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AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DE VIDA DE PORTADORES DE CÂNCER ATRAVÉS DO QLQ-C30

A incidência de casos de câncer no mundo vem aumentando ao longo dos anos e,

em parte, se deve ao aumento da expectativa de vida da população devido aos avanços

técnico-científicos na área da saúde. A incidência de câncer aumenta com a idade,

provavelmente, devido ao acúmulo de riscos e os mecanismos de reparação celular menos

eficazes na pessoa que envelhece (WHO, 2015).

A Organização Mundial da Saúde prevê para cada ano das próximas duas décadas,

o surgimento de 27 milhões de casos novos e 75 milhões de pessoas vivendo com a

doença, além da ocorrência de cerca de 17 milhões de mortes anualmente. Muitas destas

mortes, aproximadamente 30%, poderiam ser evitadas por estilo de vida saudável ou por

imunização contra agentes infecciosos como o vírus do Papiloma Humano e os vírus das

hepatites B e C. Cerca de 60% dos novos casos surgem em países menos desenvolvidos da

África, Ásia, América Central e América do Sul e afeta a todos - jovens e velhos, ricos e

pobres, homens, mulheres e crianças - e representa um enorme fardo para pacientes,

famílias e sociedades (WHO, 2015).

No Brasil, o câncer já é a segunda causa de morte por doença e o Instituto Nacional

de Câncer estimou para o biênio 2014-2015 o surgimento de 10.780 casos novos, sendo

8.010 em homens e 2.770 em mulheres, seguindo a mesma proporção entre os sexos da

taxa de incidência mundial. Os dois tipos mais frequentes em homens serão os cânceres de

próstata e pulmão. Já nas mulheres deverão ser mais frequentes os cânceres de mama e

colorretal (INCA, 2014).

Os avanços científicos com relação a novos tratamentos e métodos diagnósticos

permitiram que a cura ou o controle para o câncer fosse uma possibilidade, assim como o

aumento da sobrevida. Assim, os pacientes são tratados com drogas citotóxicas ou radiação

ou cirurgias, os quais geram sequelas ou efeitos colaterais variados. Deste modo, o tempo

de vida é aumentado, mas não necessariamente a qualidade de vida da pessoa em

tratamento antineoplásico (FONTES; ALVIM, 2008).

Por estas razões, a qualidade de vida relacionada à saúde é considerada hoje,

juntamente com a sobrevida livre de doença, um dos parâmetros mais importantes para

avaliar o impacto de um tratamento contra o câncer em pacientes (DORCARATTO et al.,

2011). Entretanto, existem vários conceitos sobre qualidade de vida, pois é dependente da

percepção subjetiva das pessoas e cada uma prioriza aquilo que mais lhe é caro em

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determinados momentos ou fases evolutivas de suas vidas. Por não haver consenso, a

Organização Mundial da Saúde, em 1995, formou um grupo de especialistas de diferentes

países, que definiram qualidade de vida como "a percepção do indivíduo de sua posição na

vida no contexto da cultura e sistema de valores nos quais ele vive e em relação aos seus

objetivos, expectativas, padrões e preocupações" (THE WHOQOL GROUP, 1998). Este é

o conceito usado como background para o desenvolvimento de diversos instrumentos para

avaliação da qualidade de vida relacionada à saúde.

Como mencionado, existem diferentes instrumentos para medir a qualidade de vida

e todos são úteis para captar e transformar informações em conhecimento. No entanto, a

diversidade de questionários baseados em conceitos distintos sobre qualidade de vida pode

dificultar a comparação dos resultados de estudos conduzidos em diferentes países. Assim,

torna-se interessante a aplicação de instrumentos mais comumente usados em oncologia,

devidamente traduzidos e validados, nas pesquisas relacionadas ao câncer, como o

desenvolvido a partir de 1986 pelo grupo de estudos sobre qualidade de vida da European

Organization for Research and Treatment of Cancer (EORTC), o QLQ-C30. Esse instrumento foi

traduzido e validado para 81 idiomas, é utilizado atualmente em mais de 3.000 estudos em

todo o mundo, e tem direitos autorais reservados à EORTC (MANTEROLA; URRUTIA;

OTZEN, 2014).

Para desenvolver o questionário, a EORTC levou em consideração o seguinte

conhecimento: (1) o câncer e seu tratamento têm grande impacto na vida dos pacientes que

podem levá-los a dificuldades em cumprir seus papéis junto à família, nas atividades

profissionais e nas atividades sociais; (2) mesmo quando tratado com sucesso, o câncer

pode resultar em consequências físicas e psicológicas permanentes; (3) a necessidade de

compreender o efeito geral de câncer sobre um paciente como "pessoa", ao invés de

simplesmente em relação a uma doença que precisa de ser curada (EORTC, 2014).

A primeira versão, lançada em 1987, continha 36 questões. A segunda versão é de

1993 e a terceira, contendo 30 questões, é de 2000 e preconizada para utilização em todos

os novos estudos em oncologia (FAYERS et al., 2001). Esse último questionário foi

traduzido e validado no Brasil por Brabo, em 2006, em sua dissertação de mestrado

(BRABO, 2006). Teve a reprodutibilidade verificada por Franceschini e outros

colaboradores em 2010 (FRANCESCHINI et al., 2010).

O QLQ-C30 é um questionário que avalia a qualidade de vida (QV) de pacientes

com qualquer tipo de câncer. É um instrumento multidimensional, auto-administrável, com

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30 questões que avaliam o paciente na última semana. Inclui cinco escalas funcionais

(funções física, cognitiva, emocional, social e desempenho de papéis), três escalas de

sintomas (fadiga; dor; náuseas e vômitos), uma escala de QV e saúde global, seis outros

itens que avaliam sintomas comuns em doentes com câncer (dispnéia, falta de

apetite/anorexia, insônia, constipação e diarréia) e escala de avaliação do impacto

financeiro do tratamento e da doença. As respostas seguem pontuação de uma escala tipo

Likert: 1 = não, 2 = pouco, 3 = moderadamente, e 4 = muito. A escala saúde global é a

exceção, sendo constituída por duas perguntas para que o paciente classifique sua saúde

geral e qualidade de vida na última semana, através de uma nota de 1 a 7, sendo 1 - péssima

e 7 - ótima (FAYERS et al., 2001).

Se o escore resultante na escala funcional for alto representa um nível funcional

saudável, enquanto que um escore alto na escala de sintomas, representa um nível baixo na

tolerância de sintomas e efeitos colaterais do tratamento. Foi planejado para ser aplicado

em associação com módulos específicos para cada tipo de câncer, como os de mama,

próstata, colorretal, gástrico, colo de útero, pulmão, dentre outros (EORTC, 2014).

Além de compreender a importância de garantir estudos com resultados replicáveis

e que permitam comparação entre diferentes populações com o emprego de questionários

desenvolvidos para uso em oncologia, nota-se a necessidade de usar o conhecimento

obtido na identificação do impacto que a doença e seu tratamento promovem na qualidade

de vida para auxiliar os clientes na tomada de decisão acerca do tratamento, preparando-os

para os problemas que sobrevirão e ajudando profissionais de saúde a efetuar intervenções

eficazes para melhorar o cuidado e as ações educativas direcionadas a essa clientela,

buscando minimizar sintomas e resgatar sua qualidade de vida (FAYERS et al., 2001).

Viklund et al. (2006) em estudo sobre consequências da esofagectomia

preconizaram que os pacientes podem se beneficiar com o acompanhamento por um

enfermeiro especializado e com bom conhecimento, de modo a facilitar o enfrentamento e

a readaptação dos clientes e seus familiares. Os autores comentam ainda que pacientes bem

orientados podem enfrentar mais facilmente seus problemas pós-operatórios.

A EORTC acredita firmemente que habilitar os pacientes com esse conhecimento é

um fator importante para ajudá-los a lidar com sua doença e seu tratamento. Por esse

motivo, disponibiliza o QLQ-C30 no link http://groups.eortc.be/qol/eortc-qlq-c30.

(EORTC, 2014).

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REFERÊNCIAS

BRABO, Eloa Pereira. Validação para o Brasil do questionário de qualidade de vida para pacientes com câncer de pulmão QLQ LC 13 da Organização Européia para a Pesquisa e Tratamento do Câncer [dissertação]. Rio de Janeiro (RJ): Universidade Estadual do Rio de Janeiro; 2006, 215p. DORCARATTO, D. et al.. Quality of life of patients with cancer of the oesophagus and stomach. Cirugía Española, v. 89, n.10, p. 635-44, 2011. Disponível em http://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S2173507711000639. Acesso em 10 dez 2014. EORTC Quality of Life. QLQ-C30 development. Disponível em http://groups.eortc.be/qol/qlq-c30-development. Acesso em 29/set/2014. FAYERS, P.M. et al.. The EORTC QLQ-C30 Scoring Manual. 3rd ed. Brussels: European Organisation for Research and Treatment of Cancer, 2001, 86 p.. Disponível em http://www.eortc.be/qol/files/SCManualQLQ-C30.pdf. Acesso em 15 set 2014. FONTES, C.A.S; ALVIM, N.A.T. A relação humana no cuidado de enfermagem junto ao cliente com câncer submetido à terapêutica antineoplásica. Acta Paulista de Enfermagem, São Paulo, v. 21, n.1, 2008. Disponível em http://www.scielo.br/pdf/ape/v21n1/pt_11.pdf. Acesso em 22/abr/2015. FRANCESCHINI, J. et al.. Reproducibility of the Brazilian Portuguese version of the European Organization for Research and Treatment of Cancer Core Quality of Life Questionnaire used in conjunction with its lung cancer-specific module. J Bras Pneumol, v. 36, n. 5, p. 595-602, 2010. Disponível em http://www.scielo.br/pdf/jbpneu/v36n5/en_v36n5a11.pdf. Acesso em 19 set 2014. INSTITUTO NACIONAL DE CÂNCER JOSÉ ALENCAR GOMES DA SILVA - INCA. Coordenação Geral de Prevenção e Vigilância. Estimativa 2014 - Incidência de Câncer no Brasil. Brasil, Rio de Janeiro - RJ: INCA, 2014. Disponível em http://www.inca.gov.br/estimativa/2014/estimativa-24042014.pdf. Acesso em 24 set 2014. MANTEROLA, C.; URRUTIA, S.; OTZEN, T. Calidad de vida relacionada con salud: Instrumentos de medición para valoración de resultados en cirugía digestiva alta. Rev Chil Cir, v. 66, n.3, p. 274-82, 2014. Disponível em http://www.scielo.cl/pdf/rchcir/v66n3/art16.pdf. Acesso em 20 set 2014. THE WHOQOL GROUP. The World Health Organization quality of life assessment (WHOQOL): development and general properties. Soc Sci Med, v. 46, n. 12, p. 1569-85, 1998. Disponível em http://mbh.hku.hk/icourse/documents/backup/MSBH7002%20-%20WHOQOL%201998.pdf. Acesso 23 set 2014. VIKLUND, P. et al.. Quality of life and persisting symptoms after oesophageal cancer surgery. European Journal of Cancer, v. 42, n. 10, p. 1407-14, 2006. Disponível em http://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0959804906002590. Acesso em 09 set 2014. WORLD HEALTH ORGANIZATION - WHO. Cancer Fact sheet N°297 Updated February 2015. Disponível em http://www.who.int/mediacentre/factsheets/fs297/en/. Acesso em 22/abr/2015.

Autores:

Maria Teresa dos Santos Guedes Enfermeira. Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem e Biociências

(PPGENFBIO) da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro – UNIRIO.

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Coordenadora de Enfermagem do Banco Nacional de Tumores e DNA do Instituto Nacional de Câncer.

Maria Aparecida de Luca Nascimento

Doutora em Enfermagem pela Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ. Professora e orientadora acadêmica do Programa de

Doutorado em Enfermagem e Biociências da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO).

Como citar este post (Vancouver adaptado): GUEDES, MTS, NASCIMENTO, MAL. Avaliação da Qualidade de Vida de Portadores de câncer através do QLQ-C30. [internet]. Rio de Janeiro (br); 2015 [Acesso em: dia mês (abreviado) ano]. Disponível em: http://www...(completar com os dados do site).