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AVALIAÇÃO EXPERIMENTAL E NUMÉRICA DO COMPORTAMENTO TÉRMICO
DE COBERTURAS VERDES
M. GLÓRIA GOMES C. MATOS SILVA
Prof. Eng.ª Civil Prof. Eng.ª Civil
IST IST
Lisboa; Portugal Lisboa; Portugal
[email protected] [email protected]
A.S. VALADAS M. SILVA
Eng.ª Civil Eng.º Civil
IST IST
Lisboa; Portugal Lisboa; Portugal
[email protected] [email protected]
RESUMO
Atualmente, tem havido uma preocupação cada vez maior de tornar os edifícios mais sustentáveis e energeticamente
mais eficientes. Neste contexto, a utilização de soluções construtivas que minimizem as trocas de calor pela envolvente
têm vindo a ganhar representatividade. Um exemplo disso são as coberturas verdes que alteram o comportamento
energético dos edifícios. São ainda relativamente escassos os estudos sobre o comportamento térmico desta solução
construtiva, em particular no clima mediterrânico como é o caso de Portugal. No presente estudo avalia-se
experimentalmente o comportamento térmico de coberturas verdes em dois casos de estudo durante as estações de
inverno e verão, de modo a quantificar o efeito de alteração das temperaturas superficiais e fluxo de calor em soluções
de cobertura verde. O desempenho energético dos dois casos de estudo foi também estimado através de uma simulação
energética com o modelo de cobertura verde do programa EnergyPlus validada com os resultados das campanhas de
monitorização. Os resultados obtidos experimental e numericamente confirmam a capacidade das coberturas verdes em
amenizar as temperaturas superficiais e amortizar as flutuações térmicas ao longo da profundidade do solo.
1. INTRODUÇÃO
As coberturas verdes não podem ser consideradas propriamente como uma solução recente [1]. Os primeiros registos
aparecem nas antigas civilizações do rio Tigre e Eufrates, como é exemplo os conhecidos jardins suspensos da
Babilónia no século VII e VIII a.C.. Os Romanos também utilizaram este tipo de solução de cobertura nas suas
construções. Foram também encontrados alguns registos históricos de coberturas verdes nos séculos XIII, XIV e XV em
várias cidades de França e Itália, sobretudo em palácios e edifícios religiosos onde estas eram implementadas com o
objetivo de ornamentar os edifícios. Na Rússia, no século XVII foi instalado um jardim sobre a cobertura do palácio do
Kremlin, em Moscovo. Nesta altura, Czarista, os jardins nas coberturas eram considerados como uma caraterística de
ostentação de riqueza.
Foi apenas no século XX que as técnicas construtivas de coberturas planas foram desenvolvidas, e implementadas em
grande parte dos edifícios. Assim, tornou-se possível a colocação de maiores cargas nas coberturas, o que levou ao
desenvolvimento e expansão da tecnologia das coberturas verdes. Em meados do século XX muitos países já tinham
adotado esta solução principalmente na zona Norte da Europa: Alemanha, Suíça, Áustria e Escandinávia, devido ao
interesse crescente da qualidade do ambiente urbano [2, 3].
M.G.Gomes, C.M. Silva, A.S.Valadas, M.Silva, Avaliação experimental e numérica do comportamento térmico de
coberturas verdes
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O comportamento energético de uma cobertura verde depende de vários factores, nomeadamente do clima local e da
solução construtiva e de vegetação escolhida. Nos últimos anos, diversos trabalhos têm caracterizado este
comportamento em diferentes climas através de estudos de monitorização térmica e de simulação energética. Para
diferentes climas, vários estudos identificam a influência das características da vegetação (densidade da vegetação LAI ,
quantidade de água que consome, poder de crescimento, entre outros). Nos climas frios [4, 5, 6], tropical [7, 8] e
mediterrânico [9, 10], as propriedades do solo (teor de humidade, matéria constituinte) têm também influência no
comportamento térmico, nomeadamente por diminuírem consideravelmente as temperaturas superficiais exteriores no
verão através da evapotranspiração das plantas e por armazenarem grandes quantidades de calor no solo, amortizando as
flutuações térmicas, o que é favorável na estação de inverno. Deste modo, torna-se importante ter em atenção estes
fatores na análise dos casos experimentais, nomeadamente na avaliação dos registos de temperatura e dos fluxos de
calor pela cobertura.
Pretende-se assim aumentar o conhecimento do comportamento térmico de coberturas verdes em climas mediterrânicos,
como é o caso de Portugal, onde são ainda relativamente escassos os estudos do comportamento desta solução. O
presente estudo avalia, por via experimental e numérica, o comportamento real de dois casos de coberturas verdes
localizados em Lisboa, Portugal.
2. DESCRIÇÃO DOS CASOS DE ESTUDO
2.1 Fundação Calouste Gulbenkian
A Fundação Calouste Gulbenkian situa-se em Lisboa. É constituída pelo edifício da Sede, por um Museu, uma
Biblioteca de Arte, pelo Centro de Arte Moderna e por um Anfiteatro. Integra um parque com uma área de 7.5 hectares
projetado pelos arquitetos paisagistas António Vieira Barreto e Gonçalo Ribeiro Telles, responsáveis também pelos
projetos dos jardins interiores e dos terraços ajardinados, e construído entre 1963 e 1969. Foram selecionadas duas
coberturas verdes respetivamente sobre a Sala de Ensaios da Orquestra (Figura 1a) e sobre a Cabine de Som no Piso -1
do Edifício 7 (Figura 1b).
(a) (b) (c) (d)
Figura 1: Cobertura verde da Sala de Ensaios (a) e da Cabine de Som (b). Interior da Sala de Ensaios (c) e Cabine de
Som (d).
2.1.1 Sala de ensaios
A sala de ensaios da orquestra (Figura 1c) está localizada no 1º piso do edifício do Grande Auditório que é adjacente ao
edifício da Sede. A área útil da sala é de 181.5m2 e o seu pé-direito, até ao teto falso, é de 2.85m (em 24% da área útil) e
3.85m (em 76% da área útil), existindo depois uma caixa-de-ar respetivamente com 1.20m de altura na zona com menor
pé-direito e outra com 0.20m na restante zona.
A sala possui uma parede exterior, virada para Sudoeste, e três paredes interiores viradas a Noroeste, Nordeste e
Sudeste. A parede a Sudoeste é a única que está em contacto com o exterior e possui uma área de 66.4m2, sendo que
52% é de envidraçados (34.4m2), tornando-se um dos principais elementos responsáveis pelas trocas de calor na sala de
ensaios. Esta parede, constituída por betão armado e espessura de 0.60m, possui em todo o seu comprimento
envidraçados com espessura de 20mm distribuídos por nove janelas fixas com 2.10m de altura que se situam a 0.85m do
pavimento. Os caixilhos utilizados são de madeira e todas as janelas possuem estores venezianos metálicos interiores. O
sistema de climatização funciona das 08h00 às 18h00 com setpoint de 22ªC.
M.G.Gomes, C.M. Silva, A.S.Valadas, M.Silva, Avaliação experimental e numérica do comportamento térmico de
coberturas verdes
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As lajes de pavimento e cobertura da sala são em betão armado com respetivamente 0.25m e 0.20m de espessura. As
vigas à vista possuem largura de 0.40m e altura de 0.70m. Sobre a laje da cobertura existe a camada de forma em
serapilheira na qual assenta diretamente uma camada de brita com cerca de 0.10m de espessura, geotêxtil, solo com
cerca de 0.25m e coberto vegetal (relva) ou lajetas de pedra com 30mm de espessura. O teto falso tem chapas de
alumínio perfuradas revestidas com 30mm de lã-de-vidro (acústico) e uma caixa-de-ar de 0.20m. A rega na cobertura é
realizada de forma manual às 2ªfeiras, 4ªfeiras e 6ªfeiras, durante dois períodos de 30 minutos da parte da manhã.
A sala de ensaios foi sujeita a obras de remodelação durante os meses de Junho e Julho de 2013, coincidindo com o
período de monitorização de verão, tendo sido retirados alguns elementos, tal como os elementos de ocupação, os
revestimentos do pavimento, teto e alguns das paredes, elementos de iluminação, portas e uma das nove janelas.
2.1.2 Cabine de som
A cabine de som (Figura 1d) é um espaço interior adjacente a uma sala de conferências e a uma zona comum de
passagem. O espaço da cabine tem de 17.2m2 de área e liga à sala de conferências através de quatro janelas e à zona
comum de passagem através de uma porta.
As paredes são todas interiores sendo a parede a Noroeste em betão armado, espessura de 0.15m com um armário
embutido na parede. As restantes paredes são constituídas por alvenaria de tijolo (e=0.15m), 60mm de lã-de-rocha e por
MDF com 20mm de espessura. O pé-direito até ao teto falso de 2.20m e as lajes de betão armado têm espessura de
0.20m. O pavimento da cabine de som é em alcatifa enquanto o teto falso é constituído por lâminas metálicas e tem uma
caixa-de-ar com 1.30m/0.6m consoante esteja localizada sob a laje ou uma viga, respetivamente. As vigas têm 0.70m de
altura, 0.25m de largura e são espaçadas a cada 0.90m.
2.2 ETAR de Alcântara
A ETAR de Alcântara localiza-se em Lisboa e foi construída no final dos anos 80 do séc. XX tendo sido sujeita a obras
de remodelação em 2006. A cobertura verde dos edifícios da ETAR, projetada pelos arquitetos Aires Mateus e
Frederico Valsassina, foi instalada em 2010/2011. Tem uma área de 37184 m2 (3.7ha) e é composta por diversos
canteiros constituídos por 30 espécies de vegetação diferentes.
(a) (b)
Figura 3: Cobertura verde da ETAR de Alcântara e interior do Auditório.
No presente trabalho, monitorizou-se a cobertura do auditório e sala de apoio contígua, com área total de 98.31 m2
(Figura 3). O pé-direito da sala, desde o revestimento do pavimento até ao teto falso, é de 3.00m existindo acima do teto
falso e abaixo do revestimento do pavimento espaços de ar. O espaço de ar inferior é de 0.25m e possui por cima o
pavimento técnico em módulos de 0.60x0.60m com 50mm de espessura. O espaço de ar do teto falso tem uma altura
mínima de 1.23m e máxima de 2.45m (i=25%). A laje inferior e superior são em betão armado e as suas espessuras são
ambas de 0.20m. A sua envolvente térmica é interior com exceção da fachada envidraçada a Oeste e da cobertura verde.
Os envidraçados da fachada têm 4.00m de altura e 40mm de espessura (10+20+10), encontrando-se protegidos por
estores de lona opacos de cor branca. A climatização é realizada por um sistema que funciona durante os dias da semana
de trabalho entre as 07h00 e as 19h00 e possui o setpoint de 22ºC com folga de +/- 1ºC. No inverno, caso a temperatura
ambiente da sala seja inferior aos 22ºC o sistema de climatização é acionado, enquanto no verão, como as temperaturas
são geralmente superiores a 22ºC, só é acionado caso esse valor seja ultrapassado.
A cobertura é do tipo semi-intensivo e é constituída por diversas camadas colocadas acima da laje da cobertura,
totalizando cerca de 1.15m: tela de impermeabilização, tela anti-raiz, camada de drenagem na qual se utilizou geoleca
M.G.Gomes, C.M. Silva, A.S.Valadas, M.Silva, Avaliação experimental e numérica do comportamento térmico de
coberturas verdes
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(espessura entre 0.25m e 0.50m), geotêxtil, camada de solo com cerca de 0.65m e, por fim, o coberto vegetal. Por cima
da sala de apoio do auditório existem duas zonas com tipos de vegetação diferentes: Calluna Vulgaris e Juniperus
horizontalis. Durante a campanha de inverno, a espécie Calluna Vulgaris não se encontrava desenvolvida. A rega da
cobertura é realizada de forma distinta na estação de inverno e de verão: no inverno é aproveitada a água da chuva para
a rega; no verão a rega é efetuada com a própria água da ETAR após ter sido tratada.
3. PROCEDIMENTO EXPERIMENTAL
Para avaliar o comportamento térmico das coberturas verdes foram medidas nos dois casos de estudos as seguintes
grandezas físicas: i) temperaturas e humidade relativa ambiente interior e exterior; ii) temperaturas superficiais
interiores e exteriores ii) fluxos de calor; iii) radiação solar em plano horizontal e vertical. Para isso, recorreu-se a
termopares tipo T, fluxímetros (Hukseflux HFP01), termohigrómetros (TGP4500 Tinytag e Rotronic) e piranómetros
LI-COR LI-200SA, conectados a sistemas de aquisição de dados Campbell, Delta T e DataTaker. Todas as medições
foram efetuadas com intervalos de 1 minuto, registando-se o seu valor médio a cada 10 minutos. Em todos os casos de
estudo, foram realizadas duas campanhas experimentais durante o ano de 2013, uma de inverno e outra de verão. As
medições incluem zonas da cobertura com diferentes tipos de vegetação e sem vegetação de modo a aferir
comportamentos térmicos distintos. A Figura 4 mostra a localização dos diferentes sensores na Sala de Ensaios e
Cabine de Som (Gulbenkian) e no Auditório da ETAR.
(a) (b) (c)
Figura 4: Cortes com localização dos sensores na Gulbenkian ( a) sala de ensaios b) cabine de som) e ETAR (c)
auditório).
4. RESULTADOS EXPERIMENTAIS, SIMULAÇÃO ENERGÉTICA E VALIDAÇÃO
As Figuras 5 e 6 apresentam os perfis de temperatura na zona verde e na zona da lajeta da cobertura da sala de ensaios e
da cabine de som, respetivamente. Refira-se que na campanha experimental de verão, a sala de ensaios não se
encontrava climatizada e tinha um vão envidraçado permanentemente aberto por se encontrar em obras. Pela evolução
dos perfis verticais de temperatura foi possível concluir que, ao longo das diversas camadas, as flutuações térmicas
diárias foram amortizadas e que as temperaturas do solo aumentaram em profundidade no inverno e diminuíram no
verão, o que demonstra a elevada resistência e inércia térmica da cobertura verde. Esta vantagem foi verificada nos
climas frios, por Liu [4] e Sailor et al. [6], nos climas tropicais, por Wong et al. [7] e He e Jim [8] e no clima
mediterrâneo por Sfakianaki et al. [9] e por Ouldboukhitine et al. [10].
Na estação de aquecimento (Figuras 5a-5d e Figura 6a e 6b), verifica-se em ambas as salas da Gulbenkian que as
temperaturas superficiais exteriores em zonas de cobertura verde e em zonas de lajeta são da mesma ordem de grandeza
ao longo do dia. A zona vigada da laje apresenta em geral temperaturas superficiais interiores mais elevadas pelo
aumento da resistência térmica desta solução face à solução de laje com menor espessura de betão.
Na estação de arrefecimento (Figuras 5e e 5f), a absorção solar da lajeta e o efeito de sombreamento e
evapotranspiração da zona verde conduzem a maiores temperaturas superficiais na zona da lajeta, em particular nas
horas de maior radiação solar. Estes fenómenos explicam também as maiores amplitudes térmicas diárias obtidas na
superfície exterior da lajeta face às da zona verde. Na cabine de som (Figuras 6c e 6d), as temperaturas ambiente e
superficiais interiores são mais baixas do que na sala de ensaios, pelo facto de neste período a cabine de som estar
climatizada e a sala de ensaios não. A zona vigada da cobertura da cabine de som apresenta maior resistência térmica, o
que se traduz em maiores temperaturas superficiais interiores quando comparadas com a zona de laje da mesma
cobertura.
M.G.Gomes, C.M. Silva, A.S.Valadas, M.Silva, Avaliação experimental e numérica do comportamento térmico de
coberturas verdes
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(a) (b) (c) (d)
(e) (f) (g) (h)
Figura 5: Evolução dos perfis verticais de temperaturas na sala de ensaios da Gulbenkian durante o DF+/DRS+ – 28 de
Janeiro de 2013: (a) Laje - zona verde; (b) Laje – lajeta; (c) Viga – zona verde; (d) Viga – lajeta e o DQ+ – 7 de Julho
de 2013: (e) Laje – zona verde; (f) Laje – lajeta; (g) Viga – zona verde; (h) Viga – lajeta.
(a). (b). (c). (d).
Figura 6: Evolução dos perfis verticais de temperaturas na cabine de som da Gulbenkian durante o DF+/DRS+ – 28 de
Janeiro de 2013: (a) laje; (b) viga e DQ+ – 7 de Julho de 2013: (c) laje; (d) viga.
A Figura 7 mostra a evolução das diferenças de temperaturas superficiais interiores (Tsi) e exteriores (Tse) com e sem
vegetação (c/ veg e s/ veg) na cobertura verde da ETAR de Alcântara durante o dia mais frio DF+, o dia de maior
radiação DRS+ e o dia de menor radiação DRS- da campanha de inverno. A situação sem vegetação corresponde à zona
com a espécie Calluna Vulgaris que não se encontrava desenvolvida durante a campanha de inverno. Por forma a
avaliar a influência da radiação, apresenta-se também na Figura 7 os valores de radiação solar incidente em plano
horizontal ao longo desses dias. Nos dias de inverno com radiação solar incidente relevante (DRS+ e DF+), verifica-se
Ambiente Exterior
Solo
Laje / Viga
Teto Falso
Ambiente Interior
T [ºC]
I
N
V
E
R
N
O
Ambiente Exterior
Solo
Laje / Viga
Teto Falso
Ambiente Interior
T [ºC]
Ambiente Exterior
Solo
Laje / Viga
Teto Falso
Ambiente Interior
T [ºC]
V
E
R
Ã
O
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coberturas verdes
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que a influência da vegetação é notória no valor das temperaturas superficiais interiores e exteriores. Quando a radiação
incidente é menor, nomeadamente em dias de céu encoberto (DRS-), os valores das temperaturas na zona com e sem
vegetação são muito semelhantes.
Figura 7: Evolução da radiação solar em plano horizontal (RS B2) e das diferenças de temperaturas superficiais
interiores (Tsi) e exteriores (Tse) com e sem vegetação (c/ veg e s/ veg) na cobertura verde da ETAR de Alcântara
durante os dias DF+ (27 Fevereiro de 2013), DRS+ (4 de Março de 2013) e DRS- (4 de Março de 2013).
As simulações energéticas foram realizadas com o programa EnergyPlus que já tem implementado um modelo de
cobertura verde Sailor [5]. A Figura 8 mostra os modelos geométricos realizados no Google SketchUp para cada um dos
casos de estudo cuja envolvente foi caracterizada termicamente de acordo com as soluções construtivas reais descritas
na Secção 2. Em particular, a Tabela 1 apresenta as características das coberturas verdes da Gulbenkian e da ETAR
adotadas no modelo de simulação. Uma descrição mais detalhada do modelo de simulação destas coberturas pode ser
encontrada em [11]. Houve o cuidado de se introduzir no ficheiro climático os dados de temperatura exterior e radiação
solar medidos experimentalmente nos períodos das campanhas experimentais.
(a) (b) (c)
Figura 8: Modelos geométricos das salas da Gulbenkian ( a) sala de ensaios b) cabine de som) e c) do auditório da
ETAR.
Tabela 1: Características da cobertura verde da Gulbenkian e da ETAR. Características da cobertura verde Gulbenkian ETAR
Planta
Altura das Plantas (m) 0,1 0,4
LAI (Índice de área de folhas) 2 4
Refletividade da folha 0,25 0,25
Emissividade da folha 0,95 0,95
Mínima Resistência Estomática (s/m) 180 180
Solo
Rugosidade Rugoso Rugoso
Espessura (m) 0,25 0,65
Condutibilidade do solo seco (W/(m.ºC)) 1 1
Massa volúmica do solo seco (kg/m3) 1500 1500
Calor especifico do solo seco (J/(kg.ºC)) 1900 1900
Absorptância térmica 0,9 0,9
Absorptância Solar 0,8 0,8
Absorptância Visível 0,8 0,8
Teor de humidade de saturação 0,3 0,3
Teor de humidade residual 0,01 0,01
Teor de humidade inicial 0,1 0,1
Método de cálculo da difusão da humidade Avançado Avançado
Rad [W/m2] T [ºC]
Hora
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coberturas verdes
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A Figura 9 apresenta, a título de exemplo, a comparação entre os resultados de temperaturas superficiais e ambiente e
fluxos de calor obtidos experimentalmente e pelo modelo de simulação durante a estação de inverno e de verão na
ETAR. Verifica-se que as temperaturas do ambiente e superficiais interiores assim como as temperaturas superficiais do
solo obtidas por simulação energética seguem a mesma tendência das registadas experimentalmente. É visível alguma
discrepância nas temperaturas superficiais do solo na estação de arrefecimento e nas horas de maior radiação solar, o
que poderá ser explicado pelos altos valores de LAI considerados na simulação que se traduzem num aumento do efeito
de sombreamento mais notório em períodos de radiação incidente mais elevada.
Os fluxos de calor obtidos experimentalmente e numericamente apresentam o mesmo andamento, sendo contudo visível
alguma discrepância nos valores de pico, nomeadamente nos dias de fim-de-semana da estação de arrefecimento, nos
quais o sistema de climatização não está ativo.
A comparação entre os valores de simulação (sim.) e obtidos experimentalmente (exp.) pode também ser realizada com
base nos parâmetros MBE (mean bias error), que se refere à média das diferenças entre os valores de simulação e
experimentais, e RMSE (root-mean-quare error) que representa o desvio médio dos valores de simulação relativamente
aos experimentais [5, 10, 12].
e
(1)
(a) (b)
Figura 9: Comparação entre os parâmetros medidos experimentalmente e os resultados da simulação do auditório da
ETAR nas campanhas de a) inverno (26 de Fevereiro a 18 de Março de 2013) e de verão (8 de Junho a 2 de Julho de
2013).
Na Tabela 2 apresentam-se os valores de MBE e RMSE da temperatura superficial exterior do solo obtidos nas
simulações efetuadas. Conclui-se que os resultados obtidos nas simulações dos casos estudados são coerentes com os
resultados de Ouldboukhitine, Belarbi e Sailor [10] e Sailor [5], obtendo-se valores de MBE inferiores aos destes autores
e valores de RMSE da mesma ordem de grandeza.
Tabela 2: Comparação dos valores de MBE e RMSE da temperatura superficial do solo obtidos nas simulações com
valores de outros estudos.
Parâmetro Ouldboukhitine, Belarbi e Sailor [10] Sailor [5] Sala de ensaios Sala de reuniões
MBE RMSE MBE RMSE MBE RMSE MBE RMSE
Tse, solo (ºC) 1 - 2,9 4,1 0,66 3,49 0,51 4,1
M.G.Gomes, C.M. Silva, A.S.Valadas, M.Silva, Avaliação experimental e numérica do comportamento térmico de
coberturas verdes
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5. CONCLUSÕES
Neste trabalho apresentaram-se os resultados experimentais de campanhas de monitorização de inverno e de verão em
três casos de estudo com coberturas verdes existentes em Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian (cabine de som e sala
de ensaios) e ETAR de Alcântara (auditório). Os resultados evidenciam a capacidade das coberturas verdes em
amortizar as variações de temperatura devido à elevada resistência e inércia térmica do solo
Os casos de estudo permitiram ainda avaliar o efeito de sombreamento da vegetação, em particular na estação de
inverno da ETAR onde existiam zonas com e sem vegetação e comparar a situação de cobertura verde com uma solução
de lajeta aplicada sob o solo, nomeadamente na sala de ensaios da Gulbenkian. Os resultados obtidos mostraram que o
efeito de sombreamento e evapotranspiração da vegetação tem uma grande influência nas temperaturas superficiais
exteriores e nas suas amplitudes térmicas diárias.
Foram ainda realizadas simulações energéticas no programa EnergyPlus que permite simular edifícios com soluções de
cobertura verde. Os resultados simulados foram próximos dos resultados medidos experimentalmente em termos de
temperaturas e fluxos de calor, o que se traduziu também em valores reduzidos de MBE e RMSE. Esta validação
experimental do modelo numérico mostrou-se fundamental para o desenvolvimento de outros estudos tal como o
trabalho [13].
6. AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem a colaboração da Fundação Calouste Gulbenkian e da ETAR de Alcântara durante o
desenvolvimento deste trabalho.
7. REFERÊNCIAS
[1] Peck, S. W.; Callaghan, C.; Kuhn, M. E. (1999). Greenbacks from Green Roofs: Forging a New Industry in Canada,
Canada Mortgage and Housing Corporation, Canada.
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Guideline. Edition 2008.
[3] Design for London (2008) – Living Roofs and Walls-Technical Report: Supporting London Plan Policy, Design for
London, Greater London Authority and London Climate Change Partnership, Londres, Reino Unido.
[4] Liu, K. (2004) – Engineering performance of Rooftop Gardens through field evaluation, National Research Council,
Institute for Research in Construction, Ontario, Canada.
[5] Sailor, D.J. (2008).- A green roof model for building energy simulation programs. Energy and Buildings, 40, 1466-
1478.
[6] Sailor, D.; Elley, T.; Gibson, M. (2011) – Exploring the building energy impacts of green roof design decisions – a
modeling study of buildings in four distinct climates, Journal of Building Physics.
[7] Wong, N.; Chen, Y.; Ong, C.; Sia, A. (2003) – Investigation of thermal benefits of rooftop garden in the tropical
environment, Building and Environment, 38: 261-270.
[8] He, H.M., Jim, C.Y. (2010) – Simulation of thermodynamic transmission in green roof ecosystem. Ecological
Modelling (Elsevier Science, Amsterdam) 221: 2949– 2958. [13] Feng et al., (2010)
[9] Sfakiannaki, A.; Pagalou, E.; Pavlou, K.; Santamouris, M. (2009) – Theoretical and experimental analysis of the
thermal behaviour of a green roof system installed in two residential buildings in Athens, Greece, International
Journal of Energy Research, 33:1059-1069.
[10] Ouldboukhitine, S.; Belarbi, R; Sailor, D. (2014) – Experimental and numerical investigation of urban street
canyons to evaluate the impact of green roof inside and outside buildings, Applied Energy, 114: 273-282
[11] Silva, M. (2014). Simulação energética de coberturas verdes. MSc. Thesis, Instituto Superior Técnico,
Universidade de Lisboa, Lisboa, Portugal.
[12] Chan, A.L.S.; Chow, T.T. (2013) – Energy and economic performance of green roof system under future climatic
conditions in Hong Kong, Energy and Buildings, Vol. 64, p. 182-198.
[13] Silva, C.M.; Gomes, M.G..; Silva, M. (2015) Desempenho energético de diferentes tipos de coberturas verdes em
Portugal. CONPAT 2015, 8-10 Setembro, Lisboa, Portugal.