Avaliação de variedades sintéticas de milho em três...

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Avaliação de variedades sintéticas de milho em três ambientes do Rio Grande do Sul INTRODUÇÃO Machado, J.R. deA. ' ; Guimarães, L.J.M2; Guimarães, P.E.0. 2 ; Emygdio, B.M. 3 As variedades sintéticas de milho são desenvolvidas a partir de cruzamento entre linhagens ou híbridos dos programas de melhoramento. Elas são amplamente cultivadas em áreas de agricultura familiar, onde o milho é cultivado para alimentação humana, animal e o excedente é vendido. Esse sistema de produção agrícola muita vezes não usa insumos para melhorar a fertilidade do solo, o que gera produtividades relativamente baixas. No entanto, essas variedades, quando cultivadas nas épocas recomendadas para a cultura, podem se tornar uma boa alternativa para os agricultores, visto que os programas de melhoramento têm conseguido produtividades superiores a 5.000 kg ha-1 (MACHADOetal.,2011). De acordo com Emygdio et aI. (2008), as variedades melhoradas apresentam comportamento superior quando comparadas às variedades crioulas, principalmente pela sua constituição genética, que, em geral, está ligada ao uso de linhagens superiores para o seu desenvolvimento. o objetivo deste trabalho foi avaliar o comportamento de variedades sintéticas na região norte do estado do Rio Grande do Sul. MATERIAL E MÉTODOS Os ensaios foram conduzidos nos municípios de Coxilha, em duas épocas de semeadura, e Panambi, situados a 687m e 451m de altitude, respectivamente.As datas de semeadura foram: 1" época em Coxilha: 10/10/2013, 2" época em Coxilha: 10/11/2013 e em Panambi: 17/10/2013.As adubações de semeadura e de cobertura seguiram as recomendações das indicações técnicas para o cultivo de milho no Ri? Grande do Sul safras 2011/12 e 2012/13 (INDICAÇOES TECNICAS, 2011). Dez variedades sintéticas (Tabela 2) foram avaliadas em delineamento experimental de blocos ao acaso, com três repetições. A parcela foi constituída de seis linhas de 5 m, considerando área útil as duas centrais. O espaçamento foi de 0,80 cm entre plantas mantendo cinco plantas por metro linear. As caracteristicas avaliadas foram altura de planta (AP), obtida pela média de dez plantas ao acaso na área útil, medidas do solo até a folha bandeira, em cm; altura de espiga (AE), medida do solo até a inserção da primeira espiga, em cm; estande final (SF), que representa o número total de plantas na área útil; produtividade de grãos (PG), em kg ha-1; e umidade de grãos na colheita (UM), em percentagem. Foram realizadas as análises individual e conjunta dos três ambientes e quando houve efeito significativo para cultivar ou para interação cultivar x ambiente, realizou-sea comparação de médias pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade.Todas as análises foram realizadas pelo aplicativo computacional Genes (2006). RESULTADOSE DISCUSSÃO A análise de variãncia mostrou diferenças significativasentre cultivar,ambiente e a interação cultivar x ambiente para as características estande final e umidade de grãos na colheita. Já para as características peso de grãos e altura de plantas, verificou-se significãnciado teste F para ambientes (Tabela 1). Os coeficientes de variação apresentaram valores dentro do esperado para as caracteristicas avaliadas, indicando que a condução dos ensaios foi adequada (SCAPIM et aI., 1995). Considerando a variabilidade existente nas variedades sintéticas, em geral, as médias de alturade planta e altura de espiga são mais elevadas, no entanto, mesmo com a altura de planta acima de 2 m, a altura de espigaficou em um patamar que permite tanto a colheita manual como a mecanizada (Tabela 1). A média do estande final foi baixa, uma vez que, Tabela 1. Resumo da análise de variância conjunta para as características altura de planta (AP), altura de espiga (AE), estande final (SF), umidade de grãos na colheita (UM) e produtivídade de grãos (PG), no Rio Grande do Sul, safra 2013/14. FV QM AP AE SF UM PG em em % Ikg ha"l Cultivar 297"" 711 148~· 16" 2677966 HS Ambiente 3320 •.•. 132 7434"· 95" 31242334** CulxAmb 289 NS 286 NS 74'· 1518961 N Resíduo 333 473 33 3 1355593 Média 216 12' 36 18.7 5.948 CV("Io) 8.5 17.5 15.9 9.3 19.6 •• Slgnlficativono nlvel de 1% de probabilidade pelo teste de F, NS não significativo. Considerandoo númerode sementes na parcela, o esperado seria próximo de 50 plantas. O teor de umidade de grãos na colheita em torno de 18,7% indica um ciclo mais prolongadopara as variedades avaliadas. A produtividade média das variedades ficou 12% acima da média do Rio Grande do Sul (5.309 kg ha-1) e 25% acima da média nacional na primeira safra (4.755 kg ha-1) de 2013/14 (Conab,2014). 'Pesquisadora Embrapa Milho e Sorgo. Passo Fundo, RS. [email protected] 2Pesquisador Embrapa Milho e Sorgo. Sete Lagoas, RS. Lauro.quirnaraesjgjembrapa.br; [email protected]. 3Pesquisadora Embrapa Clima Temperado. Pelotas, RS. [email protected] 50

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  • Avaliação de variedades sintéticas de milho em três ambientes do Rio Grande do Sul

    INTRODUÇÃO

    Machado, J.R. deA.'; Guimarães, L.J.M2; Guimarães, P.E.0.2; Emygdio, B.M.3

    As variedades sintéticas de milho sãodesenvolvidas a partir de cruzamento entre linhagens ouhíbridos dos programas de melhoramento. Elas sãoamplamente cultivadas em áreas de agricultura familiar,onde o milho é cultivado para alimentação humana,animal e o excedente é vendido. Esse sistema deprodução agrícola muita vezes não usa insumos paramelhorar a fertilidade do solo, o que gera produtividadesrelativamente baixas. No entanto, essas variedades,quando cultivadas nas épocas recomendadas para acultura, podem se tornar uma boa alternativa para osagricultores, visto que os programas de melhoramentotêm conseguido produtividades superiores a 5.000 kgha-1 (MACHADOetal.,2011).

    De acordo com Emygdio et aI. (2008), asvariedades melhoradas apresentam comportamentosuperior quando comparadas às variedades crioulas,principalmente pela sua constituição genética, que, emgeral, está ligada ao uso de linhagens superiores para oseu desenvolvimento.

    o objetivo deste trabalho foi avaliar ocomportamento de variedades sintéticas na região nortedo estado do RioGrande do Sul.

    MATERIAL E MÉTODOS

    Os ensaios foram conduzidos nos municípiosdeCoxilha, em duas épocas de semeadura, e Panambi,situadosa 687me 451mde altitude, respectivamente.Asdatas de semeadura foram: 1" época em Coxilha:10/10/2013, 2" época em Coxilha: 10/11/2013 e emPanambi: 17/10/2013.As adubações de semeadura e decobertura seguiram as recomendações das indicaçõestécnicas para o cultivo de milho no Ri? Grande do Sulsafras 2011/12 e 2012/13 (INDICAÇOES TECNICAS,2011). Dez variedades sintéticas (Tabela 2) foramavaliadas em delineamento experimental de blocos aoacaso, com três repetições.A parcela foi constituída deseis linhas de 5 m, considerando área útil as duascentrais. O espaçamento foi de 0,80 cm entre plantasmantendocinco plantaspormetro linear.

    As caracteristicas avaliadas foram altura deplanta (AP), obtida pela média de dez plantas ao acasona área útil,medidas do solo até a folha bandeira,em cm;altura de espiga (AE), medida do solo até a inserção daprimeira espiga, em cm; estande final (SF), querepresenta o número total de plantas na área útil;produtividade de grãos (PG), em kg ha-1; e umidade de

    grãos nacolheita (UM),em percentagem.Foram realizadas as análises individual e

    conjunta dos três ambientes e quando houve efeitosignificativo para cultivar ou para interação cultivar xambiente, realizou-sea comparaçãode médias pelo testede Tukey a 5%de probabilidade.Todasas análises foramrealizadaspeloaplicativocomputacionalGenes (2006).

    RESULTADOSEDISCUSSÃO

    A análise de variãncia mostrou diferençassignificativasentre cultivar,ambiente e a interação cultivarx ambiente para as características estande final eumidade de grãos na colheita. Já para as característicaspeso de grãos e altura de plantas, verificou-sesignificãnciado teste Fparaambientes (Tabela1).

    Os coeficientes de variação apresentaramvalores dentro do esperado para as caracteristicasavaliadas, indicando que a condução dos ensaios foiadequada (SCAPIM et aI., 1995). Considerando avariabilidade existente nas variedades sintéticas, emgeral, as médiasde alturade plantae altura de espiga sãomais elevadas, noentanto,mesmo com a altura de plantaacima de 2 m, a alturade espigaficou em um patamar quepermite tanto a colheita manual como a mecanizada(Tabela 1). A média do estande final foi baixa, uma vezque,

    Tabela 1. Resumo da análise de variância conjuntapara as características altura de planta (AP), altura deespiga (AE), estande final (SF), umidade de grãos nacolheita (UM) e produtivídade de grãos (PG), no RioGrande do Sul, safra 2013/14.

    FV QMAP AE SF UM PGem em % Ikg ha"l

    Cultivar 297"" 711 148~· 16" 2677966HS

    Ambiente 3320 •.•. 132 7434"· 95" 31242334**

    CulxAmb 289NS 286NS 74'· r· 1518961NResíduo 333 473 33 3 1355593Média 216 12' 36 18.7 5.948CV("Io) 8.5 17.5 15.9 9.3 19.6

    •• Slgnlficativono nlvel de 1% de probabilidade pelo teste de F, NS não significativo.

    Considerandoo númerode sementes na parcela,o esperado seria próximo de 50 plantas. O teor deumidade de grãos na colheita em torno de 18,7% indicaumciclo mais prolongadoparaas variedades avaliadas. Aprodutividade média das variedades ficou 12% acima damédia do Rio Grandedo Sul (5.309kg ha-1) e 25% acimada média nacional na primeira safra (4.755 kg ha-1) de2013/14 (Conab,2014).

    'Pesquisadora Embrapa Milho e Sorgo. Passo Fundo, RS. [email protected] Embrapa Milho e Sorgo. Sete Lagoas, RS. Lauro.quirnaraesjgjembrapa.br; [email protected] Embrapa Clima Temperado. Pelotas, RS. [email protected]

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  • o teste de médias das variedades, para altura deplantas e de espiga, não possibilitou detectar diferençasignificativa para essas característícas, nesse trabalho(Tabela2).

    Para estande final, na primeira época desemeadura em Coxilha, a maioria das variedadesapresentaram bom estande, observando-se em algunscasos valores acima do esperado. Isto pode estarrelacionado à não ocorrência de desbaste após o plantio,mecanizado. Na segunda época, a semeadura foirealízada da mesma maneira e o estande foi mais baixo,devido a uma melhor distribuição de semente pelasemeadora. O pior estande foi observado em Panambi,principalmente devido ás condições climáticas e ao localonde o ensaio foi semeado, em que a cobertura de solonão foi suficiente para manter a umidade durante odesenvolvimento inicial das plantas (Tabela 3)

    Para umidade de grãos, as variedades BRSCaimbé, BRS 4103 e BRS 4104 apresentaram maioresvalores, na primeira de semeadura em Coxilha, indicandoum ciclo mais tardio (Tabela 3). Na segunda época avariedade BRS Gorotuba secou mais rapidamente nocampo. Esta característica é importante, já que muitasvezes a produtor deixa o milho secar no campo, e quantomais rápido essa secagem mais cedo é realizada acolheita, liberando a área para o plantio de uma novaespécie dentro do sistema e evitando a ocorrência dedoenças na espiga, que podem prejudicar a qualidadedos grãos. Em Panambi, não houve diferençasignificativa entre as variedades para essa característica.

    Considerando os três locais e as cultivaresavaliadas com relação ao estande final, as variedadesBRS Caimbé e BRS 4103 apresentaram comportamentosemelhante nos três ambientes. Para umidade de grãosna colheita, considerando as médias dos ambientes, nasegunda época de semeadura as variedadesapresentaram ciclo mais tardio.

    A variedade Sintético SP 1 produziu 8% a menosque a média do Rio Grande do Sul e 2% acima da médianacional e a variedade sintético 104 produziu 23% a maisque a média do Rio Grande do Sul e 37% acima da médianacional, na safra 2013/14 (Tabela 3)

    Os resultados permitiram observar que asvariedades sintéticas podem representar uma boa opçãopara produtores que cultivam com poucos investimentosem insumos, podendo ser uma boa ferramenta na buscapor aumento de produção no Rio Grande do Sul.

    Tabela 2. Médias, geral e por ambiente, dascaracterísticas altura de planta e altura de espiga, RioGrande do Sul, safra 2013/14.

    Médiasseguidas de mesma letra, maiúscula na horizontal e letra minúscula na vertical, nãodiferem entre si; e médias seguidas de mesma letra minúscula na vertical não diferem entre si,pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade.

    Tabela 3. Médias, geral e por ambíente, dascaracterístícas estande final, umidade de grãos nacolheita e produtividade de grãos, Rio Grande do Sul,safra 2013/14.

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    Médias seguidas de mesma letra, maiúscula na horizontal e letra minúscula na vertical, nãodiferem entre si; e médias seguidas de mesma letra minúscula na vertical não diferem entre si,pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade.

    CONCLUSÕES

    As variedades avaliadas apresentaram bomcomportamento agronômico nos locais avaliados epodem ser uma boa opção para sistemas de produçãoagrícola de baixo investimento.

    REFERÊNCIAS

    CONAB. 2014. Companhia nacional deabastecimento. Safra 2013/14. Disponível em <http://www.conab.gov.br/0IalaCMS/uploads/arquivos/14_05_08_10_11_00_boletim_graos_maio_2014.pdf>.Acesso em 14 de maio de 2014.

    EMYGDIO,B.M.; SILVA, S.D. dos A.; PORTO; M.P.;TEIXEIRA, M.C.C.; OLIVEIRA, A.C.B.de. 2008.Fenologia e características agronômicas devariedades de milho recomendadas para o RS.Pelotas: Embrapa Clima Temperado, 18p. (EmbrapaClima Temperado. CircularTécnica, 74).

    NUNES, C. D. M.; EMYGDIO, B. M. 2013. Reaçôes deresistência das cultivares de sorgo granífero ásdoenças no Ensaio Sul Riograndese em condições decampo no período agrícola 2012/2013. In REUNIÃOTÉCNICA ANUAL DO MILHO 58", REUNIÃO TÉCNICAANUAL DO SORGO 51". [CD-ROM]. Pelotas, 2013,Anais ... Pelotas: Embrapa Clima Temperado.

    MACHADO, J.R.deA.; SILVA, AA; GUIMARÃES,P.E.O.;PACHECO, CAP.; GUIMARÃES, L.J.M.;PARENTONI,S. N.; MEIRELLES, W. F.; SILVA, A. R. da; EMYGDIO, B.M. 2011.Comportamento de variedades sintéticas demilho no Rio Grande do Sul. Sete Lagoas: EmbrapaMilho e Sorgo (Embrapa Milho e Sorgo. ComunicadoTécnico, 189).

    SCAPIM,CA; CARVALHO,C.G.P.; CRUZ,C.D. 1995.Uma proposta de classificação dos coeficientes devariação para a cultura do milho. PesquisaAgropecuária Brasileira, Brasília, Vo1.30, n.5, pp.683-686.

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