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Avaliação da massificação do uso de aberturas de vidro temperado e sua influência no conforto ambiental dos seus usuários na região norte do Estado do Mato Grosso, a partir do início desta década até os dias de hoje janeiro/2013 Avaliação da massificação do uso de aberturas de vidro temperado e sua influência no conforto ambiental dos seus usuários na região norte do Estado do Mato Grosso, a partir do início desta década até os dias de hoje. Rafaela Zanirato Peterlini [email protected] Master em Arquitetura IPOG Resumo O objetivo deste artigo é constatar a massificação do uso das janelas de vidros temperado na região norte do Mato Grosso, com ênfase na cidade de Sinop. O intuito é averiguar se está acontecendo realmente essa massificação e quais os motivos que fizeram com que o projetista e o consumidor final passasse a optar por esse material como primeira opção a partir dos anos 2000. O artigo apresenta então as características bioclimáticas da área estudada e as recomendações construtivas para a mesma. No artigo se traz à tona também o panorama do uso do vidro temperado no âmbito mundial, nacional e local, relacionando o crescimento no setor vidreiro com o crescimento demográfico e no setor da construção civíl. Apresentam-se ainda os fatores chaves para uma construção sustentável, e que ofereçam conforto ambiental para os usuários para que o uso do vidro não seja desabilitado na cidade de Sinop e região. Palavras-chave: Aberturas de vidro, Conforto Ambiental, Eficiência energética 1. Introdução Hoje o uso de aberturas de vidro temperado esta sendo usada sem critérios e de forma massificada em edifícios públicos e privados no município de SINOP-MT e nas cidades próximas, que tem Sinop como a cidade pólo da região. A maioria dos usuários que adotaram este material defende seu uso pelo baixo custo em adquiri-lo, qualidade estética e baixa manutenção. Este estudo pretende questionar a eficiência energética e desconforto aos usuários, que, uma vez ocupando o imóvel tem como única alternativa de permanência o uso de aparelhos de ar-condicionado, e uso de panejamento para evitar ofuscamento excessivo devido ao excesso de luz. Ou seja, desta forma este estudo tem como objetivo avaliar o real benefício da aquisição deste material, tendo-se em vista o alto custo gerado com climatização dos ambientes e o desconforto causado pelo excesso de calor e luminosidade trazido por ele, numa região onde prevalece o clima tropical quente e úmido com temperaturas elevadas durante o ano todo. O vidro possui a vantagem de proporcionar a integração entre o exterior e o interior, o que é muito apreciado nas cidades de pequeno porte, pela própria condição da maioria dos habitantes serem provenientes do campo. Porém, proporcionar um adequado uso, possibilitando que o usuário usufrua deste material com conforto ambiental e sem gastos excessivos pelo alto consumo energético é grande missão dos profissionais da arquitetura, e compreender corretamente as possibilidades que esse material oferece é necessário para que

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Avaliação da massificação do uso de aberturas de vidro temperado e sua influência no conforto ambiental dos seus usuários

na região norte do Estado do Mato Grosso, a partir do início desta década até os dias de hoje janeiro/2013

Avaliação da massificação do uso de aberturas de vidro temperado e

sua influência no conforto ambiental dos seus usuários na região norte

do Estado do Mato Grosso, a partir do início desta década até os dias

de hoje.

Rafaela Zanirato Peterlini [email protected]

Master em Arquitetura – IPOG

Resumo

O objetivo deste artigo é constatar a massificação do uso das janelas de vidros temperado na

região norte do Mato Grosso, com ênfase na cidade de Sinop. O intuito é averiguar se está

acontecendo realmente essa massificação e quais os motivos que fizeram com que o projetista

e o consumidor final passasse a optar por esse material como primeira opção a partir dos

anos 2000. O artigo apresenta então as características bioclimáticas da área estudada e as

recomendações construtivas para a mesma. No artigo se traz à tona também o panorama do

uso do vidro temperado no âmbito mundial, nacional e local, relacionando o crescimento no

setor vidreiro com o crescimento demográfico e no setor da construção civíl. Apresentam-se

ainda os fatores chaves para uma construção sustentável, e que ofereçam conforto ambiental

para os usuários para que o uso do vidro não seja desabilitado na cidade de Sinop e região.

Palavras-chave: Aberturas de vidro, Conforto Ambiental, Eficiência energética

1. Introdução

Hoje o uso de aberturas de vidro temperado esta sendo usada sem critérios e de forma

massificada em edifícios públicos e privados no município de SINOP-MT e nas cidades

próximas, que tem Sinop como a cidade pólo da região.

A maioria dos usuários que adotaram este material defende seu uso pelo baixo custo em

adquiri-lo, qualidade estética e baixa manutenção. Este estudo pretende questionar a eficiência

energética e desconforto aos usuários, que, uma vez ocupando o imóvel tem como única

alternativa de permanência o uso de aparelhos de ar-condicionado, e uso de panejamento para

evitar ofuscamento excessivo devido ao excesso de luz. Ou seja, desta forma este estudo tem

como objetivo avaliar o real benefício da aquisição deste material, tendo-se em vista o alto

custo gerado com climatização dos ambientes e o desconforto causado pelo excesso de calor e

luminosidade trazido por ele, numa região onde prevalece o clima tropical quente e úmido

com temperaturas elevadas durante o ano todo.

O vidro possui a vantagem de proporcionar a integração entre o exterior e o interior, o que é

muito apreciado nas cidades de pequeno porte, pela própria condição da maioria dos

habitantes serem provenientes do campo. Porém, proporcionar um adequado uso,

possibilitando que o usuário usufrua deste material com conforto ambiental e sem gastos

excessivos pelo alto consumo energético é grande missão dos profissionais da arquitetura, e

compreender corretamente as possibilidades que esse material oferece é necessário para que

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este produto seja visto, por todos, como uma alternativa eficiente em todos os sentidos.

Seja com objetivo de validar o uso do vidro temperado, como melhor opção de aberturas, ou

dar alternativas eficientes para não descredenciá-lo como alternativa eficaz para o conforto

dos usuários e boa eficiência energética, este estudo é recomendável para arquitetos e

engenheiros civís que trabalhem especificando materiais em obras públicas e privadas, seja

para imóveis de comercialização imobiliária como para clientes particulares no município de

Sinop e região.

2. Conceituação

Metodologia

Para constatar a massificação do uso de aberturas de vidro temperado foi feito uma avaliação

no Residencial Aquarela Brasil, na cidade de Sinop. Esse levantamento foi feito através da

contabilização do número de residências que lançaram mão do uso de esquadrias de vidro

temperado e de outros materiais alternativos.

De maneira a colher mais informações sobre o crescimento da escolha deste material foram

feitas entrevistas com gerente de indústria transformadora, bem como fornecedores de

aberturas de vidro temperado e de outros materiais alternativos, como madeira e alumínio.

Para isso avaliou-se o crescimento das vendas de cada um desses materiais, relacionado ao

crescimento da Indústria da Construção Civil no Mato Grosso, bem como fazer a relação da

variação do custo desses materiais para relacionar essa relação custo-benefício com a

massificação do uso do vidro. Este levantamento, adicionado a avaliação da proporção entre o

número de residências que utilizaram aberturas de vidro temperado e as que utilizaram

madeira, pvc, alumínio ou outros materiais alternativos, tem como objetivo constatar se, de

fato, o uso das aberturas de vidro temperado tem sido considerada como primeira alternativa

de material de fechamento para as construções de padrão médio e alto na nossa região.

Caracterização da área de estudo

Sinop está localizada no noroeste da região Centro-Oeste do Brasil, no Norte Mato-grossense,

na Microrregião de Sinop. Localiza-se na latitude de 11º50‟53” Sul e longitude de

55°38‟57” Oeste.

Figura 1: Localização Sinop no Brasil

Fonte: http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Sinop_in_Brazil.png

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Cerca de três meses ano ano são de seca contínua e a precipitação anual de 2.500 mm.

Temperatura média anual de 24ºC (entre 40ºC e a mínima abaixo de 20ºC).

Segundo Alves e Silva (2010) o clima da região segundo classificação climática de

KöppenGeiger é o tropical chuvoso, quente e úmido. A região possui estações bem definidas,

sendo uma seca (junho a agosto), uma seca-úmida (setembro a novembro), uma úmida

(dezembro a fevereiro), e uma úmida-seca (março a maio).

Alves e Silva (2010) constataram também que as direções predominantes do vento na região

de transição Floresta Amazônica e Cerrado são sul-sudeste e sul-sudoeste, dado extremamente

importante a ser utilizado nas recomendações construtivas em relação a ventilação cruzada.

Os autores observaram ainda que não há uma predominância na direção do vento para os

horários de 8h, 14h e 20h, porém a velocidade do vento tende a aumentar no decorrer do dia e

diminuir no período noturno.

A Figura da Carta Solar mostra que a inscidência solar nos meses de maio a agosto, tem uma

inclinação que chega a 55%, demonstrando que a preocupação dos projetistas, da nossa

região, não podem ser apenas relacionadas a fachada Leste e Oeste, mas também a fachada

Norte.

Figura 2 – Carta Solar aplicada ao município de Sinop

Fonte: www.labeee.ufsc.com.br/softwares

Diretrizes construtivas para o município de Sinop

Segundo o Zoneamento Bioclimático brasileiro, da ABNT - NBR15220-3 / 2005, Sinop está

situada na Zona Bioclimática 8, conforme figuras abaixo:

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Figura 3: Zoneamento Bioclimático brasileiro

Fonte: NBR15220-3 / 2005

Figura 4: Zoneamento Bioclimático 8

Fonte: NBR15220-3 / 2005

Para essa região as recomendações da ABNT (2005) são as seguintes:

a) Aberturas Grandes, com área maior que 40% em relação a área do piso, e a estratégia de

sombreamento é sombrear as aberturas.

b) A estratégia de condicionamento Térmico Passivo para Sinop é a ventilação cruzada

permanente.

c) Os tipos de vedação indicados pela norma para a zona climática 8 são: Parede e cobertura

leves e refletoras.

3. O vidro na arquitetura

O emprego do vidro na história da civilização está presente desde os primeiros registros

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históricos. A invenção dos vidros é atribuída aos fenícios, por volta de 7.000 a.C., e sua

descoberta teria ocorrido por acaso. Alguns fenícios, ao desembarcarem na costa da Síria,

montaram acampamento e improvisaram um fogão sobre a areia com blocos construídos em

"pedras" de carbonato de cálcio sobre a areia de uma praia. Observaram que, após sofrer a

ação do calor durante toda a noite, formou-se no local um líquido transparente que se

solidificou (ALVES et al., 2001).

Em 1851, Joseph Paxton, projetou e construiu o Palácio de Cristal para a Exposição Universal

de Londres, que apresentava uma idéia revolucionária por empregar materiais e técnicas da

construção utilitária para erguer um edifício representativo, e fazer arquitetura com os

procedimentos da engenharia. A partir daí, o vidro, bem como o aço e o concreto, se tornou

um dos elementos da arquitetura funcional, a transparência total dos edifícios se tornou um

ideal da época, mas , mas como explica Mahfuz em Omar (2011) “logo ficou claro que

mesmo em climas frios, uma fachada não pode ser reduzida a uma mera lâmina de vidro”. Os

fatores ambientais como temperatura, umidade e excesso de luminosidade levaram à adoção

de elementos de proteção dos planos envidraçados das fachadas modernistas. O elemento que

foi introduzido na arquitetura com este propósito por Le Corbusier, foi o brise-soleil, ou

quebra-sol. Mas foi apenas com o domínio dos sistemas de climatização e dos vidros

complexos que as fachadas envidraçadas tiveram sucesso e se tornaram simbolo de

modernidade no hemisfério Norte. “Após a II Grande Guerra, com o avanço da tecnologia e a oferta de combustíveis

baratos, aliado à crença de que a tecnologia resolveria qualquer problema de

controle ambiental, a arquitetura passou a repetir em parte significativa do planeta o

que foi denominado de Internacional Style, desconsiderando-se as condições

climáticas locais e o consumo energético para torná-las habitáveis (GONÇALVES;

DUARTE, in OMAR, 2011).”

A partir de 1920 um grupo de profissionais como Warchavchik, Lúcio Costa, Oscar

Niemeyer, Rino Levi, Sérgio Bernardes e Villanova Artigas e outros introduziram na

arquitetura brasileira as ideias e as formas da arquitetura modernista europeia e norte-

americana de Walter Gropius, Mies van der Rohe, Le Corbusier, Frank Lloyd Wright.

O Ministério da Educação e Saúde no Rio Janeiro, construído em 1936, Lúcio Costa e Oscar

Niemeyer foi o primeiro edifício com fachada envidraçada protegido por brises soleil no

Brasil, e a partir das décadas de 1940 e 1950, intensifica-se o uso no Brasil sob pressão

interna da modernização urbano-industrial do Brasil.

O Brasil, pelo caráter simbólico de modernidade associado às características estéticas do

vidro, importou esse modelo de arquitetura modernista, mesmo tendo características

climáticas diferentes. Daí surgiram os prédios “estufas” por todo o país, sem levar em conta o

desempenho térmico e energético, e muito menos o desconforto causado aos usuários, que,

para manterem o nível de conforto satisfatório lançam mão de investimentos elevados em

sistemas de climatização e iluminação, que consomem muita energia elétrica e gastos com

manutenção e operação, como explica Omar (2011).

A indústria moderna do vidro surgiu com a revolução industrial e a mecanização dos

processos. Em 1959, o proprietário de uma fábrica de vidro na Inglaterra, o Sr. Pilkington,

desenvolveu um processo revolucionário para a produção do vidro plano, o float-glass,

conhecido também como cristal (ABRAVIDRO, 2012), o que difundiu ainda mais o uso de

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vidro no mundo todo, inclusive no Brasil.

Omar (2011) observa ainda que em Cuiabá, através das construções mais recentes, que os

modelos de arquitetura adotados por projetistas, construtores e clientes como referência

continuam sendo importados de outros centros, por vezes com características climáticas e

culturais muito diferentes das locais, oriundas de locais frios podem trazer problemas

ambientais, apesar de terem sido adotadas como símbolos do progresso cultural.

Sinop fez parte do projeto de colonização da Sociedade Imobiliária Noroeste do Paraná, do

Comendador Ênio Pepino, nos anos 70. Foi fundada oficialmente em 1974, e mesmo com

muita dificuldade, houve um fluxo migratório muito grande do interior do Paraná e dos outros

Estados da Região Sul do Brasil. Com os imigrantes vieram também os costumes sulistas e as

características construtiva das obras de arquitetura também provinham de regiões frias.

Consumo energético x Arquitetura Bioclimática

Omar (2011), em seu estudo, atesta que o consumo de energia elétrica no Brasil por

edificações residenciais, comerciais e públicas corresponde a 44,67% do total de energia

elétrica gerada e parte expressiva desse consumo é gerada por sistemas de climatização e

iluminação.

Toda essa energia elétrica requerida demonstra mostra que só é possível importar o modelo de

arquitetura Européia para o Brasil se existir conforto ambiental aos usuários. Esse modelo de

edificação começou a ser contestado na década de 70, quando em resposta à crise do petróleo

vivenciada no período, alguns países europeus, Japão, Estados Unidos e Canadá vêm

desenvolvendo políticas e programas de conservação de energia elétrica.

No Brasil, desde 2001, com a promulgação da Lei n° 10.295, que dispõe sobre a Política

Nacional de Conservação e Uso Racional de Energia e o Decreto n° 4059 de 19 de dezembro

de 2001 (BRASIL, 2001a, 2001b in OMAR, 2011), procura-se estabelecer níveis máximos de

consumo para máquinas e aparelhos consumidores de energia comercializados no Brasil.

Neste decreto foi criado o Grupo Técnico para Eficientização de Energia nas Edificações, GT-

Edificações, que visa ao uso racional da energia elétrica nas edificações. Com a finalidade de

criar bases necessárias para racionalizar o consumo de energia, o GT- edificações criou o

Procel Edifica.

A publicação dessas normativas, as pesquisas de fontes alternativas de energia, o

desenvolvimento de produtos mais eficientes, objetivam, em ultima instância, a otimização do

desempenho energético das edificações residenciais, comerciais e públicas. Os arquitetos e

engenheiros tem em suas mãos a grande responsabilidade de poder resolver grande parte

desses problemas de desempenho térmico e conforto ambiental através de uma arquitetura

bioclimática, que pode ser um instrumento mediador entre o clima externo e o interno.

4. A massificação do uso do vidro

Panorama Internacional da Produção Mundial de Vidro A indústria moderna do vidro surgiu com a revolução industrial e a mecanização dos processos.

Em 1959, o proprietário de uma fábrica de vidro na Inglaterra, o Sr. Pilkington, desenvolveu um

processo revolucionário para a produção do vidro plano, o float-glass, conhecido também como

cristal (OMAR, 2011). Depois do float glass a indústria do vidro plano ascendeu a outro nível de

desempenho técnico e econômico e o vidro ganhou qualidade muito superior àquela possibilitada

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pelos sistemas anteriores de produção (PILKINGTON, 2012).

Segundo Barroso et al (2007) a introdução do processo float, em substituição ao processo

tradicional de estiragem, acarretou mudanças significativas na estrutura de oferta de vidro

plano, uma vez que a necessidade de desenvolvimento tecnológico e de aportes financeiros

levou ao aprofundamento de uma estrutura concentrada e oligopolizada, em lugar da situação

de um número relativamente grande de produtores com diferentes escalas de produção, que

prevalecia anteriormente.

Até o início da década de 1990, quatro empresas (Pilkington, Saint-Gobain, Guardian e

Asahi) detinham o controle integral do mercado mundial de vidro plano, graças ao domínio do

direito de produção de vidro pelo processo float. Apesar da passagem para domínio público da

produção através dessa tecnologia, as novas empresas que ingressaram nesse mercado

(particularmente as chinesas) não conseguiram ainda atingir a produtividade adquirida pelas

quatro principais produtoras mundiais.

Na construção civil, os principais demandantes de vidro plano são os transformadores, que

transformam o vidro bruto em produto final, e os grandes distribuidores, que fazem a ligação

com as pequenas vidraçarias espalhadas por todo o país. Em 2005, o consumo mundial de

vidro plano foi de aproximadamente 41 milhões de toneladas (cerca de 5 bilhões de m2). A

construção civil (porta, janelas e fachadas) respondeu por 70% das vendas (BARROSO et al,

2007).

Aspectos que alteram a demanda no mercado de vidro– Panorama Nacional

De modo geral, o setor vidreiro no Brasil é voltado ao atendimento do consumo interno e,

similarmente ao que ocorre no mercado mundial, a oferta também é concentrada em poucas

empresas, a maioria sob controle estrangeiro. Uma comparação feita em 2007, pelo BNDS

por Barroso et al (2007), comparativamente ao ano de 1996, diz que a capacidade instalada do

setor apresentou uma evolução de aproximadamente 55%, sendo que os principais aumentos

de capacidade ocorreram na fabricação de vidro plano (125%).

Esse aumento se deve ao crescimento da demanda na indústria da construção civil brasileira,

dado o déficit habitacional do país na última década e a perspectiva de melhoria de renda da

população. Uma sinalização dessa expectativa é a sintonia do mercado nacional com a

tendência mundial, já que é possível observar um aumento no consumo brasileiro de vidro

plano nos últimos anos, principalmente dos vidros laminados, temperados e refletivos.

Até 1998, a produção de vidro float no Brasil era domínio de uma única empresa, a Cebrace,

uma joint-venture que utiliza, em partes iguais, a tecnologia de fabricação desenvolvida pelos

grupos Pilkington e Saint-Gobain (BARROSO et al, 2007). Basicamente, hoje o Brasil tem

quatro indústrias de fornecimento vidreiro nacional: Cebrace, Guardian, UBV e Saint-Gobain.

Produtoras de vidros float e impresso, essas empresas são responsáveis pela fabricação de

1.800 toneladas de vidro por dia (ABRAVIDRO, 2012). Em 2011, o grupo japonês AGC

(Asahi Glass Company), um dos principais fabricantes do material no mundo, anunciou a

construção de uma unidade de produção na cidade de Guaratinguetá, em São Paulo.

O fato de empresas fabricantes de vidro terem se instalado no Brasil contribuiu para a queda

de preços do produto, facilitando o acesso ao consumidor, porém outro fator que pode ter

contribuído muito com a queda de preços no Brasil o grande aumento na oferta de gás, tanto o

proveniente da produção interna quanto o importado da Bolívia. Segundo BARROSO et al

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(2007) a fabricação de vidro pode ser classificada como intensiva em energia, considerando-

se que consome, por tonelada, cerca de 1,8 milhão de kcal de energia térmica na fusão (o que

equivale a cerca de 200 m3 de gás) e cerca de 200 kWh/t de energia elétrica em outras etapas

do processo. A energia térmica obtida para a fabricação do vidro era, tradicionalmente, do

óleo combustível. Em meados da década de 1990, no entanto, teve início a substituição do

óleo por gás natural. É mesmo possível dizer que a utilização do gás pelas indústrias

brasileiras foi estimulada pelos órgãos governamentais ligados à energia, em particular a

partir de 1995, quando foi assinado o acordo final referente ao gasoduto Brasil-Bolívia

(BARROSO et al, 2007)

A atividade com grande demanda reprimida no Brasil e que cresceu de forma muito acentuada

nos últimos anos, foi impulsionada também, pelo aumento na disponibilidade do crédito

imobiliário. Segundo assessoria de imprensa da Caixa Econômica Federal, o número de

financiamentos no Brasil teve um aumento de 650% de 2007 a 2011. Percebe-se então que a

demanda pelo vidro plano na construção é não apenas elevada como crescente, pelo menos

enquanto perdurarem as ações do Governo brasileiro que estimulam a Construção Cívil.

Porém, em entrevista para a Revista O vidro Plano, os diretores-executivos da Cebrace

afirmam que hoje, a China representa cerca de 50% da produção mundial de vidro e pode ser

um complicador para a colocação de novas produções dentro do Brasil. Segundo eles, está

havendo uma expansão, das importações do float básico para o processado, o que deverá

acarretar numa mudança ainda muito maior nesse panorama no Brasil, já que perderão

também as indústrias transformadoras do material no país. Nesse contexto, segundo os

diretores da Cebrace as ações do governo não foram suficientes ainda para parar o processo de

desindustrialização que foi claro no primeiro trimestre de 2012 e nos últimos meses de 2011,

que acarretará certamente numa espiral de decréscimo de preços para o cliente ainda maior.

Panorama Local: relacionado à massificação do uso do vidro Se no Brasil, o setor da construção civil nos últimos 5 anos teve um crescimento acelerado, o

Estado do Mato Grosso teve uma expansão ainda maior. Segundo assessoria de imprensa da

Caixa Econômica Federal, o crescimento do número de financiamentos imobiliários de 2007

a 2011 teve um aumento de 950%, cerca de 17.000 novas unidades habitacionais foram

financiadas neste período, ou seja, um crescimento aproximadamente 50% maior que o

crescimento do número de financiamentos imobiliários do Brasil, que foi de 650%, no mesmo

período. O número de trabalhadores com carteira assinada também cresceu

consideravelmente, segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados

(CAGED) em 2006, 19.136 trabalhadores estavam registrados no setor da construção civil,

em 2011 esse número subiu para 49.361 trabalhadores.

Dentro desse panorama de aceleração da construção civil o setor vidreiro teve um

crescimento ainda maior. Segundo o Sr. Leandro Penna, Gerente Comercial da Blindex em

Sinop, antes de 1999 não haviam indústrias transformadoras do vidro plano comum em vidro

temperado, os vidros temperados vinham da Pilkington/Blindex de São Paulo e demoravam

cerca de 45 dias para ser instalados na capital. Neste período o consumo de vidros no Estado

era de cerca de 100 toneladas/mês. A Guaporé Vidros foi a pioneira no Estado a ter um forno

de têmpera modelo vertical. Leandro Penna constatou que “no ano de 2002 ja existiam no

mercado matogrossense dois fornos de têmpera, o que fez com que os prazos de entrega

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diminuíssem para no máximo 15 dias, neste ano o consumo havia aumentado para 200

toneladas/mês, no ano seguinte a Guaporé Vidros adquiriu a franquia Blindex, e o aumento

chegou a 50% até o ano de 2005.” Segundo Penna, até 2005 não havia a concorrência com os

produtos chineses e mexicanos, e toda a produção nacional estavam sob o domínio de duas

indústrias: Cebrace e Guardian. “A partir da entrada de vidros importados as indústrias

nacionais reduziram seus preços, tornando mais acessíveis a todas as classe sociais. Hoje

juntas todas as indústria de transformação no Estado do Mato Grosso atendem a um consumo

de 500 toneladas de vidro/mês.”, diz Penna.

Sinop, dentro do contexto de cidade pólo da região norte-matogrossense, oferecendo serviços

para até 30 municípios circundantes, mostrou que o crescimento no setor da construção civil

superou o crescimento do Estado. Segundo dados da Secretaria de Indústria e Comércio, em

2009 foram expedidos alvarás de construção relativos a 207.784,50 m2 , no ano de 2011,

foram 413.649,90 m2. É visível nos anos recentes o movimento que há no setor da construção

no país, porém a cidade de Sinop pode perceber esse avanço estimulado por outras motivos, e

um deles é pela sua política desenvolvimentista, que através da Lei de incentivos às empresas,

alia incentivos como doação de terrenos para a implantação de indústrias com isenção de

impostos para as mesmas, além de isenção de ITBI (Imposto de Transição de Bens Imóveis) e

cobrança de taxa de alvará de construção. O crescimento do número de indústrias instaladas

aumenta a oferta de empregos, o que atrai novos moradores e consequentemente a demanda

por imóveis, que faz crescer o setor da construção civil. Segundo o IBGE, no ano de 2000 a

população de Sinop era de 55.274 pessoas, no ano de 2010, o IBGE registrou 113.099.

O consumo de vidros em Sinop também acompanhou o crescimento do setor da construção

civil, em 2002, segundo dados do Sindicato do Comérico de Sinop haviam apenas 04

empresas em Sinop que forneciam e instalavam aberturas de vidro temperado. No ano de

2011 foram contabilizadas 11 empresas registradas legalmente. Lincoln Mendes, proprietário

da Vidrolight Comercial Ltda, empresa cadastrada pela Blindex, que vende e instala aberturas

de vidro temperado diretamente ao consumidor final, afirmou em entrevista que em 2002 a

empresa tinha apenas 3 funcionários, 10 anos depois a empresa passou a contar com 17

funcionários. Segundo ele, o crecimento no consumo do vidro per capita se deve a queda do

preço do vidro nos últimos anos, impulsionada pela presença de indústrias transformadoras no

Estado e pela concorrência com os produtos chineses (e outros importados). Segundo Mendes,

em 2002, a chapa de vidro temperado 10mm custava 90 R$/m2, cerca de 45 % do salário

mínimo vigente na época, que era de 200 R$. No ano de 2012, o mesmo material está sendo

comercializado por 190,00 R$, cerca de 30% do valor do salário mínimo vigente, que é de

622 R$. Outro índice de comparação é sobre o valor do Custo Médio por m2 feito pelo IBGE,

segundo esse índice em abril de 2002 o valor do Custo Médio da construção era de R$ 361,17

, em abril desse ano o valor registrado foi de R$ 824,81, aumento foi de 130 %, contra apenas

110% no aumento do preço do vidro.

Em contrapartida, o crescimento do setor da construção civil na cidade não impulsionou na

mesma ordem o consumo por esquadrias de madeira, alumínio ou outros materiais

alternativos (como PVC e ferro), em entrevista com a Sr. Leila Pianoski, proprietária e

diretora da Madeiras Pianoski, empresa que fabrica e instala esquadrias de madeira em Sinop

a mais de 18 anos, a mesma relatou que houve uma queda muito grande nas vendas de

aberturas de madeira, o que levou a uma mudança de foco da empresa, que hoje é voltada para

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a fabricação de móveis, estruturas de madeira, painéis e decks. Em 2001 a empresa contava

com 22 funcionários, e toda a produção da empresa era voltada para a fabricação de portas e

janelas, hoje, relata, apenas 06 dos seus 58 funcionários trabalham na fabricação de

esquadrias, sendo que a sua produção de aberturas se voltou praticamente a fabricação de

portas.”Raramente recebemos um pedido de fabricação de janelas.”, relata a diretora. Segundo

ela, ao tentar prospectar novos clientes para a fabricação de esquadrias recebe queixas de que

a madeira não é tão prática quanto as de vidro temperado, pois exige manutenção e repintura.

Deve ser considerado também a relação de custo entre os materiais, atualmente uma janela de

madeira com veneziana no tamanho 1,20 x 2,00 custa R$ 1170,00, exigindo ainda a pintura e

a colocação dos vidros comuns internos do caixilho (orçamento elaborado pela Madeiras

Pianoski), enquanto que uma esquadria de vidro temperado do mesmo tamanho pode ser

adquirida por R$ 580,00 (orçamento elaborado pela Vidrolight Comércio Ltda.). Segundo o

Sindicato do Comércio de Sinop, apenas 2 empresas extão registradas como fabricantes de

aberturas de madeira em Sinop.

Análise do Levantamento no Residencial Aquarela Brasil

Com o intuito de averiguar a queda do consumo das esquadrias de madeira, artigo muito

usado até os anos 2000 e o aumento do consumo de esquadrias de vidro temperado na cidade,

foi feito um levantamento no Residencial Aquarela Brasil.

O local foi escolhido por ser um bairro residencial novo, que iniciou suas obras a partir do ano

de 2005, refletindo a escolha do material a partir dessa década. Vale salientar que os

moradores do Residencial Aquarela Brasil são, em sua grande maioria das classes A e B.

Averiguou-se com algumas residências com alto padrão de acabamento, e tamanho

avantajado, indicando que vivem ali inclusive pessoas da classe A+. Ou seja, residências de

alto padrão que demonstram pertencer a usuários de poder aquisitivo maior, capazes de

investir mais na construção de suas moradias para fins de conforto ambiental, caso tivessem

conhecimento do desconforto causado pelo vidro em contato direto com a incidência de calor

externo.

Tipos de Edificações e aberturas utilizadas Unidades %

Edificações com aberturas de vidro temperado 99 84%

Edificações com aberturas em madeira 5 4%

Edificações com aberturas em alumínio 5 4%

Edificações com aberturas em ferro 3 3%

Edificações com muros fechados (onde não foi constatada qual

abertura utiliza) 6 5%

TOTAL 118 100%

Fonte: Arquivo Pessoal, 2012

Tabela 1 – Edificações do Residencial Aquarela Brasil em relação ao tipo de abertura utilizada

Neste levantamento foram contabilizadas todas as residências já concluídas e as obras em que

as aberturas já começaram a ser instaladas. Constatou-se que 84% das edificações lançaram

mão do vidro temperado, mesmo nos ambientes em que a abertura está posicionada

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diretamente nas faces Leste e Oeste, onde a incidência do sol é direta. Nos diversos

condomínios residenciais internos, composto de casas para venda ou locação, foi constatado

100% de uso de aberturas de vidro temperado. Percebe-se ainda, em alguns casos, que não

houve nenhum estudo de orientação solar ou de sombreamento, conforme os exemplos

abaixo.

Figura 5 – Residência com fachada principal voltada para o Oeste – Res. Aquarela Brasil

Fonte: Arquivo pessoal, 2012

Figura 6 – Residência com fachada principal voltada para o Leste - Res. Aquarela Brasil

Fonte: Arquivo pessoal, 2012

O levantamento do consumo expressivo no Residencial Aquarela Brasil, bem como as

entrevistas com fornecedores e fabricantes de aberturas de vidro temperado e madeira,

demonstra que as aberturas de vidro temperado estão sendo utilizadas em grande escala na

cidade de Sinop, levando-se em conta o custo para adquirir o material, sua facilidade de

manutenção e limpeza, e sua estética que confere “ares de modernidade” à edificação, sem

que esteja havendo uma avaliação do conforto ambiental que o material oferece, bem como

do elevado custo com a instalação e uso de sistemas de climatização e iluminação e

panejamento eficiente para diminuir o calor incidente e a luminosidade desconfortante.

5. O vidro: desempenho térmico e eficiência energética

O vidro pode ser definido como o produto amorfo resultante da fusão e posterior solidificação

de uma mistura de materiais inorgânicos. As matérias-primas mais comuns são sílica,

barrilha,calcário e alumina (BARROSO et al, 2007)

As principais características do vidro que estimulam a sua utilização nas edificações são:a sua

transparência, o que é fundamental para a transmição de luminosidade e a interação entre

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exterior e interior e a possibilidade de reciclagem, o que confere características de

sustentabilidade ao material, já que os cacos de vidro podem ser usados como insumo na

produção de novos artigos.

Segundo Barroso et al (2007), os diferentes segmentos que constituem a indústria de vidro

podem ser identificados, conforme o seu uso final, em vidro plano, vidro oco, muito utilizado

para embalagens e utensílios domésticos, e os vidros especiais, utilizado uso para monitores,

equipamentos, iluminação, etc... Esse estudo se concentrará nos vidros planos, que são usados

basicamente na construção civil e nas indústrias automobilística e moveleira. É importante

que o projetista conheça os diversos tipos de material, e suas caraterísticas para que o mesmo

especifique produtos que ofereçam não somente a melhor característica estética, mas também

que tenha um bom desempenho térmico, luminoso e sustentável.

O vidro plano, também denominado de vidro float, possui espessura uniforme e massa

homogênea. Pode ser transparente, incolor ou colorido. Este vidro não apresenta distorção

óptica, e possui alta transmissão de luz. É também utilizado como matéria-prima para

processamento de todos os demais tipos de vidros utilizados na construção civil, pode ser:

laminado, temperado, curvo, serigrafado e utilizado em duplo envidraçamento (CEBRACE,

2012). Os diferentes segmentos que constituem a indústria de vidro plano podem ser

identificados sobre a seguinte classificação:

• Impresso: também conhecido como “vidro fantasia”, tem a característica de ser um vidro

plano translúcido, incolor ou colorido, que recebe a impressão de padrões como martelado,

miniboreal, canelado e outros desenhos ornamentais (CEBRACE, 2012);

• Temperado : O processo da têmpera consiste em submeter o vidro plano ou impresso a um

tratamento térmico, no qual é aquecido e resfriado rapidamente, o que o torna mais rígido e

mais resistente à quebra (CARAM, 1998). O vidro é temperado, em caso de quebra, apresenta

pontas e bordas menos cortantes, fragmentando-se em pequenos pedaços arredondados. Esse

vidro tem seu uso massificado pelo baixo custo e alta resistência a impactos;

• Blindados;

• Laminado: resultado da conjugação de duas ou mais placas de vidro intercaladas por uma

película plástica PVB (Polivinil Butiral) incolor ou colorida, de grande resistência aos

principais tipos de esforços físicos e mecânicos a que o vidro pode ser submetido (OMAR,

2011);

• Refletivo ou metalizado: No processo de metalização os vidros planos recebem a aplicação

de uma camada metálica, composta por óxidos em uma de suas superfícies. Esses óxidos

atribuem ao vidro desempenhos diferenciados quanto ao controle solar de transmissão,

reflexão e de calor (OMAR, 2011);

• Duplo ou insulado: Com caixilhos duplos ou triplos com inserção de gás inerte em seu

interior(insuflados). Também é chamado de vidro termoacústico, pois, dependendo da sua

composição, pode oferecer isolamento térmico e isolamento acústico.(BARROSO et al,

2007);

• Aramado: composto por uma tela metálica queoferece maior resistência a perfuração e

proteção, pois, em caso de quebra, os cacos ficam presos na tela, diminuindo o risco de

ferimentos.

Fatores de desempenho energético

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Segundo Caram (1998) os principais fatores que devem ser considerados na avaliação do

desempenho energético dos vidros frente à radiação solar são:

a) Fator Solar : serve para caracterizar um determinado material, ou seja, através dele

determina-se a quantidade de energia que atravessa o material, chegando ao interior do

ambiente, quanto maior o fator solar, maior a quantidade de energia transmitida.

b) Coeficiente de Sombreamento: definido como o quociente entre o fator solar de um

componente transparente ou translúcido estudado e o fator solar de um vidro plano incolor

de 3 mm de espessura (ABNT NBR 15220-1/2005).

c) Coeficiente de Admissão Solar: O valor U mede a transferência de calor através do vidro

pelos efeitos de condução, convecção e radiação

d) Emissividade: Quanto menor a emissividade, menor é a transferência de calor por radiação.

A emissividade de um vidro pode variar de 0,84 a 0,1 para vidros revestidos por uma

camada de baixa emissividade.

É importante que o projetista observe nos catálogos técnicos, disponibilizados pelos principais

fabricantes de vidro, o Fator Solar para cada tipo de material produzido por eles, antes de

especificar as aberturas de vidro.

Consumo Energético

De acordo com Carlo e Lamberts em Omar (2011), a avaliação segundo os critérios do RTQ-

C (Regulamento técnico da qualidade do nível de eficiência energética de edifícios

comerciais, de serviços e públicos), o parâmetro de referência de avaliação do consumo

energético anual para uma edificação nível A é de 93,00 kWh/m². Ainda de acordo com os

autores, para este tipo de edificação, os sistemas de condicionamento de ar são responsáveis

por 41,4 kWh/m² (44,51%), iluminação por 28,1 kWh/m² (30,21%) e 21,3 kWh/m² (22,90%)

para equipamentos e 2,2 kWh/m² (2,38%) para ventilação e aquecimento (OMAR, 2011),

ilustrado na Figura 5.

Figura 7- Distribuição do consume energético segundo o RTQ-C, nível A

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Omar (2011, pg.128), em seu trabalho que avalia, através de medições in loco e simulações

computacionais a influência do vidro como material utilizado na envoltória de uma

edificação, no tocante ao desempenho energético e ao conforto ambiental em um prédio

público de escritórios, localizado na cidade de Cuiabá/MT, constata que o sistema mais eletro

intensivo é o de condicionamento de ar, que representa 79% da energia total consumida. A

iluminação é responsável pelo consumo de apenas 11% e os equipamentos por 10%. O

edifício objeto de estudo foi escolhido pela adoção de vidros na envoltória da edificação, as

chamadas „cortinas de vidro‟.

Comparando o consumo energético obtido para a edificação do TRT com o modelo do RTQ-

C, chama a atenção o consumo elevado do sistema de condicionamento de ar. A iluminação e

os equipamentos apresentaram um consumo inferior ao recomendado, segundo o modelo do

RTQ-C.

O consumo energético do sistema de condicionamento de ar está relacionado diretamente às

características da edificação, ao clima do local, à orientação geográfica, sombreamento e,

principalmente, dos materiais utilizados na envoltória em termos de área envidraçada e o fator

solar dos vidros.

A simples comparação com trabalhos em localidades com clima diferente, pode conduzir a

conclusões imprecisas. Porém, ainda que o estudos de Omar (2011) tenham sido feitos em

Cuiabá, cuja Zona Bioclimática é 7, as recomendações da NBR15220-3 / 2005 são bem

semelhantes as de Sinop, que pertende a Zona Bioclimática 8, portanto chama atenção o

consumo elevado do sistema de condicionamento de ar no edifício estudado por Omar (2011)

com envoltória de vidro.

Conforto Térmico

O conforto térmico do usuário é tão pouco considerado quanto o consumo energético dos

sistemas de condicionamento de ar, que são necessários para que o uso do vidro nas fachadas

se torne possível para um nível satisfatório de conforto do usuário.

Omar (2011), ainda em seu estudo para a edificação do TRT, simulou quatro opções para a

redução dos ganhos térmicos pelas áreas de vidro das fachadas, o uso de 02 tipos vidro duplo

azul, com diferentes fatores solar, uso de persiana rolô branca e a redução de 50% da fachada

de vidro e observou que as 03 primeiras opções tiveram ganhos semelhantes e no caso do uso

de persianas, seria preciso atentar-se também para o aumento do consumo de energia elétrica

para compensar a não utilização de luz natural. A alternativa mais atrativa foi a que

contemplou a redução da taxa de vidro da fachada para 50%, que se traduz em maior redução

do ganho de calor interno em qualquer época considerada.

Segundo a ASHRAE em Omar (2011) os índices Predicted Mean Vote, PMV, e o Predicted

Percetage Dissatisfied, PPD, são adotados pela norma ISO 7730/2005 e são amplamente

aceitos para uso em projetos e avaliações das condições de conforto em ambientes internos,

principalmente escritórios e residências, desde que sejam observados alguns limites para as

condições ambientais e humanas. O PMV é válido para prever as reações de conforto térmico

de pessoas vestidas normalmente com trajes comuns para ambientes internos e que estejam

desenvolvendo atividades sedentárias de níveis metabólicos baixos ou moderados, em

ambientes em estado estacionário (ISO 7730/2005). Omar faz ainda uma comparação no

estudo de caso acima citado usando os índices pmv e ppd, e avalia que nas situações mais

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na região norte do Estado do Mato Grosso, a partir do início desta década até os dias de hoje janeiro/2013

críticas de horário do edifício estudado, os valores obtidos para o índice do PMV e para o

PPD, estão muito além dos limites estabelecidos para assegurar um nível de conforto mínimo,

conforme preceitua a ISO 7730/2005 e conclui que a comparação entre os índices obtidos,

com e sem o condicionamento do ar, permite concluir que o uso do condicionamento do ar

nem sempre altera as condições do ambiente o suficiente para torná-lo termicamente aceitável

para a ocupação em todos os períodos do dia, posto que o edifício estudado pela autora tem

uma fachada de vidro muito extensa, sem sombreamento e que recebe emissão de calor

durante todos os períodos do dia.

6. O uso do vidro como envoltório das fachadas

A envoltória de uma edificação, também chamada de “pele”, deve atuar como um

filtro entre as condições internas e externas, servindo de controle para a entrada de

ar, calor, frio, luz, ruídos e odores (OLGAY in OMAR, 2011).

Num projeto arquitetônico o projetista pode reduzir o ganho solar através de aberturas

utilizando quatro opções: tamanho e orientação das aberturas; uso de proteções internas

(cortinas ou persianas); vidros especiais e proteções solares externas (KOENIGSBERGER et

al in OMAR, 1977).

Alguns fatores são determinantes para possibilitar o uso do vidro de forma a oferecer nível

satisfatório de conforto ao usuário e eficiente sob o ponto de vista da eficiência energética, o

desenvolvimento e a pesquisa na área de novos materiais têm proporcionado opções de tipos

de sistemas envidraçados que contribuem para o controle da perda ou de ganho do calor e luz,

como os elencados a seguir.

Especificação de vidros em projetos de arquitetura

Segundo Omar (2011) quando a radiação incide sobre um vidro, se divide em três partes. Uma

parte é refletida sem causar nenhum efeito na edificação. A segunda parte é absorvida pelo

vidro e a terceira é transmitida pelo vidro para o interior da edificação.

Segundo Caram (1998), quanto maior for a espessura do vidro menor será a transmissão da

radiação, devido à maior capacidade de absorção do material e quanto maior o ângulo de

incidência, maior o índice de reflexão e menor o índice de transmitância. A cor do vidro

também influencia a transmição térmica, e sua influência. Os resultados dos ensaios de

Caram (1998) permitem uma avaliação mais criteriosa dos projetistas quanto à escolha do

vidro mais adequado para cada caso, nesta tabela pode-se observar o comportamento de

variadas tipologias seja de vidros coloridos, vidros refletivos ou laminados.

Tipos de vidros quanto a transmissão

do espectro Vidro float Espessura Transmissão total da amostra (%)

Incolor 4 mm 78

Incolor 6 mm 72

Cinza 4 mm 54

Cinza 6 mm 42

Bronze 4 mm 56

Bronze 6 mm 52

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na região norte do Estado do Mato Grosso, a partir do início desta década até os dias de hoje janeiro/2013

Verde 4 mm 48

Verde 6 mm 45

Refletivo Incolor 6 mm 53

Refletivo prata 6 mm 60

Refletivo cinza 6 mm 63

Refletivo bronze 6 mm 40

Refletivo verde 6 mm 65

Laminado incolor 6 mm 65

Laminado cinza 6 mm 51

Laminado bronze claro 6 mm 52

Laminado bronze escuro. 6 mm 38

Laminado verde 6 mm 66

Laminado rosa 6 mm 52

Laminado azul 6 mm 64

Fonte: Caram (1998)

Tabela 02: Tipos de vidros quanto a transmissão do espectro - Vidro float

Segundo CARAM (1998) um vidro será mais adequado energeticamente quando minimizar a

passagem de calor para dentro do ambiente (no verão) e maximizar o ganho de luz visível.

Portanto, ao se especificar um vidro num projeto de arquitetura o projetista deve combinar

pelo menos duas características básicas: Fator Solar (FS) mínimo e Transmissão Luminosa

(TL) máxima.

Na Tabela 3 relacionam-se alguns valores de eficiência luminosa (EL) e eficiência térmica

(ET), em que são adotados os seguintes critérios de classificação: aa = ótimo, ab = bom, bb =

regular, ac = bc = ruim, cc = péssimo.

Tipos de Vidro Espessura EL ET Classificação

Incolor 4 mm a c ruim

Incolor 6 mm a c ruim

Cinza 4 mm c b ruim

Cinza 6 mm c a ruim

Bronze 4 mm b b regular

Bronze 6 mm b b regular

Verde 4 mm b a bom

Verde 6 mm b a bom

Refletivo Incolor 6 mm c b ruim

Refletivo prata 6 mm b b regular

Refletivo cinza 6 mm b c ruim

Refletivo bronze 6 mm c a ruim

Refletivo verde 6 mm b a bom

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na região norte do Estado do Mato Grosso, a partir do início desta década até os dias de hoje janeiro/2013

Laminado incolor 6 mm a c ruim

Laminado cinza 6 mm b b regular

Laminado bronze claro 6 mm b b regular

Laminado bronze escuro. 6 mm c a ruim

Laminado verde 6 mm a c ruim

Laminado rosa 6 mm b b regular

Laminado azul 6 mm a c ruim

Fonte: Fonte: http://www.usp.br/fau/deptecnologia/docs/bancovidros

Tabela 3: Classificação de vidros conforme a eficiência luminosa e eficiência térmica

Observe que o vidro incolor é o que transmite mais calor para dentro do ambiente, e mesmo

assim é o mais usado na nossa região. Conforme a tabela 3, ele apresenta eficiência luminosa

excelente, mas, em função da sua transmitância térmica ser alta, o uso de persianas ou

panejamentos espessos na nossa região anulam a sua qualidade luminosa e sua função

integradora entre ambiente externo e externo. A radiação infravermelha influencia diretamente as condições de conforto ambiental

e por esse motivo não podem ser desconsideradas em fechamentos transparentes. O

vidro é considerado transparente para as ondas de infravermelho-próximo (ondas

curtas) e opaco na transmissão do infravermelho longo, sendo esta uma das causas

do efeito estufa no interior das edificações (CARAM, 2002).

Melhor orientação solar e geometria das edificações

A forma geométrica da edificação também influencia na carga térmica recebida por ela, e não

pode ser desconsiderada pelo projetista, pois a orientação da fachada pode expor as aberturas

de mesmas dimensões a quantidades de calor e iluminação distintas, neste contexto Mascaró

(1985) ressalta que a “carga térmica recebida pela edificação será menor se as fachadas

principais estiverem nas posições Norte-Sul e com a forma alongada sobre o eixo Leste-

Oeste”.

Mascaró (1985) ressalta a importância da orientação do edifício quanto à radiação solar

recebida. Fachadas orientadas inadequadamente podem ter um aumento de até 150% da carga

térmica, enquanto que uma orientação adequada representa menores consumos de energia. O

autor ressalta ainda que a orientação do edifício em função dos ventos dominantes favoráveis

é fundamental para a obtenção de conforto e economia de energia (MASCARÓ, 1985).

O projetista não deve deixar de levar em conta que o sol ao penetrar pelas aberturas ou

atravessar materiais transparentes pode ocasionar, dentre outros fatores, ofuscamento,

aquecimento de móveis, equipamentos ou causar desbotamento de tapetes e quadros (FROTA

in Omar, 2011), para se decidir sobre a geometria e a área ideal que devem ter as aberturas da

sua edificação, esta por sua vez contribui com a diminuição de demanda de energia para a

iluminação artificial, beneficiada pela contribuição da iluminação natural.

Didone (2009) percebeu em seus estudos na cidade de Florianópolis que quanto mais

profundo é o ambiente, maior é o consumo com iluminação artificial. Por serem ambientes

iluminados unilateralmente, apenas a região próxima à abertura é provida de luz natural. E,

quanto maior é o ângulo de sombreamento, menos abundante é a luz natural no ambiente,

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conseqüentemente, maior é o consumo com iluminação artificial e menor é o consumo com ar

condicionado, uma vez que as proteções solares diminuem as cargas térmicas. Assim sendo

percebemos que, quanto menos profundo for o ambiente, mas luz natural ele receberá,

permitindo uma estratégia de sombreamento maior pelo projetista, resultando num consumo

menor de energia elétrica e possibilitando maior durabilidade de móveis, objetos e

equipamentos.

Sombreamento e proteção solar de superfícies envidraçadas

Segundo Omar (2011), com um sombreamento adequado pode ser possível reduzir o impacto

calorífico, e com a utilização de mecanismos protetores externos há um incremento na

efetividade de até trinta e cinco por cento (35 %). São elementos protetores as árvores, cercas

vivas, beirais, pérgolas, venezianas, quebra-sol (brises), películas, persianas e cortinas.

A opção pelas proteções externas é uma forma eficiente e muitas vezes mais econômica de

controle da radiação, pois serve como uma barreira para a radiação solar antes de ser

transmitida para o interior da edificação. Mascarenhas et al. in Omar (2011) constatou através

de pesquisas que apesar do aumento no consumo de energia elétrica pelo sistema de

iluminação, a pesquisa permitiu constatar que as edificações “protegidas” apresentam os mais

baixos consumos de energia por unidade de área.

Alguns dispositivos de proteção solar podem permitir o uso do vidro, reduzindo a radiação

solar sem prejudicar a entrada de luz natural no ambiente, é o caso do Light Shelf, também

chamadas prateleiras de luz ou bandeja de luz, esse elemento arquitetônico é de extrema

importância em ambientes de trabalho ou estudo por refletir a luz natural até as áreas mais

profundos e menos iluminadas do ambiente.

Figura 8- Vista interna de ambiente com dispositivo de proteção solar Light Shelf

Fonte: http://www.daviddarling.info/images/light_shelf.jpg&imgrefurl

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Figura 9- Corte esquemático de ambiente com dispositivo de proteção solar Light Shelf

http://www.vuw.ac.nz/architecture-onlineteaching/toolkit/tutorials/7main_fra.html

Quanto aos tamanhos das aberturas, o uso da cor nas superfícies externas, a utilização de

vidros eficientes, entre outros, Santana (2006) constatou que a união desses fatores é capaz de

uma grande redução no consumo de energia sem prejudicar o bem estar dos usuários. O autor

analisou em seu trabalho de pesquisa que:

a) A cada 10% de aumento no percentual na área das janelas resultou um acréscimo de 2,9%

no consumo de energia;

b) A absortância das paredes também foi significativa sendo que a cada 10% de variação

houve um aumento de 1,9% no consumo de energia. A alteração da cor clara e escura

implicou um aumento de 15,1% no consumo energético;

c) A utilização de proteção solar, tipo brises, também apresentou um resultado significativo

em relação ao consumo energético, capaz de reduzir até 12% do consumo;

d) Outra correlação importante foi o tipo de vidro utilizado na edificação e o consumo

energético, onde a cada 0,1 de aumento no fator solar do vidro ocorre um acréscimo de

0,65% no consumo de energia;

e) As maiores variações no consumo foram relativas à eficiência energética dos aparelhos de

ar condicionado. A variação foi de 25,2% de um sistema mais eficiente para um menos

eficiente. A cada 0,1 W/W de eficiência do aparelho, a variação do consumo foi de 1,6%.

Películas de baixa emissividade (low-e)

Todas as alternativas para corrigir as deficiências das tradicionais janelas de vidro temperado

como venezianas, vidros coloridos ou cortinas retiram a beleza intrínseca das janelas, as

películas de low-e buscam sanar estes problemas sem interferir na transparência do vidro.

(INOUE; LONGO , 2012)

As películas de low-e são um material ultra-fino e refletor de calor (infravermelho), feita a

base de metais e tornada transparente. O nome do material decorre de suas características de

baixa emissividade. Qualquer superfície com uma emissividade igual ou menor do que 0,2 é

considerada uma superfície low-e (baixa emissividade). (INOUE; LONGO , 2012)

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A película de baixa emissivida reflete tanto o calor quanto os vidros reflexivos, com a

vantagem de parecer janelas incolores comuns.As janelas de baixa emissividade podem ser

especificada para vidros monolíticos comuns tanto quanto para vidros coloridos. As películas

de low-e estão disponíveis até em filmes poliméricos para melhorar o desempenho térmico e

luminoso de janelas já instaladas.

Inoue e Longo (2012) observam também que atualmente muitas películas parecem

exatamente incolores para a luz transmitida, apesar de algumas delas modificarem

ligeiramente as reflexões de luz aparecendo então em cores de um suave amarelo, azul ou

violeta dependendo do produto e espessura da película.. Assim como no caso dos vidros

coloridos, películas low-e de fabricantes diferentes tem cores diferentes e não devem ser

misturadas em um mesmo projeto.

Produtos Substitutos

Além de decidir pela melhor orientação solar e geometria das edificações projetadas,

especificar vidros com baixa emissividade ou alto Fator Solar, bem como sombrear os

ambientes mais prejudicados com a radiação solar, o projetista tem hoje disponível produtos

substitutos de alta eficiência, porém não tão acessíveis na nossa região, tais como janelas com

caixilhos duplos ou triplos com inserção de gás inerte em seu interior, ou ainda “sistemas

holográficos de envidraçamento, materiais cromogênicos como dispositivos de cristais

líquidos, vidros termocrômicos, fotocrômicos e eletrocrômicos.” (OMAR, 2011, pg.29).

Porém, o projetista pode lançar mão de artifícios diversos que constituem uma arquitetura

bioclimática, tais como: projetar com cautela as aberturas das fachadas envidraçadas em

relação a área, proporcionar ventilação cruzada aos ambientes, propor materiais e cores de

baixa absorvidade que reduzam a transmitância térmica de coberturas e paredes, sempre que

possível projetar espelhos d‟água ou piscinas no sentido do vento predominante da região de

forma a resfriar o ambiente pois através da transferência de umidade ocorre a transferência de

calor, entre outros que podem ser fruto de novos estudos específicos para a nossa região.

7. Conclusão

Através dos dados averiguados acima observa-se que o uso do vidro temperado incolor na

cidade de Sinop tornou-se absoluto como opção de aberturas na cidade de Sinop pelo baixo

custo em adquiri-lo e pela pouca manutenção necessária para mantê-lo em boas condições de

uso. É possível perceber que sua baixa eficiência energética e suas limitações em relação ao

conforto térmico do usuário não estão sendo levadas em consideração.

Apesar de virtudes como conexão física e visual com o exterior, providenciar ventilação

cruzada quando necessário, permitir a entrada de luz natural e oferecer privacidade visual, as

janelas tradicionais são notoriamente fracos isolantes térmicos e admitem muito ou pouca luz.

A variabilidade dos tipos de vidros e as soluções arquitetônicas apresentadas possibilitam

muitas alternativas de usos na construção civil. No entanto, para que sejam adequados

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Avaliação da massificação do uso de aberturas de vidro temperado e sua influência no conforto ambiental dos seus usuários

na região norte do Estado do Mato Grosso, a partir do início desta década até os dias de hoje janeiro/2013

tecnicamente, é necessário que os profissionais sejam habilitados e que os usuários tenham o

devido conhecimento sobre o uso do vidro e suas características.

Além de conhecer as características térmicas e luminosas e delinear as melhores aplicações do

material, é de suma importância que os projetistas estejam atentos as evoluções tecnológicas.

Por suas características recicláveis o vidro pode ter um caráter altamente sustentável quando

usado com critério pelos profissionais com conhecimento em arquitetura bioclimática, porém,

desconsiderar a sua pouca eficiência térmica é transformá-lo em um material não sustentável,

caracterizando pouca preocupação com o usuário final e com o meio ambiente.

8. Referências Bibliográficas

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