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AVALIAÇÃO TÉCNICA DA MANUTENÇÃO DO CUBO DE HÉLICE DO AVIÃO EMBRAER EMB-120 Danielle Manera Almeida Projeto de Graduação apresentado ao Curso de Engenharia Mecânica da Escola Politécnica, Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Engenheiro. Orientadora: Anna Carla Monteiro de Araujo Rio de Janeiro Março de 2019

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AVALIAÇÃO TÉCNICA DA MANUTENÇÃO DO CUBO DE

HÉLICE DO AVIÃO EMBRAER EMB-120

Danielle Manera Almeida

Projeto de Graduação apresentado ao Curso

de Engenharia Mecânica da Escola Politécnica,

Universidade Federal do Rio de Janeiro, como

parte dos requisitos necessários à obtenção do

título de Engenheiro.

Orientadora: Anna Carla Monteiro de Araujo

Rio de Janeiro

Março de 2019

UNIVERSIDADE FEDERAL

DO RIO DE JANEIRO

Departamento de Engenharia Mecânica DEM/POLI/UFRJ

AVALIAÇÃO TÉCNICA DA MANUTENÇÃO DO CUBO DE HÉLICE

DO AVIÃO EMBRAER EMB-120

Danielle Manera Almeida

PROJETO FINAL SUBMETIDO AO CORPO DOCENTE DO DEPARTAMENTO DE

ENGENHARIA MECÂNICA DA ESCOLA POLITÉCNICA DA UNIVERSIDADE

FEDERAL DO RIO DE JANEIRO COMO PARTE DOS REQUISITOS NECESSÁRIOS

PARA A OBTENÇÃO DO GRAU DE ENGENHEIRO MECÂNICO.

Aprovado por:

_______________________________________________

Prof. Anna Carla Monteiro de Araujo, DSc (Orientadora)

_______________________________________________

Prof. Flávio de Marco Filho, DSc

_______________________________________________

Prof. Fernando Pereira Duda, DSc

RIO DE JANEIRO, RJ – BRASIL

MARÇO DE 2019

iv

Almeida, Danielle Manera

Avaliação técnica da manutenção do cubo de

hélice do avião Embraer EMB-120 / Danielle Manera

Almeida – Rio de Janeiro: UFRJ / Escola Politécnica, 2019.

XIV, 105 p.: il.; 29,7 cm.

Orientador: Anna Carla Monteiro de Araujo

Projeto de Graduação – UFRJ / POLI / Curso de

Engenharia Mecânica, 2019.

Referências Bibliográficas: p. 89-91

1. Manutenção de componentes aeronáuticos 2.

Manutenção do cubo de hélice 3. Delineamento da

fabricação da bucha de reparo do cubo

I. Araujo, Anna Carla Monteiro de. II. Universidade

Federal do Rio de Janeiro, Escola Politécnica,

Departamento de Engenharia Mecânica. III. Avaliação

técnica da manutenção do cubo de hélice do avião

Embraer EMB-120

v

“Quer você acredite que consiga fazer uma coisa ou não, você está certo.”

(Henry Ford)

vi

AGRADECIMENTOS

Primeiramente, agradeço a Deus, engenheiro perfeito deste universo, por ter me

dado saúde e resiliência ao longo do meu percurso na faculdade e no desenvolvimento

desse projeto.

Aos meus pais, Denise e Marcelo, por terem me dado a vida e por serem os

maiores torcedores do meu sucesso e felicidade. Obrigada por estarem sempre ao

meu lado, me dando toda a estrutura emocional, material e financeira que precisei e

por terem me proporcionado acesso a uma educação de qualidade, o que foi

primordial para eu ingressar na UFRJ.

Aos meus irmãos, Fernanda e Victor, à toda a minha família, às minhas amigas,

aos meus amigos, por todo o amor, carinho e incentivo de sempre.

À minha professora orientadora, Anna Carla, pela ajuda, disponibilidade, atenção

e ensinamentos. Você foi um anjo que apareceu no meu caminho!

A todos os amigos que fiz no CT, principalmente os da engenharia mecânica e

os que conheci na Fluxo Consultoria, por tornarem os momentos mais leves e

engraçados na faculdade, por todos os momentos de estudos e de descontração

juntos, por todas as dúvidas tiradas, materiais e conhecimentos compartilhados, e por

dividirem as angústias e dificuldades que só nós que estamos ali entendemos.

À empresa estudada neste projeto final, a qual tive a oportunidade de estagiar e

aprender muito na prática. A cada colega de trabalho que contribuiu para meu

crescimento profissional e pessoal e me ajudou com as informações necessárias para

o desenvolvimento deste trabalho.

A todos que passaram ou estão na minha vida e que contribuíram de alguma

forma. Cada ajuda, cada preocupação e cada incentivo foram essenciais para minha

motivação. Sem vocês nada disso seria possível.

vii

Resumo do projeto de graduação apresentado ao DEM/UFRJ como parte dos

requisitos necessários para obtenção do grau de Engenheiro Mecânico.

AVALIAÇÃO TÉCNICA DA MANUTENÇÃO DO CUBO DE HÉLICE

DO AVIÃO EMBRAER EMB-120

Danielle Manera Almeida

Setembro/2018

Orientador: Anna Carla Monteiro de Araujo

Curso: Engenharia Mecânica

A manutenção aeronáutica no Brasil se divide em duas atividades: a

manutenção da aeronave como um todo e a manutenção de cada componente da

aeronave. Este estudo está orientado no segundo segmento e elucidará as principais

técnicas e processos de manutenção na aviação. Para aprofundar o estudo, foram

feitas visitas a uma empresa de manutenção de componentes aeronáuticos situada no

Rio de Janeiro e lá foi escolhido um componente específico para se analisar a

manutenção: o cubo de hélice do avião Embraer EMB-120.

É apresentado o processo de manutenção do cubo de hélice, identificando os

principais pontos fracos deste procedimento e realizando uma avaliação de melhoria

técnica.

A avaliação indicou melhorias na fabricação da bucha de reparo para corrigir o

desgaste do cubo de hélice. Três propostas foram feitas: a fabricação da bucha de

reparo do cubo por um processo alternativo; a otimização do processo atual que é feito

através da usinagem de um disco metálico; e a nova fabricação através da fundição do

disco para gerar um anel metálico que será usinado para se produzir a bucha. Para

essas duas últimas propostas, foi feito o delineamento da fabricação.

Palavras-chave: Manutenção, Manutenção de Componentes aeronáuticos,

Delineamento de fabricação, Fundição, Usinagem.

viii

Abstract of Undergraduate Project presented to POLI/UFRJ as a partial fulfillment of

the requirements for the degree of Engineer.

TECHNICAL EVALUATION OF THE MAINTENANCE OF THE EMBRAER

EMB-120 AIRCRAFT PROPELLER HUB

Danielle Manera Almeida

September/2018

Advisor: Anna Carla Monteiro de Araujo

Course: Mechanical Engineer

Aeronautical maintenance in Brazil is divided into two activities: the maintenance

of the whole aircraft and the maintenance of each component of the aircraft. This study

is focused on the second segment and will elucidate the main aviation maintenance

techniques and processes. In order to deepen the study, visits were made to an

aeronautical components maintenance company located in Rio de Janeiro and a

specific component was chosen to analyze the maintenance: the Embraer EMB-120

aircraft propeller hub.

The process of maintanance of the propeller hub is presented, identifying the

main weaknesses of this procedure and making a technical improvement evaluation.

The evaluation indicated improvements in the manufacture of the repair sleeve is

to correct the wear of the propeller hub. Three proposals were made: the manufacture

of the hub sleeve by an alternative process; the optimization of the current process that

is done by machining a metal disk; and the new fabrication by casting the disk to

generate a metal ring that will be machined to produce the sleeve. For these last two

proposals, the manufacturing design was done.

Keywords: Maintenance, Aeronautical components maintenance, Manufacturing

design, Casting, Machining.

ix

LISTA DE ABREVIATURAS

ANAC – Agência Nacional de Aviação Civil

BS – Boletim de Serviço

CM - Manutenção com Monitoramento das Condições

CMM – Manual da Manutenção do Componente

DA – Diretriz de Aeronavegabilidade

END – Ensaios não-destrutivos

FAA - Administração Federal de Aviação

HT - Manutenção com Tempo Limite

LP – Líquidos Penetrantes

OC - Manutenção com Verificação do Estado

OS – Ordem de Serviço

OTL - Tempo Limite de Funcionamento

PN – Part Number

SLL - Tempo Limite de Vida/Serviço

SLM – Fusão Seletiva a Laser

SN - Número Serial

TBO - Tempo entre Revisões

x

LISTA DE FIGURAS

Figura 2.1 - Torneamento externo

Figura 2.2 - Sangramento frontal (axial)

Figura 2.3 - Sangramento radial

Figura 3.1 - Avião EMB-120 Brasília

Figura 3.2 - Cubo de hélice do avião EMB-120 “Brasília”

Figura 3.3 - Vista explodida do conjunto de hélice e detalhe do hub

Figura 3.4 – Seções principais da empresa

Figura 3.5 - Seções de suporte às seções principais

Figura 3.6 - Componentes esperando devolução

Figura 3.7 - Área de quarentena

Figura 3.8 - Pastas com manuais dos componentes

Figura 3.9 - Seção de Suprimento Técnico

Figura 3.10 - Fases do serviço na empresa

Figura 3.11 – Macro etapas do processo de manutenção do cubo de hélice

Figura 3.12 - Medição do diâmetro do cubo de hélice

Figura 3.13- Desgaste no furo do cubo de hélice

Figura 3.14 - Procedimentos para usinagem do cubo

Figura 3.15 - a) Placa de fixação b) Disco para fixação c) Disco de fixação dentro do

cubo d) Cubo apoiado na placa de fixação

Figura 3.16 - Relógio comparador para medir a centralização do cubo no torno

Figura 3.17 - a) áreas do cubo que não sofrerão o jateamento b) superfícies da bucha

e do furo do cubo após o jateamento

Figura 3.18 - Aquecimento do cubo no forno para encaixe da bucha de reparo

Figura 3.19 - Aplicação de adesivo e colagem da bucha de reparo

Figura 3.20 - Prensa para forçar o encaixe com interferência da bucha de reparo

xi

Figura 3.21 - Ressalto da bucha de reparo fora do cubo

Figura 3.22- Peça inicial e peça final

Figura 3.23 - Peça inicial (esquerda) e sobra de material (direita)

Figura 3.24 - Peça inicial (esquerda) e material que sobra após a usinagem (direita)

Figura 3.25 - Cavaco enrolado na ferramenta

Figura 3.26 - Cavaco encostado na peça durante a usinagem

Figura 4.1 - Dimensões em milímetros da bucha de reparo

Figura 4.2 - Bucha a partir de um disco

Figura 4.3 - Bucha a partir de um anel

Figura 4.4 - Ferramenta T01

Figura 4.5 - Ferramenta T02

Figura 4.6 - Ferramenta T03

Figura 4.7 - Ferramenta T04

Figura 4.8 – Dimensões em milímetros do disco

Figura 4.9 - Composição química da liga de alumínio do disco importado pela empresa

Figura 4.10 - Dimensões em milímetros do anel

Figura 4.11 - Bucha de reparo e área da seção transversal do anel

Figura 4.12 – Simulação do faceamento do anel

Figura 4.13 - Simulação do torneamento interno do anel

Figura 4.14 - Simulação do torneamento externo do anel

Figura 4.15 - Simulação do sangramento radial do anel

Figura 4.16 - Aplicação do fluido de corte no sangramento frontal

Figura 4.17 - Óleo semissintético utilizado pela empresa

Figura 4.18 - Óleo semissintético indicado pro alumínio e suas ligas

Figura 4.19 - Fluido de corte utilizado pela empresa

Figura 4.20 - Fluido de corte indicado para o alumínio e suas ligas

xii

LISTA DE TABELAS

Tabela 4.1 - Etapa de faceamento do disco

Tabela 4.2 - Etapa de torneamento externo do disco (desbaste) - primeira fase

Tabela 4.3 - Etapa de torneamento externo do disco (acabamento) - primeira fase

Tabela 4.4 - Etapa de torneamento externo do disco (desbaste) - segunda fase

Tabela 4.5 - Etapa de torneamento externo do disco (acabamento) - segunda fase

Tabela 4.6 - Etapa de sangramento frontal do disco

Tabela 4.7 - Etapa de sangramento radial do disco

Tabela 4.8 - Liga de alumínio 7075

Tabela 4.9 - Composição da liga e pontos de fusão.

Tabela 4.10 - Etapa de faceamento do anel

Tabela 4.11 - Etapa de torneamento interno do anel (desbaste)

Tabela 4.12 - Etapa de torneamento interno do anel (acabamento)

Tabela 4.13 - Etapa de torneamento externo do anel (desbaste) - primeira fase

Tabela 4.14 - Etapa de torneamento externo do anel (desbaste) - segunda fase

Tabela 4.15 - Etapa de torneamento interno do anel (acabamento)

Tabela 4.16 - Sangramento radial do anel

Tabela 4.17- Comparação dos efeitos da refrigeração superior e inferior no

torneamento

Tabela 4.18 - Parâmetros do processo de fabricação atual na empresa

xiii

ÍNDICE

1. INTRODUÇÃO .............................................................................................................................1

1.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS ..........................................................................................1

1.2 JUSTIFICATIVA E OBJETIVOS DO ESTUDO ...............................................................2

1.3 METODOLOGIA ADOTADA ...........................................................................................3

1.4 ESTRUTURA DO TRABALHO ........................................................................................3

2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ........................................................................................................5

2.1 MANUTENÇÃO ...............................................................................................................5

2.1.1 MANUTENÇÃO DOS COMPONENTES AERONÁUTICOS ..............................5

2.1.2 A AGÊNCIA NACIONAL DE AVIAÇÃO CIVIL ...................................................8

2.1.3 OS PROFISSIONAIS DE MANUTENÇÃO AERONÁUTICA ............................10

2.1.4 PRINCIPAIS TIPOS DE MANUTENÇÃO .........................................................11

2.1.4.1 MANUTENÇÃO À DEMANDA ..........................................................................11

2.1.4.2 MANUTENÇÃO PREVENTIVA ........................................................................12

2.1.4.3 MANUTENÇÃO PREDITIVA ............................................................................12

2.1.4.4 MANUTENÇÃO SISTEMÁTICA .......................................................................14

2.1.4.5 MANUTENÇÃO CURATIVA .............................................................................14

2.1.5 OS PROCESSOS DE MANUTENÇÃO NA AVIAÇÃO .....................................15

2.1.5.1 HARD TIME ......................................................................................................15

2.1.5.2 ON CONDITION ...............................................................................................17

2.1.5.3 CONDITION MONITORING ............................................................................18

2.2 USINAGEM ...................................................................................................................19

2.2.1 MÁQUINA CNC ................................................................................................19

2.2.2 PROCESSOS ...................................................................................................21

2.2.3 PRINCIPAIS PARÂMETROS ...........................................................................22

2.3 FUNDIÇÃO ....................................................................................................................23

2.4 FUSÃO SELETIVA A LASER ........................................................................................25

xiv

3. ESTUDO DA MANUTENÇÃO DE UM COMPONENTE AERONÁUTICO ................................27

3.1 O CUBO DE HÉLICE DO AVIÃO EMBRAER EMB-120 ...............................................28

3.2 ESTUDO DE CASO DO CUBO DE HÉLICE .................................................................31

3.2.1 A EMPRESA DO ESTUDO DE CASO .............................................................31

3.2.2 PROCEDIMENTOS DE MANUTENÇÃO .........................................................36

3.3 ANÁLISE TÉCNICA SOBRE O PROCESSO ATUAL ...................................................50

3.3.1 PRINCIPAIS PONTOS PARA MELHORIAS NO REPARO .............................50

3.3.2 PROPOSTA DE MUDANÇAS .........................................................................54

4. DELINEAMENTO DA FABRICAÇÃO DA BUCHA DE REPARO ............................................55

4.1 DEFINIÇÃO DA MÁQUINA-FERRAMENTA .................................................................55

4.2 GEOMETRIA DA BUCHA DE REPARO .......................................................................56

4.3 FABRICAÇÃO DA BUCHA DE REPARO......................................................................57

4.3.1 PROCESSOS DE USINAGEM E FERRAMENTAS DE CORTE .....................58

4.4 FABRICAÇÃO A PARTIR DE UM DISCO ....................................................................62

4.4.1 GEOMETRIA DO DISCO .................................................................................62

4.4.2 PARÂMETROS DA USINAGEM ......................................................................63

4.5 FABRICAÇÃO A PARTIR DE UM ANEL .......................................................................68

4.5.1 FUNDIÇÃO DO DISCO PARA FABRICAÇÃO DO ANEL ................................68

4.5.2 GEOMETRIA DO ANEL ...................................................................................71

4.5.3 PARÂMETROS DA USINAGEM ......................................................................71

4.6 TEMPOS DE USINAGEM EM CADA PROCESSO .......................................................78

4.7 FLUIDO DE CORTE ......................................................................................................79

4.8 ANÁLISE DE RESULTADOS ........................................................................................84

5. CONCLUSÃO .............................................................................................................................88

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..........................................................................................89

ANEXO .......................................................................................................................................92

1

1. INTRODUÇÃO

1.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS

ALVAREZ [1] define o termo “manutenção” por “toda atividade de assistência

voltada para o atendimento de sistemas funcionais físicos (máquinas, equipamentos e

estruturas) com a finalidade de conservar sua condição funcional dentro dos padrões

prescritos.” Do ponto de vista econômico, a manutenção é um investimento que

qualquer empresa deve fazer para melhorar seus lucros e conservar seu patrimônio.

A manutenção de aeronaves serve para garantir a disponibilidade, a

aeronavegabilidade1 e o desempenho da aeronave, de seus sistemas, subsistemas e

componentes durante toda a sua vida operacional, bem como garantir a confiabilidade

prevista em seu projeto [2].

Na prática, a manutenção é o conjunto de cuidados técnicos para conservação

da aeronave, tais como reparo, limpeza, verificação ou inspeção detalhada das peças

e sistemas em utilização, a fim de substituí-las ou restaurá-las. A manutenção tem a

finalidade de corrigir avarias ou de prevenir ou detectar falhas de material ou

deterioração do desempenho de sistemas ou, simplesmente, o controle do tempo de

vida de peças em utilização. Para isso, cada fabricante define um manual com um

programa preventivo de manutenção que deve ser seguido obrigatoriamente pelo

utilizador.

MACHADO et al. [4] diz que a manutenção aeronáutica pode ser dividida em

duas atividades que, apesar de estarem completamente associadas, possuem

1 Aeronavegabilidade é um termo usado para definir se uma aeronave é capaz de realizar um vôo seguro.

Essa capacidade depende de três aspectos básicos, que são a certificação do projeto da aeronave, a

certificação de fabricação e a manutenção da aeronave. Com isso, a aeronavegabilidade é mantida por

meio de um programa de inspeções, conduzido por um mecânico de manutenção habilitado [3].

2

especificidades que as distinguem. A primeira atividade se refere à manutenção das

aeronaves como um equipamento único, e a segunda atividade se refere à

manutenção dos componentes que servirão como insumos para a primeira.

Este trabalho dará enfoque apenas à manutenção dos componentes das

aeronaves, mais especificamente mostrando o exemplo da manutenção de um

componente, e elucidará a importância da qualidade na manutenção destes para o

perfeito funcionamento da aeronave.

1.2 JUSTIFICATIVA E OBJETIVOS DO ESTUDO

A expansão do setor de transporte aéreo no Brasil exige uma indústria de

serviços de manutenção aeronáutica capaz de atender tal processo expansivo,

garantindo as condições de segurança de voo. Para acompanhar esse crescimento, é

necessário explorar a manutenção aeronáutica sob perspectivas que busquem

melhorar a eficiência técnica do setor [4].

O objetivo geral do trabalho é mostrar como funciona a manutenção de

componentes aeronáuticos, descrevendo os principais processos e técnicas de

manutenção. Já o objetivo principal é estudar a manutenção de um componente

específico - o cubo de hélice do avião EMB-120 - para então revelar os principais

problemas encontrados e propor melhorias no processo de reparo do mesmo,

propondo inclusive a implementação de novas tecnologias.

O estudo se demonstrou bastante viável pelo livre acesso a uma empresa que

realiza a manutenção de componentes aeronáuticos no Rio de Janeiro, o que

possibilitou o acompanhamento dos processos de manutenção. Cada processo segue

as orientações dos manuais dos componentes, que são feitos pelos fabricantes, e que

também foram disponibilizados para livre consulta e referência neste estudo.

3

1.3 METODOLOGIA ADOTADA

Primeiramente, foi feita uma pesquisa exploratória que se baseou em um

levantamento bibliográfico a respeito do tema de manutenção em geral, aprofundando

para o tema de manutenção na aviação. Para explorar na prática este tema, foram

feitas visitas a uma empresa de manutenção de componentes aeronáuticos. Após

todas as observações na empresa, que permitiu o acompanhamento de manutenções

em diversos componentes, foi escolhido um componente para aprofundar o estudo. A

pesquisa também tem um objetivo descritivo, pois busca descrever a manutenção

deste componente, analisar as possíveis melhorias nesse processo e verificar as

relações entre teoria e prática da manutenção. Na análise de melhorias, foram ainda

exploradas algumas propostas de mudança em uma etapa da manutenção do

componente. Com isso, o projeto tomou um rumo para o tema de usinagem. Para a

parte descritiva de usinagem do projeto, foi usado o software Fusion 360º para

modelagem em 3D de peças e para a simulação de usinagem das mesmas.

A pesquisa tem um caráter sobretudo qualitativo, no entanto também um caráter

quantitativo, quando compara o tempo de fabricação de uma peça usada no reparo do

componente escolhido da forma que é feita atualmente e da forma proposta e a

economia de volume de material que acaba sendo desperdiçado após a sugestão de

mudança.

1.4 ESTRUTURA DO TRABALHO

Este trabalho será dividido em seis capítulos.

O capítulo 1 é esta introdução, que inclui algumas considerações iniciais, a

justificativa e objetivos do estudo, além da metodologia usada para o desenvolvimento

do trabalho.

4

O capítulo 2 contém a revisão bibliográfica sobre os principais conceitos e

definições de manutenção e como funciona a manutenção de componentes

aeronáuticos, sobre usinagem, sobre fundição e sobre fusão seletiva a laser, que é um

processo de manufatura aditiva.

O capítulo 3 é composto pelo estudo da manutenção de um componente

aeronáutico, o cubo de hélice (HUB) do avião Embraer EMB-120. Este capítulo mostra

como funciona a empresa que realiza a manutenção do cubo de hélice e explica os

procedimentos da manutenção deste componente, evidenciando os principais pontos

fracos encontrados no processo de reparo. Ainda engloba uma avaliação de melhoria

técnica para esse processo.

O capítulo 4 contém uma proposta para a otimização da fabricação da bucha de

reparo do cubo de hélice. Para isso, sugere dois diferentes delineamentos da

fabricação, um mudando parâmetros do processo atualmente feito, e o outro sugerindo

a fabricação a partir de uma nova peça inicial.

O capítulo 5 é a conclusão do estudo, que resume a análise feita e revela os

resultados das comparações.

Por fim, o capítulo 6 contém as referências bibliográficas usadas para a

realização deste trabalho.

5

2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

Há quatro principais assuntos que serão abordados no estudo: a manutenção

(com ênfase à manutenção na aviação) e três processos de fabricação, sendo um

através da usinagem, outro através da fundição e outro através da fusão seletiva a

laser. Este capítulo englobará o embasamento teórico para esses assuntos, que serão

descritos ou indicados ao longo do trabalho.

2.1 MANUTENÇÃO NA AVIAÇÃO

2.1.1 MANUTENÇÃO DOS COMPONENTES AERONÁUTICOS

Ao se estabelecer qual será a aplicação da aeronave, definem-se os materiais

utilizados, são traçados os ensaios para certificação, escritos os programas e manuais

de manutenção e os manuais de operação da aeronave. A maioria dos países no

mundo seguem os conceitos de projetos aeronáuticos dos Estados Unidos, além de se

basearem nas normas e regulações da FAA 2 [6].

Todas as aeronaves possuem um plano de manutenção que é feito baseado nas

informações prestadas pelo fabricante para cada componente ou para aeronave como

um todo. Essa manutenção é fiscalizada pela ANAC (Agência Nacional de Aviação

Civil), devendo estar rigorosamente em dia, do contrário, além da suspensão do direito

de voar, é aplicada uma multa ao operador da aeronave. A empresa dona da aeronave

é responsável por fiscalizar o seu plano de manutenção, e quando veem que está

chegando o período que os componentes devem ir para a manutenção ou caso

tenham percebido algum tipo de falha no componente ela procura a empresa de

manutenção.

2 A Administração Federal de Aviação (em inglês: Federal Aviation Administration - FAA) é a entidade

governamental dos Estados Unidos, responsável pelos regulamentos e todos os aspectos da aviação civil

nos Estados Unidos [5].

6

Quando uma aeronave opera em condições climáticas severas, como em

atmosfera salina, tempo frio, atmosfera úmida, atmosfera arenosa ou atmosfera

corrosiva, a manutenção da aeronave ou sistemas é diferente de uma aeronave que

voa em situação de atmosfera normal. Normalmente para esses casos os fabricantes

acrescentam novas operações de manutenção às já existentes [2].

Durante a operação da aeronave é possível que alguma peça venha

apresentando danos recorrentes antes do tempo previsto de substituição da mesma,

isso pode indicar que a peça não está resistindo ao esforço previsto ou que alguma

técnica de manutenção esteja se mostrando ineficaz. É comum para as empresas

operadoras das aeronaves ou para as empresas de manutenção avisar a toda a

comunidade de aviação que problemas desse tipo estejam ocorrendo. Assim, estarão

contribuindo para a preservação da aeronavegabilidade do modelo que operam.

Para a identificação dos problemas, há um sistema mundial de retroalimentação

de informações, chamado “Dificuldades em Serviço”. No Brasil, a ANAC mantém em

seu site um campo para que operadores e mantenedores possam relatar suas

dificuldades, através do acesso ao Sistema Integrado de Informações de Aviação Civil.

Nele poderá relatar o que aconteceu no voo, no solo ou na oficina, bem como qualquer

anormalidade com algum componente. Esse registro será cruzado com outros de

mesmo tipo, por todo o mundo, e, se a ocorrência for reincidente, uma providência

poderá ser decretada pela autoridade aeronáutica que gere o sistema. Esse cruzamento

de informações tenta avaliar a necessidade de alguma intervenção, ou até mesmo um

“recall”. Então, uma Diretriz de Aeronavegabilidade poderá ser publicada pela ANAC,

ou um Boletim de Serviço, emitido pelo fabricante para algum PN ou SN [6].

O PN (Part Number) é um conjunto de números e letras que são gravados na

peça A identificação de uma peça ou componente é feita através desse código. Cada

tipo de peça tem seu próprio PN e embora muitas vezes as peças pareçam ser iguais,

se elas tem PN’s diferentes, há pelo menos alguma característica técnica que as

7

diferem. Além do PN, uma peça ou componente ainda possui o SN (Serial Number),

traduzido como número serial, número de série ou código serial, que também é

composto por uma combinação de números e letras e é único para cada peça

fabricada. O SN é útil na rastreabilidade da peça, uma vez que se um defeito for

encontrado na produção de um determinado lote, o número de série irá identificar

rapidamente quais as unidades que foram afetadas.

A Diretriz de Aeronavegabilidade (DA) é um documento emitido pela

autoridade aeronáutica de cada país após análise de uma condição insegura existente

em um produto aeronáutico que possa se desenvolver em outros produtos do mesmo

projeto. A autoridade emite a DA tornando obrigatórias as correções das

anormalidades constatadas a partir do resultado da análise de algum acidente

investigado ou condição insegura reportada em relatórios de confiabilidade mecânica,

relatórios de dificuldades em serviço e relatórios de interrupção de voo emitidos por

operadores, relatório de defeito ou de condição não aeronavegável reportados por

oficinas de manutenção ou boletins e cartas de serviço editadas por fabricantes.

Portanto, não somente o fabricante, mas as oficinas e operadores têm papel

fundamental na emissão de novas diretrizes, uma vez que, são responsáveis e devem

emitir e enviar à autoridade aeronáutica os relatórios com a descrição dos problemas

encontrados no dia a dia de suas atividades [7].

Boletim de Serviço (BS) é um documento emitido pelo fabricante do produto

aeronáutico (aeronave, motor, equipamento e componente), com o objetivo de corrigir

falha ou mau funcionamento deste produto ou nele introduzir modificações e/ou

aperfeiçoamentos, ou ainda visando à implantação de ação de manutenção ou

manutenção preventiva aditiva àquelas previstas no programa de manutenção básico

do fabricante. Um boletim de serviço somente terá caráter mandatório (obrigatório)

quando a ANAC ou a autoridade aeronáutica do país de origem do produto

aeronáutico emitir uma Diretriz de Aeronavegabilidade ou estabelecer no próprio

8

Boletim de Serviço o seu caráter mandatório, ou quando incorporado por referência

através de outro documento mandatório [7].

2.1.2 A AGÊNCIA NACIONAL DE AVIAÇÃO CIVIL

A Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC), uma das agências reguladoras

federais do País, foi criada para regular e fiscalizar as atividades da aviação civil e a

infraestrutura aeronáutica e aeroportuária no Brasil. Instituída em 2005, começou a

atuar em 2006 substituindo o Departamento de Aviação Civil (DAC). É uma autarquia

federal de regime especial e está vinculada ao Ministério dos Transportes, Portos e

Aviação Civil. As ações da ANAC se enquadram nas atividades de certificação,

fiscalização, normatização e representação institucional [8].

Certificação

A certificação serve para atestar que aviões e helicópteros e seus componentes,

oficinas de manutenção, empresas aéreas, escolas e profissionais de aviação do país

possuam um grau de confiança e cumpram os requisitos que foram estabelecidos em

regulamentos internacionais. A certificação da ANAC obedece à Convenção de

Chicago (1944), da qual o Brasil é signatário, e é reconhecida por diversos países com

os quais há acordos internacionais.

Fiscalização

A ANAC fiscaliza o setor de aviação civil no país, a fim de assegurar os níveis

aceitáveis de segurança e a qualidade na prestação dos serviços. Para isso, pratica a

vigilância continuada, que se dá de forma planejada e constante, e acompanha o

desempenho de produtos, empresas, operações, processos e serviços e dos

profissionais certificados. Há também as ações fiscais, onde o foco é identificar e

prevenir infrações aos regulamentos do setor e, em parceria com outros órgãos, a

prática de atos ilegais.

9

Normatização

A ANAC estabelece normas para o funcionamento da aviação civil do Brasil, que

são elaboradas através de estudos e de consultas e audiências públicas. Essas

normas seguem os preceitos de instituições e organizações internacionais de aviação

das quais o Brasil é signatário. Além de criar esses regulamentos técnicos e

econômicos, a ANAC também é responsável por revisar, atualizar e editá-los.

Autorizações e Concessões

Para atuar, as companhias aéreas, empresas de táxi-aéreo ou de serviços

especializados, escolas, oficinas, profissionais da aviação civil e operadores de

aeródromos e aeroportos precisam ser autorizados pela ANAC. De acordo com a

complexidade para o desempenho de cada atividade, a Agência emite autorizações,

permissões, outorgas e concessões a esses entes regulados. O descumprimento de

regras e requisitos pode levar a Agência a suspender ou a cassar as autorizações

concedidas.

Profissionais da Aviação Civil

Há diversas categorias de profissionais responsáveis pelo funcionamento do

transporte aéreo, como exemplos temos os pilotos, comissários de bordo, mecânicos de

manutenção, despachantes operacionais, entre outros. Cabe à ANAC emitir licenças e

certificados de habilitações técnicas para que esses profissionais possam atuar na

aviação civil

Vale ressaltar que não fazem parte do escopo de ação da ANAC duas atividades

importantes dentro do sistema de Aviação Civil [9]:

● O tráfego aéreo, este é de responsabilidade do Departamento de Controle

do Espaço Aéreo (DECEA);

10

● A investigação de acidentes, esta é de responsabilidade do Centro de

Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (CENIPA).

Ambos os órgãos pertencem à FAB (Força Aérea Brasileira).

2.1.3 OS PROFISSIONAIS DA MANUTENÇÃO AERONÁUTICA

Como mecânico de manutenção aeronáutica, são três as especialidades

possíveis para obter habilitação [10]:

● GMP (Grupo motopropulsor) - Com esta especialidade o interessado estará

habilitado a trabalhar com todos os tipos de motores de aviação geral (convencional ou

a reação), todos os sistemas de hélices e rotores e com todos os sistemas dos grupos

motopropulsores.

● CEL (Célula) - Esta é a especialidade que trabalha com todos os sistemas de

pressurização, ar condicionado, pneumático e sistemas hidráulicos. Também é nesta

habilitação que o interessado poderá trabalhar na estrutura de aviões e helicópteros

em geral, ou seja, a fuselagem da aeronave.

● AVI (Aviônicos) - Esta habilitação permite que o interessado trabalhe em

todos os componentes elétricos e eletrônicos de aeronave, inclusive instrumentos de

navegação, rádio navegação e radiocomunicação, sistemas elétricos e de radar.

Também há os auxiliares de mecânico. Estes, por sua vez, ainda estão em

processo de aprendizado e de retirada da carteira (também chamada de

homologação). O mecânico no início de sua carreira profissional será um auxiliar, que

irá acompanhar os mecânicos na realização dos trabalhos de inspeção, reparo, troca

de componentes e na liberação de aeronaves para retorno ao voo. Após o período de

treinamento, o mecânico auxiliar passará por uma prova prática aplicada por um

Inspetor da ANAC, que irá avaliar sua proficiência no período em que ficou como

auxiliar. Caso venha a ser aprovado, o auxiliar passa a ser um Técnico de Manutenção

11

de Avião/Helicóptero.

2.1.4 PRINCIPAIS TIPOS DE MANUTENÇÃO

Antes de explicar os principais tipos de manutenção é necessário explicar o

conceito de falha. Existem dois tipos de falhas: a concreta e a latente, que são

caracterizadas por ALVAREZ [1] como:

Falha concreta (ou pane): estágio final de todo defeito, que impede a

continuação do funcionamento do equipamento, paralisando o sistema funcional,

parcial ou totalmente.

Falha latente (ou falha incipiente): primeiro estágio ou período de incubação

de toda falha concreta. A característica principal deste defeito é a de que esta

imperfeição estrutural ou funcional nem sempre paralisa a operação do equipamento,

continuando o mesmo a funcionar.

2.1.4.1 MANUTENÇÃO À DEMANDA

É também conhecida como Manutenção Imprevista ou de Emergência.

Para ALVAREZ [1], a Manutenção à Demanda consiste na assistência técnica

dada ao equipamento depois de ocorrida a falha concreta, que impossibilita a

continuidade funcional do sistema e obriga a parada de forma imprevista.

É muito comum ver a terminologia “Manutenção Corretiva” substituindo a

denominação da técnica da Manutenção à Demanda, de Emergência ou Imprevista.

Para ALVAREZ [1] tal termo é incorreto, uma vez que implica num procedimento e não

em uma técnica, pois acredita que uma falha detectada por qualquer técnica de

manutenção deve ser “corrigida” para ser eliminada. Assim, para o procedimento de

manutenção que corrige uma falha, latente ou concreta, será usado o termo

“manutenção corretiva”.

12

KARDEC & NASCIF [11] acreditam que essa manutenção não é só para a

correção de uma falha, mas também pode ser para corrigir um desempenho menor do

que o esperado, e que, nesse caso, essa manutenção não se trata de uma

manutenção de emergência. E ainda definem que quando essa manutenção é para

corrigir a falha concreta, ela se caracteriza como uma manutenção corretiva não

planejada. Já quando é para melhorar o desempenho sem ter havido uma falha

concreta ou para correção de uma falha latente por decisão gerencial ela é dita

manutenção corretiva planejada. Mesmo que a decisão gerencial seja de deixar o

equipamento funcionar até a quebra, essa é uma decisão conhecida e algum

planejamento pode ser feito quando a falha ocorrer. Normalmente a decisão gerencial

se baseia na modificação dos parâmetros de condição observados pela manutenção

preditiva.

2.1.4.2 MANUTENÇÃO PREVENTIVA

Como o próprio nome já diz, essa manutenção é feita de forma a prevenir que

uma falha concreta ocorra. A atuação é feita de forma programada, segundo

inspeções realizadas com frequências pré-fixadas, ou seja, intervalos definidos de

tempo. O intuito dessa manutenção é de detectar falhas latentes e manter um

determinado nível de funcionamento e disponibilidade antes da manifestação de uma

pane, ou seja, evitar paradas por causa de falhas concretas [1].

KARDEC & NASCIF [11] dizem que na aviação a adoção da manutenção

preventiva é imperativa para determinados sistemas ou componentes, pois o fator

segurança é o que mais importa.

2.1.4.3 MANUTENÇÃO PREDITIVA

Esta manutenção consiste na utilização de técnicas adequadas que conduzam à

identificação (predição) do ponto ótimo para execução da manutenção, o ponto

preditivo. A busca desse ponto ótimo para a intervenção é feita através do

13

monitoramento de parâmetros e baseia-se na evolução, ao longo do tempo, dos

sintomas constatados [2].

Baseia-se no acompanhamento, medição, análise e comparação de índices e

parâmetros indicativos do estado e condição do equipamento ou sistema, comparados

com padrões de desempenho ótimos ou de projeto, sendo alguns desses parâmetros:

pressão, temperatura, vibrações, análises químicas, rugosidade, índice de desgaste,

potência, vazão, velocidade, consumo, etc [1].

Seu objetivo principal é monitorar os parâmetros para evitar as falhas concretas,

aproveitando o máximo possível a vida útil total dos componentes ou de um

equipamento até quando o grau de degradação se aproximar ou atingir o limite

previamente estabelecido, sendo necessária, então, a tomada de decisão de

intervenção. Outros objetivos são eliminar desmontagens desnecessárias para

inspeção, aumentar o tempo de disponibilidade dos equipamentos, reduzir o trabalho

de emergência não planejado e impedir o aumento dos danos [12].

Através de técnicas preditivas é feito o monitoramento da condição e, como dito

anteriormente, KARDEC & NASCIF [11] diz que a ação de correção, quando

necessária, caracteriza uma manutenção corretiva planejada.

Os principais métodos de análise e diagnóstico preditivo são:

● análise vibracional;

● análise de lubrificantes;

● ensaios não destrutivos (raios-x, raios gama, ultrassom, partículas magnéticas,

líquidos penetrantes, correntes parasitas, ensaios acústicos);

● termografia;

● ensaio visual;

● teste de vazamentos (leak-test).

14

2.1.4.4 MANUTENÇÃO SISTEMÁTICA

É a assistência técnica dada ao equipamento em função da vida útil física de

seus componentes ou peças, a partir da qual os mesmos devem ser trocados

independente dos seus estados e condições. Desta forma, também ocorre de forma

preventiva, pois evita-se o aparecimento de falhas concretas e, inclusive, de falhas

latentes [1].

2.1.4.5 MANUTENÇÃO CURATIVA

É a assistência técnica dada ao equipamento visando melhorar o projeto original,

com o intuito de aumentar a eficiência, diminuir a incidência de falhas, aumentar o

índice de confiabilidade, melhorar as condições de acesso, de visão e de manutenção

dos elementos, aumentar a vida útil do equipamento e reduzir ao mínimo a

necessidade de manutenção, melhorando também as condições funcionais e

operativas [1].

Para a aviação, essa manutenção consiste em serviços que resolvam uma falha

cuja origem se deu no projeto da aeronave ou sistema. A intervenção possibilita a

solução definitiva de uma pane recorrente ou de uma situação inicialmente identificada

e julgada inadmissível, apesar da prática de outras técnicas de manutenção.

Determinadas falhas detectadas seguidamente em inspeções preventivas ou sanadas

seguidamente em inspeções corretivas podem ser remediadas (curadas) introduzindo-

se uma modificação técnica. Além disso, a manutenção curativa pode ser precedida

e/ou complementada por mudanças no modo de operação do item ou sistema em

questão [13].

As manutenções curativas são mais comuns do que se imagina. Boletins de

Serviços (BS) e Diretrizes de Aeronavegabilidade (DA) são tipos de manutenções

curativas [2].

15

Normalmente o fabricante ou órgão homologador emite o BS ou a DA

informando e determinando ao operador uma intervenção no sentido de tirar a

condição que esteja apresentando risco à operação da aeronave ou simplesmente

para realizar uma melhoria do produto. O operador, em casos especiais, também pode

propor uma melhoria ao produto. Neste caso, fica a critério do fabricante aceitar ou

recusar a observação do operador.

2.1.5 OS PROCESSOS DE MANUTENÇÃO NA AVIAÇÃO

Na aviação é comum usarmos três termos para definirmos o tipo de processo

(método) de manutenção, que é o que define o momento que um determinado

componente deve ser substituído [13]. São eles:

1. “Hard Time” (HT) - Manutenção com Tempo Limite

2. “On-Condition” (OC) - Manutenção com Verificação do Estado

3. “Condition Monitoring” (CM) - Monitoramento das Condições ou do

Comportamento

A principal diferença entre estes métodos é que no Hard Time e no On

Condition, substituem-se o componente antes da manifestação de seu defeito,

enquanto que no Condition Monitoring, substitui-se o componente somente após a

manifestação do defeito.

2.1.5.1 HARD TIME (HT) ou Manutenção com Tempo Limite

Dizer que um componente está sujeito à Manutenção com Tempo Limite,

significa que ele deverá ser retirado do serviço antes de alcançar um determinado

limite. Este limite pode ser em horas de vôo ou de funcionamento, tempo calendárico,

número de ciclos ou outro parâmetro de contagem. O item pode ser limitado apenas

por um parâmetro ou por mais de um parâmetro, como por exemplo: limitado em horas

de funcionamento e tempo calendárico.

16

Os componentes sujeitos ao processo Hard Time podem ser enquadrados em

três tipos de limites:

a) TBO (Time Between Overhauls - Tempo Entre Revisões)

b) SLL (Service Life Limit - Tempo Limite de Vida)

c) OTL (Operating Time Limit - Tempo Limite de Funcionamento)

a) Limite TBO

Após período pré-determinado em operação o componente é removido e sofre

Revisão Geral (Overhaul) em oficina especializada. A finalidade desta intervenção é a

de liberar o componente para um novo período de serviço, de duração equivalente ao

anterior. Depois de revisado o item recupera a prestabilidade inicial.

As intervenções ocorrem a períodos constantes (intervenções programadas).

b) Limite SLL

Após determinado período pré-definido normalmente pelo fabricante (tempo de

vida do componente), o componente é retirado de serviço e é considerado sucata, ou

seja, deve ser substituído obrigatoriamente na manutenção.

c) Limite OTL

O componente deve ser retirado de serviço ao atingir o limite de utilização, que

pode ser número de horas de voo, tempo calendárico ou número de ciclos.

Manutenção por número de horas voadas – Cada componente que sofre

manutenção desse tipo deve ser trocado após determinada quantidade de horas que a

aeronave voou.

Manutenção por calendário – Cada componente que sofre manutenção

17

desse tipo deve ser trocado após determinado período estipulado no calendário

(exemplo: dias, meses, anos) independente da quantidade de horas voadas.

Manutenção por número de ciclos – O controle de componentes por ciclos

de operação é, em alguns casos, complexo de ser efetuado. A contagem para a célula

da aeronave é em função do número de pousos. Sistemas complexos como os

motores têm seus ciclos contabilizados em função do número de partidas do motor.

Para conhecer a contabilidade dos ciclos de operação das aeronaves e seus

componentes, deve-se consultar o manual do fabricante.

É comum a combinação desses limites. As peças além de serem contabilizadas

por horas de funcionamento, normalmente também são contabilizadas por tempo

calendárico ou até mesmo por ciclos. Nesta situação o valor que ocorrer primeiro -

número de horas voadas, tempo estipulado em calendário ou número ciclos - é que

determina a retirada da peça de serviço.

Vale ressaltar que Limite TBO caracteriza a manutenção preventiva, e os

limites SLL e OTL caracterizam a manutenção sistemática.

2.1.5.2 ON-CONDlTION (OC) ou Manutenção com

Verificação do Estado

O componente sofre verificações periódicas a intervalos regulares e pré-

definidos para controlar a evolução de alterações conhecidas e/ou revelar novas

alterações, antes de liberá-Io para um novo período de utilização. É através desse

processo que se verifica o grau de deterioração do componente.

A verificação do estado de um componente é efetuada por procedimentos de

inspeção e de controle não-destrutivos e sempre que possível sem remoção de

componentes, nem ruptura de ligações. Os reparos nestes componentes serão feitos

em função do seu estado.

18

Dois conceitos importantes estão associados à manutenção OC, o de falha

potencial e o de falha funcional.

Pane Potencial (Falha Latente): é uma pane que não impossibilita o item de

executar suas funções ou de trabalhar corretamente, porém ela é o princípio de uma

pane maior que impossibilitará o funcionamento do item (pane funcional).

Pane Funcional (Falha Concreta): é uma pane que faz com que o item deixe

de executar corretamente suas funções.

Esse processo faz parte da manutenção preventiva e preditiva.

2.1.5.3 CONDITION MONITORING (CM) ou Monitoramento

das Condições ou do Comportamento

A manutenção com monitoramento do comportamento significa que a

intervenção no componente ocorrerá somente após a manifestação de seu defeito.

Componentes sujeitos a esse processo de manutenção são reparados ou substituídos

após apresentarem uma falha.

Componentes CM não têm controle preventivo ou sistemático para inspeção ou

revisão geral e são operados até falhar. Nenhuma operação de manutenção é exigida

nos manuais de manutenção para avaliar sua condição, expectativa de vida ou

desgaste. Para os itens CM cuja falha é suscetível de conseqüências na segurança do

vôo, são utilizados os recursos da redundância, que é ter mais de um equipamento do

mesmo tipo, para o caso de falha em um, poder contar com o segundo ou até com um

terceiro, dependendo do equipamento.

Esse processo faz parte da manutenção à demanda.

19

2.2 USINAGEM

Ao longo deste estudo serão abordados assuntos de usinagem, tal como a

tecnologia CNC e alguns processos e parâmetros de usinagem. A teoria necessária

para o entendimento futuro desses assuntos será elucidada adiante.

2.2.1 MÁQUINA CNC

O Comando Numérico Computadorizado (CNC) é um equipamento eletrônico

que recebe informações sobre a forma em que a máquina vai realizar uma operação,

por meio de linguagem própria de comandos numéricos, denominado programa CNC,

e processa essas informações e as transmite ao sistema através de impulsos elétricos.

Os sinais elétricos farão o acionamento de motores que darão à máquina os

movimentos desejados, realizando a operação na sequência programada sem a

necessidade da intervenção de um operador [14].

Algum software de modelagem em 3D é utilizado para criar as especificações da

peça. O desenho da peça é então exportado para o CNC e é transformado em uma

série de valores numéricos para a máquina CNC, que utiliza as informações e move e

opera a ferramenta. Essa é a forma automática da obtenção do programa, no entanto

este também pode ser feito de uma forma manual, através da criação do código.

As máquinas CNC leem códigos com os seguintes comandos [14]:

N - Nº de Sequência

Número da sequência do bloco de programação (número da linha do código)

X,Y,Z

Coordenadas nos eixos de movimento

G - Função Preparatória

Informa ao controlador as características da operação

Tipos de trajetória

20

Tipo de referencial a usar – coordenadas relativas ou absolutas;

Unidades do sistema

T - Número da Ferramenta

Indica o número da ferramenta selecionada para executar a operação

M – Função Auxiliar

Indica à máquina outras funções complementares:

Parada do programa

Sentido de rotação da árvore

Mudança de ferramenta

Ligar e desligar funções e acessórios

F – Velocidade de avanço

Quantifica a velocidade de avanço da ferramenta expressa em [mm/min] ou o

avanço em [mm/rot].

S – Velocidade de Rotação

Quantifica a velocidade de rotação da árvore principal, podendo indicar a

velocidade de corte.

Após a obtenção do programa é necessário efetuar o setup da máquina, que

inclui a definição do ponto-zero da peça, onde deve-se introduzir no CNC quais as

coordenadas do zero da peça relativamente ao ponto zero da máquina. Além disso, é

necessário colocar os dados das ferramentas, como diâmetros e comprimentos, e

identificar os ciclos de desbaste e número de passes [14].

21

2.2.2 PROCESSOS

O faceamento é um processo que retira material da face de uma peça, para

melhorar a qualidade da superfície. Já o torneamento externo é um processo que visa

diminuir o diâmetro de uma peça, através de uma profundidade de corte e do

movimento axial da ferramenta, que é chamado de movimento de avanço. Este

processo pode ser visto na figura 2.1. O torneamento interno é semelhante ao

torneamento externo, porém usina o diâmetro interno da peça, aumentando o seu

valor.

Figura 2.1 - Torneamento externo - Retirado de [15]

O processo de sangramento serve para fazer canais em uma peça e usa uma

ferramenta que é chamada de bedame. Podem ser canais frontais, como mostra a

figura 2.2, ou canais radiais, como mostra a figura 2.3, e, neste último, caso a

ferramenta chegue ao centro da peça, esta é cortada (dividida em duas partes).

Quando o comprimento de avanço na direção radial for pequeno, a velocidade

de rotação pode ser mantida constante, caso contrário, se a máquina-ferramenta tem

esta opção, a rotação deve variar mantendo a velocidade de corte constante.

22

Figura 2.2 - Sangramento frontal (axial) - Retirado de [15]

Figura 2.3 - Sangramento radial - Retirado de [15]

2.2.3 PARÂMETROS

Os principais parâmetros da usinagem usados neste estudo são:

● diâmetro inicial e final da peça no processo - [mm]

● comprimento usinado (Lf) - [mm]

● profundidade de corte (ap) - [mm]

● velocidade de corte (Vc) - [m/min]

● avanço por rotação (fn) - [mm/rotação]

● rotação (N) - [RPM]

● velocidade de avanço (Vf) - [mm/min]

● tempo de corte (tc) - [s]

23

A velocidade de rotação (N) é calculada em função da velocidade de corte (Vc) e

do diâmetro da peça (D), como mostra a equação 1.

𝑁 =𝑉𝑐.1000

𝜋𝐷 [RPM] (1)

O avanço (fn) representa o movimento da ferramenta com relação à peça. As

ferramentas que serão usadas têm apenas uma aresta de corte, portanto o número de

dentes da ferramenta (zc) é igual a 1. A velocidade de avanço (Vf) é calculada através

da equação 2.

𝑉𝑓 = 𝑓𝑛. 𝑧𝑐 . 𝑛 [mm/min] (2)

Através da rotação e da velocidade de avanço, podemos calcular o tempo de

corte, como mostra a equação 3.

𝑡𝑐 =𝐿𝑓

𝑉𝑓 [min] (3)

Para passar o tempo para segundos, basta multiplicar o valor por 60.

2.3 FUNDIÇÃO

Existem diversos processos de fundição, no entanto apenas três processos

serão brevemente explicados, pois serão vistos posteriormente neste estudo. Os

processos são os seguintes:

a) Fundição em areia

A fundição em areia ou fundição de molde em areia consiste em vazar o metal

fundido num molde de areia, deixando o metal solidificar e depois quebra-se o molde

24

para remover a peça. A peça deve ser limpa e inspecionada e algumas vezes passa

por tratamento térmico para melhorar suas propriedades. A cavidade no molde de

areia é formada compactando-se areia em volta de um modelo, que é uma cópia

aproximada da peça a ser fundida e então o modelo é removido pela separação do

molde em duas metades. O modelo deve ser feito com dimensões maiores que a peça

original, prevendo que na solidificação há contração do metal. O molde também

contém o sistema de canais e massalotes para o vazamento do metal. Quando a peça

tem partes ocas ou com furos é necessário a utilização de um macho no molde para

preencher o espaço oco ou com furo. A fundição em areia é o processo de fundição

mais utilizado, respondendo pela maioria significativa da tonelagem total de produtos

fundidos. Quase todas as ligas podem ser fundidas em moldes de areia. Tem

capacidade de fundir peças de variados tamanhos [16].

Há outros processos que usam moldes perecíveis, ou seja, moldes que são

desfeito após a fundição. A desvantagem econômica de qualquer um desses

processos é que um molde deve ser feito para cada fundido.

b) Fundição em molde permanente

O processo de fundição em molde permanente usa um molde metálico que é

reutilizado a cada fundição até que este esteja desgastado e haja necessidade de

confeccionar outro molde. Entre as vantagens desse processo, estão o acabamento

superficial e um melhor controle dimensional, além da solidificação mais rápida, pois o

metal fundido entra em contato com o metal do molde que está frio, e isso resulta em

uma superfície mais refinada, o que gera peças com maior resistência mecânica. Esse

processo em geral é utilizado em metais de baixo ponto de fusão, que é o caso da liga

de alumínio em questão [16].

c) Fundição centrífuga

A fundição centrífuga consiste em girar o molde a elevadas velocidades durante

25

o vazamento do metal fundido. A força centrífuga distribui o metal fundido nas regiões

periféricas da cavidade da matriz, e este vai tomando a forma da cavidade, e sua

forma interna fica circular devido às forças radiais simétricas. É um processo utilizado

para fabricação de tubos, buchas e anéis [16].

2.4 FUSÃO SELETIVA A LASER

A fusão seletiva a laser (selective laser melting - SLM), também conhecida

como sinterização direta a laser de metal (direct metal laser sintering - DMLS) ou fusão

a laser em pó (laser powder bed fusion - LPBF), é uma técnica de prototipagem rápida,

impressão 3D ou manufatura aditiva (MA) projetada para usar um laser de alta

densidade de potência para derreter e fundir pós metálicos que estão aglutinados [17].

A SLM pode ser usar uma grande variedade de ligas e produz peças de metal

resistentes e duráveis que funcionam bem como protótipos funcionais ou peças de

produção de uso final.

O processo divide os dados do arquivo CAD3 3D em camadas, geralmente de 20

a 100 micrômetros de espessura, criando uma imagem 2D de cada camada. O arquivo

é carregado em um pacote de software de preparação de arquivos que atribui

parâmetros, valores e suportes físicos que permitem que o arquivo seja interpretado

por diferentes tipos de máquinas de manufatura aditiva [17].

Na SLM, camadas finas de pó de metal fino atomizado são distribuídas

uniformemente usando um mecanismo de revestimento em uma placa, geralmente de

metal, que é presa a uma superfície que se move no eixo vertical. Isso ocorre dentro

3 Desenho assistido por computador (DAC) ou CAD (do inglês: computer aided design) é o nome

genérico de sistemas computacionais (software) utilizados para fazer projetos e desenhos técnicos.

26

de uma câmara contendo uma atmosfera rigidamente controlada de gás inerte, de

argônio ou nitrogênio, por exemplo, com níveis de oxigênio abaixo de 500 partes por

milhão, para prevenir a oxidação do metal. Uma vez distribuída a camada, usa-se um

feixe de laser de alta potência que é focalizado através do uso de espelhos para fazer

a fusão seletiva de cada camada de pó metálico. A energia do laser é intensa o

suficiente para permitir a fusão completa (soldagem) das partículas para formar um

metal sólido. O processo é repetido a cada camada até a peça estar completa.

Independentemente do sistema de materiais utilizado, o processo SLM deixa um

acabamento superficial granuloso devido ao tamanho de partícula de pó, à seqüência

de construção em camadas e ao espalhamento do pó de metal antes da sinterização

pelo mecanismo de distribuição de pó. A remoção e pós-processamento da estrutura

metálica de suporte da peça gerada pode ser um processo demorado e requer o uso

de usinagem. As superfícies geralmente precisam ser polidas para obter um

acabamento espelhado ou extremamente liso.

Há também o polimento a laser, que por meio da fusão de superfícies rasas de

peças produzidas com SLM é capaz de reduzir a aspereza da superfície com o uso de

um raio laser que fornece energia térmica suficiente para causar a fusão dos picos da

superfície. A massa fundida flui para os vales na superfície por tensão superficial,

gravidade e pela pressão do laser, diminuindo assim a aspereza.

27

3. ESTUDO DA MANUTENÇÃO DE UM COMPONENTE

AERONÁUTICO

Foi feito um estudo de caso em uma empresa de manutenção de componentes

aeronáuticos e escolhido um componente do avião Embraer EMB-120 para fazer a

análise da manutenção.

O avião EMB-120, apelidado de “Brasília”, foi fabricado pela EMBRAER entre

1983 e 2001 e é um avião turboélice bimotor dotado de hélices quadripás da marca

Hamilton Standard. Possui capacidade para transportar 30 passageiros e 3 tripulantes

e atinge uma velocidade de cruzeiro de aproximadamente 550 km/h e um alcance de

aproximadamente 1500 km, o que torna seu uso sobretudo regional. Em 1994, o

Brasília foi o avião regional com maior número de operadores no mundo, utilizado por

26 empresas em 14 países. Em 1996, recebeu da FAA (Federal Aviation

Administration) um prêmio especial de segurança [18]. Na figura 3.1 podemos ver o

EMB-120.

Figura 3.1 - Avião EMB-120 Brasília

28

3.1 O CUBO DE HÉLICE DO AVIÃO EMBRAER EMB-120

O estudo será da manutenção do cubo de hélice (também chamado de “hub”,

seu nome na língua inglesa) do EMB-120 que é um componente no qual as pás do

avião são encaixadas, junto com um eixo longitudinal que gira e transmite o

movimento do motor. A hélice é um termo que designa um conjunto de pás com um

mesmo centro. As hélices aeronáuticas convertem o movimento rotativo desse motor

em propulsão. Em projetos maiores, as hélices são ligadas à fonte de potência através

de uma caixa de redução, ao invés de diretamente ao eixo.

São três os tipos de hélices: de passo fixo, de passo ajustável (em solo) ou de

passo variável, do tipo velocidade constante. [19-a] No caso do EMB-120, as hélices

são de passo variável, que é o tipo de hélice mais sofisticado. A hélice de passo

variável ou hélice de passo controlável é um tipo de hélice com pás que podem ser

giradas em torno de seu eixo para alterar seu ângulo com o intuito de melhorar o

desempenho do voo. A característica principal é que a velocidade é mantida

constante. Esse tipo de hélice funciona de forma automática, sendo o seu controle

efetuado pelo governador de hélice, o que evita sobrecarga ao piloto e os riscos de

um ajuste incorreto do passo. O governador é um dispositivo que controla o passo da

hélice e, consequentemente, a rotação [19-b].

As hélices do Brasília são hidromáticas, que dentro da categoria de hélices de

passo controlável, são as que utilizam a pressão do óleo lubrificante do motor para

controlar o passo da hélice. Este sistema é utilizado na maioria dos aviões, desde

monomotores leves até os quadrimotores turboélices (caso do EMB-120). O pistão e o

cilindro hidráulico atuador encontram-se no próprio cubo da hélice [19].

O controle se dá da seguinte maneira: quanto mais óleo no cubo de hélice,

menor é o ângulo e, consequentemente, menor é o passo. Por exemplo, para

aumentar a rotação do motor é necessário mais óleo no cubo da hélice para que o

ângulo das pás sejam diminuídos e assim provocar uma menor resistência ao

29

movimento de rotação e com isso um aumento desta. A medida que o óleo entra para

o cubo, a pressão de óleo cria uma força maior que a força da mola de

embandeiramento4 da hélice e leva as pás para um ângulo menor ao atual, com isso

têm-se o aumento de rotação [20].

Além do movimento de rotação da hélice, o movimento de mudança na

angulação acaba gerando mais desgaste no cubo, podendo provocar vazamento do

óleo que fica em seu interior. Para o controle e o reparo desse desgaste, a

manutenção do cubo de hélice é fundamental para a segurança do voo.

Na figura 3.2 podemos ver o cubo de hélice do EMB-120, ele é feito de alumínio

e é fabricado através da fundição. Possui seis furos, dos quais os quatro maiores

(laterais) são para o encaixe das hélices e os dois menores (superior e inferior) são

para a passagem do eixo de transmissão. A figura 3.3 mostra a vista explodida do

conjunto de hélice estudado.

Figura 3.2 - Cubo de hélice do avião EMB-120 “Brasília”

4 O ângulo de embandeiramento é o ângulo que as pás são posicionadas paralelamente ao escoamento

do ar para reduzir a resistência.. Em inglês o termo usado é "feathering" (de "feather" ou pena) e significa

tornar o avião mais "leve" ou aerodinâmico, oferecendo menos resistência aerodinâmica de modo a poder

planar a uma maior distância [16].

30

Figura 3.3 - Vista explodida do conjunto de hélice e detalhe do hub - Retirado do

manual do fabricante

31

3.2 ESTUDO DE CASO DO CUBO DE HÉLICE

3.2.1 A EMPRESA DO ESTUDO DE CASO

A empresa estudada situa-se no Rio de Janeiro e está há mais de quarenta anos

atuando na revisão e/ou reparo de componentes aeronáuticos, bem como na

coordenação da logística envolvida nesta prática. É uma empresa referência no Brasil

e entre seus clientes estão alguns fabricantes de aeronaves, empresas de aviação do

ramo civil e do ramo militar.

Seus serviços de manutenção são executados com pessoal capacitado e

treinado em equipamentos e instalações específicas que obedecem às condições

impostas pelos fabricantes dos componentes.

Em seu quadro de funcionários, há engenheiros e técnicos e todos eles possuem

Carteira de Mecânico de Manutenção de Aeronaves expedida pela ANAC (Agência

Nacional de Aviação Civil) e são permanentemente reciclados através de cursos

oferecidos pela empresa. Também há os auxiliares de mecânico. Estes, por sua vez,

ainda estão em processo de aprendizado e de retirada da carteira (também chamada

de homologação).

Uma característica importante da empresa estudada é a agilidade na

manutenção dos componentes, que se baseia na capacidade instalada da empresa, da

rede de suprimento, da mão de obra disponível e da experiência logística adquirida. O

estoque é balanceado e permite o atendimento eficiente de revisões e reparos em

condições normais. Além disso, a empresa possui sua própria importação, não

dependendo de forma alguma de terceiros, o que resulta em melhores preços e prazos

de entrega, que são inteiramente repassados aos clientes.

A empresa é composta por oito seções principais, mostradas na figura 3.4, que

são responsáveis pela manutenção direta dos componentes. Os diferentes tipos de

32

componentes que chegam na empresa são destinados a essas seções de acordo com

sua categoria.

Figura 3.4 – Seções principais da empresa

Ainda existem as seções que dão o suporte para essas seções principais, isto é,

que participam de forma colaborativa na manutenção dos componentes e elas podem

ser vistas na figura 3.5.

Figura 3.5 – Seções de suporte às seções principais

Cabe ao Departamento de Engenharia da empresa todo serviço de engenharia,

além da responsabilidade de fiscalizar todas essas seções e elaborar o programa e

implementação de manutenção continuada das ferramentas especiais e equipamentos

dessas seções. Esse departamento também é responsável pelo projeto e certificação

de ferramentas especiais, tradução de manuais, elaboração de fichas de teste, laudos

de equivalência de ferramentas e laudos e desenhos técnicos de engenharia.

Além dessas seções, a empresa possui algumas áreas que a caracterizam por

ser uma empresa de manutenção, que serão expostas a seguir.

33

A RECEX fica na entrada da empresa e recepciona e inspeciona os

componentes que chegam na empresa e é por onde os componentes ficam

armazenados para serem expedidos para voltarem para sua empresa de origem. É

possível ver na figura 3.6 uma estante com alguns componentes para devolução.

Figura 3.6 - Componentes esperando devolução.

Além disso, na RECEX há a área de quarentena (figura 3.7) na empresa, onde

componentes ficam guardados para esperar a aquisição de manual caso necessário,

ou a resolução de alguma pendência de documentação ou até mesmo esperando a

decisão do cliente acerca do que deve ser feito com o componente.

34

Figura 3.7 - Área de quarentena

O Escritório de Metrologia, que guarda os principais instrumentos de medição

e ferramentas que são usados pelas seções e controla o empréstimo destes itens para

cada seção e controla a data que estes devem ser calibrados.

A Biblioteca Técnica, que contém todo o acervo físico e controla todo o acervo

virtual dos manuais dos fabricantes dos componentes, bem como qualquer outro

catálogo ou material de consulta para a realização da manutenção. Os manuais têm

uma numeração, e através da consulta virtual ao sistema da empresa usando o PN do

componente ou o número do CMM (Component Manual Maintenance – Manual da

Manutenção do Componente) acha-se a pasta que o manual está. Na figura 3.8 é

possível ver os manuais nas estantes.

35

Figura 3.8 - Pastas com manuais dos componentes

O Suprimento Técnico é o estoque de materiais (por exemplo: peças, produtos

químicos, algumas ferramentas, parafusos etc) para a manutenção dos componentes

e é controlado pelo chefe de estoque. O chefe de estoque é responsável por organizar

as peças, colocando-as em locais adequados. As peças têm números de identificação

e são colocados em ordem crescente em uma planilha física e virtual e as peças são

distribuídas em caixas, que também são numeradas com uma letra (que identifica o

corredor que ela se encontra) e um número (número que segue a sequência das

caixas na estante do corredor). Na figura 3.9 é possível ver a organização das caixas

em corredores.

Figura 3.9 - Seção de Suprimento Técnico

36

3.2.2 PROCEDIMENTOS DE MANUTENÇÃO

Há três fases do serviço na empresa, mostradas na figura 3.10, e para cada fase

há uma série de procedimentos que devem ser feitos. Os procedimentos e etapas de

cada fase serão descritos a seguir.

Figura 3.10 - Fases do serviço na empresa - Fonte: a autora.

a) A chegada do serviço

A empresa portadora da aeronave envia uma ordem de serviço para a empresa

de manutenção, com o pedido do serviço, que às vezes já é a identificação de uma

pane ou apenas o pedido de revisão do componente. Também é possível que o

serviço seja apenas limpeza de algum componente ou até mesmo a recertificação ou

calibração do mesmo. O Departamento Comercial lida com o primeiro contato com o

cliente, no qual é feito um orçamento para o serviço que foi pedido e todas as

negociações cabíveis.

A ordem de serviço que chega na empresa é recebida pela Recepção e

Expedição (RECEX), área da empresa responsável por receber o componente,

inspecioná-lo e fotografá-lo e que analisa o pedido de serviço e cria uma ordem de

serviço interna, com uma numeração gerada que segue uma ordenação crescente.

Essa numeração é gerada pelo sistema computacional da empresa. A inspeção visual

e arquivamento das fotos de como o componente chegou na empresa é de extrema

importância, uma vez que o cliente pode questionar o estado de como o componente

estava antes da manutenção. É uma forma de precaução e também de possibilitar

uma consulta interna às outras áreas da empresa.

37

A Ordem de Serviço (OS) é um documento que tem a função de emitir

comunicações internas em uma empresa a respeito de um trabalho que precisa ser

efetuado, contendo as informações necessárias para planejar e executar o serviço.

Serve para o controle interno e a organização dos processos de execução do serviço,

A OS tem numeração única e data de processamento, que é a data da chegada do

serviço na empresa, além de incluir os dados do cliente.

Na RECEX também é feito o direcionamento do componente para a seção

adequada a sua manutenção, no caso do HUB, ele é direcionado para a seção de

hélice.

b) A execução do serviço

A manutenção do cubo de hélice é executada por um mecânico, por um auxiliar

de mecânico e por um técnico de usinagem. Todos esses funcionários seguem as

recomendações do fabricante, obedecendo todas as condições de manutenção e

regras de segurança. Os serviços são apoiados e fiscalizados pelo Departamento de

Engenharia.

Antes de começar a realizar o trabalho de manutenção, primeiramente o

mecânico analisa o que precisa ser feito no serviço e como deve ser feito. Para isso,

ele consulta o manual, catálogos, desenhos, folhas de instrução do equipamento em

questão etc.

A manutenção consiste nas seis macro etapas, mostradas na figura 3.11.

38

Figura 3.11 – Macro etapas do processo de manutenção do cubo de hélice

Primeira etapa: Manutenção Preditiva - Ensaio não-destrutivo

Antes do cubo de hélice ser reparado, deve ser determinado se ele está dentro

dos limites do reparo, para isso deve ser realizada uma inspeção com líquido

penetrante na superfície do furo do braço do cubo e realizadas todas as medições

necessárias.

O ensaio por líquidos penetrantes (LP) é um ensaio não-destrutivo (END) e é

considerado um dos melhores métodos de teste para detectar descontinuidades

superficiais de materiais isentos de porosidade. Ele baseia-se no fenômeno da

capilaridade, que é o poder de penetração de um líquido em áreas extremamente

39

pequenas devido a sua baixa tensão superficial. O líquido precisa ter um alto poder de

penetração, pois a sensibilidade do ensaio é extremamente dependente do mesmo.

[21] O ensaio por líquidos penetrantes consiste em fazer penetrar na abertura da

descontinuidade da superfície do material um líquido e após a remoção do excesso de

líquido da superfície, faz- se o líquido retido sair da descontinuidade por meio de um

revelador. A imagem da descontinuidade fica então desenhada sobre a superfície [22].

Pode-se descrever o ensaio em etapas que são a preparação e limpeza da

superfície; a aplicação do penetrante; a espera do tempo de penetração; a remoção do

excesso de penetrante; a aplicação do revelador; a espera do tempo de revelação; a

inspeção;a avaliação dos resultados e a limpeza final pós-ensaio.

De acordo com [22], podem ser facilmente detectadas pelo método de Líquido

Penetrante as descontinuidades em materiais fundidos, trincas de tensão provocada

por processos de têmpera ou revenimento, descontinuidades de fabricação ou de

processo tais como trincas, costuras, dupla laminação e sobreposição de material,

assim como trincas provocadas pelo processo de soldagem ou usinagem, fadiga do

material ou mesmo corrosão sob tensão.

O ensaio por líquidos penetrantes pode revelar trincas extremamente finas, da

ordem de 0,001 mm de abertura [22]. A principal vantagem do método é a sua

simplicidade, pois é de fácil aplicação e interpretação dos resultados. Não há limitação

para o tamanho e forma das peças a ensaiar, nem para o tipo de material. No entanto,

o ensaio por líquidos penetrantes só detecta descontinuidades abertas para a

superfície, já que o penetrante precisa entrar na descontinuidade para ser

posteriormente revelado. Por esta razão, a descontinuidade não deve estar preenchida

com material estranho e a superfície do material não pode ser porosa ou muito rugosa

ou absorvente, porque nesses tipos de superfície não existe possibilidade de remover

totalmente o excesso de penetrante, o que causa mascaramento de resultados. O

penetrante pode ser aplicado por “spray”, por pincelamento, com rolo de pintura ou

40

mergulhando-se as peças em tanques que contenham o líquido.

O revelador deve ser capaz de absorver o penetrante da descontinuidade; servir

como uma base por onde o penetrante se espalhe; deve cobrir a superfície com uma

camada fina e uniforme, evitando confusão com a imagem do defeito; deve ser

facilmente removível; não deve conter elementos prejudiciais ao operador e ao

material que esteja sendo inspecionado. Os reveladores classificam-se em pós secos,

suspensão aquosa de pós, solução aquosa e suspensão de pós em solvente [22].

A iluminação para revelação pode ser com a luz branca, que é a forma

convencional (sua fonte pode ser a luz do sol, lâmpada de filamento ou lâmpada

fluorescente) ou com a luz negra, que tem o comprimento de onda menor do que o

menor comprimento de onda da luz visível e apresenta a propriedade de causar em

certas substâncias o fenômeno da fluorescência. Quando absorve luz negra, o material

fluorescente contido no penetrante tem a propriedade de emitir luz em comprimento de

onda maiores, na região de luz visível. Usam-se filtros para eliminar os comprimentos

de onda desfavoráveis, isto é, os comprimentos da luz visível e da luz ultravioleta. Se o

penetrante for do tipo visível, isto é, com uma cor contrastante com a do revelador, a

inspeção deve ser feita sob boas condições de luminosidade, mas caso o penetrante

seja fluorescente, deve-se inspecionar a área em local escurecido ou sob luz negra

[22].

Para o ensaio no cubo de hélice, o penetrante é aplicado sob forma de spray e

faz-se uso da luz negra para inspeção, pois o líquido penetrante é fluorescente.

A limpeza precisa ser bem feita após o ensaio, para remover todos os resíduos

de produtos que possam prejudicar a etapa posterior de trabalho da peça, que é a

usinagem.

Caso o cubo não tenha sido condenado no END feito com LP, ou seja, não tenha

41

trincas, rachaduras, etc, deve-se medir o diâmetro do furo e a profundidade do dano

encontrado neste. Isso é feito com um micrômetro interno, como mostrado na figura

3.12. O diâmetro máximo do furo é de 6,045 polegadas. Só é permitida uma

profundidade máxima de dano de 0,010 polegada na superfície do furo.

Figura 3.12 - Medição do diâmetro do cubo de hélice

Segunda etapa: Manutenção à Demanda – Usinagem para remoção do

desgaste

Quando o dano exceder esses limites ou estiver causando vazamentos de óleo

deve-se remover todas as indicações de pontuação ou corrosão da circunferência do

braço do cubo, usinando todo o furo. A figura 3.9 mostra um furo do cubo com a

superfície desgastada.

Figura 3.13 - Desgaste no furo do cubo de hélice

42

Quando o diâmetro do furo for menor que 6,045 polegadas e o dano puder ser

removido usinando para 6,045 polegadas ou menos, então basta usinar o diâmetro do

furo do braço do cubo para remover o dano, certificando-se de que remova-se apenas

material suficiente para remoção do dano. Porém, quando o diâmetro do furo for

maior que 6,045 polegadas antes ou após a usinagem para remoção dos danos,

deve-se executar um reparo colocando a bucha de reparo. A bucha de reparo

pode ser fabricada localmente ou adquirida do fabricante do conjunto de hélice. No

caso dessa empresa de manutenção, eles fabricam a bucha.

Através das medições dos diâmetros dos furos, é possível determinar o código

da bucha que será usada no reparo. Os códigos e dimensões podem ser vistos no

ANEXO, na folha de dimensões da bucha de reparo. Os códigos são: código 0, que

representa a utilização de uma primeira bucha; código 5, que já representa que é uma

segunda bucha que está sendo usada no reparo e código 10, que representa a terceira

e última bucha que pode ser inserida no furo do cubo.

Quando o furo do braço tiver sido previamente reparado com uma bucha de

alumínio de código 10, este reparo não pode ser realizado. Se o tamanho do código

não puder ser determinado, deve-se remover o revestimento sem danificar o cubo.

Então mede-se o diâmetro do furo do braço reparado. Se o diâmetro for maior ou igual

a 6.241 polegadas como resultado de reparação, este reparo não pode ser realizado e

o cubo de hélice é retirado de serviço. Essas medidas podem ser consultadas no

ANEXO.

De forma resumida, em cada furo só podem ser feitos 3 reparos com

buchas. Após esse limite, o componente (hub) é descartado.

43

Para a usinagem do cubo de hélice, os três procedimentos mostrados na figura

3.14 são seguidos.

Figura 3.14 – Procedimentos para usinagem do cubo

i. Fixação do cubo no torno

Usa-se uma placa de fixação que irá prender o cubo no torno (figura 3.15-a).

Apóia-se o cubo na placa (figura 3.15-d), coloca-se um disco por dentro do cubo

(figura 3.15-b e 3.15-c), que será fixado com dois parafusos e porcas nos furos laterais

e por uma barra de metal rosqueada que passará no furo central. Essa barra entra

atrás do torno e transpassa o furo central do disco colocado dentro do cubo. Coloca-se

uma porca para segurar essa barra no disco.

44

Figura 3.15: a) Placa de fixação b) Disco para fixação

c) Disco de fixação dentro do cubo d) Cubo apoiado na placa de fixação

ii. Centralização do cubo no torno

Monta-se o cubo no flange de montagem do atuador (onde passa o eixo) ou na

face oposta do furo do braço do cubo que estiver sendo consertado. Localiza-se a

linha central do furo do braço, percorrendo a borda interna do diâmetro cubo com um

relógio comparador, como é possível ver na figura 3.16. A tolerância de excentricidade

é de até 0,001 polegada. Com o cubo preso no torno e centralizado, faz-se a usinagem

das superfícies do diâmetro do braço para preparar o cubo para uma bucha.

45

Figura 3.16 - Relógio comparador para medir a centralização do cubo no torno

iii. Usinagem

Caso seja a primeira bucha a ser colocada no cubo, usina-se o furo do braço

para os requisitos dimensionais do Código 0, que encontra-se no ANEXO. Mede-se e

registra-se o diâmetro após a usinagem para futura referência. Para furos do cubo com

um código 5 ou 10, as medidas devem ser ajustadas para as especificações que

encontram-se também no ANEXO. Se as novas dimensões excederem os requisitos

do Código 10, remove-se o hub de serviço.

Terceira Etapa: Fabricação da bucha de reparo

Para a fabricação da bucha de reparo a empresa de manutenção usa um disco

proveniente de uma barra redonda de 7 polegadas de diâmetro. O disco tem 1,25

polegadas de altura e é usinado para dar origem à geometria final da bucha de reparo,

ele passa por quatro processos: um faceamento para limpeza da superfície, o

torneamento externo para a mudança de diâmetro, um sangramento frontal, para fazer

um canal que sirva para criar a espessura da bucha e um sangramento radial, que irá

cortar a bucha, já pronta, da peça que sobra. Essas etapas serão melhor vistas no

capítulo 4, onde serão desenvolvidos dois delineamentos de fabricação.

É utilizado um torno convencional e usado um avanço de 0,06 mm/rot nas

46

operações que a ferramenta se movimenta axialmente (torneamento externo e

sangramento frontal); um avanço de 0,03 mm/rot nas operações que a ferramenta se

movimenta radialmente (faceamento e sangramento radial); usada a rotação de 315

RPM no faceamento e a rotação de 200 RPM no torneamento e nos sangramentos. Os

demais parâmetros não foram indicados e são usadas quatro ferramentas, uma para o

faceamento, uma para o torneamento, um bedame para o sangramento frontal e outro

bedame para o sangramento radial.

Quarta etapa: Novo ensaio não-destrutivo

Um novo ensaio não destrutivo com líquido penetrante deve ser realizado na(s)

superfície(s) usinada(s) do cubo e da bucha de reparo para se certificar de que não

houve nenhum dano na superfície após a usinagem.

Quinta etapa: Colagem da bucha

Para a preparação da superfície de colagem da bucha de alumínio deve-se

desengordurar o cubo e a bucha usando um produto de limpeza alcalino. Após isso, as

superfícies devem passar pelo processo de jateamento5 com esferas abrasivas para

fazer com que o adesivo tenha mais aderência ao ser colocado nas superfícies. Vale

ressaltar que ambas as superfícies da linha de ligação (bucha e cubo) devem ser

preparadas para colagem usando o mesmo método. Se a preparação da superfície

não for realizada corretamente, o revestimento pode descolar e pode ocorrer

vazamento de óleo do cubo. A figura 3.17-a mostra as áreas do cubo que não sofrerão

5 O jateamento serve basicamente para limpeza, pois tem a função de remover todas as impurezas na

superfície da peça, evitando formação de óxidos para não prejudicar a aderência de revestimentos ou

adesivos. Outras utilidades do jateamento são: acabamento, desrebarbamento, gravação ou decoração.

O jateamento também é utilizado para realizar o shot peening que é uma moderna técnica de tratamento

a frio de superfícies metálicas. É uma espécie de “martelamento” obtido com jato de partículas esféricas,

geralmente de vidro que melhora as qualidades metalúrgicas superficiais no sentido de aumentar as

resistências às fadigas mecânica e térmica, ao superaquecimento, à corrosão entre outras [23].

47

o jateamento sendo cobertas e a figura 3.17-b mostra as duas superfícies (bucha e

furo do cubo) após o jateamento.

Figura 3.17 - a) áreas do cubo que não sofrerão o jateamento b) superfícies da bucha

e do furo do cubo após o jateamento

Para o procedimento de colagem de bucha de reparo deve-se aquecer o cubo no

forno (figura 3.18) durante tempo suficiente para que a temperatura da peça se

estabilize em 195 a 205°F (90,6 a 96ºC) por um mínimo de 15 minutos. É importante

não exceder 225°F (207ºC). A bucha deve estar à temperatura ambiente.

Figura 3.18 - Aquecimento do cubo no forno para encaixe da bucha de reparo

48

Após remover o cubo do forno, deve-se revestir ambas as superfícies de adesão

uniformemente com adesivo e colocar a bucha no furo do cubo até que ela se encaixe

(figura 3.19). Usa-se uma prensa para empurrar a bucha (figura 3.20). A interferência é

de 0,005 até 0,007 polegadas. Por fim, deve-se limpar o excesso de adesivo nas

superfícies circundantes.

Figura 3.19 - Aplicação de adesivo e colagem da bucha de reparo

Figura 3.20 - Prensa para forçar o encaixe com interferência da bucha de reparo

49

Figura 3.21 - Ressalto da bucha de reparo fora do cubo

Sexta etapa: Usinagem do furo do cubo já com a bucha de reparo

Após a colocação da bucha de reparo, o cubo deve ser novamente usinado. A

parte de ressalto da bucha que fica para fora do cubo (figura 3.21) é usinada até ser

totalmente retirada e o diâmetro é usinado para a medida de 6,023 polegadas

(diâmetro do selo, especificado no ANEXO).

c) A finalização do serviço

Após todas as etapas de manutenção concluídas, a OS deve encontrar-se toda

preenchida e ser assinada pelos funcionários responsáveis por cada, para

posteriormente ser arquivada.

O responsável técnico, que deve ser um engenheiro, é quem garante que

componentes sejam liberados para o retorno ao serviço, após reparos e revisões e

quem garante a qualidade de todas as inspeções. É o responsável por notificar à

ANAC qualquer defeito ou mau funcionamento descoberto em um componente, que

possa resultar em um eminente perigo de voo. Ele certifica-se de que todos os

50

estágios do serviço de manutenção, desde a entrada do produto aeronáutico (inspeção

preliminar) até sua saída (inspeção final), quando aplicável, foram realizados com a

devida qualidade, incluindo a utilização de ferramentas e equipamentos adequados,

métodos de inspeção válidos e pessoal qualificado (habilitado e treinado

adequadamente). Um documento é assinado pelo responsável técnico garantindo que

o componente encontra-se devidamente pronto para uso.

3.3 AVALIAÇÃO DE MELHORIA TÉCNICA NO REPARO

DO CUBO

3.3.1 PRINCIPAIS PONTOS PARA MELHORIAS NO REPARO

Durante as observações do reparo do cubo de hélice, foram identificados quatro

principais pontos onde pode-se sugerir melhorias.

a) Tempo de fabricação da bucha

Perde-se muito tempo fabricando a bucha de reparo do cubo de hélice. A

fabricação da bucha acontece na seção de usinagem. Essa seção realiza a usinagem

de diversos componentes que estão em manutenção na empresa, além de fabricar

peças e algumas ferramentas especiais que são usadas em algumas manutenções.

Muitas vezes os componentes ficam aguardando a disponibilidade do técnico de

usinagem para serem reparados enquanto este fica ocupado fabricando a bucha de

reparo do cubo de hélice, o que atrasa o prazo de devolução desses outros

componentes para suas empresas de origem.

b) Desperdício de material

Foi observado um grande desperdício de material que é utilizado para a

fabricação da bucha de reparo. A figura 3.22 mostra a peça inicial que é utilizada (um

51

disco) ao lado da bucha de reparo que é fabricada. Na figura 3.23 é possível ver a

sobra de material ao lado da peça inicial e na figura 3.24 ver a sobra de material que

fica no torno após os processos de usinagem. Este material é feito da liga de alumínio

7075 e é importado e tem um custo relativamente alto. Vale ressaltar, que se o

funcionário que está fabricando a bucha de reparo erra nas medidas e ultrapassa o

limite que pode ser retirado de material, ele desperdiça toda a peça inicial, pois apenas

uma peça faz uma única bucha de reparo.

Figura 3.22 - Peça inicial e peça final

Figura 3.23- Peça inicial (esquerda) e sobra de material (direita)

52

Figura 3.24- Peça inicial (esquerda) e material que sobra após a usinagem

(direita)

c) Ausência do delineamento da fabricação da bucha

Apenas um funcionário na empresa sabe fabricar a bucha de reparo do cubo de

hélice e na ausência deste o serviço fica parado. Além disso, o controle da fabricação

é unicamente feito por este funcionário, que detém a técnica da fabricação e

anotações próprias com as medidas da bucha. Vale ressaltar que não há um

delineamento exato da fabricação. Em uma das visitas à empresa em que o

funcionário responsável por esta fabricação não estava, nenhum outro funcionário da

empresa soube informar como acontecia a fabricação com exatidão e nem explicar

quais parâmetros de usinagem eram usados ou ajudar nos esclarecimentos do

desenho técnico do manual (ANEXO), que parece confuso de se entender.

d) Refrigeração ineficaz da peça e problemas com cavacos

O cavaco produzido na usinagem do alumínio costuma ser longo, devido à

ductilidade deste material. O que pôde ser visto foi que o cavaco estava se enrolando

na ferramenta (figura 3.25) - o que poderia quebrá-la - e encostando na superfície da

53

peça (figura 3.26) - o que danifica o seu acabamento. Além disso, a utilização do fluido

de corte foi abaixo da ideal, pois em diversos momentos saía muita fumaça durante os

processos de desbaste. Isso pode prejudicar a qualidade final da bucha de reparo,

pois pode deformar o material e impactar nas tolerâncias.

Figura 3.25- Cavaco enrolado na ferramenta

Figura 3.26- Cavaco encostado na peça durante a usinagem

54

3.3.2 PROPOSTA DE MUDANÇAS

Neste estudo são feitas três propostas: uma é alterar o procedimento

geral de fabricação da bucha e as outras duas propostas são de fazer

adaptações no processo atual de fabricação que consiste na usinagem da

bucha.

a) Procedimento geral

Atualmente a bucha de reparo é feita através do processo de usinagem. Uma

nova proposta para a fabricação da bucha é usar a fabricação através da fusão

seletiva a laser (SLM), que como visto no capítulo 2, é uma das tecnologias de

fabricação aditiva e tem se mostrado uma tecnologia emergente de fabricação [24].

Neste tipo de fabricação o material é praticamente todo aproveitado e o trabalho

seria todo feito pela máquina. Apesar da economia de material, um grande

investimento inicial precisa ser feito para a implementação da tecnologia. Um dos

grandes impasses é que esse processo ainda é novo no mercado, então ainda requer

mais pesquisas e certificações e seu custo é elevado.

b) Usinagem da bucha de reparo

Uma proposta é apenas otimizar o processo de usinagem da bucha, que é feita a

partir de um disco de alumínio, fazendo um novo delineamento de fabricação com uma

nova máquina-ferramenta, novos parâmetros de usinagem e novas ferramentas de

corte. Já a outra proposta é fazer um delineamento da fabricação da bucha a partir de

uma nova peça inicial: um anel, que será produzido a partir da fundição do disco de

alumínio. Essas duas últimas propostas serão descritas no capítulo a seguir.

55

4. DELINEAMENTO DA FABRICAÇÃO DA BUCHA DE

REPARO

Na usinagem da bucha de reparo, foi visto que os cavacos ficam emaranhados,

longos e contínuos e ficam em volta da ferramenta e da peça. A fabricante Sandvik

[25] diz que são normalmente gerados pelo baixo avanço e baixa profundidade de

corte. Para solucionar essa questão, é proposto um novo delineamento da fabricação

da bucha a partir do disco, com alteração no avanço e na profundidade de corte, bem

como nas rotações e velocidades. Será feita uma melhor análise da utilização do fluido

de corte e serão definidas outras ferramentas, que necessitam de uma maior

capacidade para quebrar o cavaco.

E além do novo delineamento que otimiza o processo atual, é apresentada uma

nova proposta de fabricação da bucha, com uma nova peça inicial, um anel de

alumínio, que tem intenção de aproveitar mais o material que a bucha é proveniente do

que é aproveitado atualmente na empresa.

4.1 DEFINIÇÃO DA MÁQUINA-FERRAMENTA

A máquina escolhida para fabricação da bucha será um torno de comando

numérico computadorizado (CNC), ao invés do torno convencional que é atualmente

utilizado na empresa de manutenção. A opção de máquina escolhida foi da empresa

FANUC [26] e as principais questões para ter se escolhido o torno CNC são a de

melhoria do tempo de produção e a garantia de repetibilidade da peça, ou seja, a

padronização das etapas e dimensões finais.

56

4.2 GEOMETRIA DA BUCHA DE REPARO

A bucha de reparo do cubo de hélice é feita de uma liga de alumínio, que será

especificada adiante. Esse material é obrigatoriamente o AMS 4124 ou o AMS 4141,

que é definido no manual do fabricante. O desenho da bucha e suas dimensões, que

foram convertidas para milímetros, podem ser vistos na figura 4.1. Para um maior

detalhamento das dimensões da bucha e do furo do cubo de hélice, a página do

manual do fabricante com o desenho técnico encontra-se disponibilizada para consulta

no ANEXO deste trabalho, no entanto, as medidas estão em polegadas.

Figura 4.1 - Dimensões em milímetros da bucha de reparo - Fonte: a autora.

57

4.3 FABRICAÇÃO DA BUCHA DE REPARO

Neste trabalho serão propostas duas maneiras de se fabricar a bucha de reparo.

Uma delas é a partir de um disco, que está representado na figura 4.2, já a outra

opção é a fabricação a partir de um anel, que está representado na figura 4.3. O

detalhamento da geometria dessas duas opções de peças iniciais, serão detalhadas

nos próximos tópicos deste capítulo.

Figura 4.2 - Bucha a partir de um disco - Fonte: a autora.

Figura 4.3 - Bucha a partir de um anel. Fonte: a autora.

58

Ambos os processos de fabricação serão feitos através da usinagem da peça

inicial. A escolha das ferramentas de corte para cada processo de usinagem será

definida no tópico adiante.

4.3.1 PROCESSOS DE USINAGEM E FERRAMENTAS DE

CORTE

Para a escolha das ferramentas e definição dos parâmetros de corte, foram

usados os catálogos da empresa Sandvik-Coromant [15, 27]. Essa empresa fabricante

foi escolhida por ter uma vasta gama de opções de ferramentas e por disponibilizar de

maneira ampla seus catálogos e informações, não só de seleção de ferramentas,

como também muitas informações sobre usinagem e definições técnicas. O fabricante

disponibiliza simulações, em que se escolhe qual o processo de usinagem desejado e

insere-se algumas informações desse processo, que são:

● diâmetro inicial e final da peça no processo - [mm]

● comprimento usinado (Lf) - [mm]

● rugosidade da superfície (Ra) - [µm]

● material da peça

● tipo de máquina utilizada

Como resultado, o site fornece a sugestão das ferramentas e de alguns

parâmetros, que são os seguintes:

● profundidade de corte (ap) - [mm]

● velocidade de corte (Vc) - [m/min]

● avanço por rotação (fn) - [mm/rotação]

Através dos parâmetros definidos anteriormente, são calculados os seguintes

parâmetros, usando-se as fórmulas 1, 2 e 3 que estão no item 2.2.3 deste trabalho.

59

● rotação (N) - [RPM]

● velocidade de avanço (Vf) - [mm/min]

● tempo de corte (tc) - [s]

As ferramentas recebem uma letra que as classificam de acordo com os

materiais que elas usinam. Classificação “P” caracteriza que a ferramenta é para

usinar peças de aço; “M” é para usinar peças de aço inoxidável, “K” é para usinar ferro

fundido, “N” é para usinar alumínio e “S” é para usinar superligas resistentes ao calor e

“H” para usinar metais duros. [28]. No caso das ferramentas selecionadas para os

processos de usinagem da bucha de reparo, elas têm classificação “N”, que é para

usinar materiais não ferrosos. No caso, o alumínio, que é o material da bucha, se

encaixa nessa classificação.

Os processos de usinagem indicados para a fabricação da bucha de reparo a

partir do disco são: faceamento, torneamento externo, torneamento interno,

sangramento frontal e radial. Já para a fabricação a partir do anel, são: faceamento,

torneamento interno, torneamento externo e sangramento radial. Foram escolhidos

quatro ferramentas de acordo com os processos. Elas são detalhadas adiante.

a) Ferramenta para faceamento

Primeiramente, será feito um faceamento da parte frontal de ambas as peças,

para melhorar o acabamento da superfície. Para esse processo, foi escolhida a

ferramenta PRGCR 3235P 12 e a pastilha RCGX 12 04 M0-AL H10 que estão

representadas na figura 4.4. O raio da pastilha (RE) é de 6mm. Para futuras

referências internas, esse conjunto da ferramenta e da pastilha será chamado de

Ferramenta T01 na programação CNC.

60

a. ferramenta selecionada (b) pastilha selecionada

Figura 4.4 - Ferramenta T01

b) Ferramenta para torneamento interno

O torneamento interno será feito para alargar o diâmetro interno do anel e se

chegar ao diâmetro interno final desejado. Para esse processo, foi escolhida a

ferramenta A25T-SVUBR 16D e a pastilha VCGX 16 04 12-AL H10 que estão

representadas na figura 4.5. O comprimento efetivo da aresta de corte da pastilha

(LE) é de 15,406 mm e o raio do canto (RE) é de 1,191 mm. Para futuras referências

internas, esse conjunto da ferramenta e da pastilha será chamado de Ferramenta T02

na programação CNC.

a. ferramenta selecionada (b) pastilha selecionada

Figura 4.5 - Ferramenta T02

61

c) Ferramenta para torneamento externo

O torneamento externo será feito para diminuir o diâmetro externo das peças e

se chegar ao diâmetro externo desejado. Para esse processo, foi escolhida a

ferramenta STGCR 1212F 11 e a pastilha TCGX 1102 08-AL H10 que estão

representadas na figura 4.6. O comprimento efetivo da aresta de corte da pastilha

(LE) é de 9,94 mm e o raio do canto (RE) é de 0,794 mm. Para futuras referências

internas, esse conjunto da ferramenta e da pastilha será chamado de Ferramenta T03

na programação CNC.

a. ferramenta selecionada (b) pastilha selecionada

Figura 4.6 - Ferramenta T03

d) Ferramenta para sangramento (frontal e radial)

Para o disco, será feito um sangramento frontal (axial) e um radial, já para o anel

será feito apenas o sangramento radial, e para esses processos foi escolhida a

ferramenta QFT-RFG 30C 2525-100B e a pastilha QFT-G-0300-02-GF H10F que

estão representadas na figura 4.7. A largura de corte da pastilha (CW) é 3 mm e

representa a profundidade de corte (ap) e os raios de canto esquerdo (REL) e direito

(RER) são de 0,2 mm. Para futuras referências internas, esse conjunto da ferramenta

e da pastilha será chamado de Ferramenta T04 na programação CNC.

62

a. ferramenta selecionada (b) pastilha selecionada

Figura 4.7 - Ferramenta T04

4.4 FABRICAÇÃO A PARTIR DE UM DISCO

4.4.1 GEOMETRIA DO DISCO

Uma barra redonda com 7 polegadas de diâmetro é cortada para formar discos

com 1,25 polegadas de altura. A modelagem em 3D da peça e suas dimensões (em

milímetros) estão representados na figura 4.8.

63

Figura 4.8 – Dimensões em milímetros do disco. Fonte: a autora.

4.4.2 ETAPAS E PARÂMETROS DA USINAGEM

Fixação

A fixação da peça no torno CNC é realizada através das castanhas posicionadas

externamente e esta fixação servirá para todas as etapas seguintes.

Etapa 1

A primeira etapa será o faceamento, que serve para melhorar o acabamento da

superfície frontal do disco. Os parâmetros definidos e calculados para esta etapa

encontram-se na tabela 4.1. Vale ressaltar que não há necessidade de fazer o

faceamento de toda a superfície frontal, pois a maior parte do centro da peça não será

utilizado.

64

Tabela 4.1 - Etapa de faceamento do disco

Etapa 2

A tabela 4.2 mostra os parâmetros definidos e calculados para a primeira etapa

de torneamento externo do disco, que possui dois passes de desbaste, e que usina o

disco inicialmente com diâmetro de 177,8 mm para um diâmetro de 170,6 mm. Como a

profundidade de corte é de 1,8 mm, são retirados 3,6 mm do diâmetro a cada passe. É

possível notar que no torneamento externo a rotação e, consequentemente, a

velocidade de avanço, mudam a cada passe. Isso ocorre porque o diâmetro é alterado.

Tabela 4.2 - Etapa de torneamento externo do disco (desbaste) - primeira fase

65

Etapa 3

Após o desbaste, a tabela 4.3 mostra que é feito um passe de acabamento com

profundidade de corte de 1 milímetro, fazendo com que o diâmetro final fique em 168,6

milímetros, que é o diâmetro maior da parte superior da bucha de reparo. Em ambos

os processos, optou-se por usar o mesmo avanço e velocidade de corte.

Tabela 4.3 - Etapa de torneamento externo do disco (acabamento) - primeira fase

Etapa 4

A etapa seguinte é um torneamento externo que irá diminuir o diâmetro externo

da peça em 9 mm, indo de um diâmetro de 168,6 até 159,6 mm. A cada passe são

retirados 3 mm do diâmetro (dobro da profundidade de corte). Vale ressaltar que a

tabela 4.4 mostra o diâmetro que a peça se encontra antes de cada passe.

66

Tabela 4.4 - Etapa de torneamento externo do disco (desbaste) - segunda fase

Etapa 5

A tabela 4.5 mostra a etapa de acabamento, onde serão retirados 1,8 mm do

diâmetro anterior, resultando em um diâmetro final de 157, 8 mm. É importante notar

que o comprimento de avanço mudou desde a etapa 3. O novo comprimento é de 0,68

polegadas.

Tabela 4.5 - Etapa de torneamento externo do disco (acabamento) - segunda fase

67

Etapa 6

A seguir, tem-se a etapa de sangramento frontal, também chamado de

sangramento axial, que costuma ser a mais difícil de ser visualizada e compreendida.

Os parâmetros se encontram na tabela 4.6. A ferramenta, chamada de bedame, é

posicionada na parte frontal da peça e abre um canal que tem a largura da própria

ferramenta. Essa largura, para esse processo, é a profundidade de corte. Esse valor

da profundidade de corte é de 3 mm e pode ser visto no catálogo da pastilha escolhida

que está no ANEXO.

Tabela 4.6 - Etapa de sangramento frontal do disco

Para esse processo, a velocidade de corte escolhida é mais baixa e o avanço

tem um valor bem menor do que os dos outros processos de desbaste, pois esse

processo é bastante rigoroso.

O canal será feito até uma distância de 25 mm da face, que é uma distância

maior que o comprimento total da bucha. A ferramenta será posicionada a uma

distância de 75,8 mm, que é metade do diâmetro mostrado na tabela, e a distância é

medida desde o centro da peça, que será o ponto zero da peça na máquina de

comando numérico.

68

Etapa 7

A última etapa é o sangramento radial, que fará o corte da peça final para

separá-la da parte que sobra. Os parâmetros podem ser vistos na tabela 4.7. Nesta

etapa o avanço e a velocidade de corte também são menores. O comprimento de

avanço de 9 mm representa a distância que o bedame entra na peça até encontrar o

canal frontal feito na etapa anterior.

Tabela 4.7 - Etapa de sangramento radial do disco

Após todas essas etapas, a bucha de reparo está pronta.

4.5 FABRICAÇÃO A PARTIR DE UM ANEL

4.5.1 FUNDIÇÃO DO DISCO PARA FABRICAÇÃO DO ANEL

Primeiramente, para se definir como será feito o procedimento de fundição do

disco, é necessário saber qual a composição da liga de alumínio.

69

As ligas de alumínio são divididas em 3 grupos, de acordo com os elementos

principais presentes nas liga [29]. São eles:

1. Cobre, Magnésio e Zinco

2. Silício e Estanho

3. Ferro, Manganês, Níquel, Titânio e Cromo

Figura 4.9 - Composição química da liga de alumínio do disco importado pela empresa

- Fonte: documento cedido pela empresa

A figura 4.9 mostra que o disco pertence ao primeiro grupo, pois as

concentrações de cobre, magnésio e zinco são mais altas que a dos outros elementos.

Essa liga é de difícil fabricação e é a liga mais tenaz6 de todas as ligas de alumínio. O

cobre é o principal constituinte endurecedor e aumenta a resistência à tração da liga,

além de diminuir a contração e melhorar a usinabilidade [29].

As especificações AMS4124 e AMS4141 que são os materiais que o fabricante

permite que sejam usados para fabricar a bucha de reparo são pertencentes à liga de

alumínio 7075, que é mostrada na tabela 4.8 [30].

6 Tenacidade é uma medida de quantidade de energia que um material pode absorver antes de fraturar.

70

Tabela 4.8 - Liga de alumínio 7075 - Adaptado de [30]

Para calcular o ponto de fusão da liga de alumínio, foi feita uma média

ponderada com a porcentagem dos elementos (figura 4.9) e seus respectivos pontos

de fusão, que são mostrados na tabela 4.9. Foi encontrado um valor de 657ºC, o que é

praticamente o valor do ponto de fusão do alumínio (660ºC). Portanto, basta atingir a

temperatura de fusão do alumínio que a liga toda será fundida.

Tabela 4.9 - Composição da liga e pontos de fusão. Fonte: a autora.

Para fundir o disco e fabricar o anel, são indicados três melhores métodos: a

fundição em areia, a fundição em molde permanente e a fundição centrífuga.

Estes métodos foram explicados no item 2.3 deste trabalho. Para selecionar o método

ideal, deve-se fazer um estudo econômico e uma pesquisa de empresas que realizam

o serviço de fundição.

71

4.5.2 GEOMETRIA DO ANEL

O anel é feito através da fundição da barra e é fabricado com as dimensões, em

milímetros, mostradas na figura 4.10.

Figura 4.10 - Dimensões em milímetros do anel - Fonte: a autora.

4.5.3 ETAPAS E PARÂMETROS DA USINAGEM

Foi feita uma simulação da usinagem do anel, inserindo os parâmetros e

informações das ferramentas no software Fusion 360º.

A figura 4.11 mostra a bucha de reparo e a área transversal do anel.

72

Figura 4.11 - Bucha de reparo e área da seção transversal do anel - Fonte: a

autora

5.

Para cada etapa da usinagem foram gerados os códigos da máquina CNC. Os

códigos gerados pelo software para cada etapa serão expostos no ANEXO e mostram

os principais parâmetros adicionados (avanço, velocidade de avanço, rotação e/ou

velocidade de corte) e as funções preparatórias da máquina, bem como as

ferramentas usadas (T01, T02, T03, T04) e suas trajetórias. As letras mostradas

nestes códigos podem ser revistas na teoria da máquina CNC apresentada no item

2.2.1 deste trabalho.

As etapas da usinagem do anel são:

Fixação

O anel terá duas fixações diferentes no torno CNC. A primeira fixação será feita

com as castanhas posicionadas por fora do anel, para que seja feito o faceamento e o

torneamento interno.

Etapa 1

A primeira etapa é o faceamento pode ser vista na figura 4.12, em que a

ferramenta está enconstando na superfície frontal do anel para remover uma camada

de material. Os parâmetros definidos e calculados para esta etapa encontram-se na

73

tabela 4.10.

Figura 4.12 – Simulação do faceamento do anel

Tabela 4.10 - Etapa de faceamento do anel

Etapa 2

A etapa seguinte é o torneamento interno (figura 4.13) que terá um passe de

desbaste com a profundidade de corte de 1 mm e o avanço de 0,25 mm por rotação,

percorrendo toda a superfície interna do anel. Os parâmetros são mostrados na tabela

4.11.

74

Figura 4.13 – Simulação do torneamento interno do anel

Tabela 4.11 - Etapa de torneamento interno do anel (desbaste)

Etapa 3

Após o desbaste é feito o passe de acabamento, onde os parâmetros

encontram-se na tabela 4.12. Nesta etapa foi mantido o avanço e diminuiu-se a

profundidade de corte para 0,8 mm.

75

Tabela 4.12 - Etapa de torneamento interno do anel (acabamento)

Segunda Fixação

Após esses processos, a fixação passa a ser com as castanhas posicionadas

por dentro do anel, para que seja feito o torneamento externo e o sangramento radial.

Etapa 4

A etapa seguinte que é o torneamento externo (figura 4.14). Primeiramente é

feito o torneamento em um comprimento de 25 mm. Os parâmetros são mostrados na

tabela 4.13.

Figura 4.14 – Simulação do torneamento externo do anel

76

Tabela 4.13 - Etapa de torneamento externo do anel (desbaste) - primeira fase

Etapa 5

Depois a etapa seguinte é o torneamento externo em um comprimento de 0,68

polegadas (17,27 mm), dividida em 3 passes com 1,5 mm de profundidade, mostrados

na tabela 4.14. A cada passe o diâmetro é diminuído em 3 mm (dobro da profundidade

de corte), e a peça fica com um diâmetro final de 159,6 mm.

Tabela 4.14 - Etapa de torneamento externo do anel (desbaste) - segunda fase

77

Etapa 6

Para alcançar o diâmetro de 157,8 mm, mostrado na figura 4.2, que mostra as

dimensões da bucha de reparo, é feito um passe de acabamento, com redução do

avanço e da profundidade de corte, mostrado na tabela 4.15.

Tabela 4.15 - Etapa de torneamento externo do anel (acabamento)

Etapa 7

Após o torneamento, a bucha está praticamente pronta, só precisa ser cortada e

se separar da parte que sobra. Para isso, deve ser feito um sangramento radial,

representado na figura 4.15, onde mostra o bedame fazendo o canal e cortando a

peça. Os parâmetros são mostrados na tabela 4.16.

78

Figura 4.15 – Simulação do sangramento radial do anel

Tabela 4.16 - Sangramento radial do anel

4.6 TEMPOS DE USINAGEM EM CADA PROCESSO

Na usinagem de uma peça, há diversas fases que constituem a operação total

[31]. São elas:

● Preparo da máquina

● Colocação e fixação da peça

● Colocação da ferramenta

● Aproximação e posicionamento da ferramenta

79

● Corte

● Afastamento da ferramenta

● Inspeção (se necessário) e retirada da peça

● Remoção da ferramenta para substituição

● Recolocação e ajustagem da nova ferramenta

Cada uma dessas fases demanda certo tempo e a soma total destes tempos

constituem o tempo total da usinagem de uma peça.

De todos os tempos, o mais importante a se avaliar é o tempo de corte. Os

tempos de corte de cada etapa se encontram nas tabelas do item anterior neste

capítulo. Somando-se estes tempos, tempos o tempo total de corte na fabricação da

peça.

Para a fabricação da bucha de reparo a partir do disco, temos um tempo total

de corte de 18 segundos.

Já para a fabricação da bucha de reparo a partir do anel, temos um tempo

total de corte de 12,2 segundos.

Esses tempos extremamente rápidos se dão pelas altas velocidades de corte e

altas rotações. Vale ressaltar que não foram considerados os outros tempos de

usinagem citados acima no intervalo entre cada etapa. E na conclusão deste estudo

será explicitado o tempo de corte do processo atual de fabricação da bucha.

4.7 FLUIDO DE CORTE

A utilização do fluido de corte traz diversas vantagens na usinagem, tais como, a

redução do coeficiente de atrito entre ferramenta e cavaco; a expulsão do cavaco da

região de corte; a refrigeração da ferramenta, da peça e da máquina-ferramenta e um

melhor acabamento superficial na usinagem. Do ponto de vista econômico, gera uma

80

redução do consumo de energia, do custo da ferramenta na operação, pois aumenta

sua vida útil, e também previne corrosão da peça na usinagem [32].

Comparando o alumínio e suas ligas com metais ferrosos, eles são de mais fácil

usinagem, apresentam pressão de corte mais baixas e mais altas velocidades de corte

e avanço, além de possuir uma grande produção de cavaco [32].

O alumínio tem baixa resistência mecânica então o calor gerado na sua

usinagem não é grande para incentivar o desgaste rápido da ferramenta, mas o

alumínio tem um baixo ponto de fusão e um alto coeficiente de dilatação térmica, então

tende a se deformar com o calor gerado na usinagem. Por isso o alumínio deve ser

mantido sempre frio na usinagem, para evitar o aquecimento da peça e a sua

deformação e garantir que suas dimensões sejam controladas adequadamente [32].

Diante deste fato, o fluido de corte deve ter, sobretudo, a função de refrigerar a

peça.

Na empresa que faz a manutenção do cubo de hélice, eles utilizam a

refrigeração em alguns momentos, sobretudo no processo de sangramento que é o

que tem as condições mais severas. A figura 4.16 mostra a aplicação do fluido de

corte no sangramento frontal e é possível perceber que há bastante fumaça gerada, no

entanto eles só colocam o fluido de corte para ajudar na retirada no cavaco quando

vêem que este está ficando muito longo. O fluido deveria ser usado durante todo o

processo, para ajudar no controle da temperatura, e consequentemente, no controle

das dimensões da peça. Nesta etapa eles usam o óleo semissintético que é mostrado

na figura 4.12.

81

Figura 4.16 - Aplicação do fluido de corte no sangramento frontal

Figura 4.17 - Óleo semissintético utilizado pela empresa - Retirado de [33].

Como é possível ver na figura 4.17, o fabricante não indica a utilização deste

óleo semissintéstico em peças alumínio. Foi pesquisado no catálogo do fabricante [33]

e não há explicação do porquê que não deve ser usado em alumínio, no entanto o

catálogo apresenta outras opções de óleos para a usinagem deste material, das quais

a melhor está na figura 4.18 a seguir:

82

Figura 4.18 - Óleo semissintético indicado pro alumínio e suas ligas [33]

DINIZ et al. [31] analisam a usinagem de acordo com o material da peça e

sugerem que o alumínio deve ser usinado a seco ou com óleos inativos sem enxofre.

Analisam ainda o tipo de fluido para as condições de usinagem. Para condições de

usinagem severas (desbaste com alto avanço e profundidade e baixa velocidade de

corte) indicam o uso de óleo puro (quando também há necessidade de lubrificação

além da refrigeração). Para condições mais brandas, indicam o fluido aquoso. Já

FERRARESI [32] indica óleos emulsionáveis inativos ou óleos graxos-minerais inativos

para o torneamento de alumínio e suas ligas.

Para os processos de faceamento e torneamento, a empresa usa o fluido de

corte mostrado na figura 4.19.

Figura 4.19 - Fluido de corte utilizado pela empresa - Retirado de [33]

83

Também há o mesma questão mostrada anteriormente: o fluido não é indicado

para operações em peça de alumínio. Para o alumínio, o fluido ideal seria o Quimatic

2, que também existe na versão “ecológica”, como pode-se ver na figura 4.20

Figura 4.20 - Fluido de corte indicado para o alumínio e suas ligas - Retirado de [33]

Além do tipo de fluido, outros aspectos devem ser levados em consideração, tal

como o tipo de saída de refrigeração (superior, inferior, de precisão, interna externa) e

a pressão de refrigeração. Dentre estes aspectos, será feita apenas uma comparação

entre os métodos de refrigeração superior e inferior, pois nem todas as ferramentas

têm saída de precisão embutida. Não será feita a análise da pressão de refrigeração,

pois é um assunto mais específico e não é o ponto principal da pesquisa.

A tabela 4.17 compara os efeitos da refrigeração superior e da refrigeração

inferior no torneamento. Ambas influem na vida útil da ferramenta, mas apenas a

superior melhora o controle de cavacos.

84

Tabela 4.17 - Comparação dos efeitos da refrigeração superior e inferior no

torneamento - Retirado de [34]

No processo de sangramento, além de analisar se a aplicação do fluido será

superior, inferior, ou de ambos os jeitos, analisa-se ainda se a aplicação será interna

ou externa nos canais. Quando a refrigeração externa é aplicada em cortes e canais, a

quantidade de refrigerante que de fato chega ao canal é muito pequena;

principalmente em canais profundos, portanto, seu efeito é menor. Com a refrigeração

interna de precisão, o jato do refrigerante acessa a aresta de corte mesmo em canais

profundos [35].

Para as operações de faceamento e torneamento externo, as ferramentas T01 e

T03 não apresentam entrada de refrigeração, já no sangramento, a ferramenta T04

possui a entrada do fluido de forma radial e axial concêntrica, e para o torneamento

interno, a ferramenta T02 possui a entrada de forma axial concêntrica. Essas

informações podem ser vistas no ANEXO, nas figuras de cada ferramenta.

4.8 ANÁLISE DE RESULTADOS

Alguns resultados que são esperados com as propostas sugeridas são

analisados em relação às tecnologias usadas, à comparação dos tempos de corte na

85

usinagem, à economia de material e ao custo de implementação das propostas.

● Tecnologias usadas

A fusão seletiva a laser (SLM) ainda possui poucos usuários quando comparada

com métodos convencionais, tais como a usinagem e a fundição de metais,

principalmente pelo seu custo e seu tempo no mercado. O mercados da indústria

aeroespacial têm avaliado a tecnologia da SLM como um processo de fabricação. No

entanto, as barreiras à aceitação são altas e os problemas de conformidade resultam

em longos períodos de certificação e qualificação. Somente após todos os testes e

estas certificações concluídas é que o fabricante incorpora uma nova tecnologia no

manual do componente. Toda manutenção só é feita de acordo com o manual do

fabricante, sem seguir essa regra a manutenção não ocorre da forma correta e o

componente não poderá ser colocado em uso, pois a segurança não é garantida. O

resultado desta proposta ainda precisa ser estudado para ser implementado.

Os dois delineamentos que propõem o uso da máquina CNC, trazem como

vantagens a padronização da fabricação através do uso do mesmo código na

máquina, o aumento da produtividade e diminuição drástica do tempo de produção

(tanto o tempo de corte, quando os tempos para medição da peça, posicionamento e

troca de ferramenta etc). Todas essas vantagens reduzem o tempo de ocupação do

funcionário da usinagem para uma tarefa que não é um reparo em si. No entanto,

entre as desvantagens, tem-se o investimento inicial elevado da compra da máquina; a

necessidade de uma manutenção exigente e especializada, além de precisar de

operadores mais especializados; não elimina completamente os erros humanos e não

tem vantagens tão evidentes para séries pequenas, como é o caso da produção da

bucha de reparo.

Em relação ao uso da fundição, ainda há a necessidade de fazer análise da

microestrutura da peça fundida, para verificação das propriedades mecânicas, pois

86

neste estudo só foi verificado a composição química da liga de alumínio na fundição.

● Tempo de corte

A tabela 4.18 indica a estimativa do tempo de corte na fabricação atual, onde só

se sabe o avanço a rotação e o comprimento de avanço. Com esses dados é possível

calcular a velocidade de avanço e com isso calcular o tempo de corte. Na empresa,

não souberam dizer qual eram as profundidades de cortes nem quantos passes

usavam em cada etapa, uma vez que esses parâmetros mudavam a cada bucha feita.

Para estimar esse valor, foram usadas as mesmas quantidades de passes no novo

delineamento da fabricação a partir do disco. Com isso, foi possível obter os tempos

de cada etapa.

Tabela 4.18 - Parâmetros do processo de fabricação atual na empresa – Fonte: A autora

É possível notar que os tempos estão em minutos nesta tabela, e na nova

proposta encontra-se em segundos. O tempo de corte total estimado é de

aproximadamente 18,7 minutos, o que convertendo dá 1122 segundos. Ao dividirmos

esse valor pelo tempo de fabricação da bucha a partir do disco no novo delineamento

(18 segundos) isso mostra que o processo atual na empresa é 62 vezes mais

lento. Se fossem levados em consideração os outros tempos, essa diferença

aumentaria ainda mais.

Para a fabricação a partir do anel, o tempo de corte do processo atual passaria a

87

ser 92 vezes mais lento que o do processo sugerido.

● Economia de material

O volume do disco de dimensões 7 x 1,25 polegadas é de 787.910,5 mm³.

O volume do anel com altura de 28 mm, e diâmetro externo e interno de,

respectivamente, 172 e 148 mm é de 168.806,4 mm³.

Dividindo o volume do disco pelo volume do anel, temos um valor de 4,66, o que

significa que um disco pode gerar 4 anéis (a sobra de material é o sobressalente que

se perderá no processo de fundição). Um disco fabricava apenas uma bucha e cada

anel representa uma bucha que pode ser feita, então a fundição do disco representa

uma economia de 75% no material (3/4 eram desperdiçados).

O valor de cada disco é de 82 dólares (dado fornecido pela empresa). Deste

valor, 75% é gasto à toa, ou seja, 61,50 dólares por bucha são desperdiçados.

● Custo da implementação

A empresa deve fazer um estudo econômico aprofundado para orçar o valor da

máquina CNC e das novas ferramentas e para orçar o valor da fundição do disco para

produção dos anéis em empresas que realizem esse serviço, ou até mesmo na

empresa exportadora do disco. Com esse estudo econômico aprofundado e as

informações de quantas buchas são feitas na empresa para o reparo do cubo de hélice

em certo tempo, é possível definir o payback para cada caso, que é o tempo que

levará para o investimento se pagar.

88

5. CONCLUSÃO

Neste estudo, foi analisado como é feito o reparo do cubo de hélice do avião

Embraer EMB-120. Uma etapa da manutenção do cubo é a usinagem do furo para

remoção do desgaste e algumas vezes é necessário a colocação de uma bucha de

reparo dentro do furo para restaurar a medida de seu diâmetro, para que esta fique

dentro da faixa dos diâmetros mínimo e máximo. Atualmente a empresa fabrica essa

bucha e na fabricação da bucha de reparo foram identificadas quatro principais

questões que precisavam de melhorias. São elas:

1. Grande tempo de fabricação da bucha e ocupação da máquina que também é

usada para usinar outros componentes.

2. Grande desperdício de material da peça que é usada para fazer a bucha;

3. Não há um delineamento da fabricação e os parâmetros usados nem sempre

são os mesmos, além disso, um único funcionário detém o conhecimento da

fabricação da bucha;

4. Refrigeração ineficaz da peça e da ferramenta durante a usinagem, problemas

com cavacos longos que muitas vezes enrolam na ferramenta e encostam na

peça.

Com o estudo, conclui-se que com os delineamentos feitos há a padronização e

otimização dos processos, bem como melhoria nas questões do cavaco com as

mudanças das ferramentas, dos fluidos de corte, dos avanços e rotações; há a

redução do tempo de corte na usinagem em 62 vezes para a fabricação a partir da

mesma peça inicial (disco) e redução em 92 vezes ao se fabricar a bucha a partir de

uma peça inicial em formato de anel com a introdução da máquina CNC e há uma

economia de 75% do material quando se fabrica a bucha a partir da proposta de usar o

anel como peça inicial a ser usinada.

89

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

[1] ALVAREZ, Omar Emir, Manual de Manutenção Planejada, 1 ed. João Pessoa, Editora Universitária/UFPb, 1988

[2] Disponível em: <http://mecanicosdeplantao.com.br/site/manutencao-de-aeronaves/> Acesso em: 15 dez 2018

[3] RAMIRES, Aizael Espírito Santo, Confiabilidade na Manutenção de Aeronaves: Ações de Gerenciamento pra Garantia da Aeronavegabilidade. Projeto de Graduação, Universidade do Tuiuti do Paraná, Curitiba, PR, 2008

[4] MACHADO et al, “Manutenção Aeronáutica no Brasil: distribuição geográfica e técnica”, Gest. Prod., São Carlos, v. 22, n. 2, p. 243-253, 2015 [5] ADMINISTRAÇÃO FEDERAL DE AVIAÇÃO. In: WIKIPÉDIA, a enciclopédia livre. Flórida: Wikimedia Foundation, 2016. Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Administra%C3%A7%C3%A3o_Federal_de_Avia%C3%A7%C3%A3o&oldid=46871946>. Acesso em: 20 jan 2019.

[6] Disponível em: <https://aeromagazine.uol.com.br/artigo/manutencao-e-aeronavegabilidade_1628.html> Acesso em: 20 Jan 2018

[7] Disponível em: <http://www.aerobyte.com.br/site/index.php/artigos/49-diretrizes-de-aeronavegabilidade> Acesso em: 23 Jan 2019

[8] Disponível em: < http://www.anac.gov.br/A_Anac/instituciona l> Acesso em: 23 Jan 2019

[9] AGÊNCIA NACIONAL DE AVIAÇÃO CIVIL. In: WIKIPÉDIA, a enciclopédia livre. Flórida: Wikimedia Foundation, 2018. Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Ag%C3%AAncia_Nacional_de_Avia%C3%A7%C3%A3o_Civil&oldid=53467347> Acesso em: 20 jan 2019.

[10] Disponível em: <http://www.anac.gov.br/assuntos/setor-regulado/profissionais-da-aviacao-civil/profissionais/mecanico-de-manutencao> Acesso em: 10 Dez 2018

[11] KARDEC, Alan, NASCIF, Júlio, Manutenção: Função Estratégica, 3 ed. Rio de Janeiro,

Qualitymark Editora Ltda, 2009.

[12] Disponível em: <https://www.ebah.com.br/content/ABAAABSoMAE/principais-conceitos-

manutencao> Acesso em: 25 Jan 2019

[13] Disponível em: <https://www.ebah.com.br/content/ABAAAAmP8AA/manutencao> Acesso

em: 21 Jan 2019

[14] Disponível em: <http://wiki.ued.ipleiria.pt/wikiEngenharia/index.php/Tecnologia_CNC>

Acesso em: 5 Fev 2019

[15] Disponível em: <https://www.sandvik.coromant.com/pt-

pt/products/pages/tools.aspx#listbyapplication> Acesso em: 28 Fev 2019

90

[16] GROOVER, Mikell P.; tradução Anna Carla Araujo; tradução e revisão técnica André

Ribeiro de Oliveira et al., Introdução aos processos de fabricação, 1 ed. Rio de Janeiro,

LTC, 2014

[17] Wikipedia contributors. Selective laser melting. Wikipedia, The Free Encyclopedia.

February 28, 2019, UTC. Disponível em:

<https://en.wikipedia.org/w/index.php?title=Selective_laser_melting&oldid=885510341> Acesso

em: 6 Jan 2019.

[18] EMBRAER EMB 120. In: WIKIPÉDIA, a enciclopédia livre. Flórida: Wikimedia Foundation,

2018. Disponível em:

<https://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Embraer_EMB_120&oldid=53724059> Acesso em:

30 Nov 2018.

[19-a] HÉLICE (AERONÁUTICA). In: WIKIPÉDIA, a enciclopédia livre. Flórida: Wikimedia

Foundation, 2018. Disponível em:

<https://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=H%C3%A9lice_(aeron%C3%A1utica)&oldid=535414

20> Acesso em: 8 Nov 2018.

[19-b] Disponível em :

<https://formacaopiloto.blogspot.com/2014/09/aeronaves-e-motores-capitulo-xiv-helices.html>

Acesso em: 28 Jan 2019

[20] Disponível em: <http://grupomotopropulsor.blogspot.com/2011/08/governador-de-

helice.html> Acesso em: 28 Jan 2019

[21] Disponível em: <http://www.metalchek.com.br/ensaios-nao-destrutivos/liquidos-

penetrantes> Acesso em: 04 Fev 2019

[22] Disponível em: <http://www.infosolda.com.br/biblioteca-digital/livros-senai/ensaios-nao-

destrutivos-e-mecanicos-livros-senai/217-ensaio-nao-destrutivo-liquidos-penetrantes> Acesso

em: 4 Fev 2019

[23] Disponível em:

<http://www.metalica.com.br/pg_dinamica/bin/pg_dinamica.php?id_pag=1188> Acesso em: 7

Jan 2019

91

[24] IMPRESSÃO 3D. In: WIKIPÉDIA, a enciclopédia livre. Flórida: Wikimedia Foundation,

2019. Disponível em:

<https://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Impress%C3%A3o_3D&oldid=53983143>. Acesso

em: 6 Jan 2019.

[25] Disponível em: <https://www.sandvik.coromant.com/pt-pt/knowledge/general-

turning/pages/troubleshooting.aspx> Acesso em: 25 Fev 2019

[26] Disponível em: <https://www.fanucamerica.com/industrial-solutions/manufacturing-

applications/cnc-turning> Acesso em: 01 fev 2019

[27] Disponível em: <https://www.sandvik.coromant.com/pt-pt/products/Pages/toolguide.aspx>

Acesso em: 23 Jan 2019

[28] Disponível em: <https://www.sandvik.coromant.com/pt-

pt/knowledge/materials/pages/workpiece-materials.aspx> Acesso em: 5 mar 2019

[29] Disponível em:

<http://ftp.demec.ufpr.br/disciplinas/TM052/Prof.Sheid/Aula_Aluminio.pdf> Acesso em: 28 fev

2019

[30] Disponível em: <https://www.aircraftmaterials.com/data/aluminium/7075.html> Acesso em:

20 Fev 2019

[31] DINIZ, A.E. et al., Tecnologia da Usinagem dos Materiais, 7 ed. São Paulo, Artlieber

Editora Ltda, 2010

[32] FERRARESI, Dino, Fundamentos da Usinagem dos Metais, 13 ed. São Paulo, Editora

Edgard Blücher Ltda, 1970

[33] Disponível em: <https://www.quimatic.com.br/conteudo/catalogo-online/catalogoGeral.pdf>

Acesso em: 22 Fev 2019

[34] Disponível em: <https://www.sandvik.coromant.com/pt-pt/knowledge/general-

turning/pages/how-to-apply-coolant-and-cutting-fluid-in-turning.aspx> Acesso em: 22 Fev 2019

[35] Disponível em: <https://www.sandvik.coromant.com/pt-pt/knowledge/parting-

grooving/Pages/cutting-fluid-and-coolant.aspx> Acesso em: 25 Fev 2019

92

ANEXO

Medidas da bucha de reparo (sleeve) - página XXX do manual do fabricante

93

Ferramenta T01

94

Ferramenta T02

95

Ferramenta T03

96

Ferramenta T04

97

CÓDIGOS GERADOS NO SOFTWARE FUSION 360º NA SIMULAÇÃO DA

USINAGEM DO ANEL

a. Etapa 1

98

b. Etapa 2

99

c. Etapa 3

100

d. Etapa 4

101

e. Etapa 5

1º passe – Etapa 5

102

2º passe – Etapa 5

103

3º passe – Etapa 5

104

f. Etapa 6

105

g. Etapa 7