Avaliação da viabilidade de reuso de efluentes para ... também fluido hidráulico e óleo...
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Avaliação da viabilidade de reuso de efluentes para lavagem de veículos janeiro/2013
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Avaliação da viabilidade de reuso de efluentes
para lavagem de veículos
Renan Augusto Mallmann1 [email protected]
Curso de Pós-graduação MBA em Perícia, Auditoria e Gestão Ambiental – IPOG
Resumo
A utilização da água é fundamental para o desenvolvimento de todas as atividades
antrópicas, geralmente são utilizadas nestas atividades águas oriundas de fontes ditas como
nobres mesmo quando não há necessidade de águas de boa qualidade. O reuso de efluentes
vem ao encontro da proposta de uso racional dos recursos hídricos, podendo ainda
contribuir para redução de custos com a obtenção de água. O presente trabalho realizou uma
avaliação da viabilidade de reuso dos efluentes gerados em um posto de lavagem, no qual
utiliza atualmente água subterrânea em suas atividades, bem como avaliou a situação atual
do sistema de tratamento de efluentes da empresa através de análises físico-químicas, tais
como: pH, DQO, Cloretos, Dureza, Surfactantes, Fósforo, Nitrogênio, Sólidos Suspensos,
Sólidos Sedimentáveis e Óleos e Graxas. Através de testes de bancada com auxílio de Jar
Test e análise dos resultados obtidos comprovou-se a viabilidade do reuso total dos efluentes
gerados em todas as etapas do processo de lavagem de veículo.
Palavras-chave: Reuso de efluentes; Tratamento de efluentes; Jar test.
1. Introdução
O grande aumento da demanda de água no planeta devido, principalmente, ao crescimento da
população e das atividades industriais, vem causando consequências expressivas na geração
de efluentes cloacais e industriais, o que contribui significativamente para a deterioração dos
recursos hídricos.
Para disposição de águas servidas em corpos receptores, como rios e lagos, é necessário o
atendimento as legislações ambientais vigentes, que estão cada vez mais rígidas.
A contaminação crescente dos recursos aquáticos, aliada com uma legislação restritiva quanto
ao uso de água potável em atividades ditas não nobres, torna cada vez mais necessário o
desenvolvimento de novas formas de disponibilização deste recurso natural.
O reuso de efluentes vem ao encontro desta proposta. Enquanto em muitos países com menor
disponibilidade hídrica esta prática já é muito difundida, o Brasil ainda se mostra tímido
quanto ao investimento nesta forma de abastecimento, sendo mais utilizada em regiões
metropolitanas que sofrem carência de águas de boa qualidade para, até mesmo, o consumo
humano.
Em consonância com a ideia de redução no consumo de água proveniente de fontes
tradicionais, como a subterrânea, está também a utilização de águas pluviais. Estas águas de
precipitação, dependendo sua utilização posterior, não necessitam de tratamentos complexos,
tornando-se uma alternativa viável, tecnológica e economicamente, para diversos setores
industriais e até mesmo para o uso residencial. opinião
Segundo Morelli (apud Leitão, 1999), uma das formas de reuso de água e utilização de águas
pluviais que vem se destacando em muitos países é destinada a atividade de lavagem de
1 Pós-graduando do MBA em Perícia, Auditoria e Gestão Ambiental.
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veículos, setor este que, inegavelmente, desperdiça nos dias atuais milhares de litros de água
potável. Estados Unidos, Japão e alguns países da Europa já possuem legislações específicas
para o assunto, as quais regulamentam a instalação dos sistemas de lavagem de veículos, de
pequeno ou grande porte, obrigando a instalação de dispositivos de tratamento dos efluentes
provenientes destes processos e solicitando a implantação de equipamentos que promovam a
recirculação da água utilizada.
Neste contexto o aproveitamento de águas pluviais e o reuso de efluentes surgem com uma
fonte alternativa para a obtenção de água para a lavagem de veículos, além de diminuir
consideravelmente a emissão de efluentes líquidos tratados em corpos receptores. Resta saber
a viabilidade local de cada empresa; tanto na questão estrutural, como, por exemplo, na
existência de áreas cobertas que proporcionem a coleta de um volume significativo de águas
pluviais, quanto na dotação de recursos financeiros para implantação destes sistemas.
2. Fundamentação Teórica
2.1. Reuso de Água
O reuso de água consiste em uma tecnologia desenvolvida em maior ou menor grau,
dependendo dos fins a que se destina água e de como ela tenha sido utilizada anteriormente.
De maneira geral, o reuso da água pode vir a ocorrer de maneira direta ou indireta. Conforme
a Organização Mundial de Saúde (apud Mancuso, 2003) o reuso indireto ocorre quando a
água utilizada uma ou mais vezes é descartada em um curso hídrico e utilizada novamente a
jusante, de forma diluída. Ainda conforme a OMS, o reuso direto consiste no uso planejado e
deliberado de esgotos tratados para certas finalidades, como a irrigação.
Os reusos também podem ser classificados conforme a utilização a que se destinam, reuso
potável e reuso não potável (Westerhoff apud Mancuso, 2003).
a) Reuso potável: pode ser de forma direta, onde o esgoto é diretamente utilizado no sistema
de água potável, após tratamentos adequados, ou de forma indireta, em que os rejeitos
tratados são dispostos em corpos hídricos para diluição, sendo coletados e tratados com a
finalidade potável.
b) Reuso não potável: a mais utilizada forma de reuso, consiste na utilização de águas
reutilizadas para fins que não necessitem padrões de potabilidade. É subdividida em
agrícola, industrial, recreacionais, domésticos, aqüicultura, manutenção de vazões e
recarga de aqüíferos.
O reuso de água reduz a demanda de água oriunda dos mananciais, ocorrendo a substituição
da água potável por uma água de qualidade inferior. Esta prática muito discutida, posta em
evidência e já utilizada por muitos países, é baseada no conceito de substituição de fontes. Tal
substituição é possível em função da qualidade requerida o uso a que se destina. Desta forma,
grandes volumes de água podem ser poupados pelo reuso quando se utiliza água de qualidade
inferior, geralmente oriunda de efluentes tratados, para o atendimento de finalidades que
necessitem ou não de padrões de potabilidade (Morelli, 2005).
A tabela 1 indica os tipos de reuso e as posteriores aplicações das águas tratadas.
TIPOS DE REÚSO APLICAÇÕES
Irrigação paisagística
Parques, cemitérios, campos de
golfe, faixas de domínio de
autoestradas, campi universitários,
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cinturões verdes, gramados
residenciais
Irrigação de campos para cultivos
Plantio de forrageiras, plantas
fibrosas e de grãos, plantas
alimentícias, viveiros de plantas
ornamentais, proteção contra geadas
Usos industriais
Refrigeração, alimentação de
caldeiras, lavagem de gases, água de
processamento
Recarga de aqüíferos
Recarga de aqüíferos potáveis,
controle de intrusão marinha,
controle de recalques de subsolo
Usos urbanos não-potáveis
Irrigação paisagística, combate ao
fogo, descarga em vasos sanitários,
sistemas de ar condicionado,
lavagem de veículos, lavagem de
ruas e pontos de ônibus.
Finalidades ambientais
Aumento de vazão em cursos de
água, aplicação em pântanos, terras
alagadas, indústrias de pesca
Usos diversos
Aqüicultura, fabricação de neve,
construções, controle de poeira,
dessedentação de animais. Fonte: Teixeira, 2003.
Tabela 1 – Tipos de Reuso
2.2. Lavagem de Veículos
A prestação do serviço de lavagem de veículos pode ser realizada por diferentes métodos de
limpeza, com características, necessidades e funções próprias. Estes métodos variam quanto
ao volume de água utilizado, equipamentos utilizados, carga de contaminantes gerados e
substâncias químicas empregadas no processo de lavagem (Teixeira, 2003). A lavagem de
veículos, em sua maioria, pode ser executada através de três métodos, descritos a seguir:
Túnel: O veículo segue pelo interior do equipamento em formato de túnel, passando por
áreas de lavagem, enxágue, enceramento e secagem, respectivamente. Dentro da área de
lavagem, o detergente anteriormente diluído em água é aplicado e a sujeira é
mecanicamente removida por escovas e/ou jatos de alta pressão. A seguir, o automóvel é
enxaguado com água limpa. Finalmente, a secagem é realizada com jatos de ar. O efluente
é coletado em uma calha localizada abaixo do túnel. Em alguns sistemas, a água de
lavagem e de enxágue separadas por uma pequena barreira construída na vala.
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Fonte: Teixeira, 2003.
FIGURA 01 – Lavagem de veículos tipo “Túnel”, onde a limpeza é feita através de escovas
Fonte: Teixeira, 2003.
FIGURA 02 – Lavagem de veículos tipo “Túnel”, onde a limpeza é feita através de jatos de alta pressão
“Rollover”: O automóvel fica parado enquanto a máquina de lavagem passa por ele. O
equipamento é dotado de escovas em forma cilíndricas que giram em torno de seu próprio
eixo. Normalmente, são três escovas, duas laterais e uma localizada na parte superior. O
equipamento realiza movimentos para frente e para trás, cobrindo toda a área lateral e
superior do carro. O efluente gerado é coletado numa vala situada abaixo do sistema. A
Figura 03 ilustra este tipo de lavagem de veículos.
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Fonte: Morreli, 2005
FIGURA 03 – Lavagem tipo “Rollover”
Lavagem a jato manual: O veículo é limpo utilizando uma mangueira com jatos de alta
pressão de ar e água; ar, sabão e água alternando-os. Em alguns casos a água é coletada
numa calha para posterior tratamento. É o tipo de lavagem mais comum no Brasil. A
Figura 04 demonstra este tipo de lavagem.
Fonte: http://ecologiccleancar.goldenbiz.com.br, 2012.
FIGURA 04 – Lavagem a jato manual
2.2.1. Características dos Efluentes Gerados
O efluente gerado por atividades de limpeza de automóveis pode conter diversos
contaminantes, dentre eles, quantidades significativas de óleos e graxas, sólidos em
suspensão, metais pesados, surfactantes e substâncias orgânicas (Teixeira, 2003).
Conforme Jönsson & Jönsson (1995) apud Teixeira (2003), este efluente contem óleo, graxa,
partículas de poeira, carbono e asfalto carreados da superfície do carro. Podendo conter
também fluido hidráulico e óleo proveniente do motor e demais sistema mecânicos. Por isso
sua composição é bastante complexa, constituindo uma fonte significativa de DQO.
Braile & Cavalcanti (1979) apud Teixeira (2003), afirmam ainda que o tratamento de
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despejos contendo detergentes é um dos grandes problemas da engenharia sanitária. Estes
compostos contêm nutrientes, como fósforo e nitrogênio, além de compostos fenólicos, que
afetam propriedades organolépticas da água. Podendo estes formar emulsões estáveis
dificultando a sua remoção. Após seu lançamento, podem provocar a formação de espumas
disformes nos corpos de água, facilitando o transporte de uma série de microrganismos,
principalmente bactérias, e exercendo o papel de veículo de parasitas.
Os surfactantes são classificados como iônicos e não iônicos. Os iônicos podem ser aniônicos
ou catiônicos. O aquil benzeno sulfonado (ABS) é um típico surfactante aniônico. O ABS de
cadeias lineares (LAS) é considerado biodegradável, no entanto, ao se degradar, consome
oxigênio do meio, podendo causar eutrofização do corpo hídrico em que é disposto. (Teixeira,
2003).
O autor destaca que pelo fato de se manifestar em altas concentrações e pela dificuldade de
sua remoção nas etapas de tratamento, os detergentes constituem uma das maiores
preocupações na remoção de poluentes deste tipo de efluente.
As águas residuárias geradas nas operações de lavagens de veículos constituem-se, em sua
grande parte de sabão, água de enxágüe e cera. Destaca que, quando não há enxágüe na parte
inferior e no motor dos veículos, as concentrações de agentes desengraxantes, solventes e
metais pesados, são muito baixas. Caso contrário, a concentração destes poluentes aumenta
consideravelmente.
Teixeira (2003) salienta ainda que a concentração de cloretos na recirculação de água num
sistema de lavagem de veículos pode aumentar gradativamente a concentração de sais,
acelerando o processo de corrosão das carrocerias. A extensão da corrosão depende da
umidade e da concentração de sulfatos na atmosfera, maior em cidades industrializadas. Desta
forma, é recomendado que a água sofra um processo de tratamento ou diluição. A
concentração de cloreto de sódio aumenta em regiões onde esse sal é utilizado para a remoção
de neve dos pavimentos, o que não é o caso do Brasil. Contudo, a concentração dos sais é um
importante parâmetro para o controle da reciclagem da água.
A USEPA (1980) apud Teixera, 2003, publicou valores de parâmetros e substâncias tóxicas
presentes em efluentes obtidos para diferentes tipos de lavagem de veículos.
O processo de lavagem a jato manual gerou o efluente com as piores características
qualitativas. As concentrações médias de DBO5, COT e fósforo foram inferiores aos valores
típicos para esgoto sanitário. As concentrações de DQO, SST e óleos e graxas, foram
equivalentes ou menores que os encontrados no esgoto.
Chumbo e zinco estiveram presentes em todas as amostras, em todos os tipos de lavagem,
com grande parte das amostras com concentrações nas faixas de 0,5 a 1,5 mg L-1 para
chumbo, e 0,4 a 1,5 mg L-1 para zinco. Os únicos metais, além destes, com presenças
significativas foram o cobre e o níquel, cujas concentrações médias foram inferiores a 0,43 e
0,13 mg L-1 respectivamente. Os demais poluentes tóxicos não ultrapassaram o valor de 1,0
mg L-1.
As substâncias oleosas podem ser removidas manual ou mecanicamente, não sendo necessária
a adição de produtos químicos no tratamento.
2.3. Os benefícios e problemas da reciclagem de efluentes da lavagens de veículos Teixeira (2003), lista alguns requisitos que devem ser observados no sistema de tratamento a
ser implantado visando à reutilização da água de lavagem de veículos:
Eliminar os riscos à saúde dos usuários e operadores;
Evitar danos aos veículos a serem lavados;
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Minimizar a necessidade de diluição dos efluentes tratados, e;
Minimizar, seu lançamento na rede de esgotos, em águas superficiais ou em fossas
sépticas.
Com estes cuidados, advirão os seguintes benefícios:
Minimização da descarga de efluentes nos corpos receptores;
Diminuição da carga de poluentes tóxicos na rede pública de esgotos;
Economia de água oriunda de fontes tradicionais.
Ainda segundo o autor, os principais problemas a serem enfrentados na implantação de
tecnologias para a reciclagem de água de lavagem de veículos são:
Área Ocupada: sua concepção deve ser a mais compacta possível, pois, provavelmente,
será instalado num local que já destinado para o tratamento dos efluentes, sem previsão de
espaço para a inclusão de outros equipamentos;
Geração de Odores: deve abranger a necessidade de controle de odores gerados pela
proliferação de microrganismos nas águas armazenadas para a reciclagem;
Geração de Lodo: a maioria dos sistemas de tratamento de efluentes gera resíduos sólidos e
estes deverão ter seu volume minimizado e disposição final adequada;
Custo de Implantação: deve ser o menor possível, de forma que possa ser competitivo com
o custo da água utilizada, recuperando o investimento em curto prazo;
Operação e Manutenção: a simplicidade, neste aspecto, é um fator limitante na escolha da
tecnologia. Sistemas mais complexos tornam-se inviáveis tanto economicamente, como
operacionalmente, pois exigem operadores capacitados, que torna muito oneroso para os
proprietários de postos de lavagem ou lava-rápidos;
Concentração de Sólidos Dissolvidos: à medida que a água recircula pelo sistema de
tratamento, alguns poluentes podem se concentrar, por não serem totalmente removidos no
tratamento;
Necessidade de Diluição: como há aumento na concentração de certos poluentes, como
dito anteriormente, a diluição se torna necessária para manter a qualidade necessária da
água a ser reciclada. Pode ser realizada com água potável ou água da chuva para tal
procedimento.
2.4. Local de Estudo
O local de estudo deste trabalho é um posto de lavagem de veículos e tapetes, localizado na
cidade de Lajeado/RS.
Neste posto são utilizados cerca de 20.000 L de água por dia, empregados principalmente na
lavagem de veículos. Toda água utilizada nas atividades do empreendimento é proveniente de
poço artesiano.
Os fluxogramas abaixo demonstram as atividades empregadas no processo da empresa.
Avaliação da viabilidade de reuso de efluentes para lavagem de veículos janeiro/2013
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Fonte: do autor
FIGURA 05 – Fluxogramas de processo operacional da empresa.
Atualmente o sistema de tratamento de efluentes é composto por uma caixa separadora de
lama, água e óleo, a qual é responsável por toda depuração das águas servidas geradas nos
processos de lavagem de veículos e tapetes.
2.5. Testes de viabilidade técnica
Para verificação da viabilidade técnica do reuso do efluente bruto gerado pela empresa
estudada, foram realizados testes de bancada com um aparelho denominado Jar Test, que
significa teste de jarro, sendo que o equipamento utilizado pode ser visualizado na figura 06.
O principio deste método consiste na aplicação de diferentes concentrações de produtos
químicos em diferentes jarros com efluente. É um teste de fácil aplicação que gera um ótimo
resultado, pois podemos estimar a dosagem e o consumo de produtos para o tratamento de
efluentes de maneira rápida e confiável.
Lavagem na
Rampa
Ensaboamento
Enxagüe
Secagem do
Veículo
Aspiração e
limpeza interna
Aplicação de
renovadores de
superfície
Veículo Limpo
Chegada
do Veículo
Lavagem com
água
Aplicação de
detergentes
Enxagüe
Secagem do
tapete
Tapete Limpo
Chegada
do Tapete
Avaliação da viabilidade de reuso de efluentes para lavagem de veículos janeiro/2013
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Fonte: do autor
FIGURA 06 - Jar Test em operação
Para realização dos testes foram utilizados, além do efluente, Cal hidratado [Ca(OH)2],
Sulfato de Alumínio [Al2(SO4)3] e um polieletrólito aniônico.
A solução de cal hidratada foi obtida através da dissolução de óxido de cálcio em água.
Utilizou-se uma concentração de 20% de Cal. A diluição do sal sulfato de alumínio foi na
proporção de 50% e o polieletrólito foi 0,5%.
Primeiramente verificou-se o pH, o qual foi ajustado para um valor em torno de 12 com a
solução de cal, após foi adicionado o sulfato de alumínio, e em seguida fui usado o
polieletrólito aniônico, visando a rápida formação de flocos com boas característica de
sedimentação.
2.5.1. Resultados Realizaram-se os testes de jarro buscando a melhor condição de sedimentação e clarificação
do efluente, com o uso racional de produtos químicos, procurando estabelecer uma relação
que contemplasse uma boa qualidade e aspecto do efluente tratado com a mínima utilização
de produtos no seu tratamento.
Além do elevado custo dos produtos químicos utilizados, também teve-se uma especial
atenção à quantidade de lodo formado no tratamento físico-químico, pois este, por sua vez,
pode causar impacto ambiental e também onera a empresa, que deve destiná-lo a um local
adequado.
As dosagens de produtos químicos utilizados são mostradas na tabela 2.
Avaliação da viabilidade de reuso de efluentes para lavagem de veículos janeiro/2013
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TESTE
Volume
da
amostra
pH
Inicial
Volume
de
Ca(OH)2
Volume de
Al2(SO4)3
Volume de
Polieletrólito pH Final
1 800 mL 7,12 8 mL 10 mL 5 mL 7,49
2 800 mL 7,12 4 mL 5 mL 2,5 mL 7,41
3 800 mL 7,12 3 mL 4 mL 2,0 mL 8,37
4 800 mL 7,12 2 mL 3 mL 2,0 mL 7,68
5 800 mL 7,12 1 mL 2 mL 2,0 mL 7,35
Fonte: do autor
TABELA 2 – Volume de reagentes empregados no Jar Test
2.5.1.1. Teste 01
Neste teste foi utilizada uma super dosagem de reagentes, esperando-se um efluente tratado
com o melhor aspecto e, possivelmente, melhor características químicas. No entanto, além do
excessivo volume de lodo formado (250 mL/L), o efluente sobrenadante apresentou-se com
uma elevada turbidez, como pode-se observar na figura 07, possivelmente causada por um
elevado teor de sólidos dissolvidos.
Portanto, devido ao elevado consumo de produtos químicos aliado com um resultado não
esperado, descartou-se a possibilidade de scale up deste teste.
Fonte: do autor
FIGURA 07 – Resultado do Teste 01
2.5.1.2. Teste 02
Para realização deste teste foi utilizada uma dosagem de reagentes mais realista, na qual já se
esperava encontrar resultados passiveis de aplicação no processo da empresa utilizada como
local de estudo.
Desta vez os resultados obtidos foram muito satisfatórios, e o efluente clarificado teve o
melhor aspecto dentre todos testes realizados, conforme pode ser visualizado na figura 08. O
Avaliação da viabilidade de reuso de efluentes para lavagem de veículos janeiro/2013
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volume de lodo teve um valor inferior ao obtido no teste 01 mais ainda apresentou-se elevado
(200 mL L-1
).
Apesar do efluente tratado, aparentemente, apresentar as características ideais para o reuso
sua utilização não é recomendada, devido a alguns fatores citados no item 2.3.
Fonte: do autor
FIGURA 08 – Resultado do Teste 02
2.5.1.3. Teste 03
Assim como no teste 02, esperava-se com o teste 03 obter resultados passíveis de aplicação
em maiores escalas.
Os resultados obtidos foram desastrosos, isto porque o efluente tratado apresentou uma
coloração cinza escuro, como o apresentado na figura 09, demonstrando que algo errado
ocorreu durante o teste. Após a verificação do pH, o qual apresentou um valor elevado em
relação aos outros testes, pode-se tentar encontrar as possíveis causas deste teste mal
sucedido:
Erro na dosagem dos produtos químicos, observada a alcalinidade do efluente
Utilização de produtos químicos mal homogeneizados ou dissolvidos, acarretando uma
possível variação em sua concentração.
Realização do teste com um efluente bruto de maior concentração de contaminantes,
provocada uma mistura ineficiente da amostra.
Má limpeza dos materiais utilizados, como vidrarias e pipetas, podendo estes conter
alguma(s) substância(s) interferente no teste.
Com a aparência do efluente sobrenadante pode-se deduzir que um, ou vários, contaminantes
não foram removidos, até mesmo porque o volume de lodo gerado apresentou o menor valore
obtido (110 mL/L).
Avaliação da viabilidade de reuso de efluentes para lavagem de veículos janeiro/2013
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Fonte: do autor
FIGURA 09 – Resultado do Teste 03
2.5.1.4. Teste 04
Assim como nos últimos dois testes realizados, a concentração de reagentes envolvidos foi
menor. Objetivava-se, com isto, resultados satisfatórios, passíveis de aplicação in loco.
A amostra em questão apresentou o resultado esperado, mesmo sendo este um pouco inferior
ao resultado do teste 02. O efluente clarificado apresentou um bom aspecto visual, tendo uma
coloração praticamente incolor, como observa-se na figura 10. O volume de lodo úmido
gerado ficou em 150 mL L-1
.
Mesmo com os bons resultados, optou-se pela escolha do teste 05, que será descrito a seguir.
Fonte: do autor
FIGURA 10 – Resultado do Teste 04
2.5.1.5. Teste 05
No quinto teste utilizou-se as menores concentrações de reagentes, esperando resultados
inferiores, para simples comparação com os teste 02, 03 e 04.
Avaliação da viabilidade de reuso de efluentes para lavagem de veículos janeiro/2013
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Para surpresa, o resultado obtido foi praticamente idêntico ao teste 04, como pode-se
visualizar na figura 11. O teste também gerou o menor volume de lodo (120 mL L-1
),
diminuindo possíveis custos com a destinação do mesmo.
Este resultado levou o teste 05 a ser escolhido como referencia em um possível scale up no
posto de lavagem estudado.
Fonte: do autor
FIGURA 11 – Resultado do Teste 05
No ensaio foi empregado em 800 mL de amostra 1 mL de solução de Cal, 2 mL de solução de
Sulfato de Alumínio e 2 mL de solução de polímero aniônico. Com estas concentrações tem-
se um custo de tratamento de aproximadamente R$ 1,88 m-3
(um real e setenta e cinco
centavos por metro cúbico). Para estes cálculos levou-se em consideração que o preço do kg
de Cal hidratado é de R$ 0,40, o custo do Sulfato de Alumínio é de R$ 1,30 e o valor de
Polieletrólito aniônico é de R$ 14,30 por kg. Para compreensão dos cálculos pode-se observar
a tabela 3.
Além disto, há também o custo de destinação do lodo, os 120 mL L-1
de material gerado
apresentam cerca de 96% de umidade, necessitando, assim, de uma secagem. Este
procedimento pode ser realizado através passagem deste por um filtro lento de areia, no qual a
água escoa entre os interstícios dos grãos e o lodo é depositado sobre o leito. O processo gera
um lodo com umidade final de cerca de 70%, justificando assim a necessidade da realização
do mesmo. O valor estimado para destinação deste resíduo é demonstrado na tabela 4.
Volume de
Efluente
Massa do
reagente
utilizada
Preço do kg
de reagente
Custo do
reagente no
tratamento
Cal Hidratado 1000 L 25 g 0,40 R$ 0,01
Sulfato de
Alumínio 1000 L 625 g 1,30 R$ 0,80
Polímero
aniônico 1000 L 3,4 g 14,30 R$ 0,05
Custo total dos reagentes para o tratamento de 1 m³ de efluente R$ 0,86 Fonte: do autor
Avaliação da viabilidade de reuso de efluentes para lavagem de veículos janeiro/2013
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TABELA 3 – Custo do tratamento de efluentes
Volume
de
Efluente
Lodo
gerad
o
Umidad
e
Inicial
Umidad
e final
Lodo
seco
Custo de
deposição
(m³ de lodo)
Custo de
destinação (m³
de tratamento)
1000 L 120 L 96% 70% 16,0 L R$ 64,00 R$ 1,02 Fonte: do autor
TABELA 4 – Custo de destinação do lodo gerado
O comparativo entre o aspecto visual do efluente bruto e o efluente tratado nos testes pode ser
observado na figura 12.
Fonte: do autor
FIGURA 12 – Efluente tratado e efluente bruto
3. Conclusão
A segregação dos efluentes gerados é dificultada devido às características do solo local, que
apresenta uma grande quantidade de rochas superficiais; e ainda, à disposição das unidades do
sistema (tubulações dificultam a separação dos efluentes gerados).
A lavagem de veículos resulta na formação de efluentes com características que levam a um
melhor desempenho do tratamento atual, visto que este apresenta uma quantidade de
contaminantes inferior aos efluentes da lavagem de tapetes. Para estes últimos é recomenda-
se tratamento e depuração em separado. O tratamento de efluentes atual é eficiente na
remoção parcial da maioria dos contaminantes, porém não atende as exigências dos órgãos
ambientais.
Com os testes realizados verificou-se que o reuso dos efluentes gerados na empresa estudada
é viável, sendo necessária a adequação do sistema atualmente utilizado, acrescentando neste,
um tratamento físico-químico e um sistema de filtração final, evitando o arraste de material
Avaliação da viabilidade de reuso de efluentes para lavagem de veículos janeiro/2013
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particulado.
Com a análise dos efluentes de reuso, admite-se a possível utilização do mesmo em todas as
etapas do processo de lavagem de veículos.
A adequação da caixa separadora existente e a instalação de um filtro de areia podem levar a
possibilidade de reuso do efluente na etapa de pré-lavagem, sem a necessidade de um
tratamento físico-químico, visto que esta etapa visa a remoção grosseira de sujidades e não
necessitando de águas de melhor qualidade.
Avaliação da viabilidade de reuso de efluentes para lavagem de veículos janeiro/2013
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Referências
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2005.
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Ecologic Clean Personal Car. Disponível em: < http://ecologiccleancar.goldenbiz.com.br>. Acesso em: 18 jun.
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Orientações para o setor industrial. São Paulo, 2006.
MACEDO, Jorge Antonio Barros de. Águas e águas. São Paulo: Varela, 2001-A.
MACEDO, Jorge Antonio Barros de. Águas e águas: métodos laboratoriais de analises físico-químicas e
microbiológicas. Juiz de Fora: Jorge Macedo, 2001-B.
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