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DENISE HAIBARA AVALIAÇÃO HISTOPATOLÓGICA E IMUNOHISTOQUÍMICA DA ENCEFALOPATIA EM GATOS INFECTADOS EXPERIMENTALMENTE PELO VÍRUS DA IMUNODEFICIÊNCIA DOS FELINOS São Paulo 2011

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DENISE HAIBARA

AVALIAÇÃO HISTOPATOLÓGICA E IMUNOHISTOQUÍMICA DA

ENCEFALOPATIA EM GATOS INFECTADOS EXPERIMENTALMENTE PELO

VÍRUS DA IMUNODEFICIÊNCIA DOS FELINOS

São Paulo

2011

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DENISE HAIBARA

AVALIAÇÃO HISTOPATOLÓGICA E IMUNOHISTOQUÍMICA DA

ENCEFALOPATIA EM GATOS INFECTADOS EXPERIMENTALMENTE PELO

VÍRUS DA IMUNODEFICIÊNCIA DOS FELINOS

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Patologia Experimental e Comparada da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo para obtenção do título de Mestre em Ciências Departamento: Patologia Área de concentração: Patologia Experimental e Comparada Orientador: Prof. Dr. Paulo César Maiorka

São Paulo 2011

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FOLHA DE AVALIAÇÃO

Nome do autor: HAIBARA, Denise

Título: Avaliação histopatológica e imunohistoquímica da encefalopatia em gatos

infectados experimentalmente pelo vírus da imunodeficiência dos felinos.

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Patologia Experimental e Comparada da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo para obtenção do título de Mestre em Ciências

Data:___/___/____

Banca examinadora

Prof. Dr_________________________Instituição:__________________________

Assinatura:______________________Julgamento:__________________________ Prof. Dr_________________________Instituição:__________________________

Assinatura:______________________Julgamento:__________________________ Prof. Dr_________________________Instituição:__________________________

Assinatura:______________________Julgamento:__________________________

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Aos meus pais Mitur e Fujie e à minha

irmã Ana Paula pelo amor de família.

E a todos os meus novos e velhos

amigos pelo apoio e encorajamento

constante.

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AGRADECIMENTOS

Ao meu orientador Prof. Dr. Paulo César Maiorka, que me acolheu ainda na

graduação e me ajudou muito nessa caminhada. Muito obrigada pela confiança, e

orientação.

À Profa. Dra. Mitika Kuribayashi Hagiwara pela co-orientação valorosa.

Ao Marcelo de Souza Zanutto, por disponibilizar o seu material de pesquisa.

Ao Adriano Tony Ramos, pela realização das necropsias e por me permitir

acompanhá-las, ainda nos tempos em que eu era estagiária.

Aos colegas: Maria Luisa Landman, Luiz Fernando Panigassi, Caio Rodrigues

dos Santos, Samantha Ive Myashiro e em especial à Adriana de Siqueira e Anna

Carolina Barbosa Esteves Maria que me ajudaram muito em todas as etapas do

projeto. Muito obrigada pelas conversas, risadas, apoio moral e amizade verdadeira.

Ao Bruno Marques Teixeira, pelas discussões sobre FIV, que se mostraram

extremamente esclarecedoras e valiosas para o meu trabalho.

Aos meus pais Mitur Haibara e Fujie Koshiyama Haibara e à minha irmã Ana

Paula Haibara, por toda a dedicação e apoio.

À Profa. Dra. Lilian Rose Marques de Sá e à médica veterinária Luciana

Neves Torres, por todos os ensinamentos, todas as dúvidas tiradas e todas as

gentilezas.

Aos técnicos do laboratório de histologia Luciano Bugalho e Cláudio Arroyo

pela paciência e auxílio no processamento dos materiais histológicos.

À bibliotecária Elza Faquim pelas dicas, presteza em esclarecer minhas

dúvidas e simpatia.

Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq)

pelo suporte financeiro.

Á Universidade de São Paulo, em especial o Departamento de Patologia,

professores, funcionários e colegas pelos ensinamentos colaboraram de várias

formas para a realização desse trabalho.

Ao Prof. Dr. Alessandre Hataka, pela amizade e por estar sempre presente

quando precisei.

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Aos meus amigos que apesar de não terem colaborado diretamente nesse

projeto, sempre me incentivaram a seguir por esse caminho, e sempre tinham uma

palavra de apoio na ponta da língua.

E especialmente aos gatos Idriel, Murilo, Zenda, Venza, Luciella, Hammerfel,

Valeron, Vicky e Rodolfo, pela colaboração de valor inestimável no estudo dessa

doença.

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RESUMO

HAIBARA, D. Avaliação histopatológica e imunohistoquímica da encefalopatia em gatos infectados experimentalmente pelo vírus da imunodeficiência dos felinos [Histopathological and immunohistochemical evaluation of the encephalopathy in cats experimentally infected by feline immunodeficiency virus]. 2012. 65 f. Dissertação (Mestrado em Ciências) – Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2011.

Para avaliar a encefalopatia em gatos infectados experimentalmente pelo vírus da

imunodeficiência dos felinos, foram obtidas amostras de encéfalo após necropsia de

nove gatos previamente inoculados pelo subtipo B do vírus e monitorados por quatro

anos. As amostras foram fixadas em formalina 10% para coloração em

Hematoxilina-eosina, e em metacarn para avaliação análise imunohistoquímica.

Através da técnica de imunohistoquímica, as lâminas de encéfalo foram incubadas

com anticorpos específicos para os antígenos Proteína Glial Fibrilar Ácida (GFAP) e

Vimentina para marcação de astrócitos e com anticorpos para a proteína p24 do

capsídeo viral do FIV. Nas lâminas marcadas para GFAP foram observados

astrócitos em substância branca e cinzenta em quantidade moderada, sugerindo

astrocitose reativa. Houve marcação mais evidente da região subpial e em alguns

animais das regiões perivasculares. A marcação para vimentina mostrou raras

células distribuídas pelo neurópilo e forte marcação de astrócitos na região

subependimária nos ventrículos laterais e IV ventrículo, o que pode indicar um

aumento da proliferação e migração de células tronco. Também foram observadas

alterações como: nódulos gliais, vacuolização da substância branca, satelitose e

focos de calcificação de meninge. A satelitose indica a presença de processo

degenerativo em desenvolvimento. A marcação para a proteína p24 confirmou a

presença de células microgliais infectadas. Raros astrócitos com marcação

citoplasmática foram vistos em apenas um animal. Curiosamente, houve marcação

dos neurônios da camada granulosa do cerebelo. Esta técnica deve ser mais bem

explorada para o uso em diagnóstico post mortem. Esses resultados sugerem que

os animais infectados experimentalmente pelo FIV subtipo B apresentam alterações

microscópicas mesmo na ausência de sinais clínicos neurológicos.

Palavras chave: gatos. FIV. Encefalopatia. Resposta astrocitária. Imunohistoquímica.

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ABSTRACT

HAIBARA, D. Histopathological and immunohistochemical evaluation of the encephalopathy in cats experimentally infected by feline immunodeficiency virus [Avaliação histopatológica e imunohistoquímica da encefalopatia em gatos infectados experimentalmente pelo vírus da imunodeficiência dos felinos]. 2012. 65 f. Dissertação (Mestrado em Ciências) – Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2011.

To evaluate the encephalopathy in cats experimentally infected with feline

immunodeficiency vírus, were obtained brain samples from autopsies of nine cats

previously inoculated with subtype B virus and monitored for four years. The samples

were fixed in 10% formalin for hematoxylin-eosin staining, and in metacarn for

immunohistochemical analysis. Throuh the immunohistochemistry technique, the

brain slides were incubated with antibodies against the glial fibrillary acidic protein

(GFAP) and vimentin to mark astrocytes and against the viral capsid protein p24 of

FIV. On the GFAP marked slides, astrocytes were observed in gray and white matter

in moderate amounts, suggesting reactive astrocytosis. There was evident reactivity

in the subpial area and in some animals, around blood vessels. The markup for

vimentin showed rare cells distributed throughout the neuropil, and strong labeling of

astrocytes in the subependymal region of the lateral ventricules and fourth ventricule,

which may indicate an increased rate of proliferation and migration of stem cells. The

histopathological changes observed were: glial nodules, white matter vacuolization,

sattelitosis and foci of meningial calcification. The sattelitosis indicates the presence

of degenerative process in developing. The use of antibodies against the protein p24

confirmend the presence of infected microglia in the brain of infected animals. Rare

astrocytes with cytoplasmic staining were seen in only one animal. Interestling, there

was labeling of neurons in the granular layer of the cerebellum. This technique

should be further exploited for use in post-mortem diagnosis. These results suggest

that animals experimentally infected with FIV subtype B show microscopic changes in

the absence of clinical neurologic signs.

Key words: cats. FIV. Encephalopathy. Astrocitic response. Immunohistochemistry.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Encéfalo de gato. Gliose reativa da substância cinzenta. Observar aumento de celularidade. Coloração: HE. Obj. 100x ......................................... 35

Figura 2 - Encéfalo de gato. Satelitose. Observar células satélite em contato com um neurônio. Coloração: HE. Obj: 400x ................................................................... 35

Figura 3 - Encéfalo de gato. Nódulos gliais. Coloração: HE. Obj: 400x .................... 36

Figura 4 - Encéfalo de gato. Nódulo glial. Coloração: HE. Obj: 100x ........................ 37 Figura 5 – Encéfalo de gato. Observar a grande quantidade de vacúolos na

substância branca. Coloração: HE. Obj: 40x ...................................................... 38 Figura 6 - Encéfalo de gato. Astrócitos marcados pelo anticorpo anti-GFAP.

Astrocitose em substância branca. Obj: 100x .................................................... 39 Figura 7 – Encéfalo de gato. Astrócitos marcados pelo anticorpo anti-GFAP.

Astrocitose em substância cinzenta. Obj: 100x .................................................. 40 Figura 8– Encéfalo de gato. Astrócitos marcados pelo anticorpo anti-GFAP na

substância cinzenta. Obj: 400x .......................................................................... 40 Figura 9 – Encéfalo de gato. Astrócitos marcados pelo anticorpo anti-GFAP na

substância branca. Obj: 400x ............................................................................. 41 Figura 10 – Encéfalo de gato. Astrócitos marcados pelo anticorpo anti-GFAP.

Aumento da marcação de região subpial. Obj. 100x .......................................... 42 Figura 11 - Encéfalo de gato. Astrócitos marcados pelo anticorpo anti-GFAP.

Marcação perivascular evidente. Obj. 40x ......................................................... 42 Figura 12 – Encéfalo de gato. Astrócitos reativos e células ependimárias marcadas

pelo anticorpo anti-vimentina. Obj: 100x ............................................................ 43 Figura 13 - Encéfalo de gato. Astrócitos reativos marcados pelo anticorpo anti-

vimentina em região subependimária. Obj: 400x ............................................... 44 Figura 14 – Encéfalo de gato. Capilares e astrócitos reativos marcados pelo

anticorpo anti-vimentina. Obj: 400x .................................................................... 45 Figura 15 - Cerebelo de gato. Intensa marcação dos neurônios da camada granulosa

do cerebelo pelo anticorpo anti-FIV p24. Obj: 400x ........................................... 46 Figura 16 – Encéfalo de gato. Células da glia marcadas pelo anticorpo anti-FIV p24.

........................................................................................................................... 46

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 13

2 REVISÃO DE LITERATURA .................................................................................. 16 2.1 VÍRUS DA IMUNODEFICIÊNCIA DOS FELINOS E A SÍNDROME DA IMUNODEFICIÊNCIA ADQUIRIDA EM GATOS ....................................................... 16 2.2 ASTRÓCITOS ..................................................................................................... 20 2.3 ENCEFALOPATIA ASSOCIADA À INFECÇÃO PELO FIV ................................. 23 2.3.1 SINAIS CLÍNICOS RELACIONADOS À ENCEFALOPATIA ............................ 27 2.4 DIAGNÓSTICO ................................................................................................... 28

3 MATERIAIS E MÉTODOS...................................................................................... 29 3.1 ANIMAIS EXPERIMENTAIS ................................................................................ 30 3.2 NECROPSIA ....................................................................................................... 30 3.3 PROTOCOLO UTILIZADO PARA MARCAÇÃO IMUNOHISTOQUÍMICA .......... 31

4 RESULTADOS ....................................................................................................... 34 4.1 OBSERVAÇÕES MORFOLÓGICAS DOS CORTES DE ENCÉFALO E CEREBELO CORADOS POR HE À MICROSCOPIA DE LUZ .................................. 34 4.2 OBSERVAÇÕES MORFOLÓGICAS DOS CORTES DE ENCÉFALO E CEREBELO À MICROSCOPIA DE LUZ COM MARCAÇÃO IMUNOHISTOQUÍMICA PARA GFAP .............................................................................................................. 39 4.3 OBSERVAÇÕES MORFOLÓGICAS DOS CORTES DE ENCÉFALO E CEREBELO À MICROSCOPIA DE LUZ COM MARCAÇÃO IMUNOHISTOQUÍMICA PARA VIMENTINA .................................................................................................... 43 4.4 OBSERVAÇÕES MORFOLÓGICAS DOS CORTES DE ENCÉFALO E CEREBELO À MICROSCOPIA DE LUZ COM MARCAÇÃO IMUNOHISTOQUÍMICA PARA P24 ................................................................................................................. 45

5 DISCUSSÃO .......................................................................................................... 48

6 CONCLUSÃO ......................................................................................................... 56

7 REFERÊNCIAS ...................................................................................................... 58

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INTRODUÇÃO

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1 INTRODUÇÃO

Muitos estudos mostram que o vírus da imunodeficiência dos felinos (FIV)

induz importantes anormalidades neurológicas em gatos domésticos, porém o

mecanismo da doença neuronal ainda não foi totalmente esclarecido.

A infecção pelo FIV tem sido utilizada como modelo de estudo para o vírus

da imunodeficiência humana (HIV). A infecção pelo HIV está associada á

demência, e após o uso da terapia antiretroviral de alta efetividade, a uma forma

mais sutil de disfunção neurológica, conhecida como desordem cognitiva motora

menor (GONZÁLEZ-SCARANO; MARTÍN-GARCIA, 2005).

Assim como na infecção pelo HIV, a infecção pelo FIV leva à morte

neuronal. Não há evidências de infecção de neurônios pelo FIV. Acredita-se que a

morte neuronal seja uma conseqüência da disfunção das células da glia

(MEEKER et al., 1999).

A caracterização da infecção do sistema nervoso central e a reação dos

diversos tipos celulares que o compõe são de fundamental importância para a

compreensão da fisiopatologia da infecção dos felinos domésticos pelo FIV, como

também da infecção de outras espécies por outros lentivírus.

Os astrócitos estão entre as primeiras células a responder à injúria do SNC

também respondem à lesão das células nervosas. A apresentação de antígenos

por astrócitos e a produção de citocinas pode desempenhar um papel importante

nas interações imunológicas e resposta inflamatória do SNC e pode estar

envolvido na patogênese de várias doenças neurológicas (EDDLESTON;

MUCKE, 1993; KEANE; HICKEY, 1997).

O objetivo deste trabalho é estudar as alterações histopatológicas de

diferentes áreas do encéfalo de felinos e avaliar a resposta morfológica e o

comportamento astrocitário pela técnica de imunohistoquímica para GFAP e

casos em que ocorra a reexpressão de Vimentina frente à infecção do Sistema

Nervoso Central pelo vírus da imunodeficiência felina.

Também foi avaliada a imunorreatividade para a proteína p24, uma

proteína codificada pelo gene gag do FIV, para comprovar a infecção do encéfalo,

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determinar os tipos celulares que expressam essa proteína e correlacionar os

resultados com a resposta astrocitária nesses animais.

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REVISÃO DE LITERATURA

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2 REVISÃO DE LITERATURA

2.1 VÍRUS DA IMUNODEFICIÊNCIA DOS FELINOS E A SÍNDROME DA

IMUNODEFICIÊNCIA ADQUIRIDA EM GATOS

A Síndrome da Imunodeficiência Adquirida em gatos é causada por um

lentivírus, o vírus da imunodeficiência dos felinos (FIV). Isolado pela primeira vez

por Pedersen et al. (1987) de gatos com síndrome de imunodeficiência crônica

comparável à imunodeficiência causada pelo HIV. Os animais infectados por esse

vírus apresentam maior risco de infecções oportunistas, tumores e doenças auto-

imunes (HARTMANN, 2011).

Esse vírus faz parte da família Retroviridae. O nome retro deriva da enzima

transcriptase reversa (DNA polimerase RNA dependente), que é encontrada em

todos os membros da família (MURPHY et al, 1999).

Os lentivírus são retrovírus complexos contendo genes acessórios além do

gag, pol e env. O gene gag codifica um precursor polipeptídico, que, quando

clivado pela protease codificada pelo gene pol são produzidas a proteína p24 e

pelo menos mais duas proteínas adicionais, p15 e p10 (EGBERINK et al., 1990).

O gene pol codifica a protease, integrase e a transcriptase reversa, assim como

outras enzimas importantes na virulência do FIV. Os genes gag e pol são

relativamente conservados entre os subtipos. O gene env codifica a glicoproteína

viral gp120 e a proteína transmembranosa gp41, as maiores determinantes da

diversidade viral (HOSIE et al., 2009).

Cinco subtipos (A a E) geneticamente distintos foram definidos com uma

considerável diversidade da sequência no gene env. A maioria dos vírus

identificados são dos subtipos A ou B (YAMAMOTO et al., 2007; HOSIE et al.,

2009). A existência de múltiplos variantes (ou quasispecies) também já foi

relatada (HUISMAN ET AL., 2008; TEIXEIRA et al., 2011)

Além disso, a transcriptase reversa viral, que media a transcrição do RNA

em DNA (provírus) é sujeita a erros e não possui a função de revisão

(proofreading), assim, o FIV muta rapidamente e exibe uma grande variabilidade

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genética. As variantes podem fugir da detecção imune e dificultar o

desenvolvimento de técnicas diagnósticas moleculares e vacinas (HOSIE;

BEATTY, 2007; HOSIE et al., 2009).

Também há evidências que indicam que o vírus, quando submetido à

pressão seletiva no hospedeiro, evolui para escapar do sistema imune e para

alcançar maior capacidade de replicação. Consequentemente, os lentivírus estão

sob contínua evolução e a população viral em um hospedeiro é heterogênea e

dinâmica (TEIXEIRA et al., 2011).

Há poucos dados sobre a prevalência do FIV no Brasil. Estudos

preliminares indicam a predominância do subtipo B na população de gatos

domésticos no Brasil (TEIXEIRA et al., 2011). Foi sugerido que o subtipo B é

mais adaptado ao hospedeiro e menos imunogênico e, portanto menos virulento

(BACHMANN et al., 1997)

O FIV, além da sua importância como patógeno felino, é também

importante como modelo para infecção pelo vírus da imunodeficiência humana

(HIV). Ambos os vírus apresentam similaridades estruturais moleculares e

bioquímicos. Eles também apresentam muitas características clínicas

semelhantes, incluindo a infecção de curso crônico. O desenvolvimento da

imunodeficiência e anormalidades do sistema nervoso central e periférico

(FLETCHER et al., 2008).

Baseado em análises filogenéticas, chegou-se a conclusão que o FIV

representa um lentivírus mais primitivo que o HIV, que está circulando na

população de gatos há mais tempo que o HIV na população humana (FLETCHER

et al., 2011).

O vírus tem tropismo por linfócitos, macrófagos peritoneais e cerebrais e

astrócitos. (PEDERSEN et al., 1990; NOVOTNEY et al., 1990; PEDERSEN;

BARLOUGH, 1991; BENDINELLI et al., 1995). A glicoproteína gp120 do envelope

viral se liga ao receptor primário, o CD134. Ocorre uma mudança conformacional

em Env, que permite a interação com o co-receptor CXCR4, desencadeando a

fusão das membranas e entrada viral (HOSIE; BEATTY, 2007; HOSIE et al.,

2009).

Em comparação com o HIV, o FIV possui um tropismo celular linfocítico

expandido, infectando células CD8+, além de células CD4+ e células B.

Diferentemente do HIV, o FIV não usa a molécula CD4 e CCR5 como receptores,

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ele se liga primeiramente ao CD134, um receptor da família do fator de necrose

tumoral, e a sua subseqüente interação com o receptor CXCR4 permite a entrada

na célula (FOX; PHILLIPS, 2002; REGGETI; ACKERLEY; BIENZLE, 2008).

Nishino et al. (1992) mostrou uma similaridade entre o vírus da

imunodeficiência humana (HIV), o vírus da imunodeficiência símia (SIV) e o FIV

em termos de habilidade de expressar o epítopo gag p24 nas células infectadas.

Porém, não há reação cruzada entre o p24 do FIV e o p24 do HIV e do SIV.

Em humanos infectados pelo HIV, foram observadas reações imunes como

citotoxicidade celular anticorpo-dependente e linfócito T citotóxico contra o

antígeno p24, o que sugere que esse antígeno é expresso na superfície de

células infectadas pelo HIV em portadores do HIV-1 (NISHINO et al., 1992)

O FIV está presente no sangue, líquor e na saliva. Sendo que a

concentração é muito alta na saliva e baixa no sangue (WILLS; WOLF, 1993). A

mordedura é a principal via de transmissão. A transmissão pode ocorrer durante

uma briga entre gatos através de uma única mordida (YAMAMOTO et al., 1989;

HOSIE; BEATTY, 2007). Machos têm uma probabilidade quase três vezes maior

de infecção que as fêmeas. Gatos de vida livre apresentam um risco maior de

infecção que aqueles domiciliados (ISHIDA et al., 1989). Transmissão vertical é

incomum. A infecção via uterina e pós-natal acontece principalmente quando a

exposição da fêmea ao FIV ocorre durante a gestação ou a lactação, antes do

aparecimento dos anticorpos (WASMOEN et al., 1992). Apesar de não ter sido

documentada, a infecção natural oronasal ou venérea, gatos podem ser

infectados experimentalmente por inoculação viral no nariz, boca, vagina e reto

(HOSIE et al. 2009).

A primeira fase (fase aguda) ocorre de 4 a 5 semanas após a infecção. É

caracterizado por febre, neutropenia e linfonodomegalia generalizada. Também

pode ocorrer diarréia. A mortalidade nessa fase é baixa, e alguns gatos não

apresentam sinais clínicos (YAMAMOTO et al., 1989; BARLOUGH et al., 1991).

Esta fase da doença é raramente identificada. Isso ocorre porque os sinais

clínicos são menos severos em gatos mais velhos, ou porque os gatos infectados

naturalmente geralmente são expostos a pequenas doses do vírus, ou por causa

da natureza não específica dos sinais clínicos (HOSIE; BEATTY, 2007).

Após a infecção, ocorre uma viremia acentuada e os gatos rapidamente

produzem anticorpos vírus-específicos e células T citotóxicas, porém, apesar da

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forte resposta imunológica, ela não é capaz de debelar a infecção. O pico da

viremia ocorre em 2 a 4 semanas, após o qual diminui progressivamente junto

com o aparecimento doa anticorpos, depois o nível de anticorpos diminui ,

ocorrendo novamente a viremia (YAMAMOTO et al., 1988; HOSIE; BEATTY,

2007).

Tipicamente, as infecções por lentivírus são caracterizadas por um

prolongado período assintomático (HOSIE; BEATTY, 2007). Nesta fase (portador

assintomático) há altos níveis de anticorpos circulantes, diminuição da carga viral

e há progressiva disfunção das células T. Há depleção gradual de linfócitos CD4+,

resultando em uma diminuição da relação dos linfócitos CD4+:CD8+. Esta fase

ocorre 18 a 24 meses após a infecção e pode durar anos (BARLOUGH et al.,

1991, TORTEN et al., 1991).

Há progressiva deterioração da função imune, juntamente com o

esgotamento dos linfócitos CD4+. Acredita-se que os macrófagos sejam o

principal reservatório do HIV, e essas células provavelmente possuem papel

similar em gatos infectados pelo FIV (BRUNNER; PEDERSEN, 1989).

A infecção se torna latente quando a célula possui uma cópia do provírus

integrada, mas não produz partículas virais, a não ser que a células se torne ativa.

Essas células infectadas latentes são o reservatório da infecção, que não é

alcançada por anticorpos neutralizantes (HOSIE et al., 2009).

A fase terminal é caracterizada por uma descompensação imunológica e

aumento da carga viral (HOSIE; BEATTY, 2007). A maioria dos sinais clínicos não

são causados diretamente pelo FIV. O vírus é responsável pela imunodeficiência,

(tornando o gato mais susceptível a infecções secundárias) ou imune estimulação

(resultando em doenças auto-imunes). Doenças cutâneas parasitárias severas e

incomuns ou tumores devem alertar ao clínico quanto à possibilidade de infecção

pelo FIV. Complexo gengivite-estomatite crônico é um dos sinais mais comuns

dos gatos infectados. Lesão renal glomerular e tubulointersticial também são

muito freqüentes e são possivelmente causados pelo vírus, juntamente com

depósito de imunecomplexos. A ativação policlonal de células B sustenta

hiperglobulinemia, altos níveis de imunecomplexos circulantes e auto-anticorpos

(HOSIE et al., 2009).

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2.2 ASTRÓCITOS

As células gliais são classificadas em duas grandes categorias: a microglia

e a macroglia. A macroglia envolve os oligodendrócitos e os astrócitos.

Classicamente, os astrócitos são divididos em protoplasmáticos, encontrados

predominantemente na substância cinzenta, e fibrosos, achados na substância

branca (PETERS; PALAY; WEBSTER, 1970).

E as células microgliais são pequenas células, quando comparadas com

astrócitos, presentes nas substâncias cinzenta e branca. Em indivíduos adultos

normais, essas células parecem estar inativas, porém são rapidamente ativadas

por qualquer lesão inflamatória ou degenerativa do sistema nervosos. Elas

migram para o local da injúria e se diferenciam em macrófagos (PETERS; PALAY;

WEBSTER, 1970).

Os astrócitos são as maiores e mais numerosas células gliais presentes no

Sistema Nervoso Central. São caracterizadas pelo núcleo grande e claro,

cromatina localizada na perifericamente e um nucléolo grande (MACHADO et al.,

2001). Além de seu papel na sustentação estrutural do Sistema Nervoso Central,

têm muitas outras funções. Eles mantêm uma íntima relação funcional com os

neurônios e são importantes no metabolismo neuronal. Estão envolvidas na

regulação de neurotransmissores, destoxificação da amônia e regulação do

potássio. Emitem prolongamentos que envolvem quase totalmente os vasos

sanguíneos, formando a barreira hematoencefálica. Controlam o fluxo de

macromoléculas entre o sangue, o liquor e o encéfalo. E são as principais células

responsáveis pela reparação e formação de tecido cicatricial no cérebro

(PETERS; PALAY; WEBSTER, 1970; KEANE; HICKEY, 1997; JONES; HUNT;

KING, 2000; KUMAR; ABBAS; FAUSTO, 2004).

Uma das principais funções propostas para os astrócitos reativos é dar

início às respostas imunes no sistema nervoso central. Eles produzem

mediadores imunes e respondem a fatores imunológicos, proliferando e

sintetizando citocinas, moléculas de adesão, moléculas de MHC e fatores

neurotróficos. Portanto, ocorrem importantes interações entre astrócitos e

linfócitos, microglia e células endoteliais. A apresentação de antígenos por

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astrócitos e a produção de citocinas pode desempenhar um papel importante nas

interações imunológicas e resposta inflamatória do SNC e pode estar envolvido

na patogênese de várias doenças neurológicas (EDDLESTON; MUCKE, 1993;

KEANE; HICKEY, 1997).

A população de astrócitos não é uniforme, suas propriedades podem variar

de acordo com sua localização. Por exemplo: a habilidade dos astrócitos corticais

de capturar o glutamato é alta, enquanto no cerebelo e no tronco cerebral é

relativamente baixa (KEANE; HICKEY, 1997).

Como os astrócitos são capazes de produzir fatores neurotróficos, sendo

também células apresentadoras de antígenos, o resultado é duplo: os fatores

neurotróficos liberados contribuem para a sobrevida dos neurônios atingidos, e os

antígenos exteriorizados na membrana astrocítica provocam a ação defensiva de

células do sistema imune (LENT, 2010).

Os astrócitos estão entre as primeiras células a responder à injúria do SNC

também respondem à lesão das células nervosas. Eles podem aumentar

numericamente (astrocitose) e podem também aumentar de tamanho devido ao

aumento na quantidade de citoplasma (astrogliose). Esses astrócitos tumefeitos

são chamados de gemistócitos. Trata-se de uma alteração proliferativa

comparável à formação do tecido fibroso de granulação (JONES; HUNT; KING,

2000).

Além disso, os astrócitos e a micróglia regulam o tráfego e ativação de

células mononucleares periféricas através da barreira hematoencefálica.

Astrócitos parecem aumentar a transmigração de células imunes, enquanto a

microglia reduz a transmigração. Porém, a micróglia infectada aumenta a

transmigração de monócitos através da monocamada de células endoteliais,

sugerindo um papel central da micróglia no tráfego do FIV através da barreira

hematoencefálica no início da infecção. Uma vez estabelecida a infecção do SNC,

o controle interno do fluxo através da barreira hematoencefálica é alterada de

forma ainda não completamente compreendida (FLETCHER et al., 2008).

Os astrócitos têm sido identificados pela expressão de uma proteína que

lhes é exclusiva, a proteína glial fibrilar ácida (conhecida pela sigla GFAP). A

GFAP e a Vimentina são componentes dos filamentos intermediários presentes

em astrócitos. Os filamentos intermediários formam uma rede estrutural que

conecta as membranas celulares, organelas e o núcleo. Logo após o nascimento

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existe um progressivo desaparecimento de Vimentina e sua substituição por

GFAP. Frente a uma injúria ocorre um aumento na intensidade de marcação

imunohistoquímica do GFAP, associado à hiperplasia e hipertrofia dos astrócitos e

a recuperação da sua capacidade de expressar a Vimentina. A intensidade da

expressão da GFAP difere entre os astrócitos protoplasmáticos e fibrosos. Os

astrócitos protoplasmáticos, situados na substância cinzenta têm corpo celular

irregular, possuem prolongamentos muito ramificados, apresentam intensa

expressão de GFAP e são chamados astrócitos protoplasmáticos. E os astrócitos

fibrosos, localizados na substância branca são mais alongados e menos

ramificados, e expressam pouco GFAP (MACHADO; FIGUEIREDO, 1996;

BONDAN et al., 2003; LENT, 2010;)

Outra modificação que afeta astrócitos durante a maturação diz respeito à

sua morfologia: astrócitos imaturos exibem uma organização radia com pouca

quantidade de processos, enquanto astrócitos maduros exibem uma organização

estrelada com grande quantidade de processos ramificados (ALONSO, 2001).

O alto grau de insolubilidade da vimentina sugere sua função estrutural no

citoplasma. Algumas evidências bioquímicas e morfológicas indicam que os

filamentos de vimentina estão associados à membrana nuclear e plasmática,

mantendo a posição do núcleo e do fuso mitótico, durante a vida da célula.

Shoeman et al., (1991) sugeriu que os filamentos intermediários, GFAP, vimentina

e desmina possa servir de substrato para o HIV e estar relacionado com a

infecção viral.

Há evidências que os glioblastos desempenham importante papel na

neurogênese, incluindo migração e diferenciação dos precursores neuronais. Em

astrócitos maduros, essa função é perdida (ALONSO, 2001). A reexpressão de

vimentina em astrócitos circundando múltiplos tipos de injúria demonstra que essa

população pode ter papel na migração de neuroblastos para o local da lesão

(WANG et al., 2004).

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2.3 ENCEFALOPATIA ASSOCIADA À INFECÇÃO PELO FIV

Embora o FIV seja basicamente conhecido por causar imunodeficiência, é

importante admitir que a infecção por esse vírus também pode afetar o SNC.

Dow, Poss e Hoover (1990) foram os primeiros a relatarem que gatos infectados

experimentalmente desenvolviam infecção cerebral quando inoculados tanto via

intracerebral quanto via periférica.

Um terço dos gatos infectados com o FIV pode desenvolver encefalopatia.

Tanto os gatos infectados experimentalmente quanto naturalmente tendem a

exibir sintomas estáticos ou discretamente progressivos durante meses, e alguns

gatos apresentam melhora do quadro neurológico (DEWEY, 2006).

A neurovirulência é cepa específica e foi correlacionada com a supressão

imune, indicando que fatores sistêmicos influenciam na neuropatogênese. A idade

do animal também pode influenciar a patogênese. Animais mais jovens são mais

susceptíveis à doença do SNC. E a coinfecção com o vírus da leucemia felina

(FelV) ou PIF exacerbam a encefalopatia (PATRICK; JOHNSTON; POWER,

2002).

O vírus foi isolado do córtex cerebral, núcleo caudato, mesencéfalo,

cerebelo, tronco cerebral rostral e caudal, mas não do plexo coróide. O exame

histopatológico após sete meses da inoculação revelou infiltrado perivascular

mononuclear, gliose difusa, nódulos gliais e palidez da substância branca (DOW;

POSS; HOOVER, 1990).

O FIV produz anormalidades neurológicas no início da infecção, sendo que

alguns desses parâmetros são reversíveis. Essa característica, e as mínimas

alterações histopatológicas encontradas no início da infecção indicam que se a

terapia for iniciada cedo, essa disfunção neurológica pode ser revertida ou

prevenida (PHILLIPS et al., 1994).

Foi proposto que a porta de entrada do vírus no encéfalo seria a barreira

hematoencefálica e o plexo coróide em linfócitos e monócitos/macrófagos

infectados (FOX; PHILLIPS, 2002; FLETCHER et al. 2008). O reabastecimento

da população de macrófagos perivasculares por monócitos circulantes que

migram para o encéfalo tem o efeito colateral de “abrir a porta” para patógenos

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intracelulares. Subsequentemente a micróglia é infectada (GONZÁLEZ-

SCARANO; MARTIN-GARCIA, 2005).

Monócitos infectados possuem um fenótipo que torna essas células mais

inclinadas a migrar para tecidos do que monócitos ativados não infectados.

Quando o monócito entra no SNC adulto, ele sofre a influência do ambiente, que

o induz a um fenótipo microglial. (KEANE; HICKEY, 1997; GONZÁLEZ-

SCARANO; MARTIN-GARCIA, 2005).

Após a inoculação do vírus, o vírus é detectado no líquor logo após o

aumento da carga viral no plasma. A concentração no líquor é menor que no

plasma, essa falta de equilíbrio indica que o vírus não é transferido passivamente

(FLETCHER et al., 2011)

Estudos histopatológicos mostraram que durante a fase aguda da infecção,

há tráfego de linfócitos através da barreira hematoencefálica e através do plexo

coróide simultaneamente. Essas células são compostas inicialmente por células T

CD3+, e células B CD79+ e mais tarde por células T CD4+ e CD8+ (FLETCHER

et al., 2011).

Células endoteliais são relativamente resistentes à infecção. A infecção de

células endoteliais não parece ser uma rota importante para a entrada do FIV no

SNC (DOW; DREITZ; HOOVER, 1992). Porém, assim como pro HIV ainda há

controvérsias quanto à permissividade de células endoteliais à infecção

(FLETCHER et a., 2008).

Outra porta de entrada proposta é a migração de partículas virais livres

entre as células endoteliais (para-celular), ou dentro de vacúolos com posterior

liberação para o SNC (trans-celular). Porém essas rotas não são consideradas

importantes, pelo menos na fase aguda da infecção (FLETCHER et al. 2011).

O vírus alcança o SNC de gatos independentemente da via de inoculação.

As primeiras lesões consistem de infiltrados de células mononucleares

perivasculares e está geralmente localizado no gânglio basal e no tronco cerebral

(DOW; POSS; HOOVER, 1990). Gliose difusa, nódulos gliais e palidez da

substância branca são outras alterações encontradas em animais infectados

(PHILLIPS et al., 1994, YAMAMOTO et al, 2007).

Foi descrita também a presença de células bizarras com grandes núcleos

hipercromáticos, sendo algumas multinucleadas. Acredita-se que sejam derivadas

da fusão de macrófagos. Porém, essas células são raramente observadas em

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gatos, em contraste, são frequentemente observadas em pacientes infectados

pelo HIV. E são o principal achado neuropatológico da demência associada à

AIDS. Possíveis explicações são: os gatos infectados são eutanasiados antes do

estágio terminal da doença ou diferenças interespécies na habilidade de

responder à inflamação crônica (ABRAMO et al., 1995; GUNN-MOORE et al.,

1996).

Hurtrel et al. (1992) demonstrou que as lesões do SNC são vistas em um

mês pós-infecção quando o vírus era inoculado via intracerebral, e em dois meses

pós-infecção quando o vírus era inoculado intravenosamente.

As células cerebrais infectadas pelo FIV incluem a micróglia e os astrócitos.

O vírus não infecta neurônios. Culturas celulares da micróglia e astrócitos foram

produtivamente infectados pelo FIV in vitro. Entretanto, culturas similares com

neurônios, oligodendrócitos e células do plexo coróide não mostraram evidências

da infecção (HURTREL et al., 1992).

Astrócitos parecem ser mais susceptíveis à infecção, seguido da micróglia.

A infecção de astrócitos resulta em formação de sincício e morte celular,

enquanto as células da micróglia permanecem infectadas persistentemente e

produtivamente, sem efeito citopático evidente. Desta forma, macrófagos

cerebrais infectados podem se tornar reservatórios da infecção pelo FIV no

cérebro. (GIULIAN; VACA; NOONAN, 1990; DOW; DREITZ; HOOVER, 1992;

BENDINELLI et al., 1995).

O mecanismo de lesão neuronal não está claro. Alguns estudos

demonstraram que a neurotoxicidade do FIV pode estar relacionada tanto a

fatores codificados pelo gene viral quanto a fatores codificados pelo genoma das

células do hospedeiro (BRAGG et al. 1999).

Power et al. (1997), observou um aumento da atividade glutamatérgica no

encéfalo de animais infectados pelo FIV, causado provavelmente pela diminuição

da expressão da enzima glutamato descarboxilase em neurônios GABAérgicos.

O glutamato descarboxilase é a enzima responsável pela conversão do glutamato

para GABA.

Uma das funções dos astrócitos é regular o nível de glutamato extracelular

e outras moléculas excitatórias. A presença de grande quantidade de glutamato

ou outras moléculas excitatórias na proximidade de neurônios causa influxo

incontrolável de Ca++ e apoptose. Assim, a infecção dos astrócitos pelo FIV pode

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ocasionar morte neuronal por acúmulo de glutamato extracelular (GIULIAN;

VACA; NOONAN, 1990; GONZÁLEZ-SCARANO; MARTÍN-GARCIA, 2005).

Segundo Yu, Billaud e Phillips (1998), o FIV induz a neurotoxicidade pela

diminuição da habilidade de astrócitos de remover glutamato da fenda sináptica.

Bragg et al. (1999) demonstrou que os efeitos neurotóxicos do FIV podem

ser devido, pelo menos em parte, às interações tóxicas, não infecciosas entre as

proteínas do envelope viral e a membrana celular neuronal. O potencial

neurotóxico da glicoproteína vira gp120 foi comprovada pela observação que

culturas expostas ao gp120 mostram aumento da excitotoxicidade pelo glutamato

(BRAGG et al., 1999; POWER, 2001).

Outra hipótese é que o efeito neurotóxico seja mediado pela microglia. O

número de macrófagos/microglia aumenta rapidamente após exposição ao vírus.

A ativação inapropriada ou proliferação por proteínas teciduais específicas ou

virais podem levar à atividade citotóxica e neurodegeneração gradativa.

(MEEKER et al., 1999; POWER, 2001). As culturas de micróglia infectadas pelo

HIV produzem citocinas e proteínas virais que podem lesar os neurônios

adjacentes. É provável que a microglia infectada pelo FIV produza neurotoxinas

semelhantes, como: TNFα, Interleucinas, Fator ativador de plaquetas (PAF), óxido

nítrico (NO), quinolinato e NTox (GIULIAN; VACA; NOONAN, 1990, GIULIAN et

al., 1996; BRAGG et al. 1999).

A proliferação da microglia parece ser dependente da interação do vírus

com astrócitos. Astrócitos podem produzir uma proteína mitogênica microglial que

estimula a proliferação da microglia. Portanto, é possível que o FIV possa

estimular uma via regulatória normal da proliferação da micróglia regulada por

astrócitos. Esse fenômeno parece ocorrer através de interações virais não

infecciosas, uma vez que o FIV inativado pelo calor também pode estimular a

proliferação glial (GIULIAN; VACA; NOONAN, 1990; MEEKER et al, 1999).

Devido à inacessibilidade de encéfalo para estudo invasivo em humanos, o

estudo do FIV tem grande utilidade para o estudo da encefalopatia associada à

síndrome da imunodeficiência adquirida, sua caracterização desde os estágios

iniciais e sua progressão até a fase terminal (FOX; PHILLIPS, 2002).

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2.3.1 SINAIS CLÍNICOS RELACIONADOS À ENCEFALOPATIA

O FIV deve ser incluído no diagnóstico diferencial de qualquer gato com

alterações inexplicáveis da função neurológica (PHILLIPS, 1996). Os sinais de

doença neurológica causada pelo FIV geralmente são sutis e inespecíficos (DOW;

DREITZ; HOOVER, 1992a)

Os sinais clínicos tendem a ser primeiramente comportamentais. Os

animais infectados podem demonstrar alterações de comportamento, como se

tornarem mais agressivos ou medrosos ou exibirem padrões comportamentais

compulsivos. A localização da lesão causada pelo FIV é consistente com as

anormalidades observadas, uma vez que o gânglio basal e estruturas adjacentes

são responsáveis pelo humor e personalidade do animal (HOOVER, E.A., 1992a;

DOW, S. W.; DREITZ, M. J.; GUNN-MOORE et al., 1996).

Outros sintomas, como head tilt, andar em círculos e paralisias, tendem a

ser observadas em fases mais avançadas da infecção, e geralmente estão

associadas com infecções secundárias (PEDERSEN et al., 1989; DOW et al.,

1990; GUNN-MOORE et al., 1996).A paresia posterior pode ser observada, como

ataxia ou incapacidade de lidar com pequenos saltos com sucesso (Phillips 1996).

Os gatos infectados também podem apresentar tremores musculares, anisocoria,

padrões de sono alterados e sinais de demência (DOW; DREITZ; HOOVER,

1992a; PHILLIPS et al.; 1994).

O FIV pode produz alterações neurológicas na fase aguda da infecção.

Algumas dessas alterações são reversíveis. A demonstração de que algumas das

funções neurológicas retornam ao normal indicam que uma terapia efetiva,

iniciada cedo no curso da infecção pode prevenir a disfunção neurológica

(PHILLIPS et al.; 1994).

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2.4 DIAGNÓSTICO

Os métodos de diagnóstico do FIV incluem: isolamento viral, testes

imunológicos para anticorpos ou antígenos específicos e testes moleculares

(BENDINELLI et al., 1995).

Os anticorpos FIV- específicos no sangue aparecem em 2 a 4 semanas

após a infecção (YAMAMOTO et al. 1988). Podem ser detectados através da

imunofluorescência indireta, ELISA, radioimunoprecipitação, Western blot e

neutralização viral (PEDERSEN et al., 1987; O’CONNOR et al., 1989 e

YAMAMOTO et al., 1989). Resultados falso negativos não são comuns, mas pode

ocorrer quando os animais são testados no início ou nos estágios terminais da

infecção, quando não há níveis detectáveis de anticorpos (HOSIE; JARRET,

1990).

O diagnóstico também pode ser realizado através do isolamento viral no

sangue, líquor e saliva (BRUNNER; PEDERSEN, 1989; HOSIE; JARRET, 1990) e

do PCR (PHILPOTT; EBNER; HOOVER, 1992). O isolamento no sangue é mais

produtivo durante os estágios inicial e final da infecção.

A análise do líquor geralmente fornece evidências mais conclusivas da

infecção do SNC pelo FIV (DOW; DREITZ; HOOVER, 1992a). A presença de

anticorpos em uma amostra de líquor, que não tenha sido contaminada com

sangue é uma evidência sugestiva da infecção do cérebro pelo FIV. A síntese de

anticorpos pode ser detectadas em 6 a 8 semanas após a inoculação, e

geralmente é acompanhada do aumento de leucócitos no líquor. O vírus também

pode ser isolado no líquor destes animais (DOW et al., 1990).

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MATERIAIS E MÉTODOS

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3 MATERIAIS E MÉTODOS

O presente estudo foi realizado com amostras de encéfalo e cerebelo

previamente fixados em metacarn e emblocados em parafina. Os materiais e

métodos utilizados serão descritos a seguir:

3.1 ANIMAIS EXPERIMENTAIS

As amostras foram obtidas de 9 gatos (Felis catus), sem raça definida, com

idades variando entre 4-5 anos, previamente infectados experimentalmente,

mantidos e monitorados por 4 anos no Gatil do Centro de Estudos de Doenças de

Cães e Gatos do Departamento de Clínica Médica (VCM) da Faculdade de

Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ) da Universidade de São Paulo (USP).

A infecção foi confirmada e classificada como sendo da estirpe B pelo

método de imunoadsorção e nested-PCR (ZANUTTO et al. 2011).

3.2 NECROPSIA

Após a eutanásia, os animais foram enviados para o Departamento de

Patologia (VPT) da FMVZ-USP, para exame necroscópico. O material colhido

através da necropsia,foram imediatamente fixados em Formalina 10% para

análise histopatológica e em Metacarn (70% metanol, 20% clorofórmio e 10%

ácido acético glacial) para análise imunohistoquímica.

As amostras foram desidratadas, diafanizadas e incluídas em parafina.

Foram obtidos cortes de 5 µm, montados em lâminas histológicas e corados pela

técnica de Hematoxilina-Eosina (HE), ou em lâminas histológicas silanizadas

(Starfrost® - Objektträger, Medite Medizintechnik) para a realização da técnica

imunohistoquímica.

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3.3 PROTOCOLO UTILIZADO PARA MARCAÇÃO IMUNOHISTOQUÍMICA

Os cortes histológicos em lâminas silanizadas foram desparafinizados e

hidratados em sequência xilol-álcool, seguido de lavagem em água corrente por

cinco minutos.

O bloqueio da Peroxidase endógena foi realizada com solução de Peróxido

de Hidrogênio a 5% por 30 minutos a 37ºC, seguido de mais uma lavagem em

água corrente por cinco minutos. Para o bloqueio de reações inespecíficas as

lâminas foram incubadas por 30 minutos a 37ºC em leite desnatado.

Após lavagem em solução PBS, os cortes foram incubados em câmara

úmida por aproximadamente 16 horas a 4ºC, com o anticorpo policlonal anti-

GFAP (Rabbit anti-cow GFA, code number ZO334, Dako Cytomation), anticorpo

monoclonal anti-vimentina (mouse anti-swine VIM, code number MO725, Dako

Cytomation) e o anticorpo monoclonal anti-P24 (mouse anti-FIV P24, PAK3-2C1,

Santa Cruz Biotechnology) padronizados nas diluições 1:1000, 1:200 e 1:10

respectivamente.

Após nova etapa de lavagem em solução PBS, foi realizada a incubação

dos cortes por 30 minutos a 37ºC com anticorpo secundário anti-coelho e anti-

camundongo diluído em tampão Tris-HCl (Advance™ HRP Link, Dako), e após

nova lavagem em PBS, aplicação por 30 minutos a 37ºC com anticorpos

polimerizados com peroxidase em tampão Tris-HCl (Advance™ HRP Link, Dako),

seguido de nova lavagem em PBS.

A revelação é procedida com diaminobenzidina (Liquid DAB + Substrate,

Chromogen System, code number K3468,Dako) por aproximadamente 3 minutos.

Finalmente, para interromper a reação, os cortes foram lavados em água corrente

por 5 minutos.

Finalmente, os cortes foram contracorados em hematoxilina por um minuto,

desidratados e diafanizados por sequencia de solução crescente de álcool-xilol e

montados com lamínula e resina sintética (Entellan®, Merck).

As reações foram acompanhadas por lâminas controle, que foram

submetidas a todas as etapas do protocolo, exceto pela aplicação do anticorpo-

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primário. Sendo que, nesse caso, os cortes foram incubados com solução de

PBS.

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RESULTADOS

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4 RESULTADOS

Os achados morfológicos no encéfalo e cerebelo de gatos infectados

experimentalmente pelo FIV, submetidos à coloração de HE e à marcação

imunohistoquímica para GFAP, Vimentina e P24 serão descritos a seguir.

4.1 OBSERVAÇÕES MORFOLÓGICAS DOS CORTES DE ENCÉFALO E

CEREBELO CORADOS POR HE À MICROSCOPIA DE LUZ

Enquanto macroscopicamente, os encéfalos dos gatos infectados pelo FIV

não apresentaram alterações dignas de nota, microscopicamente estes

mostraram alterações de caráter inflamatório. Foi observado aumento de

celularidade (Figura 1) caracterizado pela grande quantidade de núcleos gliais

entre os neurônios, sendo que muitas dessas células estavam encostadas entre si

formando aglomerados, ou encostadas em neurônios (aspecto conhecido como

satelitose) (Figura 2) . A gliose difusa estava acometendo tanto substância branca

quanto substância cinzenta.

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Figura 1 - Encéfalo de gato. Gliose reativa da substância cinzenta. Observar aumento de celularidade. Coloração: HE. Obj. 100x

Figura 2 - Encéfalo de gato. Satelitose. Observar células satélite em contato com um neurônio. Coloração: HE. Obj: 400x

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Não foram observados manguitos perivasculares em nenhum dos cortes

avaliados. Sete animais apresentaram nódulos gliais (Figura 3 e Figura 4),

localizados principalmente na região cortical.

Figura 3 - Encéfalo de gato. Nódulos gliais. Coloração: HE. Obj: 400x

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Figura 4 - Encéfalo de gato. Nódulo glial. Coloração: HE. Obj: 100x

Em meninge, discretos focos de calcificação distrófica foram observadas

em cinco animais, sendo que em quatro, essa alteração se encontrava na área de

cerebelo. Não foram observados células inflamatórias em meninge.

Quatro animais apresentaram vacuolização de substância branca, de

distribuição focal. A vacuolização foi moderada em apenas um dos quatro animais

(Figura 5), o restante foi classificada como vacuolização discreta.

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Figura 5 – Encéfalo de gato. Observar a grande quantidade de vacúolos na substância branca. Coloração: HE. Obj: 40x

Dois animais apresentavam injúria neuronal isquêmica moderada.

As alterações microscópicas e o número de animais afetados encontram-

se resumidas na Tabela 1.

Tabela 1 - Alterações neuropatológica encontradas nos gatos infectados experimentalmente pelo FIV à avaliação histopatológica – São Paulo – 2011

TIPO DE LESÃO NÚMERO DE ANIMAIS AFETADOS

Gliose da substância cinzenta 9/9 Gliose da substância branca 9/9 Satelitose 9/9 Nódulos gliais 7/9 Calcificação da meninge 5/9 Vacuolização da substância branca 4/9 Manguito perivascular 0/9 Meningite 0/9

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4.2 OBSERVAÇÕES MORFOLÓGICAS DOS CORTES DE ENCÉFALO E

CEREBELO À MICROSCOPIA DE LUZ COM MARCAÇÃO IMUNOHISTOQUÍMICA

PARA GFAP

A imunorreatividade para GFAP marcou exclusivamente astrócitos e

evidenciou astrocitose acometendo substância branca (Figura 6) e cinzenta

(Figura 7) de forma difusa. As células imunorreativas foram identificadas pela

coloração marrom do seu citoplasma e seus prolongamentos e ramificações

(Figura 8 e Figura 9). Houve marcação levemente mais intensa de astrócitos na

substância branca em 4 animais, e na substância cinzenta de um animal, nos

demais, não houve tal distinção.

Figura 6 - Encéfalo de gato. Astrócitos marcados pelo anticorpo anti-GFAP. Astrocitose em substância branca. Obj: 100x

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40

Figura 7 – Encéfalo de gato. Astrócitos marcados pelo anticorpo anti-GFAP. Astrocitose em substância cinzenta. Obj: 100x

Figura 8– Encéfalo de gato. Astrócitos marcados pelo anticorpo anti-GFAP na substância cinzenta. Obj: 400x

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41

Figura 9 – Encéfalo de gato. Astrócitos marcados pelo anticorpo anti-GFAP na substância branca. Obj: 400x

Foi observada uma marcação mais intensa de astrócitos no córtex

imediatamente subjacente à pia-máter do que de astrócitos no córtex profundo

(Figura 10). E em dois animais houve marcação marcadamente mais nítida ao

redor de vasos sanguíneos (Figura 11). Nota-se também uma leve aumento da

intensidade da marcação na junção entre substância cinzenta e branca.

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42

Figura 10 – Encéfalo de gato. Astrócitos marcados pelo anticorpo anti-GFAP. Aumento da marcação de região subpial. Obj. 100x

Figura 11 - Encéfalo de gato. Astrócitos marcados pelo anticorpo anti-GFAP. Marcação perivascular evidente. Obj. 40x

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43

4.3 OBSERVAÇÕES MORFOLÓGICAS DOS CORTES DE ENCÉFALO E

CEREBELO À MICROSCOPIA DE LUZ COM MARCAÇÃO IMUNOHISTOQUÍMICA

PARA VIMENTINA

Em cerebelo foi observada expressão normal de vimentina nos

prolongamentos dos astrócitos de Bergmann na camada molecular do cerebelo,

nas células endoteliais, meningeais e ependimárias.

Porém, em todos os animais, houve marcação de quantidades variadas de

células nas áreas próximas à superfície do ventrículo lateral e do IV ventrículo,

observado durante a avaliação de cerebelo. As células fortemente marcadas se

encontravam concentradas adjacente às células ependimárias, e se estendiam

em direção do córtex (Figura 12).

Figura 12 – Encéfalo de gato. Astrócitos reativos e células ependimárias marcadas pelo anticorpo anti-vimentina. Obj: 100x

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44

Figura 13 - Encéfalo de gato. Astrócitos reativos marcados pelo anticorpo anti-vimentina em região subependimária. Obj: 400x

Também houve marcação de células isoladas no neurópilo,,algumas vezes

na região subpial e mais raramente dispersas (Figura 14) e em 4 animais na

região de giro dentado porém essas células eram raras.

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45

Figura 14 – Encéfalo de gato. Capilares e astrócitos reativos marcados pelo anticorpo anti-vimentina. Obj: 400x

4.4 OBSERVAÇÕES MORFOLÓGICAS DOS CORTES DE ENCÉFALO E

CEREBELO À MICROSCOPIA DE LUZ COM MARCAÇÃO IMUNOHISTOQUÍMICA

PARA P24

Em cerebelo houve intensa marcação dos núcleos de neurônios da

camada granulosa (Figura 15).

No encéfalo houve marcação difusa dos núcleos de células da micróglia

(Figura 16), não houve evidência de marcação de neurônios, células endoteliais,

ependimárias e células do plexo coróide. A marcação citoplasmática astrócitos foi

observada em apenas um animal (Figura 17)

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Figura 15 - Cerebelo de gato. Intensa marcação dos neurônios da camada granulosa do cerebelo pelo anticorpo anti-FIV p24. Obj: 400x

Figura 16 – Encéfalo de gato. Células da glia marcadas pelo anticorpo anti-FIV p24.

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DISCUSSÃO

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5 DISCUSSÃO

Serão discutidos a seguir aspectos referentes às alterações

histopatológicas e à resposta astrocitária de gatos infectados experimentalmente

pelo FIV através da análise de amostras de encéfalo marcados pelos anticorpos

anti-GFAP e anti-vimentina pelo método de imunohistoquímica, comparando-os

com achados de trabalhos publicados na literatura.

No presente estudo, a inoculação do FIV foi realizado aproximadamente 4

anos antes da necropsia. Ao exame clínico, não apresentaram sintomas que

indicassem lesão nervosa apresentavam sinais clínicos indicativos da síndrome

da imunodeficiência dos felinos, ou seja, estavam entrando na fase terminal.

Resumidamente, os principais sinais clínicos manifestados pelos animais foram:

rinite crônica, complexo gengivite-estomatite, linfadenopatia e doença renal.

Macroscopicamente os encéfalos dos animais estavam dentro dos padrões

anatômicos normais.

As alterações microscópicas observadas mostram algumas similaridades

com estudos prévios.

Gliose difusa é uma alteração freqüente nos animais infectados e parece

ocorrer cedo na infecção, sem grandes mudanças durante o seu curso crônico

(HURTREL et al., 1992). Ela acomete tanto a substância cinzenta quanto a

branca, e algumas vezes, o cerebelo. A gliose é definida tradicionalmente como

uma resposta à injúria e é caracterizada pela hipertrofia e proliferação de

astrócitos. Além dos astrócitos, as células da linhagem mononuclear fagocitária

também têm papel importante na gliose (KEANE; HICKEY, 1997).

Uma vez que astrócitos são células que respondem prontamente à um

insulto ao tecido nervoso (EDDLESTON; MUCKE, 1993; KEANE; HICKEY, 1997).

e ao mesmo tempo são células alvo do FIV (HURTREL et al., 1992), o estudo do

comportamento astrócitário durante o curso da infecção torna-se importante.

No exame de rotina em HE os processos dos astrócitos são de difícil

visualização, por isso torna-se necessário a utilização da técnica de

imunohistoquímica para a avaliação da resposta astrocitária (MILLS, 2007).

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A reação astrocitária é refletida também por outras alterações estruturais,

como espessamento dos feixes de filamentos gliais e consequentemente aumento

da intensidade de marcação para a GFAP (EDDLESTON; MUCKE, 1993). Esse

fenômeno é conhecido como astrocitose fibrilar reacional, e pode ser de dois

tipos: isomórfica, na qual os processos astrocitários apresentam-se orientados

pelos elementos teciduais preservados e o arranjo dos feixes de filamentos gliais

é uniforme e paralelo; ou anisomórficas, na qual sua disposição é irregular ao

redor de lesão geralmente causadora de dano grosseiro (BONDAN et al, 2003).

Abramo et al. (1995) e Poli et al. (1997) confirmaram a gliose em animais

experimentalmente infectados pelo FIV por estudo morfométrico dos astrócitos

marcados com GFAP. Poli et al. (1997) observou uma maior imunorreatividade de

astrócitos dos animais infectados ao redor de vasos sanguíneos, na região

subpial e na substância cinzenta, quando comparado a animais hígidos.

A astrocitose reativa também é observada em todos os casos de

encefalopatia associado ao HIV e é caracterizada pelo aumento da reatividade

para GFAP e apoptose (COSENZA-NASHAT et al., 2006).

A marcação para o anticorpo anti-GFAP, mostrou o mesmo padrão

observado por Poli et al. (1997), exceto pela marcação mais forte da substância

cinzenta em comparação com a substância cinzenta, sendo que esta

característica foi observada em apenas um animal. Todos os animais

apresentaram uma marcação nitidamente mais forte na região subpial do que no

córtex profundo e em dois animais houve marcação mais intensa ao redor de

vasos sanguíneos. Essa distribuição difusa dos astrócitos sugere a ocorrência de

astrocitose fibrilar do tipo isomórfica, uma vez q não foram observados danos

grosseiros no tecido nervoso.

A gliose dos gatos foi classificada como moderada, porém em 4 animais

ela se apresentava comparativamente mais severa. Essa diferença pode ser

explicada por fatores individuais do hospedeiro.

Muitos autores observaram que em resposta a uma injúria do SNC, há a

reexpressão da vimentina de astrócitos circundando lesões teciduais (TAKAMIYA

et al., 1988; BONDAN et al, 2003; MACHADO et al., 2007, ORSINI et al., 2007). A

expressão da vimentina foi associada com proliferação astrocitária,

remodelamento da cicatriz glial e pode ser um indicativo de que estas células

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estejam “relembrando” o processo migratório. Essa população de astrócitos pode

ter papel na migração de células para o local (WANG et al. 2004).

Nos gatos infectados experimentalmente pelo FIV, a marcação para

vimentina não coincidiu com a marcação para GFAP dos astrócitos. A avaliação

das lâminas marcadas pelo anticorpo anti-vimentina mostrou marcação de

astrócitos reativos principalmente em regiões subventrículares, observada em

ventrículos laterais e no IV ventrículo. Nessas regiões as células fortemente

marcadas se concentravam próximas às células ependimárias e se estendiam em

direção ao córtex. Também foram encontradas algumas células marcadas em

região subpial e poucas células na região de giro dentado. A vimentina é a

principal proteína do citoesqueleto de astrócitos fetais e raramente é expressa em

astrócitos adultos (SCHIFFER et al, 1986).

Em um animal observou-se uma concentração de astrócitos marcados para

vimentina em uma pequena área em que a superfície encefálica se encontrava

retraída. Nesse caso acredita-se tratar de uma cicatriz glial devido a uma

microlesão.

Alguns estudos mostraram que em roedores e na maioria dos mamíferos,

ocorre neurogênese pós-natal em específicas zonas germinativas. A zona

subventricular dos ventrículos laterais e o giro dentado hipocampal são as

principais zonas germinativas e a estimulação da proliferação de células

precursoras ocorre pela interação com astrócitos (ALONSO, 2001).

Alonso (2011) sugere que astrócitos imaturos presentes nas zonas

germinativas podem fornecer um microambiente favorável à proliferação das

células precursoras.

A forte marcação para vimentina de astrócitos na zona subventricular pode

ser um indicativo da estimulação de proliferação de células tronco em resposta á

lesão neuronal causada pelo FIV. Porém, essas alterações só poderão ser

confirmadas após estudo com animais hígidos não infectados pelo FIV

Não foi observada marcação evidente de astrócitos no giro dentado,

porém, estudos prévios indicam que há uma diminuição da neurogênese desta

região relacionada com a idade e com a secreção de glicocorticóides. A

expressão de vimentina de astrócitos fibrosos também parece se alterada por

glicocorticóides ( ALONSO, 2001).

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Segundo Alonso (2001), a idade e a secreção de glicocorticóides não

afetam a expressão de vimentina em astrócitos localizados em regiões

específicas do encéfalo que tem acesso direto ao líquor, ou em astrócitos reativos

localizados em bordas de lesões onde a barreira hematoencefálica tenha sido

rompida. Os astrócitos da zona subventricular estão localizados na borda da luz

ventricular, portanto não há supressão da expressão de vimentina.

Além da gliose, foram observadas alterações inespecíficas, porém

frequentemente associadas à infecção pelo FIV, como nódulos gliais,

vacuolização da substância branca e satelitose (DOW; POSS; HOOVER, 1990;

HURTREL et al., 1992; PHILLIPS et al., 1994; POLI et al., 1997; YAMAMOTO et

al., 2007).

Foram observados nódulos gliais em 7 animais principalmente nas

camadas mais externas do córtex. Estudos prévios relatam a presença de

manguitos perivasculares com linfócitos. No presente estudo não foram

observados tais alterações. Phillips et al. (1994) observou nódulos gliais no giro

para-hipocampal e infiltrados perivasculares nas regiões corticais e subcorticais.

Gunn-moore (1996) relata a presença de infiltrado linfocítico perivascular,

gliose e vacuolização de substância branca, além da presença de gemistócitos e

células bizarras multinucleadas. Nesse caso, o gato apresentava doença

neurológica progressiva grave. Células gigantes multinucleadas são

frequentemente observadas em pacientes infectados por HIV, mas essas células

são raras em gatos infectados pelo FIV. Possivelmente porque em muitos casos,

os animais são eutanasiados antes da evolução para doença neurológica grave.

No presente estudo não foram observadas células multinucleadas, exceto

em um animal, em que elas eram raras. Sendo observada apena uma única

célula em toda a lâmina.

Não foi observada palidez da substância branca, lesão frequentemente

descrita em gatos infectados pelo FIV (ABRAMO et al., 1995; BENDINELLI et al.,

1995 POLI et al., 1997, POWER et al., 1997) . Quatro animais apresentaram

vacuolização da substância branca, porém as lesões eram focais e discretas na

maioria dos animais.

Alterações meningeais são freqüentes em animais naturalmente infectados

(BENDINELLI et al. 1995). Hurtrel et al. (1992) descreve calcificação meningeal

perivascular e meningite leve a moderada em animais naturalmente infectados.

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Não foram observados edema ou células inflamatórias nas meninges, porém

cinco animais mostravam discretos focos de calcificação distrófica na meninge,

sendo que em quatro, estes se localizavam na região de cerebelo.

Os neurônios dos gatos eram frequentemente visto rodeados e em contato

com células satélites. Esse neurônios eram morfologicamente normais. Meeker et

al. (1997), observou que a satelitose não era freqüente em gatos do grupo

controle e em gatos infectados pelo FIV em fase terminal e com doença

neurológica avançada. Porém, era freqüente em animais infectados pelo FIV na

fase assintomática, sugerindo que a satelitose reflete um estágio de

desenvolvimento da doença nervosa. Essas observações indicam a presença de

processos neurodegenerativos. A satelitose também foi descrita em outro trabalho

(POLI et al., 1997)

No presente estudo, nenhum dos animais apresentava sintomas

neurológicos. E as lesões histopatológicas foram consideradas leves a

moderadas.

Os fatores responsáveis para a progressão da doença neurológica e

desenvolvimento de sinais clínicos é pouco conhecida. Entretanto, provavelmente

resulta de uma combinação de elementos, incluindo a cepa viral, alterações

imunológicas e a carga viral (DOW; DREITZ; ROOVER, 1992).

Na demência associada ao HIV há perda de neurônios corticais e

subcorticais, e a neurodegeneração é considerada fator principal no

desenvolvimento da demência. O estudo de indivíduos assintomáticos infectados

pelo HIV mostrou que a neurodegeneração está presente antes da fase terminal,

porém a doença neurológica se manifesta somente no estágio terminal (MEEKER,

et al. 1997).

Na encefalopatia causada pelo FIV também há um processo

neurodegenerativo em animais assintomáticos acompanhado de alterações

compensatórias, como sinaptogênese e aumento da produção de

neurotransmissores. Foi demonstrado um aumento da marcação de sinaptofisina

nos cortes histológicos desses animais (MEKKER, et al. 997),

De modo geral, o FIV causa uma encefalopatia de progressão lenta que

inicia cedo no curso da infecção. Sabe-se que o subtipo B, o único subtipo isolado

no Brasil, e utilizado nesse estudo, parece ser melhor adaptado ao hospedeiro

(BACHMANN et al., 1997) do que outros subtipos mais virulentos. As alterações

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observadas indicam que esse subtipo também é menos neurovirulento, levando a

uma neuropatia branda não suficiente para causar sintomas clínicos neurológicos.

Além disso, alguns autores relatam diferenças na severidade das lesões

neurológicas entre animais infectados naturalmente e animais infectados

experimentalmente (HURTREL et al., 1992; POLI, et a., 1997). Os animais

infectados naturalmente apresentam lesões mais severas provavelmente, pelo

maior tempo de infecção e por possíveis infecções secundárias (BENDINELLI et

al., 1995).

Também foi realizada a marcação imunohistoquímica da proteína viral p24

nas amostras de encéfalo dos gatos infectados experimentalmente pelo FIV. A

quantificação do p24 no soro de pacientes infectados pelo HIV tem se mostrado

útil como marcador prognóstico da evolução da doença. A avaliação

imunohistoquímica com anticorpos anti-p24 é útil na localização de células

infectadas (LOMBARDI et al., 1994).

A marcação do p24 comprovou a infecção do encéfalo pelo FIV. Houve

principalmente a marcação de células gliais, comprovando que estas são os alvos

principais do vírus no SNC. Porém observaram-se duas características não

esperadas na marcação desta proteína. Houve marcação intensa dos neurônios

da camada granulosa do cerebelo. E o padrão da marcação foi nuclear, enquanto

que estudos prévios mostraram que a marcação imunohistoquímica para o

anticorpo anti-p24 específico do HIV, a marcação é citoplasmática (ENAM et al.,

2004; STRAPPE et al., 1997).

As células marcadas pelo p24 parecem ter características de células da

micróglia. Foram observadas células marcadas em nódulos gliais. Foi observada

marcação citoplasmática de astrócitos em apenas um animal. Esse resultado

indicam um possível tropismo do vírus por células microgliais, ou expressão

limitada das proteínas virais por astrócitos. Assim, como na infecção pelo HIV, em

que análises fenotípicas mostraram que os vírus do encéfalo são mais similares

aos vírus encontrados nos macrófagos. Esses fenótipos virais específicos podem

ser resultado in vivo da replicação em macrófagos cerebrais ou pela seleção de

variantes que são em pequena quantidade na periferia, mas são amplificados pela

ausência de uma pressão imunológica forte (GONZÁLEZ-SCARANO; MARTÍN-

GARCIA, 2005).

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Em pacientes com HIV a marcação de proteínas codificadas pelo gag

ocorre em células gigantes multinucleadas e na micróglia. Não há marcação de

astrócitos (WILEY et al, 1986; BELL et al., 1998).

Consenza-Nashat et al. (2006) demonstrou que o HIV-1 afeta astrócitos

infectados e não infectados de maneiras opostas. O vírus possui um potente

efeito anti-proliferativo em astrócitos infectados p24+, por outro lado ocorre

proliferação de astrócitos não infectados p24-. Os mecanismos envolvidos no

processo proliferação podem estar relacionados à liberação de fatores solúveis

pelo vírus ou por células infectadas.

Além disso, sabe-se que os astrócitos infectados pelo FIV formam sincícios

e morrem. Nas lâminas analisadas não foram observados sincícios, ou qualquer

outro efeito citopático.

A marcação dos neurônios da camada granulosa também deve ser

investigada, não há relatos que confirmem a infecção dessas células pelo FIV.

Esse resultado levanta a hipótese de uma possível infecção latente dessas

células.

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CONCLUSÃO

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6 CONCLUSÃO

A infecção pelo FIV, subtipo B, leva à uma encefalopatia de progressão

lenta quando comparada com casos relatados na literatura.

Esses resultados confirmam a existência de alterações morfológicas

associadas á infecção pelo FIV, mesmo na ausência de sintomas neurológicos.

Alterações microscópicas, como gliose difusa, com imunorreatividade para

GFAP da zona subpial, nódulos gliais, vacuolização de substância branca e

satelitose podem ser listadas como as mais frequentemente encontradas na

infecção pelo FIV.

Não há ativação astrocitária caracterizada pela reexpressão de vimentina

acompanhando a expressão de GFAP. Porém a sua expressão em áreas

subependimárias deve ser estudada.

O uso da marcação imunohistoquímica de células nervosas infectadas por

anticorpos anti-FIV p24 deve ser melhor explorada e estudada. A marcação de

células da glia confirmou a presença do vírus no encéfalo. Uma vantagem na

disponibilidade deste teste é a possibilidade de diagnóstico post mortem da

infecção e de estudos retrospectivos.

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REFERÊNCIAS

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