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Avaliação da qualidade e segurança microbiológica de trutas de aquacultura Joana Isabel Oliveira Pereira Porto, 2013

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Avaliação da qualidade e segurança microbiológica de trutas de aquacultura

Joana Isabel Oliveira Pereira

Porto, 2013

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Avaliação da qualidade e segurança microbiológica de trutas de aquacultura

Assessment of the microbiological quality and safety of aquaculture trouts

Joana Isabel Oliveira Pereira

Dissertação de candidatura ao grau de Mestre em Alimentação Coletiva

apresentada à Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação da Universidade

do Porto

Orientadora: Profª Doutora Patrícia Antunes (FCNAUP)

Investigação efetuada no Laboratório de Microbiologia da Faculdade de Farmácia

da Universidade do Porto / REQUIMTE

abril, 2013

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Este trabalho foi parcialmente financiado por:

Universidade do Porto e Santander Totta, através dos “Projetos Pluridisciplinares

2011” (PP_IJUP2011_81) - The threat of multidrug resistance bacteria to public

health: when aquacultures raise more than fish.

Os resultados deste estudo foram apresentados e/ou publicados em:

Pereira J, Campos J, Mourão J, Barros M, Peixe L, Novais C, Antunes P.

2012. “Trutas arco-íris de aquacultura, veículos de bactérias e de genes de

resistência a antibióticos clinicamente relevantes”. 5ª Reunião Anual PortFIR

(Portal de Informação Alimentar) com o tema “A mais-valia da partilha da

informação”, organizada pelo Departamento de Alimentação e Nutrição (DAN)

do Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA). 25 outubro,

Lisboa.

Pereira J, Campos J, Mourão J, Barros M, Novais C, Peixe L, Antunes P.

2013. “Antibiotic resistant bactéria in aquaculture rainbow trouts: a new threat

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in the food chain?”. 6º Encontro de Jovens Investigadores da Universidade do

Porto (IJUP). 13-15 fevereiro, Porto.

Pereira J, Campos J, Mourão J, Barros M, Novais C, Peixe L, Antunes P.

2013. “Aquaculture rainbow trouts are contaminated with multidrug-resistant

Enterobacteriaceae species carrying clinically relevant antibiotic genes”. 23rd

European Congress of Clinical Microbiology and Infectious Diseases

(ECCMID), organized by European Society of Clinical Microbiology and

Infectious Diseases (ESCMID). 27-30 abril, Berlim, Alemanha.

Antunes P, Campos J, Mourão J, Pereira J, Novais C, Peixe L. 2013.

“Contribution of trout farms to the spread of Enterobacteriaceae carrying

plasmid-mediated quinolone resistance genes”. 23rd European Congress of

Clinical Microbiology and Infectious Diseases (ECCMID), organized by

European Society of Clinical Microbiology and Infectious Diseases (ESCMID).

27-30 abril, Berlim, Alemanha.

Prémios:

Pereira J, Campos J, Mourão J, Barros M, Peixe L, Novais C, Antunes P.

Melhor Poster atribuído a “Trutas arco-íris de aquacultura, veículos de

bactérias e de genes de resistência a antibióticos clinicamente relevantes”

na 5ª Reunião Anual PortFIR, com o tema “A mais-valia da partilha da

informação”, organizada pelo Departamento de Alimentação e Nutrição

(DAN) do INSA. 25 de outubro de 2012, Lisboa.

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Agradecimentos

Ao finalizar este trabalho, não esqueço todos aqueles que, de alguma forma,

me ajudaram a construí-lo e torná-lo realidade. Assim, gostaria de prestar um

sincero agradecimento:

À minha orientadora, a Profª Doutora Patrícia Sofia Carneiro Antunes por toda

a ajuda, apoio e disponibilidade que sempre demonstrou no decurso deste

trabalho. Um sincero agradecimento por todos os ensinamentos que me

transmitiu e por toda a compreensão que teve desde o primeiro momento.

À minha diretora de curso e a todos os outros professores que contribuíram

para a minha formação, agradeço.

À Joana Campos, pois sem ela muito do meu trabalho não estaria aqui hoje,

(Muito Obrigada!), à Joana Mourão, Mariana e outras tantas colegas que

encontrei pelo caminho da Faculdade de Farmácia. Obrigada pelo apoio e bons

momentos.

À minha amiga Sofia Duarte, pelas conversas, desabafos, companheirismo e

ajuda na entrega da tese, um grande beijinho!

À minha avó que faz tudo o que pode e o que não pode para me ver bem. A

ela, a todos os outros avós que guardo na memória e no coração e à restante

família, muito obrigado por me ajudarem a crescer e perceber que a família é

eterna e a melhor coisa que temos na vida.

Aos meus pais que sempre lutaram para que eu pudesse ter um futuro

melhor, dando-me apoio e carinho sempre que precisei, apesar de todos os

momentos complicados que foram surgindo pelo caminho. Com eles, foi possível

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ultrapassá-los, mesmo longe de casa. São exemplo para mim e espero um dia

poder retribuir todos os esforços.

À minha irmã, por saber que posso contar sempre com ela. Apesar da

distância, está sempre bem perto no coração. Obrigada por toda a paciência para

os meus desabafos e pelas tardes e noites de conversa via Skype com os meus

sobrinhos lindos, o Tomé e a Gabriela.

Por fim, ao meu Miguel, que é o meu melhor amigo e a melhor pessoa que

podia imaginar para ter ao meu lado. Obrigada pela paciência, pelo respeito, por

todos os bons momentos, por me apoiares quando fraquejo e pelo amor que dás

à minha vida.

Obrigada.

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Resumo

A aquacultura é das indústrias do setor alimentar que mais tem crescido nos

últimos anos, representando cerca de 50% do peixe consumido mundialmente. Os

produtos aquícolas são vantajosos para uso em unidades de alimentação coletiva por

apresentarem características constantes, qualidade controlada e preço mais estável e

inferior ao dos produtos da pesca. No entanto, os perigos microbiológicos para a

segurança alimentar são preocupantes e encontram-se incompletamente avaliados.

Assim, foi objetivo deste estudo avaliar a presença das bactérias patogénicas Salmonella

e Listeria monocytogenes e de Enterobacteriaceae portadoras de genes de resistência a

antibióticos clinicamente relevantes em trutas de aquacultura (Oncorhynchus mykiss)

comercializadas em Portugal. Foram recolhidas 25 amostras de truta arco-íris de

supermercados do distrito do Porto e 9 amostras (6 de águas, 2 de trutas e 1 de ração)

de uma aquacultura do Centro do país. Os parâmetros avaliados incluíram a pesquisa de

Salmonella, Listeria monocytogenes e Escherichia coli, segundo normas internacionais. A

deteção de bacilos Gram negativo resistentes a antibióticos foi efetuada após

enriquecimento e sementeira em meios suplementados e não suplementados com

antibióticos (ceftazidima, cefotaxima e ciprofloxacina). Os genes que codificam para

resistência a β-lactâmicos, fluoroquinolonas e outros antibióticos foram pesquisados por

PCR/sequenciação. As espécies foram identificadas por API ID32GN/16SrDNA PCR e

determinaram-se os grupos filogenéticos de E. coli. A resistência a antibióticos foi

analisada pelo método de difusão em agar/E-test. Não foram detetados os

microrganismos patogénicos Salmonella e L. monocytogenes. E. coli (37 isolados; grupos

filogenéticos: A0-6; A1-6; B1-16; B2-1; D-8) foi detetada em 48% das amostras (7 de

truticultura e 11 de supermercado), sendo 56% dos isolados resistentes a antibióticos de

diferentes famílias. Não foram detetadas β-lactamases de espetro alargado, mas

detetaram-se diversos tipos de genes de resistência a quinolonas habitualmente

associados a plasmídeos (PMQRs) em 9% dos isolados, com CMIs à ciprofloxacina

superiores ao ECOFF para a espécie/género. O gene qnrS1 foi detetado em E. coli (n=2;

truticultura), o gene qnrS2 em Hafnia alvei (n=2; supermercado), o gene qnrB10/nova

variante de qnrB em Citrobacter freundii (n=3; supermercado e truticultura) e o gene

recentemente descrito qnrD em Proteus vulgaris (n=1; supermercado), todos os isolados

apresentando resistência a outras famílias de antibióticos. As trutas disponíveis para

consumo humano estão satisfatórias relativamente à presença de Salmonella e L.

monocytogenes, mas constituem um veículo/reservatório importante de bactérias/genes

de resistência a antibióticos com impacto clínico. A deteção de bactérias multirresistentes

e de PMQR em produtos aquícolas é preocupante e salienta a necessidade de

estabelecer estratégias de controlo e prevenção em toda a cadeia alimentar.

Palavras-Chave

Aquacultura; Truta arco-íris; Enterobacteriaceae; resistência a antibióticos; genes PMQR.

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Abstract

Aquaculture is currently one of the fastest growing food production sectors and is

associated with approximately 50% of the fish produced worldwide for human

consumption. It is a solution for food services with constant products, controlled quality

and more stable and cheaper prices than fish capture products. However, food safety

threats are currently recognized concerns but incompletely evaluated. Our goal was to

assess the presence of pathogenic bacteria Salmonella and Listeria monocytogenes and

Enterobacteriaceae carrying clinically relevant antibiotic resistance genes in aquaculture

rainbow trouts marketed in Portugal. We analyzed 25 rainbow trout samples from

supermarket and 9 samples (6 of water, 2 of trouts and 1 of feed) from an aquaculture in

the center of country. We screened for Salmonella, Listeria monocytogenes and

Escherichia coli by standard methods. Antibiotic-resistant Gram negative bacilli were

detected using selective media with/without antibiotics (ceftazidime, cefotaxime and

ciprofloxacin) after enrichment. Genes conferring resistance to β-lactams,

fluoroquinolones and other antibiotics were searched by PCR/sequencing. Species were

identified by API ID32GN/16SrDNA PCR and phylogenetic group was determined in E.

coli. Antibiotic resistance was analyzed by agar diffusion/Etest. The pathogenic bacteria

Salmonella and L. monocytogenes were not detected. E. coli (37 isolates; phylogenetic

groups: A0-6; A1-6; B1-16; B2-1; D-8) was found in 48% of samples (7 from aquaculture

and 11 from supermarket), with 56% resistant to different antibiotics. Extended spectrum

-lactamases were not detected but plasmid-mediated quinolone resistance genes were

observed in 9% of the isolates, all of them with MICs to ciprofloxacin above ECOFF for

species/genus. The qnrS1 gene was detected in E. coli (n=2; aquaculture), the qnrS2

gene in Hafnia alvei (n=2; aquaculture), the qnrB10/new qnrB variant in Citrobacter

freundii (n=3; aquaculture and supermarket) and the recently described qnrD in Proteus

vulgaris (n=1; supermarket), all presenting resistance to other antibiotic families. Trouts for

human consumption analyzed in this study are not a source of Salmonella and L.

monocytogenes but they seem to be a vehicle of antibiotic-resistant bacteria/genes of

relevance for human and animal health. Detection of multidrug resistant bacteria and

PMQR in fish products is of concern and highlights the need to establish strategies for

control and prevention in all the food chain.

Keywords

Aquaculture; rainbow trout; Enterobacteriaceae;antibiotic resistance; PMQR genes.

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Índice

1. Introdução ........................................................................................................ 1

1.1. Evolução da produção de pescado e aquacultura ..................................... 1

1.2. Produção em Aquacultura .......................................................................... 4

1.2.1. Truticulturas e truta arco-íris (Oncorhynchus mykiss) .......................... 6

1.3. Impacto socioeconómico da produção aquícola ........................................ 7

1.4. Aumento do consumo de pescado ........................................................... 10

1.4.1. Produtos de aquacultura .................................................................... 11

1.5. O mercado da aquacultura e a alimentação coletiva ............................... 12

1.6. Aquacultura e segurança alimentar .......................................................... 14

1.6.1. Doenças de origem alimentar associadas ao pescado ...................... 15

1.6.2. Resistência aos antibióticos e aquacultura ........................................ 22

2. Objetivos ........................................................................................................ 31

3. Material e Métodos ......................................................................................... 33

3.1. Amostragem ............................................................................................. 33

3.1.1. Colheita das amostras ....................................................................... 33

3.1.2. Preparação das amostras .................................................................. 34

3.2. Análise da qualidade e segurança microbiológica ................................... 35

3.2.1. Contagem de microrganismos aeróbios mesófilos ............................ 35

3.2.2. Pesquisa de Escherichia coli ............................................................. 35

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3.2.3. Pesquisa de Salmonella e Listeria monocytogenes .......................... 36

3.3. Seleção de bactérias resistentes a antibióticos ....................................... 37

3.4. Deteção e caraterização de genes de resistência a antibióticos ............. 37

3.4.1. Obtenção do DNA e condições dos métodos de PCR ...................... 38

3.4.2. Eletroforese em gel de agarose ........................................................ 39

3.4.3. Purificação e sequenciação dos produtos de PCR ........................... 39

3.4.4. Identificação ao nível da espécie/infra espécie ................................. 40

3.5. Avaliação da suscetibilidade a antibióticos .............................................. 40

3.5.1. Método de difusão em agar com discos ........................................... 41

3.5.2. Avaliação da suscetibilidade a antibióticos β-lactâmicos de largo

espetro e pesquisa de β-lactamases ............................................................. 42

3.5.3. Determinação da concentração mínima inibitória (CMI) à

Ciprofloxacina por E-test ............................................................................... 42

4. Resultados e Discussão ................................................................................ 43

4.1. Avaliação da qualidade e segurança microbiológica ............................... 43

4.2. Deteção e caraterização de bactérias resistentes aos antibióticos ......... 47

4.2.1. Escherichia coli ................................................................................. 47

4.2.2. Outras Enterobacteriaceae ............................................................... 54

5. Conclusões .................................................................................................... 59

6. Referências Bibliográficas ............................................................................. 61

Anexos ................................................................................................................. 73

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Lista de Abreviaturas

ATP: Adenosina Trifosfato

CDC: Center for Disease Control and Prevention

CLSI: Clinical and Laboratory Standards Institute

CMI: Concentração Mínima Inibitória

DNA: Ácido Desoxirribonucleico

ECOFF: Epidemiological cut-off value

EFSA: European Food Safety Authority

ESBL: Extended-spectrum beta-lactamase

EUA: Estados Unidos da América

EUCAST: European Commitee on Antimicrobial Susceptibility Testing

FAO: Food and Agriculture Organization

FDA: Food and Drug Administration

ISO: International Organization for Standardization

OIE: World Organisation for Animal Health

OMS: Organização Mundial da Saúde

PCR: Polymerase chain reaction

PMQR: Plasmid-mediated quinolone resistance

UE: União Europeia

UFC: Unidades Formadoras de Colónias

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Lista de Figuras

Figura 1. Produção de pescado por captura e por produção aquícola a nível

mundial (2012) ....................................................................................................... 2

Figura 2. Disponibilidade de produtos de pesca per capita (2003). Quantidade em

kg/habitante/ano ..................................................................................................... 2

Figura 3. Utilização e disponibilidade de pescado a nível mundial (2007) ............ 3

Figura 4. As 10 espécies aquícolas mais produzidas na União Europeia (2005).

Volume em toneladas ............................................................................................. 7

Figura 5. Emprego no setor da pesca, por sexo (2003) ........................................ 8

Figura 6. Balança comercial (exportações e importações) dos produtos da pesca

ou relacionados com esta atividade, em Portugal (2011) ....................................... 9

Figura 7. Composição nutricional da truta arco-íris de captura e de aquacultura 12

Figura 8. Distribuição de surtos por veículos de alimentos na UE em 2010 ........ 16

Figura 9. Distribuição de surtos por veículos de alimentos na UE em 2011 ........ 16

Figura 10. Distribuição dos agentes causadores de surtos associados a pescado

na UE em 2011 .................................................................................................... 18

Figura 11. Distribuição dos agentes causadores de surtos associados a pescado

nos EUA, em 2009-2010 ...................................................................................... 19

Figura 12. O fluxo de bactérias/genes de resistência a antibióticos em diferentes

nichos ecológicos, incluindo aquaculturas ........................................................... 25

Figura 13. Transferência horizontal de genes de resistência a antibióticos.

Mecanismos de conjugação, transdução e transformação .................................. 27

Figura 14. Formas de transmissão de bactérias resistentes aos antibióticos

através da cadeia alimentar ................................................................................. 29

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Figura 15. Distribuição dos isolados de E. coli (n=37) por grupos filogenéticos e

tipo de amostra ..................................................................................................... 47

Figura 16. Ocorrência da resistência aos antibióticos nos isolados de E. coli

(n=23) por tipo de amostra ................................................................................... 50

Lista de Tabelas

Tabela 1. Exemplos de microrganismos patogénicos transmitidos pelo pescado.

............................................................................................................................. 18

Tabela 2. Perfis de resistência aos antibióticos dos isolados de E.coli (n=23) .... 49

Tabela 3. Caracterização dos isolados de Enterobacteriaceae com genes PMQR

............................................................................................................................. 57

Tabela 4. Descrição e sequências nucleotídicas dos primers, reagentes,

condições de amplificação e tamanho do produto esperado para as diferentes

reações de PCR. .................................................................................................. 73

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1. Introdução

1.1. Evolução da produção de pescado e aquacultura

A população mundial tem apresentado um aumento contínuo ao longo das

últimas décadas, assim como a produção de bens alimentares e o

desenvolvimento tecnológico associado (1). No entanto, este aumento na

produção de algumas categorias de alimentos encontra-se ainda distante do

desejado e necessário, incluindo no que se refere ao pescado1, quer do setor

pesqueiro em geral, quer da produção aquícola (produtos de aquacultura) (1).

A produção mundial da pesca, incluindo de aquacultura, tem aumentado ao

longo dos anos contribuindo, em 2008, com cerca de 142 milhões de toneladas de

pescado (Figura 1), prevendo-se que atinja os 170 milhões de toneladas até 2030

(2). Cerca de 81% (115 milhões de toneladas) da produção piscícola atual destina-

se ao consumo humano, sendo o peixe fresco o produto mais consumido (1, 3).

Relativamente à disponibilidade destes produtos para consumo humano registou-

se um novo máximo no valor per capita de 18,4 Kg/ano, em 2009 (1-3).

Atualmente, a União Europeia (UE) é o terceiro produtor de pescado a nível

mundial, correspondendo 8 mil toneladas de produção a Portugal (referentes ao

ano 2010) (4). No nosso país, os produtos da pesca por captura e de aquacultura

têm uma enorme importância dado que somos o maior consumidor de pescado da

União Europeia (Figura 2) e que ocupamos o 3º lugar a nível mundial, com uma

1 Segundo Vaz-Pires et al. (2005), define-se como “pescado” todos os seres vivos aquáticos

(incluindo suas partes ou produtos) que possam ser utilizados para a alimentação humana.

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disponibilidade/consumo per capita (quantidade disponível por pessoa) de

aproximadamente 57 Kg/ano (5, 6).

Figura 1. Produção de pescado por captura e por produção aquícola a nível mundial (2012) (3)

.

Figura 2. Disponibilidade de produtos de pesca per capita (2003). Quantidade em

kg/habitante/ano (5)

.

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3

A crescente demanda destes produtos da pesca tem sido acompanhada

por um aumento na estabilização de recursos de pesca, e em alguns casos,

levando mesmo à rotura de stocks de algumas espécies (2, 3, 6, 7). A diminuição dos

recursos naturais da pesca e o crescimento demográfico da população mundial

conduziram ao incremento da produção de pescado em aquacultura, cujo

aumento tem sido notável a nível mundial (Figura 3), assim como em tempos a

pecuária surgiu como alternativa para à caça (8).

Figura 3. Utilização e disponibilidade de pescado a nível mundial (2007) (9)

.

Com um crescimento médio anual de 8%, a aquacultura é provavelmente o

setor da indústria alimentar com maior e mais rápido crescimento nas últimas

décadas, representando atualmente cerca de 50% do pescado produzido

globalmente para alimentação humana (1, 2).

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Apesar de atualmente grande parte do pescado ser ainda obtido por captura,

a sua disponibilidade tem estabilizado. Observando a Figura 3 verifica-se que a

disponibilidade de pescado com origem na aquacultura tem vindo a aumentar ao

longo das últimas décadas, podendo no futuro desempenhar um papel ainda mais

determinante na produção global de peixe e, consequentemente, na saúde das

populações.

1.2. Produção em Aquacultura

A aquacultura ou aquicultura é definida como o cultivo de animais (nos quais

se incluem os moluscos e crustáceos) e/ou plantas aquáticas com recurso a

algum tipo de intervenção no processo de criação, na totalidade ou em parte do

seu ciclo de vida, com o objetivo de melhorar/incrementar a sua produção (Ex.:

manutenção de stocks, alimentação e proteção em relação a predadores) (9-12).

Atualmente, existem várias formas de classificar as técnicas e os tipos de

aquacultura, sendo frequentemente divididas em: i) água doce ou marinha; ii)

extensiva ou intensiva; iii) em meio natural ou em tanques (8, 13).

A aquacultura realizada em águas marinhas, também designada de

maricultura, recorre à utilização de jaulas (em alto-mar) ou tanques (estruturas

construídas em terra), onde os animais ficam limitados a uma zona controlada.

Esta produção pode ser realizada de forma extensiva (a alimentação dos animais

é exclusivamente baseada nos recursos naturais), semi-intensiva (com

contribuição parcial do Homem na alimentação dos animais) ou intensiva (os

animais estão dependentes exclusivamente da alimentação artificial) (13).

A produção aquícola em água doce, designada de piscicultura, pode ser

realizada em lagos/lagoas naturais ou artificiais tratados de forma a favorecer a

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fauna aquática (13). Nestes sistemas de produção a densidade de animais é baixa

e a sua alimentação é, preferencialmente, natural, sendo do tipo de produção

extensivo. No entanto, os produtores podem fornecer, em alguns casos, um

complemento alimentar, sendo então um modo de produção semi-intensivo (2).

Mais recentemente, o modo de produção intensivo tem vindo a ser o mais

utilizado, consistindo na construção de estruturas artificiais (tanques) onde o peixe

é criado e recorrendo-se a alimentação artificial até o pescado atingir o tamanho

comercial e/ou o tamanho desejado (2, 13).

As técnicas de cultivo mais utilizadas envolvem a recirculação da água, ou

seja, a água mantém-se em circuito fechado, sendo tratada, reciclada e depois

reutilizada, ou o escoamento contínuo, em que os tanques são alimentados por

um desvio de água do rio a montante, que em fluxo contínuo passa uma única vez

no sistema de produção, sendo depois restituída a jusante, após “utilização” e,

idealmente, após tratamento (2, 13). A recirculação apresenta vantagens

relativamente ao escoamento contínuo, quer ao nível da poupança de água, quer

num melhor controlo da sua qualidade, incluindo um reduzido impacto ambiental

(2, 13). No entanto, apresenta desvantagens por ter custos elevados de

investimento e manutenção e poder não conseguir eliminar possíveis agentes de

doenças. A piscicultura por escoamento contínuo continua a ser a mais comum,

tendo como vantagens menores custos de investimento e manutenção, e, como

principais desvantagens uma maior dependência da qualidade da água do rio a

montante e possíveis impactos no ambiente envolvente com repercussões na

saúde pública (ex.: transmissão de doenças), em casos de falhas no tratamento

da água à saída do sistema (2, 13).

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1.2.1. Truticulturas e truta arco-íris (Oncorhynchus mykiss)

Na União Europeia, o terceiro produtor de pescado a nível mundial, as

espécies mais produzidas têm sido o mexilhão, a truta arco-íris e o salmão do

Atlântico (5). No nosso país, as espécies aquícolas mais produzidas são a truta em

água doce e a dourada, pregado e amêijoa em águas salgadas e salobras (4).

A truta arco-íris foi uma das primeiras espécies a ser produzida em

aquacultura, representando uma elevada fração do total de pescado produzido

em água doce, quer a nível mundial e europeu, quer a nível nacional (2, 5, 14, 15).

Uma das razões apontadas para esta elevada produção é a sua grande

adaptabilidade ao meio ambiente (14, 16). Na Europa, a produção deste peixe

começou na Dinamarca, por volta de 1890, e hoje representa a segunda espécie

aquícola mais produzida na União Europeia, sendo a primeira de água doce

(Figura 4) (5, 14). Em Portugal, a produção aquícola apresenta um rápido

crescimento (desde 1985), sendo de destacar as truticulturas, principalmente no

Norte do país, onde a temperatura da água é mais baixa e por isso mais

adequada à sua produção (16, 17). A truta arco-íris é uma das 5 espécies mais

produzidas em Portugal, ocupando o 1º lugar na piscicultura, do tipo intensiva, e a

sua produção atingiu, em 2011, as 949 toneladas (4, 5).

A truta arco-íris (Oncorhynchus mykiss) é um peixe originário da Califórnia

e a sua espécie nativa pode hoje encontrar-se na costa do Pacífico dos Estados

Unidos da América (EUA), devendo o seu nome às numerosas manchas coloridas

da sua pele (14, 18, 19). Este peixe é caracterizado por ser muito resistente à

manipulação humana e às condições ambientais, podendo ocupar diferentes

habitats, deslocar-se da água salgada para a doce e vice-versa ou permanecer

em lagos (14, 18). A temperatura ideal para a sua reprodução é de 21ºC, no entanto,

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7

consegue tolerar temperaturas desde os 0 aos 25ºC. O seu crescimento está,

essencialmente, dependente da temperatura da água e da alimentação e a

maturação é atingida, em condições normais, aos 3-4 anos de idade (18).

Figura 4. As 10 espécies aquícolas mais produzidas na União Europeia (2005). Volume em

toneladas (5)

.

No mercado nacional e internacional, a truta arco-íris está disponível para

consumo durante todo o ano, apresentando uma carne de cor branca ou rosada,

podendo ser vendida inteira ou em filetes, no estado fresco ou preservada por

fumagem (18).

1.3. Impacto socioeconómico da produção aquícola

Com o crescimento da população mundial e a estabilização, ou mesmo rotura,

dos recursos naturais da pesca, tem sido colocado aos vários setores agrícolas o

desafio de melhorar e aumentar a produção animal sem comprometer a qualidade

e, principalmente, a segurança dos produtos (20). No setor das pescas, prevê-se

que a aquacultura possa vir a desempenhar um papel cada vez mais importante

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8

face ao incremento na procura destes produtos e ao aumento populacional, tendo

em conta a sua já forte contribuição para a economia (destacando-se a

exportação) de vários países (1, 8, 20).

Os setores das pescas e da aquacultura são fonte de inúmeros postos de

trabalho relacionados com a área (mais de 415 mil postos na Europa; Figura 5),

incluindo processamento, embalamento, marketing e distribuição,

desenvolvimento de tecnologia e equipamento para o setor (redes, engrenagens,

embarcações), trabalho de pesquisa e administrativo, entre outros (3, 5).

Figura 5. Emprego no setor da pesca, por sexo (2003). * Dados relativos a 2005; ** Dados

relativos a 2004,; *** Dados relativos a 2002 (5)

.

Estima-se que o emprego associado ao setor das pescas tenha aumentado

significativamente nas últimas três décadas e que represente o meio de

subsistência para 660-820 milhões de pessoas em todo o mundo (cerca de 10-

12% da população mundial) (1, 3, 7).

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9

Os produtos da pesca continuam entre os produtos alimentares mais

comercializados mundialmente (contribuindo com cerca de 10% para as

exportações do setor agrícola) (3). Em Portugal, têm um impacto a destacar, dado

o elevado consumo de pescado pela população e o constante défice na balança

comercial destes produtos (superior a 660 mil euros em 2011; Figura 6) (4, 5, 21-23).

Figura 6. Balança comercial (exportações e importações) dos produtos da pesca ou relacionados

com esta atividade, em Portugal (2011) (4)

.

Em Portugal, a aquacultura tem-se revelado uma área com um enorme

potencial de crescimento e uma importante alternativa no combate à diminuição

dos produtos provenientes de captura, dado a privilegiada localização geográfica

sob influência do Atlântico e do Mar Mediterrâneo (5, 6). Contudo, é urgente o

desenvolvimento e/ou atualização das atuais políticas relacionadas com a

produção aquícola, incluindo a criação de estratégias para que se possam atingir

melhores resultados na produção (3). Alguns incentivos monetários e fiscais têm

sido implementados em vários países, incluindo Portugal, com o objetivo de

promover a competitividade e sustentabilidade do setor aquícola com aposta na

inovação e qualidade dos produtos, tirando proveito de todas as possibilidades da

pesca e potencialidade da aquacultura (3, 4, 16, 24). A produção aquícola pode,

assim, contribuir para um ambiente mais sustentável, desenvolvimento do

comércio, emprego e redução da pobreza, para além de outros benefícios (1, 2).

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10

1.4. Aumento do consumo de pescado

As alterações na qualidade de vida e nos padrões de consumo alimentar da

população têm sido associadas à rápida urbanização, ao aumento das transações

comerciais, à melhoria da industrialização, produção e distribuição de alimentos e

à inserção da mulher na vida ativa (1, 3). A partir dos anos 50, os consumidores

começaram a associar a ingestão de uma alimentação equilibrada com a

promoção da saúde, sendo comum considerarem que uma alimentação

correta/saudável deve incluir uma elevada ingestão de fibras e uma diminuição da

ingestão de gorduras (25). Na opinião dos consumidores em geral, o pescado

(peixe e marisco) é um dos grupos de alimentos considerados mais saudáveis,

tendo aumentado a sua procura nas últimas décadas (1). Os apoios

governamentais e os avanços tecnológicos na indústria do pescado contribuíram

para a melhoria na produção, conservação, distribuição e globalização do seu

consumo e, consequentemente, para a redução de custos, aumento da variedade

de espécies para consumo humano e da segurança destes produtos

considerados de alta perecibilidade (1, 15).

Os produtos da pesca e aquacultura contribuem significativamente para o

cumprimento das necessidades nutricionais nos países europeus, particularmente

em Portugal, onde a sua disponibilidade/consumo per capita é elevada (3, 5, 25). De

facto, cada porção de pescado (aproximadamente 150g) contribui com 50-60% do

valor proteico diário recomendado para um adulto (1, 25). A sua importância para

uma alimentação saudável está comprovada, pois o pescado é uma excelente

fonte de proteína de alta qualidade (contendo os 9 aminoácidos essenciais) e

elevada digestibilidade, de baixo teor calórico e reduzidos níveis de gorduras

saturadas e colesterol (1, 3, 20, 25, 26). O pescado é composto maioritariamente por

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11

gordura polinsaturada, altos níveis de ácidos gordos ómega-3 e representa uma

boa fonte de vitaminas e minerais, destacando-se o iodo (1, 20, 25, 26). Assim, este

grupo de alimentos pode e deve ser consumido por todos os grupos etários, dado

que o consumo destes produtos contribui para a prevenção de doenças

cardiovasculares, para o desenvolvimento cerebral, melhoria do sistema nervoso

e prevenção de distúrbios mentais (ex.: depressão ou demência) (1, 25, 26).

1.4.1. Produtos de aquacultura

Com a crescente procura de pescado observada nas últimas décadas e a

estabilização/rotura dos recursos pesqueiros, incluindo em Portugal, a

aquacultura parece ser a única alternativa para que a oferta de pescado

corresponda à procura (1). No entanto, alguns consumidores ainda demonstram

algumas reservas em relação aos produtos aquícolas, nomeadamente

relativamente à sua composição e segurança (1).

A composição química do pescado varia de acordo com as suas

características intrínsecas (espécie, sexo, idade) e características extrínsecas

(fatores ambientais, geográficos e composição da dieta) (27). A qualidade do peixe

inclui as suas propriedades nutricionais, microbiológicas e físico-químicas, sendo

no momento da compra a avaliação sensorial (aparência, cheiro e textura) e o

conceito de “frescura” que mais influenciam o consumidor (2, 15, 20, 28, 29). De facto,

verificam-se algumas diferenças no grau de frescura e na qualidade entre o peixe

capturado e o de aquacultura, mas ao contrário da opinião de alguns

consumidores, em benefício do pescado de aquacultura (6). Por exemplo, o

esforço físico e a fadiga causados na captura podem causar alterações ao nível

molecular devido à extinção dos recursos energéticos (ex.: ATP, glicogénio), com

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12

repercussões negativas na qualidade do músculo e na frescura (29, 30).

Adicionalmente, o aquicultor pode manipular diversos fatores (ex.: alimentação

dos animais, fatores ambientais, idade biológica, crescimento) de forma a

assegurar a disponibilidade do pescado durante todo o ano e a melhorar a sua

qualidade (15, 31, 32). Relativamente à comparação da composição nutricional entre

peixes de captura e de aquacultura não há grande diferença (25, 33, 34),

apresentando-se na Figura 7 a composição nutricional média da truta arco-íris de

captura versus de aquacultura.

Figura 7. Composição nutricional da truta arco-íris de captura e de aquacultura (33, 34)

.

1.5. O mercado da aquacultura e a alimentação coletiva

Nos últimos anos, em virtude de diversas alterações no estilo de vida das

populações, tem-se verificado um aumento do número de refeições efetuadas

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13

“fora-de-casa” (1, 3, 35). Por exemplo, em França e na região central norte dos EUA

o consumo de pescado fora-de-casa é muito elevado, quando comparado com

refeições de outros grupos de alimentos ou com as refeições feitas em casa, ou

seja, a maior parte das vezes que a população consome estes alimentos é fora-

de-casa (35, 36).

Os consumidores procuram rapidez e conveniência, mas não deixam de exigir

qualidade nos produtos alimentares e nas refeições que lhes são servidas (1, 3). Os

vendedores (retalhistas, comerciantes, responsáveis de vendas da restauração),

por sua vez, exigem aos seus fornecedores alimentos de qualidade, aumentando

globalmente o padrão de qualidade dos produtos (2, 15). Assim, o setor da

aquacultura terá ainda uma grande margem de crescimento, podendo fornecer

alimentos de qualidade não só diretamente ao consumidor, mas também às

unidades de alimentação coletiva. No entanto, os aquicultores enfrentam ainda

algumas dificuldades associadas aos conflitos com o setor da pesca, falta de

feedback em relação às preferências dos seus clientes/consumidores e,

sobretudo, problemas burocráticos do foro governamental (1).

O setor da alimentação coletiva tem aumentado significativamente nos últimos

anos, em parte como consequência do estilo de vida da população. O consumo

“fora-de-casa” representa cada vez maior relevância no orçamento familiar, em

particular o consumo de produtos da pesca (6, 35, 36). As unidades de alimentação

coletiva em França e nos EUA têm representado um dos principais mercados

para estes produtos, nomeadamente para os de aquacultura (35, 36).

Adicionalmente, em várias regiões dos EUA (New England, Mid Atlantic, South

East, East Central e Central), os produtos aquícolas são mesmo considerados de

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14

qualidade superior comparativamente com os de captura, principalmente pelas

unidades de alimentação coletiva, supermercados e distribuidores (37).

Para que o setor da alimentação coletiva e o da produção aquícola

apresentem uma relação de “simbiose” real e promissora, algumas entidades

oficiais têm contribuído para elucidar os responsáveis das instituições de

alimentação coletiva em relação às vantagens da aquacultura e dos seus

produtos, no sentido de clarificar algumas preocupações e dúvidas que possam

ainda existir (36). Assim, os produtos de aquacultura são produtos saudáveis, com

características nutricionais adaptáveis a todos os consumidores, permitem uma

grande diversidade/variedade de escolha das espécies, são fáceis de manipular e

muito versáteis para a elaboração de ementas (35). Adicionalmente, estes produtos

estão disponíveis todo o ano, o que permite menores preços e mais estáveis do

que os obtidos por captura e facilita a elaboração dos orçamentos e do cálculo

das capitações nas instituições com uma redução de custos (15, 35). Para além

disso, devido ao modo de criação e alimentação dos animais, a sua qualidade

mantém-se constante, assim como o tamanho das porções, o que facilita a

elaboração das ementas nas unidades de alimentação coletiva (35).

1.6. Aquacultura e segurança alimentar

Paralelamente ao rápido crescimento da aquacultura a nível mundial têm

surgido preocupações na área da qualidade e segurança alimentar dos produtos

aquícolas (8). De facto, o desenvolvimento, a intensificação e a diversificação na

área da aquacultura associados ao aumento da globalização do comércio

alimentar levantam preocupações relacionadas com a segurança desses géneros

alimentícios e possíveis consequências para a saúde pública (1).

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15

1.6.1. Doenças de origem alimentar associadas ao pescado

A introdução e distribuição do pescado no mercado global conduziram a um

aumento da exposição humana aos contaminantes, incluindo microrganismos,

associados a este nicho ecológico (38). Deste modo, os perigos microbiológicos

deixaram de estar confinados aos locais de produção, podendo ocorrer uma

disseminação transcontinental (38, 39).

As doenças de origem alimentar são definidas como qualquer doença de

natureza infeciosa ou tóxica causada pelo consumo de alimentos ou água

contaminados (40). Quando a ingestão do mesmo alimento contaminado tem como

consequência a ocorrência de doença semelhante em dois ou mais casos

humanos ou quando se observa um número de casos superior ao número

expectável para determinada doença estamos perante um surto de origem

alimentar (40).

A maioria dos surtos reportados pelos sistemas de vigilância dos países

industrializados está associada a alimentos de origem animal (41, 42).

Relativamente ao pescado (inclui peixe e produtos de peixe) os dados da EFSA

(European Food Safety Authority) mostram que entre 2010 e 2011 ocorreu um

aumento do número de surtos associados a este tipo de alimentos, passando de

44 (6,3%) em 2010 (43) para 71 (10,1%) em 2011 (41) (Figura 8 e Figura 9). O

aumento do número de casos reportados ao pescado resulta da melhoria dos

métodos de identificação e deteção dos patogénicos, mas também da melhoria

dos sistemas de vigilância, sendo que tem aumentado o número de países que

têm reportado casos e surtos (43, 44).

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16

Figura 8. Distribuição de surtos por veículos de alimentos na UE em 2010 (43)

.

Figura 9. Distribuição de surtos por veículos de alimentos na UE em 2011 (41)

.

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17

Por outro lado, o número de surtos com origem no pescado também varia

dependendo da localização geográfica, sendo habitualmente superior nos países

do sudeste asiático (45). Esta variação está relacionada com fatores

antropológicos, como os hábitos alimentares das populações (Ex.: consumo de

pescado; consumo de pratos típicos crus) e do seu nível de saúde, a possibilidade

de efetuarem viagens e a globalização do comércio de produtos alimentares (45).

Atualmente, os fatores ambientais, como a temperatura atmosférica e do

ambiente aquático que influenciam a prevalência de patogénicos em

determinadas zonas do globo são também considerados fatores determinantes na

emergência das doenças de origem alimentar associadas ao consumo de

pescado (45).

As doenças de origem microbiana transmitidas pelos alimentos, incluindo o

pescado, podem ser divididas em intoxicações alimentares, quando o agente

etiológico é uma toxina produzida por um microrganismo no alimento, e infeções

alimentares, em que o agente causador é ingerido vivo e tem capacidade para

produzir enterotoxinas (toxi-infeção alimentar) e/ou invadir a mucosa intestinal

(e/ou disseminar-se para outros órgãos) (46). Na Tabela 1 apresentam-se os

principais agentes microbianos associados a intoxicações e infeções alimentares

por ingestão de pescado. Em 2011, segundo o último relatório publicado pela

EFSA relativo aos surtos de origem alimentar na Europa, o agente etiológico

microbiano mais frequentemente associado a surtos associados com pescado foi

a histamina (78,9% dos surtos), Salmonella e biotoxinas marinhas (4,2% dos

surtos cada)(41) (Figura 10). Nos EUA, segundo os dados de 2009-2010 do CDC

(Center for Disease Control), os principais agentes envolvidos em surtos

associados ao consumo de pescado foram Histamina e Ciguatoxina, seguido por

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18

Salmonella e Clostridium botulinum, sendo o principal veículo o peixe (42) (Figura

11).

Tabela 1. Exemplos de microrganismos patogénicos transmitidos pelo pescado (Adaptado de (46)

).

Agente etiológico

Infeções Bactérias Listeria monocytogenes, Salmonella, Escherichia coli, Vibrio vulnificus, Vibrio parahaemolyticus

Vírus Vírus da hepatite A, Norovírus, Vírus da hepatite E

Parasitas Nemátodos (Anisakis simplex, Psudoterranova dicipens, Gnathostoma spp., Capillaria spp., Angiostrongylus spp.), Céstodos (Diphyllobothrium latum, Diphyllobothrium pacificum), Tremátodos (Clonorchis sinensis, Opisthorchis sinensis, Metagonimus yokagawai, Heterophyes spp., Paragonimus spp., Echinostoma spp.)

Toxi-infeções Vibrio cholerae

Intoxicações Bactérias Staphylococcus aureus, Clostridium botulinum

Figura 10. Distribuição dos agentes causadores de surtos associados a pescado na UE em 2011

(41).

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19

Figura 11.Distribuição dos agentes causadores de surtos associados a pescado nos EUA, em

2009-2010 (Adaptado de (42)

).

O peixe e o marisco apresentam naturalmente uma flora microbiana

associada que pode incluir microrganismos patogénicos para o Homem. Esta flora

pode ser de origem endógena/natural do próprio animal ou pode ser de origem

externa/exógena, resultante de uma contaminação exterior associada ao

ambiente aquático que o envolve (ex.: contaminação por fezes de animais) e/ou

contaminação cruzada provenientes de erro humano em etapas como a

preparação, armazenamento e manutenção (8, 47, 48).

As estirpes de Vibrio, Aeromonas hydrophila, Plesiomonas shigelloides,

Listeria monocytogenes e Clostridium botulinum fazem parte da flora microbiana

considerada indígena do peixe e encontram-se amplamente distribuídas nos

ambientes aquáticos de várias partes do mundo (46, 49). No entanto, a temperatura

da água tem um efeito seletivo, fazendo com que os microrganismos

psicrotróficos (ex. Clostridium botulinum e Listeria) sejam mais frequentes no

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20

Ártico e climas frios enquanto os mesófilos (ex.: Vibrio cholerae e Vibrio

parahaemolyticus) representem parte da flora natural do peixe de zonas

temperadas ou tropicais quentes (49). Os casos de botulismo são reduzidos e

normalmente estão associados a produtos embalados/armazenados em

condições de baixa concentração ou ausência de oxigénio (45, 50, 51). Relativamente

a Listeria monocytogenes, o registo de casos esporádicos associados a pescado

está habitualmente associado a produtos fumados, como aconteceu

recentemente nos USA em produtos de salmão fumado (52) e na Europa com

produtos de peixe fumado, incluindo de truta arco-íris (53-55). O género Vibrio está

associado ao ambiente aquático de regiões geográficas com climas amenos,

como os países asiáticos (principais produtores de pescado), onde a espécie

Vibrio parahaemolyticus é o principal agente etiológico de surtos de origem

alimentar, em contraste com o que acontece em países europeus (56). Também

nos EUA tem ocorrido nos últimos anos um aumento do número de surtos

associados a espécies de Vibrio e pescado, principalmente marisco, relacionado

com as alterações climáticas, nomeadamente aumento da temperatura da água

(57).

Adicionalmente, outras bactérias patogénicas (ex.: Salmonella, Shigella, E.

coli patogénicas e Staphylococcus aureus) podem estar presentes nestes

alimentos, sendo provenientes do ambiente de produção (ex.: água e sedimentos

contaminados por matéria fecal), e/ou dos trabalhadores (ex.: más praticas de

higiene) do setor ao longo da cadeia alimentar (46, 49). A presença de Salmonella

está normalmente associada a contaminação fecal, quer do ambiente aquático,

quer por más práticas de higiene dos trabalhadores (41, 45). Em 2011, na Europa,

este patogénico foi o principal agente bacteriano associado com pescado, tendo

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21

representado 4,2% dos surtos alimentares causados por peixe (EFSA; Figura 10)

e 8% dos surtos em 2009-2010 nos EUA (CDC; Figura 11) (41, 42). De destacar um

surto de salmonelose com origem em salmão fumado que provocou 866 casos na

Holanda em 2012 (58). Adicionalmente, esta bactéria tem sido detetada em

aquaculturas ao longo dos anos e em diferentes regiões geográficas. Por

exemplo, em 1986, foi detetada a presença de isolados de Salmonella em

amostras de água e de peixe de aquaculturas na África do Sul (Durban) (59). Em

Portugal, foi detetada a presença de diferentes serotipos de Salmonella em

amostras ambientais recolhidas de duas aquaculturas do Norte e Centro do país

em 2011 (60). Esta bactéria constitui um risco para a saúde quando se encontra

em número suficiente no pescado para atingir a dose infeciosa (ou se for

armazenada em condições que permitam a sua proliferação) ou se as medidas

aplicadas no processamento alimentar não forem suficientes para reduzir ou

manter reduzidos os valores de concentração bacteriana (45). Estirpes de

Escherichia coli podem também ser isoladas de ambientes contaminados por

matéria fecal e conseguir sobreviver durante um longo período de tempo (61).

Apesar de não serem comuns surtos por estirpes patogénicas de E. coli (ex. E.

coli O157:H7) associados a pescado, as aquaculturas abastecidas por águas não

tratadas (ex. águas de rios contaminadas com fezes de animais) ou as más

práticas de higiene por parte dos manipuladores podem tornar os produtos

aquícolas como veículo potencial para estas bactérias (8, 46).

Os vírus, apesar de não se multiplicarem na água e nos alimentos (ao

contrário das bactérias), podem sobreviver (ex. resistindo à temperatura) no

ambiente aquático e pescado. A sua presença no pescado resulta da

contaminação fecal da água ou da contaminação pelos manipuladores, sendo que

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22

a contaminação inicial tem de ser elevada para que o pescado possa veicular

uma dose infeciosa suficiente para causar doença (46). O Homem e os animais são

a fonte dos vírus entéricos (ex.: Norovírus), podendo através de contaminação

fecal contaminar direta ou indiretamente os alimentos (46). Os Norovírus, um dos

principais agentes de doença de origem alimentar (46), causaram na Europa, em

2011, 87 surtos de origem alimentar, incluindo pescado (41). Em alguns países,

alguns casos têm sido associados a produtos aquícolas, como por exemplo os

surtos de 2011 na Nova Zelândia relacionados com ostras de aquacultura

contendo Norovírus (62).

Para o controlo das doenças microbianas transmitidas pelo pescado, incluindo

produtos de aquacultura, é essencial a existência de medidas de proteção

ambiental (ex.: qualidade da água à entrada e tratamento à saída em caso de

sistemas de fluxo contínuo; avaliação das áreas de pesca), de boas práticas de

higiene pessoal e de formação em segurança alimentar aos funcionários nos

postos de trabalho, principalmente em relação a pontos críticos como temperatura

de armazenamento e confeção (cruciais para a evitar a proliferação dos

microrganismos e para os inativar), higiene dos utensílios e materiais em contacto

com o pescado (13, 45, 46, 48, 63).

1.6.2. Resistência aos antibióticos e aquacultura

Os antibióticos são agentes antimicrobianos extensamente utilizados para fins

terapêuticos e profiláticos, quer em medicina humana, quer veterinária (12, 64-66). No

setor aquícola recorre-se, por vezes, à utilização de agentes antimicrobianos para

o controlo de doenças infeciosas bacterianas e/ou eliminação de bactérias

patogénicas para o peixe e para prevenir o aparecimento dessas doenças

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23

associadas ao local de produção (1, 12, 67). Adicionalmente, em aquacultura a

utilização de antibióticos é importante para a produção de novas espécies de

animais em cativeiro, mas muitas vezes também como alternativa à

implementação de medidas preventivas de controlo da infeção e de bem-estar

animal (1, 68) e para a promoção do crescimento dos animais, uma vez que

aumentam a eficácia da alimentação e diminuem os desperdícios na produção, tal

como na pecuária (64-66, 69). Apesar da utilização para este fim estar limitada ou

mesmo proibida em vários países (incluindo na União Europeia, desde 2006) (1, 68,

70), a possibilidade de usar estes compostos varia com as regiões geográficas

onde estão localizadas as produções aquícolas, uma vez que não existe

legislação nem práticas de produção homogéneas a nível mundial (71, 72). Na

União Europeia, são habitualmente aplicadas medidas de controlo e segurança,

sendo o uso de antibióticos integrado no programa de saúde animal e apenas

permitido para tratar as doenças infeciosas no peixe (controlar e/ou eliminar

microrganismos patogénicos) (73). Adicionalmente, o seu uso tem tido uma

redução crescente em alguns países (ex. Noruega) devido a políticas de

vacinação eficazes que previnem o desenvolvimento de infeções nos animais (71,

72, 74). Estas medidas preventivas podem ser bem-sucedidas, isto porque, a

prevenção de doenças no pescado vai diminuir a quantidade de antibióticos

utilizados (71). Em contraste, noutras regiões menos desenvolvidas como os

países asiáticos (onde se situam os maiores produtores mundiais de pescado), o

uso de antibióticos é menos regulamentado e mais intensificado, incluindo em

profilaxia e em terapia empírica, podendo os antibióticos manter-se no ambiente

aquático e em doses subinibitórias (71, 75).

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24

Assim, a utilização de antibióticos e os seus efeitos negativos continuam a ser

uma preocupação atual (1, 69, 71). Em algumas circunstâncias, os antibióticos são

administrados por injeção diretamente nos animais doentes, mas o mais comum é

serem administrados oralmente através da ração e neste caso parte do agente

antimicrobiano (ou seja, o alimento que não é consumido) permanece no

ambiente aquático por períodos de tempo prolongados, principalmente se não

forem agentes biodegradáveis (64, 65, 67). Na área da segurança alimentar surgem

questões relacionadas com o aumento da resistência bacteriana aos antibióticos,

presença de resíduos de fármacos veterinários nos produtos de aquacultura e

com o custo económico associado com os tratamentos, que têm vindo a ser mais

prolongados e complicados devido à redução da sua eficácia (1, 68, 73).

Como consequência da exposição bacteriana aos antibióticos pode ocorrer a

seleção e consequente disseminação de bactérias resistentes (patogénicas para

peixes/humanos e/ou comensais) nos animais de produção, na água/sedimento

dos tanques e no ambiente aquático recetor das águas das aquaculturas (Figura

12) (71, 72, 75). Estes microrganismos resistentes são capazes de sobreviver e

persistir na presença de concentrações de antibióticos mais elevadas do que os

isolados da mesma espécie selvagens (wild type) conseguem suportar (8, 71).

Adicionalmente, estas bactérias aquáticas podem constituir um reservatório de

genes de resistência que podem ser transferidos para patogénicos humanos, quer

na aquacultura, quer no ambiente aquático (71, 72). Alguns estudos mostram que é

frequente que as bactérias isoladas dos peixes de aquacultura sejam resistentes

a diversos grupos de antibióticos (76). Num estudo na Dinamarca, verificou-se que

o uso frequente de antibióticos na produção de trutas de aquacultura levou ao

aumento dos níveis de resistência das bactérias ambientais e patogénicos dos

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25

peixes (77). O contacto do Homem com estas bactérias e genes pode dar-se

através do consumo e manipulação do pescado ou de atividades recreativas em

sistemas aquáticos contaminados, podendo limitar, posteriormente, o sucesso da

antibioterapia em situações de infeção (71, 72, 75).

Figura 12. O fluxo de bactérias/genes de resistência a antibióticos em diferentes nichos

ecológicos, incluindo aquaculturas (68)

.

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26

De facto, com a globalização do comércio alimentar, a possibilidade de

disseminação de bactérias resistentes aos antibióticos e de resíduos de agentes

antimicrobianos em alimentos aquícolas é comum a todas as regiões (72). Além

disso, a disseminação dos genes de resistência a antibióticos não respeita

fronteiras filogenéticas, geográficas ou ecológicas, podendo tornar-se um

problema para a saúde pública relacionado com as aquaculturas, quer pela

transmissão direta de bactérias resistentes do ambiente aquático para os

humanos (por ingestão ou manipulação do pescado), quer indireta quando o

ambiente aquático funciona como um intermediário/reservatório de genes de

resistência (8, 71, 73).

A resistência bacteriana aos antibióticos ocorre por mutações genéticas ou

através da aquisição de genes de resistência, podendo ser transmitida por via

vertical ou horizontal (64, 78). A transferência vertical de genes consiste na

transmissão de material genético da célula mãe para a célula filha e a

transferência horizontal refere-se à transmissão de material genético entre

bactérias independentes, com uma distância filogenética por vezes significativa.

Atualmente, a transferência horizontal de genes é considerada muito importante

para a disseminação de genes de resistência a antibióticos, pois permite que

bactérias de espécies e origens diferentes que se encontram no mesmo

ambiente/nicho partilhem informação genética entre si, através da troca de

elementos genéticos móveis (ex.: plasmídeos) ou mobilizáveis (ex.: integrões) por

diferentes mecanismos – conjugação, transformação ou transdução (Figura 13)

(73, 76, 79). De facto, a presença de genes/elementos genéticos idênticos em

isolados diferentes do mesmo nicho ecológico e entre os isolados de animais e do

Homem demonstra a importância da transferência horizontal na disseminação da

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27

resistência pela cadeia alimentar (66). Por exemplo, foram detetados, plasmídeos

idênticos, contendo genes de resistência, que foram transferidos in vitro de

bactérias patogénicas do peixe e aquáticas (ex.: Aeromonas salmonicida,

Aeromonas hydrophila, Vibrio anguillarum e Vibrio salmonicida) não só para

bactérias do mesmo género mas também para E. coli (71). Estes dados mostram

que bactérias do ambiente aquático, incluindo patogénicos do pescado, podem

funcionar como reservatórios de genes de resistência a antibióticos que podem

ser transferidos para patogénicos humanos (71). Entre as bactérias Gram negativo,

os membros da família Enterobacteriaceae, são considerados importantes nesta

problemática porque sendo comuns à flora intestinal do Homem e outros animais

podem colonizar o Homem e/ou transferir os seus genes de resistência a

antibióticos para outras bactérias da sua flora intestinal (66, 69, 80).

Figura 13. Transferência horizontal de genes de resistência a antibióticos. Mecanismos de

conjugação, transdução e transformação (Fonte: http://www.scq.ubc.ca/attack-of-the-

superbugs-antibiotic-resistance/).

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28

Atualmente, a preocupação crescente com o papel da cadeia alimentar na

disseminação da resistência aos antibióticos relaciona-se fundamentalmente com

os antibióticos de maior relevância clínica que foram classificados pela

Organização Mundial de Saúde (OMS) como “clinicamente relevantes” (Critically

Important) (81). Esta classificação tem por base alguns critérios (ex.: se existem

alternativas ao antibiótico em questão ou se é um antibiótico utilizado no

tratamento de zoonoses), sendo de destacar as fluoroquinolonas e as

cefalosporinas de 3ª e 4ª geração, quer por serem antibióticos de largo espetro

importantes em medicina humana, quer devido à sua ampla utilização na

produção animal e à sua ligação com a resistência detetada em algumas

bactérias patogénicas para o Homem de origem zoonótica (ex.: Salmonella) (81).

Na cadeia alimentar, desde a produção primária ao consumo (venda a retalho

e cozinha), incluindo nas unidades de alimentação coletiva, são diversas as

formas/vias de transmissão das bactérias resistentes aos antibióticos (Figura 14).

No local de preparação dos alimentos (cozinhas domésticas ou industriais), as

bactérias resistentes podem ser disseminadas por uma incorreta evisceração do

animal, que poderá conduzir a contaminação da parte edível do peixe, mas

também por práticas de contaminação cruzada entre o pescado cru e outros

alimentos cozinhados ou prontos a comer (63). Também a confeção do pescado a

temperaturas insuficientes para a eliminação dos microrganismos provenientes da

parte edível do peixe poderá conduzir à ingestão de bactérias potencialmente

resistentes aos antibióticos (63). Assim, com o aumento global do consumo de

produtos de aquacultura, a probabilidade de exposição/ingestão de bactérias

resistentes a antibióticos, de genes de resistência ou de resíduos de antibióticos

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29

através do pescado está aumentada, particularmente em alimentos pouco ou

nada processados termicamente (64, 71).

Figura 14. Formas de transmissão de bactérias resistentes aos antibióticos através da cadeia

alimentar (73)

.

As consequências da ingestão de bactérias resistentes aos antimicrobianos

podem ser diretas, incluindo o aumento da frequência de falhas terapêuticas e o

aumento da severidade das infeções, o que implica maiores taxas de morbilidade

e mortalidade e custos económicos para toda a comunidade (64, 71). Vários estudos

demonstram que as infeções em humanos com origem em bactérias resistentes a

antibióticos têm associada uma maior mortalidade e um tratamento mais

prolongado e complicado (64). Por outro lado, a ingestão de resíduos de

antibióticos no pescado pode provocar alterações na microbiota normal do trato

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intestinal, fazendo com os indivíduos possam ficar mais suscetíveis a infeções por

patogénicos enquanto a população microbiana não seja regularizada (71).

Apesar de algumas evidências, os estudos sobre a utilização de agentes

antimicrobianos na aquacultura e as suas repercussões para a saúde humana

são ainda escassos para elaborar conclusões definitivas, embora se considere

que as consequências sejam semelhantes àquelas decorrentes da sua utilização

noutros tipos de produção alimentar (71, 73).

Apesar da produção de peixe em aquacultura ser uma atividade em expansão

a nível mundial, incluindo em Portugal, poucos trabalhos de investigação na área

da microbiologia e segurança alimentar têm sido efetuados no ambiente de

produção das unidades de aquacultura, sendo ainda mais escassos os estudos

efetuados em pescado produzido em aquacultura no fim da cadeia alimentar, ou

seja nos pontos de venda. O estudo de bactérias patogénicas e de bactérias

resistentes a antibióticos ao longo da cadeia alimentar é considerado

extremamente relevante para a saúde pública, em particular para a área da

qualidade e segurança alimentar, áreas cruciais para a alimentação coletiva que

recorre frequentemente ao peixe produzido em aquacultura para responder aos

orçamentos e limitações económicas.

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31

2. Objetivos

A aquacultura é das indústrias do setor alimentar que mais tem crescido nos

últimos anos, representando, atualmente, cerca de 50% do peixe produzido

globalmente para alimentação humana (1). Adicionalmente apresenta várias

vantagens para as unidades de alimentação coletiva, uma vez que disponibiliza

produtos de características constantes, qualidade controlada e preços mais

estáveis e inferiores aos dos produtos da pesca (35). No entanto, os perigos

microbiológicos para a segurança alimentar, incluindo a presença de bactérias

patogénicas e/ou bactérias resistentes a antibióticos, encontram-se ainda

incompletamente avaliados.

Assim, o objetivo global do presente estudo consistiu na avaliação da

qualidade e segurança microbiológica de trutas arco-íris (Oncorhynchus mykiss)

de aquacultura comercializadas em Portugal, no distrito do Porto.

Os objetivos específicos foram:

i. Avaliar a presença do bioindicador Escherichia coli e das bactérias

patogénicas Salmonella e Listeria monocytogenes;

ii. Avaliar a presença de bactérias da família Enterobacteriaceae portadoras

de genes de resistência a antibióticos clinicamente relevantes.

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33

3. Material e Métodos

3.1. Amostragem

3.1.1. Colheita das amostras

3.1.1.1. Truticultura

De forma a conhecer e compreender o modo de produção e as condições a

que as trutas da espécie Oncorhynchus mykiss estão sujeitas, realizou-se uma

colheita numa truticultura do Centro de Portugal. Esta primeira colheita, em

ambiente de produção, teve também como objetivo testar e afinar as

metodologias que foram posteriormente aplicadas às amostras provenientes das

superfícies comerciais.

Foram colhidas 9 amostras de diferentes pontos da aquacultura: água de rio a

montante (n=1), água à entrada (n=1) e saída do sistema (n=1), água de rio a

jusante (n=1), água dos tanques de trutas adultas (n=2), ração (n=1) e trutas

adultas (n=2). Todas as amostras foram colhidas para recipientes/sacos estéreis,

utilizando a técnica assética. As amostras de água foram compostas por três

litros, as de trutas por 3 peixes de cada tanque e a da ração por 500g obtidos

duma embalagem intacta do produto.

3.1.1.2. Superfícies Comerciais

Entre maio e junho de 2012 foram colhidas 25 amostras provenientes de 8

estabelecimentos comerciais (arbitrariamente designados de I a VIII) do distrito do

Porto. Cada amostra foi constituída por 3 trutas do mesmo lote (com um peso

total médio de 700g), obtidos diretamente dos cestos do armazém ou da bancada

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do supermercado onde o peixe se encontrava exposto para venda, consoante

disponibilidade. Cada unidade foi colocada num saco estéril, transportada e

armazenada a temperatura de refrigeração (entre 2 e 5ºC) até ao momento da

preparação e análise das amostras (máximo 24h). De cada amostra foram

registadas a origem, marca (se aplicável), designação, data de colheita e código

atribuído.

3.1.2. Preparação das amostras

A preparação das amostras de peixe consistiu na evisceração de cada truta

(procedimento semelhante ao efetuado na preparação do peixe), sendo retirado

todo o trato digestivo, coração, rins e músculo em contacto com estes órgãos,

respeitando as regras de assepsia. Cada amostra foi composta por vísceras e

músculo de 3 trutas, sendo a mistura posteriormente homogeneizada

manualmente e recorrendo a meios mecânicos (Stomacher – Lab-Blender 400).

De seguida, foram pesadas 2 tomas de 25g da mistura, recorrendo a uma balança

digital (Kern EW 1500-2M), para cada um dos meios de enriquecimento: 225mL

de Água Peptonada Tamponada (bioMérieux) para incubação a 37ºC e 225mL de

caldo Half-Fraser broth (bioMérieux) para incubação a 30ºC.

Para a amostra de ração foram igualmente preparadas 2 tomas de 25g, após

homogeneização mecânica (Stomacher), para os mesmos meios de

enriquecimento (Água Peptonada Tamponada e caldo Half-Fraser broth).

A preparação das amostras de água foi efetuada recorrendo à metodologia de

filtração por membrana, sendo filtradas tomas de 1 litro de cada amostra através

de filtros de 0,45m que posteriormente foram colocados em Água Peptonada

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Tamponada para incubação a 37ºC e no caldo Half-Fraser broth para incubação a

30ºC.

3.2. Análise da qualidade e segurança microbiológica

3.2.1. Contagem de microrganismos aeróbios mesófilos

Neste estudo, a carga microbiana total de cada amostra foi avaliada através

da contagem de microrganismos a 30ºC (microrganismos aeróbios mesófilos),

recorrendo a sementeira por incorporação em Plate Count Agar (Biogerm),

incubada a 37ºC (temperatura favorável aos microrganismos patogénicos para o

Homem). As placas foram observadas nas 24, 48 e 72 horas seguintes para

análise da evolução do crescimento/desenvolvimento microbiano, em

conformidade com os métodos de referência (ISO 4833:2003) (82).

3.2.2. Pesquisa de Escherichia coli

O bioindicador de contaminação fecal selecionado para este estudo foi a

Escherichia coli. A pesquisa efetuou-se após uma etapa de pré-enriquecimento

em Água Peptonada Tamponada a 37ºC/18h seguida de sementeira à superfície

em meios seletivos: Tryptone Bile X-Glucuronide (Biogerm) e/ou chromID Coli

(bioMérieux). As colónias produtoras de -glucoronidase foram consideradas

suspeitas de E. coli, de acordo com a norma internacional (83). De cada placa

foram selecionadas colónias suspeitas de E. coli de diferentes morfotipos, de

modo a ser possível selecionar isolados diferentes de cada amostra para posterior

caraterização.

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36

3.2.3. Pesquisa de Salmonella e Listeria monocytogenes

Para a pesquisa das bactérias patogénicas Salmonella e Listeria

monocytogenes foram utilizadas as normas de referência internacionais ISO

6579:2002 e ISO 11290-1 (84-86), respetivamente.

Para a pesquisa de Salmonella efetuaram-se as seguintes etapas:

i. Pré-enriquecimento de 25g de amostra em 225mL de Água Peptonada

Tamponada (bioMérieux) a 37ºC/18h; (87)

ii. Enriquecimento em dois meios seletivos Rappaport Vassiliadis Soya (RVS,

bioMérieux) a 41,5ºC/24h e Muller-Kauffmann tetrathionate-Novobiocin

(MKTTn, bioMérieux) a 37ºC/24h;

iii. Isolamento das colónias em placas de Xylose lisine deoxycholate agar

(XLD agar, Liofilchem) e de CHROMagar Salmonella (Biogerm), incubadas

a 37ºC/24h;

iv. Confirmação das colónias suspeitas de Salmonella (selecionadas até 5

colónias de cada placa) efetuada através de provas bioquímicas (sistema

API20E/API-ID32GN, bioMérieux) e serológicas (soro polivalente anti-

Salmonella O e soros específicos dos serogrupos B, C1, C2 e D, Difco).

Para a pesquisa de Listeria monocytogenes (87) efetuaram-se as seguintes

etapas:

i. Pré-enriquecimento de 25g de amostra em 225mL de Half-Fraser broth

(bioMérieux) a 30ºC/24h;

ii. Enriquecimento em Fraser broth (bioMérieux) a 37ºC/48h;

iii. Isolamento das colónias em placas de Agar Listeria according to Ottaviani

and Agosti (ALOA, Biogerm) e Oxford agar (Biogerm), incubadas a

37ºC/48h;

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37

v. Confirmação das colónias suspeitas de Listeria monocytogenes

(selecionadas até 5 colónias de cada placa) efetuada através de provas

bioquímicas (sistema API Listeria, bioMérieux).

3.3. Seleção de bactérias resistentes a antibióticos

A deteção de bacilos Gram negativo resistentes a antibióticos clinicamente

relevantes (fluoroquinolonas e β-lactâmicos) foi efetuada após uma etapa de

enriquecimento em Água Peptonada Tamponada a 37ºC/18h seguida de

sementeira em meios seletivos. Para seleção de bacilos Gram negativo utilizou-se

o MacConkey Agar (Liofilchem) e para a seleção de E. coli o Tryptone Bile X-

Glucuronide e/ou chromID Coli suplementados com antibióticos do grupo das

cefalosporinas de 3ª geração, ceftazidima (1µg/mL, Sigma) e cefotaxima (1µg/mL,

Sigma) e das fluoroquinolonas, ciprofloxacina (0,125µg/mL, Sigma). De cada

placa foram selecionadas colónias de vários morfotipos para posterior

caraterização molecular.

Os isolados selecionados foram armazenados a -80ºC em Tryptone Soya

Broth (Oxoid) com 15% de glicerol.

3.4. Deteção e caraterização de genes de resistência a antibióticos

No presente trabalho foram pesquisados em todos os isolados de bacilos

Gram negativo (E. coli e outras Enterobacteriaceae) os genes que mais

frequentemente codificam para a resistência adquirida a vários grupos de

antibióticos através de ensaios de Polimerase chain reaction (PCR). Foi, assim,

realizada a pesquisa de genes de resistência às fluoroquinolonas (ciprofloxacina)

que têm sido associados a plasmídeos [qnrA (88, 89), qnrB (88, 89), qnrC (90), qnrD (91),

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38

qnrS (88, 92), qepA (93), aac(6’)-Ib-cr (93) e oqxAB (94)] e de genes de resistência à

família dos antibióticos β-lactâmicos (blaTEM (95), blaCTX-M

(95), blaSHV (96)) em todos

os isolados selecionados. Adicionalmente, foram pesquisados genes de

resistência a outros grupos de antibióticos como cloranfenicol (floR, catA, cmlA)

(97), estreptomicina (strA-strB) (97), sulfametoxazole (sul1, sul2 e sul3) (98, 99),

tetraciclina [tet(A), tet(B) e tet(G)] (97) e trimetoprim (dfrA1, dfrA7, dfrA12 e dfrA17)

(100-102). A presença de genes de resistência a antibióticos associados a integrões

de classe 1 foi pesquisada por PCR em todos os isolados resistentes ao

sulfametoxazole, utilizando-se primers específicos para as regiões conservadas

5´CS e 3´CS e para o gene intI1 (Tabelas 4; Anexos) (98, 100). A caracterização da

zona variável dos integrões de classe 1 foi realizada por PCR recorrendo-se ao

primer para a zona conservada 5’CS e ao primer para o gene variável de

interesse (dfrA1, dfrA7, dfrA12, dfrA17 ou aadA)(100-102).

3.4.1. Obtenção do DNA e condições dos métodos de PCR

Para a realização dos PCRs foi previamente efetuada a extração do DNA total

de cada isolado selecionado, de acordo com o método descrito por Seifert et al

(1997)(103). Assim, todos os isolados foram semeados em Cystine Lactose

Eletrolyte Deficiente agar (CLED agar, Liofilchem) e incubados a 37ºC/18-24h

para obtenção de colónias para a extração do DNA, seguindo as seguintes

etapas:

i. Retiraram-se 2-3 colónias da placa de CLED e fez-se uma suspensão na

solução de lise (0,05M NaOH; 0,25% SDS), até se obter turvação.

ii. Recorrendo a um termociclador, os tubos foram colocados a 95ºC/15min

(lise).

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39

iii. De seguida, adicionaram-se a cada tubo 180µL de TE 1x (10mM Tris:1mM

EDTA; pH 8,0), perfazendo um volume final de 200µL.

iv. Após homogeneização, os tubos foram centrifugados durante 3min a

13000rpm.

v. Finalmente, retirou-se o sobrenadante (contendo o DNA pretendido de

cada isolado) e armazenou-se a -20ºC em tubos de 1,5mL para posterior

utilização.

As condições utilizadas para a amplificação dos genes pesquisados e as

sequências nucleotídicas dos primers para utilização nas reações de PCR

encontram-se na Tabela 4 (Anexos). Para a amplificação foi utilizado o

termociclador C1000TM Thermal Cycler (BIO-RAD®).

3.4.2. Eletroforese em gel de agarose

Os produtos obtidos nas reações de PCR foram separados por eletroforese

em gel de agarose a 2% (SeaKem® LE Agarose, Lonza) corado com SYBR® Safe

DNA gel stain (invitrogen™) em tampão TAE 1x (Tris-base 40mM, EDTA 1mM,

ácido acético glacial, pH 8), durante 35min a 90V. O tamanho dos fragmentos de

DNA obtidos foi calculado por comparação com dois controlos positivos e com

marcador de peso molecular (100bp DNA Ladder, Bioron ou GenLadder 1kbp,

Genaxxon). A obtenção da imagem dos géis fez-se utilizando o aparelho

Molecular Image® Gel Doc™ XR+ with ImageLab Software (BIO-RAD).

3.4.3. Purificação e sequenciação dos produtos de PCR

Os produtos de PCR referentes a amplificação dos genes de resistência a

antibióticos clinicamente relevantes e à região 16SrDNA (identificação da espécie)

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40

foram preparados para posterior sequenciação. Previamente, os produtos de PCR

foram purificados, utilizando-se o kit de purificação Ezway™ PCR Clean-up Kit

(KOMABIOTECH), de acordo com as instruções do fabricante.

As sequências nucleotídicas obtidas por sequenciação foram comparadas com

outras presentes na base de dados GenBank, utilizando o BLASTN (NCBI,

National Center for Biothecnology Information) e recorrendo às ferramentas

Chromas (versão 2.4) e ClustalW2 (104).

3.4.4. Identificação ao nível da espécie/infra espécie

Os isolados de bacilos Gram negativo foram identificados ao nível da espécie

utilizando o sistema de identificação API ID32GN (bioMérieux) e/ou por

sequenciação do 16S rDNA após amplificação por PCR (105). Os isolados de E.

coli foram identificados por PCR, sendo posteriormente classificados em grupos

filogenéticos por PCR multiplex (106). As condições do PCR e as sequências

nucleotídicas dos primers encontram-se na Tabela 4 (Anexos).

3.5. Avaliação da suscetibilidade a antibióticos

Em todos os isolados de E. coli e nas bactérias Gram negativo portadoras de

genes de resistência a antibióticos clinicamente relevantes, tais como genes que

codificam para β-lactamases de espetro alargado (ESBL – extended-spectrum

beta-lactamases) e/ou genes de resistência a quinolonas associados a

plasmídeos (PMQR – plasmid-mediated quinolone resistance), foram efetuados

ensaios para avaliação da suscetibilidade a diversos antibióticos.

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41

3.5.1. Método de difusão em agar com discos

Os isolados foram semeados em meio CLED agar, incubados a 37ºC/18-24h.

Após obtenção de colónias puras, fez-se uma suspensão em tubos com soro

fisiológico até turvação equivalente a 0,5McFarland. De seguida, uma zaragatoa

foi mergulhada na suspensão preparada, removendo-se o excesso (pressionando

a zaragatoa contra a parede do tubo) e espalhando sobre a superfície de placas

contendo o meio Mueller-Hinton agar 2 (bioMérieux), em várias direções e girando

a placa para garantir homogeneidade de crescimento bacteriano. Posteriormente

colocaram-se os discos de antibióticos sobre as placas previamente preparadas,

utilizando um dispensador automático. As placas foram incubadas a 37ºC/16-18h.

A estirpe E. coli ATCC 25922 foi utilizada como controlo (107).

Os agentes antimicrobianos e as respetivas concentrações testados foram os

seguintes: ácido nalidíxico (30 μg; Oxoid), amoxicilina (10 μg; Oxoid), canamicina

(30 μg; Oxoid), ciprofloxacina (5 μg; Oxoid), cloranfenicol (30 μg; Oxoid),

estreptomicina (10 μg; Oxoid), gentamicina (10 μg; Oxoid), sulfametoxazole (300

μg; Oxoid), tetraciclina (30 μg; Oxoid) e trimetoprim (5 μg; Oxoid).

Após o período de incubação foram medidos e registados os diâmetros dos

halos de inibição, que permitem obter uma classificação qualitativa nas categorias

sensível, intermédia ou resistente. Os resultados obtidos foram interpretados

utilizando as tabelas padronizadas do Clinical and Laboratory Standards Institute

(107) (107) e The European Committee on Antimicrobial Susceptibility Testing

(EUCAST) (108) para Enterobacteriaceae. Foram considerados como

multirresistentes os isolados que apresentaram fenótipo de resistência a pelo

menos 3 classes de antibióticos diferentes.

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42

3.5.2. Avaliação da suscetibilidade a antibióticos β-lactâmicos de

largo espetro e pesquisa de β-lactamases

Os isolados que apresentaram resistência à amoxicilina foram testados para

avaliar a presença de ESBL, através do teste do duplo sinergismo (DDST, Double

Disc Sinergy Test). O sinergismo foi avaliado, segundo a técnica de difusão em

agar com discos, aplicando um disco de amoxicilina/ácido clavulânico (30 μg;

Oxoid) próximo de discos de ceftazidima (30 μg; Oxoid), cefotaxima (30 μg;

Oxoid), cefoxitina (30 μg; Oxoid) e cefepime (30 μg; Oxoid), na placa de Mueller-

Hinton agar 2 (bioMérieux).

3.5.3. Determinação da concentração mínima inibitória (CMI) à

Ciprofloxacina por E-test

Para a determinação da CMI à ciprofloxacina, foi utilizado o método de E-test

(AB Biodisk), colocando uma tira impregnada com o antibiótico em Mueller-Hinton

agar 2 previamente semeado com as suspensões de turvação 0,5McFarland. As

placas foram incubadas em aerobiose a 37ºC/16-18h, de acordo com o CLSI para

Enterobacteriaceae (107). De seguida, foram observadas e registadas as CMIs

representadas pelo valor observado na interseção do halo formado com a tira de

E-test. Este método quantitativo permite, assim, determinar qual o valor de

concentração mínima inibitória de um dado agente antimicrobiano necessário

para inibir o crescimento de um microrganismo. Os isolados foram classificados

como sensíveis, intermédios ou resistentes, de acordo com as tabelas de

breakpoints clínicos do CLSI (107) e a CMI foi comparada com os ECOFFs

(epidemiological cut-off value) propostos pelo EUCAST (108) para cada

espécie/género.

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43

4. Resultados e Discussão

4.1. Avaliação da qualidade e segurança microbiológica

A avaliação da carga total de microrganismos mesófilos é um parâmetro que

tem sido utilizado para avaliação da qualidade microbiológica do pescado, quer

em países europeus, quer no Japão e EUA (109). Este parâmetro não está

diretamente relacionado com a segurança, mas é indicativo da qualidade dos

alimentos, uma vez que é influenciado por diversos fatores desde a produção à

comercialização, incluindo a temperatura de armazenamento (29).

No presente estudo, verificou-se na contagem de microrganismos aeróbios

mesófilos que todas as amostras de trutas apresentaram valores superiores a

3,0x103 UFC/g. Estes valores encontram-se dentro dos valores estimados para

peixe fresco inteiro (102-106 UFC/g) (29). Relativamente às amostras de águas da

truticultura, os resultados foram semelhantes aos das amostras do peixe, mas

sendo amostras ambientais não foram encontrados critérios referentes à carga

total de microrganismos aeróbios mesófilos. A legislação portuguesa apenas

contempla a análise de alguns parâmetros da água à entrada do sistema (ex.:

temperatura, oxigénio dissolvido, nitritos, pH, sólidos suspensos totais) que é feita

mensalmente (à exceção da medição da temperatura da água, que é feita

semanalmente) através da entrega das amostras de água a uma entidade externa

à de produção e fiscalizada pela Direção-Geral das Florestas ou pela Direção

Regional do Ambiente, segundo o Decreto-Lei N.º 236/98 (110).

Neste estudo, verificou-se que todas as amostras, quer as recolhidas na

truticultura (6 amostras de águas, 1 de ração e 2 de trutas), quer as provenientes

de supermercado (25 amostras de trutas) se apresentaram negativas

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44

relativamente à presença dos microrganismos patogénicos pesquisados,

Salmonela e Listeria monocytogenes. De facto, o peixe raramente tem sido

implicado em casos/surtos de doenças bacterianas de origem alimentar na

Europa, comparativamente com outros alimentos, como os produtos cárneos e

ovos (41). No entanto, dados publicados por diferentes organismos internacionais

de vigilância (EFSA, FDA, OMS e FAO) revelam que diferentes estirpes de

Salmonella têm sido associadas ao pescado, incluindo de aquacultura, sendo

confirmada a sua origem exógena, e o seu consumo associado a infeções em

humanos (8, 46, 71, 111, 112). Por exemplo, um estudo realizado nos EUA, em 2005,

demonstra uma elevada prevalência de Salmonella spp. em amostras de ostras

de aquacultura. Também em diversos países (ex.: África do Sul, EUA, Turquia e

Índia) estudos com diferentes espécies de pescado de aquacultura, não incluindo

a truta, detetaram isolados de Salmonella (59, 113-116). Segundo um relatório da FAO

sobre aquacultura, de 2010, nos países em vias de desenvolvimento o ambiente

aquático é uma potencial fonte de contaminação por Salmonella (117).

Relativamente a Listeria monocytogenes, apesar de ser uma bactéria

disseminada no ambiente e com capacidade de crescimento a temperaturas mais

baixas (psicrotrófica) do que a Salmonella, poucos casos têm sido associados ao

consumo de pescado de aquacultura na Europa (41). No entanto, um estudo feito

na Finlândia, em 2005, com 510 trutas arco-íris provenientes de produção

aquícola (água salgada e doce) revelou que cerca de 9% das amostras continham

L. monocytogenes, localizada principalmente nas guelras, o que representa um

excelente meio de cultura para as bactérias. A prevalência de L. monocytogenes

nas guelras superior à da pele ou vísceras é considerada normal, visto que se

tratam dos primeiros órgãos a ficar contaminados quando grandes volumes de

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45

água contaminada são filtrados através delas, indicando que possivelmente a

água da aquacultura estava contaminada com esta bactéria patogénica (118).

Relativamente ao bioindicador/indicador de higiene E. coli, verificou-se a sua

presença em 48% (n=13/27) das amostras de peixe, provenientes, quer da

truticultura, quer de sete dos oito supermercados analisados. Das outras amostras

colhidas da truticultura também se verificou a presença de E. coli em 5 amostras

ambientais (água a montante e a jusante da aquacultura; água na entrada e saída

da aquacultura e água do tanque das trutas adultas), sendo as restantes amostras

(ração das trutas e água de outro tanque de adultos) negativas para este

parâmetro. Um estudo realizado numa região estuarina de Massachussetts

(EUA), em 1988, utilizou isolados de Escherichia coli provenientes de amostras

fecais humanas para avaliar a sua evolução quando colocadas nas condições do

ambiente aquático, simulando a evolução desta bactéria que muitas vezes se

encontra naturalmente no ambiente aquático devido à sua contaminação por

matéria fecal. Neste estudo verificou-se a sobrevivência prolongada e proliferação

da espécie E. coli, cuja concentração aumentava com o aumento da temperatura

da água e com a disponibilidade de nutrientes presentes no ambiente aquático ou

utilização de reservas endógenas (61). Outro estudo realizado com carpas na

Turquia, em 2011, que também utilizou a Escherichia coli como bioindicador de

contaminação fecal, revelou a presença da bactéria em 88% das amostras

estudadas (115). A utilização desta bactéria é útil como indicadora de contaminação

fecal e más práticas de manipulação do pescado porque estes microrganismos

não estão naturalmente presentes nestes alimentos (48). Tendo em conta que,

aparentemente, os manipuladores do supermercado cumpriam as regras e boas

práticas de manipulação do pescado, a presença de E. coli, quer nas amostras de

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46

águas da truticultura, quer nas de trutas à venda, sugere uma possível

contaminação no local de produção, por exemplo através das águas

contaminadas por matéria fecal (ex. água a montante).

Das amostras positivas foram confirmados como sendo E. coli e

selecionados para ensaios posteriores 37 isolados, sendo 8 provenientes das 5

amostras de águas da truticultura, 2 provenientes de 2 amostras de trutas de

aquacultura e 27 provenientes de 11 amostras de trutas de supermercado. A

maioria dos isolados de E. coli foi obtida das placas de meio seletivo sem

antibióticos (n=24), sendo os restantes obtidos das placas com ciprofloxacina

(n=13). Relativamente à estrutura populacional destes isolados obtida após

análise dos grupos filogenéticos (106) verificou-se a presença de isolados dos

grupos A0 (6/37; 16%), A1 (6/37; 16%), B1 (16/37; 43%), B2 (1/37;3%) e D (8/37;

22%) (Figura 15), disseminados em diferentes tipos de amostras. A maioria dos

isolados de E. coli pertence aos grupos filogenéticos A e B1, considerados

habitualmente comensais de animais e de humanos, tal como descrito por outros

autores para amostras alimentares e ambientais (119-126). Por outro lado, salienta-

se a presença de isolados dos grupos B2 e D, frequentemente associados com

infeções extraintestinais (ex. urinárias, septicemia, meningite) (125-128), em

amostras de trutas da aquacultura e de supermercado, sugerindo possível

contaminação fecal humana (119, 121, 128), eventualmente associada a práticas de

contaminação cruzada durante a cadeia de produção/distribuição,

armazenamento e venda do pescado. Atualmente, vários autores defendem uma

origem alimentar ou um elevado potencial de transmissão ao Homem pela cadeia

alimentar de algumas linhagens de E. coli de diversos grupos filogenéticos (ex.

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47

clone D/ST69) (129, 130), sendo o papel do pescado nesta problemática ainda pouco

explorado.

Figura 15. Distribuição dos isolados de E. coli (n=37) por grupos filogenéticos e tipo de amostra

4.2. Deteção e caraterização de bactérias resistentes aos antibióticos

4.2.1. Escherichia coli

O estudo da suscetibilidade aos antibióticos foi efetuado nos isolados de E.

coli, uma vez que é a bactéria habitualmente utilizada pelos sistemas de vigilância

de resistência (131, 132). Dos 37 isolados estudados, 19 (51%) apresentaram-se

resistentes a pelo menos um dos antibióticos, representativos de 13 das 18

amostras. Assim, todos os isolados (n=10) provenientes das amostras da

truticultura (7 amostras: 5 de águas e 2 de trutas) foram resistentes a pelo menos

um dos antibióticos, comparativamente com 9 de 27 isolados provenientes das

trutas de supermercado (correspondendo a 6 das 11 amostras).

Uma vez que as etapas de enriquecimento e os diferentes meios de cultura

utilizados podem potencialmente selecionar mais do que um isolado da mesma

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estirpe na mesma amostra, foram selecionados 23 isolados de diferentes grupos

filogenéticos e/ou perfis fenotípicos de resistência a antibióticos para posteriores

análises. Na Tabela 2 apresentam-se os diversos perfis de resistência aos

antibióticos testados por grupo filogenético e tipo de amostra. A resistência aos

antibióticos encontra-se disseminada pelos diversos grupos filogenéticos de E.

coli detetados, não se associando especificamente a nenhum deles.

Relativamente à origem das amostras verifica-se que os isolados obtidos de trutas

de supermercado se apresentaram mais frequentemente sensíveis a todos os

antibióticos testados comparativamente aos isolados de trutas de aquacultura e

das amostras de água obtidas nesse local de produção.

Os isolados estudados apresentaram resistência ao ácido nalidíxico (n=12/23;

52%), amoxicilina (n=9/23; 39%), tetraciclina (n=9/23; 39%), sulfametoxazole

(n=6/23; 26%), ciprofloxacina (n=5/23; 22%), estreptomicina (n=5/23; 22%),

trimetoprim (n=5/23; 22%) e/ou cloranfenicol (n=2/23; 9%) (Figura 16 e Tabela 2).

Todos os isolados apresentaram suscetibilidade aos aminoglicosídeos,

canamicina e gentamicina e aos β-lactâmicos de espetro alargado e ausência de

testes do duplo sinergismo positivos (Figura 16). Estes índices de resistência a

antibióticos, apesar de não serem muito elevados, são de destacar, tendo em

conta que se trata de antibióticos considerados “clinicamente relevantes”, como

quinolonas (ciprofloxacina e ácido nalidíxico), penicilinas (amoxicilina) e

aminoglicosídeos (estreptomicina), ou de “elevada importância” (caso do

sulfametoxazole, trimetoprim e cloranfenicol), que são frequentemente utilizados

no tratamento de infeções graves (71, 81).

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Tabela 2. Perfis de resistência aos antibióticos dos isolados de E.coli (n=23)

Antibióticos

a

Ʃn (%) GFb

Amostras

Aquacultura Trutas Supermercado

(n=14) AML CIP CLO GEN KAN NAL STR SUL TET TRI Águas (n=7)

Trutas (n=2)

S R S S S R S R R S 2 (9%) B1 2

R S S S S R S S S S 1 (4%) A1 1

R S S S S S S S S S 2 (9%) A1, B1 1

1

R S S S S R S S R R 1 (4%) A1 1

R S S S S R S R S R 1 (4%) B1 1

R S S S S R S R R R 1 (4%) A1 1

R R S S S R R S R R 1 (4%) A0

1

R R R S S R R R R R 1 (4%) B2

1

S S S S S R S S S S 3 (13%) A0, D

3

R R R S S R R R R S 1 (4%) A0

1

S S S S S S R R R S 1 (4%) B1

1

S S S S S S R S R S 1 (4%) A1

1

S S S S S S S S S S 7 (30%) A0, B1, D

7

Totais: 9

(39%) 5

(22%) 2

(9%) 0

(0%) 0

(0%) 12

(52%) 5

(22%) 7

(30%) 9

(39%) 5

(22%) 23

(100%)

7 2 14

16

23 a AML, amoxicilina; CIP, ciprofloxacina; CLO, cloranfenicol; GEN, gentamicina; KAN, canamicina; STR, estreptomicina; SUL, sulfametoxazole; TET, tetraciclina; TRI, trimetoprim. R, Resistente; S, Sensível.

b GF, Grupo Filogenético.

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Figura 16. Ocorrência da resistência aos antibióticos nos isolados de E. coli (n=23) por tipo de amostra

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A ampla utilização de agentes antimicrobianos em clínica humana e na

produção animal (profilaxia e tratamento de infeções nos animais), incluindo em

aquaculturas, a nível mundial, pode ser a justificação para a presença destes

índices de resistência detetados a diferentes famílias de antibióticos (71, 81). Vários

autores indicam que a utilização de antibióticos no setor da produção aquícola

deverá estar na origem do aumento da resistência bacteriana (133-135). Quando os

antimicrobianos são administrados oralmente aos peixes através da ração, parte

dos antibióticos/ração pode não ser consumida pelos animais, permanecendo no

ambiente aquático (67). Assim, os animais criados nesse ambiente, contaminado

com resíduos de antibióticos, ficam sujeitos a uma maior pressão seletiva que

contribui para a seleção de estirpes resistentes e para a disseminação de genes

de resistência a antibióticos por mecanismos de transferência horizontal para

outras bactérias (68, 71, 73).

De facto, as aquaculturas são um dos tipos de produção animal onde o uso de

antibióticos é significativo, principalmente em países asiáticos, onde se situam os

maiores produtores de pescado e onde há uma menor regulamentação do seu

uso, ao contrário de regiões como a União Europeia, onde habitualmente são

aplicadas medidas de controlo e segurança, sendo o uso de antibióticos integrado

no programa de saúde animal e apenas permitido para tratar as doenças

infeciosas no peixe (controlar e/ou eliminar microrganismos patogénicos) (71, 73, 75).

Por exemplo, em 2008, um estudo realizado com pescado de aquacultura revelou

que isolados provenientes de amostras de tilápia (peixe do género Tilapia) de

países asiáticos eram mais resistentes aos antibióticos testados (Ex.: ampicilina,

cefotaxima, gentamicina, trimetoprim) do que as amostras provenientes da

Holanda (136).

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Nos isolados de E. coli caracterizados neste estudo foram detetados genes

adquiridos que codificam para resistência à amoxicilina (blaTEM), tetraciclina

tet(A); tet(B), cloranfenicol (catA; floR), ciprofloxacina (qnrS1), aminoglicosídeos

(strA-strB) e sulfametoxazole (sul1; sul2), alguns dos quais inseridos em

integrões de classe 1. Da caracterização da região variável dos integrões foi

possível classificá-los em 3 tipos: integrão de 1000 bp com dfrA1-aadA (amostra

de água do tanque), integrão atípico apenas com intl1-dfrA1 (amostra de água à

saída do sistema) e integrão de 1500 bp com dfrA1-aadA1 (amostra de água a

jusante). Os integrões podem estar associados a resistência a múltiplos

antibióticos, uma vez que ao longo do tempo e na sua região variável pode

ocorrer a inserção de diversas cassetes de genes com resistência a diferentes

antimicrobianos (137). Este facto favorece a co seleção, em que o uso de um único

antibiótico pode selecionar não só isolados resistentes a esse antibiótico, como

também isolados resistentes a outros antibióticos, favorecendo a persistência de

genes de resistência e aumentando a oportunidade de transmissão, pois se os

integrões estiverem associados a elementos genéticos móveis (plasmídeos e

transposões) pode ocorrer a sua transferência para outras bactérias (73, 138). Os

integrões de classe 1 são considerados elementos genéticos mobilizáveis por

poderem ser facilmente transferidos entre diferentes espécies de bactérias devido

à sua localização frequente em plasmídeos e transposões (139). Este tipo de

integrões tem sido descrito em isolados de E. coli, Salmonella e outras

Enterobacteriaceae, obtidos de diferentes nichos ecológicos (humanos, ambiente,

aves, suínos) e países, incluindo Portugal (140, 141).

Relativamente aos genes de resistência a antibióticos clinicamente relevantes,

verificou-se que não foram detetados genes que codificam para ESBL, apesar de

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já ter sido detetado um clone de E. coli produtor da ESBL SHV-12 em diversas

amostras de uma aquacultura em Portugal (142). Também em 2012, num estudo

realizado na China, foram detetados isolados de E. coli produtores de β-

lactamases (CTX-M-14, CTX-M-79 e SHV-27) em amostras de peixe de

aquacultura (143). No entanto, as evidências de E. coli produtoras de ESBLs em

aquaculturas e seus produtos são raras, em contraste com outros nichos (animais

e humanos) (144). No entanto, foi detetado em dois isolados multi-resistentes

(amoxicilina, ácido nalidíxico, sulfametoxazole, tetraciclina e trimetoprim) de E.

coli, provenientes de amostras de água à entrada do sistema e a jusante da

aquacultura, o gene qnrS1, um dos genes de resistência a quinolonas

habitualmente associado a plasmídeos (PMQR – plasmid-mediated quinolone

resistance).

Os genes qnrS são dos PMQRs mais descritos, sendo que em 2011, o gene

qnrS1 foi detetado em isolados de E. coli provenientes de amostras de

suiniculturas portuguesas (145). Adicionalmente, este gene também já foi descrito

em Salmonella enterica, Shigella flexneri, Enterobacter clocae e Klebsiella

pneumoniae em diferentes países, incluindo Portugal, fundamentalmente em

amostras de humanos e de aves para consumo, mas também de pescado

importado de países asiáticos (146-150). A deteção do gene qnrS1 em E. coli de

diferentes amostras de água obtidas na aquacultura sugere a possibilidade de

disseminação ao Homem através do consumo de pescado e/ou contacto direto

com água contaminada.

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4.2.2. Outras Enterobacteriaceae

Para além dos isolados de E. coli foram selecionadas outras bactérias da

família Enterobacteriaceae para estudos de caracterização da resistência

adquirida a antibióticos considerados clinicamente relevantes em medicina

humana, como as cefalosporinas de espetro alargado e as fluoroquinolonas (81).

Com o objetivo de caracterização de genes de resistência adquirida aos β-

lactâmicos de largo espetro foram selecionados 146 isolados provenientes das

placas suplementadas com cefotaxima (n=63) e ceftazidima (n=83),

representativos da totalidade de amostras em estudo (6 de águas, 1 de ração e

27 de trutas). Neste estudo não foram detetados isolados portadores de genes de

resistência adquirida a β-lactâmicos de espetro alargado (blaTEM, blaSHV e blaCTX-

M), apesar de já terem sido detetados em isolados de Enterobacteriaceae de

amostras ambientais de uma aquacultura (142) e em outros nichos ecológicos em

Portugal (Ex.: aves e suínos) (140). De facto, vários autores salientam a cadeia

alimentar, nomeadamente os animais de produção, como potenciais reservatórios

de bactérias Gram negativo resistentes a ESBL (151, 152).

As ESBLs conferem resistência a vários antibióticos β-lactâmicos e estão

normalmente associadas a plasmídeos os quais podem ser facilmente

transferíveis entre os isolados do mesmo nicho (153). Neste grupo de antibióticos

destacam-se as cefalosporinas de 3ª e 4ª geração consideradas clinicamente

relevantes, dado que são utilizadas na produção animal e, ao mesmo tempo, são

das poucas soluções para o tratamento de infeções provocadas por

Enterobacteriaceae, incluindo causadas por bactérias zoonóticas como

Salmonella (81, 144).

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Relativamente ao estudo dos genes de resistência adquiridos a

fluoroquinolonas foram selecionados 81 isolados das placas suplementadas com

ciprofloxacina, representativos da totalidade de amostras recolhidas na truticultura

(6 de águas, 2 de trutas e 1 de ração) e de 23 amostras de trutas de

supermercado (de um total de 25). Foram detetados diferentes genes designados

habitualmente por PMQR dispersos em diversas amostras (truticultura e trutas) e

espécies da família Enterobacteriaceae (E. coli, Hafnia alvei, Proteus vulgaris e do

complexo Citrobacter freundii), num total de 8 isolados (10%) (Tabela 3). Apesar

de todos os isolados serem considerados clinicamente suscetíveis à

ciprofloxacina (Tabela 3) pelos critérios do CLSI (107), apresentaram

concentrações mínimas inibitórias superiores aos ECOFF (epidemiological cut-off

value) propostos pelo EUCAST para as respetivas espécies (Proteus vulgaris,

Hafnia alvei e E. coli) ou géneros (Citrobacter spp.) (154). Adicionalmente, todos os

isolados com PMQR apresentaram resistência a um ou mais antibióticos de

outras famílias, o que poderá facilitar a sua co seleção no ambiente de produção

aquático.

Os genes PMQR têm sido descritos em diferentes géneros de bacilos Gram

negativo, particularmente da família Enterobacteriaceae, e em diversos nichos

ecológicos (hospital, comunidade, animais, ambiente e alimentos) e localizações

geográficas (60, 70, 87, 143, 155, 156). No ambiente aquático de diferentes países (Japão,

Taiwan, França – rio Sena), também já foram detetados isolados de diferentes

espécies (Ex.: Aeromonas spp., Enterobacter cloacae, E. coli) produtores de

genes de resistência a fluoroquinolonas mediados por plasmídeos (Ex.: qnrA1,

qnrB2, qnrS1, qnrS2) (92, 157, 158). Em aquaculturas, os estudos são escassos, mas

mesmo em Portugal já foram detetados genes PMQR em isolados de amostras

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ambientais e de trutas de aquacultura, tais como qnrS2, qnrS3, variantes de qnrB

e oqxAB (159).

Neste estudo foram detetadas duas variantes do gene qnrS, qnrS1 em E. coli

de 2 amostras de água (água à entrada da truticultura e no rio a jusante),

descritos no capítulo anterior (4.2.1) e qnrS2 em Hafnia alvei em 2 amostras de

trutas de dois supermercados. Várias variantes do gene qnrS têm sido detetadas

fundamentalmente em bactérias da família Enterobacteriaceae isoladas de

amostras clínicas de hospitais de diversos países (92, 147, 160, 161). Em Portugal, o

gene qnrS2 foi detetado, em 2012, em isolados de Aeromonas spp., provenientes

de amostras de águas de aquacultura (159). Adicionalmente, também noutras

amostras de origem aquática têm sido detetadas bactérias produtoras de qnrS,

como por exemplo, num estudo efetuado com amostras de água de diferentes

pontos do rio Seine (Paris, França) foram detetados isolados de Aeromonas

punctata e Aeromonas media portadores do gene qnrS2, sugerindo que estas

bactérias possam estar a funcionar como um reservatório destes genes PMQR

(158).

A bactéria Hafnia alvei pode ser isolada de fezes de indivíduos aparentemente

saudáveis assim como de mamíferos em geral, pássaros, répteis e peixe, mas

também pode ser encontrada no ambiente (solo, água e esgotos) (162). Assim, a

deteção do gene qnrS2 em isolados de Hafnia alvei obtidos de trutas de

supermercado poderá sugerir que a bactéria já se encontrava no peixe desde o

local de produção (ex. contaminação do peixe a partir do reservatório aquático).

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Tabela 3. Caracterização dos isolados de Enterobacteriaceae com genes PMQR

Genes PMQR Espécie Nº

isolados Data

Origema

amostra Fenótipo

b (genótipo) de resistência

CMI ciprofloxacina (µg/mL)

c

qnrS1 Escherichia coli 2 Mai-12 TA AML (blaTEM), NAL, SUL (sul1), TET (tetA), TRI 0,25 d

qnrS2 Hafnia alvei 2 Jun-12 SM I, SM VII AMC, AML, CLO (floR), NAL, STR (strA-strB), SUL (sul1) 0,25 d

qnrD Proteus vulgaris 1 Jun-12 SM IV AML, TET 0,25 d

qnrB10 Citrobacter

freundii 2 Mai-12 TA NAL, TET (tetA) 0,5

d

nova variante qnrB

Citrobacter freundii

1 Mai-12 SM VI NAL, STR (aadA), TET 0,38 d

a TA- Aquacultura; SM, Supermercado (I a VIII)

b AML, amoxicilina; CLO, cloranfenicol; NAL, ácido nalidíxico; STR, estreptomicina; SUL, sulfametoxazole; TET, tetracicline; TRI, trimetoprim. Resistência Natural

c CMI, Concentração mínima inibitória

d CMI superior ao ECOFF para a espécie (EUCAST)

(154) - Escherichia coli: ≤ 0,064; Hafnia alvei: ≤ 0,125; Proteus vulgaris: ≤ 0,064; Citrobacter spp.: ≤ 0,125

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O gene qnrD, o gene qnr mais recentemente descrito num isolado de

Salmonella de uma amostra de origem humana (161), foi neste estudo detetado

num isolado de Proteus vulgaris proveniente de uma amostra de truta de

supermercado. Ao contrário do gene qnrS que se encontra largamente

disseminado, o gene qnrD ainda tem sido raramente descrito noutras

Enterobacteriaceae. Em 2011, foi detetado em isolados clínicos de Proteus

mirabilis e de Morganella morganii em Itália (163). Em 2012, na China, o gene qnrD

foi detetado num isolado de Proteus vulgaris obtido de uma amostra clínica de um

hospital (164) e, mais recentemente em abril de 2013, em isolados de E. coli

provenientes de amostras de produtos cárneos e de humanos do mesmo país

(165). Tanto quanto sabemos esta é a primeira vez que é detetado em isolados de

pescado, neste caso, trutas de aquacultura.

Também importante foi a ocorrência de 2 variantes do gene qnrB (qnrB10 e

uma nova variante de qnrB ainda não classificada) em isolados do complexo de

espécies de Citrobacter freundii obtidas de amostras de trutas à venda em

supermercados. O gene qnrB é o mais frequentemente detetado em espécies de

Citrobacter (166), tendo sido em Portugal descrita a presença de diferentes

variantes em isolados do complexo Citrobacter freundii obtidos de amostras de

água não tratada para consumo humano (167) e em truticulturas (159). Devido à

diversidade de variantes de qnrB detetadas em Citrobacter spp. e à sua

localização ser habitualmente cromossómica tem sido sugerido que este género

possa ser a origem dos genes qnrB, disseminados em diversas bactérias Gram

negativo patogénicas, e um importante hotspot para a evolução dos mesmos (166).

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5. Conclusões

1) As trutas disponíveis para consumo humano não revelaram constituir uma

fonte das bactérias patogénicas Listeria monocytogenes e Salmonella,

apesar de 48% das amostras conterem o bioindicador de contaminação fecal

E. coli.

2) A caraterização de E. coli (de diversos grupos filogenéticos) e de outras

Enterobacteriaceae indica que as trutas disponíveis para consumo humano

podem constituir um potencial veículo de bactérias/genes de resistência a

antibióticos com relevância clínica.

3) A deteção de Enterobateriaceae portadoras de genes PMQR, incluindo uma

nova variante de qnrB, em diversas amostras da truticultura e de trutas de

supermercado reforça a importância do nicho aquático como reservatório e

do pescado como veículo de bactérias/genes potencialmente relevantes em

medicina humana.

4) Este estudo realça a necessidade de avaliar a ocorrência da resistência a

antibióticos associada com peixe de aquacultura e compreender melhor os

possíveis fatores que contribuem para a presença de bactérias

multirresistentes nas unidades de produção aquícola. Adicionalmente,

reforça a necessidade de formação de todos os intervenientes na cadeia

alimentar, incluindo das unidades de alimentação coletiva, no sentido da

prevenção e controlo da contaminação bacteriana, através do uso de

temperaturas adequadas de confeção e de práticas que evitem a

contaminação cruzada, com o objetivo de evitar a disseminação destas

bactérias portadoras de genes de resistência a antibióticos.

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6. Referências Bibliográficas

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Anexos

Tabela 4. Descrição e sequências nucleotídicas dos primers, reagentes, condições de amplificação e tamanho do produto esperado para as diferentes

reações de PCR.

Objetivo Primers Reagentes Condições de Amplificação

Tamanho do Produto (bp)

Referências

Identificação da espécie por 16S rDNA

SEQA

AGA GTT TGA T…yTy AGA

SEQB

ACG yTA CCT T...GAC TTC

PCR Super MIx (Invitrogen®);

0,3 µM de cada Primer e 2 µl de DNA

95°C - 10 minutos (1 ciclo); 94°C - 30 segundos, 55°C - 1 minuto, 72°C - 2 minutos (30 ciclos); 72°C - 10 minutos (1 ciclo)

Variável (105)

Pesquisa de Escherichia coli

ECO 1

GACCTCGGTTTAGTTCACAGA

ECO 2

CACACGCTGACGCTGACCA

Tampão 1x; MgCL2; dNTPs; Primers; Go Taq

® DNA

Polymerase (Volume final = 23µL+2µL DNA)

94ºC – 15 segundos (1 ciclo); 94ºC – 3 segundos, 50ºC - 10 segundos, 74ºC – 35 segundos (35 ciclos); 74ºC – 2 minutos, 45ºC – 2 segundos (1 ciclo)

585bp (168)

Pesquisa dos grupos filogenéticos de Escherichia coli

ChuA.1

GACGAACCAACGGTCAGGAT

ChuA.2

TGCCGCCAGTACCAAAGACA

YjaA.1

TGAAGTGTCAGGAGACGCTG

YjaA.2

ATGGAGAATGCGTTCCTCAAC

TspE4C2.1

GAGTAATGTCGGGGCATTCA

TspE4C2.2

CGCGCCAACAAAGTATTACG

Tampão 1x; 1,5 mM de MgCl2; 200 µM de cada dNTP; Primer 0,2 µM de cada; Go Taq

® DNA

Polymerase 0,5U (Promega) e 2 µl de DNA

94°C - 5 minutos (1 ciclo); 94°C - 30 segundos, 55°C - 30 segundos, 72°C - 30 segundos (30 ciclos); 72°C - 7 minutos (1 ciclo)

ChuA – 279bp

YjaA – 211bp

TspE4C2 – 152bp

(106)

Pesquisa de integrões de classe 1

5’CS

GGCATCCAAGCAGCAAG PCR Super MIx (Invitrogen

®),

0,3 µM de cada Primer e 2 µl

94°C - 5 minutos (1 ciclo); 94°C - 1 minuto, 53°C - 1 minuto, 72°C - 6 minutos (35 ciclos);

Variável (100)

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74

3’CS

AAGCAGACTTGACCTGA

de DNA 72°C - 16 minutos (1 ciclo)

Caracterização da zona variável dos integrões classe 1

DFRA12-R

GCATTGGGAAGAAGGCGTCAC

ANT(3’’)-IA-R

ATTGCCCAGTCGGCAGCG

PCR Super MIx (Invitrogen®),

0,3 µM de cada Primer e 2 µl de DNA

94°C - 5 minutos (1 ciclo); 94°C - 30 segundos, 58°C - 30 segundos, 72°C - 3 minuto (30 ciclos); 72°C - 5 minutos (1 ciclo)

Variável

(102)

(101)

DHFRL-R

AGCTGTTCACCTTTGGC

PCR Super MIx (Invitrogen®),

0,3 µM de cada Primer e 2 µl de DNA

94°C - 5 minutos (1 ciclo); 94°C - 30 segundos, 53°C - 30 segundos, 72°C - 3 minuto (30 ciclos); 72°C - 5 minutos (1 ciclo)

Variável (100)

Pesquisa de genes de resistência às sulfonamidas (sul1 e sul2) e integrase de classe 1 (intI 1)

SUL1-F

CGGCGTGGGCTACCTGAACG

SUL1-R

GCCGATCGCGTGAAGTTC

SUL2-F

GCGCTCAAGGCAGATGGCATT

SUL2-R

GCGTTTGATACCGGCACCCGT

INT-F

GCCACTGCGCCGTTACCACC

INT-R

GGCCGAGCAGATCCTGCACG

Tampão 1x; 1,5 mM de MgCl2; 200 µM de cada dNTP; Primer 0,2 µM de cada; Go Taq

® DNA

Polymerase 0,5U (Promega) e 2 µl de DNA

94°C - 5 minutos (1 ciclo); 94°C - 30 segundos, 69°C - 30 segundos, 72°C - 1 minuto (30 ciclos); 72°C - 8 minutos (1 ciclo)

sul1 – 433bp

sul2 – 293bp

intI1 – 898bp

(98)

Pesquisa do gene de resistência às sulfonamidas sul3

SUL3-F

CATCTGCAGCTAACCTAGGGCTTTGGA

SUL3-R

GAGCAAGATTTTTGGAATCG

PCR Super MIx (Invitrogen®),

0,3 µM de cada Primer e 2 µl de DNA

94°C - 5 minutos (1 ciclo); 94°C - 30 segundos, 52°C- 30 segundos, 72°C- 1 minuto (30 ciclos); 72°C- 8 minutos (1 ciclo)

sul3 – 789bp

(99)

Pesquisa de genes de resistência à tetraciclina (tetA, tetB e tetG)

tetA-F

GCTACATCCTGCTTGCCT

tetA-R

CATAGATCGCCGTGAAGA

tetB-F

TTGGTTAGGGGCAAGTTTTG

tetB-R

Tampão 1x; 1,5 mM de MgCl2; 200 µM de cada dNTP; Primer 0,2 µM de cada; Go Taq

® DNA

Polymerase 0,5U (Promega) e 2 µl de DNA

94 °C - 5 minutos (1 ciclo); 94°C - 30 segundos, 55°C - 30 segundos, 72°C - 1 minuto (30 ciclos); 72°C - 8 minutos (1 ciclo)

tetA – 210bp

tetB – 600bp

(97)

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75

GTAATGGGCCAATAACACCG

tetG-F

GCTCGGTGGTATCTCTGC

tetG-R

AGCAACAGAATCGGGAAC

tetG – 500bp

Pesquisa de genes de resistência ao cloranfenicol (catA, cmlA e floR)

catA-F

CCACCGTTGATATATCCC

catA-R

CCTGCCACTCATCGCAGT

cmlA-F

TGTCATTTACGGCATACTCG

cmlA-R

ATCAGGCATCCCATTCCCAT

floR-F

CACGTTGAGCCTCTATAT

floR-R

ATGCAGAAGTAGAACGCG

Tampão 1x; 1,5 mM de MgCl2; 200 µM de cada dNTP; Primer 0,2 µM de cada; Super Hot Taq

® DNA

Polymerase 0,5U (GENAXXON) e 2 µl de DNA

94°C - 5 minutos (1 ciclo); 94°C - 30 segundos, 55°C - 30 segundos, 72°C- 1 minuto (30 ciclos); 72°C- 8 minutos (1 ciclo)

catA – 623bp

cmlA – 435bp

floR – 868bp

(97)

Pesquisa de genes de resistência à estreptomicina (strA e strB)

strA-F

CCTGGTGATAACGGCAATTC

strA-R

CCAATCGCAGATAGAAGG

Tampão 1x; 1,5 mM de MgCl2; 200 µM de cada dNTP; Primer 0,2 µM de cada; Go Taq

® DNA

Polymerase 0,5U (Promega) e 2 µl de DNA

94°C - 5 minutos (1 ciclo); 94°C - 30 segundos, 55°C - 30 segundos, 72°C - 1 minuto (30 ciclos); 72°C- 8 minutos (1 ciclo)

strA – 548bp

(97)

strB-F

ATCGTCAAGGGATTGAAACC

strB-R

GGATCGTAGAACATATTGGC

Tampão 1x; 1,5 mM de MgCl2; 200 µM de cada dNTP; Primer 0,2 µM de cada; Go Taq

® DNA

Polymerase 0,5U (Promega) e 2 µl de DNA

94°C - 5 minutos (1 ciclo); 94°C - 30 segundos, 58°C- 30 segundos, 72°C - 1 minuto (30 ciclos); 72°C- 8 minutos (1 ciclo)

strB – 509bp

Pesquisa de genes de resistência às quinolonas

qnrAm-F

AGAGGATTTCTCACGCCAGG

qnrAm-R

TGCCAGGCACAGATCTTGAC

Tampão 1x; MgCL2; dNTPs; Primers; Go Taq

® DNA

Polymerase (Volume final = 23µL+2µL)

94ºC – 10 minutos (1 ciclo); 94ºC – 1minuto, 64ºC – 1 minuto, 72ºC – 1 minuto (35 ciclos); 72ºC – 10 minutos (1 ciclo)

580bp (88)

qnrA-F

ATTTCTCACGCCAGGATTTG

Tampão 1x; MgCL2; dNTPs; Primers; Go Taq

® DNA

Polymerase (Volume final =

94ºC – 10 minutos (1 ciclo); 94ºC – 1minuto, 53ºC – 1 minuto, 72ºC – 1 minuto (35

580bp (89)

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qnrA-R

GATCGGCAAAGGTTAGGTCA

23µL+2µL) ciclos); 72ºC – 10 minutos (1 ciclo)

qnrBm-F

GGMATHGAAATTCGCCACTG

qnrBm-R

TTTGCYGYYCGCCAGTCGAA

Tampão 1x; MgCL2; dNTPs; Primers; Go Taq

® DNA

Polymerase (Volume final = 19µL+2µL)

94ºC – 10 minutos (1 ciclo); 94ºC – 1minuto, 62ºC – 1 minuto, 72ºC – 1 minuto (35 ciclos); 72ºC – 10 minutos (1 ciclo)

264bp (88)

qnrB-F

GATCGTGAAAGCCAGAAAGG

qnrB-R

ACGATGCCTGGTAGTTGTCC

Tampão 1x; MgCL2; dNTPs; Primers; Go Taq

® DNA

Polymerase (Volume final = 23µL+2µL)

94ºC – 10 minutos (1 ciclo); 94ºC – 1minuto, 60ºC – 1 minuto, 72ºC – 1 minuto (35 ciclos); 72ºC – 10 minutos (1 ciclo)

600bp (89)

qnrC-F

GGGTTGTACATTTATTGAATC

qnrC-R

TCCACTTTACGAGGTTCT

Tampão 1x; MgCL2; dNTPs; Primers; Go Taq

® DNA

Polymerase (Volume final = 23µL+2µL)

94ºC – 10 minutos (1 ciclo); 94ºC – 1minuto, 52ºC – 1 minuto, 72ºC – 1 minuto (35 ciclos); 72ºC – 10 minutos (1 ciclo)

447bp (90)

qnrD-F

CGAGATCAATTTACGGGGAATA

qnrD-R

AACAAGCTGAAGCGCCTG

Tampão 1x; MgCL2; dNTPs; Primers; Go Taq

® DNA

Polymerase (Volume final = 23µL+2µL)

94ºC – 10 minutos (1 ciclo); 94ºC – 1minuto, 64ºC – 1 minuto, 72ºC – 1 minuto (35 ciclos); 72ºC – 10 minutos (1 ciclo)

600bp (91)

qnrS-Fc

GCAAGTTCATTGAACAGGGT

qnrS-Rc

TCTAAACCGTCGAGTTCGGCG

Tampão 1x; MgCL2; dNTPs; Primers; Go Taq

® DNA

Polymerase (Volume final = 23µL+2µL)

94ºC – 10 minutos (1 ciclo); 94ºC – 1minuto, 56ºC – 1 minuto, 72ºC – 1 minuto (35 ciclos); 72ºC – 10 minutos (1 ciclo)

428bp (88)

qnrS-F

CAATCATACATATCGGCACC

qnrS-R

TCAGGATAAACAACAATACCC

Tampão 1x; MgCL2; dNTPs; Primers; Go Taq

® DNA

Polymerase (Volume final = 23µL+2µL)

94ºC – 10 minutos (1 ciclo); 94ºC – 1minuto, 64ºC – 1 minuto, 72ºC – 1 minuto (35 ciclos); 72ºC – 10 minutos (1 ciclo)

657bp (92)

qepA-F

CGTGTTGCTGGAGTTCTTC

qepA-R

CTGCAGGTACTGCGTCATG

Tampão 1x; MgCL2; dNTPs; Primers; Go Taq

® DNA

Polymerase (Volume final = 23µL+2µL)

94ºC – 10 minutos (1 ciclo); 94ºC – 1minuto, 56ºC – 1 minuto, 72ºC – 1 minuto (35 ciclos); 72ºC – 10 minutos (1 ciclo)

502bp

(93)

ACC6’-F

TTGCGATGCTCTATGAGTGGCTA

Tampão 1x; MgCL2; dNTPs; Primers; Go Taq

® DNA

Polymerase (Volume final =

94ºC – 10 minutos (1 ciclo); 94ºC – 1minuto, 66ºC – 1 minuto, 72ºC – 1 minuto (35

482bp

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77

ACC6’-R

CTCGAATGCCTGGCGTGTTT

23µL+2µL) ciclos); 72ºC – 10 minutos (1 ciclo)

oqxA-F

CTTGCACTTAGTTAAGCGCC

oqxA-R

GAGGTTTTGATAGTGGAGGTAGG

Tampão 1x; MgCL2; dNTPs; Primers; Go Taq

® DNA

Polymerase (Volume final = 23µL+2µL)

94ºC – 10 minutos (1 ciclo); 94ºC – 1minuto, 62ºC – 1 minuto, 72ºC – 1 minuto (35 ciclos); 72ºC – 10 minutos (1 ciclo)

392bp

(94)

oqxB-a

GCGGTGCTGTCGATTTTA

oqxB-s

TACCGGAACCCATCTCGAT

Tampão 1x; MgCL2; dNTPs; Primers; Go Taq

® DNA

Polymerase (Volume final = 23µL+2µL)

94ºC – 10 minutos (1 ciclo); 94ºC – 1minuto, 64ºC – 1 minuto, 72ºC – 1 minuto (35 ciclos); 72ºC – 10 minutos (1 ciclo)

512bp

Pesquisa de genes de resistência a beta-lactamases

TEM-F

ATGAGTATTCAACATTTCCG

TEM-R

CTGACAGTTACCAATGCTTA

Tampão 1x; MgCL2; dNTPs; Primers; Go Taq

® DNA

Polymerase (Volume final = 19µL+2µL)

94ºC – 5 minutos (1 ciclo); 95ºC – 1minuto, 58ºC – 1 minuto, 72ºC – 1 minuto (35 ciclos); 72ºC – 7 minutos (1 ciclo)

900bp (95)

SHV-1

GGGTTATTCTTATTTGTCGC

SHV-2

TTAGCGTTGCCAGTGCTC

Tampão 1x; MgCL2; dNTPs; Primers; Go Taq

® DNA

Polymerase (Volume final = 19µL+2µL)

94ºC – 5 minutos (1 ciclo); 95ºC – 1minuto, 56ºC – 1 minuto, 72ºC – 1 minuto (35 ciclos); 72ºC – 7 minutos (1 ciclo)

930bp

(96)

CTX-M group F

TTTGCGATGTGCAGTACCAGTAA

CTX-M group R

CGATATCGTTGGTGGTGCCATA

Tampão 1x; MgCL2; dNTPs; Primers; Go Taq

® DNA

Polymerase (Volume final = 19µL+2µL)

94ºC – 2 minutos (1 ciclo); 95ºC – 20 segundos, 53ºC – 30 segundos, 72ºC – 30 segundos (35 ciclos); 72ºC – 3 minutos (1 ciclo)

544bp