que teríamos para trabalhar. Esta abordagem nos permitiu conhecer
quantitativamente quem eram os freqüentadores. As variáveis disponíveis eram gênero,
ano de nascimento, antiga profissão, lugar de residência e os grupos de atividades as
quais os associados estavam inscritos. Finalmente passamos para as entrevistas que
foram realizadas de maneira semi-diretiva em grande parte dos associados que podemos
chamar de animadores culturais, participantes das diversas atividades voluntárias, formação específica (cursos e leituras); grupos de pesquisa; lazer, entretenimento, atividades físicas e
aqueles que mais conheciam a associação. Os dados foram interpretados tanto
quantitativamente como qualitativamente.
Como a maior parte das universidades para pessoas idosas a UTL-Rennes é uma
associação sem fins lucrativos, sendo uma das seções universitárias da Associação das
Universidades de Todas as Idades da Bretanha (AUTAL-Bretanha). A ligação com
departamentos de ensino das Universidades de Rennes 1, Rennes 2 e a Escola Nacional
de Saúde Pública (ENSP) é a garantia do valor universitário das atividades. Estes
profissionais são os que vão dar uma espécie de consultoria. A UTL-Rennes funcionava
graças ao trabalho voluntário de um grupo de 49 associados, que se ocupam entre outras
coisas, da parte administrativa e da responsabilidade em conduzir ou de animar algumas
oficinas, cursos ou grupos onde convergiam interesses comuns.
No início do ano universitário os associados pagavam uma taxa de adesão que
lhes dava direito a assistir a conferências semanais sobre uma variedade de temas (100
reais por ano). Eles podiam também escolher segundo suas preferências, diversas
atividades com menor número de participantes. No momento de nossa pesquisa os mais
de 40 grupos variavam entre 4 e 60 participantes. O programa da UTL-Rennes era bem
variado e observou-se uma preocupação em ter atividades semelhantes as tradicionais
da universidade: ensino, pesquisa e extensão.
As conferências recebiam em média 400 associados e eram realizadas no
anfiteatro da ENSP com temas de interesse geral. Considerando que uma parte dos
associados vai a UTL-Rennes para romper o isolamento social imposto pela
aposentadoria, a participação nas conferências não seria o meio mais ideal para atingir
estes objetivos. Porém verificamos que estar no meio dos outros e o sentimento de
‘pertencimento’ era bastante significativo.
Constatamos que no anfiteatro o ambiente era excessivamente formal, tanto os
homens e as mulheres vestiam-se de maneira bem sóbria, mesmo para os padrões
europeus. Verificamos que com regularidade alguns dirigentes e responsáveis por
oficinas, procuravam estabelecer algumas conversações com os associados antes do
início das conferências, circulando bastante no anfiteatro. Acreditamos que a
imponência do local, de certa maneira intimidava aqueles que não estavam habituados a
freqüentar conferências com temas bem complexos para um grande público. Já nos
finalmente atividades com características voluntárias.
grupos mais reduzidos, encontramos um perfil diferente, muito mais informal, as
pessoas pareciam estar bem mais a vontade, e as trocas se desenvolviam com mais
facilidade. Entretanto é bom frisar que os freqüentadores destes grupos não chegavam a
representar 1/3 dos 1315 associados do ano investigado.
O discurso ativista foi uma outra característica encontrada, constantemente
apresentada concomitante ao desejo de manter relações sociais. “Aqui me permite
intelectualmente de encontrar coisas interessantes, me ajuda a passar uma aposentadoria
como eu desejava, ou seja, relativamente ativa” (Mulher, responsável por oficina). O
fato de ter um engajamento cotidiano que os obrigava a sair de suas casas parece ser
mais importante, que o fato de se engajar verdadeiramente nos estudos: “aqui é uma
forma de se evadir, de encontrar as pessoas, obrigando-me a sair de casa” (Mulher
responsável por oficina). Ir a universidade permite as pessoas não somente se
entreterem sobre um plano intelectual, mas também sobre um plano físico:
a gente tem necessidade de se vestir, de se arrumar, isto evita de ficar dentro de casa de roupa de dormir e chinelos durante todo o dia, enfim isto pode ser um pouco simplista, mas para mim é assim, entre 60 e 80 anos a atividade é indispensável, é necessário fazer alguma coisa (Mulher responsável por oficina).
Enfim, a questão aprender aparece como sendo secundária: “o que a gente
aprende na minha idade logo esquece, o que a gente retém é o que foi aprendido quando
jovem, para mim a UTL é uma maneira de estar ativo” (Homem responsável por
oficina).
As relações sociais que foram estabelecidas não foram consideradas como novas
amizades, para os entrevistados isto é muito difícil de acontecer. Eles se reportam
freqüentemente a relações cordiais, “a gente não se procura fora do ambiente da
universidade. Eu aperto mãos, a gente conversa, a gente brinca, mas nunca durante o
fim de semana” (Homem com cargo de direção). A idade é considerada como fator
responsável que os impede de se lançar em novas relações, principalmente para aqueles
que já possuem uma rede de amizade mais sólida: “após 55 ou 60 anos você não faz
mais amigos (...), os amigos você os faz antes, na UTL a gente se diz bom dia, não passa
disto” (Homem com cargo de direção). Outros procuram trazer seus próprios amigos a
fim de participarem juntos nas atividades “meus amigos na UTL nós nos conhecíamos
anteriormente” (Homem com cargo de direção).
Outro aspecto relacionado à distinção da associação pode ser observado partir
das atividades propostas. Apresentamos aqui as principais atividades oferecidas na
forma de oficinas: ‘jogo de cartas’ (bridge); ‘xadrez’; ‘scrable’; ‘coral’; ‘música de
câmara’; ‘pintura’; ‘clube de investimento’. Cursos como de ‘inglês’; ‘espanhol’;
‘cultura e civilização alemã’; ‘civilização e língua italiana’; ‘descoberta da arte
holandesa’; ‘civilização chinesa’; ‘caligrafia chinesa’. As atividades de pesquisa foram
naquele ano organizadas para investigar e discutir o continente europeu, que se
preparava para sua unificação, a partir do que se deu nome de ‘grupo Europa’, além de
outros grupos de pesquisa que investigaram: ‘pesquisas históricas’; ‘memória vivida’;
‘toponímia’; ‘meio ambiente’; ‘o homem e seu planeta’. Havendo ainda as ‘leituras
literárias’ e ‘leituras teatrais’.
Completando o leque de opções, temos as atividades físicas, as de cunho
turístico, com viagens a determinados pontos de interesse coletivo de âmbito nacional e
até internacional e também uma atividade que tem muito a ver com a peculiaridade da
região, que ensinava como se cuida de uma pequena horta ou de jardins caseiros. As
atividades voluntárias eram realizadas além da condução da maioria das atividades de
grupo e direção da associação, visitas a escolas, quando eram feitas intervenções de
reforço escolar.
Quando observamos as categorias sociais dos matriculados verificamos a
concentração de três CSP (TABELA 1): cadres, profissões intermediárias e empregados,
que representavam 75% das inscrições (ALVES JUNIOR, 1994).
TABELA 1
Universidade do Tempo Livre de Rennes, distribuição das frequencias dos aderentes,
ano 1992/1993, segundo CSP e gênero
(N. 1315 ).
NOMENCLATURA CSP TOTAL % HOMENS % MULHERES %
Agricultores 1 5 0.4 % 2 0.4 % 3 0.3 %
Artesões e comerciantes 2 54 4.1 % 21 5 % 33 3.7 %
Cadres 3 392 29.8 % 229 54.1 % 163 18.3 %
Profissões
intermediárias
4 327 24.9 % 69 16.3 % 258 28.9 %
Empregados 5 270 20.5 % 63 14.9 % 207 23.2 %
Operários 6 16 1.2 % 8 1.9 % 8 1.2 %
Sem atividade
profissional
8 188 14.3 % 0 0 % 188 21.2 %
Não identificado 33 2.5 % 13 3.1 % 20 2. %
Não declarado 30 2.3 % 18 4.3 % 12 1.3 %
TOTAL
1315 100 %
423 100 %
892 100 %
Apesar de ter bastantes indústrias na região e ser também um importante pólo
agrícola, a proporção de indivíduos originários da classe operária e de agricultores, foi
bem reduzida, insignificante, marcando uma distinção social logo na entrada, e como se
pode observar continuando quando verificamos a distribuição que leva em consideração
àqueles que freqüentaram um ou mais grupo de atividades (TABELA 2).
Como em outros estudos em associações semelhantes a UTL-Rennes, para cada
homem inscrito existiam duas mulheres. A média da idade foi de 64.9 anos, que ficou
bem próximo a divisão que arbitrariamente fizemos dos associados: mais jovens (menos
de 65 anos) e mais velhos (mais de 65 anos). Apesar de não haver limites de idade para
participar, verificou-se que mais de 2/3 dos freqüentadores tinham entre 56 e 73 anos.
Demonstrando que há uma discriminação natural que parece ser explicado pela tradição
da associação e das atividades propostas.
TABELA 2
Universidade do Tempo Livre de Rennes, distribuição das freqüências dos aderentes
inscritos em um grupo de atividade, ano 1992/1993, segundo CSP e o gênero
(N. 379 )
NOMENCLATURA CSP TOTAL % HOMENS % MULHERES %
Agricultores 1 0 0 % 0 0 % 0 0 %
Artesões e comerciantes 2 18 4.7 % 5 3.6 % 13 5.4 %
Cadres 3 165 43.5 % 90 64.7 % 75 31.3 %
Profissões
intermediárias
4 121 31.9 % 24 17.3 97 40.4 %
Empregados 5 73 19.5 18 12.9 % 55 22.9 %
Operários 6 2 0.5 % 2 1.4 % 0 0 %
TOTAL 379 100 % 139 100 % 240 100 %
Foram estes 379 associados concentrados em duas categorias sociais, ‘cadres ‘ e
‘intermediárias’ que podem ser considerados como os mais participativos. Os primeiros,
como já informamos pertencem a um tipo de profissão que são ainda tipicamente
masculinas, se levarmos em consideração a geração dos associados. Quanto aos demais,
da CSP intermediária, estariam atividades profissionais tipicamente femininas.
As opções de cada um destes 379 associadas foram analisadas segundo a
classificação utilizada pela própria na UTL-Rennes (TABELA 3) e chama atenção o que
também foi foco das investigações o engajamento no trabalho voluntário. Uma das suas
características principais da UTL-Rennes é a de utilizar recursos humanos saídos da
própria associação, seja nos quadros dirigentes da associação e também daqueles que
conduziam algumas oficinas18.
18 Quando não havia algum associado que se considerasse capaz ou qualificado para animar uma atividade, os interessados se cotizavam e contratavam alguém para conduzir a atividade. Isso ocorreu com as atividades físicas que englobava a ‘ginástica suave’, a ‘ginástica de manutenção’ e a ‘natação’, todas animadas por professores de educação física fora do quadro dos associados.
TABELA 3
Universidade do Tempo Livre de Rennes, distribuição das freqüências dos associados,
ano 1992/1993, segundo CSP e a atividade
(N. 379 )
ATIVIDADES CSP 1 CSP 2 CSP 3 CSP 4 CSP 5 CSP 6 Total
CURSOS 0 3 44 28 13 0 88
PESQUISAS 0 6 48 28 22 2 106
CULTURAIS 0 1 16 12 6 0 35
JARDINAGEM 0 1 24 12 13 1 51
FÍSICAS 0 1 9 18 9 0 37
LAZERES 0 11 54 29 19 0 113
VIAGENS 0 1 21 19 8 0 49
VOLUNTARIADO 0 1 25 13 10 0 49
TOTAL 0 25 241 159 100 3 528
Obs: Uma pessoa pode estar inscrita em mais de uma atividade
A importância do trabalho voluntário na UTL-Rennes
Comum a grande maioria das associações, o trabalho voluntário, mesmo se ainda
reduzido, é um dos alicerces do movimento associativo de idosos franceses. Neste caso
é necessário não confundir com o assistencialismo, ou a filantropia. Uma das
características do voluntariado é a ausência de ‘imposições sociais’, e quando as pessoas
que praticam esta atividade são questionados pelas razões que as conduziram a esta
prática, freqüentemente procuram se justificar através de motivos que se influenciam
mutuamente. Pode-se falar do desejo de se inserir socialmente, de utilizar o tempo
liberado, de defender uma causa que se considera justa, de ser solidário com um grupo e
do prazer que isto representa. Estes motivos escondem outros que não são tão
facilmente expressos como a necessidade de ser reconhecido socialmente e o desejo de
poder19. 19 Os três principais cargos da UTL-Rennes estavam ocupados por pessoas que sempre estiveram em situação de comando: o presidente era um antigo comandante da marinha mercante, o seu vice era um general de exército a secretária geral era uma antiga diretora de um estabelecimento prisional para mulheres.
O caráter ambíguo do trabalho voluntário e a baixa adesão de pessoas idosas na
França devem-se ao fato do não reconhecimento oficial e até mesmo do questionamento
do caráter supostamente social desta atividade. Não faltando interpretações paradoxais
como a de serem considerados como ‘ladrões de emprego’, suspeita de um trabalho
clandestino, não declarado, chegando alguns autores a sugerirem que o voluntariado
possa ser um risco a criação de empregos. No entanto, na medida que o voluntariado
passa a ser praticado por pessoas idosas ou aposentadas, ele passa a ser melhor aceito
pela sociedade, já que não representaria um grande risco concorrencial aos novos
empregos.
O papel dos voluntários que atuavam em associações semelhantes a que fizemos
esta pesquisa, foi investigado por Maximillienne Levet-Gautrat (1981, 1983). Ela
constatou, que se por um lado as mulheres eram maioria neste tipo de atividade, elas
eram sempre minoritárias nos cargos com mais responsabilidade como na gestão da
associação. Em sua pesquisa ela previu o que anos mais tarde observamos na UTL-
Rennes: com a chegada de novas gerações de aposentados, na perspectiva de haver uma
substituição dos quadros mais velhos, reaviva-se um sentimento de rejeição
anteriormente vivido, e que mais uma vez eles se foram substituídos das suas funções.
A questão sempre presente entre quantidade de associados, a qualidade do que é
oferecido e o capital cultural e social do associado, também foi motivo das
preocupações verificado através das entrevistas realizadas com os quadros que estavam
realizando atividades voluntárias na UTL-Rennes.
O processo de mudança: abrindo o espaço associativo a intergeracionalidade
Era freqüente a referência às estratégias que permitiram transformar o perfil dos
associados. Segundo os mais envolvidos na associação, foram as mudanças na estrutura
organizacional da universidade que possibilitaram as principais alterações. Para uns isto
era visto pelo aspecto positivo, já para outros, percebeu-se como retrocesso, já que se
perdia em qualidade. Uma coisa ficou bem definida, houve unanimidade em se dizer
que as alterações não foram fáceis de se implantar, sendo conseguidas através de muita
tensão. A chegada de uma nova geração e a mudança de nome tornou possível o
crescimento quantitativo da universidade, afirmavam os considerados reformadores. A
primeira vista, podemos hoje imaginar que estas mudanças foram rápidas, mas, no
entanto, elas foram difíceis e demoraram quatro anos para romper as barreiras.
Os defensores da alteração, diziam que as resistências às propostas
intergeracionais eram justificadas pelo fato de que: “os antigos diziam estar bem desta
maneira e que terceira idade correspondia ao perfil deles . Na verdade eles não viam
com bons olhos a necessidade se abrir a outras gerações” (Homem com cargo de
direção). Que pode ser completada como sendo o possível temor de uma perda de poder
que até então era por eles exercida.
Inicialmente, na sua primeira versão, a associação chamava-se Universidade da
Terceira Idade de Rennes e usava a idade de 60 anos como limite mínimo para
participação de alguém nas atividades da associação. Com o passar dos anos o núcleo
fundador acabou envelhecendo, passando a maioria dos 75 anos. Foi então no final dos
anos 80 que a associação passou a ser chamada de Universidade do Tempo Livre,
quebrando o tabu discriminatório de uma idade mínima como pré-requisito à inscrição.
Segundo um dos entrevistados, “estes pequenos detalhes tornaram possível o
aumento do número de adesões” (Homem com cargo de direção). Esta declaração foi
expressada com um forte sentimento de orgulho. E junta-se a outra bastante
contundente, que se referia assim: “agora, nós temos a presença dos mais jovens”
(Mulher responsável por oficina). Mesmo com a possibilidade de se aceitar pessoas de
qualquer idade, não encontramos mais do que cinco pessoas com menos de 50 anos,
havendo uma concentração entre as idades de 55 a 65 anos, que para os padrões
franceses podemos considerar como pessoas que ainda terão quase três décadas para
usufruir de um considerável tempo disponível. A chegada de uma nova geração e a
mudança de nome tornou possível o crescimento quantitativo da universidade,
afirmaram todos os considerados ‘reformadores’ (ALVES JUNIOR, 1994).
O que pensam os freqüentadores com responsabilidades na gestão da UTL-
Rennes
O sentido que é dado por cada um à universidade enquanto um espaço
associativo é um ponto que alimenta as tensões entre os voluntários. Encontramos por
parte de alguns uma forte resistência em deixar a associação se parecer com uma
associação típica de atividades pontuais, ou que desenvolvesse atividades mais ligadas à
cultura popular, como freqüentemente são as atividades dos clubes e dos grupos de
convivência para idosos e aposentados.
Aqui retomamos a um dos focos deste artigo que foi a importância de pensarmos
no alcance educacional do lazer e da ‘tecnologia educacional’ que é a animação cultural
(MELO, 2004 a). Incluímos aqui o pensamento do referido autor por considerarmos que
uma das resistências encontradas nas mudanças ocorridas na UTL-Rennes encontre
respaldo na incompreensão dos seus associados do que se pode alcançar através do lazer
e da animação cultural. Ao abordar a relação com a cultura de massas e a mediação,
Victor diz que a animação cultural é fundamentalmente um processo de intervenção que se constitui “a favor”, não necessariamente “contra” algo. É pensar uma iniciativa de “alfabetização cultural” de várias vias. Não é só para escrita que somos educados cotidianamente, como também para os sons, olhares, paladares, sensações em geral. Potencializar e ampliar tais importantes dimensões humanas para ser um apontamento necessário (...) A animação cultural é uma proposta de educação que, ao buscar quebrar uma certa unilateralidade no processo de comunicação (...) (MELO, 2004 b, p. 96-98)
Dois tipos de freqüentadores foram por nós claramente identificados: os
‘puristas’, com pensamentos mais tradicionalistas e conservadores e os que se
consideravam mais dinâmicos e progressistas, a quem os chamamos de’reformadores’,
mas como veremos isso só estaria sendo parcialmente atingido. No primeiro grupo
incluímos associados que até hoje resistem a utilização da palavra ‘universidade’ para
caracterizar a associação. “O título, é um tanto presunçoso” (Homem responsável por
oficina), mostrando a seguir que não consideraria importante outro tipo de cultura se
não a erudita. Afinal, seus argumentos indicavam que a UTL-Rennes deixava a desejar
por não ser capaz de realizar algum tipo de exame para verificar o aprendizado de seus
associados.
A comparação com o modelo de uma universidade mais tradicional, também foi
relatada por outro entrevistado, que informou ter tentado participar como ouvinte nos
cursos da Universidade Rennes 2, entretanto no seu relato diz ter passado por uma
experiência negativa. Segundo ele não houve possibilidade de se adaptar ao ritual da
universidade tradicional: “Imagine, eu um antigo general de exército, ter de esperar a
chegada de um professor, e para cada aula, ter de solicitar minha entrada nos auditórios”
(Homem com cargo de direção) . Seu conservadorismo e desconsideração do valor de
uma cultura popular, também se verificaram ao considerar que “a UTL-Rennes, é mais
um clube, a verdadeira universidade é a dos jovens”. Desta forma ele estaria
desconsiderando a importância do que estamos chamando de educar pelo e para o lazer
e as possíveis trocas culturais destes momentos.
Portadores de uma bagagem cultural superior a maioria dos associados, os
‘puristas’ usavam o argumento que
sendo o nível bastante variável, torna-se impossível de se fazer uma universidade. Quando se observa as pessoas que vem aqui, não sei qual seria a porcentagem dos que poderiam acompanhar uma verdadeira formação universitária (Homem responsável por oficina).
No entanto, enquanto que instituição de educação permanente, a UTL-Rennes,
não tem como intenção se fazer substituir aos estabelecimentos de ensino superior e
consideramos fundamental sua abertura à diversidade cultural. Conforme anuncia seu
boletim de informações, ela não pede nenhum tipo de formação mínima anterior. Mas
para os puristas,
o fato de ter uma condição mínima de base não seria um mal há um nível intelectual a ser resguardado e na minha opinião, isto não vem ocorrendo. Nós abrimos as portas demais, se por um lado isto pode ser num primeiro momento visto como algo muito bom, mas tem como conseqüência, que a maioria freqüenta a UTL como meros consumidores e não com a qualidade necessária de estudantes (Homem responsável por oficina).
Concluindo o depoimento e mostrando-se de acordo com o pensamento do que
entendemos como característico aos mais conservadores, este mesmo voluntário,
também membro da diretoria, concorda que os gráficos não paravam de acusar aumento
nas inscrições, “mas quem encontramos? Não deveríamos temer a segregação...”
Em oposição, os considerados reformadores, mais jovens que os primeiros,
acreditam que o aumento das participações foi uma coisa boa, porém, não foi em
nenhum momento abordado pela questão cultural e sim pelas possibilidades de
arrecadarem mais recursos financeiros: “se passamos a ter mais pessoas a cotizar,
teremos mais chances de oferecer coisas mais diversificadas e de melhor qualidade”
(Homem com cargo de direção). Uma boa arrecadação permite alugar outros espaços,
ou mesmo contratar mais animadores externos, como ocorre com algumas das
atividades propostas.
As propostas de renovação colocaram em oposição duas gerações, uma mais
nova do que a outra, segundo seu presidente,
a perenidade daqueles que tem responsabilidades na UTL, é garantida pelos que fazem trabalho voluntário. Os mais antigos na UTL, enquanto que pessoas mais envelhecidas, não tiveram a projeção necessária para acompanhar a evolução [...] acredito fortemente que o grande avanço desta universidade deve-se ao fato do rejuvenescimento de seus associados.
Caracterizar a UTL-Rennes como sendo um tipo de clube mais intelectualizado,
continuava a opor os dois grupos. A palavra clube, freqüentemente é percebida como
pejorativa, depreciando o status universitário que a UTL-Rennes pretende manter. No início da universidade as pessoas que se investiam tinham como tendência participar em tudo que aparecia, era uma universidade só para eles, este é o princípio de um clube. Eles não tinham o desprendimento necessário de organizar atividades sem participar, ou seja, fazer algo para os outros (Homem com cargo de direção).
Fica claro que quando eles se referem aos clubes, eles estão dizendo ‘clubes da
terceira idade’ que como as universidades do mesmo nome, encontram sua origem na
França, no final dos anos 60 e início dos anos 70, respectivamente. Os clubes na França
têm a característica de atingirem um público mais rural, atraindo classes sociais
diferentes, cujo ‘capital cultural’ e interesses é bem diferenciado dos que procuram as
universidades. Como verificamos a característica de ‘distinção social’ está muito
presente entre os freqüentadores das associações similares à UTL-Rennes.
Nas entrevistas, procuramos também trabalhar com as questões referentes a esta
identidade própria, que poderia ser expressa através da escolha de certas atividades
como a prática das danças tradicionais da região e outras manifestações culturais típicas
da região. A justificativa de não incluírem qualquer tipo de dança nas atividades
propostas ou ainda propostas de cunho regional, tinha a justificativa de que sendo a
UTL-Rennes uma universidade, ela não poderia confundir-se com os clubes, o que
ocorreria se propusessem atividades que estariam mais de acordo com a cultura popular
por este motivo mais adequada ao perfil dos clubes. No entanto, observamos que
algumas atividades que eram praticadas poderiam ser típicas de um clube, só que mais
elitizados. Citamos como exemplo destas atividades: bridge, xadrez, golfe, música de
câmara, que trazem em si certas características menos acessíveis aos idosos que
freqüentavam os clubes. A característica de diferenciação social ficou bem nítida no
restante das atividades que são oferecidas, já que havia grupos de pesquisa, cursos de
línguas como o de chinês, cursos de cultura e artes de outros países que no decorrer do
ano universitário são visitados numa atividade denominada viagem cultural.
No caso das atividades físicas apesar de cada curso ser realizado uma vez por
semana, a sua inclusão era justificada pela característica da busca pela manutenção e
pela melhora da saúde. Encontramos também aqueles que sem qualquer tipo de
preconceito vêem a UTL-Rennes como um ‘clube especial’, sem que isto pareça
incomodar. “Aqui temos um lugar que permite que nos desenvolvamos intelectualmente
encontrando coisas interessantes que jamais teríamos acesso em clubes equivalentes”
(Mulher responsável por oficina).
Evidentemente, para se ter uma idéia mais precisa da UTL, seria necessário
escutar outros associados, principalmente aqueles que representam a grande maioria e
que nós nomeamos como ‘consumidores’ das atividades, que se contentavam mais em
só assistir as conferências ou participar de alguma atividade na forma de oficina.
Analisando as escolhas dos associados
A análise quantitativa realizada através de uma análise fatorial das
correspondências (AFC), nos mostrou que as atividades físicas, as viagens culturais e a
jardinagem seguiam um efeito de geração.
A participação nas viagens coletivas permitia aos mais velhos de realizar as
viagens que eles não tiveram a oportunidade quando mais novos. A prática da
jardinagem seria uma atividade que demonstrava receber influência do gênero e de
geração.
Os mais jovens e as classes médias seguiam também outra tendência naquele
momento encontrada na sociedade francesa e hoje também no Brasil, a prática de
atividades físicas.
Outras atividades como scrable, bridge, xadrez, investimentos, a pesquisa, as
leituras, sofrem o efeito do gênero, mesmo se existam relações entre a geração ou a
CSP.
Encontramos uma oposição significativa entre os que escolhem as atividades de
lazer e as atividades dos cursos. Os participantes dos cursos têm a tendência de serem as
mulheres e as mais jovens (sobretudo as professores e as das profissões intelectuais
superiores). Isto indica que os determinantes que influenciam a escolha das atividades
são os mesmos que influenciam os adultos engajados profissionalmente. Assim,
podemos inferir que as pessoas das categorias sociais dotadas de um forte nível de
diploma acabam escolhendo atividades semelhantes, estando na aposentadoria ou não.
Considerações finais
Se tomarmos o exemplo dos associados voluntários, que são os mais implicados
na UTL-Rennes, observa-se que eles exerciam suas funções como um novo ‘trabalho’,
podemos mesmo falar que de forma semelhante a uma ‘segunda carreira’ com
características muito próximas da sua antiga profissão.
Verificamos que no momento da pesquisa o lazer ainda era normalmente
confundido com o tempo livre, como sendo um tempo não absorvido pelo trabalho, uma
atividade improdutiva, freqüentemente desvalorizado e ignorado face ao trabalho e as
obrigações familiares, sendo reduzidos ao campo do consumo.
Consideramos que o espaço associativo para idosos e aposentados seja ele dentro
ou fora da universidade pode ser um local privilegiado para a transmissão cultural, e
nada melhor do que faze-la através do lazer e levando em consideração a sua mediação
consciente do animador cultural, que deve procurar pontuar suas intervenções num
constante diálogo com aqueles que buscam o engajamento nas atividades. Alertamos
para que ele não seja confundido como mero entretenimento, com fim em si mesmo,
pois sendo assim, nada justifica sua presença numa universidade que deve ser uma
facilitadora da tríade ensino pesquisa e extensão.
Aceitamos que seja uma excelente alternativa educar pelo lazer e para o lazer,
fazendo também parte de nossas preocupações a forma como aqueles que têm sobre sua
responsabilidade idosos e aposentados vêm intervindo, seja diretamente na condução de
oficinas e cursos, como na gestão de espaços associativos. Em outra ocasião, ao
fazermos uma análise das intervenções dos animadores, verificamos que no caso das
aulas de ginástica para idosos, era comum a ‘hiperinfantilização dos adultos’ e a
‘hiperescolarização dos conteúdos’ propostos (ALVES JUNIOR, 2004).
Finalmente, fica claro que faltam argumentos dos que defendem as propostas
associativas para idosos e aposentados baseadas em idades cronológicas para limitar o
acesso dos que a procuram. Acreditamos que devamos insistir nas propostas
intergeracionais como possibilidade de romper com certos ageismos que procuram
isolar jovens e velhos.
A aposentadoria altera o modo de vida individual daqueles que a vivem, por este
motivo necessita-se de locais específicos de vida social, a UTL-Rennes parece
desempenhar um papel importante na inserção dos idosos e dos aposentados de uma
classe social.
O exemplo francês pode em certos aspectos servir para orientar os modelos
associativos para pessoas idosas e aposentadas que se instalam ultimamente no Brasil.
Criadas nos anos 1970 as associações voltadas para a população idosa desenvolvem
atividades típicas de lazer e tem tido uma grande aceitação por parte da população. A
abertura aos novos aposentados e a todos, vem sendo um fator preponderante na
contribuição das relações intergeracionais.
A aposentadoria altera o modo de vida daqueles que a vivem, por este motivo
necessita-se de locais específicos para dar continuidade à vida social. O exemplo da
UTL-Rennes mostrou como podemos pensar o associativismo no que toca os
aposentados e os idosos, parecendo desempenhar um papel importante na inserção deste
grupo social.
O significado da educação para adultos vem de uma disposição da sociedade em
oferecer oportunidades de educação a qualquer momento, conforme as necessidades
sentidas pelo público idoso. Não deve ser, em hipótese alguma, uma extensão da escola
tal qual a conhecemos. Hoje parece ser incontestável que somos capazes de aprender,
não importa em que idade. O que se tem de considerar são alterações nos ritmos e
ansiedades aliados à maneira peculiar de aprender. Romper com o mito de que não
haveria interesse e capacidade por parte dos idosos em aprender novas coisas não é uma
tarefa das mais fáceis, pois ele se estende mesmo entre os que se propõe a atuar com
grupos de idosos e aposentados.
O exemplo francês pode em certos aspectos servir para orientar os modelos
associativos para pessoas idosas e aposentadas que se instalam ultimamente no Brasil.
Para encerrar algumas reflexões ficam aqui registradas:
1 Não se deve desprezar a importância do lazer e da animação cultural, estabelecendo
um constante diálogo entre mediadores e associados.
2 Que a questão de uma idade cronológica para delimitar aqueles que podem participar
é desprezível, sendo fundamental pensar em estratégias intergeracionais como uma boa
possibilidade para combater estereótipos com relação à velhice.
3 Consideramos também a importância de não rotular a associação de forma ingênua,
acreditando numa possível homogeneização daqueles que envelhecem.
4 Ter claro que vivemos numa sociedade dividida em classes sociais com uma
interessante diversidade cultural.
5 Ao compreender o sentido de cultura de forma ampliada, procuramos usar uma
mediação que possa pouco a pouco se desvencilhar de uma dependência daqueles que se
consideram conhecedores da velhice e do envelhecimento.
6 Chamamos atenção para que as propostas não caiam no assistencialismo ingênuo,
devendo visar, antes de mais nada o respeito aos que envelhecem, sem infantiliza-los ou
escolariza-los.
Bibliografia ALVES JUNIOR Edmundo de Drummond, A pastoral do envelhecimento ativo, tese de doutorado, Programa de pós graduação da Universidade Gama Filho, 2004
___________________________________, L’Université du temps libre du pays de Rennes : Un révélateur d’un modèle social du vieillissement, Mémoire du D.E.A. d’Histoire, Civilisation et Sociétés, apresentado na universidade de Rennes 2. Rennes: Université de Haute Bretagne, 1994.
____________________________________, O Idoso e a educação física informal em Niterói, Dissertação de Mestrado, Rio de Janeiro : Universidade Federal do Rio de Janeiro, 1992.
ATTIAS-DONFUT Claudine, Loisir et formation des générations, Gérontologie et Société, n.15, décembre 1980-janvier, p. 9-28, 1981.
ATTIAS-DONFUT Claudine, Sociologie des Generations, Paris: PUF, 1988.
BOURDIEU Pierre, Questions de Sociologie, Paris: Ed. du Minuit, 1980.
BRASSEUL Pierre, Education des personnes âgées en France, Gérontologie et Société, n. 33, p. 50-64, 1985.
DESROSIERES Alain, THEVENOT Laurent. Les catégories socioprofessionnelles, Paris: La Découverte, 1992.
DEBORD Guy, Sociedade do espetáculo, Rio de Janeiro : Contraponto, 1997.
DUMAZEDIER Joffre, Revolution culturelle du temps–libre, Paris : Mérediens Klincsieck, 1988. GAULLIER Xavier, La deuxième carrière, Paris: Editions du Seuil, 1988.
________________, Les temps de la vie, Emploi et retraite Paris:Espirit, 1999.
GROSSIN William, Le temps et la vie quotidienne, Paris: Mouton, 1974.
________________, Les cultures et les temps, L'annee sociologique, vol. 26, 1987, p 267- 283.
_________________, Les representations temporelles et l'emergence de l'histoire, L'annee sociologique, n. 39, 1989 , p 233- 254.
GURVICH Georges, La multiplicite des temps sociaux, Cours public donne a la Sorbonne, (stenogramme), 1958. INSEE, Les personnes âgées, Contours et Caractéristiques, Paris: Insee, 1990.
LEMIEUX Raymond, Vieillir une question de sens, Revue Internationale d'Action Communautaire, 23/63, p. 25- 33, Montréal, 1990. LENOIR Remi, L´invention du troisième âge et la constitution du champs des agents de gestion de lavieillesse, Actes de la Recherche en Sciences Socialies, n 26-27, 1979, p. 57-82.
_____________, Objeto sociológico e problema social, In: Champagne P et al, Iniciação à prática sociológica, Petrópolis Vozes, 1998, p. 59-106.
LEMIEUX A., JEANNERET R., MARC P., Enseignement et recherche dans les universites du troisième age, Laval: Agence d'Arc, 1992
LEVET-GAUTAT Maximilienne, Premieres assises nationales des Universites Frannçaises du Troisième Age, UFUTA, Reims, 1981, p. 49- 62. ____________________________, Le recours aux associations, Gerontologie et Société, n. 26, p. 46-49, 1983.
MELO Victor Andrade de, ALVES JUNIOR Edmundo de Drummond, Introdução ao Lazer, São Paulo: Manole, 2003.
MELO Victor, Animação Cultural, p. 12-15, IN: GOMES Christianne Luce, Dicionário crítico do lazer, Belo Horizonte: Autentica, 2004 (a).
MELO, Victor, A animação cultural, os estudos do lazer e os estudos culturais: diálogos, Licere, Belo Horizonte, v. 7, n. 2, p. 86-103, 2004 (b)
NERI Anita Liberalesco, CACHIONE Meire, Velhie bem sucedida e educação, In: NERI Anita Liberalesco e DEBERT Guita Grin, Velhice e Sociedade, Campinas: Papirus, 1999, p. 113- 140.
NOVAES Maria Helena, Psicologia da terceira idade, Rio de Janeiro: NAU, 2000. PAILLAT Paul, Passage de la vie active a la retraite, PUF: Paris, 1989.
RAPPORT pour la IV conférence internationale sur l'éducation des adultes, Education et personnes âgées en France, Paris: FNG, 1985.
ROZENKIER Alain, Les clubs du troisième âge: Genèse et fonctionnement, Paris: Caisse Nationale D'assurance Vieillesse, 1987.
VANBREMEERSCH M. C., MARGARIDO A., Les etudiants de l’Université du troisième age de l’Université de Picardie, Gerontologie et Société, n. 13, p.123-149, 1980.
VELLAS Pierre, La recherche et les universités du troisième âge, Gerontologie et Société, n. 55, p. 104-106, 1990.
End. do autor
Rua Assunção 162 apto. 203 Botafogo, Rio de Janeiro 22251-030