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UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA FACULDADE DE CIÊNCIAS DA SAÚDE DEPARTAMENTO DE FARMÁCIA Avaliação de diferentes processos extrativos utilizando Ipê Roxo (Handroanthus impetiginosus) (Mart. ex DC.) Mattos como droga vegetal Bruna de Fátima Oliveira Mota BRASÍLIA 2018

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UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA

FACULDADE DE CIÊNCIAS DA SAÚDE

DEPARTAMENTO DE FARMÁCIA

Avaliação de diferentes processos extrativos utilizando Ipê

Roxo (Handroanthus impetiginosus) (Mart. ex DC.) Mattos

como droga vegetal

Bruna de Fátima Oliveira Mota

BRASÍLIA

2018

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UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA

FACULDADE DE CIÊNCIAS DA SAÚDE

DEPARTAMENTO DE FARMÁCIA

AVALIAÇÃO DE DIFERENTES PROCESSOS EXTRATIVOS UTILIZANDO IPÊ ROXO

(HANDROANTHUS IMPETIGINOSUS) (MART. EX DC.) MATTOS COMO DROGA VEGETAL

Bruna de Fátima Oliveira Mota

Monografia apresentada ao curso de

graduação em Farmácia da Universidade de

Brasília como requisito para obtenção do título

de Bacharel em Farmácia.

Orientadora: Profa. Dra. Paula Martins

Co-orientadora: Renata Pascoal Illanes

Tormena

BRASÍLIA

2018

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BRUNA DE FÁTIMA OLIVEIRA MOTA

AVALIAÇÃO DE DIFERENTES PROCESSOS EXTRATIVOS UTILIZANDO IPÊ ROXO (HANDROANTHUS IMPETIGINOSUS) (MART. EX DC.) MATTOS COMO DROGA

VEGETAL

Monografia apresentada ao curso de

graduação em Farmácia da Universidade de

Brasília como requisito para obtenção do título

de Bacharel em Farmácia.

Brasília,

Comissão Avaliadora:

______________________________________

Profa. Dra. Paula Melo Martins

Faculdade de Ceilândia

Universidade de Brasília

Orientadora

______________________________________

Silvia Ribeiro de Souza

Faculdade de Ciências da Saúde

Universidade de Brasília

Professora

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AGRADECIMENTOS

Agradecimentos especiais aos meus deuses e a minha família, que

estiveram ao meu lado me apoiando incondicionalmente.

Agradeço também a todos que me ajudaram e auxiliaram na execução

deste trabalho, pois sem vocês este não teria sido concluído.

Muito obrigada.

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RESUMO

O ipê-roxo, Handroanthus impetiginosus (Mart. ex DC.) Mattos, é uma planta

ornamental e medicinal da família das Bignoniaceae amplamente utilizada na

medicina tradicional da América do Sul. Neste trabalho objetivou-se avaliar quatro

tipos de extratos aquosos de ipê-roxo, produzidos através de infusão, decocção,

sohxlet e micro-ondas e analisá-los quanto aos teores de polifenóis totais, residuo

seco e testes qualitativos. Os resultados apresentaram valores de rendimento

(m/m) de 21% para infusão, 31% para decocção, 24% para soxhlet e 26% para

micro-ondas, calculados com base no valor de resíduo seco. Quanto aos testes

qualitativos, o estudo mostrou a presença de taninos condensados, flavonoides,

alcaloides e quinonas no extrato de decocção. Por fim, as análises de polifenóis

totais, apresentaram teores de 15,483 mg/g base seca (b.s.) para o extrato obtido

por infusão, 24,937 mg/g (b.s.) para o extrato obtido por decocção, 26,73 mg/g

(b.s.) para o extrato produzido por soxhlet e 28,034 mg/g (b.s) para o processo de

extração por micro-ondas, demonstrando que os processos extrativos de decocção,

soxhlet e micro-ondas foram estatísticamente iguais. Concluiu-se através do estudo

que a extração por decocção apresenta melhor método extrativo nas condições

utilizadas, uma vez que é um método capaz de extrair mais compostos - pelos

resultados obtidos por resíduo seco e testes qualitativos - além de ser um método

de execução mais simples quando comparado aos demais.

Palavras-chave: Extrato aquoso, polifenois, Ipê Roxo.

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ABSTRACT

The ipê-roxo, Handroanthus impetiginosus (Mart. ex DC.) Mattos, is an

ornamental and medicinal plant of the Bignoniaceae’s family, widely used in the

folk medicine of South America. The aim of this study was to evaluate four types

of aqueous extracts of ipê-roxo, produced by infusion, decoction, sohxlet and

microwave assisted and analyzed them for the contents of total polyphenols, dry

weight and qualitative tests. The results presented values of yield (m / m) of

21% for infusion, 31% for decoction, 24% for soxhlet and 26% for microwave,

calculated on the basis of the dry weight value. As for the qualitative tests, the

study showed the presence of condensed tannins, flavonoids, alkaloids and

quinones in the decoction extract. Finally, total polyphenol analyzes presented a

concentration of 15.483 mg / g of plant for the extract obtained by infusion,

24.937 mg / g for the extract obtained by decoction, 26.73 mg / g for the extract

produced by soxhlet and 28.034 mg / g for the microwave extraction process,

demonstrating decoction, soxhlet and microwave were statistically equal. It was

concluded through the study that the extraction by decoction presents better

method under the conditions used, since it is a method capable of extracting

more compounds - by the results obtained by dry weight and qualitative tests -

besides being a simpler method of execution when compared to others.

Key words: Aqueous extract, polyphenols, Ipê-Roxo.

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SUMÁRIO

Introdução.............................................................................................................. 1 Objetivos................................................................................................................ 6 Metodologia........................................................................................................... 7 Resultados e Discussão........................................................................................ 12 Conclusão.............................................................................................................. 19 Referências Bibliográficas..................................................................................... 20

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Valores de rendimento de extração em massa e volume para os extratos fluidos de Ipê roxo obtidos por diferentes métodos de extração............................................................................................................

20

Tabela 2 – Valores de resíduo seco para os extratos fluidos de Ipê Roxo obtidos por diferentes métodos de extração............................................................................................................

20 Tabela 3 – Resultados dos testes qualitativos para os extratos fluidos de Ipê Roxo obtidos por diferentes métodos de extração............................................................................................................

21 Tabela 4 – Valores de concentração de polifenóis totais para os extratos fluidos de Ipê Roxo obtidos por diferentes métodos de extração.............................................................................................................

23 Tabela 5 – Valores de teor de polifenóis totais para os extratos fluidos de Ipê Roxo obtidos por diferentes métodos de extração..................................................................................................................

24

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Taninos Condensados............................................................................. 13

Figura 2 – Flavonoide................................................................................................ 13

Figura 3 – Naftoquinona............................................................................................ 13

Figura 4 – Benzoquinona.......................................................................................... 14

Figura 5 – Naftoquinona............................................................................................ 14

Figura 6 – Antraquinona............................................................................................ 14

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LISTA DE ABREVIATURAS

mg - Miligrama

g – Grama

µL - Microlitro

mL – Mililitro

L - Litro

h – Hora

nm – Nanômetro

ºC – Temperatura em graus Celsius

rpm – Rotações por minuto

cm – Centímentro

m/v – Massa por volume

m/m – Massa por massa

v/v – Volume por volume

mol/L – Molaridade

DP - Desvio padrão

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LISTA DE FÓRMULAS

Na₂CO₃ - Carbonato de sódio

FeCl3 - Cloreto Férrico

Na2SO4 - Sulfato de Sódio anidro

H2SO4 - Ácido Sulfúrico

H2O – Água

HCl - Ácido Clorídrico

NH4OH - Hidróxido de Amônio

KOH - Hidróxido de Potássio

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1. INTRODUÇÃO

O Ipê roxo - Handroanthus impetiginosus (Mart. ex DC.) Mattos - é uma

planta da família das Bignoniaceae, originária da Mata Atlântica brasileira,

encontrada tanto na floresta pluvial atlântica como na semidecidual. Por vezes

ocorre também no Cerrado (BRASIL, 2015). A família Bignoniaceae compreende

cerca de 110 gêneros e 800 espécies, e está distribuída, principalmente, em regiões

tropicais e subtropicais. O gênero com maior número de espécies é Tabebuia com

aproximadamente 100 espécies, e é constituído basicamente por arbustos ou

árvores grandes. É uma árvore conhecida por suas flores roxas, sendo muitas

vezes chamado de "lapacho roxo" ou Pau d’arco. Apresenta sinonímias, como por

exemplo, Tabebuia avellanedae Lorentz ex Griseb. e Handroanthus impetiginosus

Mart. ex DC., do qual se referem à mesma espécie (PIRES, 2014).

Esta espécie é uma árvore que pode medir entre 8 e 30 metros de altura e

de 60 a 100 cm de diâmetro (VIEIRA et. al., 2016) de crescimento rápido. Como os

demais ipês, é uma árvore ornamental, cuja floração ocorre na estação seca (maio-

agosto), época em que perde todas as folhas. As flores que vão do rosa ao lilás

duram poucos dias e fornecem alimento para insetos como as abelhas, que são

importantes polinizadores.

Possui em sua composição quinonas, naftoquinonas, taninos e flavonóides

em abundância. De acordo com a monografia dessa espécie, alguns estudos com

extratos secos de galhos e cascas também apontaram a presença de glicosídeos

iridóides, lignana glicosiladas, isocumarina glicosiladas, glicosídeos feniletanóides e

glicosídos fenólicos, lapachol [2-hidroxi-3-(3-metil-2-butenil)-1,4-naftalenodiona],

naftoquinona e seus derivados β- Lapachona-(2,2-dimetil-3,4-di-hidro-2, 4-

benzocromeno-5,-diona) (BRASIL, 2015).

Abaixo, figuras com estruturas químicas de exemplos das principais classes

quimicas presentes no Ipê Roxo:

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Fig. 1 – Tanino Condensado

Fig. 2 – Flavonoide Fig. 3 – Naftoquinona (Lapachol)

A casca e a entrecasca do pau d´arco possuem registros de uso na

medicina popular há vários séculos, como paliativo no tratamento de tem sido usado

na medicina popular para o tratamento de úlceras, sífilis, problemas

gastrointestinais, candidíase, câncer, diabetes, prostatite e constipação, além do

uso como diurético (SOUSA et. al, 2009). Na América, o uso desta erva com

propriedades terapêuticas juntamente com vários outros remédios tradicionais, são

geralmente classificadas sob o título de "medicina alternativa" e serviu como base

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para pesquisas em tratamentos das ciências médicas atuais (SUO et. al., 2013;

GLEHN E RODRIGUES, 2012).

Dos compostos ativos presentes, os majoritários são a β-lapachona e o

lapachol, que atualmente apresenta maior relação com a atividade biológica da

planta e são pertencentes ao grupo das naftoquinonas - metabólitos secundários

heterocíclicos provenientes de compostos aromáticos. O lapachol também pode ser

considerado um dos principais representantes do grupo de quinonas das tabebuias

em geral (PIRES et. al., 2015).

Com base em sua estrutura molecular, as quinonas são divididas em três

grandes grupos, as benzoquinonas, naftoquinonas e antraquinonas. A diferença

entre cada um dos grupos é o anel aromático que sustenta o anel quinoídico, como

nas figuras abaixo. (SILVA, FERREIRA E SOUZA, 2003).

Fig.4 - Benzoquinona Fig. 5 - Naftoquinona Fig. 6 - Antraquinona

Estudos experimentais iniciais demonstraram atividade antitumoral

significativa das naftoquinonas, o que encorajou algumas investigações sobre os

efeitos do lapachol, principal constituinte deste grupo, em pacientes com câncer.

Além disso, os derivados naftoquinonicos também possuem outras propriedades,

como atividade antibacteriana, antifúngica, antivirais, antiprotozoárias, inseticida,

anti-inflamatórias e como agentes antipiréticos. (EPIFANO et. al., 2014)

O interesse por substâncias bioativas de origem natural cresceu nas áreas

médicas, e dessa forma, para uso medicinal de algumas plantas, começou-se a

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usar de alguns métodos para separar as porções ativas biologicamente das plantas

dos componentes inativos, após longos anos de evolução e aprimoramento das

técnicas extrativas tradicionais. (TIWARI et. al, 2011)

Maceração, infusão, decocção, percolação, e extração contínua à quente

(Soxhlet) são alguns métodos extrativos muito utilizados, por serem técnicas

acessíveis e relativamente simples de serem executados. Não somente o método

extrativo, mas também o tipo de solvente, temperatura, tempo de extração e

agitação bem como o farmacógeno utilizado, o grau de processamento da amostra

e a relação droga vegetal solvente (OLIVEIRA et. al. 2016; BRASIL, 2011;

SHARAPIN, 2000).

A decocção é um método usado para a extração de componentes solúveis

em água e estáveis ao calor. A droga vegetal, que de acordo com sua definição são

partes ou a planta medicinal inteira, que contenham as substâncias, ou classes de

substâncias, que causam a ação terapêutica, após coleta, estabilização e secagem

é fervida em água por 15 minutos e após filtragem e resfriamento o extrato pode ser

utilizado. (BRASIL, 2011; TIWARI et.al. 2011).

A preparação por infusão é um método que consiste em verter água fervente

sobre a droga vegetal e, em seguida, abafar o recipiente por tempo determinado.

Este é um método indicado para partes de drogas vegetais de consistência mais

flexíveis, como folhas, frutos, inflorescências flores (BRASIL, 2011).

Na extração por Soxhlet, o solvente é aquecido e reciclado, passando

repetidas vezes pelo material vegetal para extrair os compostos. A temperatura é

constante e a vidraria utilizada é a parte essencial para garantir a recirculação do

solvente dentro do sistema. (TIWARI et.al. 2011).

A extração assistida por micro-ondas, um método mais recente, é um

processo que utiliza a energia das micro-ondas, produzidas por um aparelho para

aquecer solventes em contato com uma amostra em um sistema fechado, a fim de

extrair seus compostos. Essa capacidade de aquecer rapidamente a mistura em um

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sistema fechado controlando a temperatura, pressão, potência e outras condições

reacionais, além de evitar perdas, são as principais vantagens desta técnica que

diminui o tempo de reação. (PARVEEN et. al, 2016, ESKILSSON E BJÖRKLUND,

2000)

Com o objetivo de comparar as extrações a quente juntamente com a

extração assistida por micro-ondas, o presente trabalho teve como propósito

caracterizar quantitativa e qualitativamente os extratos de ipê roxo obtidos por

infusão, decocção, soxhlet e micro-ondas.

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2. OBJETIVOS

2.1. OBJETIVO GERAL

Avaliar o processo extrativo da droga vegetal de Handroanthus impetiginosus

utilizando diferentes métodos de extração a quente e por micro-ondas.

2.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS

- Obter extratos aquosos de ipê roxo por infusão, decocção, soxhlet e micro-ondas;

- Caracterizar os extratos;

- Quantificar polifenóis totais nos extratos obtidos.

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3. METODOLOGIA

3.1. OBTENÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DA DROGA VEGETAL

A droga vegetal foi produzida por Aoyama (2017). A entrecasca de H.

impetiginosus foi coletada e processada, sendo caracterizada com ensaios de teor

de cinzas totais e a determinação de água, segundo metodologia descrita na Farm.

Bras. 5ª.Ed. (BRASIL, 2010). O material foi coletado pela manhã em Brasília/DF

(latitude: -15.937266, longitude: -47.959666) e identificado no Laboratório de

Instrumentação Analítica do Campus Ceilândia da Universidade de Brasília. As

entrecascas (LIMA et al., 1956) passaram por procedimentos de limpeza a fim de

separá-las do cerne. Logo após foram submetidas à secagem a temperatura

constante de 50 °C em estufa e moagem em moinho de faca do tipo Willey.

3.2. OBTENÇÃO DOS EXTRATOS VEGETAIS

Dos métodos extrativos utilizados neste trabalho inclui-se a infusão, a

decocção, o Soxhlet e a extração assistida por micro-ondas. Os extratos foram

produzidos da droga vegetal utilizando como solvente extrator, água destilada. A

proporção de 1g de droga vegetal para 25 mL de solvente (1:25) foi respeitada em

todas as extrações e os experimentos foram desenvolvidos em triplicata.

Por infusão, foram utilizados 100 mL de água destilada fervente como

solvente extrator. O solvente foi vertido em 4 g de droga vegetal e em seguida a

preparação foi abafada em béquer durante 15 minutos (BRASIL, 2011).

A extração por decocção utilizou 100 mL de água destilada fervente em 4g

de droga vegetal de acordo com Formulário de Fitoterápicos da Farmacopéia

Brasileira (BRASIL, 2011). O tempo de extração foi de 15 minutos.

Para a extração por soxhlet, foram utilizadas 20g de droga vegetal em 500

mL de água destilada. A droga vegetal foi envolvida em cartucho de papel filtro e

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colocada dentro do extrator soxhlet. O conjunto da extração foi colocado em manta

aquecedora em temperatura média de 100 °C por um período de 12h, overnight.

A extração por micro-ondas foi realizada em reator de micro-ondas de alto

desempenho modelo Monowave 300, da marca Anton Paar, no modo de reação

HTTT (Heat to Temperature in Time), em que 20 mL de água e 0,8 g de droga

foram mantidas nas seguintes condições: 4 minutos de reação, mantendo a

temperatura de 120 °C sob agitação de 600 rpm.

3.3. CARACTERIZAÇÃO DOS EXTRATOS

3.3.1. Determinação de resíduo seco

A determinação de resíduo seco nos extratos foi feita de acordo com a

Farmacopéia Brasileira 5a edição (BRASIL, 2010). Foram transferidos 2 mL do

extrato para vidro de relógio e o solvente evaporado até secura em banho-maria.

Depois, a vidraria com extrato seco foi colocada em estufa a 100 ± 2 ºC, por 3

horas. Após isso, o remanescente contido no vidro relógio foi pesado e calculado a

porcentagem de resíduo seco, de acordo com fórmula abaixo.

RS(%) = matéria seca (g)

extrato fluido (g)x100 Equação 1

3.3.2. Análise de polifenóis totais

O ensaio de polifenóis totais foi realizado através da técnica

espectrofotométrica utilizando reagente de Folin-Ciocalteu, em metodologia

adaptada de Singleton e Rossi (1965).

Inicialmente, foi preparada uma solução extemporânea de carbonato de sódio

(Na₂CO₃) 20 % m/v. Foram adicionados 20 g de carbonato de sódio anidro em 80

ml de água deionizada quente. Após resfriamento, foi estocada em refrigerador e,

após 24 h, a solução foi filtrada e o volume corrigido para 100 mL.

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A solução mãe de ácido gálico 5000 mg/L foi preparada a partir da dissolução

de 0,500 g de ácido gálico em água deionizada e o volume corrigido para 100 mL,

depois estocada em refrigerador. A partir desta, foram preparadas as seguintes

diluições: 50; 100; 150; 200; 250; 300; 400; e 500 mg/L.

Conforme definido em testes preliminares, foram feitas diluições 1:5 para

extrato de infusão, 1:3 para extrato de decocção, 1:1,5 para extrato de soxhlet e 1:2

para o extrato de micro-ondas.

As amostras foram preparadas da seguinte forma:

1. Foram retirados 50 µL da amostra diluída para um tubo de ensaio;

2. Em cada tubo de ensaio foram adicionados 3,95 mL de água destilada e

250 µL do reagente de Folin-Ciocalteu;

3. Após o tempo de espera de 3 minutos, foram adicionados 750 µL da

solução de carbonato de sódio 20%

4. Realizou-se a homogeneização com auxilio de um vortex e as amostras

foram guardadas ao abrigo da luz por 2 horas. Após este período, foi realizada a

leitura em espectrofotômetro, modelo U-3900H da marca Hitachi em 750nm.

3.3.3. Testes qualitativos

Os testes qualitativos foram realizados de acordo com a metodologia

descrita em Matos (2009). Foram pesquisadas a presença de fenóis, taninos,

antocianinas, flavonoides, esteroides, saponinas, alcaloides, quinonas e cumarinas.

3.3.3.1. Análise de fenóis e taninos

Foram utilizados 2 mL de cada extrato, transferidos para tubo de ensaio e

adicionadas 3 gotas de Cloreto Férrico (FeCl3). O resultado foi comparado com o

branco que continha somente água destilada e FeCl3.

3.3.3.2. Análise de antocianinas e flavonoides

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Foram utilizados 2 mL de extrato, transferidos para 3 tubos de ensaio. No

tubo 1, o pH foi acidificado para 3, no tubo 2 o pH foi alcalinizado para 8,5 e no tubo

3 o pH foi alcalinizado para 11. Foi observada a mudança de coloração nos 3 tubos.

3.3.3.3. Analise de esteroides e triterpenos pentacíclicos

Foram utilizados 10 mL de extrato, transferidos para um béquer e evaporada

toda a parte aquosa. O resíduo seco contido no béquer foi lavado com 1 mL de

clorofórmio por 3 vezes e as lavagens separadas em um tubo de ensaio. O béquer

contendo resíduo seco foi reservado. Logo após, foram adicionados ao tubo de

ensaio, pequena quantidade de Sulfato de Sódio anidro (Na2SO4) sob agitação para

cobrir superfície da solução. E por fim, foram adicionadas 3 gotas de ácido sulfúrico

concentrado (H2SO4) observando possível mudança de coloração no material.

3.3.3.4. Análise de saponinas

Foi utilizado o béquer contendo os resíduos não solúveis em clorofórmio

obtido do teste de esteroides (3.3.3.3). Foram adicionados a ele 6 mL de H2O

destilada e filtrado a mistura obtida. Este filtrado foi mantido por agitação por 2

minutos e então foi observado formação de espuma.

3.3.3.5. Análise de alcaloides

Para testar a presença de alcaloides foram realizados 2 procedimentos

diferentes.

No primeiro, foram transferidos 5 mL de extrato em um funil de separação,

lavados com 30 mL de éter-clorofórmio (3:1) e separadas as fases. Logo, lavados

novamente com 20 mL de éter-clorofórmio na mesma proporção, e novamente

foram separadas as fases. Em seguida a solução foi lavada com 10 mL de éter-

clorofórmio mantendo a proporção. A fase aquosa foi separada e reservada. Após

isso, a solução éter-clorofórmio foi tratada com Sulfato de Sódio anidro (Na2SO4)

para retirar o excesso de água. Esta nova solução foi filtrada. Em seguida esta nova

solução passou por 3 lavagens com Ácido clorídrico (HCl) concentrado e foram

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separadas a solução éter-clorofórmio e solução aquosa ácida. Em 1 mL desta

solução aquosa ácida foram adicionadas 3 gotas de reagente de Dragendorff e

observada a formação de precipitado floculoso.

No segundo teste para alcaloides, foi utilizado 1 mL de extrato transferido

para um tubo de ensaio e acrescentadas 3 gotas de reagente de Dragendorff. Foi

observada mudança de coloração no tubo de ensaio.

3.3.3.6. Análise de quinonas

5 mL da solução éter-clorofórmio, reservada do experimento de alcaloides

(3.3.3.5), foram transferidas para um tubo de ensaio e adicionados 2 mL de

hidróxido de amônio (NH4OH) (6 mol/L). Em seguida, as fases foram separadas e a

fase etérea foi reservada. Foi observada mudança de coloração na fase aquosa.

3.3.3.7. Análise de cumarinas

Em um tubo de ensaio contendo a solução etérea proveniente do teste de

quinonas (3.3.3.6), foram adicionados 13 mL de etanol e esta solução foi filtrada.

Com o filtrado foram feitas 2 manchas de cerca de 1,5 cm cada sobre papel filtro.

Em uma das manchas foi acrescentado 1 gota de solução de hidróxido de potássio

(KOH) (1 mol/L) e as 2 manchas foram parcialmente cobertas com papel cartão

opaco. O conjunto foi exposto sob luz UV 280 nm por 2 minutos e as partes

encobertas então, descobertas ainda sob luz UV. Foi observado se haveria

aparecimento de fluorescência na metade encoberta da mancha acrescida de

hidróxido de potássio.

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3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.1. CARACTERIZAÇÃO DA DROGA VEGETAL

A droga vegetal apresentou teor de água de 7,04% e teor de cinzas totais de

5,6%, de acordo com análises realizadas por Aoyama (2017).

4.2. ESTUDOS DE EXTRAÇÃO

Os estudos de extração apresentaram os seguintes valores exibidos nas

Tabelas 1 e 2. De acordo com os valores obtidos, analisando apenas o solvente, o

melhor rendimento (v/v) foi por meio de extração soxhlet, seguido pela extração por

micro-ondas. Em outra análise, relacionando o resíduo seco para cálculo de

rendimento, a extração que apresentou melhor resultado foi a decocção.

Tabela 1 – Valores de rendimento de extração em massa e volume para os extratos fluidos de Ipê roxo obtidos por diferentes métodos de extração

Extração Volume obtido (Média ±DP)

Rendimento (%)

Resíduo seco (Média ±DP) (g)

Rendimento (%)

Infusão 72,6± 1,52

72,6 0,0170± 0,0003

21,0

Decocção 48±

11,26 48,0

0,0250± 0,0024

31,0

Soxhlet 458± 6,55

91,6 0,0190± 0,0014

24,0

Micro-ondas

17,5 -

87,5 0,0210± 0,0017

26,0

O valor mais alto de rendimento em volume obtido foi por soxhlet e pode ser

justificado por seu sistema fechado, em que não há perdas de solvente. As perdas

acontecem apenas no momento da filtração. Já no rendimento em massa o maior

valor obtido é o de extração por decocção, o que sugere uma associação entre a

melhor condição de extração e melhor solvente utilizado, indicando ser este método

como superior entre os demais, concordando com resultados obtidos por Mallmann

e colaboradores (2017), onde extratos aquosos de casca de Acanthospermum

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13

australe foram preparados por decocção, e obtiveram rendimento em massa de

23%, ficando abaixo apenas do extrato preparado por infusão de folhas da mesma

espécie vegetal.

Os valores de resíduo seco obtidos são apresentados na Tabela 2.

A determinação do resíduo seco é uma das diretrizes da Organização

Mundial da Saúde e Agência Nacional de Vigilância Sanitária para controlar a

qualidade de plantas medicinais e seus derivados, além de essenciais para garantir

a autenticidade, a estabilidade e a segurança (ANDRÉ , SILVA E

VANCONCELLOS, 2013).

Tabela 2 – Valores de resíduo seco para os extratos fluidos de Ipê Roxo obtidos por diferentes métodos de extração

Extração Resíduo Seco (%)

Infusão 0,81 ± 0,02

Decocção 1,21 ± 0,13

Soxhlet 0,89 ± 0,11

Micro-ondas

1,05 ± 0,06

Os resíduos secos a partir dos extratos fluidos de

Handroanthus impetiginosus, realizados em triplicata, foram calculados sobre

porcentagem de matéria seca em extrato fluido (m/m), apresentaram resultados

médios de 0,81 ±0,02 para o extrato produzido por infusão, 1.21 ±0.14% para o

extrato de decocção, 0,89 ±0,110% para o extrato de soxhlet e 1,05 ±0,068% para o

extrato de micro-ondas. (Tabela 2)

Os resultados de resíduo seco das extrações realizadas através de

decocção apresentaram níveis superiores aos demais, o que podem indicar que

esta técnica demonstrou melhor eficiência de extração dos compostos da droga

vegetal levando em consideração também o potencial extrator e características

físico-químicas do solvente. Ainda não foram relatados nos trabalhos encontrados

valores para este parâmetro. (BRASIL, 2015; PIRES, 2014; QUEIROZ, 2008).

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14

4.2.1. Testes qualitativos

Os resultados dos testes qualitativos avaliando mudança de coloração ou

formação de precipitado nos diferentes extratos estão apresentados na Tabela 3.

Tabela 3 – Resultados dos testes qualitativos para os extratos fluidos de Ipê roxo obtidos por diferentes métodos de extração

O teste de fenóis e taninos apresentou coloração verde que é indicativa para

a presença de taninos condensados em todos os extratos testados. Na análise de

antocianinas e flavonóides, foi obtido resultado com coloração levemente alaranjada

em tubo com pH alcalino 11, assinalando para a presença de flavonóides apenas no

extrato obtivo por decocção. O mesmo foi observado por Sousa e colaboradores

(2015) em seu trabalho com extrato aquoso de H. impetiginosus produzido através

de ultrassom e maceração.

Porém, o ensaio de antocianinas e flavonoides em pH alcalino 11 pode

apresentar resultado falso positivo pela coloração marrom dos extratos analisados,

uma vez que a coloração indicativa de resultado positivo é amarela.

No primeiro teste para identificação de alcalóides houve presença de

precipitado floculoso, indicativo de presença de alcaloides na composição do extrato

obtido por decocção.

Testes Sohxlet Decocção Micro-ondas Infusão

Fenóis e taninos + + + +

Antocianinas e flavonoides

- + - -

Esteroides - - - -

Saponinas + + + +

Alcaloides 1 - + - -

Alcaloides 2 - - - -

Quinonas - + - -

Cumarinas - - - -

Triterpenos pentacíclicos

- + - -

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15

O teste de quinonas apresentou resultado com coloração levemente

avermelhada, apontando a presença de quinonas no extrato obtivo através de

decocção, como encontrado em trabalho de Silva e colaboradoradores (2012), onde

exibe a presença de diferentes quinonas e naftoquinonas por diferentes autores no

cerne de H. impetiginosus.

A análise de triterpenos resultou de coloração levemente amarelada,

indicativa para a presença de triterpenos pentacíclicos no extrato produzido por

decocção.

Os demais extratos, infusão, soxhlet e micro-ondas, apresentaram

resultados positivos apenas no teste para saponinas.

Com base nos resultados obtidos, indica-se a presença de taninos

condensados, flavonoides, alcaloides e quinonas no extrato obtidos por decocção,

enquanto os extratos obtidos por soxhlet e micro-ondas os resultados positivos

sugerem presença apenas para taninos e saponinas.

4.2.2. Análise de polifenóis totais com reagente de Folin-Ciocalteu

Atualmente, compostos fenólicos de origem natural têm recebido

considerável atenção devido às suas funções fisiológicas, incluindo antioxidante e

atividades antitumorais, podendo ter aplicações na medicina. Dentro disso, a

determinação do teor de polifenóis é um importante fator de conhecimento do

comportamento das variáveis envolvidas na extração, pois são dados que podem

ser utilizados para selecionar e maximizar o conteúdo polifenólico dos extratos e

seu potencial farmacológico (BERGMEIER et. al., 2014; GONTIJO et. al, 2014).

Em função da leitura das soluções de ácido gálico apresenta-se a curva de

calibração a seguir:

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16

De acordo com esta curva padrão de ácido gálico obteve-se a equação da

reta, empregada no cálculo de concentração de polifenóis (mg/L) presentes em

cada extrato. Os cálculos do teor de polifenóis no extrato consideraram a proporção

de droga utilizada no início da reação (1:25). Os valores de polifenóis em relação a

droga vegetal apresentados foram calculados descontando-se o teor de água -

Tabela 4.

Os resultados foram avaliados e a estatística foi gerada através de mediana,

uma vez que os dados não apresentaram distribuição normal.

Tabela 4 – Valores estatísticos de resíduo seco e polifenóis totais para os extratos fluidos de Ipê Roxo obtidos por diferentes métodos de extração

Infusão Decocção Soxhlet Micro-ondas

Percentil 25

Mediana

Percentil 75

Percentil 25

Mediana

Percentil 75

Percentil 25

Mediana

Percentil 75

Percentil 25

Mediana

Percentil 75

Residuo Seco (%)

0,80 0,82 b 0,83 1,08 1,21 a 1,35 0,77 0,9 b 0,99 0,99 1,02 b 1,12

Teor polifenois (mg/mL)

0,5700

0,576 b

0,5880 0,8520 0,928

a 0,9370 0,9490

0,994 a

1,0000 0,9280 1,043

a 1,100

0

Teor polifenois (mg/g) b.s

15,320

15,483 b

15,809 22,899 24,937

a 25,181 25,507

26,73 a

26,893 24,937 28,034

a 29,58

2

Letras diferentes na mesma linha denotam valores estatísticamente diferentes.

y = 0,001x + 0,035 R² = 0,9977

0,000

0,200

0,400

0,600

0 200 400 600

Concentração ácido gálico (mg/L)

Ab

so

rbâ

ncia

(n

m)

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17

Para as análises de resíduo seco os resultados estatísticos mostraram

que o extrato produzido utilizando a técnica de decocção, demonstrou melhor

desempenho, pois apresentam valor estatisticamente melhor. Este resultado pode

ser justificado através da diferença de tempo e temperatura entre os métodos de

extração utilizados, uma vez que os compostos de drogas vegetais mais rígidas,

como cascas, são satisfatoriamente extraídos pelo método de decocção, já que se

expõe por tempo mais adequado a droga vegetal a temperatura, e não de modo

excessivo, o que seria o caso da extração por soxhlet.

Para as análises de polifenóis, os processos extrativos de decocção,

soxhlet e micro-ondas mostraram-se estatisticamente iguais. Apenas a infusão

demonstrou ser inferior aos demais processos. Neste caso, os três métodos se

mostram capazes de extrair polifenóis, onde uma justificativa para a infusão

apresentar-se inferior aos demais, seria o tempo insuficiente de exposição da droga

vegetal a temperatura, o que não seria capaz de extrair polifenóis com a mesma

capacidade dos métodos comparados.

Mallmann e colaboradores (2017) obtiveram resultados de extratos

aquosos de raízes de Acanthospermum australe utilizando decocção e apontaram

que raízes de A. australe mostram-se fontes mais ricas em polifenóis, quando

comparados com quantidades presentes nos extratos obtidos por folhas da mesma

espécie, apresentando valores de polifenóis totais de 418,05 mg GAE/g para raízes

e 129,26 mg GAE/g para extratos hidroalcóolicos de folhas obtidos através de

maceração.

Em pesquisa desenvolvida por Silva e colaboradores (2011), extratos de

Pyrostegia venusta, planta da mesma família do Ipê Roxo, obtidos através de

maceração com agitação magnética apresentaram resultados de 116,22 mg GAE/g

no extrato obtido com metanol, 55,0 mg GAE/g para o extrato obtido com hexano e

54,7 mg GAE/g para o extrato obtido com acetato de etila.

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As demais análises juntamente com a análise estatística da concentração

de polifenois permitiu observar que variáveis como temperatura, tempo de extração

e quantidade de solvente influenciam no processo extrativo. O método de micro-

ondas, apesar de estatísticamente eficiente para extrair polifénois, não se apresenta

tão interessante na extração de resíduo seco e logo, de demais compostos, como

indicado por testes qualitativos. Justificando o comprometimento da extração por

baixa quantidade de solvente ou curto período extrativo.

Na extração por soxhlet, apesar de um grande volume de solvente e

temperatura próxima à temperatura da extração por decocção, fatores que

poderiam beneficiar o processo, o tempo de exposição a temperatura é longo, o que

pode acabar influenciando negativamente a extração.

Dentre os três processos estatisticamente eficientes na extração de

polifenóis, o mais adequado seria o de decocção, uma vez que é um processo mais

acessível, mais facilmente executável e por por ter demonstrado ser capaz de

extrair maior quantidade de compostos, tanto pelos valores apresentados de

resíduo seco, como pelos testes qualitativos que confirmaram a presença de

taninos, flavonoides, alcaloides e quinonas apenas no extrato de decocção.

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19

5. CONCLUSÃO

Os resultados de resíduo seco, rendimento em massa obtidos neste

trabalho, além das análises qualitativas e estatística produzidas permitem inferir que

a decocção mostrou-se como melhor método extrativo (um método extrativo mais

eficiente) nas condições utilizadas para entrecasca de ipê-roxo (Handroanthus

impetiginosus), já que se apresenta como um método de fácil execução e capaz de

extrair maior quantidade de compostos em comparação a outras metodologias.

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