Avaçiação Do PSF Na Perpectiva Do Usuario
-
Upload
marta-moraes -
Category
Documents
-
view
13 -
download
0
description
Transcript of Avaçiação Do PSF Na Perpectiva Do Usuario
-
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIROCENTRO DE CINCIAS DA SADEINSTITUTO DE SADE COLETIVA
Vera Regina do Carmo Mendona
Avaliao do PSF na Perspectiva do Usurio: Um Estudo de Caso noMunicpio de Volta Redonda
Rio de Janeiro
2007
-
Vera Regina do Carmo Mendona
Avaliao do PSF na Perspectiva do Usurio: Um Estudo de Caso noMunicpio de Volta Redonda
Dissertao de Mestrado apresentada ao Institutode Sade Coletiva, Centro de Cincias da SadeUniversidade Federal do Rio de Janeiro, comoparte dos requisitos necessrios obteno dottulo de Mestre em Sade Coletiva. rea deconcentrao em Polticas de Sade,Planejamento, Avaliao.
Orientadora: Dra. Ivani Bursztyn
Rio de Janeiro
2007
-
M539aMENDONA, Vera Regina do Carmo. Avaliao do PSF na perspectiva do usurio: um estudo de caso no
municpio de Volta Redonda/ Vera Regina do Carmo Mendona. Riode Janeiro: 2007.
98f. Orientadora: Ivani Bursztyn Dissertao (mestrado) Instituto de Sade Coletivo, Centro de
Cincias da Sade Universidade Federal do Rio de Janeiro. 1. Programa de sade da famlia 2. Avaliao de servios e sade 3.
Viso dos usurios I. Mendona, Vera Regina do Carmo. II.Universidade Federal do Rio de Janeiro. III. Ttulo.
CDD: 610.734
-
RESUMO
MENDONA, Vera Regina do Carmo. Avaliao do PSF na Perspectiva do Usurio: UmEstudo de Caso no Municpio de Volta Redonda. Rio de Janeiro, 2007 Dissertao (Mestradoem Sade Coletiva) Instituto de Sade Coletiva, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Riode Janeiro, 2007
O municpio de V. Redonda, localiza-se ao Sul do Estado do Rio de Janeiro. Suapopulao de 258.145 habitantes. A rede assistencial do municpio vem sendo estruturada,acompanhando a implementao das polticas preconizadas pelo Ministrio da Sade. Em1993 aderiu estratgia de reorganizao da ateno, implantando o Programa Sade daFamlia, o qual iniciou as atividades em 1994, em cinco bairros, cobrindo 10% de suapopulao. Esta cobertura permaneceu at o lanamento do PROESF- Programa de Expansodo PSF, para os municpios acima de 100.000 habitantes, pelo Ministrio da Sade. Estetrabalho visa analisar o padro de utilizao dos servios de sade pela populao assistidapela estratgia Sade da Famlia; analisar a utilizao dos servios pelos usurios de uma reaassistida pela EstratgiaSade da Famlia; verificar se a populao incorpora a lgica dediagnstico e interveno precoce ao procurar os servios de sade ; averiguar se a equipe dePSF atua enfatizando a preveno de agravos e a promoo da sade. Analisar a opinio dapopulao sobre a Estratgia Sade da Famlia Neste trabalho foi realizado um estudotransversal, atravs de inqurito domiciliar. O universo amostral foi constitudo pelas 1115famlias cadastradas em um mdulo de PSF, entre as quais selecionou-se uma amostraaleatria de 300 famlias. As variveis do estudo foram definidas enfocando, sob o ponto devista dos usurios, os aspectos de acesso aos servios de sade, resolubilidade das aes,organizao dos servios, processo de trabalho dos profissionais, referncia e contra-referncia, integralidade da ateno sade. A informao foi coletada por meio dequestionrios formulados com perguntas abertas e fechadas. Os dados coletados foramarmazenados em bancos no programa Excel e analisados com o auxlio do software Epiinfo,realizando-se uma anlise descritiva baseada de freqncias e tabulaes simples. Entre osresultados deste estudo observou-se a insatisfao da populao com o sistema deagendamento de consultas, a insuficincia de atividades educativas, o desconhecimento doprocesso de trabalho do PSF pela populao, baixa resolubilidade e quase inexistncia devisitas domiciliares por parte dos agentes comunitrios. Concluiu-se que deve haver umareviso do processo de trabalho da equipe, com capacitao adequada para as atividades depreveno e promoo da sade, e abordagem da comunidade.
-
ABSTRACT
MENDONA, Vera Regina do Carmo. Avaliao do PSF na Perspectiva do Usurio: UmEstudo de Caso no Municpio de Volta Redonda. Rio de Janeiro, 2007. Dissertao(Mestrado em Sade Coletiva) Instituto de Sade Coletiva, Universidade Federal do Rio deJaneiro, Rio de Janeiro, 2007
The municipal district of Volta Redonda, is situated at the south in the state of Rio deJaneiro. It's population is about 258,145 inhabitants. The municipal health care network hasbeen structured according to the implementation of the Health Ministry's politics.In 1993 itjoined the strategy for reorganizing health care, starting the Programa de Sade da Famlia,which iniciated it's activities in 1994, at five neighborhoods, covering 10% of all themunicipal districts's population. This coverage lasted until the release of PROESF Programa de Expanso do PSF, for municipalities over 100,000 inhabitants, by the HealthMinistry. This work aims to analyze the pattern of the utilization of the health services by thepopulation assisted by the family health strategy; to analyze the utilization of services by theusers of an area assisted by the family health strategy; to verify if the population accepts thediagnostic and early intervention logics when seeking the health services; to verify if the PSFteam acts emphasizing the grievance prevention and health promotion; to analyze the opinionof the population about the family health strategy. The sample universe was constituted by1,115 families registered in a PSF module, from which a randomized sample of 300 familieshas been selected. The study variables were defined focusing, from the user's point of view,the aspects of access to the health services, the resolubility of actions, the servicesorganization, professionals' work process, reference and counter reference,comprehensiveness of healthcare. The information was collected by means of questionnairesmade with open and closed questions. The data collected were then stored in the softwareExcel's databases and analyzed with the aid of the software Epiinfo, a descriptive analysis hasbeen carried out based on frequencies and simple tabulations. Among the results of this studyit has been observed a population dissatisfaction concerning the medical appointment system,the insufficiency of the educative activities, the population unawareness about PSF workprocess, low resolubility and the almost nonexistence of the home visits done by thecommunity health worker. It has been concluded that there must have be a review of the teamwork process, with the adequate skills development for the prevention and promotion ofhealth activities, as well as the community approach.
-
SUMRIO APRESENTAO 121 INTRODUO 151.1 O Municpio de Volta Redonda. Aspectos Histricos 151.2 Aspectos Gerais 161.3 A Rede Municipal de Sade em Volta Redonda 171.4 A Estratgia Sade da Famlia em Volta Redonda 202 OBJETIVOS 243 A ATENO PRIMRIA MODELO BRASILEIRO 253.1 O Conceito de Sade 253.2 A Ateno Primria em Sade 283.3 A Ateno Primria e Promoo da Sade 313.4 A Ateno Primria no Brasil 343.5 Avaliao na Ateno Primria 374 METODOLOGIA 415 RESULTADOS 456 DISCUSSO 757 CONCLUSO 81REFERNCIAS 82ANEXOS 87
-
Agradecimentos
Este trabalho resultado da atuao de muitas pessoas, com as quais divido a alegriapela sua concluso e a quais agradeo do fundo do meu corao.
Secretaria Municipal de Sade de Volta Redonda, pelo apoio e permisso para a realizaodeste estudo, atravs dos Secretrios de Sade Jos Roberto Roxo e Neusa Maria Jordo;
equipe da Unidade de Sade e aos moradores do bairro Vila Rica
Aos meus colegas de Trabalho do Departamento de Desenvolvimento de Programas peloapoio e incentivo;
Aos meus filhos e marido pelo apoio e por entenderem as minhas dificuldades e ausncias, eespecialmente Tain pelo trabalho de digitao das tabelas e por ter assumido as tarefasdomsticas nos finais de semana e ao Tau pela reviso gramatical e traduo para o ingls;
Ftima Pereira, com quem desde 1987, divido o gosto pela atuao no servio publico, peladisponibilidade em atender meu pedido de ajuda;
Sheila e a Las, pelo incentivo e iniciao na vida acadmica;
Aos meus colegas professores do Curso de Enfermagem do Centro Universitrio de BarraMansa pelo incentivo e carinho e a bibliotecria Dalva de Andrade
Ana Lcia e seu marido Andr pelo apoio no inicio do curso;
Analice, Sheila, Marluce e Berta, com as quais dividi horas de trabalho em busca de umsistema de sade mais justo e mais humano;
Associao de Aposentados e Pensionistas de Volta Redonda, pelo apoio de seus diretorese colegas que nesta ltima fase do curso permitiram e compreenderam minha ausncia;
Aos funcionrios do IESC, especialmente ao Ivisson e ao Geraldo de Oliveira sempre muitoatenciosos;
Ivete, por suas palavras de incentivo e ateno;
Agradeo aos alunos do Curso de Enfermagem do UBM que participaram da aplicao doquestionrio teste: Ila Cristina, Jaqueline, Priscila Cristina, Lila, Mrcia.
Agradeo aos alunos do Curso de Enfermagem do Centro Universitrio de Barra Mansa queconviveram comigo enfrentando sol e chuva e sem os quais este trabalho no seria concludo:Andr, Fernanda, Renata, Maria Luiza, Marluce, Giuliane, Natlia, Daniel, Priscila Moura,Ludmila.
E por fim agradeo minha orientadora Ivani, pela ateno, carinho, disponibilidade,compreenso e incentivo, e banca examinadora que gentilmente aceitou avaliar meutrabalho.
-
LISTA DE TABELAS
Tabela 01 Caracterizao do entrevistado principal, bairro Vila Rica, Volta Redonda 2007. 46Tabela 02 Distribuio dos entrevistados segundo variveis referentes acessibilidade
unidade de sade do bairro Vila Rica, segundo entrevistado principal, 2007. 48Tabela 03 Distribuio das crianas menores de 01 ano segundo variveis segundo sexo,
idade, estado imunolgico e amamentao, Vila Rica, Volta Redonda, 2007. 55Tabela 04 Distribuio das crianas de 1 a 4 anos segundo sexo, freqncia a creche,
condio de deficincia, Vila Rica, Volta Redonda, 2007. 55Tabela 05 Distribuio das crianas de 05 a 09 anos segundo sexo escolaridade e condio de
deficincia, Vila Rica, Volta Redonda, 2007. 56Tabela 06 Distribuio das crianas de 9 a 12 anos segundo sexo, escolaridade e
condio de deficincia, Vila Rica, Volta Redonda, 2007. 56
Tabela 07 Distribuio dos jovens 13 a 18 anos segundo posio na famlia, sexo,escolaridade, ocupao e renda, Vila Rica, Volta Redonda, 2007. 59
Tabela 08 Distribuio dos jovens de 13 a 18 anos de acordo com variveis relativas utilizao dos servios, Vila Rica, Volta Redonda, 2007. 60
Tabela 09 Distribuio dos homens acima dos 19 anos segundo escolaridade, ocupao,condio de deficincia, renda e faixa etria Vila Rica, Volta Redonda, 2007. 62
Tabela 10 Distribuio dos homens acima de 19 anos segundo variveis referentes utilizao dos servios de acordo com a faixa etria, Vila Rica, Volta Redonda,2007.
63
Tabela 11 Distribuio das mulheres acima de 19 anos segundo escolaridade, ocupao,condio de deficincia, renda e faixa etria, Vila Rica, Volta Redonda, 2007. 67
Tabela 12 Distribuio das mulheres segundo variveis referentes utilizao da unidade desade, Vila Rica, Volta Redonda, 2007. 69
Tabela 13 Distribuio das mulheres de acordo com variveis referentes utilizao de outrosservios, Vila Rica, Volta Redonda, 2007. 71
Tabela 14 Distribuio das mulheres acima de 19 anos segundo variveis referentes sexualidade e participao em atividades educativas, Vila Rica, Volta Redonda,2007.
73
Tabela 15 Distribuio das mulheres acima de 60 anos segundo variveis referentes participao em atividades para 3 idade, Vila Rica, Volta Redonda, 2007.
74
-
LISTA DE QUADROSQuadro 01 Aspectos positivos e negativos do Programa Sade da Famlia, do bairro Vila
Rica-Volta Redonda, segundo entrevistado principal, 2007. 49
Quadro 02 Satisfao com o atendimento e resoluo de problema no ltimo comparecimento aunidade de sade segundo o entrevistado principal, Vila Rica, Volta Redonda, 2007.
51
Quadro 03 Visita Domiciliar pela Equipe do Programa Sade da Famlia, conforme entrevistadoprincipal, Vila Rica, Volta Redonda, 2007.
52
Quadro 04 ltima utilizao da unidade de sade pelo entrevistado principal, Vila Rica, VoltaRedonda, 2007.
53
Quadro 05 Caracterizao das Gestantes do bairro Vila Rica, Volta Redonda, 2007. 65
-
GRFICOS
Grfico 01 Utilizao de servios de sade por crianas de 0 a 12 anos, bairro Vila Rica, VoltaRedonda, 2007.
58
-
LISTA DE SIGLAS
ADPH Aes para o Desenvolvimento do Potencial Humano Para a Melhoria da Qualidade do Servio Pblico
AIS Aes Integradas de Sade CCS Conselho Comunitrio de Sade CIMS Comisso Municipal Inter Institucional de Sade CONAM Conselho de Associaes de MoradoresCSN Companhia Siderrgica Nacional ENSP Escola Nacional de Sade PblicaESF Estratgia Sade da FamliaFEBAM Fundao Educacional de Barra Mansa.FIOCRUZ Fundao Oswaldo CruzFUNASA Fundao Nacional de SadeIBGE Instituto Brasileiro de Geografia e EstatsticaINAMPS Instituo Nacional de Assistncia Mdica da Previdncia SocialLBA Legio Brasileira de Assistncia NOAS Norma Operacional da Assistncia SadeOMS Organizao Mundial de SadePREV-SADE Programa Nacional de Servios Bsicos de Sade PROESF Programa de Expanso do Sade da FamliaPSA Antgeno especfico da prstataPSB Partido Socialista BrasileiroPSF Programa Sade da Famlia PT Partido dos TrabalhadoresSAH Servio Autnomo Hospitalar SINPAS Sistema Nacional de Previdncia e Assistncia SocialSMS Secretaria Municipal de Sade SUS Sistema nico de Sade UBM Centro Universitrio de Barra Mansa UFRJ Universidade Federal do Rio de JaneiroUHG Unio Hospitalar GratuitaWWW World wide webWHO World health Organization WONCA Sociedade Europia de Clnica Geral/ Medicina de Famlia
-
APRESENTAO
Nasci em Volta Redonda, onde estudei e conclui o 1 e 2 grau. Cursei a Faculdade de
Servio Social da Universidade Federal do Rio de Janeiro e aps seu trmino em 1980,
retornei ao meu municpio por entender que havia um campo de trabalho aberto para a
profisso, por minha famlia permanecer residindo ali e por saber que enquanto cidad
poderia contribuir de alguma forma com os meus conhecimentos para o desenvolvimento
local. Assim, ao retornar integrei-me ao movimento popular, participando da Associao de
Moradores de meu bairro, do Conselho de Associaes de Moradores - CONAM, do
Conselho Comunitrio de Sade, tendo a oportunidade de represent-lo na CIMS, Comisso
Inter Institucional de Sade, movimentos estes muito atuantes no incio da dcada de 80.
Minha vida profissional iniciou-se em uma clnica de assistncia a crianas portadoras
de deficincia, conveniada extinta Legio Brasileira de Assistncia.
Aps 02 anos de atuao, tive a oportunidade de integrar equipe do Servio de
Psicologia e Assistncia ao Escolar da Fundao Educacional de Barra Mansa, onde
trabalhava com as famlias dos alunos e a comunidade.
Nesta poca, j chamava minha ateno s precrias condies de vida e sade dapopulao interferindo no desenvolvimento escolar e na sade dos alunos.
Em 1987, participei de um concurso pblico promovido pelo Governo Estadual, cujasvagas destinavam-se rea da Sade com 01 vaga disponvel para o Posto de Sade de Volta
Redonda. Fui aprovada neste concurso e devido a minha classificao pude escolher o meu
municpio de residncia como lotao.
Inicia-se ento minha vinculao rea da Sade, com a atuao na primeira equipe
de Sade Mental que estava sendo criada. Nesta poca j havia acontecido a primeira eleioaps o municpio deixar de ser considerado rea de Segurana Nacional e a Secretaria deSade comeava a se desenvolver. Minha participao agora se dava nos dois campos; no
12
-
movimento popular e como profissional. As contradies da sociedade ficavam cada vez mais
claras, e o entendimento de que era fundamental que os governos se preocupassem em
oferecer servios de sade mais adequados realidade da populao, mais evidentes.
Aps avanos e retrocessos na construo do Sistema de Sade no municpio num
espao de 08 anos, ocorre uma nova eleio municipal sendo destinada ao Partido dos
Trabalhadores do qual eu era simpatizante, a conduo da Secretaria de Sade. Neste perodo,
iniciado em 1993, recebi um convite para gerenciar a Unidade de Sade do Estado, da qual eu
era funcionria, com a tarefa principal de colaborar no processo de sua municipalizao.
Cumprida esta tarefa, coordenei em 1994 a equipe da Assessoria de Treinamento e
Desenvolvimento de Recursos Humanos da SMS, tendo como tarefa o desenvolvimento da
estratgia de gesto democrtica na rea de sade, denominada Aes para o
Desenvolvimento do Potencial Humano Para a Melhoria da Qualidade do Servio Pblico -
ADPH, que buscava a adeso dos funcionrios ao Projeto "Em Defesa da Vida". Este trabalhoconsistia na realizao de oficinas de sensibilizao e de planejamento na rea gerencial,buscando um novo entendimento dos profissionais quanto sua responsabilidade para com os
usurios do servio e a melhoria da qualidade do atendimento, reforando a importncia da
humanizao do processo de trabalho e construo de um trabalhador coletivo (Braga, 1999).
Estive na coordenao deste setor por alguns anos, me afastando por um perodo, para
assumir a Chefia de Gabinete da Secretaria de Sade, posteriormente retornando funo,
acumulando tambm a coordenao do Departamento de Desenvolvimento de Programas,
tendo a oportunidade de participar nestes momentos do colegiado de gesto da SMS. Isto me
fez aproximar das questes gerenciais, percebendo cada vez mais a necessidade de
sistematizao de aes de planejamento, avaliao para a construo de um sistema maisefetivo.
13
-
Nesta construo, tive tambm a oportunidade de me qualificar concluindo 03
especializaes: a primeira em Desenvolvimento Gerencial de Unidades de Sade, outra em
Desenvolvimento de Recursos Humanos para o SUS, ambas pela ENSP-FIOCRUZ, e a
terceira, mais recentemente, em Vigilncia em Sade, pelo Centro Universitrio de Barra
Mansa, em convnio com a Fundao Nacional de Sade - FUNASA.
O interesse em realizar minha dissertao de mestrado enfocando a Estratgia Sade
da Famlia PSF, deve-se ao fato de eu ter participado, desde a tomada de deciso pela
implantao da estratgia, definindo os locais onde seriam implantadas as primeiras equipes,
seleo das mesmas, estratgias para sua capacitao, acompanhamento de seus resultados, e
ainda, a deciso de implantar no municpio o PROESF Programa de Expanso de Sade da
Famlia, para os municpios acima de 100.000 habitantes.
No entanto, percebi que nestes doze anos, a avaliao do programa privilegiou os
aspectos tcnicos, no verificando a viso e a adeso da populao a esta estratgia.
Portanto, pretendo com a realizao deste trabalho, contribuir para a consolidao da
implantao do Programa Sade da Famlia, demonstrando o nvel de adeso da populao ao
mesmo e o padro de utilizao, para propiciar ao servio de sade a possibilidade de
identificar as falhas, assim podendo corrigi-las melhorando a qualidade dos servios
oferecidos populao.
14
-
1 INTRODUO1.1 O MUNICPIO DE VOLTA REDONDA - ASPECTOS HISTRICOS
A ocupao no mdio Vale do Paraba do Estado do Rio de Janeiro, onde se situa o
municpio de Volta Redonda, teve seu incio com o ciclo econmico cafeeiro no final do
sculo XVIII. Com o esgotamento deste ciclo a pecuria toma seu lugar.
Em 1940, o espao urbano era composto por dois povoados, um margem esquerda e
outro direita do rio Paraba do Sul, constitudo como o 8 Distrito do municpio de Barra
Mansa, com poucos equipamentos urbanos e servios pblicos precrios (IPPU-VR, 1994).
A cidade se desenvolveu a partir da implantao da CSN em 09 de abril de 1941, quando
chegaram os primeiros trabalhadores incumbidos de sua construo.
Paralelamente construo da Usina, inicia-se a construo da cidade operria, com
infra-estrutura adequada, conforme padro norte-americano. As residncias eram construdas
e destinadas aos funcionrios conforme o seu padro de especializao, formando bairros com
caractersticas scio-econmicas diferenciadas reforando a estratificao social.
O processo de industrializao foi marcante determinando o desenvolvimento e a
expanso demogrfica da regio.
O municpio foi criado pela lei n 2185 de 17 de julho de 1954, quando se emancipou deBarra Mansa. Nesta poca expandiu-se a malha urbana, com implantao de vrios bairros e
ocupaes de terras no regularizadas, carecendo de equipamentos sociais. Existiam dois
municpios um administrado pela Prefeitura e outro administrado pela CSN. Durante o
perodo de ditadura militar, o municpio passou a ser considerado rea de Segurana Nacional
(COSTA, 1991).
Em 1968 reuniu-se sob a mesma administrao a cidade operria e a cidade velha, visto a
retirada da CSN da administrao das tarefas urbanas e da venda de suas casas aos operrios
que as ocupavam (IPPU-VR, 1994).
15
-
Na dcada de 70 ocorre a primeira expanso da CSN, trazendo um contingente de
operrios contratados temporariamente para a cidade, que nela permaneceram aps o trmino
das obras, causando um crescimento urbano desordenado, agravado tambm pela crise
econmica da dcada de 80.
Na metade dos anos 90, fruto da poltica econmica nacional, ocorreu privatizao da
CSN, um forte golpe para a cidade. Houve um aumento do desemprego face poltica de
demisses implantada e reduo dos direitos sociais dos empregados, do qual a assistncia
sade um exemplo. A assistncia que era gratuita e prestada pela empresa privatizada,
passando a fazer jus mesma quem pagasse por ela, atravs da adeso a planos de sade.
1.2 ASPECTOS GERAIS
O municpio de Volta Redonda est situado s margens do rio Paraba do Sul, na regio
do Mdio Paraba, entre as Serras do Mar e da Mantiqueira, ao sul do Estado do Rio de
Janeiro, limitando-se com os municpios de Pirai, Barra do Pira, Pinheiral, Barra Mansa e Rio
Claro. Tem uma superfcie de 181Km, sendo um dos menores municpios do Estado (IPPU-
VR, 1994).
Sua populao em 2006 foi estimada pelo IBGE em 258.145 habitantes.
Volta Redonda uma cidade industrial que possui como caracterstica a hegemonia de
uma s empresaA CSN. Sofre, portanto as conseqncias de todas as decises tomadas em
seu mbito, o que afeta tanto a economia quanto a vida social da cidade. As atividades
comerciais e de prestao de servios respondem a exigncia de um mercado urbano,
atendendo a outros municpios da regio, caracterizando a cidade como metrpole regional
(IPPU-VR, 1994).
16
-
1.3 A REDE MUNICIPAL DE SADE EM VOLTA REDONDAA instalao da rede de sade ocorreu de acordo com a poltica de sade vigente no pas.
O primeiro estabelecimento da rea de sade em Volta Redonda foi o hospital da
Companhia Siderrgica Nacional, criado na dcada de 40, para prestar assistncia aos
trabalhadores empregados na construo da usina.
Nos anos 50, foi fundado um hospital, por uma instituio filantrpica a Unio Hospitalar
Gratuita - UHG, com o objetivo de atender populao no previdenciria e tambm aos seusassociados, em contra ponto assistncia prestada pelo hospital da CSN, que atendia apenas
seus funcionrios e familiares.
A partir de 1970 criado o Sistema Nacional de Previdncia e Assistncia Social
SINPAS, que visava expanso de cobertura previdenciria. Na metade desta dcada,
implantado o Sistema Nacional de Sade (lei 6229 de 17 de julho de 1975) que inspiradonuma viso sistmica, consolidava as mesmas funes, duplicaes e superposies de aes
de sade que eram alvo da crtica de diversos segmentos da rea de sade (CORDEIRO,
2004).
De acordo com a poltica vigente, ocorre no municpio de Volta Redonda a expanso dos
servios de sade. A Unio Hospitalar Gratuita foi municipalizada, a partir da criao de uma
autarquia, o Servio Autnomo Hospitalar (SAH), denominando o hospital como So Joo
Batista. Foram implantadas trs unidades estatais, duas ambulatoriais e outra de urgncia, e no
mbito privado, de seis estabelecimentos hospitalares, alm da transformao do status do
Departamento de Pronto Socorro em Secretaria de Sade (MENDONA E TEIXEIRA,1998).
Durante a Ditadura Militar, o municpio foi considerado rea de Interesse da SeguranaNacional (Decreto-Lei n 1.273 de 29 de maio de 1973), tendo sido suprimida a eleio para
prefeito. Esta medida foi revogada com a edio da Lei 7.332 de 01 de julho de 1985 que re-
17
-
estabeleceu a eleio para Prefeito e Vice-prefeito nos municpios considerados de Interesse
de Segurana Nacional.(COSTA, 1991).
Com a primeira eleio municipal, aps este perodo, elege-se um governo de oposio.
A Secretaria Municipal de Sade, acompanhando a tendncia nacional de reorganizao da
assistncia, em funo dos problemas relacionados falncia da Previdncia Social, e da
pouca efetividade da assistncia prestada pelo INAMPS, iniciou as discusses para a
implantao das AIS (Aes Integradas de Sade) culminando mais tarde a criao da CIMS -
Comisso Interinstitucional de Sade, em 1985, na qual tinham assento os representantes do
das Instituies Federais (Chefe da Medicina Social do INAMPS), da Instituio Estadual
(Chefe do Posto de Sade do Estado), e do Municpio (Secretrio Municipal de Sade) alm
do coordenador do Conselho Comunitrio de Sade, rgo criado pelo movimento popular.
Pela importncia e responsabilidade frente sade do municpio participavam tambm da
CIMS, representantes do Hospital So Joo Batista, Hospital da CSN, Escola de Cincias
Mdicas de Volta Redonda e representante do Sindicato dos Metalrgicos.(VOLTA
REDONDA, CIMS, 1987a).
At meados dos anos 80, o Hospital da CSN, responsabiliza-se pela maior oferta de
servios de sade no municpio, apontando naturalmente para a demanda por internaes e
consultas especializadas. As aes de sade pblica eram executadas pelo Posto de Sade do
Estado (PINHEIRO, 2000).
Em 03 de outubro de 1987, acontece o 1 Frum de Sade de Volta Redonda, quando os
debates apontaram para uma redefinio de modelo assistencial, propondo a reestruturao de
rede de servios, com aumento da capacidade instalada, hierarquizao e definio de reas de
atuao dos diferentes nveis de governo a partir da complexidade de servios, definio de
prioridades e grupos populacionais alvos destas aes, reforando a articulao entre as
diversas instituies e o movimento popular (VOLTA REDONDA. CIMS/SMS, 1987b).
18
-
Em 1988 realiza-se a 1 Conferncia Municipal de Sade que deliberou pela criao do
Conselho Municipal de Sade e do Fundo Municipal de Sade.
O governo eleito no perodo seguinte, no deu continuidade reorganizao do sistema
de sade, conforme a proposta da reforma sanitria, promovendo a expanso da rede de sade
sem, contudo, coloc-la em funcionamento efetivo.
Em 1992, ocorre nova eleio municipal e uma coligao denominada frente popular
(PSB-PT) conquista o governo. A Secretaria de Sade teve sua conduo destinada ao Partido
dos Trabalhadores. Inicia-se a reorganizao do Sistema de Sade Municipal. Realiza-se, em
Dezembro de 1993, a 3 Conferncia Municipal de Sade, discutindo-se os temas Sade
Direito de Cidadania, Controle Social (participao popular), Financiamento do Sistema
nico de Sade, Modelo Assistencial, Poltica de Recursos Humanos, Conselho e FundoMunicipal de Sade. (VOLTA REDONDA, SMS, 1993).
Elege-se o Conselho Municipal de Sade, delibera-se pela implantao do Fundo
Municipal de Sade e o repasse de 25% do faturamento do SUS para aplicao em
complementao salarial para os funcionrios, que evoluiu aps estudos para o pagamento da
Gratificao de Incentivo ao Desempenho (VOLTA REDONDA, SMS, 1993).
Nesta gesto, o municpio foi organizado em quatro Distritos Sanitrios, contando com
unidades bsicas de sade, servios de referncia em especialidades, e servios de diagnose.
Dois hospitais pblicos (um deles psiquitrico, sob interveno) alm de uma rede de servios
contratados para suprir carncias da rede pblica.
O municpio na ltima dcada acompanhou o desenvolvimento das polticas
implementadas pelo Ministrio da Sade, assumindo as formas de gesto preconizadas pelas
Normas Operacionais, estando hoje habilitado para a Gesto Plena do Sistema Municipal deSade, conforme a NOAS/2001.
19
-
Em 2006, a cidade apresenta uma rede de servios composta por 02 hospitais gerais
pblicos, um hospital psiquitrico sob interveno municipal, 48 unidades Bsicas de Sade,
das quais 26 so mdulos do Programa Sade da Famlia, 01 unidade de atendimento em
especialidades e 07 centros de referncia, 01 laboratrio central. Alm de contar com servios
contratados e conveniados complementares ao sistema. Assume a execuo das aes
programticas preconizadas pelo Ministrio da Sade, possuindo servio de vigilncia
sanitria e epidemiolgica.
1.4 A ESTRATGIA SADE DA FAMLIA EM VOLTA REDONDA.A Constituio Federal em seu artigo 196, afirma que:
A sade direito de todos e dever do Estado, garantido mediante polticas sociais eeconmicas que visem reduo do risco de doena e de outros agravos e ao acessouniversal e igualitrio as aes e servios para sua promoo, proteo e recuperao.(BRASIL. C.F, 1988).
Afirma tambm os princpios da descentralizao com direo nica em cada esfera de
governo, atendimento integral priorizando atividades preventivas sem prejuzo dasassistenciais e participao da comunidade (BRASIL. C.F, 1988).
As leis 8080 de 19 de setembro de 1990 e 8142 de 28de dezembro de 1990
regulamentaram o Sistema nico de Sade. Para operacionaliz-lo foram editadas, peloMinistrio da Sade, as Normas Operacionais
que so orientaes especficas e pactuadas para reorganizar o modelo degesto, alocar recursos, promover a integrao entre as trs esferas degoverno e promover a transferncia para estados e municpios dasresponsabilidades do SUS (RADIS n.5, dez 2002, p.17).
A estratgia Sade da Famlia, lanada em 1993, surge como possibilidade de
reorganizao do sistema de sade, no sentido de fortalecer a implementao do Sistema
nico de Sade.
20
-
Em 1994, a Secretaria Municipal de Sade de Volta Redonda, aderiu estratgia Sade
da Famlia, assinando convnio com o Ministrio da Sade, porm, s em 1995 iniciaram-se
as atividades.
Para sua implantao, utilizaram-se critrios epidemiolgicos para avaliar indicadores
de sade da populao e polticos no sentido de ouvir as comunidades, alm do Conselho
Municipal de Sade, que aprovou a adeso ao Sade da Famlia em outubro de 1994. Assim,
respeitaram-se critrios, semelhantes a outros municpios brasileiros, como cobertura de
grupos vulnerveis identificados, observao de indicadores sociais e de sade, atendimento a
populao de baixa renda, que conseqentemente apresentavam maior risco epidemiolgico e
com risco social presentes (BRASIL, MS, 2005, p.72).
Foram criados 05 mdulos nos bairros, Vila Rica, Mariana Torres, So Carlos, Santa Rita
do Zarur, Padre Josimo, cobrindo a populao de 8 localidades, oferecendo cobertura a 10%
da populao.
Os profissionais foram escolhidos segundo perfil traado pela equipe tcnica da SMS, de
acordo com as orientaes do Ministrio da Sade. Passaram tambm pelo treinamento
introdutrio, tambm elaborado pelos tcnicos da SMS.
As equipes foram implantadas ou substituram as equipes das antigas unidades bsicas de
sade no havendo superposio de aes. As unidades foram fisicamente adequadas para
receber as novas equipes de acordo com suas caractersticas. As equipes so compostas por
mdico, enfermeiro, 02 auxiliares ou tcnicos de enfermagem, 04 a 06 agentes comunitrios
de sade.
A Estratgia Sade da Famlia, ao longo de 10 anos, mostrou-se vivel para a
reorganizao do Sistema de Sade, pois:
visa a mudar o modelo assistencial na Ateno Bsica, substituindo as unidadesbsicas preexistentes, ou como um programa constitudo de modo paralelo estrutura de ateno sade preexistente. Nas concepes de estratgia, asubstituio pode ser total ou parcial, quando apenas parte das unidades bsicas
21
-
foram substitudas por USF ou nos casos que a implantao do Sade da Famliaocorreu somente por meio de criao de novas unidades de sade, expandindocobertura em reas previamente sem assistncia, convivendo com a rede bsicatradicional sem superposio. (BRASIL. MS, 2005, p.79).
Desta forma a SMS procurava viabilizar sua expanso.
Em 2000, inicia-se nova gesto municipal e a discusso entre a Secretria de Sade e o
quadro tcnico identifica os seguintes problemas:
A concentrao de recursos e esforos no atendimento curativo A lgica programtica centrada no controle de agravos a partir de seu
acontecimento e no na interveno precoce e deteco. Modelo assistencial no direcionado demanda de necessidades de cada
Distrito atendendo de forma programada, a partir da demanda espontnea asomente alguns grupos de risco.
Esta eleio dos grupos prioritrios no emerge da necessidade local, mas simdo preconizado pelo nvel central, na tentativa de impactar na sade dapopulao, contando com sua capacidade operacional.
Processo de trabalho no enfoca a vigilncia em sade, o que compromete aresolutividade das aes.
A porta de entrada ao Sistema de Sade no vem garantindo acesso adequado(tempo e qualidade) ao usurio do servio. (VOLTA REDONDA, SMS, 2002).
No ano de 2003, a Secretaria Municipal de Sade apresentou em seu relatrio de Gesto a
Estratgia Sade da Famlia como:
o eixo estruturante da ateno bsica, integrados aos demais nveis de ateno, comresponsabilidade sanitria sobre o territrio e acesso para os segmentos populacionaisprioritrios. Assim, aderiu ao Projeto de Expanso da Sade da Famlia junto aoMinistrio da Sade e Banco Mundial em setembro de 2003, comprometendo-se aalcanar uma cobertura de 70% da populao do municpio com equipes de sade dafamlia at julho de 2007. (FILGUEIRAS, 2005 p 19).
O Departamento de Desenvolvimento de Programas e sua equipe, em conjunto com aEpidemiologia, elaborou o projeto de implantao das novas equipes a partir do mapeamentodas reas de risco do municpio, classificadas de acordo com critrios estabelecidos, analisando
dados de geoprocessamento e leitura dos seguintes indicadores de sade: prevalncia de
tuberculose, prevalncia de hansenase, coeficiente de mortalidade infantil e renda mensal da
pessoa responsvel pelo domiclio segundo o senso do IBGE2000, classificando a populao
por critrio de risco (alto, mdio e baixo risco) propondo a cobertura de 100% da populao
22
-
atendida pelo SUS, com previso de atingir esta meta em 2007 (VOLTA REDONDA, SMS,
2002).
Atualmente, o municpio tem priorizado esta expanso, contando em agosto de 2006 com
49 equipes, cobrindo 65% da populao. importante ressaltar que vrias unidades possuem02 ou 03 equipes, visto cada equipe responsabilizar-se pelo atendimento a 1000 famlias ou
4.500 pessoas por equipe, conforme preconizado pelo Ministrio da Sade.
23
-
2 OBJETIVOS:
Geral:
Analisar o padro de utilizao dos servios de sade pela populao assistida pela
Estratgia Sade da Famlia.
Especficos:
Analisar a utilizao dos servios pelos usurios de uma rea assistida pela Estratgia
Sade da Famlia.
Verificar se a populao incorpora a lgica de diagnstico e interveno precoce ao
procurar os servios de sade.
Averiguar se a equipe de Sade da Famlia atua enfatizando a preveno de agravos e
promoo da sade.
Analisar a opinio da populao sobre a Estratgia Sade da Famlia
A motivao para a realizao deste estudo foi norteada pelas seguintes questes: A
populao conhece a Estratgia Sade da Famlia? Esta estratgia atende s expectativas da
populao? O comportamento da populao com relao utilizao dos servios revela a
nfase nos aspectos de preveno e promoo?
24
-
3 A ATENO PRIMRIA MODELO BRASILEIRO
3.1 O CONCEITO DE SADE
O conceito de sade evoluiu da viso mgica, onde a doena era explicada pela influncia
de demnios e foras naturais, passando pela concepo religiosa, resultante da desobedincia
aos cdigos prescritos por deuses e vigiados por sacerdotes, ao entendimento de sua
concepo enquanto fenmeno natural que, a partir do renascimento cultural, possibilitou
maior compreenso do corpo humano. Os avanos da fsica e da qumica resultaram na
representao do corpo como uma mquina, passvel de defeitos, que quando identificados
eram sujeitos correo (SABROZA, 2005).Com o incio dos tempos modernos, estabelecido pelas relaes mercantilistas e mais
tarde com o aparecimento da indstria, estabeleceu-se um perodo de explorao de
trabalhadores, que eram submetidos a um processo de desgaste fsico, alm de no ter moradia
e alimentao adequadas, refletindo uma crise sanitria expressa pelo processo de reproduo
capitalista.
O movimento dos trabalhadores, reivindicando melhores condies de trabalho e. por
outro lado, as regulamentaes estatais, que introduziu legislaes e mecanismos de controle
especficos, criaram condies para uma concepo positiva de sade, vinculada a condies
de vida adequadas, onde as enfermidades eram caracterizadas como resultado da pobreza e da
injustia e sua possibilidade de superao vinculada ao progresso social (SABROZA, 2005).Visando a preservao da fora produtiva, os pases industrializados adotaram polticas
de preveno de doenas, orientando-se pelo modelo da Histria Natural de Doenas,
proposto por Leavell & Clark.
25
-
Neste modelo, so enfocados trs perodos: O primeiro, o pr-patognico, a prpria
evoluo das inter-relaes dinmicas que envolvem, de um lado os condicionantes sociais e
ambientais e de outro, os fatores prprios do suscetvel, at que se chegue a uma configurao
favorvel a instalao da doena (ROUQUAYROL, 2003). Neste perodo, a inter-relao de
fatores sociais, econmicos, polticos, ambientais, culturais, genticos so preponderantes.
O perodo patognico caracterizado por alteraes na normalidade percorrendo os
estgios de interao estmulo-suscetvel; alteraes bioqumica, fisiolgicas e histolgicas;
sinais e sintomas; defeitos permanentes e cronicidade.
Por ltimo o perodo de incapacidade temporria ou permanente, onde o indivduo se
readapta as novas condies de vida.
Este modelo pressupe formas de interveno que passam pela promoo da sade,
preveno de doenas, diagnstico precoce, tratamento e recuperao da sade.
Pode-se ento afirmar que sade no ausncia de doenas e para obt-la conforme
definido pela Organizao Mundial de Sade-OMS (1946), como completo estado de bem
estar fsico, mental e social necessrio avanar na discusso de um conceito mais amplo.
Na dcada de 70, auge da revoluo cientfica e tecnolgica, iniciada com o final da
segunda guerra e com a bipolarizao econmica e ideolgica propiciada pela guerra fria, jse reconheciam as grandes e crescentes desigualdades e injustias sociais, causadas pelasprecrias condies de vida como pobreza e abandono de grande parte das populaes. Por
isto as decises das Assemblias Mundiais de Sade de 1975 e 1976, afirmarem o
compromisso de Sade para Todos no ano 2000 (RIVERO, 2003).
Esta meta social e poltica, proposta pela OMS pretendiam alcanar um nvel da sade
que permitisse a todos sem exceo levar uma vida digna dentro de um padro de
desenvolvimento verdadeiramente humano, comprometendo todos os pases com o objetivode alcanar esta meta com prazos variveis.
26
-
A Conferncia de Alma-Ata (1978) reitera esta definio, e agrega a ela o conceito de
sade enquanto direito humano fundamental, cabendo aos diversos pases perseguir o objetivode obteno do maior nvel de sade possvel para suas populaes.
O Brasil, que no participou da Conferncia de Alma-Ata, adere aos seus princpios em
1979. Em 1980, quando da realizao da VII Conferncia Nacional de Sade, o Ministrio da
Sade, articulado com o da Previdncia Social, lana o PREV-SADE, que pretendia areorientao do sistema de sade, atravs da integrao dos trs nveis de governo. As
diretrizes deste programa reforavam a ateno primria sade, a articulao entre os rgos
pblicos, descentralizao dos servios, a integrao de aes preventivas e curativas,
enfatizando aes de promoo, recuperao e reabilitao e a participao da comunidade
(PAIM, 2000, p.46).
Na dcada seguinte, quando se vivenciava o processo de abertura poltica, aps duas
dcadas de ditadura militar, realizada a VIII Conferncia Nacional de Sade.
Esta Conferncia props:
Em seu sentido mais abrangente, a sade como resultante dascondies de alimentao, habitao, educao, renda, meio ambiente,trabalho, transporte, emprego, lazer, liberdade, acesso e posse da terrae acesso a servios de sade. assim antes de tudo, o resultado dasformas de organizao social da produo, as quais podem gerargrandes desigualdades nos nveis de vida. (BRASIL, M.S. 8CNS,1986).
Afirmou ainda, que a sade fruto de um contexto histrico, devendo ser conquistada
pela populao atravs de suas lutas cotidianas, definindo o direito sade como:
Garantia pelo Estado, de condies dignas de vida e acesso universal eigualitrio s aes e servios de promoo, proteo e recuperao desade, em todos os seus nveis, a todos os habitantes do territrionacional, levando ao desenvolvimento pleno do ser humano em suaindividualidade (BRASIL, M.S. 8CNS, 1986).
27
-
O relatrio final desta Conferncia foi apresentado Assemblia Nacional Constituinte,
realizada em 1988, que aprovou o Sistema Nacional de Seguridade Social, responsvel por
assegurar os direitos relativos sade, previdncia e a assistncia social.
Atendendo s reivindicaes e propostas do movimento pela Reforma Sanitria brasileira,
foi institudo o Sistema nico de Sade, formulando-se mais tarde a legislao complementar.A lei 8080 de 1990, alm de enfocar o conceito ampliado de sade, afirma ter o Sistema
nico de Sade, os seguintes objetivos: A identificao e divulgao dos fatores condicionantes e
determinantes da sade, A formulao de polticas sociais e econmicas que visem reduo
de riscos de doenas e de outros agravos e no estabelecimento decondies que assegurem o acesso universal e igualitrio s aes eservios para a sua promoo, proteo e recuperao.
A assistncia s pessoas por intermdio de aes de promoo,proteo e recuperao da sade, com a realizao integrada dasaes assistenciais e das atividades preventivas. (BRASIL, M.S.1990).
3.2 A ATENO PRIMRIA EM SADE
A Ateno Primria Sade, definida pela Conferncia de Alma Ata como:
Cuidados essenciais de sade baseados em mtodos e tecnologiasprticas, cientificamente bem fundamentadas e socialmente aceitveis,colocadas ao alcance universal dos indivduos e famlias dacomunidade, mediante sua plena participao a um custo que acomunidade e o pas pode, manter em cada fase do seudesenvolvimento, no esprito de autoconfiana e auto determinao.Fazem parte integrante tanto do sistema de sade do pas do qualconstituem a funo central e ao foco principal, quanto dodesenvolvimento social e econmico global da comunidade.Representam o primeiro nvel de contato dos indivduos, da famlia eda comunidade, com os sistemas nacionais de sade, pelo qual oscuidados de sade so levados o mais proximamente possvel aoslugares onde pessoas vivem e trabalham, e constituem o primeiroelemento de um continuado processo de assistncia sade. (OMS,1978).
28
-
Esta Conferncia ainda afirmou que os cuidados primrios sade refletem as condies
scio-econmicas, culturais e polticas dos pases e devem se basear na aplicao de
conhecimentos tcnicos e cientficos, tendo em vista a resoluo de problemas de sade das
comunidades, proporcionados por aes de promoo, preveno, cura e reabilitao. Rivero,
(2003) analisando a Conferncia de Alma-Ata, 25 anos aps sua realizao, aponta que os
propsitos desta Conferncia muitas vezes foram mal interpretados e distorcidos. Afirma que,
em determinados momentos, a ateno primria foi confundida com uma ateno mdica
curativa, centrada exclusivamente nas enfermidades, outras vezes foi entendida como uma
forma simples de programao, mais tcnica do que social e mais burocrtica do que poltica.
Afirma ainda, em relao aos princpios de Alma Ata, que a sade no foi compreendida
como realidade social, que no pode ser separada de aspectos sociais, econmicos e polticos
dentro dos quais se devem tomar decises e comprometer todos os setores governamentais,
reforando ainda que a sade responsabilidade e dever de todas as pessoas, grupos sociais,
cidados em geral e que todos devem cuidar da sade individual e coletiva, lamentando-se que
as pessoas continuam a ser recipientes passivos de atividades pontuais dos sistemas de sade
voltados para a assistncia curativa. (RIVERO, 2003).
A prtica assistencial relativa aos cuidados primrios caracterizada por
Alta incidncia de problemas agudos e de evoluo autolimitada; Alta prevalncia de doenas crnico-degenerativas; Alta prevalncia de componente psico-scio-cultural; Alta prevalncia de pessoas saudveis; Apresentao precoce de doenas graves (PISCO, sd).
Pode-se afirmar que a sade possui vrios determinantes, estando correlacionada
distribuio de renda e as questes sociais. Desta forma, a ateno primria sade deve ter
uma atuao, para alm das aes curativas individuais, interferindo nos aspectos que a
condicionam.
A ateno primria,
29
-
aquele nvel do sistema de servios de sade que oferece a entrada nosistema para todas as novas necessidades e problemas, fornece a atenocontinuada, no decorrer do tempo e fornece ateno a todas as situaes,exceto as incomuns ou raras. (STARFIELD, 2002 p.28).
Responsabiliza-se por acesso, qualidade, custo, funes que no lhe so exclusivas e
realiza atividades de preveno, tratamento, reabilitao e trabalho em equipe.
A ateno primria deve lidar com o contexto onde a doena se localiza e influenciar as
respostas das pessoas a seus problemas de sade.
Os cuidados primrios devem enfocar a educao em sade, as questes de saneamento,
tratamento de doenas, fornecimento de medicamentos, entre outros.
Prev ainda, envolvimento de outros setores relacionados ao desenvolvimento social e
econmico requerendo aes coordenadas entre eles. Enfatiza a participao comunitria no
planejamento, organizao, operao e controle dos cuidados primrios sade, prope queestes cuidados sejam apoiados por sistemas de referncia integrados e sejam desenvolvidosem nvel local por equipes multi profissionais para responder s necessidades de sade da
populao.
A reforma dos sistemas de sade comum a vrios pases no mundo. H evidncias
indicando que, os sistemas de sade baseados em cuidados primrios sade, com mdicos
generalistas (Mdicos de Famlia), prestam cuidados com maior efetividade, tanto em termos
de custos como em termos clnicos, em comparao com os sistemas com uma fraca
orientao para os cuidados primrios (STARFIELD, 2002; WONCA, 2002; OPAS, 2005).
A Sociedade Europia de Clnica Geral/ Medicina de Famlia (2002) apresenta como
caractersticas da medicina familiar:
a) Ser normalmente o primeiro ponto de contato mdico com o sistema desade, proporcionando um acesso aberto e ilimitado aos seus usurios,lidando com todos os problemas de sade, independentemente da idade,sexo, ou qualquer outra caracterstica da pessoa em questo;
b) Utilizar eficientemente os recursos da Sade, coordenando a prestao decuidados, trabalhando com outros profissionais no contexto dos cuidados
30
-
primrios e gerindo a interface com outras especialidades, assumindo umpapel de defesa do paciente sempre que necessrio;c) Desenvolver uma abordagem centrada na pessoa, orientada para oindivduo, a famlia e a comunidade;
d) Ter um processo de consulta singular em que se estabelece uma relao ao longo do tempo, atravs de uma comunicao mdico-paciente efetiva; e) Ser responsvel pela prestao de cuidados continuados longitudinalmente consoante as necessidades do paciente;
f) Possuir um processo de tomada de deciso determinado pela prevalncia eincidncia de doena na comunidade;g)Gerir simultaneamente os problemas, tanto agudos como crnicos, dospacientes individuais;h) Gerir a doena que se apresenta de forma indiferenciada, numa faseprecoce da sua histria natural, e que pode necessitar de interveno urgente;i) Promover a sade e bem-estar atravs de intervenes tanto apropriadascomo efetivas.j)Ter uma responsabilidade especfica pela sade da comunidade.K)Lidar com os problemas de sade em todas as suas dimenses fsica,psicolgica, social, cultural e existencial.
Conclui-se que na Ateno primria busca-se identificar as necessidades de sade das
pessoas independente da procura pelos servios, existindo uma preocupao com o cuidado
aos pacientes crnicos, alm de prevenir e detectar precocemente as doenas.
3.3 A ATENO PRIMRIA E PROMOO DA SADE
O conceito de promoo da sade, segundo BUSS (2000) foi enfocado por Sigerist em
1946 definindo quatro tarefas essenciais para a medicina: promoo da sade, preveno de
doenas, recuperao de enfermos e reabilitao, conceitos posteriormente retomados por
Leavell & Clark, a partir da Histria Natural das Doenas.
Posteriormente, o informe Lalonde, constituiu o conceito de campo da sade, propondo
quatro fatores que influenciam a sade das pessoas: a biologia humana, o estilo de vida, o
meio ambiente fsico e social e a organizao dos servios de ateno sade. Este conceito
entendido como um instrumento de anlise dos problemas de sade, visto abarcar todas as
situaes que causam o adoecimento, contribuindo para que todos os envolvidos com a sade
tenham conscincia de suas funes e influncias no nvel de sade da populao. Permite
31
-
analisar os problemas de sade sobre estes quatro aspectos, avaliando a importncia de cada
um deles e sua interao (LALONDE, 1974).
Na dcada seguinte, influenciada por este documento, a Primeira Conferncia
Internacional sobre Promoo da Sade, realizada em Ottawa (1986), prope sua Carta de
Intenes, adotada tanto por pases industrializados, como por pases em desenvolvimento,
como reforo aos objetivos de Sade para Todos no ano 2000.A Carta de Ottawa (1986), define promoo da sade como um processo de capacitao
da comunidade para atuar na melhoria da sua qualidade de vida e sade incluindo uma maior
participao no controle deste processo.
Ao enfatizar a sade como recurso para a vida, e no um objetivo de viver trabalha comum conceito positivo de sade onde as responsabilidades pelas aes extrapolam o setor
sade.
Fatores polticos, sociais, econmicos, culturais, ambientais, comportamentais e
biolgicos, podem tanto favorecer como prejudicar a sade. As aes de promoo da sadeobjetivam, atravs da defesa da sade, fazer com que as condies descritas sejam cada vezmais favorveis. Aponta, como requisitos fundamentais para a sade, a paz, habitao,
educao, alimentao, renda, eco-sistema estvel, recursos sustentveis, justia social eeqidade. As aes de promoo da sade devem ter como objetivo reduzir as diferenas noestado de sade da populao (OMS, 1986).
Segundo TERRIS (1996), a estratgia de promoo da sade possui componentes inter-
relacionados: a ao intersetorial, que tem por objetivo realizar polticas pblicas saudveis,alm de polticas de sade pblica; papel ativo da populao atravs do uso de seus
conhecimentos sobre sade, realizando escolhas saudveis para obteno do maior controle,
sobre sua sade e o ambiente onde vive, alm de ao comunitria, atravs do fortalecimento
32
-
da participao da populao e do direcionamento dos temas relacionados sade, por ela
definido como a essncia da estratgia da promoo da sade.
Outros documentos, elaborados pela OMS em anos posteriores, como a CARTA DE
ADELAIDE (1998), SUNDSVALL (1991), BOGOT (1992), MXICO (2000) EBANGKOK (2005) abordaram temas especficos como polticas pblicas saudveis,
ambientes favorveis sade, promoo da sade e eqidade e globalizao.
Todos os documentos so unnimes em reforar a participao ativa das pessoas e das
comunidades, visando a mudana no estilo de vida e nos ambientes. Abordam tambm, a
responsabilidade de todos os atores sociais e seus diferentes graus de decises polticas na
aplicao de estratgias de promoo da sade, com vistas reduo das desigualdades
sociais, direcionando as aes que estejam voltadas obteno de um conceito amplo desade, condicionado por fatores sociais, econmicos, ambientais, culturais, polticos,
biolgicos como outras metas a serem perseguidas. Assim,
Promover a sade alcana, dessa maneira, uma abrangncia muitomaior do que a que circunscreve o campo especfico da sade,incluindo o ambiente em sentido amplo, atravessando a perspectivalocal e global, alm de incorporar elementos fsicos, psicolgicos esociais (CZERESNIA, 2003).
Em nosso pas, a promoo da sade vem se desenvolvendo a partir da instalao do
Sistema nico de Sade, constituindo-se como oportunidade de aperfeio-lo atravs daretomada dos preceitos da reforma sanitria no que se refere ao combate s desigualdades para
a construo da sade e vida com dignidade (CARVALHO, 2004).
O reconhecimento da promoo da sade, como responsabilidade dos governantes, deve
ser compartilhada por todos os setores e nveis da sociedade, e entendida como prioridade das
polticas pblicas, que devem reconhecer a sade como um bem essencial, transformando as
relaes excludentes em relaes eqitativas que so condies indispensveis para a sade e
o desenvolvimento ( BRASIL, M.S. 1996).
33
-
3.4 A ATENO PRIMRIA NO BRASIL
O quadro sanitrio brasileiro, caracterizado no incio do sculo pela prevalncia das
doenas transmissveis e doenas materno infantis entre outras, propiciou s estruturas
burocrticas, a proposio da constituio de uma rede de centros de sade, cujo objetivo seriaconstituir uma rede bsica permanente que deveria estar prxima s comunidades e que
combatesse a ignorncia do povo a respeito da higiene e especialmente a inoperncia da sade
pblica frente aos novos desafios colocados pela urbanizao e industrializao do pas
(CAMPOS, 1998).
Os Centros de sade representaram a superao do antigo modelo sanitrio, tentando
assegurar a ascendncia da sade pblica, sobre outras formas de assistncia, como a clnica.
(CAMPOS, 1998).
Apesar de no ter sido priorizada nas dcadas de 50 a 70, perodo em que se enfatizou a
medicina curativa, atravs da poltica previdenciria, inicia-se na dcada de 80, nova expanso
dos servios bsicos de sade.
A partir da reformulao da Constituio Federal Brasileira, em 1988 instituiu-se no pas
o Sistema nico de Sade, regulamentado por um arcabouo jurdico institucional, queorientou a reorganizao do sistema de sade, o modelo de gesto, as responsabilidades de
cada esfera de governo com as aes de sade em seus diversos nveis de ateno.
A lei 8080/90 ao consolidar a proposta do Sistema nico de Sade, reafirma que a sade
um direito de todo ser humano, cabendo ao Estado prover as condies necessrias para sua
obteno. Apresenta os princpios que devem orientar o sistema de sade: integralidade da
assistncia, universalidade, eqidade, resolutividade, intersetorialidade, humanizao do
atendimento e participao popular.
34
-
As Normas Operacionais Bsicas, regulamentadoras do Sistema nico de Sade - NOB-91, 93 e 96, que apresentam as bases para redirecionamento da assistncia, afirmam que o
modelo de ateno deve ser centrado na qualidade de vida das pessoas, em seu meio ambiente,
alm de privilegiar a relao da equipe da unidade de sade com a comunidade, atravs de
seus grupos primrios, ou seja, as famlias.O Ministrio da Sade (1998), definiu a ateno bsica, como conjunto de aes de
carter individual ou coletivo, situadas no primeiro nvel de ateno dos sistemas de sade,
voltadas para a promoo da sade, preveno de agravos, tratamento e reabilitao,
propondo um novo redirecionamento, atravs de um modelo de ateno voltado de um lado
para a transformao na relao entre o usurio e os agentes do sistema de sade,
estabelecendo o vinculo entre quem presta o servio e quem o recebe e, de outro, a
interveno ambiental, para que sejam modificados fatores determinantes da situao desade (BRASIL, M.S, 1998).
O Programa Sade da Famlia, institudo pelo Ministrio da Sade em 1993, vem sendo
apontado, desde ento, como uma estratgia para a reorganizao do sistema de sade
brasileiro.
Prope um conjunto de aes voltadas para a populao, priorizando grupos com maiorrisco de adoecimento e morte, com nfase no atendimento primrio sade. Ao contrrio do
modelo tradicional, centrado na doena e no hospital, o PSF prioriza as aes de proteo e
promoo da sade dos indivduos e da famlia, tanto adultos quanto crianas sadios ou
doentes, de forma integral e contnua (BRASIL, M.S. 1994).
Enfatiza o atendimento domiciliar a partir do trabalho multiprofissional, priorizando os
aspectos epidemiolgicos da rea adstrita, executa aes programticas com vistas reduo
da procura por centros de sade e hospitais e estimula a participao comunitria e o controle
social (BRASIL, M.S. 1994).
35
-
O Programa executado como primeiro nvel da ateno sade, tem seus princpios
reforados pela Carta de Lubliana, adotada pela Organizao Mundial de Sade em 1996.
Conforme STARFIELD (2002), este documento prope que os sistemas de sade sejam: Dirigidos por valores de dignidade humana, equidade, solidariedade e
tica profissional, Direcionados para a proteo e promoo da sade, Centrado nas pessoas, permitindo que os cidados influenciem os
servios de sade e assumam a responsabilidade por sua prpria sade. Focados na qualidade, incluindo a relao custo efetividade. Baseados em financiamento sustentvel, para permitir a cobertura
universal e o acesso eqitativo. Direcionados para a ateno primria.
Estes princpios, tambm encontrados no arcabouo do Sistema nico de Sade,enfatizam a sade como direito e responsabilidade do Estado, acesso universal e igualitrio,
prestao de servios com qualidade e participao da comunidade.
O conceito ampliado de sade, definido na Lei 8080/1990, que relaciona:
A alimentao, a moradia, o saneamento bsico, o meio ambiente, otrabalho, a renda, a educao, o transporte, o lazer o acesso a bens e serviosessenciais, como meio de garantir as pessoas e a coletividade, condies debem estar fsico, mental e social, ainda no foi incorporado pelo conjunto dapopulao, que em senso comum ainda percebe a sade como ausncia dedoena ou como acesso assistncia mdica, buscando as aes curativascomo principal meio de obter sade (BRASIL, M.S. 1990).
Visando a modificao deste contexto, cabe ento, a organizao de um sistema de sade
que tenha na assistncia bsica a sade, no s:
a porta de entrada de um sistema de sade, mas o lugar essencial a realizar aintegralidade das aes individuais e coletivas de sade, ao mesmo tempoem que fosse a linha de contato entre as prticas de sade e o conjunto dasprticas sociais que determinam a qualidade de vida provocando a mudanano sentido das prticas (MERHY, 1997).
Desse modo, deve-se constituir como tarefa primordial do Programa Sade da Famlia, as
aes que clarifiquem os aspectos determinantes das condies de sade e fortaleam os
indivduos e comunidade para atuarem como sujeitos capazes de identificar os problemas enecessidades de sade e participarem de forma ativa na busca de solues efetivas para os
mesmos.
36
-
3.5 AVALIAO NA ATENO PRIMRIA
O Programa Sade da Famlia, enquanto modelo de reorganizao do sistema de sade,
se apresenta como desafio, visto em muitos casos, se constituir na reproduo do modelo
tradicional de assistncia. Conforme FRANCO e MERHY (2000), a implantao do PSF por
si s no significa mudana do modelo assistencial sendo, portanto, necessrio avaliar sua
implantao.
A avaliao de servios de sade tem sido objeto de vrios estudos e para isto mtodos etcnicas diversificadas, tm sido utilizadas. Deve ter como objetivo, identificar problemas esubsidiar os processos decisrios para reorientao da atuao dos servios de sade.
Entre os diversos conceitos de avaliao estudados, optou-se pela definio de
CONTANDRIOPOULOS et al (1997 p.31).
Avaliar consiste fundamentalmente em fazer um julgamento de valor, arespeito de uma interveno ou sobre qualquer um de seus componentes, como objetivo de ajudar na tomada de decises. Esse julgamento pode serresultado da aplicao de critrios e de normas (avaliao normativa) ou seelaborar a partir de um procedimento cientfico (pesquisa avaliativa).
Para o autor, a avaliao normativa consiste em fazer um julgamento sobre umainterveno, comparando os recursos empregados e sua organizao (estrutura), os servios ou
bens produzidos (processo) e os resultados obtidos com critrios e normas, enquanto a
pesquisa avaliativa examina as relaes existentes entre os diferentes componentes de uma
interveno, as relaes existentes entre esta interveno e o contexto no qual se situa, com o
objetivo de auxiliar na tomada de decises (CONTANDRIOPOULOS, 1997).Segundo HARTZ e SILVA (2005, p.17), a pesquisa avaliativa:
Corresponderia ao julgamento que feito sobre as prticas sociais a partir daformulao de uma pergunta no respondida ainda na literatura
37
-
especializada, sobre as caractersticas dessas prticas, em geral, ou em umcontexto particular, atravs do recurso a metodologias cientficas.
A interveno definida por CONTANDRIOPOULOS (1997, p.31) como "conjunto dosmeios (fsicos, humanos, financeiros, simblicos) organizados em um contexto especfico, em
um dado momento, para produzir bens ou servios com o objetivo de modificar uma situaoproblemtica. Para a anlise de uma interveno, necessrio considerar os diferentes atores
nela envolvidos, pelo fato de terem objetivos diferenciados em relao prpria interveno esua avaliao.
O Programa Sade da Famlia por possuir componentes tcnicos, polticos e
comportamentais, deve ser avaliado sobre estes trs eixos, incluindo aspectos quantitativos e
qualitativos.
Segundo STARFIELD (2002, p.60) A avaliao da ateno primria deve ser
realizada enfocando alguns elementos estruturais. Entre eles, encontra-se a acessibilidade,
variedade de servios, definio da populao eletiva, continuidade, utilizao de servios
pela populao e reconhecimento de problemas pelos profissionais dos servios de sade.
A acessibilidade trata da localizao dos servios, horrios, grau de tolerncia para
consultas no agendadas e a percepo da populao sobre a pertinncia destes aspectos. A
variedade de servios refere-se ao que ofertado pelo servio de ateno primria e como a
populao enxerga o servio que oferecido. A definio da populao eletiva relaciona-se
definio da rea de abrangncia da unidade de sade pela equipe, bem como o entendimento
da populao de que a unidade de sade de fato se responsabiliza por ela. Quanto
continuidade, deve ser avaliado a oferta ininterrupta de servios que pode ser medida pela
atuao do profissional que atende os registros nos pronturios realizados corretamente.
Ainda segundo STARFIELD (2002, p.61), deve ser objeto de avaliao dedesempenho da ateno primria, a utilizao dos servios de sade pela populao, atravs
dos motivos para os quais usa como, por exemplo, a ocorrncia de um novo problema, o
38
-
acompanhamento de um problema anterior ou a participao em programas de preveno. O
reconhecimento de um problema ou necessidade de sade da populao tambm deve ser
enfocado visto constituir uma etapa do processo de trabalho das equipes que a elaborao de
diagnstico.
Os aspectos acima citados, ainda contribuem para a avaliao do alcance de quatro
atributos da ateno primria: ateno ao primeiro contato, longitudinalidade, integralidade e
coordenao. A ateno ao primeiro contato trata de aspectos relativos acessibilidade aos
servios de sade entendidos como fornecimento de atendimento a cada episdio de um
problema que demanda ateno da equipe de sade.
Para medir a acessibilidade outros aspectos devem ser considerados como, por
exemplo, os de carter organizacionais, citados anteriormente. Deve ser levada em
considerao tambm a acessibilidade econmica entendida como consumo de tempo, energia
e dinheiro para a obteno de assistncia sade, prejuzos por falta ao trabalho ouafastamento por doenas e gasto com aquisio de medicamentos.
Um outro tipo de acessibilidade a scio-cultural observada atravs da representao que
a populao faz de seu adoecer, sobre as crenas relativas sade, tolerncia dor e
credibilidade nos servios. Ainda deve-se observar a acessibilidade geogrfica medida em
funo do tempo e dos meios habituais para chegar aos servios de sade (FEKETE, 1997).
Percebe-se ento que a prtica da Sade da Famlia deve ser realizada alm dos muros da
unidade de sade, deve desviar seu olhar para o espao domiclio das famlias e comunidades
onde as prticas so realizadas, tornando famlia alvo estratgico de investigao (TRAD,
BASTOS, 1998).
Pode-se afirmar, portanto que devem ser avaliadas as relaes existentes entre a equipe de
sade e os usurios e as caractersticas da ateno prestada a esta famlia.
39
-
Entre as diversas formas de avaliao a Organizao Mundial de Sade tem utilizado as
metodologias rpidas - rapid appraisal", que tem se constitudo como uma possibilidade,
visto a obteno de informaes necessrias ao planejamento, com rapidez e baixo custo,favorecendo a participao e cooperao multi setorial, tendo como objetivo o conhecimentodos problemas comunitrios para reduzir os riscos de adoecimento (WHO, 2006).
A avaliao rpida um mtodo para buscar informao em torno de problemas. Deve
ser realizada num prazo curto, para que seus resultados tenham repercusso na realidade,
visando atender situao de recursos escassos, sejam estes materiais, de tempo ou mesmo depoder (BURSZTYN, 2005).
O termo rpido relativo ao tempo de coleta e anlise de dados. As informaes so
construdas a partir do dilogo com a comunidade e de suas observaes.
Entre as metodologias de avaliao rpida que tm sido desenvolvidas por pases
industrializados a partir da dcada de 60, encontram-se os inquritos populacionais, cujosinstrumentos so utilizados para formulao e avaliao de polticas pblicas.
A OMS tem aplicado em vrios pases inquritos populacionais com o objetivo, demonitorar os sistemas de sade, verificar o alcance de suas metas e elaborar polticas baseadas
em evidncias, a fim de adequar polticas, estratgias e programas necessidade da populao
(WHO, 2006).
Atravs dos inquritos populacionais possvel coletar dados e construir indicadores de
sade, bem como identificar fatores de risco e aspectos determinantes do processo sade-
doena (VIACAVA, 2002).
40
-
4 METODOLOGIA
Foi realizado um estudo transversal. A escolha deste tipo de estudo deve-se ao fato de
apresentar um desenho adequado aos objetivos propostos, de baixo custo, podendo sercoletado em um curto intervalo de tempo, no havendo necessidade de seguimento das
pessoas e facilidade de obter a amostra representativa da populao.
O universo amostral definido como "conjunto de elementos que possuem determinadascaractersticas" (RICHARDSON, 1999 p.157) constituiu-se pelas 1057 famlias cadastradas
no mdulo do P.S.F. Vila Rica do municpio de Volta Redonda, implantado quando da adeso
ao Programa em 1994.
O tamanho da amostra, definido como 282, foi calculado de acordo com a frmula
(KISH e LESLIE, 1965)
S = Z*Z P(1-P)/D*D
Em que
S: tamanho da amostra
Z: 1,96 para um grau de confiana igual a 95%
P: freqncia aceitvel do fator de estudo (50%)
D: metade da largura do intervalo de confiana desejado para a amostra (5%)A amostra ajustada para o tamanho da populao por meio da frmulaSample Size = S/(1-(S/population)
As variveis do estudo, entendidas como "caractersticas mensurveis de um fenmeno,
que podem apresentar variaes ou diferenas em relao ao mesmo ou a outros fenmenos"
(RICHARDSON, 1999, p.117) foram definidas de maneira a levantar, sob o ponto de vista
dos usurios, os aspectos de acesso aos servios de sade, resolubilidade das aes,
organizao dos servios, processo de trabalho dos profissionais, referncia e contra-
referncia, integralidade da ateno sade.
41
-
A coleta de dados se deu pela aplicao de questionrios formulados com perguntas
abertas e fechadas para cumprir "pelo menos duas funes: descrever as caractersticas e
medir determinadas variveis de um grupo social" (RICHARDSON, 1999, p.189).
As perguntas fechadas visaram obter informao scio-demogrfica do entrevistado e
respostas de identificao de opinies, as perguntas abertas aprofundaram as opinies do
entrevistado (RICHARDSON, 1999, p.193).
Para analisar a situao de emprego dos entrevistados, optou-se por adotar a Classificao
Brasileira de Ocupaes (CBO) do Ministrio do Trabalho e emprego, atualizada no ano de
2002, que define emprego como um conjunto de atividades desempenhadas por uma pessoacom ou sem vnculo empregatcio.
Os questionrios foram aplicados atravs de contato direto, por entrevistadores recrutados
entre alunos do curso de Enfermagem do Centro Universitrio de Barra Mansa aps
treinamento especfico.
O questionrio foi discutido com profissionais vinculados ao Programa Sade da Famlia
e aps a confeco, foi verificada sua validade por meio da aplicao de um pr-teste em 12
famlias moradoras do bairro, entrevistada por acadmicos do curso de enfermagem que
consistiu em testar os instrumentos da pesquisa em uma populao com caractersticas
semelhantes, visando identificar inconsistncias ou complexidade de questes, ambigidades
ou linguagem inacessvel, alm de perguntas suprfluas (MARCONI E LAKATOS, 2005), foi
testado tambm o processo de coleta e tratamento dos dados (RICHARDSON, 1999).
Ressalta-se que as famlias participantes do pr -teste foram excludas da pesquisa.
No tocante aos aspectos da tica em pesquisa, foi obtida autorizao da SMS-Volta
Redonda (anexo A), assim como foi solicitado o consentimento esclarecido dos sujeitosentrevistados (anexo B).
42
-
De acordo com o disposto na Resoluo 196/96 do Conselho Nacional de Sade, o estudo
no incorre em maleficncias para os sujeitos e os resultados sero encaminhados a SMS-Volta Redonda para que possam ser utilizados no aprimoramento do servio e maior
satisfao da populao usuria. Com o intuito de comunicar a realizao desta pesquisa e
obter apoio para a sua aplicao, foi tambm realizado contato com a equipe de sade da
famlia da rea pesquisada, bem como com o Conselho Gestor da Unidade de Sade e
Associao de Moradores do bairro, com os quais tambm se firmou o compromisso de
repasse dos resultados da pesquisa.
A Unidade de Sade da Famlia do bairro Vila Rica em Volta Redonda, registrava no
SIAB em 2006, 3815 pessoas e 1057 famlias cadastradas.
A pesquisa de campo foi realizada nos meses de dezembro de 2006 e janeiro de 2007,pela prpria pesquisadora e alunos do curso de enfermagem do Centro Universitrio de Barra
Mansa-UBM.
Foram selecionadas atravs de amostra sistemtica aleatria, extradas do cadastro da
unidade, 300 famlias. Destas, 82 foram substitudas, no decorrer do trabalho de campo,
devido a seguintes situaes: mudana da famlia residente no domiclio sorteado, problemas
com o endereo (n da casa no localizado, morador no encontrado aps 3 visita) e outras
questes relativas falta de atualizao do cadastro da unidade. Houve, por parte de 46
famlias, recusas participao por motivos diversos, entre eles encontram-se a no utilizao
da unidade de sade, a insatisfao com o servio, ser usurio de plano de sade e por isto no
se sentir em condio de opinar. O estudo final contou com 254 famlias, conformando 90%
do tamanho de amostra calculado (282).
Para a realizao da entrevista foi considerado como entrevistado principal a pessoa
que recebeu o entrevistador adulto ou adolescente que na abordagem afirmou ser capaz de
responder ao questionrio.
43
-
O formulrio aplicado (anexo C) contm um questionrio principal, elaborado com o
objetivo de caracterizar o entrevistado, conhecer a estrutura familiar em seus aspectos sociaiseconmicos e educacionais, a forma de utilizao dos servios de sade, a opinio sobre a
Sade da Famlia e seu funcionamento. Foram tambm aplicados formulrios anexos
adequados faixa etria dos membros da famlia (crianas menores de 1ano, 1 a 4 anos, 5 a 9
anos, 9 a 12 anos; jovens 13 a 19 anos, mulheres de 19 a 59 anos, acima de 60 anos egestantes. Homens adultos entre 19 e 39 anos e homens acima de 40 e 60 anos), com o
objetivo de verificar se estes recebem o atendimento adequado s necessidades de sua faixaetria e quais as aes programticas desenvolvidas na unidade de sade. Como forma de
facilitar o trabalho de campo, os formulrios anexos foram impressos em cores diferentes,
permitindo uma seleo rpida e sem erros no momento da entrevista.
Os dados coletados foram armazenados em bancos no programa Excel e analisados com o
auxlio do software Epiinfo 6.0.
44
-
5 RESULTADOS
Neste estudo foram entrevistadas 254 famlias. Como entrevistado principal foi
considerada a pessoa que recebeu os entrevistadores na residncia e que se sentiu apta a
responder o questionrio.
Quanto caracterizao do entrevistado principal (tabela 1), pode-se afirmar que
predominou o sexo feminino (78,0%). Em relao ao estado civil1, a maioria afirmou ser
casado (54,7%), seguidos de solteiros (26,4%). No que se refere ocupao, observou-se que
a maioria afirma exercer atividades domsticas no prprio lar (44,0%), 13,7% esto
aposentados ou so pensionistas da Previdncia Social, os desempregados correspondem a
2,8%, e os estudantes so 3,1%. Entre as pessoas que trabalham encontram-se 10,6% de
mantenedores de edificaes, seguidos pelos vendedores e prestadores de servio do comrcio
(9,1%), dos trabalhadores domsticos em geral (9,1%). Outras ocupaes somaram 6,0%, e h
ainda 1,6% que no informaram a situao de emprego.
Quanto escolaridade percebe-se que 11,4% dos respondentes informaram ser analfabetos,
7,3% cursaram da 1 8srie do antigo ensino fundamental. Apenas 10,2% tm o 2 grau
completo e 1,2% dos respondentes iniciaram o ensino superior sem concluso.
Em relao renda familiar, 6,3 % das famlias entrevistadas referem menos de 1
salrio mnimo, 71,2% possuem renda familiar entre 1 e 3 salrios mnimos, 15,3% possuem
renda entre 3 a 5 salrios mnimos, 6,0 % tem renda familiar acima de 5 salrios mnimos.
No informaram a renda familiar apenas 2,4% dos respondentes.
Na tabela 2, enfocam-se alguns aspectos relativos acessibilidade ao servio de sade.
A maioria dos entrevistados informou residir no bairro h mais de 5 anos (80,7%), seguidos
dos que moram entre 2 a 5 anos (12,2%). Entre os que residem h menos de dois anos
1 Foram consideradas apenas as situaes oficiais e com registro civil
45
-
encontra-se com um ano de moradia 2,8 % dos entrevistados e com menos de um ano de
moradia, 4,3% dos entrevistados.
Tabela 1- Caracterizao do entrevistado principal, bairro Vila Rica, Volta Redonda, 2007.
VARIVEIS N ENTREV. % FR.AC.
SexoMasculino 56 22,0 22,0Feminino 198 78,0 100,0
Estado civil
Solteiro 67 26,4 26,4Casado 139 54,7 81,1Divorciado 14 5,5 86,6Vivo 29 11,4 98,0No informado 5 2,0 100,0
Ocupao
Mantenedores de edificaes 27 10,6 10,6Trabalhadores de servios domsticos em geral 23 9,1 19,7Vendedores e prestadores de servios do comrcio 23 9,1 28,8Trabalhadores de confeces de roupas 4 1,6 30,4Trabalhadores em servios de embelezamento ecuidados pessoais
3 1,2 31,6
Motoristas de nibus urbanos, metropolitanos erodovirios
3 1,2 32,8
Trabalhadores em servios administrativos 2 0,8 33,6Tcnicos da cincia da sade 1 0,4 34,0Agente comunitrio de sade 1 0,4 34,4Profissionais de relaes pblicas, publicidade,mercado e negcios
1 0,4 34,8
Aposentados e pensionistas 35 13,7 48,5No informada 4 1,6 50,1Estudantes 8 3,1 53,2Desempregados 7 2,8 56,0Do lar 112 44,0 100,0
Escolaridade
Sem escolaridade 29 11,4 11,41 a 4 srie do ensino fundamental 92 36,2 47,65 a 8 srie do ensino fundamental. 77 30,3 77,92 grau incompleto 27 10,6 88,52 grau completo 26 10,3 98,8Superior incompleto 3 1,2 100
Renda Familiar
Menos de 1 salrio mnimo 16 6,3 6,301 a 02 salrios mnimos 139 54,7 61,002 a 3 salrios mnimos 42 16,5 77,53 a 4 salrios mnimos 32 12,6 90,14 a 5 salrios mnimos 07 2,7 92,8Mais de 5 salrios mnimos 12 4,8 97,6No informado 06 2,4 100,0
Total 254 100,0
46
-
Quanto locomoo at a unidade de sade, 82,6% dos entrevistados afirmaram que ao
dirigir-se de casa at a unidade de sade, gastam at 15 minutos, 11,1%, de 15 a 25 minutos e
apenas 5,5% afirmaram gastar mais de 25 minutos. No utilizam nenhum meio de locomoo,
89,8% dos entrevistados que afirmam irem a p at o servio de sade do bairro, 3,1%
utilizam bicicleta, e 4%, veculo automotor. No informaram o meio de transporte utilizado
3,1%.
Ao serem indagados sobre as unidades de sade existentes em seu bairro, 92,2% dos
entrevistados referiram-se Unidade de Sade Vila Rica, 7,9 % citaram as unidades de sade
prximas (Posto de Sade do bairro Trs Poos e a Unidade de Sade da Faculdade de
Medicina da Fundao Oswaldo Aranha - FOA).
Quanto utilizao dos servios de sade, 88,9% dos entrevistados disseram freqentar
as unidades de sade por eles referidas. Entre estes, 41,7% utilizam as unidades de sade do
bairro Trs Poos ou a unidade da FOA. No informaram unidade que utilizam 1,2 % dos
respondentes.
Quanto ao tipo de problema que motiva a utilizao da unidade observa-se que 31,8%
dos entrevistados informaram ser motivada pelo controle da hipertenso arterial, 17,7%
referiu-se a consultas clinicas e solicitao de exames laboratoriais, seguidas por consultas de
pediatria 8,6%, consultas ginecolgicas e exames preventivos de cncer (7,5%), solicitao de
encaminhamentos a especialistas motivaram 5,1% dos entrevistados e vacinao 4,8 %.
Problemas diversos que constituem a porta de entrada para o servio de sade foram referidos
por 24,5%.
No quadro 1, que aborda a opinio dos entrevistados em relao a aspectos positivos e
negativos no Programa Sade da Famlia, foi encontrado quase o dobro de citaes para o que
ruim (440), em relao ao que bom (243). O aspecto mais lembrado o atendimento em
geral, referido como bom por 113 entrevistados e como ruim por 176. O atendimento mdico
47
-
destacado como um aspecto ruim por 121 entrevistados, enquanto apenas 4 o referiram
como bom.
Tabela 2 Distribuio dos entrevistados segundo variveis referentes acessibilidade unidade de sade do bairroVila Rica, segundo entrevistado principal, 2007.
VARIVEIS Freq (N =254) %
Tempo de residncia no bairro
menos de 1 ano 11 4,3
1 a 2 anos 07 2,8
2 a 5 anos 31 12,2
mais de 5 anos 205 80,7
Tempo gasto de casa unidade de sade
At 10 minutos 185 72,8
De 10 a 15 minutos 25 9,8
De 15 a 20 minutos 21 8,3
De 20 a 25 minutos 07 2,8
De 25 minutos a 30 minutos 14 5,5
No informado 02 0,8
Meio de locomoo usado para chegar unidade de sade
p 228 89,8De bicicleta 08 3,1
De nibus 04 1,6
De carro 06 2,4
No informado 08 3,1Qual unidade de sade existe no bairro Posto Vila Rica - 234 92,2
Trs Poos 17 6,7FOA 3 1,1
Em relao freqncia a estas unidadesfreqentam 226 88,9no freqentam 27 10,7No informaram 1 0,4
Freqenta qual unidadePosto de Trs Poos /FOA 106 41,7Posto vila Rica 145 57,1No informaram 3 1,2
Utiliza para que problema
tratamento de hipertenso 81 31,8consultas clinicas e exames laboratoriais 45 17,7consultas de pediatria 22 8,6preventivo e ginecologia 19 7,5solicitar encaminhamento a especialistas 13 5,1vacinao 12 4,8Outros motivos 62 24,5total 254 100,0
48
-
O agendamento visto como ruim por 56 entrevistados, enquanto apenas 9 o referem
como bom.
VARIVEIS BOM NO PSF ( N=243)freq
RUIM NO PSF (N=440)freq
Atendimento em geral 113 176
Atendimento mdico 04 121
Profissionais 16 03
Dispensao de medicao 14 15
Visita domiciliar 12 06
No tem nada a dizer 46 49
Agendamento 09 56
No conhecem o programa por isto nosabem informar.
29 14
VARIVEIS POR QUE BOM POR QUE RUIMAtendimento em Geral Assistem sade, do ateno, fazem reunies,
esclarecem dvidas; sorteiam o Kit beb,informam se a vacina est atrasada, e elo entre aSMS e a populao, previnem doenas,facilidade para atendimento, possui dentista
Demora nas consultas erealizao de exames,encaminhamentos, agendamento;Precisam buscar atendimento emoutro lugar; No tem atendimentoquando precisam; No resolvemproblemas simples. O horrio deatendimento no atende necessidade da comunidade
Atendimento mdico O mdico atende em casa, consultas rpidas,tem mdico,
Porque tem que agendar, no tempediatra, clnico e ginecologista, generalista, troca constante deprofissionais, sempre encaminha,no examina, no conhece acomunidade,
Profissionais So atenciosos e educados, tratam bem A enfermeira no pode receitar,faltam com respeito populao;No resolvem problemas simples;O agente no deveria ser moradordo bairro, privilegiam os amigos.Falta dentista
Dispensao de Medicao Recebem medicao; facilita a vida das pessoas. Nem sempre tem remdio,interrompendo o tratamento.
Agendamento Tem garantido o atendimento, Demora no agendamento, quandoconseguem a consulta, jbuscaram atendimento em outrolugar, ou melhoraram.
Visita domiciliar Entregam o encaminhamento em casa, avisamdata de consulta informam se a vacina estatrasada
No fazem visita domiciliar; soirregulares.
Quadro 1- Aspectos positivos e negativos do Programa Sade da Famlia, do bairro Vila Rica-Volta Redonda,segundo entrevistado principal, 2007
49
-
Os itens profissionais e visita domiciliar foram os nicos que tiveram mais apreciao
positiva do que negativa, embora, no geral, tenham tido poucas menes. A dispensao de
medicao teve apreciao equilibrada.
Nas justificativas para a satisfao com o PSF encontraram-se 108 citaes, estandoentre as dez mais citadas as relacionadas ateno dos funcionrios e o acolhimento na
unidade, seguido das relacionadas assistncia sade. Satisfao com dispensao de
medicamentos, atendimento domiciliar, facilitar a vida das pessoas, esclarecimento de
dvidas, agendamento, atividades educativas. Preveno de doenas tambm foi citada.
O maior grau de insatisfao foi encontrado em relao ao atendimento, justificado pelademora no agendamento, atendimento em geral, demora no encaminhamento, demora no
atendimento, falta de atendimento odontolgico, no consegue ser atendido na hora que
precisa, falta de visita domiciliares e profissionais pouco capacitados. Queixaram-se ainda da
falta de medicamento, demora na marcao e entrega de exames, de no haver atendimento
noite, funcionrios serem moradores do bairro, estrutura fsica do posto inadequada e de
outros itens relacionados ao processo de trabalho: no realizar curativos em casa, no tirar
ponto cirrgico, o pr-natal e o exame ginecolgico serem realizados por enfermeira,
funcionrios permanecerem sem ocupao na unidade, limitaes do sistema de sade e falta
de comunicao.
Dentro das crticas ao atendimento ressalta-se o atendimento mdico. Destas a maior
queixa se refere no existncia de pediatra e ginecologista, seguida do fato da equipe s ter
um mdico. Muitos se queixaram de falt