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Avaliação da viabilidade de reuso de efluentes para lavagem de veículos janeiro/2013 1 Avaliação da viabilidade de reuso de efluentes para lavagem de veículos Renan Augusto Mallmann 1 [email protected] Curso de Pós-graduação MBA em Perícia, Auditoria e Gestão Ambiental IPOG Resumo A utilização da água é fundamental para o desenvolvimento de todas as atividades antrópicas, geralmente são utilizadas nestas atividades águas oriundas de fontes ditas como nobres mesmo quando não há necessidade de águas de boa qualidade. O reuso de efluentes vem ao encontro da proposta de uso racional dos recursos hídricos, podendo ainda contribuir para redução de custos com a obtenção de água. O presente trabalho realizou uma avaliação da viabilidade de reuso dos efluentes gerados em um posto de lavagem, no qual utiliza atualmente água subterrânea em suas atividades, bem como avaliou a situação atual do sistema de tratamento de efluentes da empresa através de análises físico-químicas, tais como: pH, DQO, Cloretos, Dureza, Surfactantes, Fósforo, Nitrogênio, Sólidos Suspensos, Sólidos Sedimentáveis e Óleos e Graxas. Através de testes de bancada com auxílio de Jar Test e análise dos resultados obtidos comprovou-se a viabilidade do reuso total dos efluentes gerados em todas as etapas do processo de lavagem de veículo. Palavras-chave: Reuso de efluentes; Tratamento de efluentes; Jar test. 1. Introdução O grande aumento da demanda de água no planeta devido, principalmente, ao crescimento da população e das atividades industriais, vem causando consequências expressivas na geração de efluentes cloacais e industriais, o que contribui significativamente para a deterioração dos recursos hídricos. Para disposição de águas servidas em corpos receptores, como rios e lagos, é necessário o atendimento as legislações ambientais vigentes, que estão cada vez mais rígidas. A contaminação crescente dos recursos aquáticos, aliada com uma legislação restritiva quanto ao uso de água potável em atividades ditas não nobres, torna cada vez mais necessário o desenvolvimento de novas formas de disponibilização deste recurso natural. O reuso de efluentes vem ao encontro desta proposta. Enquanto em muitos países com menor disponibilidade hídrica esta prática já é muito difundida, o Brasil ainda se mostra tímido quanto ao investimento nesta forma de abastecimento, sendo mais utilizada em regiões metropolitanas que sofrem carência de águas de boa qualidade para, até mesmo, o consumo humano. Em consonância com a ideia de redução no consumo de água proveniente de fontes tradicionais, como a subterrânea, está também a utilização de águas pluviais. Estas águas de precipitação, dependendo sua utilização posterior, não necessitam de tratamentos complexos, tornando-se uma alternativa viável, tecnológica e economicamente, para diversos setores industriais e até mesmo para o uso residencial. opinião Segundo Morelli (apud Leitão, 1999), uma das formas de reuso de água e utilização de águas pluviais que vem se destacando em muitos países é destinada a atividade de lavagem de 1 Pós-graduando do MBA em Perícia, Auditoria e Gestão Ambiental.

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Avaliação da viabilidade de reuso de efluentes para lavagem de veículos janeiro/2013

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Avaliação da viabilidade de reuso de efluentes

para lavagem de veículos

Renan Augusto Mallmann1 [email protected]

Curso de Pós-graduação MBA em Perícia, Auditoria e Gestão Ambiental – IPOG

Resumo

A utilização da água é fundamental para o desenvolvimento de todas as atividades

antrópicas, geralmente são utilizadas nestas atividades águas oriundas de fontes ditas como

nobres mesmo quando não há necessidade de águas de boa qualidade. O reuso de efluentes

vem ao encontro da proposta de uso racional dos recursos hídricos, podendo ainda

contribuir para redução de custos com a obtenção de água. O presente trabalho realizou uma

avaliação da viabilidade de reuso dos efluentes gerados em um posto de lavagem, no qual

utiliza atualmente água subterrânea em suas atividades, bem como avaliou a situação atual

do sistema de tratamento de efluentes da empresa através de análises físico-químicas, tais

como: pH, DQO, Cloretos, Dureza, Surfactantes, Fósforo, Nitrogênio, Sólidos Suspensos,

Sólidos Sedimentáveis e Óleos e Graxas. Através de testes de bancada com auxílio de Jar

Test e análise dos resultados obtidos comprovou-se a viabilidade do reuso total dos efluentes

gerados em todas as etapas do processo de lavagem de veículo.

Palavras-chave: Reuso de efluentes; Tratamento de efluentes; Jar test.

1. Introdução

O grande aumento da demanda de água no planeta devido, principalmente, ao crescimento da

população e das atividades industriais, vem causando consequências expressivas na geração

de efluentes cloacais e industriais, o que contribui significativamente para a deterioração dos

recursos hídricos.

Para disposição de águas servidas em corpos receptores, como rios e lagos, é necessário o

atendimento as legislações ambientais vigentes, que estão cada vez mais rígidas.

A contaminação crescente dos recursos aquáticos, aliada com uma legislação restritiva quanto

ao uso de água potável em atividades ditas não nobres, torna cada vez mais necessário o

desenvolvimento de novas formas de disponibilização deste recurso natural.

O reuso de efluentes vem ao encontro desta proposta. Enquanto em muitos países com menor

disponibilidade hídrica esta prática já é muito difundida, o Brasil ainda se mostra tímido

quanto ao investimento nesta forma de abastecimento, sendo mais utilizada em regiões

metropolitanas que sofrem carência de águas de boa qualidade para, até mesmo, o consumo

humano.

Em consonância com a ideia de redução no consumo de água proveniente de fontes

tradicionais, como a subterrânea, está também a utilização de águas pluviais. Estas águas de

precipitação, dependendo sua utilização posterior, não necessitam de tratamentos complexos,

tornando-se uma alternativa viável, tecnológica e economicamente, para diversos setores

industriais e até mesmo para o uso residencial. opinião

Segundo Morelli (apud Leitão, 1999), uma das formas de reuso de água e utilização de águas

pluviais que vem se destacando em muitos países é destinada a atividade de lavagem de

1 Pós-graduando do MBA em Perícia, Auditoria e Gestão Ambiental.

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veículos, setor este que, inegavelmente, desperdiça nos dias atuais milhares de litros de água

potável. Estados Unidos, Japão e alguns países da Europa já possuem legislações específicas

para o assunto, as quais regulamentam a instalação dos sistemas de lavagem de veículos, de

pequeno ou grande porte, obrigando a instalação de dispositivos de tratamento dos efluentes

provenientes destes processos e solicitando a implantação de equipamentos que promovam a

recirculação da água utilizada.

Neste contexto o aproveitamento de águas pluviais e o reuso de efluentes surgem com uma

fonte alternativa para a obtenção de água para a lavagem de veículos, além de diminuir

consideravelmente a emissão de efluentes líquidos tratados em corpos receptores. Resta saber

a viabilidade local de cada empresa; tanto na questão estrutural, como, por exemplo, na

existência de áreas cobertas que proporcionem a coleta de um volume significativo de águas

pluviais, quanto na dotação de recursos financeiros para implantação destes sistemas.

2. Fundamentação Teórica

2.1. Reuso de Água

O reuso de água consiste em uma tecnologia desenvolvida em maior ou menor grau,

dependendo dos fins a que se destina água e de como ela tenha sido utilizada anteriormente.

De maneira geral, o reuso da água pode vir a ocorrer de maneira direta ou indireta. Conforme

a Organização Mundial de Saúde (apud Mancuso, 2003) o reuso indireto ocorre quando a

água utilizada uma ou mais vezes é descartada em um curso hídrico e utilizada novamente a

jusante, de forma diluída. Ainda conforme a OMS, o reuso direto consiste no uso planejado e

deliberado de esgotos tratados para certas finalidades, como a irrigação.

Os reusos também podem ser classificados conforme a utilização a que se destinam, reuso

potável e reuso não potável (Westerhoff apud Mancuso, 2003).

a) Reuso potável: pode ser de forma direta, onde o esgoto é diretamente utilizado no sistema

de água potável, após tratamentos adequados, ou de forma indireta, em que os rejeitos

tratados são dispostos em corpos hídricos para diluição, sendo coletados e tratados com a

finalidade potável.

b) Reuso não potável: a mais utilizada forma de reuso, consiste na utilização de águas

reutilizadas para fins que não necessitem padrões de potabilidade. É subdividida em

agrícola, industrial, recreacionais, domésticos, aqüicultura, manutenção de vazões e

recarga de aqüíferos.

O reuso de água reduz a demanda de água oriunda dos mananciais, ocorrendo a substituição

da água potável por uma água de qualidade inferior. Esta prática muito discutida, posta em

evidência e já utilizada por muitos países, é baseada no conceito de substituição de fontes. Tal

substituição é possível em função da qualidade requerida o uso a que se destina. Desta forma,

grandes volumes de água podem ser poupados pelo reuso quando se utiliza água de qualidade

inferior, geralmente oriunda de efluentes tratados, para o atendimento de finalidades que

necessitem ou não de padrões de potabilidade (Morelli, 2005).

A tabela 1 indica os tipos de reuso e as posteriores aplicações das águas tratadas.

TIPOS DE REÚSO APLICAÇÕES

Irrigação paisagística

Parques, cemitérios, campos de

golfe, faixas de domínio de

autoestradas, campi universitários,

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cinturões verdes, gramados

residenciais

Irrigação de campos para cultivos

Plantio de forrageiras, plantas

fibrosas e de grãos, plantas

alimentícias, viveiros de plantas

ornamentais, proteção contra geadas

Usos industriais

Refrigeração, alimentação de

caldeiras, lavagem de gases, água de

processamento

Recarga de aqüíferos

Recarga de aqüíferos potáveis,

controle de intrusão marinha,

controle de recalques de subsolo

Usos urbanos não-potáveis

Irrigação paisagística, combate ao

fogo, descarga em vasos sanitários,

sistemas de ar condicionado,

lavagem de veículos, lavagem de

ruas e pontos de ônibus.

Finalidades ambientais

Aumento de vazão em cursos de

água, aplicação em pântanos, terras

alagadas, indústrias de pesca

Usos diversos

Aqüicultura, fabricação de neve,

construções, controle de poeira,

dessedentação de animais. Fonte: Teixeira, 2003.

Tabela 1 – Tipos de Reuso

2.2. Lavagem de Veículos

A prestação do serviço de lavagem de veículos pode ser realizada por diferentes métodos de

limpeza, com características, necessidades e funções próprias. Estes métodos variam quanto

ao volume de água utilizado, equipamentos utilizados, carga de contaminantes gerados e

substâncias químicas empregadas no processo de lavagem (Teixeira, 2003). A lavagem de

veículos, em sua maioria, pode ser executada através de três métodos, descritos a seguir:

Túnel: O veículo segue pelo interior do equipamento em formato de túnel, passando por

áreas de lavagem, enxágue, enceramento e secagem, respectivamente. Dentro da área de

lavagem, o detergente anteriormente diluído em água é aplicado e a sujeira é

mecanicamente removida por escovas e/ou jatos de alta pressão. A seguir, o automóvel é

enxaguado com água limpa. Finalmente, a secagem é realizada com jatos de ar. O efluente

é coletado em uma calha localizada abaixo do túnel. Em alguns sistemas, a água de

lavagem e de enxágue separadas por uma pequena barreira construída na vala.

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Fonte: Teixeira, 2003.

FIGURA 01 – Lavagem de veículos tipo “Túnel”, onde a limpeza é feita através de escovas

Fonte: Teixeira, 2003.

FIGURA 02 – Lavagem de veículos tipo “Túnel”, onde a limpeza é feita através de jatos de alta pressão

“Rollover”: O automóvel fica parado enquanto a máquina de lavagem passa por ele. O

equipamento é dotado de escovas em forma cilíndricas que giram em torno de seu próprio

eixo. Normalmente, são três escovas, duas laterais e uma localizada na parte superior. O

equipamento realiza movimentos para frente e para trás, cobrindo toda a área lateral e

superior do carro. O efluente gerado é coletado numa vala situada abaixo do sistema. A

Figura 03 ilustra este tipo de lavagem de veículos.

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Fonte: Morreli, 2005

FIGURA 03 – Lavagem tipo “Rollover”

Lavagem a jato manual: O veículo é limpo utilizando uma mangueira com jatos de alta

pressão de ar e água; ar, sabão e água alternando-os. Em alguns casos a água é coletada

numa calha para posterior tratamento. É o tipo de lavagem mais comum no Brasil. A

Figura 04 demonstra este tipo de lavagem.

Fonte: http://ecologiccleancar.goldenbiz.com.br, 2012.

FIGURA 04 – Lavagem a jato manual

2.2.1. Características dos Efluentes Gerados

O efluente gerado por atividades de limpeza de automóveis pode conter diversos

contaminantes, dentre eles, quantidades significativas de óleos e graxas, sólidos em

suspensão, metais pesados, surfactantes e substâncias orgânicas (Teixeira, 2003).

Conforme Jönsson & Jönsson (1995) apud Teixeira (2003), este efluente contem óleo, graxa,

partículas de poeira, carbono e asfalto carreados da superfície do carro. Podendo conter

também fluido hidráulico e óleo proveniente do motor e demais sistema mecânicos. Por isso

sua composição é bastante complexa, constituindo uma fonte significativa de DQO.

Braile & Cavalcanti (1979) apud Teixeira (2003), afirmam ainda que o tratamento de

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despejos contendo detergentes é um dos grandes problemas da engenharia sanitária. Estes

compostos contêm nutrientes, como fósforo e nitrogênio, além de compostos fenólicos, que

afetam propriedades organolépticas da água. Podendo estes formar emulsões estáveis

dificultando a sua remoção. Após seu lançamento, podem provocar a formação de espumas

disformes nos corpos de água, facilitando o transporte de uma série de microrganismos,

principalmente bactérias, e exercendo o papel de veículo de parasitas.

Os surfactantes são classificados como iônicos e não iônicos. Os iônicos podem ser aniônicos

ou catiônicos. O aquil benzeno sulfonado (ABS) é um típico surfactante aniônico. O ABS de

cadeias lineares (LAS) é considerado biodegradável, no entanto, ao se degradar, consome

oxigênio do meio, podendo causar eutrofização do corpo hídrico em que é disposto. (Teixeira,

2003).

O autor destaca que pelo fato de se manifestar em altas concentrações e pela dificuldade de

sua remoção nas etapas de tratamento, os detergentes constituem uma das maiores

preocupações na remoção de poluentes deste tipo de efluente.

As águas residuárias geradas nas operações de lavagens de veículos constituem-se, em sua

grande parte de sabão, água de enxágüe e cera. Destaca que, quando não há enxágüe na parte

inferior e no motor dos veículos, as concentrações de agentes desengraxantes, solventes e

metais pesados, são muito baixas. Caso contrário, a concentração destes poluentes aumenta

consideravelmente.

Teixeira (2003) salienta ainda que a concentração de cloretos na recirculação de água num

sistema de lavagem de veículos pode aumentar gradativamente a concentração de sais,

acelerando o processo de corrosão das carrocerias. A extensão da corrosão depende da

umidade e da concentração de sulfatos na atmosfera, maior em cidades industrializadas. Desta

forma, é recomendado que a água sofra um processo de tratamento ou diluição. A

concentração de cloreto de sódio aumenta em regiões onde esse sal é utilizado para a remoção

de neve dos pavimentos, o que não é o caso do Brasil. Contudo, a concentração dos sais é um

importante parâmetro para o controle da reciclagem da água.

A USEPA (1980) apud Teixera, 2003, publicou valores de parâmetros e substâncias tóxicas

presentes em efluentes obtidos para diferentes tipos de lavagem de veículos.

O processo de lavagem a jato manual gerou o efluente com as piores características

qualitativas. As concentrações médias de DBO5, COT e fósforo foram inferiores aos valores

típicos para esgoto sanitário. As concentrações de DQO, SST e óleos e graxas, foram

equivalentes ou menores que os encontrados no esgoto.

Chumbo e zinco estiveram presentes em todas as amostras, em todos os tipos de lavagem,

com grande parte das amostras com concentrações nas faixas de 0,5 a 1,5 mg L-1 para

chumbo, e 0,4 a 1,5 mg L-1 para zinco. Os únicos metais, além destes, com presenças

significativas foram o cobre e o níquel, cujas concentrações médias foram inferiores a 0,43 e

0,13 mg L-1 respectivamente. Os demais poluentes tóxicos não ultrapassaram o valor de 1,0

mg L-1.

As substâncias oleosas podem ser removidas manual ou mecanicamente, não sendo necessária

a adição de produtos químicos no tratamento.

2.3. Os benefícios e problemas da reciclagem de efluentes da lavagens de veículos Teixeira (2003), lista alguns requisitos que devem ser observados no sistema de tratamento a

ser implantado visando à reutilização da água de lavagem de veículos:

Eliminar os riscos à saúde dos usuários e operadores;

Evitar danos aos veículos a serem lavados;

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Minimizar a necessidade de diluição dos efluentes tratados, e;

Minimizar, seu lançamento na rede de esgotos, em águas superficiais ou em fossas

sépticas.

Com estes cuidados, advirão os seguintes benefícios:

Minimização da descarga de efluentes nos corpos receptores;

Diminuição da carga de poluentes tóxicos na rede pública de esgotos;

Economia de água oriunda de fontes tradicionais.

Ainda segundo o autor, os principais problemas a serem enfrentados na implantação de

tecnologias para a reciclagem de água de lavagem de veículos são:

Área Ocupada: sua concepção deve ser a mais compacta possível, pois, provavelmente,

será instalado num local que já destinado para o tratamento dos efluentes, sem previsão de

espaço para a inclusão de outros equipamentos;

Geração de Odores: deve abranger a necessidade de controle de odores gerados pela

proliferação de microrganismos nas águas armazenadas para a reciclagem;

Geração de Lodo: a maioria dos sistemas de tratamento de efluentes gera resíduos sólidos e

estes deverão ter seu volume minimizado e disposição final adequada;

Custo de Implantação: deve ser o menor possível, de forma que possa ser competitivo com

o custo da água utilizada, recuperando o investimento em curto prazo;

Operação e Manutenção: a simplicidade, neste aspecto, é um fator limitante na escolha da

tecnologia. Sistemas mais complexos tornam-se inviáveis tanto economicamente, como

operacionalmente, pois exigem operadores capacitados, que torna muito oneroso para os

proprietários de postos de lavagem ou lava-rápidos;

Concentração de Sólidos Dissolvidos: à medida que a água recircula pelo sistema de

tratamento, alguns poluentes podem se concentrar, por não serem totalmente removidos no

tratamento;

Necessidade de Diluição: como há aumento na concentração de certos poluentes, como

dito anteriormente, a diluição se torna necessária para manter a qualidade necessária da

água a ser reciclada. Pode ser realizada com água potável ou água da chuva para tal

procedimento.

2.4. Local de Estudo

O local de estudo deste trabalho é um posto de lavagem de veículos e tapetes, localizado na

cidade de Lajeado/RS.

Neste posto são utilizados cerca de 20.000 L de água por dia, empregados principalmente na

lavagem de veículos. Toda água utilizada nas atividades do empreendimento é proveniente de

poço artesiano.

Os fluxogramas abaixo demonstram as atividades empregadas no processo da empresa.

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Fonte: do autor

FIGURA 05 – Fluxogramas de processo operacional da empresa.

Atualmente o sistema de tratamento de efluentes é composto por uma caixa separadora de

lama, água e óleo, a qual é responsável por toda depuração das águas servidas geradas nos

processos de lavagem de veículos e tapetes.

2.5. Testes de viabilidade técnica

Para verificação da viabilidade técnica do reuso do efluente bruto gerado pela empresa

estudada, foram realizados testes de bancada com um aparelho denominado Jar Test, que

significa teste de jarro, sendo que o equipamento utilizado pode ser visualizado na figura 06.

O principio deste método consiste na aplicação de diferentes concentrações de produtos

químicos em diferentes jarros com efluente. É um teste de fácil aplicação que gera um ótimo

resultado, pois podemos estimar a dosagem e o consumo de produtos para o tratamento de

efluentes de maneira rápida e confiável.

Lavagem na

Rampa

Ensaboamento

Enxagüe

Secagem do

Veículo

Aspiração e

limpeza interna

Aplicação de

renovadores de

superfície

Veículo Limpo

Chegada

do Veículo

Lavagem com

água

Aplicação de

detergentes

Enxagüe

Secagem do

tapete

Tapete Limpo

Chegada

do Tapete

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Fonte: do autor

FIGURA 06 - Jar Test em operação

Para realização dos testes foram utilizados, além do efluente, Cal hidratado [Ca(OH)2],

Sulfato de Alumínio [Al2(SO4)3] e um polieletrólito aniônico.

A solução de cal hidratada foi obtida através da dissolução de óxido de cálcio em água.

Utilizou-se uma concentração de 20% de Cal. A diluição do sal sulfato de alumínio foi na

proporção de 50% e o polieletrólito foi 0,5%.

Primeiramente verificou-se o pH, o qual foi ajustado para um valor em torno de 12 com a

solução de cal, após foi adicionado o sulfato de alumínio, e em seguida fui usado o

polieletrólito aniônico, visando a rápida formação de flocos com boas característica de

sedimentação.

2.5.1. Resultados Realizaram-se os testes de jarro buscando a melhor condição de sedimentação e clarificação

do efluente, com o uso racional de produtos químicos, procurando estabelecer uma relação

que contemplasse uma boa qualidade e aspecto do efluente tratado com a mínima utilização

de produtos no seu tratamento.

Além do elevado custo dos produtos químicos utilizados, também teve-se uma especial

atenção à quantidade de lodo formado no tratamento físico-químico, pois este, por sua vez,

pode causar impacto ambiental e também onera a empresa, que deve destiná-lo a um local

adequado.

As dosagens de produtos químicos utilizados são mostradas na tabela 2.

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TESTE

Volume

da

amostra

pH

Inicial

Volume

de

Ca(OH)2

Volume de

Al2(SO4)3

Volume de

Polieletrólito pH Final

1 800 mL 7,12 8 mL 10 mL 5 mL 7,49

2 800 mL 7,12 4 mL 5 mL 2,5 mL 7,41

3 800 mL 7,12 3 mL 4 mL 2,0 mL 8,37

4 800 mL 7,12 2 mL 3 mL 2,0 mL 7,68

5 800 mL 7,12 1 mL 2 mL 2,0 mL 7,35

Fonte: do autor

TABELA 2 – Volume de reagentes empregados no Jar Test

2.5.1.1. Teste 01

Neste teste foi utilizada uma super dosagem de reagentes, esperando-se um efluente tratado

com o melhor aspecto e, possivelmente, melhor características químicas. No entanto, além do

excessivo volume de lodo formado (250 mL/L), o efluente sobrenadante apresentou-se com

uma elevada turbidez, como pode-se observar na figura 07, possivelmente causada por um

elevado teor de sólidos dissolvidos.

Portanto, devido ao elevado consumo de produtos químicos aliado com um resultado não

esperado, descartou-se a possibilidade de scale up deste teste.

Fonte: do autor

FIGURA 07 – Resultado do Teste 01

2.5.1.2. Teste 02

Para realização deste teste foi utilizada uma dosagem de reagentes mais realista, na qual já se

esperava encontrar resultados passiveis de aplicação no processo da empresa utilizada como

local de estudo.

Desta vez os resultados obtidos foram muito satisfatórios, e o efluente clarificado teve o

melhor aspecto dentre todos testes realizados, conforme pode ser visualizado na figura 08. O

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volume de lodo teve um valor inferior ao obtido no teste 01 mais ainda apresentou-se elevado

(200 mL L-1

).

Apesar do efluente tratado, aparentemente, apresentar as características ideais para o reuso

sua utilização não é recomendada, devido a alguns fatores citados no item 2.3.

Fonte: do autor

FIGURA 08 – Resultado do Teste 02

2.5.1.3. Teste 03

Assim como no teste 02, esperava-se com o teste 03 obter resultados passíveis de aplicação

em maiores escalas.

Os resultados obtidos foram desastrosos, isto porque o efluente tratado apresentou uma

coloração cinza escuro, como o apresentado na figura 09, demonstrando que algo errado

ocorreu durante o teste. Após a verificação do pH, o qual apresentou um valor elevado em

relação aos outros testes, pode-se tentar encontrar as possíveis causas deste teste mal

sucedido:

Erro na dosagem dos produtos químicos, observada a alcalinidade do efluente

Utilização de produtos químicos mal homogeneizados ou dissolvidos, acarretando uma

possível variação em sua concentração.

Realização do teste com um efluente bruto de maior concentração de contaminantes,

provocada uma mistura ineficiente da amostra.

Má limpeza dos materiais utilizados, como vidrarias e pipetas, podendo estes conter

alguma(s) substância(s) interferente no teste.

Com a aparência do efluente sobrenadante pode-se deduzir que um, ou vários, contaminantes

não foram removidos, até mesmo porque o volume de lodo gerado apresentou o menor valore

obtido (110 mL/L).

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Fonte: do autor

FIGURA 09 – Resultado do Teste 03

2.5.1.4. Teste 04

Assim como nos últimos dois testes realizados, a concentração de reagentes envolvidos foi

menor. Objetivava-se, com isto, resultados satisfatórios, passíveis de aplicação in loco.

A amostra em questão apresentou o resultado esperado, mesmo sendo este um pouco inferior

ao resultado do teste 02. O efluente clarificado apresentou um bom aspecto visual, tendo uma

coloração praticamente incolor, como observa-se na figura 10. O volume de lodo úmido

gerado ficou em 150 mL L-1

.

Mesmo com os bons resultados, optou-se pela escolha do teste 05, que será descrito a seguir.

Fonte: do autor

FIGURA 10 – Resultado do Teste 04

2.5.1.5. Teste 05

No quinto teste utilizou-se as menores concentrações de reagentes, esperando resultados

inferiores, para simples comparação com os teste 02, 03 e 04.

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Para surpresa, o resultado obtido foi praticamente idêntico ao teste 04, como pode-se

visualizar na figura 11. O teste também gerou o menor volume de lodo (120 mL L-1

),

diminuindo possíveis custos com a destinação do mesmo.

Este resultado levou o teste 05 a ser escolhido como referencia em um possível scale up no

posto de lavagem estudado.

Fonte: do autor

FIGURA 11 – Resultado do Teste 05

No ensaio foi empregado em 800 mL de amostra 1 mL de solução de Cal, 2 mL de solução de

Sulfato de Alumínio e 2 mL de solução de polímero aniônico. Com estas concentrações tem-

se um custo de tratamento de aproximadamente R$ 1,88 m-3

(um real e setenta e cinco

centavos por metro cúbico). Para estes cálculos levou-se em consideração que o preço do kg

de Cal hidratado é de R$ 0,40, o custo do Sulfato de Alumínio é de R$ 1,30 e o valor de

Polieletrólito aniônico é de R$ 14,30 por kg. Para compreensão dos cálculos pode-se observar

a tabela 3.

Além disto, há também o custo de destinação do lodo, os 120 mL L-1

de material gerado

apresentam cerca de 96% de umidade, necessitando, assim, de uma secagem. Este

procedimento pode ser realizado através passagem deste por um filtro lento de areia, no qual a

água escoa entre os interstícios dos grãos e o lodo é depositado sobre o leito. O processo gera

um lodo com umidade final de cerca de 70%, justificando assim a necessidade da realização

do mesmo. O valor estimado para destinação deste resíduo é demonstrado na tabela 4.

Volume de

Efluente

Massa do

reagente

utilizada

Preço do kg

de reagente

Custo do

reagente no

tratamento

Cal Hidratado 1000 L 25 g 0,40 R$ 0,01

Sulfato de

Alumínio 1000 L 625 g 1,30 R$ 0,80

Polímero

aniônico 1000 L 3,4 g 14,30 R$ 0,05

Custo total dos reagentes para o tratamento de 1 m³ de efluente R$ 0,86 Fonte: do autor

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TABELA 3 – Custo do tratamento de efluentes

Volume

de

Efluente

Lodo

gerad

o

Umidad

e

Inicial

Umidad

e final

Lodo

seco

Custo de

deposição

(m³ de lodo)

Custo de

destinação (m³

de tratamento)

1000 L 120 L 96% 70% 16,0 L R$ 64,00 R$ 1,02 Fonte: do autor

TABELA 4 – Custo de destinação do lodo gerado

O comparativo entre o aspecto visual do efluente bruto e o efluente tratado nos testes pode ser

observado na figura 12.

Fonte: do autor

FIGURA 12 – Efluente tratado e efluente bruto

3. Conclusão

A segregação dos efluentes gerados é dificultada devido às características do solo local, que

apresenta uma grande quantidade de rochas superficiais; e ainda, à disposição das unidades do

sistema (tubulações dificultam a separação dos efluentes gerados).

A lavagem de veículos resulta na formação de efluentes com características que levam a um

melhor desempenho do tratamento atual, visto que este apresenta uma quantidade de

contaminantes inferior aos efluentes da lavagem de tapetes. Para estes últimos é recomenda-

se tratamento e depuração em separado. O tratamento de efluentes atual é eficiente na

remoção parcial da maioria dos contaminantes, porém não atende as exigências dos órgãos

ambientais.

Com os testes realizados verificou-se que o reuso dos efluentes gerados na empresa estudada

é viável, sendo necessária a adequação do sistema atualmente utilizado, acrescentando neste,

um tratamento físico-químico e um sistema de filtração final, evitando o arraste de material

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Avaliação da viabilidade de reuso de efluentes para lavagem de veículos janeiro/2013

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particulado.

Com a análise dos efluentes de reuso, admite-se a possível utilização do mesmo em todas as

etapas do processo de lavagem de veículos.

A adequação da caixa separadora existente e a instalação de um filtro de areia podem levar a

possibilidade de reuso do efluente na etapa de pré-lavagem, sem a necessidade de um

tratamento físico-químico, visto que esta etapa visa a remoção grosseira de sujidades e não

necessitando de águas de melhor qualidade.

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