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AVALIAÇÃO DA INFECÇÃO FILARIAL POR Wuchereria bancrofti COM O TESTE DO CARTÃO ICT NA POPULAÇÃO DE UM BAIRRO DO DISTRITO SANITÁRIO II NO MUNICÍPIO DE OLINDA/ PE. NATÁLIA MARQUES PEREIRA DE OLIVEIRA SCHIRLEY CRISTINA ALMEIDA PEREIRA RESUMO A filariose linfática, causada pela Wuchereria bancrofti, é uma doença negligenciada, de caráter debilitante, que acomete cerca de 120 milhões de pessoas em todo mundo. No Brasil, estima-se em três milhões a população que vive em áreas com risco de contrair a parasitose e em 49 milhões o número de infectados. Atualmente, admite-se que em nosso país esteja ocorrendo à transmissão de doença apenas na região metropolitana do Recife incluindo o município de Olinda. O presente estudo foi realizado objetivando avaliar a prevalência da infecção filarial com o teste rápido do cartão ICT na população residente em um bairro do Distrito Sanitário II do município de Olinda-PE. Trata-se de um estudo do tipo descritivo, exploratório com abordagem quantitativa. A amostra foi composta de 250 pessoas, de ambos os sexos, e todas as faixas etárias, sendo estas escolhidas de forma aleatória por conveniência, estas assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido para participarem da pesquisa. A esta população foi submetido um questionário, realização do exame e leitura do cartão ICT. O exame foi realizado por técnicos treinados na USF Rio Doce V Etapa e Policlínicas II e IV etapa. Verificou-se a existência da negatividade de infecção filarial em todas as 250 pessoas examinadas. Os dados obtidos a partir deste estudo contribuíram com a vigilância da filariose linfática no município de Olinda, uma vez que o bairro não pertence a área de alta transmissão, assim como os outros bairros do Distrito Sanitário II, necessitando de avaliação com testes mais sensíveis do que o exame da gota espessa utilizado de rotina. Esses resultados reafirmam a condição do município de verificação da quebra da transmissão, estando em acordo com o que determina a OMS na adoção do Plano Global de Eliminação da Filariose Linfática (PGEFL). Palavras-chave: Filariose linfática. Teste do cartão ICT. Wuchereria bancrofti. ABSTRACT Lymphatic filariasis, caused by Wuchereria bancrofti, is a neglected, debilitating disease, which affects about 120 million people around the world. In Brazil, it is estimated that three million people live in areas with risk of getting parasitosis and that forty-nine million people are infected. Nowadays, it is accepted that in our country the illness transmission only happens in the Metropolitan Region of Recife, including the city of Olinda. This research intends to evaluate the prevalence of filarial infection among the population of the Distrito

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AVALIAÇÃO DA INFECÇÃO FILARIAL POR Wuchereria bancrofti COM O TESTE

DO CARTÃO ICT NA POPULAÇÃO DE UM BAIRRO DO DISTRITO SANITÁRIO

II NO MUNICÍPIO DE OLINDA/ PE.

NATÁLIA MARQUES PEREIRA DE OLIVEIRA

SCHIRLEY CRISTINA ALMEIDA PEREIRA

RESUMO

A filariose linfática, causada pela Wuchereria bancrofti, é uma doença negligenciada, de

caráter debilitante, que acomete cerca de 120 milhões de pessoas em todo mundo. No Brasil,

estima-se em três milhões a população que vive em áreas com risco de contrair a parasitose e

em 49 milhões o número de infectados. Atualmente, admite-se que em nosso país esteja

ocorrendo à transmissão de doença apenas na região metropolitana do Recife incluindo o

município de Olinda. O presente estudo foi realizado objetivando avaliar a prevalência da

infecção filarial com o teste rápido do cartão ICT na população residente em um bairro do

Distrito Sanitário II do município de Olinda-PE. Trata-se de um estudo do tipo descritivo,

exploratório com abordagem quantitativa. A amostra foi composta de 250 pessoas, de ambos

os sexos, e todas as faixas etárias, sendo estas escolhidas de forma aleatória por conveniência,

estas assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido para participarem da pesquisa.

A esta população foi submetido um questionário, realização do exame e leitura do cartão ICT.

O exame foi realizado por técnicos treinados na USF Rio Doce V Etapa e Policlínicas II e IV

etapa. Verificou-se a existência da negatividade de infecção filarial em todas as 250 pessoas

examinadas. Os dados obtidos a partir deste estudo contribuíram com a vigilância da filariose

linfática no município de Olinda, uma vez que o bairro não pertence a área de alta

transmissão, assim como os outros bairros do Distrito Sanitário II, necessitando de avaliação

com testes mais sensíveis do que o exame da gota espessa utilizado de rotina. Esses resultados

reafirmam a condição do município de verificação da quebra da transmissão, estando em

acordo com o que determina a OMS na adoção do Plano Global de Eliminação da Filariose

Linfática (PGEFL).

Palavras-chave: Filariose linfática. Teste do cartão ICT. Wuchereria bancrofti.

ABSTRACT

Lymphatic filariasis, caused by Wuchereria bancrofti, is a neglected, debilitating disease,

which affects about 120 million people around the world. In Brazil, it is estimated that three

million people live in areas with risk of getting parasitosis and that forty-nine million people

are infected. Nowadays, it is accepted that in our country the illness transmission only

happens in the Metropolitan Region of Recife, including the city of Olinda. This research

intends to evaluate the prevalence of filarial infection among the population of the Distrito

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Sanitário II, in Olinda-PE, by carrying out quick tests with the ICT card. It is a descriptive,

exploratory study, with a quantitative approach. The project sample was composed by 250

people, both genders and all ages, who were chosen randomly by convenience and who

signed the Free Consent Term. They were submitted to a survey, healthy examinations and

the ICT card reading. The examinations were executed by trained technicians at “USF Rio

Doce V Etapa” and “Policlínicas II e IV Etapas”. No filarial infection was detected in all the

250 people. The data acquired after this study contributed to the vigilance of Lymphatic

filariasis in Olinda, once the neighborhood does not belong to the high transmission area, just

like the other neighborhoods of Distrito Sanitário II. It was necessary an evaluation using tests

that were more sensitive than the thick droplet examination. These results reaffirmed the

city’s condition to verify that the transmission stopped, agreeing with OMS resolutions on the

Global Plan to Eliminate Lymphatic filariasis (GPELF).

Keywords: Lymphatic filariasis. ICT Card Test. Wuchereria bancrofti.

INTRODUÇÃO

Filariose linfática é uma doença causada por um nematódeo da espécie

Wuchereria bancrofti, que vive nos vasos linfáticos dos indivíduos infectados, apresentando

diversas manifestações clínicas. A fase aguda pode ser assintomática ou apresentar-se com

febre recorrente aguda, astenia, mialgias, fotofobia, quadros urticariformes, pericardites,

cefaléia, linfadenite e linfagite retrógrada. A fase crônica da doença está relacionada à

hidrocele, quilúria e elefantíase de membros, mamas e órgãos genitais (BRASIL, 2010).

Nos 81 países endêmicos, cerca de 120 milhões de indivíduos estão infectados e

1,34 bilhões vivem sob o risco de adquirir a infecção por esse helminto (OMS). Nas

Américas, esta parasitose está presente em quatro países: Brasil, Guiana, Haiti e República

Dominicana. De acordo com a estimativa da Organização Mundial da Saúde (OMS), existem

nas Américas 82,4 mil casos de filariose e 1,34 milhões de indivíduos sob-risco de adquirir

esta infecção parasitária (OMS, 2010).

A Organização Mundial da Saúde, em assembleia ocorrida em 1997, conclamou a

adoção do Plano Global de Eliminação da Filariose Linfática (PGEFL) que tem como meta a

eliminação da filariose linfática em todo o mundo até 2020, por meio de utilização da

estratégia de tratamento em massa da população doente e não doentes que residam em áreas

de risco para adquirirem a filariose (LIMA, 2006).

A filariose chegou ao Brasil pelo tráfico de escravos; entretanto, os primeiros

estudos sobre a doença só vieram a ser efetuado na década de 1940, o maior número de

pesquisa sobre a endemia foi realizado entre 1952 e 1957 através de inquéritos

epidemiológicos, identificando focos autóctones em várias cidades de norte a sul do Brasil

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(MACIEL et. al, 2010). No Brasil, estima-se em três milhões a população que vive em áreas

com riscos de contrair a parasitose e em 49 milhões o número de infectados. Esses indivíduos

residem, em sua maioria, em áreas urbanas dos estados de Alagoas (Maceió) e Pernambuco

(Região Metropolitana do Recife). (MEDEIROS et. al, 2004).

A Região Metropolitana do Recife (RMR), Olinda e Jaboatão dos Guararapes, em

Pernambuco, é uma área de importante transmissibilidade. O município de Maceió (Alagoas)

tem a infecção sob controle e o município de Belém (Pará) encontra-se em processo de

reconhecimento da certificação de eliminação na OMS (ROCHA et. al, 2010).

Segundo o Ministério da Saúde, em 2005, na RMR, identificou-se uma taxa de

prevalência de infecção em Olinda de 0,93%, Recife de 0,53%, Jaboatão dos Guararapes de

0,26% e Paulista de 0,09% (BRASIL, 2007).

Um estudo na cidade do Recife e nos municípios de Olinda e Jaboatão dos

Guararapes, analisando somente os indivíduos microfilarêmicos e autóctones, identificou uma

menor densidade de microfilaremia entre os residentes do Recife, quando comparados com os

outros dois municípios. O índice de infectividade do Culex quinquefasciatus foi

significativamente menor no Recife (0,6%), em relação a Olinda (1,3%) e Jaboatão dos

Guararapes (1,2%) (MEDEIROS et. al, 2010).

O diagnóstico laboratorial da filariose pode ser realizado através da pesquisa

parasitológica por meio das técnicas do exame a fresco (EF), gota espessa (GE), concentração

de Knott (CK) e filtração em membrana de policarbonato (FMP). A amostra biológica

utilizada nas duas primeiras técnicas é sangue capilar ou venoso, enquanto que nas duas

últimas utiliza-se apenas sangue venoso. Para a pesquisa de microfilárias (MF) em amostras

sanguíneas deve-se considerar a periodicidade das MF do parasito, pico de densidade das MF

no sangue periférico em cada região endêmica.

No Brasil, esta periodicidade ocorre entre 23h e 1h da manhã. Existem ainda

outros tipos de diagnósticos: os sorológicos como a pesquisa de anticorpos e antígenos,

diagnósticos por técnicas de imagem (ultra-sonografia) e o teste da imunofluorescência

indireta. (BRASIL 2009). Há ainda o diagnóstico pela reação de cadeia da polimerase (PCR).

Como forma de diagnóstico que foi inicialmente utilizada para análise de amostras de sangue

coletadas em período noturno, mostrando-se satisfatória. No entanto, sua utilização em

pacientes amicrofilaremicos foi questionada levando a necessidade de novos estudos (SILVA,

et. al,2008).

A partir da escolha do diagnóstico foi possível aidentificação de focos filariais,

com uma série de estratégias implantadas/ implementadas com o propósito de diminuir o dano

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produzido por esta endemia. Ao longo das últimas cinco décadas, o trabalho visando à

redução da infecção apoiou-se principalmente na eliminação das fontes de infecção. Assim,

milhares de exames hemoscópicos foram realizados anualmente nas populações residentes nas

áreas endêmicas, seguindo-se o tratamento dos casos de microfilarêmicos detectados. Embora

as ações ambientais visando o controle vetorial não tenham sido uma prioridade do programa,

em muitos momentos, o controle da filariose foi beneficiado pela adoção dessas ações em

campanhas contra outros agravos, o que certamente contribuiu para o quadro epidemiológico

atual, no qual se considera que a transmissão esteja restrita a alguns poucos locais do País

(BRASIL, 2009).

A intervenção da estratégia do Tratamento Coletivo, associada à identificação e

tratamento dos indivíduos, à utilização de métodos de diagnóstico com elevada sensibilidade e

especificidade e à seleção e monitoramento de grupos sentinelas, permitirá que o PGEFL

tenha êxito na eliminação global da filariose (ROCHA et. al, 2010).

Fica evidente que a filariose linfática se constitui em um problema de saúde

pública no município de Olinda. Os elevados índices de positividade encontrados no Distrito

Sanitário I do município relatado em estudos, realizados ao longo dos anos, mostram a

magnitude deste agravo. Em inquéritos realizados na década de 90 com o exame da gota

espessa foram encontrado índice de positividade menores de 1% nos bairros de Rio Doce e

nenhum outro estudo foi realizado desde então. A população do município tem uma grande

rotatividade de domicílios (casas de aluguel) podendo haver migração de regiões de altas

prevalências para áreas sem transmissão. Por este motivo, faz-se necessário um levantamento

da situação da infecção e transmissão em um bairro do Distrito Sanitário II.

Assim, para subsidiar as ações de controle e monitorar os seus resultados, o

presente estudo avaliou o índice de positividade antigênica da filariose no bairro de Rio Doce

do município de Olinda-PE.

O objetivo geral é stimar o índice de positividade antigênica da infecção filarial

através do teste rápido do cartão ICT em população residente em um bairro do Distrito

Sanitário II do município de Olinda-PE.

Já os objetivos específicos:

Executar o teste rápido do cartão ICT na população residente.

Traçar o perfil epidemiológico da população testada.

Realizar busca dos casos positivos para exames complementares (Filtração em

membrana e Og4C3-ELISA) com tratamento das positividades.

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1 REFERENCIAL TEÓRICO

1.1 Filariose linfática

A filariose bancroftiana, também conhecida como a única filariose linfática

humana das Américas, é uma infecção tropical que apresenta como agente causal helmintos

Nematoda das espécies Wuchereria bancrofti, Brugia malayi e B. timori. A existência da

filariose linfática é demonstrada por provas arqueológicas em um período que antecede a era

cristã em cerca de 2.000 anos. Porém, como doença parasitária, só foi reconhecida após a

primeira detecção de parasitas embrionários em fluido biológico (líquido hidrocélico) por

Jean-Nicolas Demarquay em 1863 (ALVES, 2006).

Essa enfermidade é endêmica em várias regiões de muita pobreza e com clima

tropical ou subtropical na Ásia, África e América, sendo sério problema de saúde publica em

países, como China, Índia, Indonésia e partes leste, central e oeste da África. É estimada em

01 bilhão, a população que vive em áreas de risco de contrair a infecção e em 120 milhões o

número de parasitados. Destes, aproximadamente 112 milhões são portadores de W. bancrofti

e oito milhões são portadores de B. malayi ou B. timori ( minoria). A filariose linfática no

continente americano é causada exclusivamente pela W. bancrofti, Sendo também conhecida

como elefantíase em uma das suas manifestações na fase crônica (NEVES, 2000).

A filariose é uma doença que, na forma crônica, os casos mais graves são de

indivíduos que apresentam hidrocele, quilúria e elefantíase de membros e mamas e órgão

genitais. Nesses casos em geral, a densidade de microfilaria no sangue é muito pequena ou

mesmo não detectável. Descrevem-se, ainda, casos de eosinofilia pulmonar tropical, síndrome

que se manifesta por crises paroxísticas de asma, com pneumonia intersticial crônica e ligeira

febre recorrente. O leucograma registra importante eosinofilia (BRASIL, 2010).

1.2 Transmissão

Através da picada do mosquito transmissor Culex quinquefasciatus infectados

com larvas de Wuchereria bancrofti na forma L3. Os mosquitos se infectam durante seu

repasto sanguíneo em uma pessoa infectada. Após um período de mudança de estágio larval

no mosquito, ele poderá infectar um indivíduo sadio durante um novo repasto. No ser

humano, as microfilárias tem periodicidade no sangue periférico, sendo mais detectada á

noite, entre as 23h e 1h (BRASIL, 2010).

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A fêmea do Culex quinquefasciatus quando exerce o hematofagismo em

pessoas que estão parasitadas, ingere microfilárias que depois de poucas horas, no

estômago do mosquito, perdem as bainhas e atravessam a sua parede, caem na cavidade geral

e migram para o tórax, onde se alojam nos músculos torácicos e transformam-se em uma larva

L1. Seis a dez dias após o repasto sanguíneo ocorre a primeira mudança originando

a L2, logo após ocorrer um crescimento acentuado e a L2 vai sofrer uma mudança e

transformar-se na larva infectante para o hospedeiro intermediário (L3), onde migra para a

probóscida do mosquito. Quando o vetor volta a fazer novo repasto, as larvas L3 escapam do

seu lábio e penetram no hospedeiro definitivo (homem) pela solução de continuidade causada

pelo mesmo e migram para os vasos linfáticos, onde se tornam vermes adultos. Depois de 7 a

8 meses, as fêmeas grávidas produzem microfilárias, que migram dos ductos linfáticos para a

corrente sanguínea, ficando alojadas nos capilares profundos de várias regiões.

Depois de sete a oito meses as fêmeas grávidas produzem microfilárias, que migram dos

ductos linfáticos para a corrente sanguínea ficando alojadas nos capilares profundos de várias

regiões. (NEVES, 2005).

A transmissão é feita exclusivamente pela picada do Culex quinquefasciatus

fêmea onde se acredita que o estímulo necessário para a saída da larva da probóscida do vetor

seja o calor corporal e que a alta umidade e o suor permita a progressão e a penetração dessas

larvas. Não há a possibilidade de se transmitir de pessoa a pessoa, pois o ciclo se faz de

homem infectado com microfilaremia picado por inseto transmissor, que transmitirá a outro

indivíduo, após maturação das microfilárias no vetor, que ocorre entre 12 a 14 dias do repasto

sanguíneo. A microfilaremia pode persistir, aproximadamente, de 5 a 10 anos.

1.3 Fisiopatologia

As larvas introduzidas pela picada do mosquito, completando seu ciclo, assumem

a forma de vermes adultos (filárias), os quais têm um tropismo pelo sistema linfático. A

maioria dos indivíduos portadores de vermes adultos vivos é clinicamente assintomática,

embora esteja sempre presente uma linfangiectasia. A presença de novelos de filárias nos

vasos linfáticos de pequeno calibre pode levar a uma obstrução parcial intermitente da

circulação, ou levar ainda a uma perda permanente de sua competência. Essa incompetência

poderá permanecer mesmo após a eliminação dos parasitos e, como consequência, haverá

estase ou congestão da linfa na área drenada pelo vaso afetado. As manifestações clínicas

mais frequentes ocorrem em órgãos genitais e membros inferiores. O movimento dos vermes

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adultos vivos de W. bancrofti, localizados no sistema linfático, sinal da “dança das filárias”,

pode ser visualizado em pacientes com ou sem microfilaremia, por meio do diagnóstico de

imagem que são mais comuns em bolsa escrotal, mamas e membros inferiores. As

manifestações clínicas podem ser agudas ou crônicas, e em áreas endêmicas, pela

possibilidade de reinfecção, podem ocorrer simultaneamente no mesmo indivíduo (BRASIL,

2009).

1.4 Diagnóstico

O diagnóstico da filariose linfática causada pela W. bancrofti pode ser realizado

por diferentes técnicas parasitológicas, imunológicas, moleculares e por imagem

(BRANDÃO, 2008).

1.4.1 Técnica de Exames Fresco (EF)

Consiste na observação direta de MF vivas do parasito entre lâmina e lamínula

utilizando-se gota de sangue capilar ou venoso. Sob observação microscópica, é possível

visualizar a presença das MF pelos seus movimentos rápidos entre as hemácias, existindo a

desvantagem desse método por não e permitir prolongadas observações em pessoas com

elevadas concentrações de hemácias havendo uma dificuldade de visualização (BRASIL,

2009).

1.4.1.1 Técnica da Gota Espessa (GE)

De acordo com OMS, o diagnostico parasitológico se baseia na pesquisa de

microfilarias no sangue periférico, colhido em horário compatível com a periodicidade do

parasito na região. Entre as técnicas disponíveis, a mais utilizada em inquéritos

epidemiológicos é a gota espessa de sangue (20 a 100 μL), colhidos por punção capilar

digital. Em seguida, a amostra é fixada, corada (eosina-Giemsa) e analisada em microscopia

óptica. Essa técnica possibilita a visualização da bainha, fato que difere a microfilaria de W.

bancrofti de outro filarídeos sanguíneos, além de apresentar baixo custo. No entanto, sua

baixa sensibilidade impede a utilização em situações em que os parasitados se mostram com

baixa microfilaremia ou amicrofilarêmicos. (SILVA, et. al,2008) A partir da presença de 100

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e 60 microfilárias por mililitro de sangue, a gota espessa apresenta 100% de sensibilidade

(OLIVEIRA, 2003).

1.4.1.2 Técnica de Concentração de Knott (CK)

A técnica descrita por Knott, em 1939, foi a primeira a ser empregada, consistindo

na análise da concentração do sedimento obtido, por centrifugação, de um volume de 1-5

mililitro de sangue; é a técnica escolhida para diferenciar as espécies de microfilárias A

técnica de Knott foi a primeira a ser empregada. Contudo, por se tratar de uma técnica

laboriosa, tende a ser substituída, especialmente em trabalhos de pesquisa, pela filtração em

membrana de policarbonato, considerada o gold test para pesquisa de microfilária em

diagnóstico individual (OLIVEIRA, 2003).

1.4.1.3 Técnica de Filtração em Membrana de Policarbonato (FMP)

A filtração em membrana de policarbonato é utilizada para a realização do

diagnóstico e da quantificação da microfilaremia. É o teste-ouro disponível até o momento

para a avaliação pré-tratamento e como critério de cura pós-tratamento da infecção por

Wuchereria bancrofti. A coleta é feita por punção em veia periférica e deverá ser realizada no

horário de 23 horas à 1 hora da manhã, devido à periodicidade de circulação noturna das

microfilárias. O volume sanguíneo a ser coletado está diretamente relacionado com o objetivo

do diagnóstico: 10 ml para investigação ou controle de cura e 3 ml para quantificação das

microfilárias (BRASIL,2008).

1.4.1.4 Pesquisa de Anticorpos

Os testes preconizados para a pesquisa de anticorpos na doença filarial, até o

momento, utilizam extratos brutos dos parasitos homólogos, por exemplo, a

imunofluorescência [IMF] para W. bancrofti ou heterólogos imunoenzimáticos [ELISA] com

vermes adultos de B. malayi). Isso provoca geralmente reações cruzadas com outras

infecções, fazendo com que a especificidade do teste seja prejudicada Estas técnicas

sorológicas, geralmente não diferenciam os indivíduos com infecção ativa, daqueles com

infecção passada ou os indivíduos que já tenha sido exposto às larvas infectantes, de forma

esporádica ou mesmo contínuo, mesmo que não se tornem infectados. Um novo teste

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sorológico para filariose linfática, baseado em pesquisa de anticorpos pelo antígeno

recombinante filarial BmM14, foi recentemente desenvolvido podendo ser realizado a

qualquer hora do dia. Este antígeno foi selecionado de uma biblioteca de expressão de cDNA

de B. malayi sendo reconhecido no soro de pacientes com filariose linfática mas não em

pacientes com infecção por helmintos não filariais. Estudos preliminares com soro de

pacientes da Índia indicaram que o ELISA baseado na detecção de anticorpos IgG4 para

BmM14 parece apresentar uma alta sensibilidade para o diagnóstico de pacientes com

filariose causada pela Brugia malayi ou Wuchereria bancrofti com infecção ativa ou em

endêmicos normais (ARAÚJO, 2009).

1.4.1.5 Pesquisa de Antígeno Circulante Filarial (ACF)

Os anticorpos monoclonais (AcMo) denominados de Og4C3 e AD12 reconhecem

produtos excretórios ou secretórios de W. bancrofti, denominados antígenos circulantes

filariais (ACF). O Og4C3 e um AcMo da classe IgM, que reconhece antígenos solúveis no

soro, plasma ou líquido hidrocélico dos indivíduos infectados com W. bancrofti. O ACF tem

100% de sensibilidade quando o individuo parasitado apresenta uma densidade igual ou maior

a uma MF/ml de sangue. Por meio desse teste, identifica-se aproximadamente 70% dos

indivíduos amicrofilaremicos, porém portadores de vermes adultos vivos (BRASIL, 2009).

1.4.1.6 Técnica de Imagem

A ultrassonografia foi primeiramente descrita, para pesquisa de W. bancrofti, em

1994, quando estudos desenvolvidos evidenciaram vermes adultos em vasos linfáticos

intraescrotais do cordão espermático. Este método permite detectar e monitorar vermes

adultos vivos e dilatação linfática em pacientes com filariose bancroftiana. Quando aplicada

corretamente essa técnica possibilita o diagnostico precoce da infecção e contribui para um

controle de cura mais eficiente, podendo medir diretamente a ação da droga sobre o parasito

(BRANDÃO, 2008).

1.4.1.7 Reação em Cadeia da Polimerase (PCR)

Nas abordagens de diagnóstico molecular, a PCR apresenta-se como uma técnica

que possibilita uma grande aplicação no campo das doenças infecto-parasitárias.

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Pesquisadores estão trabalhando com essa técnica para detectar DNA de W. bancrofti nos

diversos fluidos biológicos humanos, tais como sangue total, plasma, urina, líquido

hidrocélico e secreção pulmonar. Estudos envolvendo a pesquisa de DNA de W. bancrofti,

também em sangue total, têm demonstrado que a sensibilidade da PCR em amplificar a

família Sspl, gênero-específica para Wuchereria, em 100% dos microfilarêmicos, ocorre

somente acima de 9 Mf/ml (ROCHA, 2002).

O desenvolvimento de métodos laboratoriais que possam ser utilizados durante o

dia, no diagnóstico da bancroftose, e a utilização de métodos moleculares não invasivos

sugerem a técnica por PCR por ela detectar experimentalmente 0,1 pico grama de DNA de W.

bancrofti,o que corresponde aproximadamente 1% do DNA contido em uma MF ou L3, em

sangue ou soro humano. A técnica da PCR para amplificar o Sspl (oligonucleotídeo) pode ser

utilizada na detecção de DNA livre nos diversos líquidos biológicos durante o dia, utilizando

amostras de urina de indivíduos micro e amicrofilarêmicos, foram capazes de amplificar o

DNA de W. bancrofti através do primer Sspl em 100 e 50% das urinas analisadas. A

eficiência desejada através da PCR pode variar de amostra a amostra, dependendo da

quantidade de DNA obtida durante o processamento metodológico. A padronização da

metodologia. Assim, a técnica da PCR poderá ser empregada com maior especificidade como

uma ferramenta de diagnóstico (ROCHA, 2002).

1.5 Tratamento

O tratamento antifilarial está indicado em todos os indivíduos com evidências de

infecção ativa (vermes adultos e/ou microfilárias), independentemente de apresentarem ou

não qualquer manifestação clínica relacionada direta ou indiretamente à bancroftose. A droga

de escolha para o tratamento individual é a dietilcarbamazina (DEC). Infelizmente, o poder

adulticida da droga não é 100% e estima-se que cerca de 50 a 60% dos vermes adultos são

refratários ao tratamento e até agora não foi justificado essa falha. A cura parasitológica de

um dado indivíduo está na dependência da sensibilidade dos vermes à droga e, desse modo,

não é possível antever a resposta terapêutica em cada indivíduo (DREYER, 2002).

O esquema padrão de tratamento com DEC, recomendado pela Organização

Mundial de Saúde (OMS), é de 6mg/Kg/dia por 12 dias, podendo-se dividir a dose total diária

em três subdoses. Porem deve-se evitar sua administração em crianças com menos de dois

anos de idade, gestantes e nutrizes. No tratamento de indivíduos portadores de filariose

bancroftiana, são levados em consideração dois fatores: os efeitos colaterais e as reações

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adversas. Os efeitos colaterais sobre o organismo do paciente que se caracterizam,

principalmente, por sonolência, desconforto gástrico e náusea, que são, em geral, leves e bem

tolerados pelos pacientes não sendo necessário cessar o tratamento (BRASIL, 2009).

As reações adversas ao tratamento podem ser sistêmicas, como: febre, hematúria,

cefaléia, mialgia, astenia e tontura, ou localizadas, como: linfangites e linfadenites, com

aumento de volume do linfonodo, além de dor, edema e hiperemia nas regiões próximas à

localização dos vermes adultos sendo assim controlável com uso de medicações sintomáticas.

É importante que se descarte a possibilidade de existência de infecção concomitante por

Onchocerca volvulus ou Loa loa, uma vez que a utilização da DEC, na presença destas

espécies, pode ocasionar reação adversa exacerbada,comprometendo a integridade fisica do

paciente tratado. Para estes casos, a alternativa de tratamento e o uso da Ivermectina

(150μg/Kg) associada com o Albendazol (400mg), em dose única, para eliminação das

microfilárias (BRASIL, 2009).

A DEC não deve ser administrada em mulheres grávidas (apesar de não existirem

relatos na literatura de teratogênese em seres humanos) nem durante o primeiro mês de

lactação. Normalmente, pode ser administrada em crianças após o segundo ano de vida e, a

partir daí, não existe uma idade limite que impeça a sua utilização. É importante lembrar a

possibilidade do aparecimento de reações adversas sistêmicas nos microfilarêmicos idosos,

com outras doenças associadas, tais como cardiopatias ou pneumopatias (DREYER, 2002).

O tratamento coletivo preconizado deve ser realizado com a dietilcarbamazina

(DEC) isolada ou associada ao albendazol ou à ivermectina, administrada em dose única,

anual, durante um período de quatro a seis anos e com cobertura mínima de 80% da

população-alvo (ROCHA et. al, 2010).

1.6 Estratégias de controle da filariose

O enfrentamento da filariose como doença, no Brasil ocorre desde 1910, mas seu

controle só foi iniciado nos anos 50. A campanha nacional pelo seu combate iniciou-se em

1951 e, com 19 anos de atuação, teve suas ações divididas em dois momentos. O primeiro foi

coordenado pelo Serviço Nacional de Malária, de 1951 a 1955, e o segundo ocorreu de 1956 a

1970, sob a coordenação do Departamento Nacional de Endemias Rurais. O primeiro

momento, de 1951 a 1955, contou com atividades pertinentes ao aspecto humano e

entomológico da endemia. Os inquéritos hemoscópicos foram realizados por meio da busca

ativa em 24 localidades brasileiras. Em relação ao combate dos mosquitos, utilizaram-se

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inseticida de ação residual, do tipo hexaclorobenzeno (BHC) e dieldrin (MEDEIROS et. al,

2003).

A segunda fase da campanha foi iniciada em 1956, após a criação do

Departamento Nacional de Endemias Rurais. Nessa fase, as ações foram expandidas para

outras localidades, mas, só a partir da década de 60, o Departamento Nacional de Endemias

Rurais começou a executar as primeiras ações para o controle da endemia noutras áreas. Nos

anos 60, o Departamento Nacional de Endemias Rurais considerou que, entre as áreas

trabalhadas as únicas que representavam problema de Saúde Pública eram Recife, Belém,

Salvador e Florianópolis. Durante quase toda a década de 70, essas ações ficaram restritas ao

controle químico do vetor e ao tratamento dos indivíduos infectados nas cidades (MEDEIROS

et. al, 2003).

Em 1993, a Força Tarefa para Erradicação de Doenças elegeu a filariose linfática

como uma das seis doenças infecciosas potencialmente elimináveis. Em maio de 1997, a

Assembleia Mundial da Saúde consolidou essa resolução, anunciando a eliminação global da

filariose como um problema de saúde pública. Em julho de 1997, representantes da OMS

estabeleceram que o controle da filariose fosse feito baseado em dois grandes pilares: a

interrupção da transmissão e o controle da morbidade. A interrupção da transmissão no

planeta está planejada para 2020, com a estratégia do tratamento em massa feito anualmente,

por um período de 4 a 6 anos, com os esquemas supracitados. O controle da morbidade

baseia-se na implementação de programas de prevenção dos episódios agudos bacterianos

(através dos cuidados com a pele), nos portadores de linfedema, e da hidrocelectomia nos

portadores de fluido em cavidade vaginal testicular (DREYER et. al, 2009).

Organização Mundial da Saúde, em assembleia ocorrida em 1997, conclamou a

adoção do Plano Global de Eliminação da Filariose Linfática (PGEFL) buscando a eliminação

dessa endemia até o ano 2020. As principais estratégias do PGEFL estão sedimentadas em

dois importantes pilares: interrupção da transmissão e prevenção e alívio do sofrimento dos

portadores de morbidade De acordo com as diretrizes do PGEFL, a quebra da transmissão da

FL está baseada no tratamento coletivo (TC) A estratégia utilizada foi a mobilização da

comunidade (mutirão) por um período de três a quatro dias, quando foram instalados

minipostos de medicação em vários pontos do bairro (casas comercias, escolas, postos de

saúde e nas residências dos agentes comunitários). O Programa de Filariose de Olinda, após

analisar a estratégia inicial de tratamento realizada porta a porta, modificou-a, incluindo o

tratamento para filariose na rotina do agente de saúde, portanto o tratamento passou a ser

realizado pela equipe do Programa de Saúde da Família no ano de 2007. No ano de 2008, por

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orientação do SRNF (Serviço de Referência Nacional em Filariose), foi identificada a

necessidade de seleção de grupos sentinelas em cada uma das novas áreas a serem incluídas

no TC com o fim de monitorar o tratamento. Essa necessidade exigiu reestruturação e

reorganização da logística do programa de filariose no município de Olinda, o que não

permitiu a expansão do tratamento para uma nova área (ROCHA et. al, 2010).

1.7 Identificação de área de transmissão

A identificação da área de transmissão é realizada por inquéritos hemoscópicos

por meio da gota espessa, pelo cartão ICT e triagens. O inquérito da gota espessa é realizado

em grupos específicos da população, a partir dos quais se estima a prevalência da doença na

área sob investigação, além de servir como critério de descarte para situações

epidemiológicas, ou de áreas onde possivelmente teve ações da eliminação de transmissão.

Este inquérito através do cartão ICT tem por objetivo estabelecer o perfil epidemiológico da

área antes da intervenção incluindo toda a população. As triagens são realizadas em residentes

dos locais onde há transmissão, onde toda a população da área endêmica é submetida ao

exame de gota espessa, e as pessoas identificadas como portadoras de microfilárias recebem

tratamento (BRASIL, 2009).

1.8 Notificação compulsória

A FL é de notificação compulsória em alguns dos municípios endêmicos. No

âmbito nacional, poderá ser notificada no conjunto de “doenças de interesse nacional”.

Deverá ser preenchido o formulário de “notificação” de doenças padronizado pelo Sistema de

Informação Nacional de Agravos de Notificação – SINAN.(BRASIL, 2009). Quando há

detecção de novos focos, deve-se notificar como agravo inusitado, de acordo com a

normatização do Ministério da Saúde (BRASIL, 2010).

A notificação pode ocorrer nas seguintes formas: Caso suspeito toda pessoas que

apresente um ou mais dos sintomas da filariose (Hidrocele, linfedema, Eosinofilia Pulmonar,

Hipertrofia Ganglionar e Quilúria). Caso confirmado todo individuo com ou sem

manifestações clínicas que apresente alguns/ ou todos os exames de diagnóstico de FL

positivos; indivíduos que tenha residido em área endêmica por um período superior a 2 anos,

que tenha contato intra ou peridomiciliar com casos confirmados laboratorialmente, ou resida

em locais onde exista o vetor. (BRASIL, 2010).

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1.8.1 Fatores Epidemiológicos

Vários fatores que influenciam na transmissão da filariose linfática têm sido

estudados e modelos têm sido desenvolvidos para entender a dinâmica de transmissão dessa

infecção. Estudos sobre a distribuição da filariose em humanos têm mostrado que um grupo

de fatores, sejam endógenos ou exógenos, apresentam importante função na dinâmica dessa

doença. Problemas urbanos como altas densidades populacionais, ausência de saneamento

adequado e precárias condições de infra-estrutura urbana, associados às condições climáticas

favoráveis, temperatura e umidade mantêm as circunstâncias necessárias para a proliferação

do principal vetor da infecção linfática (ALVES, 2006).

Dada a heterogeneidade da distribuição espacial da filariose linfática em várias

áreas do mundo, uma série de estudos tem sido conduzida a fim de determinar o modo como a

interação com os condicionantes ambientais, e demográficos podem contribuir para a infecção

e para a doença (ALVES, 2006).

1.8.1.1 Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN)

O Sistema de Informação de Agravos de Notificação é alimentado,

principalmente, pela notificação e investigação de casos de doenças e agravos que constam

da lista nacional de doenças de notificação compulsória (Portaria GM/MS Nº 2325 de 08 de

dezembro de 2003). Sua utilização permite a realização do diagnóstico da ocorrência de um

evento na população; podendo fornecer explicações causais dos agravos de notificação

compulsória, indicando riscos aos quais as pessoas estão sujeitas, e identificando a realidade

epidemiológica de determinada área, permitindo que todos os profissionais de saúde tenham

acesso à informação e as tornem disponíveis para a comunidade (DATASUS,2012).

A Ficha Individual de Notificação (FIN) é preenchida pelas unidades assistenciais

para cada paciente quando da suspeita da ocorrência de problema de saúde de notificação

compulsória ou de interesse nacional, estadual ou municipal. Este instrumento deve ser

encaminhado aos serviços responsáveis pela informação e/ou vigilância epidemiológica das

Secretarias Municipais, que devem repassar semanalmente os arquivos em meio magnético

para as Secretarias Estaduais de Saúde (SES). A comunicação das SES com a SVS deverá

ocorrer quinzenalmente, de acordo com o cronograma definido pela SVS (Secretaria de

Vigilância em Saúde) no início de cada ano. Caso não ocorra nenhuma suspeita de doença, as

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unidades precisam preencher o formulário de notificação negativa, que tem os mesmos prazos

de entrega (DATASUS, 2012).

Além da Ficha Individual de Notificação (FIN), e da Notificação Negativa, o

Sistema ainda disponibiliza a Ficha Individual de Investigação (FII), que é um roteiro de

investigação, que possibilita a identificação da fonte de infecção e os mecanismos de

transmissão da doença. Esta ficha consta o local de notificação com a data, data dos primeiros

sintomas, informações pessoais do paciente (nome, endereço, idade, sexo, cor, data de

nascimento), informações do notificante, se houve o óbito, se existiu caso semelhante, se o

paciente precisar de bloqueio vacinal, e as hipóteses diagnósticas de acordo com a

Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde (CID

10), através dessa FII é descartado agravos com auxilio de diagnósticos específicos e de

acordo com sinais e sintomas de cada doença (DATASUS, 2012).

2 METODOLOGIA

2.1 Abordagem e tipologia da pesquisa

A pesquisa do tipo descritiva exploratória de caráter quantitativo.

De acordo com Gil (2002) a pesquisa descritiva tem como objetivo principal a

descrição das características de determinada população ou de determinado fenômeno, ou o

estabelecimento de relação entre as variáveis. Uma de suas características mais expressivas é

a coleta de dados por meio de questionário e de observação, habitualmente desenvolvidos por

pesquisadores preocupados com a atuação prática. Esse pensamento é corroborado por Hair

Jr. et al. (2005) que afirmam que as pesquisas descritivas são estudos estruturados e

especificamente criados para medir as características descritas em uma questão de pesquisa

em que a coleta de dados envolve algum tipo de entrevista estruturada como questionários e

entrevistas.

Neste estudo também foi usado a pesquisa exploratória, segundo Vergara (2004)

uma investigação exploratória é realizada em área na qual há pouco conhecimento acumulado

e sistematizado. Andrade (2001) complementa dizendo que esta se configura como a fase

preliminar, que busca proporcionar maiores informações sobre o assunto que vai se investigar.

Segundo Gil (1999), a pesquisa quantitativa considera que tudo pode ser

quantificável, o que significa traduzir em números, opiniões para classificá-los e analisá-los.

A pesquisa quantitativa caracteriza-se “pelo emprego da quantificação, tanto nas modalidades

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de coleta de informações, quanto no tratamento delas por meio de técnicas estatísticas”

(RICHARDSON, 2012, p. 70).

2.2 Descrição do ambiente de estudo

O estudo foi desenvolvido no bairro de Rio Doce Localizado na Regional V, do

Distrito sanitário II, pertencente ao município de Olinda – PE, em parceria com o Serviço

Nacional de Referência em Filarioses, Centro de Pesquisa Aggeu Magalhães. A pesquisa foi

avaliada e aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) de numeração

15169313.7.0000.5194. A escolha do bairro de Rio Doce se deu por conveniência em que

segundo (BRAGA, 2000) um inquérito realizado no município de Olinda obteve-se

prevalência de 1,3%, onde o bairro de Rio Doce esteve incluído na área de baixa transmissão

e baixo risco ambiental com prevalência de 0,2% por microfilaremia.

2.3 População e amostra

A população de estudo foi composta por residentes do bairro de Rio Doce no

município de Olinda, em que foram escolhidas de forma aleatória por conveniência,

totalizando uma amostra de 250 pessoas a serem examinadas. A OMS sugere como conduta

anterior à introdução de tratamento em massa (TM) em uma determinada área de residência,

inquéritos utilizando cartões ICT. Recomenda-se que seja examinada uma amostra de pelo

menos 250 pessoas.

2.4 Critérios de inclusão e exclusão

Foram incluídas na pesquisa pessoas residentes do bairro de Rio Doce no

município de Olinda há pelo menos 02 anos e que concordaram em participar da pesquisa.

Como critério de exclusão está à população que não reside no bairro e bairros que não estão

incluídos no ambiente de estudo.

2.5 Período e instrumento de coleta dos dados

O período para desenvolvimento do estudo foi de outubro de 2012 a dezembro de

2013. Para a coleta de dados foi utilizado o questionário (ANEXO B)

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2.6 Procedimentos para análise e interpretação dos dados

A análise e interpretação dos dados foram realizadas utilizando os programas

Excel e Epiinfo versão 3.5.2. Foi realizada a análise descritiva das características da

população de estudo segundo grupo etário, sexo, USF e Policlínicas. Foi identificado o índice

de positividade da doença no bairro pesquisado e os resultados foram apresentados através de

gráficos e tabelas.

O índice de positividade da infecção filarial foi estimada pelo teste do cartão ICT

que foi realizado nas unidades de saúde e policlínicas do bairro de Rio doce em qualquer

horário do dia. Foram coletados de cada participante do estudo 100 L de sangue capilar nas

unidades de saúde e policlínicas do bairro investigado em que se utilizou o exame do cartão

ICT, segundo um cronograma previamente estabelecido. Nos casos positivos, seria obtido 4

mL de amostra de sangue venoso de cada participante do estudo, para realizar os exames

complementares de filtração em membrana e Og4C3-ELISA, que seria coletado no horário

noturno entre 23h00min e 01h00min, respeitando a periodicidade noturna da W. bancrofti. As

amostras de sangue seriam transportadas e refrigeradas até o Centro de Pesquisas Aggeu

Magalhães, onde seriam armazenadas em geladeira a temperatura de 2 a 8 o

C. As amostras

seriam processadas no dia seguinte após a coleta.

3 ASPECTOS BIOÉTICOS

3.1 Análise crítica dos riscos e benefícios

Esta pesquisa foi desenvolvida de acordo com as diretrizes e as normas

regulamentadas de pesquisa envolvendo seres humanos (resolução 466/12 do CNS). A

pesquisa foi submetida a um Comitê de Ética em Pesquisa. O projeto apresentou a carta de

anuência do Município pesquisado, para que possa ser autorizada a coleta de dados. Por se

tratar de coleta de dados através de análise de resultados dos testes do cartão de ICT, a

pesquisa não ofereceu risco aos pacientes nem ao município pesquisado. Foi garantido o

anonimato à privacidade e o direito à desistência em qualquer etapa da pesquisa.

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3.2 Responsabilidades

O trabalho não trouxe danos, agravos ou ônus aos pacientes e ao município

pesquisado, sendo as informações divulgadas de total responsabilidade dos pesquisadores

envolvidos.

4 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS

Este estudo envolveu 250 indivíduos do sexo masculino e feminino que

cumpriram os requisitos de inclusão para a pesquisa. A pesquisa obteve uma amostragem com

faixas etárias que variam entre 04 a 87 anos. Dentre os 250 indivíduos submetidos à

investigação 201(80,4%) foram do sexo feminino e 49(19,6%) do sexo masculino,

evidenciando a predominância do sexo feminino.

Dos 250 indivíduos que se submeteram ao teste de ICT, 100% apresentaram

negatividade para filariose, dentre os quais 17(6,8%) afirmaram ter realizado o uso da

medicação DEC e apenas um indivíduo fez uso da medicação por duas vezes.

Figura 1: Caracterização da amostra quanto à distribuição em relação ao sexo, Olinda - PE, 2013

Fonte: Dados da pesquisa, 2013.

A figura 1 mostra que a realização do teste de ICT em sua maioria foi em

mulheres, o que corresponde a 80,40% (201), enquanto 19,60% (49) foram em homens. O

estudo demonstrou uma frequência de 100% de negatividade para casos de infecção filarial. A

frequência de parasitados é significativamente maior em jovens do sexo masculino

(BRASIL,2009).

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Vários estudos descreveram a relação da filariose linfática com o gênero

masculino, em que, o homem é o mais acometido pela infecção filarial. Em estudo realizado

no município de Jaboatão dos Guararapes, Bonfim e colaboradores (2003) demonstrou que

entre os indivíduos com manifestação clínica da infecção filarial, 69,2% eram do sexo

masculino. Outro estudo corrobora a relação da infecção filarial com sexo masculino, onde se

verificou que dos 213 indivíduos infectados 137 foram do sexo masculino (64,3%) e 76 do

sexo feminino (35,7%) (FALCÃO, 2002). Ainda relacionado ao sexo Neto e colaboradores

(2008) realizou um estudo em Jaboatão do Guararapes em que comparou a ocorrência de

infecção entre os sexos, observou-se um predomínio no sexo masculino (2% masculino; 0,9%

feminino).

Tabela 1: Caracterização da amostra em relação ao uso do dietilcarbamazina dos residentes do bairro

de Rio Doce, Olinda - PE, 2013.

Fonte: Dados da pesquisa, 2013.

Na tabela 1 podemos observar quanto ao questionamento do uso da medicação

dietilcarbamazina. Como visto nos dados coletados da pesquisa, pôde-se observar que mesmo

o bairro de Rio doce não ter passado pelo tratamento em massa, 6,8% (17) indivíduos fizeram

uso da medicação dietilcarbamazina enquanto 93% (233) não o fizeram. Questionados quanto

ao número de vezes em que se fez uso da medicação, obteve como resultado 0,40% (1) fez

uso da medicação por duas vezes e 3,6% (9) o fizeram uma única vez.

N %

UTILIZAÇÃO DO DEC

Sim 10 4,00%

Não

Total

240

250

96,00%

100,0%

NÚMERO DE UTILIZAÇÕES

0 240 96,0%

1

2

9

1

3,60%

0,40%

Total 250 100,0%

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Figura 2: Caracterização da amostra quanto ao resultado do Teste Imunocromatográfico em Cartão

(ICT), Olinda - PE, 2013

Fonte: Dados da pesquisa, 2013.

O estudo apresentou 100% de negatividade para casos de infecção filarial

realizado com o Teste Imunocromatográfico em Cartão (ICT), e envolveu 250 indivíduos

pesquisados. Segundo (BRASIL,2009) o teste (ICT) apresenta uma sensibilidade entre 96-

100% e uma especificidade de 100%.

A OMS sugere como conduta anterior à introdução de tratamento em massa (TM)

em uma determinada área de residência, inquéritos utilizando cartões ICT. Recomenda-se que

seja examinada uma amostra de pelo menos 250 pessoas. Esse inquérito tem por objetivo

estabelecer o perfil epidemiológico da área antes da intervenção. (BRASIL, 2009).

Neste estudo, o teste do cartão ICT foi realizado em sua maioria, em mulheres. De

acordo com um estudo de (Bonfim, et. al. 2003), a filariose é prevalente em pessoas do sexo

masculino, ou seja, seu estudo revelou uma maior positividade em homens, sendo esta

diferença significativa em termos estatísticos.

Um estudo de (BRAGA, 2004) revelou que para a filariose linfática, os homens

apresentam mais sinais e sintomas de dano linfático, expressam tipicamente mais

microfilaremia e cargas parasitárias mais elevadas. Estes aspectos caracterizam os homens

como um importante reservatório de parasitas filariais que poderia manter e espalhar a doença

na comunidade.

Ainda segundo (BRAGA, 2000), em inquéritos realizados na década de 90 com o

exame da gota espessa foram encontradas prevalências menores de 1% no bairro de Rio Doce

e nenhum outro estudo foi realizado desde então, todavia, como recomenda a OMS, se faz

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necessária a realização de estudos em áreas de baixa prevalência visando a vigilância dessas

áreas (BRASIL, 2009).

Figura 3: Caracterização da amostra em relação ao percentual de exames realizados por Unidade de

Saúde da Família e Policlínicas do bairro de Rio Doce, Olinda – PE, 2013.

Fonte: Dados da pesquisa, 2013.

A figura 3 nos mostra que o maior número de pesquisados se deu na USF Rio Doce

V Etapa 44% (110), seguidos da Policlínica Rio Doce II Etapa 31,20% (78) e Policlínica Rio

Doce IV 24,80% (62) totalizando 250 pessoas.

A partir do estudo foi possível observar que o maior número de pesquisados se deu

na USF Rio Doce V etapa, a ocorrência deste resultado não aconteceu de forma proposital,

uma vez que o estudo se deu de forma aleatória por conveniência.

Existem particularidades entre as Policlínicas e USF’s, esta última conta com o

trabalho de equipes da saúde da família, também representado na figura do Agente

Comunitário de Saúde, com seu saber popular, representa um elemento chave para a busca

permanente de comunicação entre a comunidade e as ações em saúde ocorridas na unidade de

saúde. Contudo a divulgação aliada à demanda espontânea que ocorreu na USF Rio Doce V

etapa contribuiu para o resultado desta pesquisa.

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Tabela 2: Caracterização da amostra em relação à análise da população segundo a faixa etária, Olinda

– PE, 2013.

Fonte: Dados da pesquisa, 2013.

Neste estudo foram examinadas, ao todo, 250 pessoas, cuja idade variou de 04 a

87 anos. A análise da distribuição da população pesquisada, segundo faixa etária, demonstrou

que o maior número de pesquisados se deu entre a faixa etária de 41 a 69 ano que

representaram 45,2% (41 a 60) anos. As demais faixas etárias apresentaram-se da seguinte

forma: 14% (04-18) anos, seguidos de 18,8% (61-87) anos e por fim 22% (19-40) anos.

De acordo por BRASIL (2009), o pico de microfilarêmicos ocorre na faixa dos 18

aos 25 anos. A detecção de crianças parasitadas é um forte indicio de que ainda está

ocorrendo transmissão em uma área, assim como, a ocorrência de morbidade filarial em

adultos acima de 30 anos pode estar relacionada à transmissão em períodos anteriores. A

maioria dos microfilaremicos não tem sintomatologia aparente, porém funcionam como fonte

de infecção e, do ponto de vista epidemiológico, necessitam de atenção para evitar a dispersão

da parasitose.

Segundo Falcão (2002) ao analisar o grupo etário dos pacientes microfilarêmicos,

observou-se que as maiores concentrações de casos diagnosticados estão nas faixas etárias de

10 a 19 anos, 20 a 29 anos e 30 a 39 anos, com ocorrência 28,6%, 26,4% e 19,7%,

respectivamente. Na análise de Neto (2008), as maiores prevalências ocorreram nas faixas

etárias de 20 a 29 anos (2,2%) e 10 a 19 (1,8%). Apesar dos autores não concordarem com

informações que correspondem à prevalência por faixa etária, ainda assim, o presente trabalho

está em conformidade, uma vez que, o maior número de pesquisados se deu na faixa etária de

41 a 69 anos, aumentando assim a chance para a negatividade de casos de infecção filarial.

Faixa etária N %

04-18 35 14,0%

19-40

41-60

61-87

Total

55

113

47

250

22,0%

45,2%

18,80%

100,0%

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Tabela 3: Caracterização da amostra quanto ao tempo de residência na moradia, Olinda – PE, 2013.

Fonte: Dados da pesquisa, 2013.

Em relação ao tempo de residência na moradia, o estudo apresentou um período

correspondente a 28,0% (20 a 25) anos que reside no mesmo endereço, seguidos de 26,40% (2

a 7); 24,8% (8 a 13); 20,8% (20 a 25).

O estudo considerou como critério de inclusão um tempo mínimo de dois anos de

residência na moradia. Podemos observar que o maior tempo de moradia no mesmo endereço

correspondeu a 28,8% (20 a 25) anos. Considerando que, a transmissão da FL está na

dependência de uma serie de fatores e por esta razão a infecção e pouco esperada naquelas

pessoas em trânsito ou residentes por pequenos períodos em áreas endêmicas. Nessas áreas,

tem risco aumentado às pessoas que vivem em locais onde as condições socioambientais

favorecem a presença do vetor. (BRASIL, 2009)

Neto (2008) realizou um estudo em que Relacionou a microfilaremia com o

tempo de permanência dos indivíduos, notou-se uma prevalência maior (24,01%) nos

habitantes residindo há mais de cinco anos na área de estudo enquanto que os indivíduos com

tempo inferior apresentaram 13,16%. Essa diferença não foi estatisticamente significativa.

A população do município de Olinda tem uma grande rotatividade de domicílios

(casas de aluguel) podendo haver migração de regiões de altas prevalências para áreas sem

transmissão.

CONCLUSÃO

Durante a pesquisa foi estimado o índice de positividade filarial do bairro

pesquisado em que foi identificada a ausência de casos positivos na população avaliada, por

este motivo, a realização de exames complementares como a filtração em membrana e

Og4C3-ELISA não foi necessário, assim como o tratamento.

Tempo de Moradia (Anos) N %

2-7 66 26,40%

8-13

14-19

20-25

Total

62

52

70

250

24,8%

20,8%

28,0%

100,0%

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Avaliando-se o perfil epidemiológico da população testada foi possível verificar

que a prevalência de realização do exame foi maior no sexo feminino e em faixa etária de 41 a

60 anos. A maior parte da população não apresentava informação sobre o teste do cartão ICT,

por ser um teste não utilizado como diagnóstico para infecção filarial no Município de

Olinda-PE.

A coleta de dados e a realização dos exames na população foram consideradas

satisfatórias para a pesquisa, contudo com ressalva na dificuldade de demanda da população

em alguns períodos da coleta, resultando no maior tempo para obtenção das informações e

realização dos exames.

Diante da ausência de positividade de casos de filariose linfática no bairro

avaliado, é imprescindível que o município de Olinda dê continuidade as ações de vigilância

nas áreas sem intervenção do tratamento em massa para que a infecção não se expanda e fique

cada vez mais focal, de acordo com o que é preconizadas nos Planos Nacional e Global de

Eliminação da Filariose Linfática, com o objetivo de manter a prevalência da infecção a níveis

aceitáveis.

Conclui-se que, o bairro avaliado está situado em área não endêmica de baixa

transmissão, pois através deste estudo confirmamos técnica mais sensível do que a utilizada

de rotina no município, o que permitiu um diagnóstico mais preciso, conferindo assim uma

maior fidedignidade ao resultado alcançado.

RECOMENDAÇÕES

Após análise dos dados obtidos durante o desenvolvimento deste trabalho,

observou-se um resultado de 100% de negatividade para casos de filariose linfática, todavia, é

possível recomendar atividades e estratégias visando alcançar um único objetivo, eliminação

da filariose linfática, pois se sabe que o município de Olinda ainda é considerado uma área

endêmica.

Realizar o teste do cartão ICT e/ou Gota Espessa a fim de detectar registros em pontos

que não são considerados endêmicos;

Dar continuidade ao tratamento coletivo das populações nas áreas endêmicas;

Inclusão de novos bairros do município de Olinda no tratamento coletivo;

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Reavaliação epidemiológica dos focos ativos e dos antigos, para verificar se houve

redução da doença nas áreas tratadas e identificar as novas ocorrências;

Dar apoio a novas pesquisas;

Realizar educação permanente para os profissionais de saúde, facilitando a

identificação de problemas e a elaboração de estratégias para a superação dos mesmos;

Criar políticas e estratégias no combate e eliminação da filariose linfática no

município de Olinda.

REFERÊNCIAS

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APÊNDICES

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APÊNDICE A – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE ESCLARECIDO (TCLE)

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Título do Projeto: AVALIAÇÃO DA INFECÇÃO FILARIAL POR WUCHERERIA BANCROFTI COM O

TESTE DO CARTÃO ICT NA POPULAÇÃO DO DISTRITO SANITÁRIO II NO MUNICÍPIO DE

OLINDA/PE __________________________________________________________________________

Pesquisador Responsável: RODRIGO CESAR ABREU DE AQUINO

_________________________________________________________________________

Instituição a que pertence o Pesquisador Responsável: FUNDAÇÃO DE ENSINO SUPERIOR DE OLINDA.

Telefones para contato: (___) ______________ - (___) ___________- (___) __________

Nome do voluntário:

__________________________________________________________________________

Idade: _____________ anos R.G.___________________

Responsável legal (quando for o caso):

R.G. Responsável legal: _________________________

O (A) Sr. (ª) está sendo convidado(a) a participar do projeto de pesquisa “AVALIAÇÃO DA

INFECÇÃO FILARIAL POR Wuchereria bancrofti COM O TESTE DO CARTÃO ICT NA POPULAÇÃO DO

DISTRITO SANITÁRIO II NO MUNICÍPIO DE OLINDA/PE, de responsabilidade do pesquisador Natália

Pereira Marques de Oliveira.

Esta pesquisa tem como objetivo verificar a prevalência da infecção filarial com o teste do cartão ICT na

população residente em bairros do Distrito Sanitário II no município de Olinda. A coleta será realizada para

obtenção de sangue capilar para realização da pesquisa de antígeno circulante de Wuchereira bancrofti pelo

cartão ICT, sendo puncionado a borda lateral do dedo anelar no paciente voluntário.O voluntariado terá como

beneficio a realização de um teste rápido e eficaz, gratuito, além de saber o resultado na hora, poderá ser tratado

ser for positivo e receberá instruções sobre o tratamento e como será realizado.Fica claro que a participação é

voluntária e que este consentimento poderá ser retirado a qualquer tempo, sem prejuízos e garantido

confidencialidade das informações geradas e a privacidade do voluntário.

Eu, __________________________________________, RG nº _____________________ declaro ter sido

informado e concordo em participar, como voluntário, do projeto de pesquisa acima descrito.

Ou

Eu, __________________________________________, RG nº _______________________, responsável legal

por ____________________________________, RG nº _____________________ declaro ter sido informado e

concordo com a sua participação, como voluntário, no projeto de pesquisa acima descrito.

OLINDA, _____ de ____________ de _______

___________________________________________________________________

Nome e assinatura do paciente ou seu responsável legal Nome e assinatura do responsável por obter o

consentimento

___________________________ _________________________________

Testemunha Testemunha

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ANEXO A – CARTA DE ANUÊNCIA

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ANEXO B – FICHA DE AUTORIZAÇÃO

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ANEXO C - FICHA DE VIGILÂNCIA EPIDEMIOLOGICA FILARIOSE

LINFÁTICA

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