Avaliação e intervenção para o medo e fobia de dirigir...
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Contextos Clínicos, 10(1):85-98, janeiro-junho 2017Unisinos - doi: 10.4013/ctc.2017.101.07
Este é um artigo de acesso aberto, licenciado por Creative Commons Atribuição 4.0 Internacional (CC BY 4.0), sendo permitidas reprodução, adaptação e distribuição desde que o autor e a fonte originais sejam creditados.
Resumo. O objetivo deste estudo foi analisar a produção científica sobre a avaliação e a intervenção realizada com pessoas que têm medo ou fo-bia de dirigir. Foram utilizados os descritores ‘medo de dirigir’ e ‘fobia de dirigir’ em português, espanhol e inglês nas bases de dados SciELO, PePSIC, Periódicos CAPES e Google Acadêmico. Foram encontrados 119 estudos e, com base nos critérios de inclusão/exclusão, foram analisados 28 artigos. Os resultados identificaram a predominância de participantes do sexo feminino, na faixa etária de 35 a 45 anos e que aprenderam a dirigir mais tardiamente. Não foram encontradas diferenças estatisticamente sig-nificativas para as variáveis sociodemográficas e para o tempo de licença como motorista. Além disso, nem sempre o medo dirigir decorre de ter sofrido um acidente de trânsito, embora esses motoristas tenham maio-res chances. As situações mais temidas pelas pessoas com medo de diri-gir foram agrupadas em relação à via, ao veículo, às condições climáticas/metereológicas e às condições pessoais/sociais. Foram encontrados apenas sete artigos que traziam informações sobre a construção, a adaptação ou a busca de evidência de validade de instrumentos de avaliação do medo de dirigir. Os estudos de intervenção tiveram como objetivo diminuir ou extinguir o comportamento de evitar dirigir, aumentar o contato com o veículo, aprimorar as habilidades na direção e, consequentemente, a con-fiança em dirigir. As técnicas de tratamento incluíram relaxamento e treino de respiração, dessensibilização in vivo e sistemática e uso de simuladores de direção – VRET. Conclui-se que tem aumentado o interesse dos pesqui-sadores pelo tema, mas que são necessários novos estudos, principalmente no que tange às intervenções terapêuticas.
Palavras-chave: medo, fobia, revisão de literatura.
Avaliação e intervenção para o medo e fobia de dirigir: revisão da literatura
Assessment and intervention for fear and phobia of driving: Literature review
Jocemara Ferreira MognonUniversidade São Francisco e Centro Universitário Unibrasil.
Rua Konrad Adenauer, 442, Tarumã, 82820-540, Curitiba, PR, [email protected]
Acácia Aparecida Angeli dos SantosUniversidade São Francisco. Rua Waldemar César da Silveira, 105, 13045-510, Campinas, SP, Brasil.
Salete Coelho MartinsPsicotran. Rua Buenos Aires, 466 Conj. 155, 80250-070, Curitiba, PR, Brasil.
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Avaliação e intervenção para o medo e fobia de dirigir: revisão da literatura
Segundo o Diagnostic and Statistical Manu-al of Mental Disorders – DSM-5 (APA, 2014), o medo é uma emoção que envolve a percep-ção de um perigo iminente que pode ser real ou imaginário e que serve como uma defesa do organismo. Entretanto, quando se torna exagerado em relação a uma determinada si-tuação, torna-se um transtorno de ansiedade denominado de fobia específica. Dentre os cri-térios diagnósticos, são mencionados: o medo acentuado e persistente diante da presença ou antecipação do estímulo fóbico; medo despro-porcional ao contexto real; persistência do sin-toma por mais de seis meses e, por fim, o fato de ser a causa de prejuízo social e ocupacional. Todavia, o entendimento clínico sobre o medo de dirigir começou a ser discutido apenas no final da década de 1970 e vem se ampliando com o aumento de investigações científicas nessa área, principalmente, a partir dos anos 2000 (Taylor et al., 2007a).
O medo, ou fobia, de dirigir pode variar de um nível leve, tal como uma relutância em dirigir, à evasão completa de condução e, até mesmo, de andar como passageiro em um veí-culo (Taylor et al., 2011). O transtorno é nomea-do de amoxofobia e a sua compreensão tem sido considerada complexa (Taylor et al., 2000), uma vez que esses temores podem ter vários antecedentes (Rovetto, 1983), como uma com-binação de características de fobia, transtorno
de pânico com agorafobia e estresse pós-trau-mático (Ehlers et al., 1994; Taylor et al., 2000).
Inicialmente, o foco do tratamento do medo de dirigir foi voltado para o cuidado de pesso-as que haviam sofrido acidentes de trânsito, mas a literatura tem avançado, mostrando que essa relação nem sempre está presente nos pa-cientes (Taylor et al., 2007a). Segundo Corassa (2000), com base em sua prática clínica, dentre as características mais frequentemente, estão o receio de errar, de ser criticado, de perder o controle do veículo, de sofrer um acidente, de atropelar um pedestre e de se machucar.
Os motoristas com medo de dirigir subes-timam as suas próprias habilidades e acredi-tam que outras pessoas estão observando e avaliando o seu comportamento e os erros que cometeram (Costa et al., 2014). Essa sensação é pertinente, pois, para Bellina (2005), as pessoas são muito críticas com os motoristas que têm medo de dirigir, pois empregam julgamentos considerando fraqueza ou até incompetência, visto que, para quem já tem os comportamen-tos de dirigir automatizados, é difícil enten-der o medo de dirigir. No entanto, não tem ficado claro na literatura se os motoristas com medo de dirigir representam algum risco para o trânsito (Taylor et al., 2011), bem como se a baixa confiança sobre a habilidade na direção desempenha papel no medo de dirigir ou se seria o contrário (Taylor et al., 2007b).
Abstract. The objective of this study was to analyze the scientific production on evaluation and intervention performed with people who are afraid of driving or have driving phobia. The descriptors ‘fear of driving’ and ‘driv-ing phobia’ were used in Portuguese, Spanish and English in the SciELO, PePSIC, CAPES Periodical and Google Academic databases. From the 119 studies found, based on the inclusion/exclusion criteria, 28 articles were an-alyzed. The results identified a predominance of female participants aged 35-45 years who learned to drive later. No statistically significant differences were found for sociodemographic variables and driver license time. In ad-dition, not always fear of driving is due to having suffered a traffic accident, although these drivers have greater probability of being afraid of driving. The most feared situations by people who suffered from fear of driving were grouped in relation to the road, vehicle, weather conditions and personal/social conditions. Only seven articles were found that provided information about the construction, adaptation or search for validity evidence of instru-ments to assess the fear of driving. Intervention studies aimed to reduce or extinguish driving avoidance behavior, increase contact with the vehi-cle, improve driving skills and, consequently, confidence in driving safely. Treatment techniques included relaxation and breathing training, in vivo and systematic desensitization and use of steering simulators – VRET. It is concluded that the researchers’ interest in the subject has increased, but that further studies are needed, especially regarding therapeutic interventions.
Keywords: fear, phobia, literature review.
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Jocemara Ferreira Mognon, Acácia Aparecida Angeli dos Santos, Salete Coelho Martins
Para Marín (2011), o medo de dirigir deve ser uma preocupação social, pois a sua manifes-tação pode ser incapacitante e um perigo para o trânsito, uma vez que, segundo Wald e Taylor (2000), reduz o processamento de informação e pode prejudicar o desempenho na condução, aumentando o risco de erros, a evasão e até os acidentes de trânsito. Entretanto, estudos têm mostrado que o medo aumenta a percepção de risco e faz com que os motoristas evitem situa-ções de risco que possam gerar perigo no trân-sito (Lu et al., 2013; Taylor et al., 2011).
Em termos de tratamento eficaz para o medo de dirigir, primeiramente, é necessá-rio entender a etiologia, a manutenção e suas consequências para o indivíduo (Taylor et al., 2007b). Geralmente, o tratamento envolve atendimento psicoterápico, com base na tera-pia comportamental, utilizando a exposição às situações/objetos temidos, seja pela experiên-cia do sentir e do pensar, pela dessensibiliza-ção in vivo ou pela exposição à realidade vir-tual (VRET) (Haydu et al., 2014; Wald e Taylor, 2003). Atualmente, a VRET tem sido bastante discutida, uma vez que fornece benefícios, tais como um ambiente controlado, padronizado, com possibilidade de repetição da prática e si-tuações que na realidade poderiam ser perigo-sas e temidas pelo paciente, enquanto que as desvantagens são o alto custo e a possibilida-de de não ser realista para todos os pacientes (Costa et al., 2010; Haydu et al., 2014).
Em uma revisão sistemática sobre a eficá-cia da VRET, Costa et al. (2010) concluíram que, após a finalização dos atendimentos, 83% dos motoristas aumentaram a frequência de dire-ção e diminuíram significativamente os escores em angústia, ansiedade na condução, estresse pós-traumático e depressão. Os resultados pro-missores com a VRET impulsionam o desen-volvimento de várias interfaces, que têm sido utilizadas no tratamento do medo de dirigir. Paiva et al. (2007) desenvolveram uma interface em que é possível a criação de rotas customiza-das pelos próprios psicólogos de acordo com o perfil de cada paciente, configurando aspectos externos à rota, tais como tráfego, condições climáticas, quantidade de carros e pedestres nas ruas, se a rota será percorrida ao anoitecer, ou durante o dia, se terá chuva e neblina.
As discussões na literatura sobre o medo de dirigir têm aberto um leque de possibili-dades para a compreensão do fenômeno, as-sim como também para o tratamento desses pacientes. No Brasil, vários são os psicólogos interessados nessa demanda profissional, e já
foram publicados livros descrevendo a práti-ca (Bellina, 2005; Corassa, 2000), e, em 2015, foi realizado o primeiro Congresso Nacional online com foco na superação do medo de di-rigir – CONDIR. Sob essa perspectiva, e con-siderando a importância de reunir e analisar o conhecimento divulgado na literatura foi estabelecido como objetivo realizar um levan-tamento da produção científica sobre o medo de dirigir, focalizando, principalmente, a ava-liação e a intervenção.
Método
Foi realizado um levantamento de estudos utilizando os descritores ‘medo de dirigir’ e ‘fobia de dirigir’ em português, inglês e espa-nhol nas bases de dados Scientific Electronic Library Online (SciELO), Periódicos Eletrôni-cos de Psicologia (PePSIC), Periódicos CAPES e Google Acadêmico no mês de novembro de 2016. Não foi determinado período para que os artigos fossem analisados, na intenção de verificar a amplitude da área. Contudo, foram estabelecidos como critérios de inclusão: (a) apenas artigos científicos com revisão por pa-res, de modo a se selecionar apenas a literatura indexada; (b) com delineamento metodológico (empírico); (c) redigidos nos idiomas portu-guês, inglês e espanhol; d) com temática que envolvesse especificamente o medo ou fobia de dirigir no trânsito. Os critérios de exclusão foram: (a) capítulos de livros, resenhas, mono-grafias, dissertações e teses; (b) artigos que en-volviam também a descrição de outros medos ou transtornos; (c) artigos que ao invés de se referir ao medo de dirigir descrevem sobre o medo em sofrer acidentes, por exemplo.
Foram realizadas as buscas e com base nos títulos e resumos foram recuperados 120 ar-tigos, distribuídos em Periódicos CAPES (n = 106), SciELO (n = 7), PePSIC (n = 1) e Google Acadêmico (n = 6). Verificou-se que do total de artigos, 44 tinham como foco transtornos que poderiam dificultar o ato de dirigir (por exem-plo, síndrome do pânico; depressão). Além disso, 19 deles estavam repetidos na mesma base ou em bases de dados diferentes. Tam-bém foram excluídos 29 estudos que não se re-feriam especificamente ao medo de dirigir em motoristas ou futuros motoristas, mas em ou-tros medos ou fobias, como exemplo, de voar e de sofrer acidentes. Assim, foram analisados na íntegra 28 artigos que foram agrupados em três temas (a) os que descreviam as caracterís-ticas das pessoas com medo de dirigir; (b) os
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Avaliação e intervenção para o medo e fobia de dirigir: revisão da literatura
que tinham como foco a construção e adapta-ção de instrumentos de avaliação do medo de dirigir e (c) os que descreviam intervenções realizadas sobre o medo de dirigir.
Resultados e discussão
Na Tabela 1 são apresentadas as descrições dos artigos da primeira temática que procura-ram analisar as características das pessoas com medo de dirigir. Nela estão também sumariza-das as informações sobre a base de indexação do artigo, autores, ano, objetivo e resultados obtidos nos estudos selecionados.
Como pode ser observado na Tabela 1, fo-ram agrupados 14 artigos, a maioria indexada nas bases de dados Periódicos CAPES (n = 5) e Google Acadêmico (n = 5). Verifica-se que oito estudos foram publicados por pesquisadores da Nova Zelândia, seguido pelos dos Estados Unidos e do Brasil. Neste grupo de artigos analisados, o mais antigo é do ano de 1994, ha-vendo um aumento de publicações depois do ano de 2000. No Brasil, os estudos sobre a ca-racterização dos motoristas com medo de diri-gir são mais recentes, datados a partir de 2013.
Nota-se, a partir da análise dos artigos se-lecionados nesse primeiro agrupamento, que o intuito dos autores foi de buscar compreen-der o fenômeno, descrevendo as característi-cas clínicas e sociodemográficas, bem como os motivos para o desencadeamento do medo dirigir e suas consequências. Na literatura tem sido discutido que o medo ou fobia de dirigir pode causar a perda de autonomia nas ativi-dades cotidianas, constrangimento social e consequentemente, redução na qualidade de vida (Clapp et al., 2011; Costa et al., 2014). De acordo com os estudos, as amostras de mo-toristas com medo de dirigir foram predomi-nantemente constituídas por mulheres (Ehlers et al., 1994; Taylor et al., 1999, 2000, 2008; Ma-rín, 2011), com idades na faixa etária dos 35 a 55 anos (Alpers et al., 2005; Costa et al., 2014; Taylor et al., 1999) e que aprenderam a dirigir mais tardiamente, na faixa etária dos 20 a 30 anos (Marín, 2011; Taylor et al., 2007a). Apesar de que no estudo com motoristas habilitados, Taylor et al. (2007a) não verificaram diferenças significativas para a idade e outras variáveis sociodemográficas, como estado civil, empre-go, tempo de licença como motorista e experi-ência na direção.
Considera-se que a descrição das informa-ções sociodemográficas é relevante para com-preender os aspectos sociais que podem con-
tribuir para o fenômeno. Segundo Almeida et al. (2005), não é possível se estudar o trânsito sem discutir questões de gênero, escolarida-de e o nível socioeconômico. No que se refere ao gênero, por exemplo, os autores afirmam que existem diferenças nos papéis sociais de homens e mulheres motoristas e em suas re-lações com o trânsito. Em muitas situações, as mulheres são desqualificadas como moto-ristas, prevalecendo a crença social de que são piores. Por outro lado, recai sobre os homens a expectativa de que, obrigatoriamente, devem se sair bem como motoristas, o que possivel-mente faz com que tenham maior dificuldade para assumir o seu medo na direção.
Conforme Taylor et al. (1999), existem difi-culdades para estabelecer os motivos do medo de dirigir. Inicialmente a explicação para o medo ficava restrita aos que haviam sofrido acidentes de trânsito, contudo, os estudos de-monstram que nem sempre esse é o motivo para o medo de dirigir (Taylor e Deane, 1999, 2000; Taylor et al., 1999). Entretanto, motoristas que relataram ter sofrido acidentes de trânsito apresentaram maiores chances de desenvolver o transtorno (Barp e Mahl, 2013; Ehlers et al., 1994; Taylor e Deane, 2000). Vale salientar que os estudos, em geral, não investigaram ampla-mente a variável do acidente anterior, escla-recendo, por exemplo, se foi o motorista com medo de dirigir responsável pelo acidente, se ele foi apenas vítima, ou ainda, se apenas pre-senciou um acidente de trânsito. Em acrésci-mo, é importante que seja investigada a gravi-dade do acidente, se houve danos de pequena monta no veículo, perda total, pessoas feridas e/ou mortas, para que se possa compreender as crenças que determinam a formação e a ma-nutenção do medo de dirigir.
A análise dos artigos permitiu agrupar as situações mais temidas pelas pessoas com medo de dirigir: (1) em relação à via, como conduzir por rodovias, pontes, túneis, ruas ín-gremes, intersecções, estacionar, ficar em um engarrafamento, mudar de faixa, dirigir em tráfego intenso, dirigir em lugares desconheci-dos e ficar perdido; (2) em relação ao veículo, ter problemas mecânicos, um carro potente, necessidade de dirigir em alta velocidade e de perder o controle na direção; (3) em relação às condições climáticas e metereológicas, como conduzir com chuva, vento, granizo, neblina e à noite; (4) em relação aos aspectos pessoais e sociais, como a necessidade de uma reação rá-pida e inesperada, de atrapalhar o trânsito, so-frer um acidente de trânsito, sofrer uma lesão,
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Jocemara Ferreira Mognon, Acácia Aparecida Angeli dos Santos, Salete Coelho Martins
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Contextos Clínicos, vol. 10, n. 1, Janeiro-Junho 2017 91
Jocemara Ferreira Mognon, Acácia Aparecida Angeli dos Santos, Salete Coelho Martins
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Contextos Clínicos, vol. 10, n. 1, Janeiro-Junho 201792
Avaliação e intervenção para o medo e fobia de dirigir: revisão da literatura
ferir alguém e ser criticado por outras pessoas (Ehlers et al., 1994; Barp e Mahl, 2013; Cantini et al., 2013b; Costa et al., 2014; Taylor e Deane, 2000; Taylor et al., 2007a, 2000). Entre os receios psicológicos dos motoristas com medo de di-rigir estão: sentir muita ansiedade, apresen-tar uma situação corporal ou mental intensa e desagradável e sofrer um ataque de pânico (Ehlers et al., 1994; Taylor et al., 2007a). Real-mente, estas são situações que podem ocorrer, uma vez que os estudos têm descrito que os motoristas temerosos podem apresentar tam-bém desordem de ansiedade, como traço e como estado, fobia específica, transtorno de pânico e depressão (Alpers et al., 2005; Taylor e Deane, 1999; Taylor et al., 2007a, 2007b, 2008; Taylor e Paki, 2008). Ademais, podem apre-sentar também sintomas fisiológicos intensos como batimento cardíaco, condutância da pele (transpiração) e expiração de dióxido de car-bono (Alpers et al., 2005; Taylor e Deane, 1999).
Dos 14 artigos descritos na Tabela 1, em ape-nas um deles não foi utilizado um instrumento psicométrico para a avaliação do medo de diri-gir. Para Cantini et al. (2013a), os instrumentos psicométricos são fundamentais para o avanço da investigação na área e para a prática clínica, uma vez que eles contribuem para conceituar o transtorno e também para a elaboração do plano terapêutico. No entanto, pelos critérios do levantamento foram encontrados apenas sete artigos que traziam informações sobre a construção, adaptação ou busca de evidência de validade aos instrumentos, como pode ser observado na Tabela 2.
Pelas informações da Tabela 2 verifica-se que ainda há um número pequeno de medidas para avaliação do medo de dirigir, como o Driving Cognitions Questionnaire – DCQ (Ehlers et al., 2007) e o Cuestionario para Evaluar el Miedo a Conducir en Preconductores – CEMICP (Marín, 2011). Também são citados outros questionários desenvolvidos para avaliar aspectos relaciona-dos com o construto, a saber: comportamentos ansiosos na direção, o Driving Behavior Survey – DBS (Clapp et al., 2011) e o comportamento evitativo, Driving and Riding Avoidance Scale – DRAS (Taylor e Sullman, 2008).
Ao analisar o método dos artigos identi-ficou-se a descrição de outros questionários para avaliar o fenômeno do medo de dirigir. Contudo, não foram encontradas publicações específicas relatando a construção ou a busca de evidência de validade para esses instru-mentos. Pode-se citar o Fear of Driving Inven-tory (FDI; Walshe et al., 2003) que mede a an-
siedade em viajar, a esquiva de viagens e as estratégias não adequadas de dirigir. Também há o Driving Situations Questionnaire (DSQ, Eh-lers et al., 1994) que é uma medida que avalia a severidade da ansiedade para dirigir.
Como visto na Tabela 2, há no Brasil dois ins-trumentos adaptados para serem utilizados em pesquisas com pessoas que têm medo de dirigir que estão em fase de estudos de suas evidên-cias de validade (Cantini et al., 2013a; Carvalho et al., 2011). Recentemente, os resultados com o DCQ indicaram boas perspectivas atestando a sua qualidade psicométrica para a avaliação de cognições relativas ao medo de dirigir (Gomes et al., 2015). Assim, acredita-se que brevemente novos estudos se somarão e acrescentarão mais informações sobre o medo de dirigir.
Analisando o nome dos fatores dos instru-mentos descritos na Tabela 2, verifica-se coe-rência com os motivos descritos na literatura para o medo de dirigir. Entretanto, aspectos importantes do transtorno estão distribuídos em diferentes instrumentos. Como por exem-plo, o déficit de desempenho é um fator do DBS; as cognições relativas ao medo de sofrer ataques de pânico no trânsito, o medo de aci-dentes e a crítica social no contexto da direção estão no DCQ; evitação de dirigir em condi-ções de tráfego intenso ou em determinadas condições climáticas no DRAS; a discrimina-ção do que são respostas de ansiedade e de evitação no CEMICP. Assim sendo, seria rele-vante a construção de um instrumento especí-fico para avaliar o medo de dirigir, para uso no Brasil, que abarcasse em seus itens o máximo possível dessas condições.
No que se refere ao tratamento, verificou--se que alguns artigos do levantamento têm discutido, há várias décadas, maneiras mais eficazes para se trabalhar com esse público, especialmente em países da América do Nor-te e da Europa (Wellman, 1978; Rovetto, 1983; Kraft e Kraft, 2004; Wald e Taylor, 2000, 2003; Walshe et al., 2003). No entanto, apesar do pri-meiro estudo localizado ser do final da década de 1970, foram encontrados apenas seis artigos publicados posteriormente a essa data e não há publicações após 2003. Assim, constatou-se que não têm sido relatadas recentemente inter-venções realizadas em pessoas com medo de dirigir, como visto na Tabela 3.
Os estudos descrevendo as intervenções re-alizadas com as pessoas que tem medo de di-rigir variaram em número de sessões, de uma até 19. As estratégias utilizadas no tratamento são em geral: relaxamento e respiração, des-
Contextos Clínicos, vol. 10, n. 1, Janeiro-Junho 2017 93
Jocemara Ferreira Mognon, Acácia Aparecida Angeli dos Santos, Salete Coelho Martins
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Contextos Clínicos, vol. 10, n. 1, Janeiro-Junho 201794
Avaliação e intervenção para o medo e fobia de dirigir: revisão da literatura
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Contextos Clínicos, vol. 10, n. 1, Janeiro-Junho 2017 95
Jocemara Ferreira Mognon, Acácia Aparecida Angeli dos Santos, Salete Coelho Martins
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Contextos Clínicos, vol. 10, n. 1, Janeiro-Junho 201796
Avaliação e intervenção para o medo e fobia de dirigir: revisão da literatura
sensibilização in vivo, dessenbilização sistemá-tica e uso de simuladores de direção – VRET (Kraft e Kraft, 2004; Wald e Taylor, 2000; Wal-she et al., 2003; Wellman, 1978; Rosetto, 1983). Os estudos descrevem, ainda, as reavaliações feitas com os pacientes após a finalização dos atendimentos, para verificar a eficácia do tra-tamento (Wellman, 1978; Wald e Taylor, 2000; Walshe et al., 2003).
Os resultados das avaliações indicaram me-lhora do medo de dirigir nos motoristas após o tratamento e grande ênfase dada para a VRET. No entanto, Wald e Taylor (2003) discutem que o uso isolado de uma estratégia não parece ser suficiente para o tratamento da fobia em al-guns pacientes. Elas devem ser utilizadas até o paciente se sentir mais seguro para iniciar a terapia de exposição in vivo. Além disso, os es-tudos não discutem meticulosamente detalhes da redução do medo, como a frequência na di-reção, situações que antes do tratamento não conseguia realizar e no momento realizam, tais como dirigir em engarrafamentos, rampas (controle da embreagem) e mudanças de fai-xa. Isso é importante, pois, o medo de dirigir é complexo e o tratamento deve envolver mui-to mais do que apenas dessensibilização de algumas situações de medo, mas possibilitar que condições importantes como o treino de habilidades motoras, sensoriais e cognitivas; o conhecimento do veículo e informações sobre trânsito, com suas implicações preventivas, defensivas e punitivas.
No estudo de Taylor et al. (2007a) foi possí-vel verificar que apesar das pessoas com medo de dirigir terem compartilhado o problema com familiares e amigos, muitos mostraram-se resistentes a procurar atendimento e declara-ram que não procurariam ajuda médica/psico-lógica. Em razão da resistência de pessoas com medo de dirigir para reconhecerem que preci-sam de ajuda profissional para lidarem com a situação é importante que haja maior divulga-ção sobre o tratamento e a sua eficácia. Como verificado por Barp e Mahl (2013), as maneiras para diminuir e/ou extinguir o medo de diri-gir, são o tratamento psicoterápico com estra-tégias que reduzam a ansiedade e favoreçam o aumento da confiança em dirigir por meio do treino das habilidades de direção, com um instrutor qualificado e paciente.
Considerações finais
O objetivo deste estudo foi analisar a pro-dução científica sobre avaliação e intervenção
em pessoas com medo de dirigir, questão que tem suscitado cada vez mais interesse de pes-quisadores e profissionais sobre essa questão. Com base nas publicações, foi possível veri-ficar que as características das pessoas com medo de dirigir envolvem, primordialmente, a preocupação com (a) manifestações específi-cas da sua própria ansiedade; (b) condições da via e do veículo e (c) aspectos relativos ao meio social. Também, fica evidente a necessidade da construção de instrumentos psicométricos que avaliem de fato o medo ou fobia de dirigir, considerando especificamente características do trânsito da realidade brasileira. Recente-mente foi publicado um estudo de evidência de validade para o Driving Cognitions Ques-tionnaire – DBQ no Brasil (Gomes et al., 2015), sendo necessário que o mesmo ocorra com o Driving Behavior Survey (DBS; Cantini et al., 2013a), que já foi adaptado para o português.
Os relatos sobre as intervenções demons-tram que, geralmente, o plano terapêutico tem como objetivo diminuir ou extinguir o com-portamento de evitar dirigir. Dessa forma, procuram aumentar o contato com o veículo, o aprimoramento das habilidades na direção e a confiança em dirigir com segurança. Im-portante ressaltar que não foi possível dimen-sionar o trabalho interventivo que tem sido realizado com esse público recentemente, uma vez que as últimas publicações encontradas são de 2003 (Wald e Taylor, 2003; Walshe et al., 2003). Seria necessário que os psicólogos que atuam na prática divulgassem as intervenções terapêuticas que utilizam e a eficácia dessas estratégias no tratamento do medo de dirigir, principalmente, no Brasil.
Os resultados dos artigos analisados que apresentam as características das pessoas com medo de dirigir, bem como as intervenções, não discutem os fenômenos psicológicos que aparecem com frequência durante os atendi-mentos clínicos com pessoas com medo de di-rigir, tais como a preocupação excessiva com perfeccionismo e o medo da crítica (Corassa, 2000). Como agenda de pesquisa para estudos futuros, seria relevante ampliar o foco para essas características, que podem ser particula-ridades de transtornos como o obsessivo com-pulsivo, de ansiedade e de depressão (DSM-5; APA, 2014). Outro aspecto interessante a ser investigado diz respeito à compreensão sobre como alguns motoristas, que apesar de se sen-tirem ansiosos na direção, conseguem dirigir com segurança e se percebem como bons mo-toristas (Clapp et al., 2011).
Contextos Clínicos, vol. 10, n. 1, Janeiro-Junho 2017 97
Jocemara Ferreira Mognon, Acácia Aparecida Angeli dos Santos, Salete Coelho Martins
Valeria, também, investigar o aprendizado dos motoristas com medo de dirigir durante o processo de habilitação, que pode ter sido deficitário, bem como suas crenças e as suas habilidades na direção, uma vez que eles po-dem se perceber como que não tendo domínio do veículo e conhecimentos para dirigir (Can-tini et al., 2013b); ou baixa autoeficácia para dirigir (Mognon e Santos, 2016). Relevante, ainda, é avaliar o impacto das relações sociais sobre o indivíduo, o medo de ser pressiona-do, atrapalhar o trânsito, de ser hostilizado ou ridicularizado com palavras ou olhares, seja por parte dos familiares, cônjuge ou ou-tros motoristas. Enfim, nas intervenções com os motoristas com medo de dirigir é necessá-rio compreender tanto os aspectos cognitivos, como os emocionais que mantêm muitos des-ses comportamentos.
Nos estudos sobre o perfil dos motoristas foram utilizados instrumentos psicométricos que, por um lado, contribuem para que os achados sejam replicáveis e que abranjam um número maior de pessoas. Por outro lado, difi-cultam a investigação mais aprofundada e/ou individualizada de alguns aspectos que só um método qualitativo permitiria. Assim, seriam relevantes estudos com delineamento metodo-lógico mistos, envolvendo diversas estratégias de coletas de dados com o uso, por exemplo, de instrumentos psicológicos, entrevistas e uso de simuladores de direção. À guisa de conclusão, verifica-se não há somente o au-mento do interesse dos pesquisadores, princi-palmente no que tange à avaliação do perfil de motoristas com medo de dirigir, com o uso de instrumentos psicológicos, como também o de psicólogos clínicos para atuarem neste contex-to, embora ainda sejam escassas as descrições de intervenções terapêuticas.
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Submetido: 16/12/2016Aceito: 09/03/2017