AVALIAÇÃO MICROBIOLÓGICA NA ÁREA DE TRABALHO … · reduzido consideravelmente com medidas...

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__________________________________________________________________________________________ Projeto de Aperfeiçoamento Teórico e Prático – Getúlio Vargas – RS – Brasil 1 INSTITUTO DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL DO ALTO URUGUAI FACULDADES IDEAU AVALIAÇÃO MICROBIOLÓGICA NA ÁREA DE TRABALHO ODONTOLÓGICA: BACTÉRIAS NAS LINHAS DE ÁGUA GIACHINI, Fernanda Paula 1 e-mail: [email protected] MARTELLI, Marieli 1 e-mail: [email protected] SOUZA, Bruna Tamires de 1 e-mail: [email protected] TELÓ, Mônica 1 e-mail: [email protected] VANELLI, Tainete Fátima 1 e-mail: [email protected] BLUM, Davi F.C. 2 e-mail: [email protected] BORGHETTI, Vanessa Isabela 2 e-mail: [email protected] MELLO, Márcia Regina de 2 e-mail: [email protected] NOGUEIRA, Audrea Dallazem 2 e-mail: [email protected] SASS, Alex Luis 2 e-mail: [email protected] ¹ Discentes do Curso de Odontologia, Nível IV 2016/2- Faculdade IDEAU – Getúlio Vargas/RS. ² Docentes do Curso de Odontologia, Nível IV 2016/2 - Faculdade IDEAU – Getúlio Vargas/RS. RESUMO: As linhas de água dos equipos odontológicos são utilizadas diariamente pelos profissionais da área, sendo de extrema importância um correto manejo quanto à biossegurança das mesmas. A utilização dessas águas contaminadas podem apresentar riscos para os pacientes e profissionais. Apesar de não existir nenhuma linha de água totalmente livre da contaminação microbiana, alguns requisitos mínimos devem ser seguidos para diminuir essa proliferação. Para tanto este artigo trás informações sobre o que são as linhas de água, como ocorrem as contaminações, bactérias que podem ser encontradas e como deve ser feita a limpeza das mesmas. O objetivo específico deste trabalho foi analisar as linhas de água da clínica integrada da Faculdade IDEAU no município de Getúlio Vargas, observando a presença bacteriana. Foram realizadas três coletas distintas, cada coleta com três amostras diferentes, e encaminhas ao laboratório, onde foi realizada a semeadura em placas de Petri, incubadas por 48 horas e havendo crescimento de bactérias na maioria das plaquinhas, foi realizada a coloração de Gram, onde observou-se bactérias gram-negativas em forma de cocos, e bactérias gram-positivas como Estreptococos. Discutiu-se estes resultados com estudos de outros autores, salientando a importância do cuidado que o cirurgião-dentista deve ter com a desinfecção e limpeza das linhas de água, evitando assim a contaminação cruzada. Palavras chave: Linhas de água, contaminação, bactérias, biossegurança. ABSTRACT: The water lines of the dental teams are used daily by the professionals of the area, being of extreme importance a correct management as to the biosafety of the same ones. The use of such contaminated water may present risks to patients and professionals. Although there is no water line totally free of microbial contamination, some minimum requirements must be followed to minimize this proliferation. For this, this article provides information about what the water lines are, how the contaminations occur, the bacteria that can be found and how to clean them. The specific objective of this work was to analyze the water lines of the integrated clinic of the Faculty IDEAU in the municipality of Getúlio Vargas, observing the bacterial presence.

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AVALIAÇÃO MICROBIOLÓGICA NA ÁREA DE TRABALHO

ODONTOLÓGICA: BACTÉRIAS NAS LINHAS DE ÁGUA

GIACHINI, Fernanda Paula1

e-mail: [email protected] MARTELLI, Marieli1

e-mail: [email protected] SOUZA, Bruna Tamires de1

e-mail: [email protected] TELÓ, Mônica1

e-mail: [email protected] VANELLI, Tainete Fátima1

e-mail: [email protected] BLUM, Davi F.C.2

e-mail: [email protected] BORGHETTI, Vanessa Isabela2

e-mail: [email protected] MELLO, Márcia Regina de2

e-mail: [email protected] NOGUEIRA, Audrea Dallazem2

e-mail: [email protected]

SASS, Alex Luis2 e-mail: [email protected]

¹ Discentes do Curso de Odontologia, Nível IV 2016/2- Faculdade IDEAU – Getúlio Vargas/RS. ² Docentes do Curso de Odontologia, Nível IV 2016/2 - Faculdade IDEAU – Getúlio Vargas/RS.

RESUMO: As linhas de água dos equipos odontológicos são utilizadas diariamente pelos profissionais da área, sendo de extrema importância um correto manejo quanto à biossegurança das mesmas. A utilização dessas águas contaminadas podem apresentar riscos para os pacientes e profissionais. Apesar de não existir nenhuma linha de água totalmente livre da contaminação microbiana, alguns requisitos mínimos devem ser seguidos para diminuir essa proliferação. Para tanto este artigo trás informações sobre o que são as linhas de água, como ocorrem as contaminações, bactérias que podem ser encontradas e como deve ser feita a limpeza das mesmas. O objetivo específico deste trabalho foi analisar as linhas de água da clínica integrada da Faculdade IDEAU no município de Getúlio Vargas, observando a presença bacteriana. Foram realizadas três coletas distintas, cada coleta com três amostras diferentes, e encaminhas ao laboratório, onde foi realizada a semeadura em placas de Petri, incubadas por 48 horas e havendo crescimento de bactérias na maioria das plaquinhas, foi realizada a coloração de Gram, onde observou-se bactérias gram-negativas em forma de cocos, e bactérias gram-positivas como Estreptococos. Discutiu-se estes resultados com estudos de outros autores, salientando a importância do cuidado que o cirurgião-dentista deve ter com a desinfecção e limpeza das linhas de água, evitando assim a contaminação cruzada.

Palavras chave: Linhas de água, contaminação, bactérias, biossegurança. ABSTRACT: The water lines of the dental teams are used daily by the professionals of the area, being of extreme importance a correct management as to the biosafety of the same ones. The use of such contaminated water may present risks to patients and professionals. Although there is no water line totally free of microbial contamination, some minimum requirements must be followed to minimize this proliferation. For this, this article provides information about what the water lines are, how the contaminations occur, the bacteria that can be found and how to clean them. The specific objective of this work was to analyze the water lines of the integrated clinic of the Faculty IDEAU in the municipality of Getúlio Vargas, observing the bacterial presence.

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Three different samples were collected, each with three different samples, and sent to the laboratory, where sowing was carried out in Petri dishes, incubated for 48 hours and bacterial growth occurred in most of the plaques. Gram-negative bacteria in the form of cocci, and gram-positive bacteria such as Streptococcus. We have discussed these results with studies of other authors, emphasizing the importance of the care that the dental surgeon must have with the disinfection and cleaning of the water lines, thus avoiding cross-contamination. Key words: Water lines, contamination, bacteria, biosafety.

1 INTRODUÇÃO

Na prática odontológica o controle da contaminação é de grande importância em

procedimentos rotineiros. Segundo Ito et al. (1998), o risco de contaminação cruzada pode ser

reduzido consideravelmente com medidas profiláticas simples como o uso de barreiras,

antissepsia, desinfecção e esterilização.

Blake (1963), um cirurgião-dentista no Reino Unido, foi o primeiro a descrever a

existência de elevados níveis de bactérias nas linhas de água dos equipos odontológicos.

Ainda continuam-se estudando as linhas de água como um foco de transmissão de patógenos

potencialmente prejudiciais aos humanos, tais como Pseudomonas, Legionella e alguns

exemplares de Mycobacterium (WILLIAMS et al., 1993).

Sendo assim, este trabalho busca analisar o nível de contaminação dos reservatórios

presentes nas cadeiras odontológicas da clínica da Faculdade IDEAU, realizado a partir da

coleta de amostras em nove cadeiras distintas durante o atendimento de pacientes em três

momentos diferentes durante três semanas, as amostras foram incubadas por 48 horas e

analisadas em microscópios, com o intuito de verificar um possível crescimento de bactérias

nas garrafas das cadeiras odontológicas.

2 DESENVOLVIMENTO

Tendo em vista o tema proposto, realizou-se uma revisão bibliográfica que aborde o

que é biossegurança, as áreas de trabalho no consultório odontológico, o que são as linhas de

água, como ocorrem as contaminações, quais bactérias podem ser encontradas e como deve

ser feita a limpeza das mesmas, além de um protocolo a ser seguido.

2.1 O que é biossegurança

A biossegurança em Odontologia compreende o conjunto de medidas empregadas com

a finalidade de proteger a equipe e os pacientes em ambiente clínico. Essas medidas

preventivas abrangem práticas ergonômicas no desenvolvimento do exercício da profissão,

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controle dos riscos físicos e químicos e princípios de controle da infecção (COSTA et al.,

2008).

Carvalho et al. (2008) descreve: “Que o caráter multidisciplinar da biossegurança deve

ser entendido como um campo de estudos que vai além do ambiente de trabalho, interagindo

diretamente com a ciência da natureza”. O autor acredita que a inserção da biossegurança no

ensino permite o relacionamento da mesma tanto em ambiente escolar como em situações

vividas fora.

Costa et al. (2008), explica que a biossegurança em Odontologia é um o conjunto de

medidas empregadas com a finalidade de proteger a equipe e os pacientes em ambiente

clínico. Essas medidas preventivas abrangem práticas ergonômicas no desenvolvimento do

exercício da profissão, controle dos riscos físicos e químicos e princípios de controle da

infecção.

A Odontologia moderna tem dado grande destaque ao desenvolvimento de normas

mais detalhadas, com a intenção de evitar a propagação de infecções nos consultórios. Dentre

os meios de transmissão de infecção, um dos pontos mais críticos é a infecção cruzada que é a

passagem de agente etiológico de doença, de um indivíduo para outro susceptível. No

consultório odontológico, são quatro as vias possíveis de infecção cruzada: do paciente para o

profissional, do profissional para os pacientes, de paciente para paciente através do

profissional e de paciente para paciente por intermédio de agentes como instrumentos,

equipamentos e pisos, que pode ser desencadeada através das linhas de água que são

utilizadas para refrigeração dos equipamentos odontológicos (OLIVEIRA, 2010).

2.2 Critérios de Spaulding

O Ministério da Saúde em Manual de Controle de Infecção Hospitalar (BRASIL,

2006), recomendou a classificação de Spaulding para objetos inanimados, conforme o risco

potencial de transmissão de infecção que se apresentam. Esta classificação tem sido utilizada

rotineiramente também na Odontologia, já que no consultório odontológico o contato entre o

instrumental e o paciente é constante. Nesta classificação os materiais são considerados como

artigos críticos, semi críticos e não críticos.

Artigos críticos são aqueles que penetram nos tecidos subepiteliais da pele e mucosa,

sistema vascular ou outros órgãos isentos de microbiota própria, como por exemplo, os

instrumentos de corte ou ponta, outros artigos cirúrgicos (pinças, afastadores, fios de sutura,

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cateteres e drenos). Artigos semi críticos são todos aqueles que entram em contato com a

mucosa íntegra e/ou pele não íntegra, como por exemplo, o material para exame clínico (pinça

sonda e espelho), condensadores, moldeiras e porta-grampos. E artigos não críticos são todos

aqueles que entram em contato com a pele íntegra ou não entram em contato direto com o

paciente como termômetro, equipo odontológico, superfícies de armários e bancadas e

aparelho de raios X (BRASIL, 2006).

2.3 Linhas de água

Após a água entrar no equipo odontológico, passa através de uma caixa de controle

multicanal que distribui a água para as mangueiras que abastecem vários acessórios, como a

peça de mão de alta velocidade, a seringa tríplice e o aparelho de ultrassom. As linhas

apresentam orifícios muito pequenos e, portanto as bactérias tendem a formar biofilmes sobre

as superfícies internas, a menos que sejam regularmente limpos e desinfetados (FREITAS,

2010).

A legislação tem apresentado orientações para os limites máximos de bactérias e

consequentemente, a qualidade dos recursos hídricos das linhas de água dos equipos

odontológicos. Geralmente, a água que entra no encanamento dos equipos odontológicos

contém poucos organismos: 0-100 unidades formadoras de colônias / ml, no entanto, a água

que sai da peça de mão pode conter até 100.000 unidades formadoras de colônias,

principalmente por que os biofilmes crescem dentro dos encanamentos. As orientações da

American Dental Association são de que a água fornecida aos pacientes a partir de linhas de

água dos equipos durante procedimentos odontológicos não cirúrgicos não deve conter mais

de 200 Unidades Formadoras de Colônias de bactérias aeróbias, mesófilas, heterotróficas em

qualquer ponto por mililitro. Também prevê que no futuro, todas as unidades odontológicas

deverão conter um reservatório de água separado, permitindo que os dentistas tenham melhor

controle sobre a qualidade de água utilizada no tratamento do paciente (SAMARANAYAKE,

2012).

2.3.1 Como ocorre a contaminação

No consultório odontológico durante os procedimentos clínicos, vários micro-

organismos da cavidade oral são aspirados e depositados dentro das tubulações, podendo

tornar-se colonizadas por bactérias, fungos e protozoários. Estes sistemas provêm um

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ambiente extremamente favorável para a formação de um biofilme nas superfícies internas

das tubulações de água e, consequentemente, possibilita a infecção cruzada. Esta infecção

pode ser controlada pela adoção de alguns métodos de desinfecção e esterilização. Até o

momento, nenhuma tecnologia está disponível para remover completamente os biofilmes

aderidos. Entretanto, a técnica para prevenir a formação seria minimizar a contaminação das

tubulações as quais são recomendadas pela literatura, entre elas: o acionamento de peças de

mão entre atendimentos de pacientes, por alguns segundos, o acionamento da tubulação por

vários minutos no início e final do dia, e por alguns segundos entre pacientes, utilização de

sistemas de tratamento químico para prevenção do biofilme nas tubulações. Um dos agentes

desinfetantes mais utilizados para minimizar a formação do biofilme das tubulações é o

hipoclorito de sódio (NaOCl), sendo no Brasil, o principal componente do sistema de

descontaminação por cloração (sistema Flush – DABI), na concentração de 500 ppm e o

sistema Assepto Sys da KAVO (LEITE et al., 2005).

2.3.2 Como deve ser feita a limpeza

A qualidade da água é originada por fatores físicos, químicos e biológicos. A água de

boa qualidade nos serviços odontológicos é o mínimo necessário para que se possa atender os

princípios de assepsia e controlar as infecções cruzadas. Estudos que avaliaram a

possibilidade do material orgânico, como saliva, sangue, bactérias, entre outros, que entram e

saem das peças de mão durante os procedimentos odontológicos, confirmaram que estes

podem migrar e sobreviver dentro da água da refrigeração dos instrumentos rotatórios, em

função do refluxo das turbinas e micro motores, causando infecções cruzadas passando esta

matéria orgânica de um paciente para o outro (FERREIRA, 2009).

Em procedimentos cirúrgicos existe a necessidade de garantir a qualidade da água

utilizada. Esses tratamentos diminuem o número de bactérias, mas não destroem o biofilme.

Tanto a Associação Dentária Americana (ADA) quanto o Centro de Controle e Prevenção de

Doença (CDC) afirmaram que “as estratégias de acionamento e liberação de água no início do

dia e nos intervalos entre pacientes não controlam a formação do biofilme ou reduzem sua

aderência na tubulação”. Sendo assim, algumas táticas para garantir qualidade na água dos

equipamentos odontológicos são a utilização de reservatório de água independente da rede de

abastecimento, manutenção a seco durante a noite e finais de semana, drenagem diária,

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desinfecção química das linhas de água, filtros de água nas linhas e peças de mão

esterilizáveis com válvulas anti-refluxo (BRASIL, 2006).

O biofilme é formado por micro-organismos, como bactérias, fungos e protozoários,

que colonizam e se replicam sobre a superfície interna das tubulações de água. Este biofilme

funciona como reservatório, aumentando o número de micro-organismos existentes nas linhas

de água, que podem causar infecções cruzadas e doenças aos pacientes (SANTANA, 2001).

Os equipamentos odontológicos apresentam dois reservatórios que funcionam em

paralelo. Para o sistema de desinfecção das tubulações da refrigeração dos instrumentos

rotatórios, deve-se adicionar no primeiro frasco 0,3 ml de hipoclorito de sódio a 1% em 500

ml de água, para assegurar a cloração. No segundo frasco, destinado à assepsia da tubulação,

deve-se adicionar 25 ml de hipoclorito de sódio a 1% em 475 ml de água. O acionamento

deve ser imediato, logo após a conclusão de cada atendimento, bem como o esgotamento do

sistema ao final do dia. Os frascos transparentes com as soluções cloradas devem ser trocados

diariamente (WATANABE et al., 2006).

2.3.3 Protocolo de limpeza das linhas de água

No final de todo expediente de trabalho o Cirurgião-Dentista deve drenar

completamente a água que sobrou nas linhas de água (seringas tríplices e alta rotação) e

deixar todos os reservatórios sem água (vazios) para diminuir a multiplicação microbiana e a

formação de biofilme. No início de todo expediente de trabalho ele deve preencher os

reservatórios com água de boa qualidade com menos de 500 UFC/ml segundo essa referência.

De preferência com água destilada e não tocar o gargalo das garrafas (reservatórios) com as

mãos ou a boca para evitar a contaminação. Devem-se seguir as recomendações do fabricante

do equipo para o tratamento químico das linhas de água (ele deve apresentar soluções para

esse problema). Como por exemplo, o sistema de Assepsia Flush da Dabi-Atlante (flush de

água clorada a 1:500) (WATANABE et al., 2006).

Realizar drenagem (flush) de água nas seringas tríplices e alta rotação antes do início

do expediente, depois e entre o atendimento dos pacientes por no mínimo 20 a 30 segundos.

Embora o flush não remova o biofilme formado nas linhas de água dos equipos, ele pode

reduzir temporariamente a contaminação microbiana da água, bem como retirar fluídos orais

que por ventura tenham entrado via refluxo da boca dos pacientes. Usar equipos com válvulas

anti-refluxo de fluídos orais para evitar contaminação cruzada dos pacientes para as linhas de

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água e da água para os pacientes, profissionais e equipe odontológica. Fazer uso de equipos

com reservatórios de água independentes e de pequeno volume (garrafas de 500,0ml), visto

que possibilita a troca periódica de água, higienização interna mais fácil e permite a adição de

substâncias químicas para o tratamento das linhas de água (BRASIL, 2006).

2.4 Bactérias nas linhas de água

O sistema estomatognático possui uma vasta flora residente constituída basicamente

de fungo, bactérias, vírus e parasitas. Os membros da flora normal variam em número, forma

e tamanho. As bactérias normalmente encontradas na cavidade oral são: Streptococcus

viridentes, Staphylococcus epidemidis, Streptococcus viridans, Eikinella corrodens,

Streptococcus mutans, Prevotella intermedia, Porphyromonas gingivali. Pode-se ainda serem

encontrados seres das seguintes famílias: Bacteroides, Fusobacterium, Streptococcus,

Actinomyces. Para detectar a presença ou o agente etiológico responsável pela contaminação

de um paciente e necessário a realização de exames laboratoriais. Usam-se normalmente dois

tipos de abordagem a bacteriológica que consiste na identificação do organismo por meio de

coloração e cultura destes, para qual deve-se obter uma amostra do sítio a ser analisado: corar

a amostra usando o procedimento adequado, por exemplo, coloração de Gram, e a

imunológica (LEVINSON, 2008).

Metodologia

A pesquisa foi realizada pelas acadêmicas do nível IV do curso de Odontologia

durante o segundo semestre de 2016, através de coletas realizadas na clínica de Odontologia

da Faculdade IDEAU de Getúlio Vargas, após atendimento feito pelos acadêmicos do VI

nível, com objetivo de verificar a presença de bactérias nas linhas de água.

Segundo Fontelles et al. (2009) trata-se de uma pesquisa de natureza experimental, de

abordagem descritiva e procedimento laboratorial, por ser realizada em ambiente controlado,

além de observadas e registradas suas características. Conforme Tortora et al. (2012), os

micro-organismos como as bactérias podem crescer em um meio de cultura sólidos como o

ágar derivado de algas marinhas, sendo que poucos micro-organismos degradam-se nele

tornando-se assim um meio satisfatório. Para a coleta de bactérias devem-se utilizar dois

meios de coleta, o método de esgotamento por estrias, utilizado para coleta de culturas puras,

realizado com uma alça de inoculação estéril, mergulhada no meio de cultura e

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posteriormente deslizada sobre uma placa de petri esterilizada, onde foi realizada a raspagem

simples e assim fechou-se a placa e levando-as para estufa por até 48 horas.

Inicialmente foram retirados os materiais para coleta no laboratório como se

demonstra na Imagem (a) da Figura 1, após foram escolhidos três equipos aleatórios onde

foram realizadas as coletas na clínica odontológica da Faculdade IDEAU – Getúlio

Vargas/RS, especificamente nas garrafas acopladas ao equipo como ilustra-se na Imagem (b),

foi realizado o esfregaço com o swab na parte interna das garrafas, imediatamente o mesmo

foi mergulhado em solução de peptona como demonstra-se na Imagem (c), retirando-se da

clínica e dirigindo-se ao laboratório novamente para a realização do esfregaço nas placas de

petri, para que não ocorra contaminação do meio externo utilizou-se uma lamparina acessa ao

lado como ilustra-se na Imagem (d) e (e), retirando-se o swab da peptona foi realizado o

esfregaço simples na placa de petri demonstrando-se na Imagem (f), as mesmas foram

fechadas identificadas e levadas a estufa por 48 horas.

Após as 48 horas retiraram-se as placas de petri para verificar se ocorreu algum

crescimento bacteriano, constatando-se a presença de várias UFC, com o auxilio da alça de

inoculação estéril, como demonstra-se na Imagem (g), foi realizado o esfregaço na lâmina

como podemos observar nas Imagem (h).

Figura 1: Imagem (a), (b) e (c) Ilustrando material utilizado para a coleta nas linhas de água; (d), (e), (f) demonstrando o esfregaço realizado nas placas de petri; (g) placas de petri colonizadas por bactérias; (h) ilustrando esfregaço de bactérias já colonizadas em lâmina, as

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coletas foram realizadas na clínica odontológica da Faculdade IDEAU – Getúlio Vargas/RS. Fonte: Autoria Própria

Após a realização do esfregaço na lâmina foi iniciado a coloração de Gram, como

demonstrado na Figura 2, primeiramente foram separados os materiais para coloração sendo

eles: Cristal Violeta, água destilada, Lugol, Fuscina e Acetona, como se ilustra na Imagem (a),

inicialmente com o auxílio de uma pipeta utilizou-se o corante Cristal Violeta, como observa-

se na Imagem (b), foi gotejado sobre a lâmina inteira e deixado agir por 60 segundos como

ilustrado na Imagem (c). Em seguida foi feita a primeira lavagem com água destilada para a

retirada do excesso do corante demonstrado na Imagem (d), após sobre a lâmina aplicou-se o

Lugol como segundo corante deixando penetrar por 60 segundos, como se observa na Imagem

(e), em seguida foi realiza a segunda lavagem com água destilada ilustrada na Imagem (f).

Figura 2: Imagem (a), (b) ilustrando-se material utilizado para a coloração em Gram; (c) coloração de Gram com Cristal de Violeta, (d) aplicação de água destilada, (e) aplicação de Lugol sobre a lâmina, (f) lavagem com água destilada, (g) aplicação de Acetona, (h) lavagem

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novamente com água destilada, (i) aplicação de Fucsina sobre toda a lâmina, (j) lavagem com água destilada pela terceira vez, (l) inserção no microscópio e aplicação do óleo. As colorações foram realizadas no laboratório da Faculdade IDEAU – Getúlio Vargas/RS. Fonte: Autoria própria.

O passo seguinte foi a aplicação de Acetona com o objetivo de retirar o corante inicial

que não penetrou no peptídeoglicano da bactéria como se demonstra na Imagem (g) acima,

após foi realizada a terceira lavagem com água destilada observada na Imagem (h), após foi

aplicado a solução de Fuscina como terceiro corante sobre toda a lâmina e deixando agir por

20 segundos, demonstrando-se na Imagem (i) e por fim realizou-se a última lavagem com

água destilada ilustrada na Imagem (j).

Encerrada a coloração de Gram a lâmina foi inserida no microscópio. Para uma

visualização melhor foi utilizado uma gota de óleo, como pode ser observado na Imagem (l).

Inicialmente foram localizadas as bactérias com o foco na ampliação de 40 x em seguida

mudou-se a ampliação para 400 x e finalmente em 1000 x.

Não foi objetivo deste estudo a identificação de espécies bacterianas, pois para isso

necessitava-se de meios de cultura específicos para diferenciação de espécies. Além disso,

não foi possível realizar a contagem das UFCs em função do método de diluição utilizado.

Foram somente observadas a presença das unidades formadoras de colônia e os

microrganismos classificados de acordo com suas características morfotintoriais,

classificando-os como gram-positivas ou gram-negativas e classificando-os conforme sua

morfologia observada em microscópio óptico.

3 RESULTADOS E ANÁLISE

Nesta pesquisa foi possível observar através de três coletas realizadas, que na primeira

coleta houve um crescimento significativo de bactérias nas três plaquinhas de Petri, sendo que

em uma delas houve um crescimento bastante significativo comparado com as outras,

aparecendo Unidades Formadoras de Colônia (UFC) em toda a semeadura no ágar, como se

pode observar na Imagem (a) da Figura 3. Podem-se observar as Unidades Formadoras de

Colônias na fotografia mais aproximada como se encontra ilustra na Imagem (b). Obteve-se

uma maior visualização de uma única UFC com aumento de 400 x no microscópio óptico

como se demonstra na Imagem (c). Na sequência pode-se visualizar uma quantidade

significativa de Unidades Formadoras de Colônias por ser apresentada em fotografia de

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microscopia óptica com aumento de 1000 x com a técnica de coloração simples feita com a

aplicação de uma única solução de azul de metileno como se observa na Imagem (d).

Walker et al. (2000), também encontraram resultados de contaminação por bactérias

nas linhas de água acima dos níveis considerados seguros, fazendo uma análise por contagem

de células e microscopia a partir da água coletada nos equipos odontológicos. Sousa-

Gugelmim et al. (2003) também identificaram contaminação decorrente de bactérias nas

linhas de água dos equipos odontológicos de clínicas particulares.

Barbeau et al. (1996) afirmaram que o equipo odontológico é um local em que

patógenos oportunistas colonizam a superfície interna das tubulações, o que faz com que

ocorra um aumento da replicação de patógenos na água aumentando o risco de transmissão

desses microrganismos sendo constatada que nenhuma das linhas de água está livre da

contaminação microbiana.

Figura 3: Imagem (a) demonstra-se uma placa de petri com Unidades Formadoras de Colônias, Imagem (b) ilustra-se UFC em uma imagem mais ampliada, Imagem (c) observou-se UFC visualizadas em microscópio com 400 x de aumento, Imagem (d) observou-se UFC com aumento de 1000 x, as colorações foram realizadas no laboratório da Faculdade IDEAU – Getúlio Vargas/RS. Fonte: Autoria Própria

As outras duas placas de Petri semeadas no mesmo dia desta primeira coleta

obtiveram um resultado parecido ou com menor quantidade de Unidades Formadoras de

Colônias. A coloração feita nesta primeira coleta nas três amostras foi simples, somente com a

solução de azul de metileno, com o objetivo de observar a presença das UFCs mais

aproximadas no microscópio óptico e a estrutura dos microrganismos como a sua forma, a

qual se pode identificar bactérias em forma de cocos por serem esféricas e não estarem

associadas entre si.

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Na segunda coleta, ao invés da utilização do PCA (Plate Count Agar) que é o Agar

padrão para Contagem de Placas específico para crescimento de bactérias utilizou-se por

engano o PDA que é o Ágar de Dextrose da Batata que se recomenda para o crescimento de

fungos. Portanto não houve nenhum crescimento bacteriano em nenhuma das três amostras,

mas observou-se uma grande proliferação de fungos na semeadura após a incubação de 48

horas, a 37º C, como se pode observar na Figura 4, com a presença de pelo menos duas

espécies de fungos na placa de Petri contendo PDA. Porém no estudo de Ferreira (2009)

também foi observado contaminação por fungos e bactérias em todas as amostras de água

examinadas.

Figura 4: Demonstra-se um crescimento fúngico na placa de Petri, contendo Agar PDA, após ter permanecido por 48h em estufa. Fonte: autoria própria.

Watanabe (2007) também observou o nível de contaminação em água de equipos

odontológicos e torneiras de cinco clínicas odontológicas da USP - Ribeirão Preto, onde

também encontrou fungos e coliformes, determinando o nível de contaminação por

Pseudomonas ssp.

Na terceira coleta foi possível observar uma maior proliferação de bactérias em todas

as três amostras coletadas, pela utilização do ágar correto, o PCA (Plate Count Agar) que é o

Agar padrão para Contagem de Placas específico para crescimento bacteriano, como se pode

observar na Figura 5. Analisando-se a placa de petri observou-se a presença de pelo menos

dois tipos de bactérias diferentes, como se ilustra na Imagem (a), observa-se também um

crescimento significativo na segunda placa de petri como mostra a Imagem (b) após realizou-

se a coloração de Gram e observou-se em microscópio óptico com aumento de 400X, a

presença de bactérias Gram-negativas por possuírem uma coloração rosa, como observa-se na

Imagem (c).

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Figura 5: Imagem (a) demonstra-se uma placa de petri com Unidades Formadoras de Colônias, Imagem (b) ilustra-se bactérias com coloração de Gram visualizadas em microscópio óptico, a incubação e as colorações foram realizadas no laboratório da Faculdade IDEAU – Getúlio Vargas/RS. Fonte: Autoria Própria

Assim como no estudo de Ferreira (2009), onde cita que a maioria dos microrganismos

recolhidos nos sistemas de água dos consultórios odontológicos são bactérias Gram-negativas.

Paixão (2006) também fala que os bacilos Gram negativos, não esporulados, aeróbios ou

anaeróbios facultativos do grupo coliforme fermentam lactose produzindo gás dentro de 48

horas, em uma temperatura de 35ºC, e que as principais bactérias deste grupo pertencem aos

gêneros Escherichia e Aerobacter, sendo que 95% dos coliformes encontrados nas fezes são

constituídos pela Escherichia coli.

Também no estudo de Barreto et al. (2011) foram encontrados bacilos gram-negativos

e micrococos nas unidades formadoras de colônias bacterianas localizadas na clínica

odontológica durante o atendimento clínico. No estudo Bulgarelli et al., (2001), foi observado

que em pacientes portadores de doença periodontal avançada encontrava-se uma uma maior

quantidade de bactérias gram-negativas em todas as lâminas examinadas. Ferreira (2009)

afirma que a maioria dos organismos encontrados nos sistemas de água dos consultórios

odontológicos são bactérias Gram-negativas.

Pankhurst & Coulter (2007) revisaram artigos que buscavam a infecção de indivíduos

por microrganismos localizados na linha d'água de equipos odontológicos, dizendo que a

maioria dos micro-organismos encontrados neste ambiente são de baixa patogenicidade, e que

a espécie predominante encontrada são as bactérias gram-negativas, produtoras de

endotoxina.

Em uma das três amostras realizadas na terceira coleta a qual foi utilizado o Ágar

Nutri, houve crescimento tanto de fungos, como de colônias bacterianas, como se pode

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observar na imagem (a) da Figura 6, as quais foram classificadas no grupo de Gram-positivas

por terem adquirido uma coloração violeta que ficou impregnada na espessa camada de

peptideoglicano e ácido teicóico, presente em maior espessura nas bactérias Gram-positivas,

como se pode observar na Imagem (b) da Figura 6. Nesta imagem podem-se perceber também

as formas esféricas das bactérias em um aumento de 1000 x, e agrupadas numa cadeia de

cocos, sendo classificadas de estreptococos. Já no estudo de Favero & Menolli (2006)

predominaram em suas amostras os estafilococos, constituindo mais da metade do total de

espécies encontradas nos resultados das análises feitas em clínicas coletivas, em placas

expostas durante o atendimento por quinze minutos.

Figura 6: Imagem (a) demonstra-se uma placa de petri com Unidades Formadoras de Colônias, Imagem (b) ilustra-se bactérias com coloração de Gram visualizadas em microscópio óptico, a incubação e as colorações foram realizadas no laboratório da Faculdade IDEAU – Getúlio Vargas/RS. Fonte: Autoria Própria

Assim como em nossa pesquisa, no estudo de Barreto et al. 2011 foram encontrados

bacilos gram-positivos nas unidades formadoras de colônias bacterianas localizadas na clínica

odontológica durante o atendimento clínico. E no estudo Bulgarelli et al., 2001, foi observado

que em pacientes portadores de gengivite também encontrava-se uma uma maior quantidade

de bactérias gram-positivas em todas as lâminas examinadas.

4 CONCLUSÃO

Através das análises feitas nas linhas de água dos equipos odontológicos nas clínicas

da faculdade IDEAU e comparando nossa pesquisa aos trabalhos realizados por outros

autores, constatamos a presença tanto bactérias gram-negativas como de bactérias gram-

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positivas e que nenhuma linha de água está totalmente livre da contaminação microbiana, mas

que existem medidas que podem ser seguidas para a diminuição dessa proliferação.

Neste trabalho foi observada a importância da biossegurança na odontologia, assim

como os cuidados que o profissional da área deve ter em relação à desinfecção e limpeza das

linhas de água utilizadas diariamente pelo cirurgião-dentista, e que podem trazer risco tanto

para os pacientes como para o profissional.

Tendo em vista essas informações, este trabalho também serve de estímulo para que

mais pesquisas sejam realizadas em relação a contaminações que podem ocorrer em clínicas

odontológicas, analisando principalmente os métodos de desinfecção e esterilização

existentes. E que, além disso, os protocolos de assepsia criados pelos fabricantes dos equipos,

passem a ser realizados como rotina no dia-a-dia das clínicas da faculdade IDEAU.

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