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BRUNA ALVES Avaliação somestésica, gustativa e olfativa durante o ciclo menstrual Dissertação apresentada à Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo para obtenção do título de mestre em Ciências Programa de: Neurologia Orientadora: Prof. a Dr. a Silvia Regina Dowgan Tesseroli de Siqueira SÃO PAULO 2016

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BRUNA ALVES

Avaliação somestésica, gustativa e olfativa

durante o ciclo menstrual

Dissertação apresentada à Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo para obtenção do título de mestre em Ciências Programa de: Neurologia Orientadora: Prof.a Dr.a Silvia Regina Dowgan Tesseroli de Siqueira

SÃO PAULO

2016

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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

Preparada pela Biblioteca da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo

reprodução autorizada pelo autor

Alves, Bruna

Avaliação somestésica, gustativa e olfativa durante o ciclo menstrual / Bruna

Alves. -- São Paulo, 2016.

Dissertação(mestrado)--Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.

Programa de Neurologia.

Orientador: Silvia Regina Dowgan Tesseroli de Siqueira. Descritores: 1.Sensibilidade 2.Somestesia 3.Ciclo menstrual 4.Estrogênios

5.Progesterona 6.Salivação 7.Percepção olfativa 8.Percepção gustatória 9.Percepção

da dor 10.Mulheres

USP/FM/DBD-413/16

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DEDICATÓRIA

A todas as pessoas

que estiveram envolvidas

na concretização desse projeto.

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AGRADECIMENTO

A Deus por sempre me guiar pelos caminhos corretos.

À Prof.a Dr.a Silvia Regina Dowgan Tesseroli de Siqueira por me mostrar

o mundo da pesquisa desde o primeiro ano da faculdade e sempre me

incentivar em minha trajetória acadêmica.

À Prof.a Dr.a Alyne Simões Gonçalves pela valiosa colaboração na

avaliação dos hormônios. À Mestre Flávia Ibuki que participou diretamente da

avalição desses hormônios na saliva e me ensinou muito sobre pesquisa

laboratorial.

À Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP),

pelo apoio financeiro, pois, sem os recursos, a pesquisa não teria sido

concretizada.

Aos meus familiares que me apoiaram e deram o suporte necessário

para eu sempre acreditar no meu trabalho. Principalmente para a minha avó

Josepha, por me mostrar os principais e mais importantes valores da vida. Ela,

como um exemplo de mulher, me ensinou que tudo é conquistado com esforço

e que podemos fazer muito com o pouco que temos.

E, em especial, a todas as mulheres que participaram da pesquisa e

disponibilizaram uma grande parcela do seu tempo para colaborar com o

projeto, sem elas nada seria possível.

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Esta dissertação está de acordo com as seguintes normas em vigor no

momento desta publicação:

Referências: adaptado de International Committee of Medical Journals

Editors (Vancouver).

Universidade de São Paulo. Faculdade de Medicina. Divisão de Biblioteca e

Documentação. Guia de apresentação de dissertações, teses e monografias.

Elaborado por Anneliese Carneiro da Cunha, Maria Julia de A. L. Freddi, Maria

F. Crestana, Marinalva de Souza Aragão, Suely Campos Cardoso, Valéria

Vilhena. 3a ed. São Paulo: Divisão de Biblioteca e Documentação; 2011.

Abreviaturas dos títulos dos periódicos de acordo com List of Journals

Indexed in Index Medicus.

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LISTA DE SIGLAS

AMPc - Adenosina monofosfato cíclica

ANOVA - Análise unidirecional da variância

CAPPesp - Comissão de Ética em Pesquisa do Hospital das Clínicas

CGRP - Peptídeo ralacionado ao gene da calcitonina

CMR1 - Receptor de frio e de mentol do tipo 1

ELISA - Enzyme-linked immunosorbent assay

FAPESP - Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo

FMUSP - Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo

FSH - Hormônio folículo estimulante

GABA - Ácido gama-aminobutírico

GnRH - Hormônio liberador de gonadotrofina

IFNγ - Interferon gama

IgG - Imunoglobulina G

LH - Hormônio folículo estimulante

MANOVA - Análise de variância multivariada

MAP-kinase - Proteína quinasa ativada por mitógenos

N - Número

NMDA - N-metil-D-aspartato

RPT - Receptores de potenciais transitórios

S-I - Córtex somatossensitivo primário

S-II - Córtex somatossensitivo secundário

SNC - Sistema Nervoso Central

sP - Substância P

TR - Tempo de Reação

TRPN 8 - Receptores de potencial melastatina 8

TRPV1 – Receptor de potenciais transitórios V 1

TSQ - Testes sensitivos quantitativos

VR1 – Receptores vaniloides 1

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LISTA DE SÍMBOLOS

A - Ampere

Aδ - A- delta

A/s - Ampere por segundo

Α - Alpha

Β - Beta oC - Grau Celsius oC/s - Grau Celsius por segundo

Cm - Centímetro

cm2 - Centímetro quadrado

G - Grama

g/mm2 - Grama por milímetro quadrado

H - hora

Hz/s - Hertz por segundo

K+ - Potássio

kPa/s - Kilopascal por segundo

M - Molar

Ml - Mililitro

mL/min - Mililitro por minuto

Mm - Milímetro

Nm - Nanômetro

pg/ml - Picograma por mililitro

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LISTA DE TABELA

Tabela 1 - Características sociodemográficas da amostra (N; %) (N=39).................................................................................................37

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Neuroanatomia discriminativa da sensibilidade somestésica...............05

Figura 2 - Neuroanatomia olfativa.........................................................................08

Figura 3 - Neuroanatomia gustativa......................................................................11

Figura 4 - Ciclo Menstrual.....................................................................................19

Figura 5 - O kit de coleta salivar............................................................................30

Figura 6 - Equipamentos.......................................................................................35

Figura 7 - Média de fluxo salivar de acordo com o período do ciclo menstrual em mL/min..................................................................................................38

Figura 8 - Médias de limiares gustativos (doce, salgado, azedo e amargo) (M) e de limiar olfativo (%) de acordo com o período do ciclo menstrual......39

Figura 9 - Médias de limiares térmicos ao calor de acordo com o período do ciclo menstrual em oC...................................................................................40

Figura 10 - Médias de limiares térmicos ao frio de acordo com o período do ciclo menstrual em oC...................................................................................40

Figura 11 - Médias de limiares táteis de acordo com o período do ciclo menstrual em g/mm2..............................................................................................41

Figura 12 - Médias de limiares vibratórios de acordo com o período do ciclo menstrual em Hz/s................................................................................41

Figura 13 - Médias de limiares elétricos dentários de acordo com o período do ciclo menstrual em A/s..................................................................................42

Figura 14 - Médias de limiares dolorosos de profundidade de acordo com o período do ciclo menstrual em kPa/s.................................................................42

Figura 15 - Médias de limiares dolorosos de superfície de acordo com o período do ciclo menstrual em g/mm2.....................................................................43

Figura 16 - Médias de níveis dos hormônios progesterona e estrógeno durante o ciclo menstrual em pg/mL.....................................................................43

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RESUMO

Alves B. Avaliação somestésica, gustativa e olfativa durante o ciclo menstrual [dissertação]. São Paulo: Faculdade de Medicina, Universidade de São Paulo; 2016.

A diferença da percepção álgica entre homens e mulheres é, há muito,

conhecida e documentada na literatura. Sabe-se também que a sensibilidade

feminina varia durante o ciclo menstrual, o que levou à hipótese de que os

hormônios ovarianos poderiam estar envolvidosnesse processo. Assim, este

estudo teve como objetivo investigar os limiares de sensibilidade somestésica

(térmica, dolorosa, tátil, vibratória e elétrica), gustativa e olfativa durante o ciclo

menstrual de mulheres saudáveis e a sua relação com as concentrações dos

hormônios estrógeno e progesterona na saliva. Foram avaliadas 39 mulheres

com idade entre 19 e 47 anos, com ciclos menstruais regulares e sem

morbidades associadas à dor. Todas as mulheres foram orientadas quanto aos

propósitos desta pesquisa, e somente participaram do estudo aquelas que

preencheram os critérios de inclusão e assinaram o termo de consentimento

livre e esclarecido. A avaliação foi realizada em três momentos do ciclo

menstrual: fase menstrual, fase folicular e fase lútea. Em cada uma dessas

fases foram utilizados os seguintes métodos: coleta da saliva no início de cada

sessão, para avaliação dos níveis hormonais; avaliação de fluxo salivar;

avaliação sensitiva superficial (dor, tato – IITC Woodland Hills, EUA; frio, calor

– MSA II e vibratórios – Somedic, Suécia) aplicada na região do ramo maxilar

do nervo trigêmeo e na região do antebraço, ambas no lado direito da paciente;

e avaliação das sensibilidades gustativa (doce - glicose, salgado – cloreto de

sódio, azedo – ácido cítrico e amargo – ureia) e olfativa (isopropanol em

diferentes concentrações). Foram observadas oscilações sensitivas em todas

as modalidades de acordo com o momento do ciclo menstrual das mulheres

avaliadas, sendo que níveis baixos de estrógeno se associaram a altos limiares

de dor de profundidade no braço (p=0,008) e na face (p=0,041), altos limiares

táteis (p=0,001) e álgicos superficiais (p=0,006) na face. Em contrapartida,

altos níveis de progesterona se associaram a altos limiares de dor de

profundidade na face (p=0,033) e altos limiares do sabor salgado (p<0,001).

Concluímos que o estrógeno e a progesterona estão envolvidos na

neuromodulação da sensibilidade somestésica, gustativa e olfativa de

mulheres, durante o ciclo menstrual.

Descritores: sensibilidade; somestesia; ciclo menstrual; estrogênios;

progesterona; salivação; percepção olfativa; percepção gustatória; percepção da dor; mulheres.

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ABSTRACT

Alves B. Somesthetic, gustatory and olfactory assessment during the

menstrual cycle [dissertation]. São Paulo: "Faculdade de Medicina,

Universidade de São Paulo"; 2016.

There is a sexual difference on pain perception that is supported by the

scientific literature. Moreover, sexual hormones seem to be involved in the

modulation of sensory detection and there is evidence of sensory variation

during the menstrual cycle. Thus, the aim of this study was to investigate the

somatosensory (thermal, painful, tactile, vibratory and electric), gustatory (salty,

bitter, sweet, sour) and olfactory thresholds during the menstrual cycle in

healthy women and verify association with saliva concentration of estradiol and

progesterone. We evaluated 39 women aged between 19 and 47 years, with

regular menstrual cycles and with no comorbidities related to pain.All women

were instructed about the purposes of the study and only those that signed the

informed consent were included. The evaluation wasperformed in three

moments of the cycle: menstrual phase, follicular phase and luteal phase. In

each of these stages, the following methods were used: saliva collection at the

beginning of each session, to assess hormone levels; salivary flow

measurement; somatosensory evaluation with quantitative sensory testing

(pain, tactile - IITC Woodland Hills, USA; cold and warm - MSA II; and vibration

- Somedic, Sweden) applied to the right maxillary branch region of the

trigeminal nerve and right forearm region; and gustative (sweet - glucose, salt -

sodium chloride, sour - citric acid and bitter - urea) and olfactory (isopropanol at

different concentrations) thresholds. All sensory thresholds showed fluctuation

during the menstrual cycle. Lower estrogen levels were correlated tohigher

deep pain thresholds at the forearm (p=0.008) and face (p=0.041); they were

also associated with higher tactile thresholds (p=0.001) and higher superficial

pain (p=0.006) thresholds at face.High levels of progesterone were associated

with high deep pain threshold at the face and high salty threshold (p<0.001). In

conclusion, estrogen and progesterone seems to be involved in sensory

neuromodulation in women, during the menstrual cycle.

Descriptors: sensitivity; somatosensory perception; menstrual cycle; estrogen; progesterone; salivation; olfactory perception; taste perception; pain perception; women.

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SUMÁRIO

LISTA DE SIGLAS

LISTA DE SÍMBOLOS

LISTA DE TABELA

LISTA DE FIGURAS

RESUMO

SUMMARY

1 INTRODUÇÃO............................................................................................ 1

2 OBJETIVOS............................................................................................... 2

3 REVISÃO DA LITERATURA...................................................................... 3

3.1 Sensibilidade somestésica, olfativa e gustativa....................................... 3

3.1.1 Somestesia: tato e termossensibilidade............................................... 4

3.1.2 Sensibilidade olfativa............................................................................ 6

3.1.3 Sensibilidade gustativa......................................................................... 9

3.1.4 Sensibilidade dolorosa.......................................................................... 11

3.1.5 Testes sensitivos quantitativos............................................................. 13

3.2 Ciclo menstrual e oscilações hormonais.................................................. 15

3.3 Influência sexual na sensibilidade........................................................... 20

3.3.1 Evidências sensitivas e concentração de hormônios sexuais.............. 22

3.4 Avaliação salivar de estrógeno e de progesterona................................. 25

4 CASUÍSTICA E MÉTODOS........................................................................ 28

4.1 Avaliação hormonal salivar....................................................................... 29

4.2 Testes sensitivos quantitativos (TSQ)...................................................... 31

4.3 Cálculo da amostra e análise estatística.................................................. 35

5 RESULTADOS ........................................................................................... 37

6 DISCUSSÃO............................................................................................... 45

7 CONCLUSÃO............................................................................................. 51

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8 ANEXOS..................................................................................................... 52

9 REFERÊNCIAS.......................................................................................... 57

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1 INTRODUÇÃO

Há uma diferença nítida entre homens e mulheres quanto à incidência

de dor crônica, que parece ao menos em parte estar associada a aspectos

fisiológicos sensitivos modulados por hormônios femininos. Entretanto, há

carência de estudos que esclareçam aspectos etiopatológicos envolvidos no

estabelecimento do sintoma álgico, bem como em sua manifestação clínica. Os

trabalhos sugerem a necessidade de buscar mais evidências dos mecanismos

modulatórios da sensibilidade entre os sexos para que possam ser melhor

compreendidos e abordados nos doentes.

Por outro lado, os hormônios femininos apresentam um padrão de

flutuação mensal promovendo alterações sutis na percepção sensitiva, ainda

pouco compreendidas. Seu impacto parece ser importante, pois, apoia-se na

maior prevalência de dor no período pré-menstrual, o que motivou este estudo.

Testes sensitivos quantitativos (TSQ) são modalidades de investigação

relativamente recentes e que conseguem detectar discretas variações em

limiares. Estes testes têm sido utilizados em diversos trabalhos como

ferramenta auxiliar na compreensão da fisiopatologia de condições álgicas,

bem como na eficácia e na evolução dos tratamentos. A avaliação

concomitante desses dados com níveis de hormônios sexuais detectáveis com

segurança em amostras salivares permitiu a obtenção de dados quantitativos

confiáveis, o que vai ao encontro da busca por mecanismos fisiológicos da

modulação neuronal sensitiva que possam estar relacionados à maior

prevalência de dor nas mulheres. Estes, podem apontar futuros alvos

terapêuticos e caminhos para obter maior alívio da dor.

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2 OBJETIVOS

Este estudo teve como objetivo investigar durante o ciclo menstrual de

mulheres saudáveis:

1. Os limiares de sensibilidade somestésica (térmica, dolorosa, tátil,

vibratória e elétrica), gustativa e olfativa;

2. A relação entre os limiares sensitivos e as concentrações dos hormônios

estrógeno e progesterona na saliva.

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3 REVISÃO DA LITERATURA

3.1 Sensibilidade somestésica, olfativa e gustativa

O sistema sensitivo tem como finalidade a percepção do ambiente pelo

indivíduo. As sensações dependem de impulsos que surgem por estímulo dos

receptores, ou órgãos terminais. Esses impulsos são levados ao sistema

nervoso central (SNC) por neurônios sensitivos, e transmitidos através de

tratos de fibras a centros superiores para o reconhecimento consciente, ação

reflexa e outras consequências da estimulação sensitiva (Campbell, 2007). A

codificação dos estímulos ambientais ocorre na percepçãodo tato, da dor, da

temperatura, na propriocepção, e também, em sensibilidades especiais (visão,

audição, olfato e paladar) (Kandel et al., 2003; Campbell, 2007 e Lent, 2004).

Há quatro classes de receptores, de acordo com o tipo de energia que

desencadeia sua atividade: receptores mecânicos, químicos, térmicos ou

eletromagnéticos. Os mecanorreceptores relacionam-se com tato,

propriocepção, audição e equilíbrio; os quimiorreceptores estão envolvidos nas

sensações de prurido, paladar e olfato; os termorreceptores captam variações

térmicas; e os receptores eletromagnéticos relacionam-se à visão. Com relação

à dor, há três tipos principais de nociceptores: térmicos e mecânicos (fibras tipo

Aδ) ou polimodais, que são ativados por estímulos mecânicos, químicos ou

térmicos de alta intensidade (fibrastipo C) (Kandel et al., 2003).

Os mecanorreceptores podem ser corpúsculos de Meissner, corpúsculos

de Pacini (sensíveis a estímulos vibratórios) ou discos de Merkel. Os

termorreceptores caracterizam-se por corpúsculos de Rufini (altas

temperaturas, também são mecanorreceptores) e corpúsculos de Krause

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(temperaturas baixas e frio). Os nociceptores são catacterizados por

terminações nervosas livres, e os propriorreceptores distinguem-se em fusos

musculares e órgãos neurotendíneos. Além destes, existem os receptores

articulares, importantes para a cinética-postural, e os viscerorreceptores

(Doretto, 2005).

Após a transdução do estímulo pelo receptor, este é conduzido pelas

fibras nervosas denominadas aferentes primários ou neurônios de primeira

ordem, sendo que os corpos celulares de neurônios sensitivos somestésicos

encontram-se nos gânglios sensitivos espinais e gânglio trigeminal (Kandel et

al., 2003).

3.1.1 Somestesia: tato e termossensibilidade

O tato corresponde à percepção indolor dos objetos pela pele (Lent,

2004). É mais desenvolvido na pele dos dedos, na superfície palmar da mão,

na sola dos pés e nos lábios (Kandel et al., 2003). Por outro lado, a

termossensibilidade permite a percepção da temperatura dos objetos e do ar

que nos envolve (Lent, 2004).

Os aferentes primários enviam seus prolongamentos até o corno

posterior da medula espinal ou núcleo principal e trato espinal do trigêmeo,

onde fazem sinapse com neurônios de segunda ordem. Estes, projetam-se

diretamente para o tálamo contralateral, terminando no núcleo ventral posterior

lateral. Uma via paralela originada no núcleo principal do nervo do trigêmeo

também se projeta para o núcleo ventral posterior medial do tálamo. Neurônios

de terceira ordem originários do tálamo enviam axônios ao córtex

somatossensitivo primário (S-I), localizado no giro pós-central do lobo parietal

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(Figura 1). O córtex primário possui quatro áreas, que diferem funcionalmente.

As áreas 3b e 1 recebem informações dos receptores da pele, enquanto as

áreas 3a e 2 recebem informações proprioceptivas de receptores dos músculos

e articulações. Os neurônios de S-I projetam-se para o córtex somatossensitivo

secundário (S-II), e este por sua vez apresenta conexões com o córtex insular,

córtex parietal posterior e lobo temporal, o que parece ser importante para a

memória tátil (Kandel et al., 2003).

FONTE:Lent, 2004 Figura 1- Neuroanatomia discriminativa da sensibilidade somestésica. A percepção

sensitiva percorre três aferentes até alcançar o córtex sensitivo.

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Na área 5 do córtex parietal posterior ocorre a integração da

sensibilidade táctil com a propriocepção; na área 7, há integração entre tato,

propriocepção e visão (Kandel et al., 2003).

O calor ou frio são captados por termorreceptores, cujos potenciais de

ação são conduzidos ao longo das fibras Aδ e C em direção à medula espinhal

ou núcleos trigeminais. Neurônios de segunda ordem emitem axônios que

cruzam a linha média na medula e trafegam pela coluna anterolateral até o

tronco encefálico, onde se encontram com os axônios originados do núcleo

espinhal do trigêmeo oposto para formar o lemnisco espinal que por sua vez se

projeta ao núcleo ventral posterior do tálamo. No tálamo, esses neurônios se

misturam aos táteis e projetam-se para S-I (Lent, 2004).

O nervo trigêmeo é o principal nervo responsável pela sensibilidade

somestésica da face (V par craniano), que inclui pele, mucosa nasal e oral,

dentes, ossos maxilares, córnea, gengivas, parte anterior da língua e até a

duramáter. Sua estrutura é caracterizada pela subdivisão anatômica em três

ramos: oftálmico, maxilar e mandibular, além de um complexo nuclear que se

estende desde o mesencéfalo até a medula espinal, para onde convergem as

informações sensitivas. Outros nervos cranianos envolvidos na sensibilidade

facial são: glossofaríngeo, vago e alguns ramos do nervo facial relacionados à

percepção somestésica do conduto auditivo (Siqueira, 2011).

3.1.2 Sensibilidade olfativa

As substâncias químicas que vêm pelo ar são percebidas pelo sistema

olfativo, cuja função é promover a transdução em impulsos neuronais através

de neurônios sensitivos localizados na mucosa nasal (Lent, 2004). Este

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sistema apresenta peculiaridades, como: ausência de gânglio que contenha os

corpos celulares dos aferentes primários; área cortical de projeção do tipo

alocórtex e não isocórtex; não há cruzamento das vias olfativas, ao lado oposto

(Machado, 2006).

O epitélio olfativo apresenta milhões de neurônios sensitivos bipolares

entremeados por células de suporte do tipo glia, acima da camada basal de

células germinativas (Kandel et al., 2003). A população de quimiorreceptores é

renovada totalmente a cada seis a oito semanas (Lent, 2004). Trata-se de

quimiorreceptores cujos dendritos apontam em direção à cavidade nasal,

terminando em uma intumescência bulbosa que emite de 12 a seis cílios finos.

Estes, ficam imersos no muco nasal. É na membrana dos cílios que se

encontram as moléculas receptoras responsáveis pela transdução

quimioneural. Do outro polo do neurônio receptor, emerge um axônio

direcionado para cima que penetra no crânio. O conjunto de axônios dos

quimiorreceptores ou aferentes primários formam filetes nervosos que

compõem o nervo olfatório (Lent, 2004). O muco que banha os cílios fornece o

ambiente molecular e iônico apropriado para a detecção de odores (Kandel et

al., 2003).

Os neurônios de segunda ordem estão localizados no bulbo olfatório, e

dividem-se em células mitrais e tufosas. Estas recebem sinapses

axodendríticas das fibras olfatórias primárias nos glomérulos, de onde partem

projeções ao córtex cerebral periforme ou paleocórtex, interconectado com o

neocórtex e também com o tálamo. As células mitrais e tufosas projetam-se

também para outras regiões prosencefálicas, como o núcleo olfatório anterior, o

tubérculo olfatório, a área entorrinal e o complexo amigdaloide. Todas essas

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regiões alojam os neurônios de terceira ordem que se projetam para o

hipotálamo e hipocampo, conectando o sistema olfatório ao sistema límbico.

Essas vias são responsáveis pela participação da olfação em comportamentos

motivados (Lent, 2004) (Figura 2).

FONTE:Lent, 2004. Figura 2- Neuroanatomia olfativa. Os quimioceptores localizam-se na mucosa

olfatória. Aferentes de segunda ordem partem do bulbo em direção ao córtex e outras regiões encefálicas.

Diversas condições podem alterar a percepção olfativa. A obstrução é a

causa mais comum de distúrbio olfatório, além da infecção das vias aéreas

(Palheta Neto et al., 2011). Lesões do nervo olfatório (ou do bulbo e trato

olfatório) determinam diminuição ou perda da olfação (hiposmia ou anosmia).

Podem ocorrer traumatismos cranianos que afetam a lâmina crivosa do

etmoide. Além disso, processos compressivos tumorais podem causar

anormalidades no bulbo e/ou trato olfatório, e injúria localizada diretamente no

córtex pode provocar agnosia olfativa (Doretto, 2005). Dentre as doenças

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associadas à disfunção olfatória, podem ser incluídas: doença de Parkinson,

esclerose múltipla, hidrocefalia, acometimento da artéria cerebral próximo a

sua origem, meningite basilar, abscessos do lobo frontal, hanseníase e

doenças psiquiátricas, como a esquizofrenia. A exposição a substâncias

tóxicas e determinadas medicações (beta-adrenérgicos, colinérgicos e agentes

peptidérgicos) também pode alterar o olfato (Palheta Neto et al., 2011).

3.1.3 Sensibilidade gustativa

A gustação é a percepção das moléculas que se dissolvem na saliva

através dos botões gustativos presentes na boca (Lent, 2004; Guyton e Hall,

2003). Divide-se em quatro modalidades: salgado, azedo, amargo e doce, além

de outros dois controversos (água pura e glutamato monossódico). Há

influência das necessidades metabólicas dos indivíduos nesta percepção, além

do simples desejo individual. É importante salientar que parte do paladar é

composta pela percepção olfativa e também pela percepção trigeminal

somestésica intraoral (Guyton e Hall, 2003).

Os botões gustatórios no ápice da língua relacionam-se às modalidades

doce e salgada, e os situados nas margens e parte posterior da língua estão

associados à sensibilidade do azedo e amargo respectivamente (Afifi e

Bergman, 2007). Além da língua, há botões gustativos espalhados pela

mucosa oral, faringe, laringe e porções superiores do esôfago. Os botões

encontram-se em papilas gustativas, sendo que no total há cerca de cinco mil

botões, 75% deles na língua (Lent, 2004).

Existem três tipos morfológicos de papilas: fungiformes (assemelham-se

a um pino e localizam-se nos dois terços anteriores da língua); circunvaladas

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(circundadas por um sulco, encontram-se na parte posterior da língua); e

foliadas (similares a folhas cercadas por um sulco, presentes na borda da

língua) (Kandel et al., 2003). Nos botões gustativos, há dois tipos de

receptores: claros e densos. No ápice de cada célula receptora há

microvilosidades que aumentam a área da superfície receptora; ao redor das

mesmas, há células fusiformes que são secretoras. Na base de cada botão há

células basilares, responsáveis por repor as células receptoras perdidas (Afifi e

Bergman, 2007).

As células primárias do sistema gustatório são os quimiorreceptores; as

células de segunda ordem são os neurônios genuínos, bipolares; estas

transformam o estímulo em potenciais de ação que caminham até o sistema

nervoso central. Os neurônios periféricos ficam em gânglios situados em

ambos os lados do crânio, cujos prolongamentos distais reúnem-se em três

nervos cranianos: facial (VII); glossofaríngeo (IX); e vago (X) (Lent, 2004). Os

prolongamentos axonais proximais convergem para o núcleo do trato solitário.

Os neurônios de segunda ordem, que se situam no núcleo do trato

solitário, projetam-se diretamente para o núcleo ventral posterior medial do

tálamo. Os neurônios de terceira ordem fazem sinapse com o córtex insular ou

gustativo primário. Há também conexões com núcleos cranianos motores e

também com o hipotálamo e a amígdala, regiões límbicas relacionadas à fome

e às emoções (Lent, 2004) (Figura 3).

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FONTE:Lent, 2004.

Figura 3- Neuroanatomia gustativa. As fibras aferentes convergem ao núcleo do trato solitário, de onde parte a via aferente até chegar ao córtex.

Dentre as condições que podem afetar a percepção gustativa

(disgeusias), incluem-se medicamentos, radioterapia, lesão proximal do nervo

facial, paralisia de Bell, neoplasias malignas, psicoses e transtorno de

conversão. Há um aumento da sensibilidade gustativa em pacientes com

doença de Addison, deficiência da hipófise e fibrose cística. Lesões do ramo

lingual do trigêmeo também podem cursar com queixa gustativa (Palheta Neto

et al., 2011).

3.1.4 Sensibilidade dolorosa

Segundo a Associação Internacional para o Estudo da Dor (International

Association for the Study of Pain), dor é uma experiência sensitiva e emocional

desagradável, decorrente de lesão real, potencial ou definida em tais termos.

Trata-se de mecanismo de alerta e de defesa que sinaliza algo nocivo

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proveniente do meio externo ou interno. Os estímulos são captados por

nociceptores distribuídos em praticamente todos os tecidos corpóreos, exceto

no próprio sistema nervoso central. Os nociceptores podem ser específicos a

uma modalidade de estímulo ou polimodais (sensíveis a estímulos químicos,

mecânicos e / ou térmicos) (Lent, 2004). As fibras nervosas relacionadas a

nociceptores, que são terminações nervosas livres, são finas e pouco

mielinizadas ou amielinizadas (tipos Aδ ou C, respectivamente), portanto de

condução lenta (Alves Neto et al., 2009).

A transdução de estímulos dolorosos térmicos depende da abertura de

canais não-seletivos de cátions através de diversos tipos de receptores,

incluindo vaniloides (VR1), receptores de frio e mentol tipo I (CMR1) e

receptores de potencial melastatina 8 (TRPN-8). Nociceptores mecânicos

envolvem canais RPT, e receptores químicos incluem aqueles relacionados a

substâncias inflamatórias como:bradicinina, histamina, serotonina, leucotrienos,

substância P (sP), fator de ativação plaquetário, purinas, lipídios, fatores de

crescimento, íons (radicais ácidos e K+), peptídeos (acetilcolina), metabólitos

do ácido araquidônico, prostaglandinas, tromboxana-A, citocinas, interleucinas

e a adenosina monofosfato cíclica (AMPc) (Alves Neto et al., 2009).

Os gânglios sensitivos possuem os corpos celulares dos neurônios de

primeira ordem, sendo que estes fazem sinapse com neurônios de segunda

ordem nos núcleos trigeminais e no corno posterior da medula espinal.

Neurônios do corno posterior da medula espinal emitem projeções que se

cruzam na medula para o outro lado e incorporam-se ao feixe espinotalâmico

que ascende ao tronco encefálico, onde se encontram com fibras provenientes

do complexo nuclear trigeminal formando o lemnisco espinhal. Impulsos

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sensitivos de dor rápida (Fibras Aδ) seguem para os núcleos talâmicos

posteriores e ventral posterior, e impulsos de dor lenta (Fibras C) projetam-se

também para o hipotálamo, onde estão situados neurônios que controlam a

secreção hormonal e vísceras, e para a formação reticular, que promove o

estado de alerta fisiológico e psicológico. Os neurônios de terceira ordem

emitem projeções para o córtex sensitivo primário. Há, também, projeções para

o sistema límbico, envolvido em reações comportamentais e emocionais (Lent,

2004).

Os principais neurotransmissores envolvidos na percepção dolorosa são:

glutamato, sP e peptídeo ralacionado ao gene da calcitonina (CGRP) (Alves

Neto et al., 2009).

3.1.5 Testes sensitivos quantitativos

Testes sensitivos quantitativos (TSQ) incluem diversos procedimentos

psicofísicos que promovem a obtenção de dados quantitativos como estimativa

do funcionamento do sistema aferente. Dentre outras medidas, a determinação

do limiar sensitivo caracteriza uma faixa a partir da qual é possível detectar o

mínimo estímulo. Há dois tipos de testes: aqueles que incluem tempo de

reação e os que o excluem. O método dos limites é mais rápido porém inclui o

tempo de reação; o indivíduo deve informar a detecção da sensação com o

aumento da intensidade do estímulo a uma velocidade constante. O indivíduo

pode também ser submetido à redução de intensidade de estímulo a uma

velocidade constante e então detectar o desaparecimento da sensação (Boivie

et al., 1993). Por outro lado, no método de níveis, ocorre a apresentação de

uma série de estímulos de amplitude aleatória e a média de limiar é calculada,

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o que exclui o tempo de reação (Verdugo et al., 2006). Os dois métodos

apresentam suas indicações e, no caso de indivíduos cujo tempo de reação

está reduzido, utiliza-se o teste que exclui tempo de reação (Boivie et al.,

1993).

Na avaliação sensitiva tátil, são utilizados filamentos de nylon aplicados

perpendicularmente à pele, sempre em ordem crescente, evitando contato

visual do indivíduo com a área em avaliação (Verdugo et al., 2006). Testes

sensitivos químicos (gustação e olfação) também são realizados de forma

semelhante, com a aplicação crescente de substâncias que correspondem às

modalidades a serem testadas (Siviero et al., 2010).

Por se tratar de algo subjetivo, fatores psicológicos e o contexto em que

o estímulo ocorre podem influenciar o limiar sensitivo (Kandel et al., 2003).

Para a realização adequada do exame, além do conhecimento em

neuroanatomia, devem-se considerar fatores como cooperação e atenção do

sujeito, além de aspectos ambientais e relacionados ao ciclo circadiano

(Campbell, 2007 e Verdugo at al., 2006). Falta de atenção, fadiga, irritação

mental e barulho podem induzir a alterações nos resultados de TSQ (Boivie et

al., 1993).

Dentre as anormalidades somestésicas que podem ser identificadas

através de TSQ, inclui-se: disestesias, hipoestesias, hipoalgesias, anestesias,

parestesias, alodínia, hiperalgesia, aloestesia tátil (incapacidade de localizar o

estímulo adequadamente), astereognosia (ausência da sensibilidade tátil

espacial), hipopalestesia (sensação vibratória diminuída), e apalestesia

(sensação vibratória ausente) (Brust, 2000; Campbell, 2007). Trata-se de

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ferramenta auxiliar importante na avaliação de diversas condições neurológicas

e neuropáticas (Alves Neto et al., 2009).

Vários fatores podem interferir nos TSQ além do tempo de reação,

como: tamanho da área do estímulo (quanto maior a área do estímulo, menor o

limiar), temperatura inicial ou temperatura de adaptação, e velocidade de

variação do estímulo. Outros aspectos como área anatômica investigada,

idade, sexo, morbidades associadas, hábitos entre outros também podem

influenciar (Verdugo et al., 2006).

3.2 Ciclo menstrual e oscilações hormonais

O hormônio liberador de gonadotrofina (GnRH) é sintetizado pelas

células neurossecretoras do hipotálamo, secretado em pulsos (a cada 90

minutos) e transportado pelo sistema porta-hipofisário até o lobo anterior da

hipófise, onde estimula a liberação de dois hormônios produzidos por esta

glândula: o hormônio folículo estimulante (FSH) e o hormônio luteinizante (LH)

(Moore e Persaud, 2000; Guyton e Hall, 2003). Ambos realizam mudanças

cíclicas nos ovários, sendo que o FSH atua desenvolvendo os folículos e

estimulando a produção de estrógeno pelas células foliculares, e o LH promove

a ovulação e a formação do corpo lúteo, além da estimulação deste na

produção de estrógeno e progesterona (Moore e Persaud, 2000).

O LH estimula a proliferação das células da granulosa, e leva ao

surgimento de uma segunda massa de células chamadas de teca. A teca se

divide em duas camadas: teca interna (produtora de estrógeno e

progesterona); e teca externa (Guyton e Hall, 2003). O estrógeno secretado

pelos folículos faz com que as células da granulosa aumentem a quantidade de

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receptores para FSH. Este, por sua vez, induz a produção de receptores de LH

nas mesmas células, levando à proliferação das células tecais foliculares e

formando os chamados folículos vesiculares (Guyton e Hall, 2003).

Embora ocorra a promoção do crescimento de seis a 12 folículos a cada

ciclo menstrual pelo FSH, após a primeira semana apenas um continua a se

desenvolver, sendo que os demais passam por uma involução ou atresia. A

atresia é muito importante para que apenas um óvulo seja produzido, o ideal

para a gestação humana (Guyton e Hall, 2003).

Em torno de 14 dias ou metade do ciclo, há um surto de crescimento

folicular que resulta em um intumescimento cístico ou saliência na superfície do

ovário. Neste local, aparece uma mácula ou estigma, e esta fase é

acompanhada por altos níveis séricos de estrógeno, o que aumenta a produção

hipofisária de LH. A ovulação é desencadeada por um pico na produção deste

hormônio (em geral, 12 a 24 horas após o pico) que leva ao rompimento

enzimático do folículo e expulsão do ovócito secundário pela pressão

intrafolicular e contração muscular desencadeada por prostaglandinas. A

digestão enzimática da parede do folículo parece ser um dos principais

mecanismos da ovulação (Moore e Persaud, 2000).

Então, ocorre um colabamento das paredes foliculares e da teca,

produzindo dobras que se tornam uma glândula sob influência do LH,

recebendo o nome de corpo lúteo (secretor de progesterona e pequena

quantidade de estrógeno). É a progesterona que faz as glândulas endometriais

secretarem e prepararem o endométrio para a possível implantação do

blastocisto. Simultaneamente, a alta concentração sérica de estrógeno induz

uma redução na produção hipofisária de FSH e LH (Moore e Persaud, 2000).

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Quando o ovócito não é fertilizado, o corpo lúteo degenera cerca de 10 a

12 dias após a ovulação, mais ou menos 2 dias antes de começar a

menstruação, formando um tecido cicatricial chamado de corpo albicans.

Nesse momento, ocorre a parada súbita de secreção de estrógeno e da

progesterona, o que permite o retorno à produção de FSH e LH pela hipófise,

iniciando novo ciclo (Moore ePersaud, 2000).

Os hormônios produzidos pelos folículos ovarianos e pelo corpo lúteo

produzem modificações cíclicas no endométrio, que é a mucosa que reveste a

cavidade uterina. O dia em que começa o fluxo menstrual é designado o

primeiro dia do ciclo menstrual. Em 90% das mulheres, a duração dos ciclos

varia de 23 a 35 dias (Moore e Persaud, 2000). O ciclo menstrual é dividido em

menstruação, fase proliferativa e fase secretora (Berek, 2008).

O fluxo menstrual que sai pela vagina consiste em quantidades variáveis

de sangue com tecido endometrial (Moore e Persaud, 2000). Esse tecido

eliminado representa os dois terços superficiais do endométrio, chamado de

decídua funcional, formado por uma zona intermediária profunda (estrato

esponjoso) e uma zona compacta superficial (estrato compacto). A eliminação

da decídua funcional ocorre devido à queda da produção de estrógeno e

progesterona pelo corpo lúteo, promovendo um espasmo vascular da artéria

espiral que resulta em isquemia endometrial. Simultaneamente, há a ruptura

dos lisossomas e liberação de enzimas proteolíticas que promovem a

destruição local adicional do tecido (Berek, 2008). A fase menstrual dura em

média 4 a 5 dias, com perda sanguínea de 20mL a 60 mL (Moore e Persaud,

2000; Berek, 2008).

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A fase proliferativa dura cerca de 9 dias e é caracterizada pelo

crescimento mitótico progressivo da decídua funcional, no preparo para a

implantação do embrião. Tal fato ocorre em resposta aos níveis crescentes de

estrógeno, devido ao crescimento dos folículos ovarianos, provocando uma

transformação nas glândulas endometriais de retas, estreitas e curtas para

longas e tortuosas (Moore e Persaud, 2000; Berek, 2008).

Por fim, a fase secretora dura cerca de 13 dias e coincide com a

formação, funcionamento e crescimento do corpo lúteo (Moore e Persaud,

2000). Em 48 a 72 horas após a ovulação, há o início da secreção de

progesterona o que modifica o aspecto histológico do endométrio, ocorrendo a

presença de produtos secretores ricos em proteína eosinofílica na luz

glandular. Entre o sexto e sétimo dia pós-ovulatório, a atividade secretora das

glândulas é máxima e o endométrio apresenta o preparo ideal para a

implantação do blastocisto. No final da fase secretora, as artérias espirais

tornam-se mais visíveis e depois alongam-se e espiralam-se. Cerca de dois

dias antes da menstruação, há um aumento no número de linfócitos

polimorfonucleares que migram do sistema vascular, anunciando o colapso do

estroma endometrial e o início do fluxo menstrual (Berek, 2008) (Figura 4).

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FONTE:Moore e Persaud, 2000. Figura 4- Ciclo Menstrual. Variação dos hormônios e a sua repercussão no

desenvolvimento dos folículos ovarianos e decídua basal.

Os distúrbios do ciclo menstrual e da fisiologia menstrual podem estar

associados a vários estados patológicos, incluindo infertilidade, abortamento

recorrente e neoplasia maligna (Berek, 2008). Entre eles, inclui-se: menorragia

(aumento do fluxo menstrual com intervalos irregulares), metrorragia (aumento

do fluxo, da duração da menstruação e intervalos irregulares), hipermenorreia

(aumento no fluxo) e hipomenorreia (redução do fluxo). Anormalidades de

sangramento podem ocorrer por discrasias sanguíneas, medicamentos,

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complicações da gestação, alterações uterinas, do colo do útero e da vagina

(cervicite, endometrite, pólipo endometrial entre outros), e em casos de

doenças crônicas, como no hipo e hipertireoidismo e na diabetes (Rossi et al.,

2007; Berek, 2008). O excesso de estrógeno pode causar ciclos anovulatórios,

menstruação de forma intensa e/ou prolongada, com intervalos longos e

irregulares; por outro lado, deficiência de progesterona pode causar

sangramento tipo mancha devido à insuficiência do corpo lúteo (Rossi et al.,

2007).

A amenorreia é definida como a ausência de menstruação no menacme

(Berek, 2008; Girão et al., 2009), e sua etiologia envolve o útero (septos

vaginais, síndrome de Asherman, anomalias Mullerianas), os ovários (cistos,

infecções, síndrome de Turner) ou o sistema nervoso central e o hipotálamo

(exemplos: estresse, infecções neurais, distúrbios nutricionais, excesso de

exercícios físicos, traumatismo craniano, neoplasias) (Rossi et al., 2007).

Muitas doenças podem estar correlacionadas a cada uma das

intercorrências descritas acima. Entre elas, destacam-se a endometriose e a

hiperprolactinemia (que causam irregularidades no ciclo menstrual), a síndrome

dos ovários policísticos (causa amenorreia e sangramento uterino anormal), a

anovulação (pode provocar hemorragia prolongada e intensa, especialmente

quando ocorre a longo período) (Berek, 2008; Girão et al., 2009; Rossi et al.,

2007).

3.3 Influência sexual na sensibilidade

Estudos científicos demonstram que há diferenças entre homens e

mulheres quanto à sensação dolorosa tanto em condições fisiológicas quanto

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na dor crônica. Isto pode decorrer de fatores biológicos hormonais atrelados a

fatores sociais, como a identidade de gênero (Klatzkin et al., 2010; Greenspan

et al., 2007). Além da sensação álgica, outras percepções também aparentam

diferenças sexuais, e acredita-se que os hormônios envolvidos no ciclo

menstrual, principalmente estrógeno e progesterona, participam de alguma

maneira na neuromodulação (Tommaso, 2011; Kuga et al., 1998; Navarrete-

Palacios et al., 2003). Porém, nenhum estudo até o momento avaliou de forma

efetiva essa associação, achado que pode contribuir para o esclarecimento de

mecanismos fisiológicos das diferenças sexuais sensitivas, principalmente na

dor crônica.

Na população em geral, as mulheres reportam maior intensidade,

duração e frequência da dor se comparadas aos homens, além de serem mais

propensas a desenvolverem cefaleias, disfunções temporomandibulares,

fibromialgia, e síndrome do intestino irritável (Klatzkin et al., 2010). Além da

diferença sensitiva nas síndromes dolorosas, as percepções sensitivas em si

(somestésicas, gustativas e olfativas) nas mulheres aparentam ser mais

acuradas do que nos homens (Yamauchi et al., 2002; Greenspan et al., 2007;

Thuerauf, 2009; Yang et al., 2010; Blankenburg et al., 2010; Matos et al., 2011;

Vierhaus et al., 2011; Purdon et al.,2011). Nesse contexto de diferença sexual,

é importante diferenciar os termos “sexo” e “gênero” nos estudos de dor. O

primeiro termo se refere às diferenças biológicas; já o segundo está baseado

em um fenômeno social envolvendo questões como a

masculinidade/feminilidade e identidade de gênero (Greenspan et al., 2007).

Aspectos relacionados ao gênero podem influenciar algumas

características álgicas, mas são as diferenças sexuais que parecem modular a

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sensibilização e a cronificação (Cai et al., 2001; Cairns et al., 2003; Dong et al.,

2007). Aspectos psicossociais e culturais estão mais relacionados ao

enfrentamento e ao comportamento doloroso (Vierhaus et al., 2011), bem como

à tolerância maior da dor nas mulheres (Alabas et al., 2011).

Atualmente, os estudos têm investigado diferenças cromossômicas e

hormonais entre os sexos, o que envolve também vias relacionadas ao

estresse, ao humor e à expectativa. Com relação a esses últimos três fatores,

as pesquisas mostram que fatores psicossociais contribuem para a percepção

da dor em humanos e podem influenciar na diferença da dor entre homens e

mulheres (Greenspan et al., 2007). Por outro lado, a influência sexual na

neuromodulação atua aumentando a amplitude do potencial de ação do nervo

sensitivo feminino nos nervos medial, ulnar e radial superficial (Fujimaki et al.,

2009). Ainda há controvérsias quanto à relação entre limiares sensitivos e ciclo

menstrual (Hellstrom e Anderberg, 2003; Aloisi e Bonifazi, 2006; Nisenblat et

al., 2010; Klatzkin et al., 2010; Vigil et al., 2014), e atualmente pouco se sabe

sobre a ação de hormônios estrógenos e andrógenos no tecido nervoso

(Greenspan et al., 2007).

3.3.1 Evidências sensitivas e concentração de hormônios sexuais

Muitas pesquisas sugerem alguma correlação entre hormônios sexuais,

percepção álgica e sensibilidade em geral, porém, poucos estudos utilizaram

procedimentos neurofisiológicos. Aparentemente o mecanismo envolve vias

nervosas inibitórias e excitatórias (Tommaso, 2011), além da diminuição da

resposta muscular para a adrenalina pelo estrógeno e modificação na produção

de substâncias vasoativas, o que desencadeia a dor (Hellstrom e Anderberg,

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2003; Aloisi e Bonifazi, 2006). Baixos níveis de estrógeno foram associados à

maior gravidade de sintomas dolorosos em diversos relatos como migrânea,

disfunção temporomandibular, fibromialgia e síndrome do intestino irritável

(Lacovides et al., 2015). Entretanto, ainda há controvérsias e o uso de

contraceptivos orais parece ser fator de risco para dor nas costas ou disfunção

temporomandibular (Lacovides et al., 2015).

De uma forma geral, os hormônios sexuais modulam o sistema nervoso

e os sistemas imunológico, esquelético e cardiovascular. No caso do sistema

sensitivo, há receptores de estrógeno no gânglio da raiz dorsal, nos neurônios

do complexo trigeminal do tronco cerebral e áreas do cérebro mediadoras do

estresse, ansiedade e regiões de dor (Craft, 2007).

Os resultados científicos quanto à avaliação de sensibilidade durante o

ciclo menstrual são controversos. Quando avaliados os limiares de detecção

dolorosa, térmica e elétrica, aparentemente há um aumento entre o 1º e o 14º

dias e no 20º dia do ciclo, o que foi relacionado ao nível salivar de testosterona

em um estudo (Teepker et al., 2010). Tousignant-Laflamme e Marchand (2009)

observaram correlação positiva entre frequência cardíaca e intensidade

máxima de dor somente durante a fase menstrual do ciclo, que se caracteriza

pelos baixos níveis de estrógeno e progesterona. Ring e colaboradores (2009)

observaram correlação positiva entre estrógeno e progesterona com a

sensibilidade dolorosa na fase lútea, o que também foi encontrado com relação

à sensibilidade térmica ao frio por Stening e colaboradores (2007).

Mudanças no epitélio nasal sensitivo associaram-se ao ciclo menstrual e

parecem relacionar-se à variação olfativa nas mulheres (Navarrete-Palacios et

al., 2003). Parece também haver facilitação do processamento olfativo na fase

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ovulatória, o que se correlacionou com níveis elevados de cortisol (Pause et al.,

1998). O uso de contraceptivos orais não interferiu na diferença de limiares

olfativos femininos (Doty e Cameron, 2009).

A sensibilidade gustativa altera-se no primeiro trimestre de gestação, e

há redução do limiar doce após a menopausa (Saluja et al., 2014) e no período

pré-ovulatório (Than et al., 1994). Além disso, há um aumento considerável de

consumo de doces no período pré-menstrual, que parece ser mediado pelo

estrógeno (Dalvit, 1981). Entretanto, os mecanismos permanecem obscuros

(Kuga et al., 1999; Kolble et al., 2015).

Em mulheres que realizaram fertilização in vitro, observou-se correlação

entre níveis elevados de estrógeno e a resposta dolorosa ao calor, porém, é

importante lembrar que os níveis do estrógeno, nesse caso, estão acima dos

níveis fisiológicos (Nisenblat et al., 2010).

Rezaii e colaboradores (2012) avaliaram a modulação condicionada da

dor durante o ciclo menstrual e puderam observar que a intensidade da dor foi

suprimida em todas as fases do ciclo menstrual, sendo este maior durante a

fase ovulatória, quando os níveis de estrógeno estão altos e os níveis de

progesterona estão baixos. Migrânea, dor temporomandibular e dor lombar se

apresentaram mais incidentes na fase lútea, quando o estrógeno e a

progesterona estão diminuídos. Embora esteja clara a influência dos hormônios

sexuais na resposta à dor, a percepção da variação sensitiva da dor durante o

ciclo menstrual pareceu nula de acordo com revisão bibliográfica recente

(Lacovides, 2015). É importante destacar que algumas mulheres podem ser

mais vulneráveis as ações dos hormônios sexuais na sensibilidade, e que

outros fatores estão envolvidos nesse fenômeno, tais como experiências

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prévias da dor, humor, sono, fatores culturais e sociais (Vigil et al., 2014).

Baixos níveis de estrógeno também se correlacionaram com menor modulação

emocional da dor (Rhudy et al., 2013).

Hormônios sexuais podem modificar a expressão de várias substâncias,

inclusive citocinas e mediadores inflamatórios, que tem um papel importante na

gestação e parto e pode mediar a alta prevalência de dor na mulher. Esses

mediadores facilitam não só a hiperalgesia periférica bem como a

neuroplasticidade no sistema nervoso central, que é responsável pelo

espalhamento da dor. O ciclo menstrual, nesse contexto, pode ser considerado

um dos numerosos fatores que influenciam mecanismos de neuromodulação

(Tommaso, 2011).

3.4 Avaliação salivar de estrógeno e de progesterona

Hormônios esteroides passam para a saliva por dois mecanismos

distintos: difusão intracelular, quando são solúveis e atravessam as

membranas das células acinares, e ultrafiltração, quando possuem peso

molecular pequeno e passam pelas junções das células acinares. Assim, a

concentração salivar reflete a porção livre (não conjugada) desses hormônios

no plasma (Wood, 2009). Há pequeno metabolismo de progesterona em 20α-

hidroxi-4-pregnen-3-ona principalmente na glândula submandibular, o que não

chega a interferir nos seus níveis salivares (Wood, 2009). Diversos autores

confirmaram que esse método de avaliação de níveis hormonais é

extremamente confiável (Gombe, 1977; Choe et al., 1983; Sufi et al., 1985).

Celec e colaboradores (2009) avaliaram estrógeno, progesterona e

testosterona durante o ciclo menstrual de 17 mulheres, e verificaram que a

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26

variação desses mesmos hormônios na saliva coincide com a variação dos

hormônios séricos. Assim, trata-se de mecanismo seguro e eficaz

especialmente indicado quando são necessárias diversas avaliações

sequenciais de acordo com o protocolo de pesquisa, o que foi também

corroborado por Shirtcliff e colaboradores (2000), além de outros autores

(Sherman e LeResche, 2006; Lacovides et al., 2015).

Para a detecção da ovulação, pode-se utilizar o pico de LH através da

investigação na urina, o que é acessível e possui alto grau de especificidade e

sensibilidade. A mensuração sanguínea e salivar dos níveis de progesterona

também pode confirmar a ovulação, mas a mensuração dos níveis séricos é

ainda o mais usado e considerado o padrão ouro para as pesquisas clínicas,

embora já comprovada a eficácia da saliva para esse tipo de avaliação

(Greenspan et al., 2007).

Hormônios mensurados na saliva refletem uma fração do hormônio que

possui efeito biológico, cuja coleta não é invasiva e livre de dor. Com

apropriadas instruções, as participantes do estudo podem coletar a saliva em

casa e guardar no freezer de modo a não deteriorar a amostra (Greenspan et

al., 2007); auxilia em pesquisas que realizam coletas de hora em hora ou por

vários dias, e tem menor possibilidade de contaminar o pesquisador se

comparado ao sangue (Shirtcliff et al., 2000).

É importante considerar o ciclo circadiano, pois, este influencia tanto na

percepção sensitiva quanto nas concentrações de estrógeno e progesterona

(Shirtcliff et al., 2000; Ahn et al., 2011). Assim, a coleta deve ser realizada

sempre na mesma hora em todas as avaliações.

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27

O uso de gomas ou limão para estimular a saliva são contraindicados,

(Lewis, 2006) pois, alteram a concentração hormonal (Shirtcliff et al., 2000;

Groschl et al., 2001; Anders, 2010). O mesmo observa-se com o uso de

algodão (Shirtcliff et al., 2000). Não se verificou interação quanto ao cuidado

dos dentes ou o horário das refeições anteriores à coleta (Groschl et al., 2001).

O armazenamento à -20oC deve ser imediato, e caso a amostra for

guardada para análise posterior, a temperatura de -80oC é a ideal (Lewis,

2006), devendo ser descongelada somente uma vez (Shirtcliff et al., 2000).

Uma séria desvantagem refere-se ao fato de que os níveis hormonais

salivares podem ser abaixo dos níveis de detecção, além do risco de alteração

do resultado quando há corticosteroides, especialmente exógenos (Lewis,

2006). A matriz da saliva contém várias enzimas que, em altas dosagens,

podem causar a decomposição dos esteroides, e microrganismos como

estreptococos podem destruir componentes salivares (Groschl et al., 2001).

Além disso, o estrógeno salivar tem um padrão pulsátil com ciclos de 60-90

minutos, o que pode interferir nos valores de acordo com o momento da coleta;

e a progesterona tem maior variabilidade ao longo de 24 horas se comprado as

concentrações séricas (Wood, 2009).

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28

4 CASUÍSTICA E MÉTODOS

Foram avaliadas 39 mulheres saudáveis em período fértil (19 a 47 anos)

com ciclos regulares. A amostra foi calculada estatisticamente e consistiu de

estudantes da Universidade de São Paulo e voluntárias do Departamento de

Neurologia da FMUSP que foram orientadas quanto aos propósitos desta

pesquisa, preencheram os critérios e consentiram em participar do estudo

(ANEXOS A e B). Esta pesquisa foi financiada pela Fundação de Amparo à

Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), protocolo número 2012/09369-4.

Critérios de inclusão: mulheres no período fértil, saudáveis, pressão

arterial dentro dos padrões de normalidade e ciclos menstruais regulares.

Critérios de exclusão: menores de 18 anos, ciclo menstrual irregular

(ciclo com duração menor que 25 dias ou maior que 30 dias); mulheres na

menopausa; uso de contraceptivos hormonais nos últimos 6 meses, uso de

medicamentos para dor (analgésicos e anti-inflamatórios) dentro de 24 horas

antecedentes a participação na pesquisa, uso de opioides, antidepressivos,

ansiolíticos; história de histerectomia; gravidez ou tentativa de gravidez nos

últimos seis meses; mulheres em fase de amamentação; histórico de doença

cardiovascular, neuroendócrina, dor crônica e/ou aguda, desordens

psiquiátricas, depressão, neuropatia central e periferia, doenças ginecológicas,

como dismenorreia, amenorreia, menorragia, ovários policísticos, endometriose

e anovulação; realização de exercício físico uma hora antes dos testes; índice

de massa corpórea maior que 35 e fumantes.

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29

Desenho do Estudo: Longitudinal descritivo.

Métodos de avaliação:

As avaliações ocorreram em três momentos do ciclo reprodutivo

feminino: fase menstrual (1°-5° dia do ciclo menstrual); fase folicular (6°-10°

dia); e fase lútea (19°-24° dia). O primeiro dia do ciclo foi considerado o

primeiro dia da menstruação, informado pela própria paciente. Todas as 39

mulheres compareceram para as avaliações nas fases menstrual e folicular,

porém, 5 mulheres não compareceram para a avaliação na fase lútea por

razões particulares.

4.1 Avaliação hormonal salivar

Os hormônios estrógeno e progesterona foram avaliados pela saliva

através de uma técnica validada que permite de forma mais fácil e rápida

análises sequenciais em um curto período de tempo (período menstrual). Trata-

se de método comprovadamente seguro e indicado para análises repetidas em

curto espaço de tempo. Também, reduz o estresse e contribui para a adesão à

pesquisa.

As pacientes estavam em jejum por pelo menos 2 horas antes da coleta

de saliva, que foi realizada em local bem ventilado e iluminado. Elas foram

orientadas a não mascar chicletes ou balas e não fumar nesse mesmo período

anterior ao exame. Após acomodação confortável, as pacientes realizaram

bochecho com água destilada. A coleta foi realizada pelo método não

estimulado. O kit de coleta era composto por um pote de isopor com gelo

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picado, no qual colocou-se uma proveta de plástico graduada em mL, com um

volume máximo de 10 mL; nessa proveta encaixou-se um funil de plástico e

sobre este último, uma gaze para reter a espuma da saliva (Figura 5). As

mulheres foram orientadas a cuspir toda a saliva neste funil durante 10

minutos. Após a coleta, a análise de fluxo salivar foi realizada (quantidade de

saliva em mL/tempo de coleta em minutos).

Figura 5- Kit de coleta salivar. A proveta com o funil foram colocados em um

isopor com gelo picado.

As amostras de saliva foram imediatamente congeladas em freezer a -

80°C até o momento da análise. Para as análises de estrógeno e progesterona,

as amostras foram descongeladas, aquecidas a 57°C por 2 horas e

centrifugadas a 9000 x g por 4 minutos em 10°C. A concentração de estrógeno

e progesterona foi determinada por imunoensaio (enzyme-linked

immunosorbent assay – ELISA) através do kit comercial Enzo Life Science 17β-

Estradiol (ADI-900-174) e Progesterone (ADI-900-011). As amostras foram

colocadas em cavidades contendo o anticorpo IgG. Após, adicionou-se uma

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solução com o hormônio em análise e fosfatase alcalina, seguida do anticorpo

policlonal para o hormônio em questão (estrógeno ou progesterona). Após

incubações simultâneas em temperatura ambiente, lavou-se a placa. Então,

adicionou-se uma solução de fosfato p-nitrofenilo e, após, uma solução de

fosfato trissódico em água para leitura em 405 nm.

4.2 Testes sensitivos quantitativos (TSQ)

As mulheres foram submetidas a um protocolo padronizado de TSQ que

consiste de 9 testes agrupados conforme se segue:

- limiares gustativos e olfativos;

- limiares de percepção térmica: frio e calor;

- limiares de percepção mecânica: tátil, vibratória;

- percepção dolorosa: elétrica dentária, limiares de dor de profundidade e de

superfície.

As áreas avaliadas foram: a região do ramo maxilar do nervo trigêmeo (2

cm abaixo da pupila) e a região do antebraço, ambas no lado direito da

paciente. A percepção elétrica foi realizada no incisivo central superior direito

ou no dente mais próximo, quando este estava ausente.

Todas as mulheres foram avaliadas na posição sentada, com a cabeça

repousando em uma superfície lisa, em uma sala silenciosa com proteção

acústica nas paredes e a porta fechada. Apenas a paciente e a pesquisadora

estavam na sala. As mulheres foram orientadas a permanecer concentradas e

com os olhos fechados durante todo o exame, e deveriam informar quando

percebessem o estímulo e qual o estímulo aplicado. Apenas o pesquisador

tinha conhecimento da ordem dos estímulos.

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(1) Limiares gustativos (Siqueira et al., 2006; Siviero et al., 2010): as seguintes

quatro substâncias, correspondentes aos quatro sabores básicos, foram

testadas. Para cada teste, uma gota da substância foi aplicada à língua

iniciando-se na menor concentração, intercalada com uma gota de água

destilada; as concentrações foram aumentadas até que fosse identificado o

estímulo.

- Doce: glicose: 0,01M; 0,032M; 0,1M; 0,32M; 1,0M;

- Salgado: cloreto de sódio: 0,01M; 0,032M; 0,1M; 0,32M; 1,0M;

- Azedo: ácido cítrico: 0,00032M; 0,001M; 0,0032M; 0,01M; 0,032M;

- Amargo: ureia: 0,1M; 0,32M; 1,0M; 3,2M; 10,0M.

(2) Limiares olfativos (Siqueira et al., 2006a; Siviero et al., 2010): as pacientes

foram avaliadas através de solução de isopropanol em garrafas de polietileno

intercaladas com garrafas de água destilada, iniciando-se com a menor

concentração até que houvesse detecção do estímulo: 0,09%, 13,0%, 23,0%,

35,0%, 53,0%, 70,0%.

(3) Percepção térmica: testes térmicos foram realizados utilizando-se o

equipamento MSA (Somedic, Suécia). A temperatura de base é 32oC e a área

de contato do termodo de 9 X 9 mm. Os limiares de detecção de frio e calor

foram obtidos através da variação de temperatura em uma velocidade de

1oC/s. O indivíduo avaliado deveria apertar um botão ligado ao equipamento

quando percebesse o estímulo. Foram realizadas 3 medidas para cada limiar e

as médias e desvios padrões foram considerados na análise.

(4) Percepção mecânica tátil: limiares táteis foram obtidos através de um

conjunto padronizado de filamentos de vonFrey com pontas arredondadas de

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0,5 mm de diâmetro aplicados em velocidade constante e ordem crescente

através de um equipamento eletrônico (IITC, WoodlandHills, EUA).

(5) Percepção mecânica vibratória: limiares vibratórios foram testados através

do equipamento eletrônico Vibrometer (Somedic, Suécia) com um vibrador

pesando 650g e uma área redonda de contato de 1cm a 2cm utilizada

perpendicularmente nos pontos avaliados, com uma variação de estímulo de

1Hz/s. Da mesma forma que nas avaliações anteriores, o método de limites foi

utilizado, e o indivíduo deveria informar o aparecimento e o desaparecimento

do estímulo. O método de cálculo consiste na média entre os limiares de

aparecimento e desaparecimento detectados pela paciente.

(6) Percepção mecânica elétrica: limiares de detecção elétrica foram realizados

com o equipamento eletrônico Pulpotest (Sybronendo, EUA) que apresenta

uma área de contato de 1 cm2 para o estímulo e uma superfície metálica

posicionada a 2 cm de distância para fechamento do circuito elétrico. O

estímulo iniciava em 0 A e era aumentado em uma velocidade de 1 A/s até a

percepção mecânica elétrica pelo sujeito. Para a avaliação dentária, a

superfície de estímulo foi posicionada na área vestibular do dente em

avaliação, até que houvesse detecção do estímulo (sensação dolorosa).

(7) Percepção dolorosa de profundidade: limiares de dor de profundidade foram

avaliados com um algiômetro de pressão eletrônico (Somedic, Suécia) que

apresenta uma área de contato de 1 cm2 pressionada na pele com um aumento

de intensidade de 50kPa/s. As participantes foram orientadas a verbalizar o

momento exato em que a pressão aplicada era percebida como um estímulo

doloroso.

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34

(8) Percepção dolorosa (algiometria de superfície): limiares de dor de superfície

foram testados com agulhas descartáveis de 30 mm de comprimento por 0,7

mm de diâmetro aplicadas através de um equipamento eletrônico (IITC,

WoodlandHills, EUA) e as medidas coletadas em g/mm2. A metodologia de

aplicação foi similar à percepção dolorosa de profundidade, através do método

de limites.

(9) Reflexo córneo-palpebral: utilizando-se um filamento de vonFrey

padronizado de 0,05 g/mm2, ambos os olhos foram testados com relação à

presença do reflexo córneo-palpebral.

A figura 6 ilustra os equipamentos utilizados no Laboratório de

Sensibilidade.

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Figura 6. Equipamentos. A. Equipamento MSA Somedic (sensibilidade

térmica); B. Equipamento IITC Woodland Hills (sensibilidade mecânica tátil e algiometria de superfície); C. Pulpotest (sensibilidade elétrica); D Vibrometer Somedic (Sensibilidade vibratória); E. Algiômetro Somedic (algiometria de profundidade).

4.3 Cálculo da amostra e análise estatística

Quanto ao cálculo de amostra, considerou-se 80% de poder e 5% de

erro tipo I para fins de significância estatística, e acrescentou-se a esse N

resultante mais 10% para minimizar o efeito de perdas de continuidade de

seguimento (Sherman e LeResche, 2006). Todos os dados obtidos foram

tabulados e as frequências, percentagens, médias, desvios e erros padrão e

variações foram analisadas e comparadas. Após a avaliação descritiva inicial

as variáveis foram testadas quanto à distribuição através dos testes

Kolmogorov-Smirnov e gráficos Q-Q (testes para identificação de normalidade)

A

E D

C B

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(Hazra e Gogtay, 2016). Valores fora do padrão da curva foram considerados

missing (estrógeno abaixo de 5 pg/ml e acima de 400 pg/mL; progesterona

abaixo de 10 pg/mL). Os testes estatísticos utilizados foram: ANOVA, teste de

análise de variância multivariada (MANOVA), Friedman e coeficiente de

correlação de Spearman (Campos, 2001; Lira, 2004; Hair et al., 2009; Hazra e

Gogtay, 2016). Os cálculos foram realizados através do programa SPSS 17

para Windows. O nível de significância foi de 5%.

O presente estudo foi aceito para publicação na revista Pain Medicine

(Anexo C).

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5 RESULTADOS

Foram avaliadas 39 mulheres saudáveis com ciclos menstruais

regulares. Todas elas completaram as avaliações nas fases menstrual e

folicular, sendo que apenas 5 não compareceram para a avaliação na fase

lútea (12,8% da amostra). A idade média foi de 28,38 ±7,88 anos (19 a 47

anos); outros dados demográficos podem ser observados na tabela 1.

Nenhuma das participantes apresentou doenças sistêmicas ou outras

morbidades.

Tabela 1. Características sociodemográficas da amostra(N; %) (N=39).

Estado Civil Solteira 32 (82,06%)

Casada 7 (17,94%)

Cor

Parda 9 (23,08%)

Branca 27 (69,23%)

Amarela 3 (7,69%)

Profissão

Estudante 16 (41,03%)

Obstetriz 5 (12,83%)

Dentista 4 (10,26%)

Enfermeira 3 (7,70%)

Auxiliar administrativa 3 (7,70%)

Engenheira 2 (5,12%)

Costureira 1 (2,56%)

Médica 1 (2,56%)

Fisioterapeuta 1 (2,56%)

Professora 1 (2,56%)

Auxiliar de enfermagem 1 (2,56%)

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A figura 7 apresenta as médias de fluxo salivar de acordo com o período

do ciclo menstrual (fases menstrual, folicular e lútea). Houve um aumento do

fluxo salivar observado entre a fase menstrual e as demais.

Figura 7. Média de fluxo salivar de acordo com o período do ciclo menstrual

em mL/min.

* Teste de Friedman.

As médias de sensibilidade gustativa (doce, salgado, azedo e amargo),

olfativa e de sensibilidade somestésica (frio, calor, táctil, vibratória, elétrica e

dor de profundidade e superfície) estão apresentadas nas figuras 8 a 15. Pode-

se observar diferenças estatísticas em todas as avaliações realizadas, entre os

períodos, sendo que houve redução de limiar nas sensibilidades gustativas

(doce, azedo, amargo, salgado), olfatória, frio, vibratória e dor de profundidade,

e aumento de limiar nas sensibilidades ao calor, tátil, elétrica dentária e

dolorosa de superfície durante o ciclo menstrual.

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Figura 8. Médias de limiares gustativos (doce, salgado, azedo e amargo) (M) e

de limiar olfativo (%) de acordo com o período do ciclo menstrual.

* Teste de Friedman.

Figura 16. Médias de limiare olfativo (%) de acordo com o período do ciclo

* Teste de Friedman

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Figura 9. Médias de limiares térmicos ao calor de acordo com o período do

ciclo menstrual em oC.

* Teste de Friedman.

Figura 10. Médias de limiares térmicos ao frio de acordo com o período do

ciclo menstrual em oC.

* Teste de Friedman

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Figura 11. Médias de limiares táteis de acordo com o período do ciclo

menstrual em g/mm2.

*Teste de Friedman ** ANOVA

Figura 12. Médias de limiares vibratórios de acordo com o período do ciclo

menstrual em Hz/s.

*Teste de Friedman **ANOVA # diferença estatística

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Figura 13. Médias de limiares elétricos dentários de acordo com o período do

ciclo menstrual em A/s.

*Teste de Friedman.

Figura 14. Médias de limiares dolorosos de profundidade de acordo com o

período do ciclo menstrual em kPa/s.

* Teste de Friedman

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Tabela 15. Médias de limiares dolorosos de superfície de acordo com o

período do ciclo menstrual emg/mm2.

* ANOVA **teste de Friedman # diferença estatística

Na figura 16, pode-se observar as variações hormonais durante o ciclo

menstrual, sendo que houve redução do estrógeno e aumento da

progesterona.

Figura 16. Médias de níveis dos hormônios progesterona e estrógeno durante

o ciclo menstrual em pg/mL.

* Teste de Friedman.

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Entre as sensibilidades, houve correlação positiva entre azedo e amargo

(Pearson p=0,024; r=0,213), azedo e salgado (Pearson p=0,004; r=0,270);

entre o limiar olfativo e sabor azedo (Pearson p= 0,008, r=0,250). O limiar de

dor de profundidade no braço se correlacionou positivamente com os limiares

ao frio (Pearson p=0,006;r=0,258) e com os limiares de calor (Pearson

p=0,049, r=0,186). O limiar ao calor também se correlacionou positivamente

com o limiar de dor superficial (Pearson p= 0,008; r=0,248). Na região do ramo

maxilar do trigêmeo, ocorreu correlação positiva entre o limiar da percepção ao

frio e a percepção ao calor (Pearson p=0,036;r=0,199), frio e dor de

profundidade (Pearson p=0,004; r=0,267), e entre dor de profundidade e dor

superficial (Pearson p=0,001; r=0,315).

Quanto menor o nível de estrógeno maior o limiar de dor de

profundidade no braço (Pearson p= 0,008; r= -0,240), o limiar de dor de

profundidade (Pearson p= 0,041; r=-0,194), percepção tátil (Spearman

p=0,001; r=-0,309) e dor superficial (Spearman p=0,006; r=-0,257) no ramo

maxilar do trigêmeo. E, quanto maior o nível de progesterona, maior o limiar de

dor de profundidade no ramo maxilar do trigêmeo (Pearson p=0,033; r=0,202) e

maior o limiar gustativo do sabor salgado (Pearson p<0,001; r=0,333).

Realizou-se análise multifatorial (MANOVA) para considerar o efeito

simultâneo do estrógeno e progesterona na sensibilidade. Verificou-se a

associação desses dois hormônios na avaliação do limiar gustativo para o

salgado (p<0,001); percepção vibratória (p=0,011) e limiar de dor de

profundidade (p=0,006) no ramo maxilar do trigêmeo.

Não foram observadas anormalidades no reflexo córneo palpebral em

nenhuma das pacientes em todas as fases do ciclo menstrual.

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6 DISCUSSÃO

Dor é um sintoma que apresenta maior prevalência entre as mulheres.

Elas apresentam mais morbidades relacionadas à dor e queixam-se com maior

frequência de dor mais intensa e com maior duração do que os homens

(Klatzkin et al., 2010). Além das questões psicossociais que envolvem o

fenômeno álgico, há muitos indícios de que mecanismos biológicos participem

dessa diferença sexual de sensibilidade (Greenspan et al., 2007; Alabas et

al.,2011; Ngun et al., 2011). Neste contexto, os hormônios femininos são

considerados fortemente como moduladores da percepção dolorosa e

facilitadores da sensibilização central e periférica que ocorrem na cronificação

(Tommaso, 2011; Aloisi e Bonifazi, 2006; Craft, 2007; Martin, 2009).

Neste trabalho, ficou evidenciada a variação sensitiva durante o ciclo

menstrual que corrobora com a observação anterior de outros estudos

(Teepker et al., 2010; Tousignant-Laflamme e Marchand, 2009; Ring et al.,

2009; Stening etal., 2007). É possível observar um aumento ao longo das

avaliações no fluxo salivar; redução do limiar a gustação, olfação, frio, vibração,

algiometria de profundidade, e redução das sensibilidades ao calor, tato, dor

superficial e estímulo elétrico dentário. Houve ainda modalidades que

apresentaram alterações na avaliação menstrual e lútea (percepção vibratória e

limiar de dor superficial), em comparação à fase folicular.

Mais além, investigou-se a influência dos hormônios estrógeno e

progesterona na variação sensitiva observada, o que também foi evidenciado.

Quanto menor o nível de estrógeno, maiores os limiares álgicos (superficial e

profundo) e tácteis. Esse achado pode auxiliar no esclarecimento do papel

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desse hormônio na neuromodulação álgica no sexo feminino, e pode estar por

trás da maior prevalência de dor em fases do ciclo menstrual que apresentam

aumento do nível sérico do estrógeno. Além disso, o estrógeno tem sido

associado a um aumento da sensibilidade e da resposta a dor, e mulheres com

fibromialgia apresentam maior intensidade de dor, depressão e estresse na

fase lútea, quando estrógenos e a progesterona estão aumentados (Kawalczyk

et al., 2006; Aloisi e Bonifazi, 2006). Ring e colaboradores (2009) verificaram

uma associação positiva entre intensidade de dor e os níveis de estrógeno e

progesterona, ou seja, maiores concentrações desses hormônios se

correlacionaram com maior intensidade álgica. Ao avaliar mulheres que se

submeteram a fertilização in vitro, observou-se que o nível elevado de

estrógeno além do fisiológico, também, estava associado com maior

intensidade da dor (Nisenblat et al., 2010).

O estrógeno favorece a neurotransmissão sensitiva através de efeitos

sobre o sistema glutaminérgico e através da indução da síntese de

neurotrofinas que possuem efeitos nociceptivos; isso significa que altos níveis

de estrógeno e a própria flutuação durante o ciclo menstrual podem auxiliar o

sistema aferente (Martin, 2009). Estrogênios aumentam o fator de crescimento

neural no gânglio da raiz dorsal ao induzir c-Fos no hipocampo e ativar a MAP-

Kinase. Esses hormônios, também, aumentam o número de espinhas

dendríticas e de sinapses excitatórias nos neurônios do hipocampo através de

mecanismos não genômicos, além de potencializar a ligação do glutamato ao

receptor NMDA, o que aumenta o potencial de ação pós-sináptico no

hipocampo através do aumento das correntes via receptor kainato (Aloisi e

Bonifazi, 2006). Há, também, evidências de que o estrógeno está envolvido em

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vias inflamatórias e de resposta ao estresse; um dos mecanismos sugeridos é

que há um aumento de liberação de citocinas periféricas induzido pelo

estrógeno, como o interferon gama(IFNγ), que por sua vez aumenta a liberação

de cortisol; um aumento prolongado na liberação do cortisol pode promover

destruição do músculo, osso e tecido neural, o que estabelece condições para

o surgimentoda dor crônica (Lacovides et al., 2015).

Entretanto, em algumas condições clínicas em mulheres, como nas

disfunções temporomandibulares e a migrânea, há maior frequência de dor nos

períodos em que ocorrem baixos níveis de estrógeno ou uma rápida flutuação

desse hormônio (Sherman e LeResche, 2006; Craft, 2007).É possível que isto

ocorra por serem estes períodos menstruais em que há declínio hormonal

também da progesterona. Rezaii e colaboradores (2012) verificaram maior

efetividade na modulação da dor na fase ovulatória, quando os níveis de

estrógeno estão altos e os níveis de progesterona estão baixos.

O estrógeno pode apresentar um efeito anti-inflamatório, pois células da

micróglia possuem receptores de estrógeno que desencadeiam cascatas

intracelulares e que resultam em redução da resposta inflamatória mediada por

essas células (Martin, 2009;Lacovides et al., 2015). Outro mecanismo em

potencial envolve a inibição de neurotransmissão via receptor TRPV1 e

redução de recaptação do glutamato na fenda sináptica, o que aumenta a

sensação álgica (Martin, 2009; Lacovides et al., 2015). Há, também, ação

estrogênica em receptores opioides, uma vez que muitos dos neurônios que

expressam receptores de estrógeno são opioidérgicos (Stening et al., 2007). A

influência do estrógeno nesses receptores envolve os tipos mu, kappa e delta,

o que parece aumentar a quantidade dos mesmos na medula espinal

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(Lacovides et al., 2015). O estrógeno se liga predominantemente a dois

receptores: receptores de estrogênio α e receptores de estrogênio β, ambos

presentes no sistema nervoso central e em áreas envolvidas na condução

dolorosa. Enquanto o receptor β é pró-nociceptivo, o receptor α é antálgico

(Lacovides, 2015).

No presente estudo, verificou-se que altos níveis de progesterona se

correlacionaram com o aumento do limiar de dor de profundidade. Estudos em

ratos mostraram que, quando administrados concomitantemente em

concentrações típicas da gestação, estrógeno e progesterona promoveram

analgesia via receptor K-opiáceo presente na medula espinal (Sherman e

LeResche, 2006; Stening et al., 2007). A progesterona parece promover

analgesia através de sua ação no sistema GABAérgico, ao aumentar o tempo

de abertura de receptores GABA-A (Tousignant-Laflemme e Marchad, 2009;

Martin, 2009). Porém, este efeito parece depender da manutenção de altas

concentrações de estrógeno, que quando ausente acaba por influenciar

negativamente, piorando a dor. É provável que essa co-dependência entre

esses hormônios no fenômeno álgico seja a razão para tanta controvérsia na

literatura (Lacovides et al., 2015).

Mudanças comportamentais relacionadas à variabilidade sensitiva

durante o ciclo menstrual foram descritas e incluem o aumento da ingestão de

alimentos em determinadas fases, diferenças na preferência alimentar e

alterações na sensibilidade gustativa e olfativa durante a gestação (Kuga et al.,

1998). Neste estudo, houve correlação positiva entre a progesterona e os

limiares ao salgado. Estudos anteriores haviam evidenciado aumento do limiar

doce na fase lútea, associado à progesterona (Than et al., 1994), e a

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associação com depressão em mulheres ansiosas, também nessa fase

menstrual, o que pode envolver neuromodulação límbica (Nagai et al., 2015).

Não houve correlação entre limiares olfativos e os hormônios estudados

neste estudo, porém, a fase menstrual apresentou limiar maior e a fase

folicular, limiar menor. Achado similar ocorreu no estudo de Navarrete-Palacios

et al. (2003), sendo que, em outro estudo com resultado controverso, houve

correlação entre o tempo de uso de contraceptivos orais e o desempenho

olfativo (Derntl et al., 2013).

O estrógeno parece influenciar o epitélio nasal mesmo em mulheres que

usam contraceptivos orais. É possível que essa alteração observada seja

mediada pelo sistema nervoso central, da mesma forma que outros ritmos

comportamentais são assim modulados, refletindo uma influência específica ou

não específica de neurotransmissores ou substâncias neuroativas que oscilam

em uma periodicidade de 25 a 30 dias. Nesse contexto, o estrógeno pode ter

um papel permissivo na expressão de alguns ritmos hipotalâmicos, que por sua

vez podem influenciar a função olfativa (Doty e Cameron, 2009).

Flutuações em todas as sensibilidades gustativas e na sensibilidade

olfativa, que ocorreram durante o ciclo, podem justificar mudanças no

comportamento feminino, e também estar relacionadas à mudança do próprio

fluxo salivar (progressivo aumento ao longo do ciclo). A saliva tem um papel

importante na transdução das informações sensitivas intraorais e, portanto,

merece ser investigada não só quantitativamente, mas também,

qualitativamente em estudos futuros.

É importante salientar o papel associado dos dois hormônios estudados,

uma vez que sua ação é simultânea, no desencadeamento de aumento ou

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redução sensitiva em diversas modalidades, o que foi observado claramente

neste estudo. A progesterona parece de fato ter um papel analgésico, porém,

dependente da concentração de estrógeno.

Algumas limitações incluem a perda de algumas mulheres ao longo das

avaliações e a eventual dificuldade de detecção salivar dos hormônios

especialmente se a concentração salivar estiver muito baixa. Os níveis

hormonais podem apresentar ampla variação nas mulheres em geral, o que foi

observado nessa amostra; por isso, a análise de correlação permitiu investigar

a relação das concentrações hormonais nas mulheres estudadas em relação

aos limiares sensitivos que elas apresentaram. A determinação precisa do dia

do ciclo para a avaliação poderia ter minimizado essa variação, mas

inviabilizaria o estudo dificultando a adesão e consequentemente a obtenção

do N adequado. É importante ressaltar que este estudo é pioneiro quanto à

riqueza de detalhes investigados, e que além da metodologia requintada,

apresentou evidências da influência simultânea do estrógeno e da

progesterona nas diversas modalidades sensitivas investigadas, o que tem

implicações clínicas importantes pelas próprias manifestações epidemiológicas

das doenças que causam dor.

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7 CONCLUSÃO

Através desse estudo conclui-se que:

1.Houve redução de limiar nas sensibilidades gustativas (doce, azedo,

amargoe salgado), olfatória, frio, vibratória e dor de profundidade, e aumento

de limiar nas sensibilidades ao calor, tátil, elétrica dentária e dolorosa de

superfície durante o ciclo menstrual.

2. Quanto menor o nível de estrógeno, maiores os limiares de dor de

profundidade no braço e face, e percepção tátil e dor superficial na face; quanto

maior o nível de progesterona, maiores os limiares de dor de profundidade

facial e salgado. Houve ação associada dos dois hormônios no limiar salgado,

percepção vibratória e limiar de dor de profundidade facial.

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8 ANEXOS

Anexo A – Parecer do comitê de ética

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Anexo B – Termo livre esclarecido

HOSPITAL DAS CLÍNICAS DA FACULDADE DE MEDICINA DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO-HCFMUSP

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

______________________________________________________________________

DADOS DE IDENTIFICAÇÃO DO SUJEITO DA PESQUISA OU RESPONSÁVEL LEGAL

1. NOME DO PACIENTE .:.............................................................................

...........................................................

DOCUMENTO DE IDENTIDADE Nº : ........................................ SEXO : .M ( ) F ( ) DATA NASCIMENTO: ......../......../......

ENDEREÇO ................................................................................. Nº ........................... APTO: ..................

BAIRRO: ........................................................................ CIDADE .............................................................

CEP:......................................... TELEFONE: DDD (............) ......................................................................

2.RESPONSÁVEL LEGAL ..............................................................................................................................

NATUREZA (grau de parentesco, tutor, curador etc.) ..................................................................................

DOCUMENTO DE IDENTIDADE :....................................SEXO: M ( )F ( ) DATA NASCIMENTO.: ....../......./......

ENDEREÇO: ............................................................................................. Nº ................... APTO:

.............................

BAIRRO: ................................................................................ CIDADE:

......................................................................

CEP: .............................................. TELEFONE: DDD

(............).................................................................................. ______________________________________________________________________________________________

DADOS SOBRE A PESQUISA CIENTÍFICA

1. TÍTULO DO PROTOCOLO DE PESQUISA: Avaliação Somestésica, Gustativa e Olfativa Durante o Ciclo Menstrual.

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PESQUISADOR RESPONSÁVEL: Prof.Dr. Manoel Jacobsen Teixeira / Profa.Dra. Silvia Regina Dowgan Tesseroli de Siqueira

CARGO/FUNÇÃO: Diretor de Divisão / Professora da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da USP e Orientadora do Curso de Pós-Graduação no Depto. de Neurologia CRM: 17.968

PESQUISADOR EXECUTANTE: Bruna Alves

CARGO/FUNÇÃO: Candidata ao mestrado no Departamento de Neurologia

2. AVALIAÇÃO DO RISCO DA PESQUISA:

RISCO MÍNIMO(X) RISCO MÉDIO ( )

RISCO BAIXO ( ) RISCO MAIOR ( )

3.DURAÇÃO DA PESQUISA : 3 anos

Este estudo faz parte de um projeto de pesquisa, e estamos convidando-a a participar do mesmo; segue abaixo a descrição do estudo: 1 – Desenho do estudo e objetivo(s) Sr(a), existem poucos trabalhos investigando a variação na sensibilidade, dor, capacidade de sentirmos gosto e cheiro durante o ciclo menstrual, e o papel dos hormônios nessa variação. Estamos convidando-a a participar deste projeto de pesquisa em que avaliaremos em três momentos do ciclo menstrual a percepção do frio, do calor; percepção tátil, vibratória, elétrica, de dor, dos cheiros e gostos, quantidade de saliva e reflexo no olho.Serão avaliados também nos três momentos os níveis de estradiol e progesterona através da saliva. 2 – Descrição dos procedimentos que serão realizados, com seus propósitos e identificação dos que forem experimentais e não rotineiros;

Serão realizadas em cada avaliação duas coletas de saliva (uma delas, inicial, e a outra, depois de mascar uma goma sem gosto ou cheiro), totalizando 6 amostras de saliva. A senhora permanecerá por um tempo com um algodão abaixo da língua para verificarmos a sua saliva; faremos testes com uma agulha, fios de naylon e superfície quente e fria em uma área do seu rosto e também no antebraço. Finalmente, pingaremos gotas na sua língua para a senhora perceber o sabor e entregaremos uns frascos para sentir o cheiro. Todos esses testes não são novos ou desnecessários, são bem conhecidos e muito importantes para conhecer os problemas do paciente. 3 – Descrição dos desconfortos e riscos esperados nos procedimentos dos itens 2 e 3;

A Sra poderá sentir algum incômodo em mascar a goma para estimular a saliva e pode sentir uma dor mínima quando encostarmos a agulha no seu rosto, e um desconforto com o frio, calor, fios de naylon, ou quando tiver que experimentar os sabores ou sentir os cheiros. 4 – Benefícios para o participante Estaremos através deste estudo verificando se há diferença na sensibilidade, dor, percepção do gosto e do cheiro durante o ciclo menstrual e se essa diferença é dependente ou não das variações de estradiol e progesterona. Portando esta pesquisa trará benefícios para entendermos melhor os mecanismos de dor nas mulheres, o que ajudará no entendimento dos períodos em que estas estão mais sensível á estímulos. 5 – Relação de procedimentos alternativos que possam ser vantajosos, pelos quais o paciente pode optar: O paciente pode optar a qualquer momento a interromper o estudo, e também

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estarei sempre disponível para esclarecimentos de dúvidas e questões que surjam antes, durante, ou depois da pesquisa. 6 – Garantia de acesso: em qualquer etapa do estudo, você terá acesso aos profissionais responsáveis pela pesquisa para esclarecimento de eventuais dúvidas. O principal investigador é o Dr Manoel Jacobsen Teixeira, que pode ser encontrado no endereço Rua Gal Menna Barreto, 756, tel :3885-1365. Se você tiver alguma consideração ou dúvida sobre a ética da pesquisa, entre em contato com o Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) – Rua Ovídio Pires de Campos, 225 – 5º andar – tel: 2661-6442 ramais 16, 17, 18 ou 20, FAX: 2661-6442 ramal 26 – E-mail: [email protected] 7 – É garantida a liberdade da retirada de consentimento a qualquer momento e deixar de participar do estudo, sem qualquer prejuízo à continuidade de seu tratamento na Instituição; 8 – Direito de confidencialidade – As informações obtidas serão analisadas em conjunto com outros pacientes, não sendo divulgado a identificação de nenhum paciente; 9 – Direito de ser mantido atualizado sobre os resultados parciais das pesquisas, quando em estudos abertos, ou de resultados que sejam do conhecimento dos pesquisadores; 10 – Despesas e compensações: não há despesas pessoais para o participante em qualquer fase do estudo, incluindo exames e consultas. Também não há compensação financeira relacionada à sua participação. Se existir qualquer despesa adicional, ela será absorvida pelo orçamento da pesquisa. 11 - Compromisso do pesquisador de utilizar os dados e o material coletado somente para esta pesquisa. Acredito ter sido suficientemente informado a respeito das informações que li ou que foram lidas para mim, descrevendo o estudo “Avaliação Somestésica, Gustativa e Olfativa Durante o Ciclo Menstrual”. Eu discuti com o Prof. Dr. Manoel Jacobsen Teixeira sobre a minha decisão em participar nesse estudo. Ficaram claros para mim quais são os propósitos do estudo, os procedimentos a serem realizados, seus desconfortos e riscos, as garantias de confidencialidade e de esclarecimentos permanentes. Ficou claro também que minha participação é isenta de despesas e que tenho garantia do acesso a tratamento hospitalar quando necessário. Concordo voluntariamente em participar deste estudo e poderei retirar o meu consentimento a qualquer momento, antes ou durante o mesmo, sem penalidades ou prejuízo ou perda de qualquer benefício que eu possa ter adquirido, ou no meu atendimento neste Serviço.

Assinatura do paciente/representante legal Data / /

Assinatura da testemunha

Data / /

Para casos de pacientes menores de 18 anos, analfabetos, semi-analfabetos ou portadores de deficiência auditiva ou visual. (Somente para o responsável do projeto) Declaro que obtive de forma apropriada e voluntária o Consentimento Livre e Esclarecido deste paciente ou representante legal para a participação neste estudo.

Assinatura do responsável pelo estudo

Data / /

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Anexo C – E-mail de aprovação para publicação na revista Pain

Medicine

01-Oct-2016

Dear Prof. Siqueira and Co-authors:

Congratulations, Dr. Knudson and I are pleased to inform you that your Article entitled "INFLUENCE

OF SEXUAL HORMONES ON NEURAL OROFACIAL PERCEPTION" has been accepted for

publication in Pain Medicine ("the Journal"). Thank you for your fine work which we look forward to

reading both on the journal website at www.painmedjournal.org and in an upcoming print issue.

Your article cannot be published until the publisher has received the appropriate signed license

agreement. Once your article has been received by Oxford University Press (OUP) for production the

corresponding author will receive an email from OUP’s Author Services system which will ask them to

log in and will present them with the appropriate license for completion.

We cannot proceed with publication until the agreement is completed. All accepted papers will be

published in the Journal.

Thank you for your fine contribution and we look forward to receiving manuscripts from you in the

future.

Sincerely,

Rollin M. Gallagher, MD, MPH

Editor-in-Chief, Pain Medicine

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