AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DA ÁGUA DE UMA BARRAGEM...

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UNIVERSIDADE REGIONAL DO CARIRI - URCA CENTRO DE CIÊNCIAS E TECNOLÓGIA - CCT DEPARTAMENTO DE CONSTRUÇÃO CIVIL CURSO DE TECNOLOGIA DA CONSTRUÇÃO CIVIL HABILITAÇÃO EM TOPOGRAFIA E ESTRADAS TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DA ÁGUA DE UMA BARRAGEM SUBTERRÂNEA NO SEMIÁRIDO PARA CONSUMO HUMANO, DESSEDENTAÇÂO DE ANIMAIS E IRRIGAÇÂO CICERA HIARLY FERREIRA JUAZEIRO DO NORTE CE 2017

Transcript of AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DA ÁGUA DE UMA BARRAGEM...

UNIVERSIDADE REGIONAL DO CARIRI - URCA

CENTRO DE CIÊNCIAS E TECNOLÓGIA - CCT

DEPARTAMENTO DE CONSTRUÇÃO CIVIL

CURSO DE TECNOLOGIA DA CONSTRUÇÃO CIVIL

HABILITAÇÃO EM TOPOGRAFIA E ESTRADAS

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO

AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DA ÁGUA DE UMA BARRAGEM SUBTERRÂNEA NO SEMIÁRIDO PARA

CONSUMO HUMANO, DESSEDENTAÇÂO DE ANIMAIS E IRRIGAÇÂO

CICERA HIARLY FERREIRA

JUAZEIRO DO NORTE – CE

2017

CICERA HIARLY FERREIRA

Acadêmico do curso de Tecnologia da Construção Civil

AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DA ÁGUA DE UMA BARRAGEM SUBTERRÂNEA NO SEMIÁRIDO PARA

CONSUMO HUMANO, DESSEDENTAÇÂO DE ANIMAIS E IRRIGAÇÂO

Monografia apresentada ao Curso de Tecnologia da

Construção Civil com habilitação em Topografia e

Estradas, da Universidade Regional do Cariri, como

requisito para a obtenção do Grau de Tecnólogo em

Construção Civil habilitação em Topografia e

Estradas.

Orientador: Prof. MSc. Antonio Nobre Rabelo

Coorientadora: MSc. Juliana Gomes Rabelo

JUAZEIRO DO NORTE – CE

2017

Ferreira, Cicera Hiarly.

AVALIAÇÃO DA SALINIDADE DA ÁGUA DE UMA

BARRAGEM SUBTERRÂNEA NO MUNICÍPIO DE

MILAGRES – CE/ Cicera Hiarly Ferreira – Juazeiro do Norte:

URCA/ Centro de Ciências e Tecnologia, 2017.

59 p.

Orientador: Prof. M. Sc. Antonio Nobre Rabelo

Co-orientadora : M. Sc. Juliana Gomes Rabelo

.

Monografia (Curso de Tecnologia da Construção Civil -

habilitação em Topografia e Estradas) – Universidade Regional

do Cariri/ Centro de Ciências e Tecnologia.

CICERA HIARLY FERREIRA

Acadêmico do curso de Tecnologia da Construção Civil

AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DA ÁGUA DE UMA BARRAGEM SUBTERRÂNEA NO SEMIÁRIDO PARA

CONSUMO HUMANO, DESSEDENTAÇÂO DE ANIMAIS E IRRIGAÇÃO

BANCA EXAMINADORA

______________________________________________

PROF. MSc. ANTONIO NOBRE RABELO, URCA ORIENTADOR

______________________________________________

PROF. MSc. JEFFERSON LUIZ ALVES MARINHO, URCA

AVALIADOR

______________________________________________

PROF. Dr. RENATO DE OLIVEIRA FERNANDES, URCA

AVALIADOR

Aprovação em ______ /_______ /_________,

com nota _________

Dedico ao meu esposo Marcos Antônio, aos meus

pais Francisco Ivonildo e Maria Neci; meus irmãos

Francisco Tadeu, Pedro Thiago (in memorian) e

Tereza Halana, minha sobrinha Ana Isabele e a

todos meus familiares.

AGRADECIMENTOS

A Deus por estar ao meu lado, sempre permitindo que tudo acontecesse

da melhor forma possível;

A Nossa Senhora minha mãe que sempre intercedeu a Deus por mim nos

momentos difíceis;

Ao meu esposo Marcos que me apoiou verdadeiramente como um

companheiro que estava sempre ao meu lado mesmo diante das dificuldades;

Aos meus pais Ivonildo e Neci pelas orações que sempre faziam a fim de

me proteger de todos os perigos;

Aos meus irmãos Tadeu e Halana que torciam por mim e me felicitavam a

cada etapa vencida;

Ao meu orientador Nobre pela disponibilidade paciência e dedicação

durante toda realização do trabalho;

A todos os meus professores em especial Pedro Veras, Valéria, Ishimaro,

Paulo Ricardo, Vangivaldo, Nobre e Renato, por compartilharem sua sabedoria de

forma tão espontânea e objetiva.

Aos meus colegas por compartilharem comigo momentos mais ou menos

difíceis.

“A vida é como andar de bicicleta: se parar cai, pois o

equilíbrio vem do pedalar. O mesmo acontece com os aviões. Se param

caem. O que sustenta seu equilíbrio é o movimento dos motores.

É bom observar que a bicicleta tem duas rodas e um guidão,

ou seja, o equilíbrio depende também de uma direção bem

determinada. Quem não tem uma meta facilmente se cansa. É preciso

saber para onde ir e ser persistente nessa direção.”

Pe. Leo, SCJ

RESUMO

O semiárido brasileiro é uma região que sofre constantemente com secas

periódicas. A barragem. A barragem subterrânea conhecida por ser uma técnica de

armazenagem de água que exige baixo custo em sua construção, está sendo bem

aceita na região tendo em vista o crescente número de unidades construídas.

Entretanto ainda há quem discuta sobre a qualidade da água nela armazenada,

principalmente devido ao risco de salinização do solo quando usada para irrigação.

Nesse contexto, realizou-se um estudo de caso em uma barragem subterrânea

localizada no município de Milagres - CE, com o propósito de avaliar a qualidade da

água para fins de consumo humano, dessedentação de animais e irrigação, dando

ênfase ao parâmetro da salinidade. Essa avaliação teve como base os parâmetros

físico-químicos Nitrato, Cloreto e Condutividade Elétrica. Para avaliar o risco de

salinização do solo foi calculada a Razão de Adsorção de Sódio (RAS). Além disso,

foi realizado a análise bacteriológica e relacionado todos os parâmetros com o nível

de água no poço construído a montante do barramento. Os resultados obtidos

atestaram que a água é de boa qualidade para irrigação e dessedentação de

animais, porém, considerada imprópria para consumo humano, devido aos níveis

elevados de coliformes totais e Escherichia coli. Apesar da comprovação da boa

qualidade da água para irrigação, recomenda-se o frequente uso da água, tendo em

vista a constatação do aumento gradativo da salinidade no período da análise.

Palavras-chave: Armazenagem de água. Condutividade Elétrica. Razão de Adsorção

de Sódio (RAS).

Lista de Figuras

Figura 1: Representação dos componetes de uma barragem subterrânea...............19

Figura 2: Ilustração do modelo CPATSA/EMBRAPA ................................................24

Figura 3: Representação do local correto para o barramento....................................26

Figura 4: setas mostram a direção e o movimento da água subterrânea..................28

Figura 5: Esquema da relação entre a calha do riacho e a área do aluvião.............30

Figura 6: Etapas do processo de construção de uma barragem subterrânea..........35

Figura 7: Estrutura geológica do município de Milagres...........................................37

Figura 8: Reconhecimento de solos do município de Milagres................................38

Figura 9: Mapa de pontos d‟água.............................................................................41

Figura10: Mapa de situação da barragem................................................................42

Figura 11: Alguns componentes da barragem construída em Milagres - CE .........44

Figura 12: Fotos da coleta para análises.................................................................48

Figura 13: Gráfico da variação do nível de água no Poço amazonas.....................50

Figura 14: Diagrama de Riverside...........................................................................54

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 12

1.2 Justificativa .......................................................................................................... 14

1. 3 Objetivos ............................................................................................................ 15

1. 3.1 Objetivo geral: ................................................................................................. 15

1.3.2 Objetivos específicos: ...................................................................................... 15

1.4 Metodologia ......................................................................................................... 15

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA .............................................................................. 16

2.1 Considerações iniciais ......................................................................................... 16

2.2 Breve histórico sobre a utilização de barragens subterrâneas ............................ 16

2.3 Componentes das barragens subterrâneas ........................................................ 18

2.3.1. Área de captação ....................................................................................................... 19

2.3.2 Área de plantio ............................................................................................................ 20

2.3.3 Parede da barragem ou septo impermeável ............................................................... 20

2.3.4 Sangradouro ............................................................................................................... 20

2.3.5 Descarregador de fundo ............................................................................................. 21

2.3.6 Poço amazonas .......................................................................................................... 21

2.4 Tipos de barragens subterrâneas ........................................................................ 22

2.4.1 Modelo Caatinga ......................................................................................................... 22

2.4.2 Modelo Costa e Melo .................................................................................................. 23

2.4.3 Modelo CPATSA/EMBRAPA ....................................................................................... 24

2.5 Critérios básicos para locação de uma barragem subterrânea ........................... 25

2.5.1 Aspectos sociais e de demanda .................................................................................. 26

2.5.2. Aspectos climáticos: regiões com elevada taxas de evaporação ............................... 27

2.5.3. Rios/ Riachos Temporários). ...................................................................................... 28

2.5.4. Tipo de propriedade indicada para a construção das barragens subterrâneas........... 29

2.5.5. Características e condições do Solo .......................................................................... 29

2.5.6 Qualidade das Águas subterrâneas ............................................................................ 30

2.6. Processo Construtivo ......................................................................................... 31

a)Limpeza da Área .............................................................................................................. 32

b) Escavação da Vala .......................................................................................................... 32

c) Limpeza e Reboco da Parede da Vala ............................................................................. 32

d) Colocação da Lona .......................................................................................................... 33

e) Fixação da Lona .............................................................................................................. 33

f) Reaterro da Vala e Acabamento ....................................................................................... 33

h) Enrocamento (Proteção da jusante)................................................................................. 34

3 CONTEXTUALIZAÇÃO DA ÁREA EM ESTUDO ................................................... 35

3.1 Localização, geologia e geomorfologia ............................................................... 36

3.2 Tipos de Vegetação e solo .................................................................................. 37

3.3 Características climáticas do município .............................................................. 39

3.4 Hidrografia ........................................................................................................... 39

4 ESTUDO DE CASO ............................................................................................... 42

4.1 Barragem subterrânea localizada em Milagres, CE .............................................. 42

4.2 Caracterização física da barragem ...................................................................... 42

4.3 Fatores que contribuíram para a escolha do local............................................... 45

5 MATERIAIS E MÉTODOS...................................................................................... 45

5.1 Coleta das amostras e verificação do nível da água ........................................... 48

6 RESULTADOS E DISCUSSÕES ........................................................................... 49

6.1 Campanhas coletas de água ............................................................................... 49

6. 2 Qualidade da água disponível para consumo humano ...................................... 51

6. 3 Qualidade da água disponível para dessedentação de animais ........................ 52

6.4 Qualidade da água disponível para agricultura (irrigação) .................................. 53

7 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES................................................................. 54

8 REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA: ........................................................................... 57

12

1 INTRODUÇÃO

Nos últimos 6 anos a região semiárida do nordeste brasileiro vem

apresentando um quadro de estiagem cada vez mais preocupante com chuvas em

pouca quantidade e mal distribuídas, o que provoca períodos de intensas secas.

Algumas cidades decretaram estado de emergência por causa da escassez de

água. Segundo uma análise feita em 2013 pela Confederação Nacional dos

Municípios (CNM) mais de 1400 municípios foram afetados pela seca, considerada a

maior dos últimos 50 anos.

Apesar do governo ter implantado poços profundos e construído cisternas

para amenizar o problema, a população de agricultores de baixa é a que mais sofre

com essa situação, que se estende até os dias atuais.

O problema da má distribuição das chuvas e o baixo nível de absorção

no solo do semiárido gera a necessidade da utilização de mecanismos que permitam

armazenar a água nessas regiões. De acordo com Suassuna (2002), as

precipitações no semiárido ocorrem nas estações de outono e verão e variam entre

500 mm a 800 mm. Para esse autor o fator principal que caracteriza a seca não é o

baixo volume das chuvas que cai, mas a sua distribuição no tempo. E como o solo

apresenta baixa capacidade de infiltração devido ao embasamento cristalino, que

constitui 70% de sua estrutura, a quantidade de chuva que cai, pouco fica retida no

solo.

É importante que se saiba que a seca é um fenômeno natural da região

Nordeste, impossível de ser erradicada, porém, existem tecnologias que se forem

utilizadas de forma correta podem amenizar os efeitos causados pela mesma. A

barragem subterrânea é um exemplo de uma tecnologia simples, mas que vem se

mostrando uma boa alternativa de convivência com o semiárido.

Essa tecnologia vem sendo disseminada aos poucos pelo país, de modo

que foram construídas várias barragens através de entidades com o apoio do

governo. A técnica é capaz de interceptar parcialmente o fluxo de água no solo,

podendo alcançar volumes consideráveis. A barragem subterrânea consiste em um

barramento feito por meio de uma parede impermeável construída transversalmente

ao sentido de escoamento das águas (MELO et al. 2011). Essa parede atinge a

camada rochosa do solo, impossibilitando a passagem da água e,

13

consequentemente, proporcionando a umidade do local. A água que fica

armazenada pode ser utilizada por meio de um poço amazonas construído à

montante da barragem. Esse modelo de captação de água possui uma série de

vantagens em relação aos reservatórios superficiais ou açudes.

De acordo com Santos et al. (2008) os modelos implantados na região

dos lagos, Rio de Janeiro indicaram que a técnica favorece os processos de

recuperação e de conservação do meio ambiente e ao desenvolvimento da

agricultura familiar.

Os mesmos autores, no entanto, também destacam a vulnerabilidade

destas barragens à ação de poluentes que são despejados na bacia de contribuição,

uma vez que a água encontra-se armazenada a baixa profundidade, menos de um

metro, o que associado à declividade e ao tipo de solo favorece a difusão de

poluentes.

A questão da salinidade é outro fator preocupante, e que necessita ser

observada periodicamente, pois é um dos fatores que indicam a qualidade da água

armazenada pelas barragens.

Nascimento, et al. (2008) refere-se ao risco de salinização da área de

acumulação de água, como sendo a principal desvantagem do sistema de barragens

subterrâneas. Isto ocorre devido à deposição de sais no solo, seja pela evaporação

da água acumulada na superfície do terreno ou pelos sais deixados através da

irrigação. No entanto, o mesmo autor considera o barramento superficial com risco

superior ao efeito dessa salinização.

Ainda com relação à salinização, Santos et al. ( 2008) observa o problema

como sendo efeito da super exploração do aquífero barrado e da ação da elevada

evapotranspiração, associada a períodos de seca prolongada. É importante ressaltar

que o semiárido brasileiro está sempre enfrentando longos períodos de secas, e

consequentemente sujeito à ocorrência.

Suassuna (2002) relata que os índices acentuados de evapotranspiração,

devido à incidência perpendicular dos raios solares sobre a superfície do solo no

semiárido evapotranspira em média, cerca de 2.000 mm/ano, e em algumas regiões

esse fenômeno pode atingir cerca de 7 mm/dia.

Nesse sentido, Santos et al. (2008) afirma que é possível tomar algumas

medidas preventivas que podem evitar a salinização.

14

Para evitar este problema, podem ser construídas estruturas (de acesso para motobombeamento) no corpo da barragem, visando à promoção de lavagem do perfil do solo durante as chuvas. Devem ser feitas análises periódicas a cada 6/12 meses da qualidade física e química da água e do solo da barragem, preferencialmente nos períodos de chuvas e sem chuvas, para acompanhamento dos riscos de salinização do solo e estabelecer medidas corretivas (SANTOS et al. 2008).

Um problema maior ocorre quando se constrói a barragem sem tomar os

devidos cuidados desde levantamento topográfico ao processo construtivo. Muitas

dessas barragens são construídas em locais inadequados o que compromete a sua

eficiência e principalmente a qualidade da água disponibilizada pela mesma.

Nesse contexto, mesmo com os incentivos à utilização dessa tecnologia,

ainda há quem discuta quanto à eficiência da barragem subterrânea, principalmente

com relação à qualidade da água disponível e o processo de salinização do solo que

pode ocorrer, tornando a água inadequada para o consumo humano, para

dessedentação de animais, assim como deixando o solo inservível para a prática da

agricultura.

Diante das restrições do uso da água das barragens subterrâneas,

pretende-se realizar uma análise da qualidade da água da barragem subterrânea

localizada no município de Milagres, Ceará, com o objetivo de assegurar sua

utilização.

1.2 Justificativa

A barragem subterrânea é uma excelente alternativa de estocagem de

água no subsolo, porém, a má utilização dessa tecnologia com vistas à qualidade da

água nela armazenada, pode causar sérios problemas à saúde humana, inviabilizar

a prática da agricultura, assim como inibir à dessedentação de animais. Essa

inviabilidade pode estar associada ao processo de salinização.

Dessa forma, para que tais problemas sejam evitados em barragem

subterrâneas, fez-se necessária a verificação do seu processo construtivo, bem

como a sua correta operacionalidade e a qualidade da água disponível no poço

existente, com a finalidade de assegurar a sua utilização, para o consumo humano,

dessedentação de animais e irrigação.

15

1. 3 Objetivos

1. 3.1 Objetivo geral:

Analisar a salinidade da água de uma barragem subterrânea situada no

município de Milagres-CE, com vistas à garantia da sua qualidade para o consumo

humano, dessedentação de animais e irrigação.

1.3.2 Objetivos específicos:

Encorajar a população local para o uso correto da tecnologia através da

difusão da informação;

Apresentar e discutir maneiras de se evitar o problema da salinização; e

Propor possíveis adequações na barragem investigada.

1.4 Metodologia

A metodologia adotada nesse estudo teve como base a revisão

bibliográfica do tema e um estudo de caso sobre a avaliação da qualidade da água

numa barragem subterrânea no município de Milagres, Ceará, com ênfase no

parâmetro da salinidade. Com uma abordagem descritiva, o detalhamento de cada

atividade realizada é feito ao longo de cada etapa de desenvolvimento do trabalho,

conforme estrutura descrita a seguir.

O trabalho está organizado em 7 (sete) capítulos. O capítulo 1

corresponde à introdução. O capítulo 2 refere-se à revisão bibliográfica sobre

barragens subterrâneas. No capítulo 3 é apresentada a contextualização sobre o

local da barragem, com a finalidade de oferecer ao leitor um melhor conhecimento

da área de estudo. O capítulo 4 é o estudo de caso, onde são descritas

características específicas sobre a obra, bem como suas etapas de projeto e

execução.

No capítulo 5 é descrita a metodologia adotada para realização das

análises. Os resultados obtidos são apresentados e discutidos no capítulo 6,

enquanto no capítulo 7 apresentam-se as conclusões e recomendações gerais a

respeito do estudo realizado.

16

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS

Este capítulo tem a finalidade de apresentar um breve histórico sobre a

tecnologia da barragem subterrânea, conceituando e caracterizando cada elemento

que a compõe, acompanhado da evolução das técnicas de construção e os termos

utilizados para defini-la.

2.2 Breve histórico sobre a utilização de barragens subterrâneas

Para o estudo sobre essa tecnologia é necessário analisar determinadas

observações conceituais que se destacaram na literatura ao longo da história e

entender como surgiram as primeiras ideias sobre o assunto. Para Santos e

Fragipane (1978, apud Lima et al. 2013) o termo denominado “barragem

subterrânea” trata-se de uma estrutura hídrica que possui a função de interceptar o

fluxo de água no subsolo, havendo ainda uma divisão de nomenclatura quanto à

técnica de sua construção, podendo ser „submersas ou submersíveis‟.

Os mesmos autores consideram submersa a obra onde é construída uma

parede abaixo da superfície do solo que tem como objetivo reter apenas o fluxo de

água do subsolo, uma vez que a parede atinge a rocha impermeável. Na

submersível, a parede construída fica aproximadamente a 0,7 m acima da superfície

do solo, formando um lago a montante da barragem. A partir dos anos 80 não se

usava mais o termo barragem submersa ou submersível, e sim “barragem

subterrânea”.

Reforçando o conceito de „barragens subterrânea‟, Holanda (2000),

descreve-a como sendo uma tecnologia de estocagem de água na zona subterrânea

do leito dos rios e riachos intermitentes que são barrados por paredes subterrâneas

impermeáveis, construídas com mantas de plásticos, tipo sanduíche, cujo

enchimento é constituído pelo material de escavação da vala, sendo utilizada para

captação da água um poço ou cacimbão construído à montante da barragem.

Sousa et al. (2014) conceitua a barragem subterrânea como sendo

qualquer estrutura que objetiva barrar o fluxo subterrâneo de um aquífero pré-

17

existente ou criado concomitantemente à construção da barreira impermeável, tendo

sua parede totalmente abaixo da superfície do aluvião.

Dentre os primeiros indícios de utilização de armazenagem de água no

subsolo, os Estados Unidos percebendo que o aproveitamento dos rios para fins de

irrigação impossibilitava a construção de novos reservatórios de água superficiais,

introduziu o uso de armazenamento e conservação de água no subsolo. Os

primeiros trabalhos realizados sobre técnicas para o aproveitamento da água

subterrânea foram realizados na Califórnia, por volta de 1895. (TIGRE, 1949 &

OREV, 1980, apud BRITO et al.1999 ).

O Brasil por sua vez, deu início ao primeiro estudo indicando a barragem

subterrânea, como sendo uma alternativa de abastecimento hídrico, em 1959,

desenvolvido pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a

Cultura (UNESCO), para o 1.º Batalhão de Engenharia do Exército, no município de

Carnaúba dos Dantas, estado do Rio Grande do Norte Essa obra teve como

responsável o engenheiro Pierre Taltasse, que elaborou um estudo hidrogeológico

específico e projetou o que seria a primeira barragem subterrânea do Brasil, todavia,

a barragem jamais chegou a ser construída. A que se tem notícia, foi construída pelo

Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (DNOCS), no depósito aluvial do

rio Trici, a fim de contribuir com o abastecimento de água do município de Tauá, no

Ceará, por volta de 1965 (COSTA; PUERARI; CASTRO, 2002).

Segundo Sousa (200?) a Organização Não Governamental (ONG)

CAATINGA, iniciou um trabalho com barragem subterrânea em meados do ano de

1994, tendo conhecido as primeiras experiências coincidentemente no município de

Milagres-CE, através de um evento de intercâmbio. Na ocasião foi apresentada a

experiência de uma família que trabalhava com pequenas barragens subterrâneas

há mais de trinta anos. As primeiras construções tinham como principal objetivo a

adequação da tecnologia às pequenas unidades familiares e ainda a capacitação da

equipe e de agricultores, quanto aos aspectos de localização, construção e manejo

de micro barragens.

Com o passar dos anos essa técnica de captação de água foi cada vez

mais difundida, principalmente na região Nordeste do país, devido os longos

períodos de estiagens e a necessidade de água, tanto para os consumos humano,

animal e irrigação. Essa tecnologia tem se mostrado muito eficiente, especialmente,

18

na região do semiárido, no combate aos problemas de desequilíbrio na distribuição

de água e, muitas vezes pode ser usada como uma alternativa para evitar a quebra

na produção agrícola (JUNIOR; CASTRO, 2013).

Na última década, na região do Cariri, localizada ao sul do estado do

Ceará, foram implantadas algumas barragens subterrâneas, através de ONG‟s,

como a Associação Cristã de Base (ACB) e a Flor do Pequi, com recursos públicos.

A implantação dessas barragens teve como principal objetivo permitir um maior

aproveitamento das águas que transitavam por pequenas áreas de terras,

permitindo uma extensão maior no período de umidade do solo, favorecendo as

plantações por mais tempo, contribuindo para um aumento na produção e uma

melhor adaptação ao período de secas. No entanto, não se sabe ao certo quantas

unidades foram construídas nesse período.

De acordo com Nascimento, et al. (2008) esta tecnologia é bastante

vantajosa, tendo em vista o não alagamento das terras, que passam a ter cultivo

beneficiado, o baixo custo, a pequena perda de água por evaporação, rapidez na

execução, menor impacto ambiental, inexistência do risco de rompimento, entre

outros fatores que mostram a eficiência das barragens.

No presente trabalho será utilizado o termo barragem subterrânea, tendo

em vista que atualmente é a terminologia mais utilizada nas bibliografias existentes

sobre o assunto.

2.3 Componentes das barragens subterrâneas

Na construção de uma barragem subterrânea é importante que se saiba

identificar todos os componentes que a compreende, como: a área de contribuição

ou captação, área de plantio, parede da barragem (septo impermeável),

sangradouro, poço amazonas e o descarregador de fundo. Na figura 1 é possível

perceber alguns desses componentes e como eles estão distribuídos e interligados

entre si. Observando a composição da barragem, percebe-se que a área de

captação às vezes pode coincidir com a área de plantio, isso pode ocorrer quando a

área disponível para o projeto é relativamente pequena. Nesse caso fica inviável

uma possível expansão da área de plantio.

19

Figura 1: Representação dos componentes da barragem subterrânea.

Fonte: (BRITO et al.1999)

2.3.1. Área de captação

De acordo com a Embrapa (2011) a área de captação pode ser definida

a partir de toda área de contribuição da bacia hidrográfica. O processo de captação

ocorre no período das chuvas, quando as águas escoam até o nível mais baixo da

bacia, onde passam os rios sazonais ou temporários, que têm seu fluxo interrompido

pelo barramento, feito transversalmente ao rio.

Oliveira et al. 2010 destaca que a barragem deve ser construída em um

trecho do rio ou riacho que disponha de pelo menos 1 km de extensão à montante,

com aluviões, para proporcionar uma recarga natural, à medida que a água

acumulada pelo barramento venha a ser explorada. Para o autor áreas próximas às

nascentes do rio devem ser sempre evitadas.

20

2.3.2 Área de plantio

A área destinada à prática da agricultura fica à montante da barragem,

sendo natural, com o passar dos anos, o acúmulo de matéria orgânica no local,

devido ao assoreamento provocado pelas enchentes. Isso torna o terreno cada vez

mais fértil, favorecendo as plantações.

As áreas ideais para construção de barragem subterrânea são os aluviões em leito de rios temporários (secam com o verão), porém, por causa da limitação desses ambientes, também têm sido construídas com sucessos em riachos e linhas de drenagens conhecidas como córregos, local que forma caminho para água escoar durante as chuvas. É Importante considerar alguns aspectos como vazão (quantidade de água que passa no local) para se saber se é necessário reforçar a parede, evitar local que passe grande quantidade de água para não comprometer os plantios e a estrutura da barragem, profundidade entre 1,5 m a 4,5 m, declividade suave entre 0,4% a 2%, áreas que formam ombreiras (extremidades rasas), solos não salinos, textura arenosa a média (EMBRAPA, 2011, p.2).

2.3.3 Parede da barragem ou septo impermeável

A parede da barragem tem o objetivo de interromper o fluxo natural da

água que passa no leito dos riachos e pode ser construída de várias formas, desde a

compactação do material argiloso, que pode estar disponível no local, como a

construção de alvenaria utilizando tijolos e cimento, sendo indispensável a

colocação da lona plástica de polietileno, que reduz ainda mais as infiltrações. Outro

fator fundamental na construção da parede é a escavação da vala que deve atingir

até a rocha, no subsolo. “A profundidade deve ser no mínimo 1,5 m, para permitir

uma acumulação de água suficiente para o atendimento de pelo menos uma

unidade familiar. A profundidade máxima tem por limite o leito rochoso, sobre o qual

se depositou o solo aluvião. (COSTA et al.1998).

É importante perceber que a profundidade da escavação da vala para a

construção da parede influencia diretamente na quantidade de evaporação da água

armazenada, ou seja, quanto mais profunda menor o índice de evaporação.

2.3.4 Sangradouro

O sangradouro da barragem serve para escoar o excesso de água,

eliminando o espelho d‟água que se forma à sua montante, evitando assim, o

acúmulo de sais na área de plantio.

21

Segundo NASCIMENTO, et al.(2008) é necessário que se garanta um

sangradouro que permita o controle do nível d´água na bacia de acumulação, a fim

de assegurar aeração adequada às plantas no período de maior fluxo subterrâneo e

um sistema de captação que possibilite a utilização dos recursos hídricos

armazenados.

2.3.5 Descarregador de fundo

É um sistema de sangria utilizado em barragens, uma vez abertos, os

descarregadores liberam o excesso de água, consequentemente promovem a

lixiviação dos sais (NASCIMENTO, et al. 2008). O intuito de se construir um

descarregador de fundo na barragem subterrânea é possibilitar a remoção de sais

que podem se acumular na barragem. No período das primeiras chuvas o

descarregador pode ser aberto para que as águas removam toda concentração dos

sais existentes no solo, possibilitando a renovação da água do local.

2.3.6 Poço amazonas

Para Nascimento et al. (2008), a construção do poço amazonas é o

complemento da obra de captação, que permite o acesso à água durante o período

mais chuvoso, assim como, possibilita a observação do nível do lençol freático

devido ao barramento, e a investigação dos níveis de sais existentes na barragem.

De acordo com o autor os poços amazonas normalmente têm sido construídos com

anéis pré-moldados que variam de acordo com fabricantes, porém, é comum

encontrá-los com 1,5 m de diâmetro e 0,5 m de altura.

O poço amazonas fica localizado à montante da barragem, próximo ao

septo impermeável, o que o mantém cheio por mais tempo. Geralmente, esse tipo

de poço é escavado com o auxilio de uma retroescavadeira, sendo depois colocadas

manilhas sobrepostas e amarradas. Em seguida é feita a vedação entre elas e por

fim o aterro compactado ao seu redor. A última manilha é posta acima da superfície

do solo, sobre a qual se faz necessária a colocação de uma tampa de concreto, para

se evitar impurezas na água do poço.

22

2.4 Tipos de barragens subterrâneas

Antes de subdividirem em dois tipos de barragens, as submersas e

submersíveis, no Brasil existiam três modelos de barragens subterrâneas, que na

literatura eram citadas como metodologias: Modelo Caatinga, Modelo Costa e Melo

e Modelo CPATSA/EMBRAPA. Essa nomenclatura surgiu a partir de alusões feitas a

entidades onde foram desenvolvidas, a lugares ou autores dos métodos.

2.4.1 Modelo Caatinga

Segundo Lima et al. (2013) o Costa foi quem denominou esse modelo de

Caatinga, em alusão a ONG Caatinga, localizada em Ouricuri/PE, sertão de

Pernambuco, que foi uma das pioneiras na difusão deste tipo de tecnologia no

semiárido.

Os mesmos autores acrescentam que esse modelo foi adaptado da

proposta de construção utilizada pela ONG Caatinga. Nesse método, após a

escavação da vala, é colocada a lona plástica, feito o aterramento e construída uma

parede acima do solo para armazenamento superficial (por isso se enquadra dentro

do método submersível).

Esse modelo é considerado o mais simples e de menor custo, tendo em

vista que o poço amazonas não está incluso no projeto. Impossibilitando o

monitoramento da variação do lençol freático.

Oliveira et al. (2010) faz a relação das vantagens e desvantagens do

modelo:

Vantagens

Menor custo em relação aos demais;

É utilizado praticamente sem restrição, face aos pequenos volumes

armazenados; e

Utiliza a mão-de-obra local.

Desvantagens

Acumula, em geral, muito pouca água;

23

Não permite nenhum controle de salinização, sendo altamente susceptíveis

ao processo de salinização do solo;

Não permite o uso da água a não ser para a sub-irrigação na própria calha-

viva do riacho; e

Não permite o monitoramento do nível da água.

2.4.2 Modelo Costa e Melo

De acordo com Lima et al. (2013) no semiárido brasileiro, o modelo de

barragem subterrânea mais utilizado é conhecido no Brasil como Modelo Costa &

Melo. Segundo os autores essa forma de construção de barragem subterrânea tem

sido muito utilizada por entidades, principalmente nos estados de Pernambuco,

Ceará e Rio Grande do Norte, onde já existe um número muito expressivo desse tipo

de barragem.

Este tipo de barragem tem sua estrutura caracterizada pela escavação de

uma trincheira retilínea, perpendicular à direção do escoamento; colocação de um

septo impermeável ao longo da trincheira; construção de um poço amazonas junto

ao septo impermeável à montante deste; e um enrocamento de pedras arrumadas,

sem rejunte, na superfície, sobre o septo impermeável (FRANÇA. 2016).

De acordo com Oliveira et al.(2010) as vantagens e desvantagens são:

Vantagens

Rapidez de execução (1 a 2 dias, se mecanizada);

Baixo custo;

Pode ser executada com mão de obra do próprio local;

Apresenta condições de controle do processo de salinização;

Permite o monitoramento do nível da água ao longo do ano; e

Pode ser utilizada para múltiplos usos da água.

Desvantagens

Custo maior que o modelo Caatinga;

Não pode ser utilizado em qualquer situação, dependendo da existência de

condições naturais específicas.

24

2.4.3 Modelo CPATSA/EMBRAPA

Foi desenvolvida pelo Centro de Produção de Tecnologia do Trópico

Semiárido (CPTASA), atualmente Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária

(EMBRAPA - SEMIÁRIDO). A metodologia de construção estudada pela EMBRAPA

Semiárido, desde os anos 80, possui muitas similaridades com a metodologia

difundida pela Articulação no Semiárido Brasileiro (ASA). Fala-se da existência de

um sangradouro ou vertedouro para escoamento do excesso de água durante as

chuvas, mesmo que esses sangradouros possuam modelos e formatos

diferenciados. (LIMA et al. 2013, p. 208).

De acordo com França (2016) esta barragem subterrânea é construída na

forma de arco, tendo à jusante uma parede com altura de cerca de 1,0 m, a qual é

impermeabilizada. O sangradouro pode ser feito de cimento concretado ou

alvenaria. À jusante da barragem posiciona-se uma cisterna coberta com telhado, na

qual se instala um filtro de areia e carvão. O autor explica que esse modelo é o

menos utilizado devido ao grau de complexidade e ao seu elevado custo, chegando

a 5 vezes mais que o modelo Costa e Melo. Na figura 2 pode-se perceber o quanto é

complexo o projeto desse modelo em relação aos outros.

Figura 2: Ilustração do modelo CPATSA/EMBRAPA.

Fonte: Costa (1998).

25

Relação de vantagens e desvantagens segundo Oliveira et al.(2010):

Vantagens

Permite maior volume de acumulação de água; e

Separa as água de acordo com os diferentes usos.

Desvantagens

Construção mais demorada em relação às demais;

Apresenta custos, mais ou menos, cinco vezes o do tipo Costa e Melo e

10 vezes o tipo Caatinga;

Requer pessoal técnico qualificado para construção;

Não permite controle da salinização;

Não permite monitoramento do nível d‟água.

2.5 Critérios básicos para locação de uma barragem subterrânea

Para escolha do local a se construir uma barragem subterrânea deve ser

observada uma série de critérios para a elaboração do projeto de locação. Somente

após a realização de um levantamento planialtimétrico, onde se identificam

características básicas como: a declividade do local, bacia de contribuição e

diferenças de nível, é possível saber qual é o local ideal para a construção da

barragem, a confirmação do eixo do barramento será feito após os estudos de

sondagem (NASCIMENTO, et al. 2008).

Segundo Oliveira et al. (2010) a área de acumulação do depósito aluvial

deve ser a mais larga possível, porém, o local a ser barrado deve ser estreito para

diminuir os custos de escavação, com a lona ou outro material impermeabilizante

que venha a ser colocado (argila compactada, por exemplo). Para o autor, um

barramento efetuado dentro da área de maior largura do depósito aluvial, irá

desperdiçar a área que fica à jusante, o que poderia ser aproveitada como

reservatório. Observando a figura 3, nota-se claramente o local mais adequado para

a construção do barramento.

26

Figura 3: Representação do local correto para o barramento.

Fonte: Nascimento, et al. 2008.

Em alguns locais, e com alguma experiência, é possível estabelecer

visualmente o local para a construção da barragem, dadas às condições

topográficas existentes. Isso não desobriga o levantamento das cotas de nível no

alinhamento da construção e cotas - piqueteadas - a cada 10 metros. O formato e/ou

alinhamento da construção é definido pelo levantamento topográfico. (SANTOS et al.

2008).

Concluída então esta etapa de pré-seleção da área, dá-se inicio ao

estudo dos aspectos e características que possam reforçar ou interferir na escolha

do local.

2.5.1 Aspectos sociais e de demanda

Um dos fatores benéficos dessa tecnologia é o baixo custo exigido pela

mesma, o que viabiliza a sua utilização por muitos agricultores de baixa renda,

sendo que é exatamente nesse setor menos favorecido onde se observa uma

demanda maior no número de unidades construídas. O critério econômico é sempre

levado em conta quando as barragens são construídas através de ONGs em

parceria com o governo, que aproveitam dessa vantagem econômica da técnica

Direção do fluxo

27

para atender várias comunidades carentes e necessitadas de água. Isso acontece

bastante no Brasil, ONGs que atuam com a proposta de construção deste tipo de

barragens, dentro do Programa através de programas sociais.

Segundo Lima et al.( 2013) por meios desses programas, no período de

2007 e 2011, foram construídas 407 barragens subterrâneas submersíveis no

semiárido brasileiro e em função da sua grande utilização nos estados da PB, RN,

BA, CE, PE e MG, é certo que o número deste tipo de barragem subterrânea seja

bem mais expressivo.

Até o ano de 2017 esse número cresceu consideravelmente, tendo em

vista que só na região do cariri, sediadas na cidade de Crato-CE existem duas

ONGs que forneceram a tecnologia a pequenos agricultores da região, são elas, a

Flor do Pequi e a Associação Cristã de Base (ACB), as quais, além de fornecerem a

obra hídrica, promoveram cursos e palestras sobre a técnica executiva da barragem

aos beneficiados.

Nesse sentido, dentro do aspecto social e de demanda uma das

condições estabelecidas para a construção de uma barragem subterrânea de acordo

com Oliveira et al. (2010) é a importância que a obra irá desempenhar, pois um

investimento público numa obra que não desperte interesse da comunidade local,

não faz qualquer sentido. Para o autor é necessário verificar qual a demanda hídrica

que a obra vai atender e que uso ou usos se espera da água a ser acumulada,

quantas pessoas serão beneficiadas e se há um real interesse na sua construção,

comprometendo-se o proprietário do terreno, a conservá-la e explorar o máximo da

sua disponibilidade, principalmente por meio do plantio de culturas adequadas.

2.5.2. Aspectos climáticos: regiões com elevada taxas de evaporação

A barragem subterrânea é considerada o tipo de barragem que possui a

menor perda de água por evaporação, comparando-a com uma barragem

superficial, que logo seca no período de estiagem, devido à total exposição do

espelho d‟água ao sol. O que não ocorre com a barragem subterrânea, que tem sua

concentração de água protegida pela larga espessura da camada de solo e matéria

orgânica em sua superfície.

Suassuna (2002) relata que a proximidade da linha do Equador é um dos

fatores naturais que tem influência marcante nas características climáticas da região

28

nordeste. As baixas latitudes condicionam à região temperaturas elevadas (média de

26° C), provocando índices acentuados de evapotranspiração, chegando algumas

regiões semiáridas atingir cerca de 7 mm/dia.

Essas quantidades absurdas de perdas de água por evaporação explica

porque as barragens, rios e lagos secam tão rapidamente no período das secas.

Dessa forma, a barragem subterrânea se mostra uma excelente alternativa para

regiões de clima áridos e semiáridos que enfrentam longos períodos de estiagem.

2.5.3. Rios/ Riachos Temporários).

Nos períodos chuvosos é comum a formação de cursos d‟água que se

iniciam a partir de divisores de águas que vão desaguando conforme a declividade

dos terrenos, até atingirem cotas mais baixas chegando aos chamados talvegues.

Assim se formam os rios sazonais ou temporários, que só permanecem ativos até

cessar a quadra chuvosa. Locais onde se identifique a presença desses tipos de rios

são considerados como locais ideais para a construção da barragem subterrânea. A

obra permite aumentar o nível do lençol freático e consequentemente possibilitar a

estocagem de água no local. A figura 4 mostra como ocorre a direção e o movimento

dessas águas no solo.

Figura 4: setas mostram a direção e o movimento da água subterrânea.

Fonte: Heath (1982)

29

Freitas (2017) indica que os rios que estão situados nas áreas do Sertão

são influenciados pelo clima semiárido, dessa forma, não há grande incidência de

chuvas. Segundo o autor, a maioria dos rios do Sertão e Agreste está sujeita ao

regime pluvial temporário, isso significa que nos períodos sem chuva esses rios

secam, no entanto, logo que chove se enchem novamente.

Esse processo caracteriza muito bem a existência de rios sazonais

nessas regiões, mostrando um indicativo favorável à construção de barragens

subterrâneas.

2.5.4. Tipo de propriedade indicada para a construção das barragens

subterrâneas.

Um problema comum enfrentado por pequenos agricultores sempre foi a

construção de açudes, onde a obra exige uma ocupação expressiva da área de terra

existente. Muitos até optam por escavar apenas os chamados popularmente de

“barreiros”, obra bem simples executada através de uma retroescavadeira para a

formação de um pequeno maciço de terra, que tem como objetivo interceptar o curso

natural das águas provenientes das chuvas, uma alternativa simples, porém, muito

pouco eficaz devido à rapidez com que a água armazenada se evapora.

Dessa forma, para (Nascimento et al. 2008) a barragem subterrânea,

inversamente à barragem superficial, se aplica muito bem às pequenas

propriedades, onde o dano ambiental causado em virtude de sua construção é

praticamente inexistente.

2.5.5. Características e condições do Solo

Existem algumas recomendações importantes na literatura que devem ser

obedecidas com rigor, caso contrário poderá ocasionar o total ou parcial insucesso

da barragem. De acordo com Nascimento, et al. (2008), o solo deve ter áreas

aluviais dos riachos com condições em que propicie a exploração agrícola, com

profundidade da camada impermeável de no mínimo 1,5 m e no máximo 4 m, textura

média a grossa e declividade de até 4%, de modo a proporcionar maior extensão no

armazenamento da água.

30

O mesmo autor destaca que a profundidade média de solo sedimentar

deve ser 2,0 m e quanto à calha viva do riacho, é recomendável que seja pequena

com relação à espessura e largura do aluvião. Estes são critérios simples, mas que

devem ser observados no momento da locação da obra.

“Quando a „calha viva‟ do rio ou riacho é muito profunda em relação aos

“terraços fluviais”, mesmo que os terraços se apresentem com boa espessura, a

construção é desaconselhável se a espessura aluvial na calha viva for menor 1,5 m”

(COSTA et al. 1998, p.5). Na figura 5 está representada esta correlação.

Figura 5: Esquema da relação entre a calha do riacho e a área do aluvião.

Fonte: Nascimento et al.(2008)

Em se tratando do estudo do solo local para Santos et al.(2008) o trado é

a ferramenta mais simples e eficaz para a mensuração e registro da profundidade

entre a superfície e a camada de impedimento, embora também seja recomendada

a abertura de trincheiras até a camada de impedimento na área pré-selecionada. O

autor refere-se à camada de impedimento como sendo a camada impermeável do

solo.

2.5.6 Qualidade das Águas subterrâneas

Para Heath (1982) a qualidade das águas subterrâneas depende tanto

das substâncias dissolvidas na água como de certas propriedades e características

que essas substâncias dão à água. Essas reações químicas e biológicas ocorrem

com o movimento das águas que passeiam pela superfície da terra e na zona do

solo, isso no caso de águas não poluídas.

31

No caso de águas subterrâneas poluídas, esse processo se dá pelo

resultado da disposição de resíduos na superfície terrestre, em escavações rasas,

incluindo fossas sépticas, poços profundos e minas. Ocorre também por meio de

fertilizantes e defensivos químicos utilizados na agricultura; rompimento de tubos de

esgotos e trânsito de animais. Sendo que a magnitude da poluição depende de

fatores como: tamanho da área afetada, quantidade de poluentes, solubilidade, grau

de toxidade, etc... (HEATH, 1982).

Nesse contexto, para a construção de barragens subterrâneas, é

importante avaliar esses fatores para que não haja um comprometimento da obra

em relação à qualidade da água disponibilizada pela mesma.

Outro parâmetro que pode comprometer a qualidade das águas

subterrâneas é a concentração exagerada de sais. Desse modo, Oliveira et.al.

(2010) destaca que anteriormente ao processo de construção de barragens

subterrâneas, deve-se observar se a água que passa no local possui salinidade

elevada, pois tenderia a aumentar a concentração de sais e prejudicar o solo e as

culturas nele implantadas. Nesse caso o ideal seria coletar uma amostra de água

numa cacimba existente nas proximidades e medir a sua condutividade elétrica com

um condutivímetro portátil, ou optar por experimentar (sem ingerir) um pouco de

água, para sentir, identificando se a mesma é ou não salgada. Caso não se tenha

acesso à água no leito, em escavação ou em cacimba, deve-se consultar os

moradores da região sobre a condição de uso da água quando o riacho está

“correndo”; se o homem aceita bem aquela água, ou, se os animais bebem da

mesma. O autor considera que a existência de crostas de sal no depósito aluvial é

outro elemento a se observado.

Nascimento et al. (2008) ressalta a importância de se construir a

barragem em locais onde os riachos tenham qualidade de água adequada, de forma

que se evite uma concentração elevada de sais após o barramento.

2.6. Processo Construtivo

Como o modelo Costa e Melo é o mais utilizado, a pesquisa realizada

limita-se a detalhar apenas seu método construtivo, mostrando cada passo da

construção, ou seja, o trabalho realizado a partir do levantamento topográfico e

locação dos componentes básicos da barragem. Apesar de não existir nenhuma

32

norma especificando como se deve proceder, há alguns órgãos que disponibilizam

instruções técnicas que ajudam nesse processo, como por exemplo, a EMBRAPA.

Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária

A seguir descreve-se detalhadamente como ocorre o processo construtivo

de cada fase do projeto baseado nas instruções da EMBRAPA, o qual foi obtido do

folheto explicativo desenvolvido pelo Centro de Pesquisa Agropecuária do Trópico

Semiárido.

a)Limpeza da Área

De acordo com a Embrapa (2011) a limpeza da área é feita em faixa de

aproximadamente 10,0 m a 15,0 m, para retirada de todas as plantas, raízes e

restos vegetais evitando-se, assim, a perfuração da lona plástica e facilitar o

movimento da máquina e das pessoas no momento da construção, bem como,

facilitar a colocação de material no local.

b) Escavação da Vala

No local definido e limpo será cavada, em formato de arco ou retilínea,

uma valeta transversal ao leito do rio, riacho ou linha de drenagem para colocação

da lona plástica. Deve ser cavada até a camada impermeável com largura suficiente

para movimentação de pessoas dentro da valeta. Geralmente, quando é construída

com retroescavadeira, a largura da valeta é determinada pela largura da concha,

porém, quando manual, sua largura deve ser de aproximadamente 80 cm

(EMBRAPA, 2011).

c) Limpeza e Reboco da Parede da Vala

Após a abertura da vala são retiradas todas as pontas de raízes e pedras

para não perfurar a lona plástica. Pode-se usar facão para retirada das raízes e, em

casos que tenha muitas pedras difíceis de ser retiradas, recomenda-se fazer um

reboco com argamassa nas laterais da valeta onde houver material pontiagudo,

principalmente no lado da jusante (EMBRAPA, 2011).

33

d) Colocação da Lona

Recomenda-se usar lona de polietileno com espessuras de 200 micras.

Na colocação da lona usa-se um pedaço de madeira de formato retilíneo ou caibro

arredondado para facilitar o desenrolar e distribuição da lona ao longo da parede. A

lona deve ser colocada nas primeiras horas do dia em condições de ventos fracos e

temperaturas baixas, evitando-se que forme bolsões de ar pelo vento e aquecimento

da lona pela temperatura, pois isso pode resultar na sua perfuração (EMBRAPA,

2011).

e) Fixação da Lona

A fixação da lona é importante, pois esta não pode ficar solta em baixo,

sob pena da fuga da água. Para a fixação da lona, faz-se uma pequena valeta de

20 cm no fundo da valeta à montante e outra na superfície à jusante. Sua fixação é

feita com uso de argamassa de cimento e areia (EMBRAPA, 2011). Nascimento, et

al.(2008) recomenda que em solos arenosos, ainda se pode utilizar fita adesiva larga

e resistente para criar uma alça comprida que fixará a lona com segurança e ajudará

a segurá-la no momento do entupimento da vala, sem riscos de desmoronamento da

borda pela proximidade de pessoas.

f) Reaterro da Vala e Acabamento

O material retirado da valeta deve ser distribuído de forma que uma parte

seja colocada à montante da barragem para ser usada no fechamento da valeta e

outra parte, com menor volume, é colocada a jusante para formar o camalhão

(parede) onde a lona plástica fica por cima, de aproximadamente 40 - 60 cm de

altura da superfície do solo. Após o fechamento da valeta faz-se um acabamento

cobrindo toda lona plástica com solo para evitar contato com o sol. A altura da

parede após o acabamento formada por um “camalhão” deve ficar com altura entre

0,80 a 1,20 m acima da superfície do solo. (EMBRAPA, 2011).

34

g) Construção do Sangradouro

A maioria dos sangradouros é construída de concreto. Essa é uma

construção simples, mas que requer cuidados em seu dimensionamento. Outra

observação importante é que após a construção do sangradouro, deve-se construir,

também à sua jusante, um dissipador de energia o que evita possíveis erosões.

A largura do sangradouro depende da quantidade de água que passa no local, podendo variar de 6 m a 15 m. O local determinado é coberto com lona plástica de maneira que exceda 1,5 m sobre a parede de cada lado do sangradouro à jusante, local destinado à escavação de uma pequena valeta (20 cm de largura e 40 cm de profundidade) que serve para fixar a referida lona e a tela de arame com argamassa de concreto. Em seguida, sobre a lona é colocada uma tela de arame tipo galinheiro e fixada as extremidades da lona e tela em duas valetas com massa de concreto e, por último, faz-se o revestimento também com massa de concreto. A altura final do sangradouro fica em torno de 50 cm a 70 cm, dependendo da vazão do local (EMBRAPA, 2011)

h) Enrocamento (Proteção da jusante).

O enrrocamento é o nome que se dá a proteção da jusante para evitar

erosões na barragem. Esse enrocamento, o qual pode ser feito de pedra arrumada,

é um elemento de fundamental importância para a conservação da barragem, e que

não deve ser ignorado. No entendimento do autor Costa et al. (1998) esse

enrocamento é necessário principalmente quando se trata de barragens de grande

porte, onde o volume de água que passa na época das chuvas é muito maior,

causando um grande esforço na parede. De acordo com o autor para fazer o

enrocamento podem ser utilizadas pedras maiores arrumadas, sem cimentação de

qualquer espécie, com altura em torno de 0,5 m, que irá reter a água superficial por

alguns dias, favorecendo a infiltração para alimentar a barragem subterrânea sem

causar danos à mesma. A figura 6 mostra algumas etapas desse processo

construtivo.

35

Figura 6: Etapas do processo de construção de uma barragem subterrânea. (a)

Escavação da vala; (b) Limpeza e retoques da parede; (c) Fixação da lona (d)

Reaterro da vala e acabamentos.

Fonte: EMBRAPA, 2011 Fonte: EMBRAPA, 2011

(a) Escavação da vala (b) Limpeza e retoques da parede

Fonte: EMBRAPA, 2011 Fonte: Oliveria et al.

(c) Fixação da lona (d) Reaterro (Modelo Costa e Melo)

3 CONTEXTUALIZAÇÃO DA ÁREA EM ESTUDO

Este capítulo detém-se a apresentar as características geológicas

geomorfológicas, pedológicas, hidrológicas, climáticas, entre outras, sobre o

36

município de Milagres, considerando que a barragem subterrânea em estudo está

inserida nesse meio, o levantamento dessas informações é de fundamental

importância para oferecer ao leitor um melhor conhecimento da área de estudo

3.1 Localização, geologia e geomorfologia

O município de Milagres, está localizado no extremo sudeste do estado

do Ceará, região Nordeste do Brasil, às coordenadas UTM (506009.345138mE e,

9191612.62383mS; 334m de elevação), fazendo divisa com os municípios de

Mauriti, Barro, Abaiara, Brejo Santo, Missão Velha e Aurora.

Milagres compreende uma extensão territorial de 606 km², dispõe de um

substrato geológico composto por xistos e quartzitos do Pré-cambriano,

conglomerados e arenitos do Paleozóico e arenitos do Mesozóico. A unidade

geomorfológica mais relevante da região é formada por uma superfície plana,

tabular, da chapada do Araripe, com altitudes próximas dos 500 m. Na porção norte

do território aparecem as formas suaves da Depressão Sertaneja, em altitudes

inferiores, cerca de 300 m (CPRM, 1998). O município é constituído por dois tipos

estruturais em se tratando de termos geológicos: embasamento cristalino e

coberturas sedimentares mesozóicas (Figura 7).

37

Figura 7: Estrutura geológica do município de Milagres em relação ao seu estado.

Fonte: CPRM (1998).

3.2 Tipos de Vegetação e solo

De acordo com o diagnóstico realizado pelo Serviço Geológico do

Brasil, ou Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais (CPRM), a

variedade de solos encontrados no município foram os dos tipos vertissolo,

podzólicos e litólicos.

Essa composição de solos propicia o crescimento da vegetação de

floresta caducifólia espinhosa, mais conhecida como a caatinga arbórea, e da

floresta subcaducifólia tropical pluvial (mata seca) (CPRM, 1998). A figura 8 mostra

os três tipos de solos encontrados no município.

38

Figura 8: Reconhecimento de solos do município de Milagres.

Fonte: EMBRAPA solos (2006) Adaptado por Ferreira (2017)

No entendimento de Molle & Cadier (1992) os principais fatores que

explicam a variação da qualidade da água dos riachos é o solo e o subsolo, e que a

condutividade média das águas escoadas nos mesmos está associada ao tipo de

solo encontrado na sua bacia de contribuição, apesar de não ser um dado preciso

pode ser considerado um indicador de perigo.

Legenda:

vertis solo(V3)

solos litólicos (RE 2)

Podzólico vermelho

amarelo (PE 25)

Barragem

Subterrânea

39

Na tabela 1 estão descritos os principais tipos de solos em função de sua

condutividade média, na relação da tabela os solos litólicos destacam-se como

sendo o terceiro maior contribuinte a salinizar as águas.

Tabela1: Os principais tipos de solos em função de sua condutividade média.

CE (média) no riacho em função do solo da bacia

Tipo de solo Condutividade Média US/cm

Areia Quartzosa 98

Latossolos 188

Podzólicos 226

Regossolos -

Podzólicos Eutróficos -

Bruno não Cálcicos 329

Vertissolos 484

Litólicos Eutróficos 621

Solonetz 2817

Planossolos 4596

Fonte: LEPRUN (1983), apud MOLLE & CADIER (1992)

Segundo Costa; Lima; Damasceno (2011) as barragens implantadas em

Planossolos e solos Litólicos apresentam uma salinidade muito maior do que

aquelas implantadas em solos aluviais, com o esperado requerendo cuidados

especiais de monitoramento e de manejo.

3.3 Características climáticas do município

No município predomina o clima tropical quente semiárido, geralmente

com pluviosidade de fevereiro a abril, apresentando temperaturas entre os extremos

de 23ºC (em média no inverno) e 29ºC (em média, no verão), com média histórica

de chuvas de 938,8 mm por ano.

3.4 Hidrografia

Na região do Cariri, o Grupo Milagres é considerado a unidade

hidrogeológica mais importante e mais perfurada para abastecimento, detendo

40

vazões que podem alcançar até 300 m3/h (CPRM, 1998), sendo a água subterrânea

a principal fonte de abastecimento do município.

No município de Milagres pode-se distinguir dois domínios hidrogeológicos distintos: rochas sedimentares e depósitos aluvionares. As rochas sedimentares são as mais importantes como aquífero. Caracterizam-se por possuir uma porosidade primária e, nos termos arenosos, uma elevada permeabilidade, traduzindo-se em unidades geológicas com excelentes condições de armazenamento e fornecimento d'água. Os depósitos aluvionares são representados por sedimentos areno-argilosos recentes, que ocorrem margeando as calhas dos principais rios e riachos que drenam a região, e apresentam, em geral, uma boa alternativa como manancial, tendo uma importância relativa alta do ponto de vista hidrogeológico, principalmente em regiões semiáridas com predomínio de rochas cristalinas. Normalmente, a alta permeabilidade dos termos arenosos compensa as pequenas espessuras, produzindo vazões significativas (CPRM,1998).

Com essas características o município destaca-se pelas favoráveis

condições hídricas da região. Dos rios mais importantes do município destacam-se o

rio “Riacho dos Porcos”, situado no distrito de Rosário, a nascente “Pinga” no sitio

Oitis e o “Poço do Dinheiro” no sitio Nazaré.

A principal fonte de água para consumo humano é proveniente de águas

subterrâneas por meio de poços profundos. As demais fontes citadas são mais

utilizadas para fins de recreação. O mapa da figura 9 mostra a hidrografia do

município.

41

Figura 9: Mapa de pontos d‟água (poços profundos, em Milagres).

Fonte: (CPRM, 1998, Adaptado por Ferreira 2017)

Barragem

Subterrânea

42

4 ESTUDO DE CASO

4.1 Barragem subterrânea LOCALIZADA EM MILAGRES, CE

A barragem subterrânea em questão foi construída pela ONG Associação

Cristã de Base e situa-se na zona rural do município de Milagres, às coordenadas

UTM (514094.00mE; 9196974.00mS; 431m de elevação).

Para início de estudo fez-se um levantamento da sua bacia de

contribuição, demarcando-se a área envolvida no projeto, conforme localização no

mapa da figura 10.

Figura10: Mapa de situação da barragem.

Fonte: Google Earth (2016)

4.2 Caracterização física da barragem

A área total envolvida no projeto da barragem é de 2.083,73 m². O solo

desta área é parcialmente coberto pela vegetação, atualmente utilizada para

43

exploração de uma agricultura orgânica e agroecológica, conservando as árvores

nativas existentes.

A barragem consta de todos os elementos necessários para ser

considerada uma barragem subterrânea completa, ou seja, septo, sangradouro e

poço amazonas, no entanto, apresenta várias falhas desde a escolha do local até a

sua forma de execução.

Dentre as diversas falhas da barragem, citam-se como principais:

Falhas de projeto: não foi feito nenhum levantamento topográfico da área, há

pouco espaço para a área de plantio, o terreno não possui características de

solo aluvião e a vazão está sendo interrompida por um pequeno barramento

(açude) existente à sua montante.

Falhas de execução: a parede não atingiu a rocha impermeável, permitindo que

a água percole entre esta e a base da parede. Outra falha é que o poço foi mal

localizado, sendo construído muito distante da parede.

Outras informações foram obtidas junto ao proprietário em uma das visitas

ao local da obra. Algumas características da barragem estão resumidas a seguir:

Comprimento da parede: 2,20 m

Altura da parede acima do solo: 80 cm

Material do sangradouro: alvenaria

Material utilizado para o septo: lona plástica de polietileno.

Profundidade do poço: 3,52 m

Diâmetro do poço: 1,0 m

Recursos para construção: Governo estadual / recursos próprios

Além da construção da barragem e sangradouro, também foram

construídos canteiros de alvenaria, uma base para a colocação de uma caixa d‟água

e o poço amazonas. Também foram disponibilizadas telas de proteção para o

agricultor, para vedação da área envolvida no projeto. Na figura 11 são

apresentados fotos do local da obra.

Figura 11: Alguns componentes da barragem construída em Milagres-CE. (a) Poço

amazonas; (b) Sangradouro (c) Base da caixa d‟água (d) Canteiros de alvenaria.

44

Fonte: Ferreira (2016) Fonte: Ferreira (2016)

(a) Sangradouro (a) Poço amazonas

Fonte: Ferreira (2016) Fonte: Ferreira (2016)

(c) Base da caixa d‟água (b) Canteiros de alvenaria Segundo o proprietário a água da barragem não está sendo utilizada para

regar os canteiros, tão pouco para fins de irrigação, devido ao pouco tempo em que

o poço permanece com água.

Desse modo a barragem está servindo apenas para aumentar o período

de umidade do solo.

45

4.3 Fatores que contribuíram para a escolha do local

Segundo o proprietário foram considerados alguns fatores que

contribuíram para a seleção do local da obra, a partir de uma análise superficial do

terreno onde se observou a existência de rios sazonais e a declividade acentuada do

terreno, o que proporcionaria uma grande quantidade de escoamento de água nos

meses de precipitações.

Outros fatores que influenciaram na escolha do local, foi o fato da família

ser considerada de baixa renda, viver basicamente da agricultura familiar e estar

inserida nos programas sociais do governo federal.

Como a obra foi realizada por uma organização não governamental

(ONG) que deu ênfase principalmente ao fator social, não houve nenhum estudo

técnico mais aprofundado para realizar a locação da barragem. Não foi realizado

levantamento topográfico planialtimétrico, cálculo da vazão da bacia de contribuição

ou análise prévia do solo local. Estes estudos são fundamentais para garantir a

qualidade e a vazão da água acumulada na barragem.

Mesmo com todas as falhas técnicas na execução do projeto, a montante

da barragem subterrânea, o proprietário desenvolve o cultivo de batata doce,

abóbora, tomate, macaxeira, banana e milho, integrado a um pequeno pastejo de

capim elefante.

5 MATERIAIS E MÉTODOS

Para o estabelecimento do programa experimental foi utilizada a

sequência descrita abaixo:

a) Contextualização da área em estudo: Foi realizada uma pesquisa bibliográfica

sobre a geografia, geomorfologia, clima, solos e recursos hídricos do município

onde está localizada a barragem subterrânea;

b) Visitas de campo: Para caracterização física da barragem subterrânea foram

feitas duas visitas técnicas, as quais permitiram a realização de um levantamento

topográfico, que permitiu o desenho do croqui da obra. Segundo o proprietário a

construção não dispôs de nenhum projeto geométrico e/ou geotécnico, não

sendo, portanto, realizado qualquer ensaio para implantação do

46

empreendimento, no entanto, vale salientar a orientação, em caráter informal, de

técnicos da entidade responsável pela obra;

c) Levantamento de dados sobre a construção da obra: No decorrer das visitas

foram obtidas as informações relativas à concepção e construção da obra, todas

fornecidas pelo proprietário da barragem, que acompanhou todas as etapas da

sua construção;

d) Período de observação do nível da água: Inicialmente pretendeu-se

acompanhar a variação de nível da água compreendendo o período seco e

chuvoso, porém em virtude do poço encontrar-se seco desde o inicio do presente

trabalho, esse monitoramento foi feito a partir do mês de março, quando o poço

apresentou água suficiente para a primeira coleta e a realização dos ensaios,

que foram sendo feitos mensalmente até o mês de maio de 2017;

e) Coleta das amostras: A coleta das amostras de água foi feita no ato da

inspeção do nível do lençol freático no poço. Conforme o Standard Methods,

método 9060, o mesmo usado geralmente pelas concessionárias de água de

todo país para coleta e avaliação da qualidade da água. Depois de coletadas as

amostras foram conduzidas a unidade da Companhia de Água e Esgoto do

Ceará (CAGECE) de Juazeiro do Norte para que fossem efetuadas as análises;

f) Acompanhamento do nível da água: Verificação mensal, com fita métrica, da

variação do nível de água do lençol freático, através do poço existente na

barragem, dado o seu reduzido tamanho e centralização do mesmo em relação à

área da barragem;

g) Avaliação técnica da qualidade da água: Essa avaliação foi feita mensalmente

através de coletas de amostras de água para comparação com os padrões

permitidos pela resolução CONAMA Nº 020/1986 que dispõe sobre a

classificação das águas doces, salobras e salinas do Território Nacional, alterada

pela Resolução nº 274, de 2000 e revogada pela Resolução nº 357, de 2005;

h) Parâmetros analisados:

Cloreto: Os níveis de cloreto foram determinados pela NBR 13797 e

verificados em virtude do seu efeito negativo na saúde humana quando

detectados em grandes proporções na água. Segundo CEDERSTROM

(1964), apud, Suassuna, 200?) águas com mais de 200 ppm

(aproximadamente 200 mg/l de cloreto têm o gosto desagradável).

47

Bebendo-se em demasia, água com teor de cloreto acima de 1000 ppm,

poderão ocorrer distúrbios no estômago. O Serviço de saúde Pública dos

EUA recomenda que, num sistema municipal, o cloreto não ultrapasse 250

ppm. Para a portaria 2.914 de 2011 do ministério da saúde o valor máximo

permitido é de 250mg/l;

Nitrato: Os níveis de nitrato foram determinados pela NBR 12620 e

verificados em virtude do seu efeito nocivo à saúde humana. Segundo

Cabral (2007) a presença de teores de Nitrato na água superiores a 10 mg/l

pode causar uma série de doenças como meta-hemoglobina(baby blue

syndrome) e câncer gástrico;

Condutividade Elétrica: A CE na água depende da quantidade de sais

dissolvidos. Assim, a sua relação é proporcional, ou seja, quanto maior o

teor de sais dissolvidos a condutividade elétrica será maior. Dessa forma,

pode-se estimar o teor de sais pela medida de condutividade de uma água

em uma dada temperatura. Assim os níveis de condutividade foram

determinados pela NBR 14340, e verificados não só em face à sua ação

nociva à saúde humana, mas, também em virtude dos danos que seu

excesso pode causar no solo, animais e plantas;

Análise bacteriológica (coliformes totais + E coli): Os níveis de coliformes

fecais foram determinados pela NBR 12122 e verificados em virtude da

eventual presença de animais que utilizam a área à montante da barragem

subterrânea causando risco de contaminação;

Sódio, Cálcio e Magnésio: Esses três parâmetros foram analisados

separadamente afim de se calcular a Razão de Absorção do sódio (RAS). A

importância de se conhecer a RAS é que o excesso de sódio na água reduz

a permeabilidade do solo e consequentemente piora a drenagem,

provocando um problema quase irreversível de salinização. (MOLLE e

CADIER, 1992);

Razão de Absorção de Sódio (RAS): A RAS é o parâmetro que mede a

importância de sódio na água, em quantidade e relativamente aos outros

cátions principais que são eles: cálcio e magnésio. De acordo com Mole e

Cadier (1992), índices elevados de sódio na água pode acarretar na

48

impermeabilidade do solo, dificultando a alimentação das plantas, a prática

de culturas agrícolas, além de enchacar a superfície do solo; e

i) Tabulação de dados: Após o recebimento das análises realizadas pelo

laboratório da CAGECE, os resultados foram organizados em tabelas e gráficos

para serem analisados e discutidos.

5.1 Coleta das amostras e verificação do nível da água

Durante o processo de coleta das mostras, na oportunidade também

verificou-se a variação do nível do lençol. A figura 12 mostra fotos tiradas no local

no ato do recolhimento das amostras de água: (a) Amostra para a análise

bacteriológica; (b) EPIs utilizados; (c) Amostra para as demais análises (d) Medição

do nível do lençol.

Figura 12: Fotos da coleta para as análises

Fonte: Ferreira, 2017 Fonte: Ferreira, 2017

(a) Amostra para análise bacteriológica (b) EPIs utilizados

49

Fonte: Ferreira, 2017 Fonte: Ferreira, 2017

(c) Amostra para as demais análises (d) Medição do nível do lençol

6 RESULTADOS E DISCUSSÕES

Os resultados foram obtidos a partir de análises feitas em laboratório,

uma vez que eram recolhidas as amostra de água disponível no poço amazonas

construído à montante da barragem. As análises de cada parâmetro de qualidade

foram realizadas pelo Laboratório de Controle da Qualidade de Água e Esgoto da

CAGECE, pelo Standard Methods for the Water e Wastewater, (2012) Método 9060.

6.1 Campanhas coletas de água

O gráfico da figura 13 representa a variação do nível da água do poço

construído na barragem. Como citado anteriormente, as análises só puderam ser

feitas a partir do mês de março, tendo em vista que durante o mês de fevereiro o

poço não apresentava sequer uma lâmina de água suficiente para realização da

coleta da água.

Como pode ser observado no gráfico da figura 13, à variação do nível da

água no subsolo aumentou de acordo com os volumes precipitados na área no

decorrer dos meses, somado ao que vinha sendo acumulado no poço.

50

Figura 13: Gráfico da Variação do nível de água no Poço amazonas.

Fonte: Ferreira, 2017

Todos os resultados dos ensaios feitos em laboratório estão

representados nas tabela 2 e 3, que são respectivamente os valores dos parâmetros

de qualidade e os correspondentes aos parâmetros necessários para a obtenção do

índice de RAS.

Para os parâmetros de qualidade foram realizadas duas análises, uma

referente ao mês de março, e outra ao mês de abril. Assim, foi possível identificar se

houve alguma variação por conta das precipitações e consequentemente do

aumento do nível da água no poço.

Tabela 2: Resultados dos parâmetros analisados.

Fonte:Ferreira, (2017)

0

0,5

1

1,5

2

2,5

3

3,5

Fevereiro184.9mm

Março226.4mm

Abril152.2mm

Nivel da água 0 1,86 3,32

0

1,86

3,32 N

ivel (m

)

Precipitações mensais

Nivel da água

Parâmetro Unidade Março Abril

Condutividade US/cm 495.90 497.00

STD Mg/l - 273,35

Cloreto mg/l 4.82 7.93

Nitrato mg/l 2.24 0,44

Coliformes totais NMP/100ml 2.4 E3 2.4 E3

Escherichia coli NMP/100ml 2.0 E3 1.2 E3

51

Tabela 3: Parâmetros analisados para obtenção da RAS.

Fonte: Ferreira, (2017)

6. 2 Qualidade da água disponível para consumo humano

As águas são geralmente consideradas potáveis quando podem ser

consumidas pelo homem sem causar nenhum risco à saúde, apresentando um

aspecto límpido e transparente, sem cheiro ou gosto desagradável (COSTA; CIRILO

2010).

Os resultados das análises feitas nesse estudo foram comparados a

Resolução 357/ 2005 do Conselho Nacional do Meio Ambiente - CONAMA, Portaria

2914 de 12/12/2011 do Ministério da Saúde. Na tabela 4 estão relacionados esses

dados e em destaque os resultados dos parâmetros reprovados na comparação com

base no uso para consumo humano.

Tabela 4: Comparação dos resultados com a resolução CONAMA Nº 357/05 e a

Portaria 2914/2011 do ministério da saúde

Parâmetro Unidade Resultados CONAMA Nº

357/05(VMP) 2914/2011(MS)

(VMP) Março Abril

STD Mg/l - 273.35 500 1.000

Cloreto Mg/l 4,82 7,93 250 250

Nitrato Mg/l 2,24 0,44 10 10

Coliformes

totais

NMP em 100

ml

2,4 2.4 NE 0

Escherichia coli NMP em 100

ml 2,0 1.2 - 0

Legenda: VMP - Valor Máximo Permitido NMP - Número Mais Provável NE - Não especificado

Fonte: COSTA e CIRILO (2010), CAGECE (2017)

Parâmetro Unidade Março Abril

Magnésio mg/l - 35.04

Cálcio mg/l - 32.00

Sódio mg/l - 08.00

RAS mg/l - 0,49

52

6.3 Qualidade da água disponível para dessedentação de animais

Com relação aos níveis de sais na água, considerando os padrões de

qualidade para consumo animal, para Costa & Cirilo (2010) esses padrões não são

tão rígidos quanto os demais, devido à grande variedade de espécies existentes. No

entanto de acordo com os mesmos autores a literatura define algumas tolerâncias

que podem ser adotas como mostra a tabela 5.

Tabela 5: Limites médios de tolerância à sais em relação a STD (Sólidos Totais

Dissolvidos).

Animal STD (mg/l)

Aves 2.860

Porcos 4.220

Cavalos 6.435

Gado de leite 7.180

Gado de corte 10.000

Carneiros 12.900

Fonte: LARAQUE (1991) apud. Costa e Cirilo

Para essa análise de dados é importante que se saiba a propoção do

resíduo seco em relação à condtividade. De acordo com Molle & Cadier (1992), o

resíduo seco vale aproximadamente 0.64 CE. Isso sigfica dizer que uma água com

1000 US/cm contém cerca de 640mg/l de resíduo seco. Nesse sentido, com relação

aos níveis de salinidade encontrados na barragem em estudo, todos os valores

foram inferiores a 1000 US/cm.

Para uma ánalise mais simplificada, obsevando o valor dos Sólidos

Totais Dissolvidos (SDT) do mês de abril, na tabela 4, o resultado foi 273.35 mg/l,

sendo esse valor bem inferior aos verificados na tabela 5, isso implica dizer que a

água disponibilizada atende aos limites de tolerância estabelecidos para o consumo

animal.

53

6.4 Qualidade da água disponível para agricultura (irrigação)

Para fins de Irrigação utilizou-se da classificação de Riverside, que é uma

combinação entre a condutividade elétrica e a Razão de Absorção de Sódio (RAS).

Para se obter o valor de RAS é necessário que se conheçam as concentrações de

que são respectivamente sódio, cálcio e magnésio.

A RAS é calculada pela fórmula:

Ao considerar que os valores de obtidos nas análises

realizadas foram respectivamente: 8 mg/l; 32 mg/l; 35.4mg/l , obteve-se que a RAS =

0.49 mg/l. Quanto ao nível de salinidade mais elevado constatado foi de 497.00

US/cm. Dessa forma esses indicativos foram observados com base no diagrama de

Riverside que estabelece o perigo de salinização, avaliando a qualidade da água

para fins de irrigação (Figura 13).

O diagrama possui classes que variam entre C1-S1 a C6-S4, onde “S”

indica o sódio expresso pelo índice da RAS e “C” a salinidade expressa pelo índice

de condutividade elétrica. No caso específico da água da barragem em estudo, nota-

se que a mesma pertence à classe C2-S1, sendo considerada uma água de boa

qualidade para fins de irrigação.

54

Figura 13: Diagrama de Riverside

Fonte: U.S. SALINITY LABORATORY STAFF (1954) ADAPTADO POR FERREIRA (2017).

7 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES

As barragens subterrâneas sem dúvida são uma boa alternativa de

convivência com o semiárido, além de se mostrar uma tecnologia sustentável, que

pode proporcionar qualidade de vida para a população. Entretanto quando são

construídas de maneira inadequada sem observar os devidos cuidados desde a

Baixa Baixa Média Alta Muito Alta Excessiva

B

aix

a M

édia

Alta M

uito

alta

índic

e d

e R

AS

55

locação até o processo construtivo, é comum ocorrer o insucesso parcial ou total da

obra.

No estudo de caso foram detectadas inúmeras falhas tanto no projeto da

obra, quanto na execução. O erro na construção da parede, por exemplo,

impossibilitou à prática da agricultura irrigada, tendo em vista que não há água

suficiente para esse fim. Essa insuficiência de água está associada ao volume

perdido, que percola por baixo da parede, cujo alicerce não atingiu a rocha

impermeável.

Nas visitas ao local da barragem observou-se que a área é muito

pequena o que impossibilita uma possível ampliação das culturas plantadas à sua

montante. Outro fator ignorado no momento da locação foi a inexistência de solo

aluvião, rico em matéria orgânica que propicia as atividades agrícolas.

Com relação à potabilidade para consumo humano, observou-se que a

água analisada não atende aos padrões de potabilidade, podendo ser usada sem

restrições apenas para fins de irrigação e dessedentação de animais. É importante

ressaltar que as análises foram feitas em pleno período chuvoso, e mesmo assim o

nível de salinidade da água aumentou no intervalo dos meses de março a abril. O

aumento da salinidade pode ser explicado pela presença excessiva de sais no solo

que se dissolveu na presença da água da chuva. Outro fator que pode ter

contribuído para o aumento da salinidade no período chuvoso é o tipo de solo

presente na bacia hidrográfica. Isso implica que mesmo o resultado das análises

sendo favorável a essas práticas, é importante ficar atento ao risco de salinização, já

que a água permanece inutilizada. Para que a salinização não ocorra sugere-se que

o proprietário da barragem providencie o bombeamento da água existente, para que

possa haver a renovação da mesma.

A pesquisa realizada deu ênfase também em detalhar todo processo de

locação e de construção da barragem, tendo em vista que a observação rígida dos

métodos de construção está assoada diretamente ao sucesso da barragem. Nesse

sentido, recomenda-se fazer um estudo topográfico mais aprofundado e manter uma

fiscalização técnica durante a execução da obra impedindo que esses erros

ocorram.

Contudo aos interessados pela tecnologia utilizada corretamente, sugere-

se que façam uma avaliação de seus impactos sociais econômicos e sustentáveis,

56

para que percebam suas vantagens e os benefícios que a obra pode proporcionar à

sua propriedade.

Outra sugestão interessante é optar pelo modelo que apresente

condições de controle do processo de salinização e permita o monitoramento do

nível da água ao longo do ano. O modelo Costa e Melo, possui além dessas, outras

vantagens como: rapidez na execução, baixo custo e pode ser executada com mão-

de-obra local.

.

57

8 REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA:

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Dispõe sobre os procedimentos de controle e de vigilância da qualidade da

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