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AVALIAÇÃO DA SUSTENTABILIDADE AGRÍCOLA EMAGROSSISTEMAS DE BASE FAMILIAR: uma aplicação doMESMIS junto a produtores de leite do município deUmbuzeiro-PB
JAYSA ELIUDE AGUIAR DOS SANTOSUNIVERSIDADE FEDERAL DE CAMPINA [email protected] GESINALDO ATAÍDE CÂNDIDOUniversidade Federal de Campina [email protected]
AVALIAÇÃO DA SUSTENTABILIDADE AGRÍCOLA EM AGROSSISTEMAS DE
BASE FAMILIAR: uma aplicação do MESMIS junto a produtores de leite do município
de Umbuzeiro-PB
RESUMO
Em decorrência da complexidade do ambiente organizacional e das novas posturas de
mercado, em que se verifica a degradação dos recursos naturais, o aumento da poluição e o
aumento nos níveis de desigualdade social, o desenvolvimento sustentável se mostra cada vez
mais necessário à sobrevivência das atividades agrícolas e da sociedade como um todo. É
nesse contexto que este trabalho tem como objetivo avaliar o nível de sustentabilidade da
atividade agrícola de produção de leite do município de Umbuzeiro-PB, fazendo-se uso da
metodologia MESMIS. Para tanto foi realizada uma pesquisa comparativa entre dois grupos
de produtores de leite de Umbuzeiro-PB. Esta pesquisa é classificada como sendo descritiva e
exploratória, foram utilizadas como técnicas de pesquisa a pesquisa bibliográfica e
documental, além da realização de entrevistas seguindo um roteiro semi-estruturado junto a
esses produtores. As entrevistas foram analisadas com base na técnica de análise de conteúdo
descrita por Bardin (1977). Os resultados apontam para um nível regular de sustentabilidade
nos dois grupos analisados. Isso pode ser justificado pela atuação individual e pontual dos
produtores e da baixa participação de órgãos de apoio na atividade agrícola.
Palavras-chave: Atividade Agrícola; Indicador de Sustentabilidade; Produção de Leite.
ASSESSMENT OF SUSTAINABILITY IN AGRICULTURAL BASE FAMILY
AGROECOSYSTEMS: an application of MESMIS together the milk producers of the
municipality of Umbuzeiro-PB
ABSTRACT
Due to the complexity of the organizational environment and new postures market, where
there is degradation of natural resources, increased pollution and increased levels of social
inequality, sustainable development is increasingly necessary to the survival of activities
shows agriculture and society as a whole. In this context, this work aims at assessing the level
of sustainability of agriculture production of milk in the municipality of Umbuzeiro-PB,
making use of the methodology MESMIS. To do a comparative study between two groups of
milk producers of Umbuzeiro-PB was performed. This research is classified as being
descriptive and exploratory, were used as research techniques to bibliographic and
documentary research, in addition to conducting interviews following a semi-structured script
with such producers. The interviews were analyzed based on the technique of content analysis
described by Bardin (1977). The results point to a regular level of sustainability in both
groups analyzed. This can be explained by individual and punctual performance of producers
and the low participation of organs of support in agriculture.
Key words: Agricultural activity; Indicator of Sustainability; Milk Production.
1 INTRODUÇÃO
O atual contexto organizacional é baseado no crescimento das relações de produção e
consumo, implicando na modificação dos ecossistemas naturais, seja com a degradação dos
recursos naturais, aumento da poluição e com o aumento nos níveis de desigualdade social.
É nesse contexto, que surge o conceito de desenvolvimento sustentável. De acordo
com Veiga (2005), a ideia de sustentabilidade sugere que haja uma compatibilidade entre
produção e conservação de recursos naturais ao longo do tempo, embasados em aspectos
ambientais e ecológicos e associados aos fatores econômicos e socioculturais. É fazer com
que as gerações do presente atendam suas necessidades, sem comprometer a possibilidade de
que gerações futuras também atendam suas necessidades (RELATÓRIO DE BRUNDTLAND-
NOSSO FUTURO COMUM, 1988).
Dada à complexidade que envolve o desenvolvimento sustentável, surgem os
indicadores de sustentabilidade que captam mais facilmente dados e aspectos relevantes para
o processo e análise do desenvolvimento. Esses indicadores atuam como ferramenta capaz de
mensurar o nível de sustentabilidade de atividades produtivas.
Existem diversos Sistemas de Indicadores capazes de analisar os níveis de
sustentabilidade em agrossistemas. Destacam-se: Biograma (SEPÚLVEDA, 2005); Método
IDEA (MARZALL, 1999) e MESMIS (Marco para la Evaluación de Sistemas de Manejo de
recursos naturales incorporando Indicadores de Sustentabilidad - MASERA et al. 1999),
dentre outros. Para efeito deste trabalho o Sistema de Indicadores de Sustentabilidade em
agrossistemas escolhido foi o MESMIS, por ser de fácil operacionalização e flexível,
adaptável ao ambiente no qual se opera e por ter sido desenvolvido para a avaliação da
sustentabilidade em agrossistemas de base familiar, o que se aplica a este trabalho.
Em atividades agrícolas as discussões sobre a sustentabilidade se apresentam cada vez
mais necessárias. As atuais práticas produtivas são agressivas e bem distantes do que se
espera em termos de sustentabilidade. Dentre as atividades agrícolas, a produção de leite tem
grande representatividade cultural e social por permitir o pequeno produtor à sobrevivência e
é uma fonte de renda para a família, e será a atividade foco deste estudo.
A atividade agrícola escolhida para a realização desse trabalho foi a de produção de
leite do município de Umbuzeiro-PB, em virtude de ser esta atividade representativa para os
produtores em termos culturais e econômicos. Além da acessibilidade dos pesquisadores
nessa região.
Diante disso, este trabalho tem como objetivo avaliar o nível de sustentabilidade da
atividade agrícola de produção de leite do município de Umbuzeiro-PB, fazendo-se uso da
metodologia MESMIS. Para tanto, os aspectos metodológicos que conduziram esta pesquisa
foram a pesquisa qualitativa e de campo, de caráter descritivo e exploratório. Como técnicas
de coleta de dados utilizaram-se: a realização de entrevistas com agricultores selecionados a
partir do volume de produção; representantes de instituições de apoio, seguidas de um roteiro
pré-estruturado (a partir de método MESMIS na perspectiva de Masera et al (1999)); a
pesquisa bibliográfica; a pesquisa documental e; a observação participante. Para facilitar a
codificação das informações coletadas foi utilizada a técnica análise de conteúdo descrita por
Bardin (1977), seguindo as etapas de pré-análise, análise descritiva, e interpretação
inferencial.
Além desta parte introdutória, este artigo contempla um referencial teórico abordando
os seguintes temas: Desenvolvimento Sustentável em Atividade Agrícola; Produção de Leite
na Paraíba e Indicadores de Sustentabilidade. Posteriormente, são explicitados os
procedimentos metodológicos que conduziram esta pesquisa, seguido da exposição e análise
dos resultados obtidos, das considerações finais e das referências utilizadas.
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2.1 Desenvolvimento Sustentável em Atividade Agrícola
O atual contexto organizacional conta com o crescimento da população humana. Esse
crescimento, muitas vezes sem planejamento e desorganizado leva a modificações nos
ecossistemas naturais, porque junto desse aumento populacional, há aumento na demanda por
alimento, água, energia, bens e serviços que advindos desses ecossistemas. Tal fator pode
causar e causa diversos impactos ambientais, alguns irreversíveis. E, uma vez existindo a
exploração dos recursos naturais de forma desordenada e irracional a sociedade sofre todas as
consequências. Com o passar dos anos a ideia de desenvolvimento, antes ligada
especificamente a crescimento econômico, passou a ser substituída pelo conceito de
desenvolvimento sustentável, no sentido de se desenvolver e manter e preservar os recursos
naturais.
Nessa perspectiva, o conceito de desenvolvimento sustentável deve ser disseminado
entre as diversas esferas da sociedade, sendo necessária uma delimitação clara do que se
pretende sustentar e quem tem a responsabilidade sobre essa nova denominação de
desenvolvimento. Faz-se necessário que as empresas e que a sociedade de um modo geral
repensem seus modelos de comportamento com relação ao uso dos recursos naturais, para que
alcancem o desenvolvimento dito como sustentável.
De acordo com Veiga (2005), a ideia de sustentabilidade sugere que haja uma
compatibilidade entre produção e conservação de recursos naturais ao longo do tempo,
embasados em aspectos ambientais e ecológicos e associados aos fatores econômicos e
socioculturais. É fazer com que as gerações do presente atendam suas necessidades, sem
comprometer a possibilidade de que gerações futuras também atendam suas necessidades
(RELATÓRIO DE BRUNDTLAND- NOSSO FUTURO COMUM, 1988). Nesse sentido, o
desenvolvimento será sustentável à medida que as dimensões econômica, ambiental e
sociocultural encontrarem equilíbrio.
Partindo-se dessas discussões, surgem os sistemas de indicadores de sustentabilidade,
ferramenta capaz de mensurar o nível de sustentabilidade de atividades produtivas. Esses
indicadores facilitam a avaliação do avanço de uma determinada localidade em busca do
desenvolvimento sustentável, além de ser eficaz no processo de identificação e
reconhecimentos de problemas, assim como criação, implantação e avaliação de políticas de
desenvolvimento.
Diante de tais considerações, conhecer os índices de desenvolvimento sustentável
local, a partir do conhecimento acerca dos indicadores possibilitará entender quais variáveis
podem ser melhoradas, para que no âmbito da atividade foco, as oportunidades de aumento da
competitividade possam ser potencializadas.
Em atividades agrícolas as discussões sobre a sustentabilidade se apresentam cada vez
mais necessárias. As atuais práticas produtivas são agressivas e bem distantes do que se
espera em termos de sustentabilidade. Observa-se o uso intensivo de agrotóxicos, que afetam
o desequilíbrio ecológico, mau uso do solo, falta de técnicas adequadas de manejo dos
animais, muitas vezes abates em locais impróprios. A agricultura familiar, muitas vezes,
consegue fazer melhor uso dos recursos naturais, por exemplo, da biodiversidade, solo, água,
dentre outros, apresentando melhoria da produtividade, desenvolvimento e crescimento para a
localidade no qual se inserem. Altieri (2002 apud GAVIOLI, 2011) afirma que os sistemas
familiares de produção conseguem atingir bons resultados de produção quando equalizam
fatores biológicos, (por exemplo, doenças e insetos-praga) com fatores econômicos (por
exemplo, otimização na utilização de energia externa).
Dentre as atividades agrícolas, a produção de leite tem grande representatividade
cultural e social. Esta atividade permite o pequeno produtor a sobrevivência e é uma fonte de
renda para a família, além de não sofrer significativamente com as variações climáticas, o que
fortalece a atividade perante essas variações.
2.2 Produção de Leite na Paraíba
Em se tratando de atividade agrícola, a produção de leite tem grande representatividade
cultural e social. No Brasil, o volume de produção corresponde a 4,6%, deixando o Brasil
como o 6º maior produtor a nível mundial. (IBGE, 2011). A atividade leiteira é, dessa forma,
atividade importante no agronegócio e tem desempenhado relevância no processo de
desenvolvimento econômico e social do país.
No estado da Paraíba, a pecuária tem se mostrado a principal atividade econômica do
agronegócio. De acordo com Nascif (2012) depois do ano 1998 a produção de leite vem
crescendo a uma taxa de 6% ao ano, o que justifica sua contribuição na economia do estado.
A produção de leite na Paraíba está concentrada principalmente na região do Sertão e Agreste
Paraibano, com 192.962 cabeças de vacas ordenhadas e uma produção anual de 148.599 mil
litros.
No município de Umbuzeiro-PB, ambiente escolhido para estudo em função da
representatividade econômica e cultural da atividade leiteira, a produção de leite segundo
dados do IBGE (2011) chega a 2450 mil litros/ dia, gerando uma renda de RS 1.960,00/dia. É
uma atividade forte na região, uma oportunidade para produtores rurais crescerem e se
desenvolverem. A quantidade de vacas ordenhadas é de 2.100 cabeças e a produção individual
das vacas tem média de 10 litros de leite/dia. Esse resultado demonstra que no atual cenário
ambiental, a pecuária, mais especificamente a produção de leite é uma alternativa para a
sobrevivência de produtores rurais.
Apesar das potencialidades existentes na região, algumas dificuldades de expansão e
melhoramento da atividade surgem. A baixa escolaridade e a desorganização dos produtores
acabam interferindo no crescimento da atividade leiteira; a falta de controle por parte dos
produtores também é um fator agravante. O investimento e melhoramento na atividade
dependem do controle de gastos e lucros advindos dela, mas este não acontece. O que se
percebe é que a maior fonte de informação de alguns agricultores (maioria) é a televisão,
reportagens e notícias sobre o campo e ainda boa parte desses agricultores não recebem ou
receberam visitas de técnicos agrícolas.
A visita desses técnicos facilitaria o controle de custos com a produção; melhoraria a
qualidade do leite, uma vez que técnicas de manejo do leite seriam ensinadas; orientações de
como agir antes e depois da ordenha; técnicas de alimentação e manejo do gado, dentre
outras. Fatores estes que potencializariam a atividade e a força individual de cada produtor.
Diante disso, verifica-se a necessidade de utilizar mecanismos que verifiquem a
sustentabilidade dessa atividade agrícola, como forma de manter seu funcionamento e ao
mesmo tempo contribuir para o desenvolvimento local sustentável. Nesse sentido, os
indicadores de sustentabilidade assumem a capacidade de analisar o nível de sustentabilidade
e os pontos críticos do sistema.
2.3 Indicadores de Sustentabilidade
Na busca por um instrumento capaz de mensurar a sustentabilidade, surge os
indicadores de sustentabilidade. Estes proporcionam o diagnóstico da realidade estudada e
orientação para o processo de práticas sustentáveis de desenvolvimento, ou seja, identifica
problemas e aponta soluções para resolvê-los.
Um indicador age como uma medida de comportamento do agrossistema de ações
expressivas e perceptíveis. Há um processo de percepção e inferência no diagnóstico a base de
indicadores. De acordo com Masera et al (1999), os indicadores de sustentabilidade devem ter
as informações integradas, ser de fácil mensuração, servir de base de informação para outros
agrossistemas e permitir avaliar mudanças ao longo do tempo.
Várias são as vantagens em se utilizar os indicadores de sustentabilidade. As
informações são mais claras e concisas e aproveitadas ao máximo; há uma maior facilidade na
identificação de pontos críticos; maior a interação com os participantes; minimização de erros
de interpretação; possibilidade de verificação contínua de respostas; metodologia
interdisciplinar o que facilita a análise dos dados.
Existem diversos Sistemas de Indicadores capazes de analisar os níveis de
sustentabilidade em agrossistemas. Destacam-se: Biograma (SEPÚLVEDA, 2005); Método
IDEA (MARZALL, 1999) e MESMIS (Marco para la Evaluación de Sistemas de Manejo de
recursos naturales incorporando Indicadores de Sustentabilidad - MASERA et al. 1999),
dentre outros.
Para efeito deste trabalho foi utilizado o MESMIS, uma vez que é um metodologia
participativa, de abrangência na coleta de dados e informações e por propor a análise da
sustentabilidade especificamente para agrossistemas de base familiar, o que se aplica a este
trabalho.
O método MESMIS foi desenvolvido nos anos 90 pelo Grupo Interdisciplinar de
Tecnologia Rural Apropriada (GIRA) do México com o objetivo de avaliar a sustentabilidade
de atividades agrícolas, mais especificamente os agrossistemas de base familiar. Busca
compreender as limitações e as possibilidades de desenvolvimento dos sistemas produtivos,
descrever as atividades que são desenvolvidas e avaliá-las em termos de sustentabilidade. Para
isso, sua estrutura faz uso de Indicadores de sustentabilidade que possuem características
específicas de acordo com o agrossistema ao qual se propor analisar.
Essa metodologia determina que a sustentabilidade se promulga em três dimensões:
ecológica, econômica e sociocultural. Estas dimensões, por sua vez, se relacionam com cinco
atributos da sustentabilidade em agrossistemas. Quais sejam: produtividade; estabilidade/
resiliência; adaptabilidade; equidade, e; autonomia. (VERONA, 2010; MASERA et. al 1999).
Masera et al (1999) definem esses atributos, em que a produtividade está relacionada à
capacidade que o agrossistema tem de gerar bens e serviços em relação a seus insumos; a
estabilidade está relacionado ao mantimento do equilíbrio dinâmico e estável ao longo do
tempo para que os produtores possam ter produtividade; a confiabilidade se relaciona à
capacidade de manter os benefícios desejados e a produtividade; a resiliência está relacionada
à capacidade de recuperar as condições de atuação em momentos de impactos e voltar ao
equilíbrio; a adaptabilidade está relacionada à capacidade de mudança e adaptação as questões
(ambientais, sociais e econômicas) impostas pelo ambiente no qual o sistema está inserido; a
equidade está relacionado à capacidade de igualdade na distribuição dos benefícios humanos,
custos e outros benefícios adquiridos a partir de interações; e autogestão que se refere à
interdependência dos produtores. Trata-se de avaliar como um agrossistema busca se expandir
e alcançar seus objetivos por conta própria
A aplicação dessa metodologia busca por intermédio de uma análise comparativa entre
distintos sistemas de produção agrícola ou recortes temporais analisar os níveis de
sustentabilidade. Além de apontar o grau de sustentabilidade, a aplicação dos indicadores
permite reconhecer os pontos críticos e o funcionamento do agrossistema, oferece um novo
panorama de soluções e intervenções para o incremento de níveis de sustentabilidade.
(GAVIOLI, 2011).
Para a operacionalização e aplicação da metodologia segue-se um conjunto de passos
que permite efetivar todo o ciclo de avaliação, este será descrito no tópico subsequente.
3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Esta pesquisa é caracterizada como sendo descritiva e exploratória. Para tanto, foi
realizado um estudo comparativo entre dois grupos de produtores de leite da cidade de
Umbuzeiro-PB. Um grupo que apresenta resultados econômicos mais expressivos em termos
de produção e outro que apresenta resultados menos expressivos. A escolha por esses agentes
foi decorrente da média da quantidade de leite produzido pelos produtores cadastrados na
Associação de Produtores Rurais de Umbuzeiro-PB, três produtores que tivessem produção
acima da média (Grupo A +) e três que tivessem abaixo da média (Grupo B -). São no total 18
produtores associados. O somatório da produção em litros/dia é igual a: 2.195 litros/dia, que
resulta numa média igual a: 121,94 litros/dia.
Para a efetivação da pesquisa utilizou-se como técnicas de pesquisa a pesquisa
bibliográfica, como forma de obter embasamento teórico, pesquisa documental para levantar
dados e informações necessárias às propriedades e aos agricultores. Essas informações foram
complementadas pela verificação in loco mediante visitas as propriedades, na qual foram
realizadas entrevistas seguindo um roteiro semi-estruturado junto aos produtores selecionados
e representantes de instituições de apoio a fim de reconhecer os principais pontos fracos e
estabelecer os indicadores de análise de sustentabilidade adequados a atividade leiteira, a
partir de método MESMIS na perspectiva de Masera et al (1999). As entrevistas foram
analisadas com base na técnica de análise de conteúdo descrita por Bardin (1977) seguindo as
etapas de pré-análise; análise descritiva e interpretação individual.
Para operacionalização e aplicação da metodologia segue-se um conjunto de passos
que permite efetivar todo o ciclo de avaliação da sustentabilidade, como pode ser observado
na figura 1: Figura 1: Ciclo de evolução do MESMIS
Fonte: MASERA et al (1999)
a) Determinação do ambiente de estudo: nessa etapa fez-se estudo detalhado do
ambiente de estudo, qual seja as propriedades produtoras de leite de Umbuzeiro-PB; b)
Determinação dos pontos críticos do agrossistema: nessa etapa fez-se estudo com a
participação dos produtores e representantes institucionais dos fatores que limitam e que são
favoráveis à sustentabilidade; c) Seleção de indicadores estratégicos: nessa etapa foram
determinados os critérios de diagnóstico para se fazer as avaliações. Esses indicadores foram
selecionados de acordo com a realidade de cada agrossistema; d) Medição e monitoramento
de indicadores: os indicadores foram avaliados com o objetivo de quantificar as informações
coletadas no que se refere ao diagnóstico da sustentabilidade, nessa etapa, foi necessário uma
normalização dos indicadores para que pudessem servir de parâmetro para a avaliação do
nível de sustentabilidade. Assim, para cada indicador foram estabelecidos valores de 01 a 03,
em que 01 representa uma baixa contribuição para a sustentabilidade; 02 indiferente para a
sustentabilidade, e; 03 alta contribuição para a sustentabilidade; e) Apresentação e integração
dos resultados: nessa etapa as avaliações de diagnóstico tomaram forma. Os resultados
encontrados na avaliação foram analisados e discutidos com todos os atores; f) Conclusão e
recomendação: nesta última etapa, foram geradas as conclusões da avaliação e as propostas de
alternativas para fortalecer a sustentabilidade dos sistemas.
Essa metodologia é cíclica, contínua, de forma que chegada última fase, há um novo
início, partindo da identificação e determinação de um novo ambiente de estudo.
Realizando essas seis etapas, o pesquisador alcança melhor entendimento do
agrossistema e pode contribuir mais efetivamente para a melhoria do funcionamento desse
sistema. Assim como fazer sugestões e recomendações compatíveis com a realidade de como
mudar práticas produtivas para um futuro mais sustentável. Nesse sentido, para o alcance
dessas considerações fez-se uso da triangulação dos dados coletados a partir de fontes
primárias, secundárias e as inferências dos pesquisadores acerca das suas percepções quanto à
vinculação entre o fenômeno estudado e a base teórica e conceitual utilizada.
A partir da realização dos três primeiros passos da metodologia descrita anteriormente,
chegaram-se aos indicadores estratégicos que estão elencados no quadro 1.
Quadro 1: Dimensões da gestão sustentável. GESTÃO SUSTENTÁVEL
ATRIBUTO CRITÉRIOS DE
ANÁLISE
(ORIENTAÇÃO)
INDICADORES DIMENSÕES
Produtividade Retorno e eficiência Eficiência de
utilização do
trabalho familiar;
Sociocultural
Eficiência no
controle de gastos e
lucros;
Econômica
Controle da
qualidade do leite e
derivados;
Econômica
Aproveitamento do
solo;
Ecológica
Resiliência Conservação e
diversidade
Diversidade de
criação;
Ecológica; Econômica
Diversidade de
canais de
comercialização;
Econômica
Estabilidade Capacidade de
funcionamento
Participação em
redes (religiosas, de
trabalho,
Sociocultural
associações);
Presença de jovens; Sociocultural
Controle sobre o
preço dos produtos;
Econômica
Confiabilidade Capacidade para
manter
a produtividade
Frequência nas
compras;
Econômica
Fidelidade de
clientes;
Econômica
Relação com
concorrentes;
Econômica
Adaptabilidade Capacidade de
mudança e inovação
Existência de
pluriatividade;
Econômica
Intercâmbio de
conhecimentos;
Sociocultural
Melhoramento de
material genético;
Ecológica; Econômica
Equidade Distribuição e
participação
Ocupações no lote
agrícola;
Econômica
Divisão de terras
para herdeiros;
Sociocultural
Autogestão Autossuficiência
organizacional
Uso de insumos
externos;
Ecológica
Produção para
autoconsumo;
Econômica
Uso de
conhecimentos
locais.
Sociocultural
Fonte: Elaboração própria com base no método MESMIS (2014).
Esses indicadores foram estabelecidos a partir da interação e participação dos
produtores na discussão de pontos positivos e negativos da atividade agrícola,
potencializadores e inibidores da atividade.
4 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
4.1 Caracterização do ambiente de pesquisa
O município de Umbuzeiro tem 124 anos de existência e está situado na mesorregião
do estado da Paraíba. Possui uma área de aproximadamente 390 km² e cerca de 9.298
habitantes. Limita-se com o Estado de Pernambuco e com os municípios de Santa Cecília,
Alcantil, Gado Bravo, Aroeiras e Natuba. Está a 533 metros do nível do mar o que indica ser
uma das áreas mais altas do Estado da Paraíba, com forma estreita e ligeiramente alongada,
distante a 134 km da Capital João Pessoa. Ocupa 0,0046% do território Nacional e 0,69% da
Paraíba. A temperatura média anual desse município oscila em torno de 24°C. (IBGE, 2010).
As principais atividades econômicas circundam o funcionalismo público, comércio e
atividade agrícola. Em relação à atividade agrícola, são cadastrados na Secretaria de
Agricultura do município 1.240 agricultores.
4.2 Detalhamentos da metodologia MESMIS
Para efeito dos resultados, as etapas 1, 2 e 3 serão omitidas, em função de serem
responsáveis pelo estabelecimento dos indicadores conforme descrito na metodologia. Assim
sendo, os resultados consistir-se-á no detalhamento da metodologia MESMIS a partir do
passo 4.
00,5
11,5
22,5
3
Eficiência deutilização do…
Presença dejovens;
Intercâmbio deconheciment…
Divisão deterras para…
Uso deconheciment…
Avaliação Comparativa dos Indicadores Socioculturais
Grupo A +
Grupo B -
A avaliação dos indicadores se deu pela investigação do agrossistema de produção de
leite do município de Umbuzeiro-PB a partir de entrevistas e visitas in loco.
O grupo aqui denominado, A +, é um grupo que apresenta resultados de produção
acima da média e o Grupo B- aqueles que apresentaram resultados abaixo da média
(conforme descrito na metodologia). Foram tiradas as médias das respostas e elencadas em
gráficos do tipo radar para facilitar a compreensão.
4.2.1 Avaliação Comparativa da dimensão Sociocultural
Na dimensão Sociocultural foram estabelecidos como indicadores: Eficiência de
utilização do trabalho familiar; participação em redes (religiosas, de trabalho, associações);
presença de jovens; intercâmbio de conhecimentos; divisão de terras para herdeiros e uso de
conhecimentos locais.
Em relação à essa dimensão, chegou-se ao gráfico 1:
Gráfico 1: Avaliação Comparativa dos Indicadores Socioculturais
Fonte: Dados da pesquisa. 2014.
Nessa dimensão, os resultados nos dois grupos apontam para „indiferente para a
sustentabilidade‟. No Grupo A + a média foi 2,2 e no Grupo B - foi de 1,8. Esse resultado
aponta que tanto o Grupo A + como o Grupo B- consegue manter um desempenho aceitável
em termos de sustentabilidade. Com as visitas e entrevistas, foi possível perceber que há
eficiência na utilização do trabalho familiar, uma vez que, em todas as propriedades visitadas
a mão-de-obra é composta por pelo menos dois membros da família. Sendo assim, a
distribuição de terras para herdeiros, acaba acontecendo de forma natural em algumas
propriedades.
Aqui somos eu, meus filhos (três) e três peão. Agora fulano (um dos filhos) tá
trabalhando no caminhão e não fica mais na „lida‟ com a gente. [...] Cada um tem
seu pedaço de terra e suas vacas. É criado tudo junto e a ordenha é feita tudo junto
também, mas cada um tem que tomar conta do que é seu. (PROPRIETÁRIO 1 DO
GRUPO A +)
Eu trabalho aqui com minha família. Os homens cuidam do gado comigo e fica no
curral. A mulher e a filha fica na casa, faz comida e os queijos. Cuida das
encomendas de venda. Meus netos estudam e não tem tempo de ajudar a gente na
lida com o gado. [...] (PROPRIETÁRIO 3 DO GRUPO B-)
Dentre os participantes das atividades, percebeu-se presença de jovens, em sua
maioria, jovens não familiares dos proprietários, estes deveriam estudar e buscar novas
oportunidades e explorar horizontes diferentes, segundo os proprietários. Nessa dimensão,
curiosamente merece destaque o indicador „intercâmbio de conhecimento‟, que recebeu as
menores médias nos dois grupos A + e B-, 1,7 e 1,3, respectivamente. De acordo com as
entrevistas, cada „peão‟ como são chamados os empregados, têm a sua função e não “há a
necessidade de se intrometer nas tarefas dos outros”. Esse fator estagna a possibilidade de
expansão e de melhoramento no desenvolvimento da atividade agrícola.
Os mais velhos são quem geralmente lideram as atividades e, por sua vez, apresentam
comportamentos mais arredios. Na realização das visitas, foi possível identificar
comportamento impaciente de alguns produtores com a presença da pesquisadora. E quando
questionados sobre atuação da Associação e dos agentes da prefeitura, eles afirmaram que há
muito tempo não recebem visitas e que conseguem sobreviver sem a presença deles.
Olhe, cada um aqui tem sua função, mas ninguém se intromete na tarefa de
ninguém. Quando falta alguém eles fazem a tarefa, por que „tudim‟ sabe fazer de
tudo um pouco. Mas aprende olhando, não tem isso de ficar conversando e
ensinando não. (PROPRIETÁRIO 1 DO GRUPO A +)
Aqui, a gente não conversa muito de bicho não, porque não tem o que conversar.
[...] Mas olhe tem dois meninos que trabalha aqui que eu trato como se fossem da
família, eles moram num quartinho de despensa no quintal de casa.
(PROPRIETÁRIO 2 DO GRUPO B-)
Faz muito tempo que não vem ninguém do governo e nem de associação. A gente
aqui só tem as „coisa‟ porque meu menino é entendido e vai. (PROPRIETÁRIO 2
DO GRUPO A +)
Diante do exposto pode-se perceber que, embora não haja o relacionamento presente
de agentes governamentais e não governamentais e de relacionamentos internos às
propriedades direcionados ao intercâmbio de conhecimentos, há um ambiente de trabalho com
aconchego familiar em que cada um tem sua função e contribuição para a atividade como um
todo, como pode ser percebido no discurso do PROPRIETÁRIO 2 DO GRUPO B-.
Essa contribuição da comunicação e do intercâmbio de conhecimentos a nível interno,
muitas vezes não acontece, porque há uma carência de conhecimento de técnicas de manejo e
de desenvolvimento da atividade. O conhecimento que se tem é acumulado, herdado de
antepassados e aprendidos pelas novas gerações pela observação.
Embora apresente alguma diferença nas médias, os Grupos A + e B-, apresentam
comportamentos semelhantes no que se refere aos indicadores Socioculturais. De uma forma
geral, mesmo apresentando algumas dificuldades em relação ao compartilhamento de
conhecimento e falhas na comunicação que possam contribuir para a melhoria da atividade, a
dimensão sociocultural foi avaliada de forma indiferente, que não é ótimo, mas que também
não apresenta maiores riscos à sustentabilidade da atividade.
4.2.2 Avaliação Comparativa da dimensão Ecológica
Na dimensão Ecológica foram estabelecidos como indicadores: uso de insumos
externos; melhoramento do material genético; diversidade de criação e aproveitamento do
solo.
Com base na dimensão Ecológica, tem-se o gráfico 2: Gráfico 2: Avaliação Comparativa dos Indicadores Ecológicos
Fonte: Dados da pesquisa. 2014.
Os resultados nessa dimensão apontam para os dois Grupos analisados „indiferente
para a sustentabilidade‟, com média igual a 1,9.
No Grupo A+, esse resultado pode ser justificado pela atuação quase que pontual na
atividade agrícola de produção de leite. O aproveitamento do solo existe, mas não para a
produção de outros cultivares nem de outros animais. O solo é prioritariamente destinado ao
pastio das vacas e bois. Nesse sentido, há um maior desgaste do solo, uma vez que com a
perda da camada vegetal da área através da presença desses animais, há uma maior
compactação do solo, tornando-o infértil.
No que se refere ao indicador „melhoramento de material genético‟, somente no Grupo
A + foi verificada a existência de melhoramento genético. Existe na cidade de Umbuzeiro um
banco de sêmen do Gir leiteiro (Raça leiteira) na Estação Experimental João Pessoa
(EMEPA) que é considerada o berço da seleção do Gir leiteiro a nível Paraíba. Alguns
produtores tiveram acesso a esse banco de sêmen e fizeram a inseminação para a purificação
das raças, receberam apoio e treinamento dos agentes e técnicos da EMEPA. No entanto, esse
contato é tido por pouquíssimos produtores, sendo os sêmens, em sua maioria, vendidos sob
encomenda a produtores de fora do município ou armazenados na EMEPA para posterior
inseminação. Para os produtores que adquiriram os sêmens, os benefícios são expressivos, o
aumento na produção de leite é significativo, segundo os proprietários e técnicos da EMEPA,
esse aumento chega a 35%. Isso reflete que em se tratando do melhoramento genético, os
produtores que possuem melhores condições de produção e consequentemente maior
quantidade de produção são beneficiados.
Uma ação da Associação dos Produtores de Leite de Umbuzeiro, descrita pelos
proprietários de ambos os grupos foi conseguir os sêmens de raça leiteira na EMEPA e
distribuir entre os Associados. Mas isso segundo eles foi a única atividade proveitosa da
associação e já faz algum tempo.
No Grupo B- não foi identificado o melhoramento genético a partir do banco de sêmen
da EMEPA, consequentemente há uma queda na produção de leite se comparado ao outro
grupo analisado. Isso foi decorrente, segundo relatos dos proprietários do Grupo B-, de na
época da distribuição dos sêmens por parte da Associação eles não serem associados. No
entanto, o Grupo B- consegue ser melhor avaliado nos outros indicadores em relação ao
Grupo A +, ou seja, explorar melhor o solo e ter produção diversificada. Esse acaba sendo um
diferencial do Grupo B-.
Além da criação de vacas, o Grupo B- mantém a criação de galinhas, porcos e, em
minoria, de carneiros. Ademais, cultiva mandioca, jerimum, milho, feijão e diversas hortaliças
00,5
11,5
22,5
Uso de insumosexternos;
Melhoramento dematerial genético;
Diversidade decriação;
Aproveitamentodo solo;
Avaliação Comparativa dos Indicadores Ecológicos
Grupo A +
Grupo B -
para consumo interno. Em casos de boa produção desses subsistemas, há a comercialização.
Essa diversidade do subsistema animal otimiza o uso dos recursos disponíveis, incrementando
a ciclagem de nutrientes através do esterco na bovinocultura. Esse desenvolvimento
diversificado de culturas contribui para a preservação do solo, uma vez que a matéria orgânica
resultante da atividade produtiva serve de adubo para o solo e pode potencializar a atividade
de subsistência.
Os dois grupos apresentaram valores que indicam para „indiferentes para a
sustentabilidade‟ no indicador „Uso de insumos externos‟. A compra de materiais é feita no
período de três meses, principalmente ração, isso faz com que não haja fidelização e
frequência nas compras.
De uma maneira geral a dimensão Ecológica foi avaliada de forma „indiferente para a
sustentabilidade‟. O que fica evidente nessa pesquisa é que se existisse maior atuação de
órgãos de apoio esse resultado poderia assumir valores mais positivos.
4.2.3 Avaliação Comparativa da dimensão Econômica
Na dimensão Econômica foram estabelecidos como indicadores: eficiência no controle
de gastos e lucros; controle da qualidade de leite e derivados; diversidade de canais de
comercialização; controle sobre os preços dos produtos; frequência nas compras; fidelidade
dos clientes; relação com concorrentes; existência de pluriatividade; ocupações do lote
agrícola e produção para autoconsumo.
Em relação à dimensão Econômica, tem-se o gráfico 3:
Gráfico 3: Avaliação Comparativa dos Indicadores Econômicos
Fonte: Dados da Pesquisa. 2014.
Nessa dimensão os resultados levam a „indiferente para a sustentabilidade‟, com
médias iguais a 2,02 (Grupo A +) e 2,3 (Grupo B-). Na dimensão Econômica, embora de uma
forma geral tenha obtido esse resultado de indiferente para a sustentabilidade, vale ressaltar
que apresentou indicadores avaliados na menor escala utilizada (1) que representa baixa
contribuição para a sustentabilidade tanto no Grupo A+ como no Grupo B- . Os indicadores
foram: „eficiência no controle de gastos e custos‟ e „controle sobre o preço dos produtos‟.
Nesse caso o controle dos gastos e lucros não são avaliados pelos proprietários. Eles atuam
comprando e vendendo seus produtos sem nenhum controle sobre eles. Alguns afirmaram que
o que ganham se reverte em insumos para a atividade, principalmente ração.
Como a gente usa ordenha mecânica é preciso fazer manutenção nas máquinas,
comprar produtos pra higienizar o peito da vaca antes e depois da ordenha. Se uma
mangueira dessa rompe a gente paga uns trezentos reais por uma pecinha de nada.
0
1
2
3Eficiência no…
Controle da…
Diversidade de…
Frequência nas…
Fidelidade de…
Relação com…
Existência de…
Produção para…
Avaliação Comparativa dos Indicadores Econômicos
Grupo A +
Grupo B -
[...]. Nossa ração é cara. A gente compra cevada da Itaipava e uma ração pronta, a
Maxleite. [...] Como a gente gasta muito dinheiro com a ração, o retorno acaba sendo
baixo. O que é vantagem e o lucro da gente vem da venda dos bezerros.
(PROPRIETÁRIO 3 DO GRUPO A +)
Agente tira o leite e a mulher faz o queijo, às vezes a gente ajuda também. [...] Toma
cuidado com a higiene do leite. [...] A gente vende o queijo aqui em casa e um
queijeiro compra uns 30 kg pra vender no sábado na feira de Umbuzeiro. [...] De
dinheiro a gente recebe e gasta de novo com mantimento de casa e compra ração pro
gado. [...] (PROPRIETÁRIO 1 DO GRUPO B-)
O que se pode perceber é que os produtores não controlam os gastos e não fazem
separação de custos, receita e lucro. Isso faz com os produtores acabem acreditando que a
atividade não é rentável, consequentemente que o êxodo rural aumente, que a atividade
agrícola seja desvalorizada. O que também acontece é que os proprietários não têm poder
sobre o preço dos produtos que vendem, esse fica por conta dos compradores. Os
compradores são em sua maioria fixos e o mercado se restringe a queijarias (venda do leite in
natura); padarias e supermercados locais (leite in natura, queijo, nata e outros derivados do
leite), além da população circunvizinha a essas propriedades.
Preço a gente não controla. Se o quilo do queijo aumenta, o leite tem que aumentar
também. O litro de leite semana passada „tava‟ R$1,05 e agora „tá‟ R$ 1,10 porque o
queijo aumentou, se a gente não muda o preço sai no prejuízo. (PROPRIETÁRIO 2
DO GRUPO A +)
Em relação aos indicadores „diversidade de canais de comercialização‟ e „existência de
pluratividade‟, foram avaliados mais positivamente no Grupo B-. Esse grupo, menos
desenvolvido em termos de produção de leite, explora outras atividades, como descritas na
dimensão Ecológica, isso faz aumentar a renda e potencializar as propriedades rurais. Em
relação à diversidade de canais de comercialização, como os produtores do Grupo B- lidam
com diversas culturas de produção e, em sua maioria, vendem seus produtos diretamente aos
clientes acabam possuindo maiores possibilidades de comércio. Seus principais canais são,
feiras municipais e regionais, clientes que compram o leite e outros produtos na própria
propriedade, queijarias, supermercados.
No Grupo A+, os compradores são em sua maioria, queijarias e clientes que vão até a
propriedade. Nesse grupo, a atividade circunda a produção de leite e é comum a presença de
atravessadores que compram o leite e fazem revenda. No entanto, também existe a
participação em feiras de gado em que há a venda de bezerros, que não é o objetivo de criação
dessas propriedades.
Os relacionamentos que deveriam agir como aquecedores de mercado parecem não
existir. O contato com concorrentes é baixo, fator justificado pela atuação simplória da
Associação dos Produtores de leite de Umbuzeiro; com fornecedores acaba sendo também
baixo em função do volume de compra não ser frequente, a compra de insumos acontece a
cada três meses, segundo os proprietários.
Merece destaque positivo nessa dimensão, os indicadores „controle da qualidade do
leite e derivados‟, „ocupação do lote agrícola‟ e „produção para autoconsumo‟. Em relação à
qualidade do leite, o que se percebe é que os proprietários conseguem cuidar do gado desde a
alimentação, pastio, ordenha e pós ordenha e manter a qualidade do leite e derivados. O que
não necessariamente é feito de forma consciente. O que se percebe é que a atuação dos
produtores surte resultado positivo nesses aspectos, mas eles não sabem o porquê disso.
Fazem porque acreditam ser o certo. Não há muitas vezes nenhum treinamento de manejo dos
animais que pudessem de fato contribuir mais efetivamente para a melhoria da qualidade dos
produtos e da atividade como um todo.
No Grupo A+, em que os produtores tiveram acesso mais diretivo aos agentes e
técnicos da EMEPA, em função do banco de sêmen do Gir leiteiro, houve um treinamento
mais diretivo por parte desses agentes em relação à qualidade do leite, o que é um diferencial
para os produtores do Grupo A+. Mas é válido destacar que esse treinamento não é frequente.
Em relação ao contato com o sêmen da raça leiteira, é válido destacar que foi uma
ação pontual da Associação e que nos dias atuais é difícil para os produtores conseguirem
acesso a esse sêmen. O que acontece e foi citado pelos proprietários é que eles fazem
pequenas parcerias com outros produtores para fazer o cruzamento com reprodutor de raça
pura, melhorando parcialmente a genética dos animais, ou seja, a raça que nascerá a partir
desse cruzamento é chamada por eles de „meia‟, que representa meio raça pura e meio
mestiço.
Outra forma de contato com animais de raça pura leiteira e de reprodução (Gir,
Guzerá e Sindi) é a partir de leilões que acontecem uma ou duas vezes ao ano nas cidades de
Umbuzeiro-PB ou Alagoinha-PB. Este ano, a edição do leilão será na cidade de Umbuzeiro
no final do mês de setembro, em que serão leiloados 71 animais adultos e quatro crias ao pé
(Gir, Guzerá e Sindi), distribuídas por raça e sexo, avaliados em R$ 205.050,00 pela
Comissão de Avaliação da EMEPA. No entanto, os lances individuais desses animais são
avaliados em no mínimo R$ 2.500,00, o que muitas vezes é incompatível com a realidade dos
produtores locais.
Uma vez existindo contribuição e apoio de agentes governamentais e não
governamentais para todos os produtores o cenário da atividade agrícola em termos de
sustentabilidade e os resultados econômicos poderia ser outro. Principalmente para o pequeno
produtor, que adquire os insumos de forma individualizada a altos custos; não tem poder de
barganha na compra; e tem dificuldade no acesso a redes de crédito para custear a atividade
produtiva.
Diante de todos esses resultados, pode-se fazer um diagnóstico da atividade agrícola
de produção de leite na cidade de Umbuzeiro-PB. Embora haja algumas divergências entre os
grupos analisados, eles apresentam níveis regulares de sustentabilidade. Esse resultado deixa
claro que essa atividade agrícola tem condições de se desenvolver e melhorar a qualidade de
vida de toda população que dela sobrevive, mas que para que isso aconteça, torna-se
necessário a existência de políticas públicas mais diretivas e específicas para o
desenvolvimento da atividade e a participação incisiva dos órgãos de apoio como governos e
associações.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A atividade agrícola de produção de leite tem grande representatividade cultural e
econômica para os produtores da cidade de Umbuzeiro-PB. Diante da aplicação da
metodologia MESMIS nessa atividade agrícola, a partir da interação e participação dinâmica
no ambiente estudado, foi realizado um diagnóstico da sustentabilidade na atividade que
aponta para nível regular de sustentabilidade.
Isso é decorrente da atuação individual e pontual de cada produtor e da participação
simplória de órgãos de apoio, a exemplo da Associação de Produtores de Leite do município
de Umbuzeiro-PB e governos. A ausência de relacionamento por entre os produtores e com os
diversos atores dentro da cadeia produtiva se torna um gargalo para a melhoria da atividade,
em função do baixo conhecimento dos produtores e da falta de articulação entre esses agentes.
A atuação dessas instituições poderia atuar como promotoras de desenvolvimento e
crescimento da atividade, no sentido de ampliar o acesso a linhas de crédito; incentivar a
compra coletiva de insumos (conseguir melhores preços); ampliar os canais de
comercialização; oferecer capacitação e técnicas de manejo do rebanho; melhorar a qualidade
do leite a partir do melhoramento genético; dentre outras. Em relação à qualidade do leite,
deve-se pensar no início do processo, com o melhoramento do rebanho. Esse melhoramento
poderia acontecer por intermédio da inseminação artificial e/ou do cruzamento de espécies
para garantir matrizes leiteiras com melhores padrões genéticos, a exemplo do Gir leiteiro,
que garantem leite de melhor qualidade.
A existência de pessoas de uma mesma família trabalhando na atividade agrícola é um
diferencial e uma vantagem para os produtores que ficam a mercê de suas próprias decisões e
ações, uma vez que representa diminuição de gastos com funcionários e faz o processo de
tomada de decisão ser mais participativo. Essa é uma das principais características nos dois
grupos analisados no que se refere à dimensão Sociocultural.
A diversificação de subsistemas e de cultivos no estabelecimento agrícola contribui
para o aumento da sustentabilidade na dimensão Ecológica. De acordo com os resultados, o
Grupo B-, embora não possua melhoramento genético a partir do banco de sêmen da EMEPA,
consegue se igualar em termos de retornos financeiros aos produtores do Grupo A+ que
possuem um gado mais selecionado e consequentemente uma produção de leite maior. Isso é
decorrente da melhor utilização do solo com desenvolvimento de subsistemas e diversidade
de criação por parte do Grupo B-.
Na dimensão Econômica, os dois grupos sofrem com a falta de controle de custos,
receitas e lucros e com a dependência dos compradores em determinação do preço de seus
produtos. Em função da pluriatividade, o Grupo B- consegue maiores canais de
comercialização em relação ao Grupo A+, o que faz com que os mesmos tenham retornos
econômicos significativos e consigam maior poder de barganha com clientes e fornecedores.
Nesse sentido, pode-se dizer que tanto o Grupo A+ quanto o Grupo B-, apresentam
resultados regulares em relação à sustentabilidade. Mesmo existindo algumas diferenças entre
eles, os dois grupos conseguem manter boas práticas produtivas que são contributivas para o
aumento do nível de sustentabilidade agrícola. Um possuindo maior volume de produção e
melhor qualidade do leite decorrente da raça de seus animais (a partir do melhoramento
genético- Grupo A+) e o outro, diversidade de cultivares e do subsistema animal (criação de
vacas, galinhas, porcos e, em minoria, de carneiros; cultivo de mandioca, jerimum, milho,
feijão e diversas hortaliças para consumo interno- Grupo B-).
Diante disso, pode-se dizer que a atividade agrícola de produção de leite é uma
atividade potencial que merece destaque, em função das condições climáticas e cultuais da
região, mas que para que possam de fato se desenvolver necessitam do apoio, participação e
da ação dos agentes governamentais e não governamentais no desenvolvimento de políticas
públicas de apoio a essa atividade agrícola. Um exemplo é a Associação, que é o contato mais
próximo do pequeno produtor com as atuais práticas de manejo e criação do rebanho, assim
como melhor aproveitamento do solo, mas esta não funciona. Teve há algum tempo sua
contribuição no melhoramento genético de alguns produtores que eram associados, mas que
não existe mais. O pequeno produtor fica a mercê de suas próprias convicções, ações e
atitudes. Isso representa, em alguns casos, a estagnação da atividade e consequentemente faz
aumentar o êxodo rural e a desvalorização da atividade agrícola.
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