Avaliação modernismo no brasil

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Universidade do Estado de Santa Catarina Arquitetura e Urbanismo Urbanismo e Arquitetura Brasileira Professora Danielle Benício Acadêmicos: Ana Carolina Martins, Luccas Zanluca, Mauro Bock, Mustafa Hassan e Natália Foppa Análise do movimento moderno em relação à obra de Severiano Porto Este exercício tem como objetivo analisar a produção do movimento modernista brasileiro, através de um estudo de caso de uma obra compreendida na época, comparando os elementos apresentados com os supostos do movimento em questão e o contexto o qual está inserido. O Brasil após o fim da época Imperial era comandado pelas oligarquias cafeeiras. Logo após, durante a primeira Republica, o país era dominado pelo controle de mercado Inglês. O projeto de modernização brasileiro iniciou-se nos anos 30 e durou até o fim dos anos 70, quando chegou ao fim o regime militar. A arquitetura desse período foi trazida a campo exatamente no momento em que a revolução para a modernização segue em direção ao autoritarismo da ditadura de Getúlio Vargas. A arquitetura moderna serviria para cumprir uma função ideológica numa sociedade que, em um pequeno intervalo, saiu do escravismo para o Estado Moderno, centralizador e autoritário. É nesse contexto que Severiano Porto trabalha. Ao se formar pela Faculdade de Arquitetura da Universidade do Brasil (atual UFRJ) é convidado, após uma viagem de turismo, à realizar alguns projetos na cidade de Manaus, onde logo fixa residência. Imerso no contexto do modernismo, Severiano consegue aplicar os preceitos do movimento à realidade da Amazônia, de tal maneira que cria uma arquitetura única e legitima brasileira. As principais características desse movimento são o uso de formas geométricas, sem ornamento, valorizando a veracidade dos materiais, sem reboco ou pintura para “mascarar” os mesmos, e tentam conciliar ao máximo a forma e a função de maneira harmônica, no Brasil esse estilo assumiu duas vertentes, a escola carioca que incorporou formas arredondadas e construiu um estilo brasileiro de modernismo e a escola paulista marcada pela ênfase na técnica construtiva, adoção do concreto armado aparente e valorização da estrutura. Como estudo de caso e comparativo foi escolhida a Residência Robert Schuster, projeto de Severiano Porto na cidade de Manaus (AM). O arquiteto consegue conciliar as ideias modernistas com as tradições construtivas dos povos da região. Pode-se notar a presença na casa de elementos típicos do modernismo, tais quais o uso de formas geométricas, a estrutura sobre os pilotis, a veracidade dos materiais aplicados (neste caso a madeira) e a planta que embora seja mais compartimentada integra todos os cômodos de certa maneira. Estudo de Caso: Residência Robert Schuster Arquiteto: Severiano Porto Localização: Tarumã, Manaus, Amazonas Ano do projeto: 1978 Conclusão: 1981

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Avaliação escrita da arquitetura modernista no brasil e estudo de caso sobre a Residência Robert Schuster, projeto de Severiano Porto para a cidade de Manaus.

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Page 1: Avaliação modernismo no brasil

Universidade do Estado de Santa Catarina Arquitetura e Urbanismo Urbanismo e Arquitetura Brasileira Professora Danielle Benício Acadêmicos: Ana Carolina Martins, Luccas Zanluca, Mauro Bock, Mustafa Hassan e Natália Foppa

Análise do movimento moderno em relação à obra de Severiano Porto

Este exercício tem como objetivo analisar a produção do movimento modernista brasileiro, através de um estudo de caso de uma obra compreendida na época, comparando os elementos apresentados com os supostos do movimento em questão e o contexto o qual está inserido.

O Brasil após o fim da época Imperial era comandado pelas oligarquias cafeeiras. Logo após, durante a primeira Republica, o país era dominado pelo controle de mercado Inglês. O projeto de modernização brasileiro iniciou-se nos anos 30 e durou até o fim dos anos 70, quando chegou ao fim o regime militar. A arquitetura desse período foi trazida a campo exatamente no momento em que a revolução para a modernização segue em direção ao autoritarismo da ditadura de Getúlio Vargas. A arquitetura moderna serviria para cumprir uma função ideológica numa sociedade que, em um pequeno intervalo, saiu do escravismo para o Estado Moderno, centralizador e autoritário. É nesse contexto que Severiano Porto trabalha. Ao se formar pela Faculdade de Arquitetura da Universidade do Brasil (atual UFRJ) é convidado, após uma viagem de turismo, à realizar alguns projetos na cidade de Manaus, onde logo fixa residência. Imerso no contexto do modernismo, Severiano consegue aplicar os preceitos do movimento à realidade da Amazônia, de tal maneira que cria uma arquitetura única e legitima brasileira. As principais características desse movimento são o uso de formas geométricas, sem ornamento, valorizando a veracidade dos materiais, sem reboco ou pintura para “mascarar” os mesmos, e tentam conciliar ao máximo a forma e a função de maneira harmônica, no Brasil esse estilo assumiu duas vertentes, a escola carioca – que incorporou formas arredondadas e construiu um estilo brasileiro de modernismo – e a escola paulista – marcada pela ênfase na técnica construtiva, adoção do concreto armado aparente e valorização da estrutura.

Como estudo de caso e comparativo foi escolhida a Residência Robert Schuster, projeto de Severiano Porto na cidade de Manaus (AM). O arquiteto consegue conciliar as ideias modernistas com as tradições construtivas dos povos da região. Pode-se notar a presença na casa de elementos típicos do modernismo, tais quais o uso de formas geométricas, a estrutura sobre os pilotis, a veracidade dos materiais aplicados (neste caso a madeira) e a planta que embora seja mais compartimentada integra todos os cômodos de certa maneira.

Estudo de Caso: Residência Robert Schuster

Arquiteto: Severiano Porto Localização: Tarumã, Manaus, Amazonas Ano do projeto: 1978

Conclusão: 1981

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Dono original: O topógrafo austríaco Robert Schuster

Dono atual: O publicitário paulista Edmar Costa

A única reforma encontrada na residência se deu em meados dos anos 2000 quando a propriedade foi adquirida pelo publicitário paulista Edmar Costa. Responsável pelo projeto dos "ajustes", como prefere falar, o arquiteto Roberto Moita, que se diz discípulo de Severiano Porto, fez o possível para adequar as mudanças às características originais da obra. O projeto contemplou reforma de banheiros, ampliando sua integração com a floresta e copa das árvores, troca do piso térreo por pedra rústica serrana tipo quartzito, recuperação das estruturas em madeira que estavam parcialmente comprometidas por ação de cupins e nova iluminação interna e externa. Além disso, foram criadas novas edificações - residência do caseiro, pavilhão de hóspedes, churrasqueira, sauna e garagem de barcos, todos conectados por meio de caminhos e jardins. Segundo Moita:

"A principal mudança foi de atmosfera: a original era de uma rusticidade franciscana. Com a mudança de proprietário - passou de um topógrafo austríaco para um publicitário paulista - havia o interesse de ter maior conforto, dai nos dirigimos para algo com mais acabamentos".

Concepção estética

Percebe-se que a madeira além de função estrutural tem presença fundamental na estética da casa. É usada de diferentes formas, nenhuma em seu estado natural, proporcionando diferentes padrões dependendo a forma que ela for agrupada, como em painéis semelhantes ao muxarabi por exemplo. Suas fachadas não são simétricas porem há equilíbrio de volume. O ritmo é presente principalmente nos pilares. A casa apresenta elementos típicos do movimento modernista. É toda estruturada sobre elementos que remetem aos pilotis, o que configura um vão livre no térreo, sem divisórias. Também estão presentes as formas geométricas, que assemelham-se a cubos dispostos sobre pilotis e cobertos por uma forma triangular. Os materiais estão presentes de maneira verdadeira, não como encontrados na natureza, mas com sua textura e aparência originais. A planta não é livre no segundo pavimento, contudo o vão central consegue integrar todas as dependências com exceção dos banheiros. A configuração moderna é utilizada para se adaptar as necessidades da Amazônia, a cobertura se projeta com beirais generosos. Assim como as aberturas para a melhor captação dos ventos. Ao projetar a Residência Robert Schuster, o arquiteto Severiano Porto deu especial atenção ao local em que seria inserida, tentando modificar a vegetação e o terreno o mínimo quanto fosse possível. Utilizando-se de conceitos bioclimáticos e fortemente influenciado pela cultura local, Severiano gera um conceito muito forte na relação da casa com a vegetação, que acaba por fazer parte da mesma e até mesmo confundindo-se o natural com o construído. Sua planta parte de uma divisão em forma de grelha, que define os pontos estruturais em seus cruzamentos. Essa divisão se transpõe volumetricamente, criando blocos de arestas bem definidas pela madeira. Através da repetição ritmada desses módulos, e com o preenchimento ou não de suas faces, surgem as definições de volumes cheios e vazios que circundam um grande vão central e formam os ambientes. O telhado quebra a regularidade ortogonal marcante da casa ao se

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dividir em duas águas de grande declividade, mas acompanhando a forma volumétrica de suas fachadas. A casa está camuflada no meio da mata, isolada de demais residências. Foi planejada em três pavimentos com o intuito de não impactar o terreno, conforme era o objetivo inicial do projeto.

Concepção Funcional

A casa se organiza em torno de um vão central que interliga os

pavimentos, este mesmo vão também tem função de ventilação. Cada nível

cumpre sua função que está relacionada ao partido. O térreo, todo aberto, se

distribui de maneira livre sem interferir na paisagem local. O primeiro pavimento

serve para as funções intimas de repouso e as atividades diárias de uma casa

comum. E o ultimo pavimento serve para contemplar a área externa. Há um

desnível no primeiro pavimento, onde a área intima encontra-se em um nível

um pouco mais elevado que a área social. Os fluxos dentro da edificação são

bem definidos. A cobertura se projeta com beirais generosos para oferecer

maior proteção contra a insolação equatorial, e também certificar que as

tempestades comuns na região não atinjam as partes interiores da casa

Concepção Material e Tecnológica

O elemento marcante presente na edificação é a madeira, material

natural da região. Os únicos cômodos onde há presença de alvenaria são nos

banheiros e cozinhas por conta das instalações hidráulicas. As esquadrias

também são feitas em madeira. A estrutura é feita no mesmo material em uma

associação de barras utilizadas como pilar, vigas e mãos-francesas.

Concepção Ambiental

A casa foi pensada desde o seu início de maneira que interagisse com o

entorno, tudo foi planejado para que a obra fizesse parte da mata presente no

local. Os pilotis do piso térreo são colocados estrategicamente para relembrar o

ritmo e padrão das árvores da mata nativa. O vão principal no centro da casa é

um instrumento chave para manter o conforto térmico em uma região de clima

extremamente quente, dessa maneira economizando energia com possíveis

climatizadores. O fato de essa abertura ser uma ameaça a entrada de animais

não foi um problema para o proprietário, que queria o máximo de naturalidade

em sua residência.

O modernismo face à contemporaneidade da Casa Cobogó

Ao comparar a residência Robert Schuster com a casa Cobogó, verifica-

se alguns pontos que o arquiteto da casa contemporânea busca do

modernismo, como integrar os cômodos e principalmente o interior com o

exterior. Outra característica marcante que há nas duas é o muxarabi,

elemento de ripas de madeira entrelaçadas que serve de divisória, um resgate

de tempos antigos empregado de forma contemporânea. Preocupação com o

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meio ambiente, busca de materiais e formas ecologicamente corretos e que

agridam o mínimo possível à natureza. Enquanto a casa cobogó traz uma

brasilidade baseada no modernismo tradicional a residência Robert Schuster

se constrói sobre a premissa de um movimento adaptado as necessidades

amazônicas, uma das principais faces que representam a cultura do país.

Considerações Finais

O arquiteto Severiano Porto mostrou em toda a sua obra e

especificamente na Residência Schuster uma real preocupação com o local

onde suas edificações seriam construídas. Sem abrir mão de conceitos

modernistas como a presença de pilotis, a mínima ornamentação e a

veracidade dos materiais utilizados, ele utilizou-se de um viés ambiental e eco

efetivo no projeto, mostrando sua preocupação com o tema já na década de 80

e que, atualmente, é assunto em voga nos principais meios de informação com

a criação de “edifícios sustentáveis” e/ou “verdes”. Com um conceito de

arquitetura vernacular muito forte, Severiano faz uso de materiais locais da

Amazônia, como a madeira estrutural e os revestimentos. Preocupado com a

relação do interior com o exterior, faz uso de seus conhecimentos modernistas

para melhor adaptar a casa ao entorno e integrá-la com a floresta. Duas

palavras que conseguem definir o conceito do projeto são: Adaptação e

Integração. A equipe gostou muito de pesquisar e trabalhar com essa obra,

pois, considerando o mundo atual, a preocupação com a natureza é essencial

para uma boa arquitetura, não temos mais espaço para causar impacto

ambiental e sim para resolvê-los e adaptar aos nossos projetos. Contudo,

apesar de propor a melhor solução para integrar o interno e o externo, não é a

melhor proposta para ser inserida no ambiente em questão – floresta

amazônica e sua fauna.

Referências Bibliográficas

GALVÃO, F. A Concepção Estrutural como Expressão Plástica. 1. ed. UFRN, 2009.

277 p. 64 – 69.

MOITA, R. Casa Robert Schuster: depoimento [09/10/2013]. Laguna. Entrevista

concedida a Luccas Zanluca

CLASSICOS da arquitetura: Residência Robert Schuster/Severiano Porto. 07 fev.

2013. Disponível em:<http://www.archdaily.com.br/br/01-96594/classicos-da-

arquitetura-residencia-robert-schuster-severiano-porto>.Acesso em: 9 out. 2013..

POR um regionalismo eco-eficiente: a obra de Severiano Mário Porto no Amazonas.

04 abr.2004. Disponível em:

<http://vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/04.047/594>.Acesso em: 9 out. 2013.

SEVERIANO Mario Porto. 07 mar. 2012. Disponível em:

<http://www.arquitetonico.ufsc.br/severiano-mario-porto>.Acesso em: 9 out. 2013.