AVALIAÇÃO FÍSICO -QUÍMICA E MICROBIOLÓGICA DE LODO …

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO FACULDADE DE ARQUITETURA, ENGENHARIA E TECNOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA DE EDIFICAÇÕES E AMBIENTAL AVALIAÇÃO FÍSICO-QUÍMICA E MICROBIOLÓGICA DE LODO ANTIGO PROVENIENTE DE UM SISTEMA DE LAGOAS DE ESTABILIZAÇÃO USADO PARA TRATAMENTO DE EFLUENTES DE INDÚSTRIAS FRIGORÍFICAS RICARDO DE SOUSA CARNEIRO Cuiabá, MT 2014

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO

FACULDADE DE ARQUITETURA, ENGENHARIA E TECNOLOGIA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA DE EDIFICAÇÕES E

AMBIENTAL

AVALIAÇÃO FÍSICO-QUÍMICA E MICROBIOLÓGICA DE LODO ANTIGO

PROVENIENTE DE UM SISTEMA DE LAGOAS DE ESTABILIZAÇÃO USADO

PARA TRATAMENTO DE EFLUENTES DE INDÚSTRIAS FRIGORÍFICAS

RICARDO DE SOUSA CARNEIRO

Cuiabá, MT

2014

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RICARDO DE SOUSA CARNEIRO

AVALIAÇÃO FÍSICO-QUÍMICA E MICROBIOLÓGICA DE LODO ANTIGO

PROVENIENTE DE UM SISTEMA DE LAGOAS DE ESTABILIZAÇÃO USADO

PARA TRATAMENTO DE EFLUENTES DE INDÚSTRIAS FRIGORÍFICAS

Dissertação apresentada junto ao Programa de Pós-

Graduação em Engenharia de Edificações e Ambiental da

Universidade Federal de Mato Grosso, como requisito à

obtenção do título de Mestre.

Área de concentração:

Tecnologia Ambiental

Orientador:

Prof. Dr. Luiz Airton Gomes

Cuiabá, MT

2014

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Dados Internacionais de Catalogação na Fonte.

Ficha catalográfica elaborada automaticamente de acordo com os dados fornecidos pelo(a) autor(a).

Permitida a reprodução parcial ou total, desde que citada a fonte.

D278a de Sousa Carneiro, Ricardo.AVALIAÇÃO FÍSICO-QUÍMICA E MICROBIOLÓGICA DE LODO ANTIGO

PROVENIENTE DE UM SISTEMA DE LAGOAS DE ESTABILIZAÇÃO USADOPARA TRATAMENTO DE EFLUENTES DE INDÚSTRIAS FRIGORÍFICAS /Ricardo de Sousa Carneiro. -- 2014

75 f. : il. color. ; 30 cm.

Orientador: Luiz Airton Gomes.Dissertação (mestrado) – Universidade Federal de Mato Grosso, Faculdade de

Arquitetura, Engenharia e Tecnologia, Programa de Pós-Graduação em Engenharia deEdificações e Ambiental, Cuiabá, 2014.

Inclui bibliografia.

1. Biossólidos. 2. Patógenos em lodos. 3. Efluente de indústrias frigoríficas. I.Título.

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DEDICATÓRIA

Aos que se preocuparam em essencial pela minha

educação, proporcionando a minha formação acadêmica e

que me ajudaram em praticamente tudo o que sou. Meus

Pais, o Sr. Eduardo e a Sr.ª Liana.

À minha esposa Ana Cláudia, companheira no

amor, na vida e nos sonhos, que sempre me apoiou nas

horas difíceis e compartilhou comigo as alegrias.

Às minhas filhas Ester e Sara, inspiração de vida.

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AGRADECIMENTOS

Aos idealizadores, coordenadores e funcionários do Programa de Pós Graduação em

Engenharia de Edificações e Ambiental da Universidade Federal de Mato Grosso,

principalmente aos Professores que se dedicaram com entusiasmo durante o curso.

Ao meu orientador, Prof. Dr. Luiz Airton Gomes, por seus ensinamentos, conselhos e

auxílios a mim cedidos nessa caminhada.

Aos Professores Dra. Marta Regina Lopes Tocchetto, Dr. José Manoel Henriques de

Jesus e Dra. Carla Maria Abido Valentini, pelo aceite dos convites para participação na banca

examinadora, por suas contribuições e pelo enriquecimento deste trabalho.

Aos meus companheiros de mestrado, que conduziram a caminhada do programa de

mestrado com comunhão e auxílio aos colegas.

À colega e veterana no curso Anelise Almeida Yano pelos conselhos e colaborações.

Aos colaboradores do complexo de indústrias, área de estudo, pela disponibilidade,

auxílio e prestação de informações que foram essenciais para elaboração desse trabalho.

Enfim, por todos que colaboraram de forma direta e indireta para esse trabalho.

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Epígrafe

“...Quando a última árvore for cortada, quando o

último rio for poluído, quando o último peixe for pescado,

aí sim eles verão que dinheiro não se come...” (Seatle,

Chefe dos Índios Suquamish, 1854)

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RESUMO

Indústrias frigoríficas estão inseridas como o mais frequente empreendimento industrial em

Mato Grosso justificado, principalmente, pela agropecuária ser a principal atividade

econômica no Estado, tornando os abatedouros uma opção para agregar valor ao que aqui é

criado, principalmente na produção de bovinos e aves. Intrínseco a indústria frigorífica está a

geração de efluente, que precisa ser tratado antes da sua disposição no solo ou em corpos

d’água. Lagoas de estabilização constitui o principal tipo de tratamento de efluente presente

em frigoríficos no Estado. Este tipo de tratamento gera um resíduo semissólido denominado

lodo. Este subproduto pode ser rico em nutrientes tornando-o um material que é denominado

biossólido. Entretanto, para receber tal denominação o lodo de lagoas de estabilização deve

apresentar características químicas e biológicas compatíveis com sua utilização. Estas

características são também relevantes quanto à patogenicidade. No Brasil, a Resolução

CONAMA 375/2006 estabelece parâmetros de concentração de microrganismos para

utilização de lodo gerado em sistemas de tratamento de efluentes como fonte de nutrientes

para o solo. Em Várzea Grande – MT um complexo de Indústrias Frigoríficas, instalado desde

o fim dos anos 70, destinou seus efluentes gerados a um sistema de tratamento de efluentes

composto por lagoas de estabilização contendo duas lagoas anaeróbias, uma lagoa facultativa

e uma lagoa de maturação. Em janeiro de 2012 este tratamento de efluentes foi desativado e

substituído por outro em outra área, o lodo presente no sistema foi reunido nas duas lagoas

aeróbias objetivando sua estabilização, desidratação e inertização de patógenos. Diante deste

contexto, este trabalho avaliou quali-quantitativamente o lodo acumulado das lagoas de

estabilização do complexo de indústrias com vistas à disposição final no solo. Para tal, foram

realizados dois estudos de batimetria, um em outubro de 2012 e outro em janeiro de 2014, a

determinação das variáveis físico-químicas de SST, pH, DBO, Nitrogênio e Fósforo e a

determinação das concentrações de Ovos de Helmintos, Coliformes Termotolerantes e

Salmonellas junto ao segundo teste de batimetria. Por fim, conclui-se que o lodo reunido nas

lagoas anaeróbias reduziu em aproximadamente 30% seu volume, possui concentração

satisfatória de nitrogênio se comparado a outros materiais utilizados como biossólidos, porém

pobre em fósforo realizando a mesma comparação. Está ausente de Salmonellas e possui alto

teor de umidade, próximo de 98% e concentrações dos microrganismos coliformes

termotolerantes e ovos de helmintos acima do permitido pela Resolução CONAMA 375/2006

o que inviabiliza, por hora, a sua utilização no solo. Também foi determinado, em função de

formulações apresentadas na metodologia e das condições locais, que até fevereiro de 2015 o

lodo possuirá umidade próxima de 70%. Sugestões para aceleração do desaguamento e

inertização também estão presentes neste trabalho.

Palavras Chave: Biossólidos; Patógenos em lodos; Destinação de lodo de ETE.

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ABSTRACT

Slaughterhouses are inserted as the most frequent industrial enterprise in Mato Grosso

justified mainly by agriculture is the main economic activity in the state, making

slaughterhouses an option to add value to what is created here, especially in the production of

cattle and poultry. Intrinsic to the slaughter industry is the generation of wastewater that must

be treated prior to disposal in soil or water bodies. Stabilization ponds are the main type of

treatment of this effluent in refrigerators in the state. This type of treatment generates a semi-

solid residue called sludge. This by-product can be rich in nutrients making it a material that

is called biosolids. However, to receive this designation sludge stabilization ponds shall

provide chemical and biological characteristics consistent with its use. These characteristics

are also relevant as to pathogenicity. In Brazil, the CONAMA Resolution 375/2006

establishes parameters for concentration of microorganisms for use of sludge generated in

wastewater treatment systems as a source of nutrients to the soil. In Várzea Grande – MT a

complex of industries slaughter, installed since the late '70s, their effluents destined to a

wastewater treatment system consisting of stabilization ponds containing two anaerobic

ponds, a facultative pond and maturation pond. In January 2012 this treatment effluent was

deactivated and replaced by another in another area, the sludge present in the system was

assembled in both aerobic lagoons aiming its stabilization, dewatering and blanketing of

pathogens. Given this context, this study evaluated qualitative and quantitatively the

accumulated sludge from the waste stabilization ponds of complex industries with a view to

disposal in soil. To this end, two studies bathymetry, one in October 2012 and another in

January 2014, the determination of physico-chemical parameters of TSS, pH, BOD, COD,

nitrogen and phosphorus concentrations and the determination of helminth eggs were

performed , thermotolerant coliforms and Salmonella with the second test bathymetry.

Finally, it is concluded that the sludge collected in anaerobic pounds reduced by

approximately 30% in volume, has satisfactory nitrogen concentration compared to other

materials used as biosolids, but poor in phosphorus performing the same comparison.

Salmonella is absent and has high moisture content, around 98%, and concentrations of

thermotolerant coliform microorganisms and helminth eggs above those permitted by

CONAMA Resolution 375/2006 which prevents, for now, their use in soil. Was also

determined according to the methodology presented formulations and local conditions, that

until February 2015 the sludge possess humidity close to 70%. Suggestions for accelerated

dewatering and blanketing are also present in this work.

Keywords: Biosolids; Pathogens in sludge; Disposal of sludge STE

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 – Esquema simplificado do funcionamento de uma lagoa facultativa ...................... 19

Figura 2 – Composição do lodo conforme os sólidos presentes .............................................. 30

Figura 3 – Planta de um adensador por gravidade com raspador mecânico ............................ 33

Figura 4 – Corte de um adensador por gravidade com raspador mecânico ............................. 34

Figura 5 – Esquema de um sistema de flotação a ar dissolvido .............................................. 34

Figura 6 – Esquema do interior de uma centrífuga ................................................................. 35

Figura 7 – Esquema de funcionamento de um filtro prensa .................................................... 36

Figura 8 – Esquema de uma prensa desaguadora .................................................................... 37

Figura 9 – Corte transversal esquemático de leito de secagem com pavimento de tijolos ...... 38

Figura 10 – BAG de desaguamento e desidratação de lodos de ETE ..................................... 40

Figura 11 – Localização do complexo de indústrias frigoríficas ............................................. 42

Figura 12 – Delimitação do perímetro do empreendimento .................................................... 43

Figura 13 – Localização das indústrias dentro do complexo ................................................... 44

Figura 14 – Localização das ETEs ........................................................................................... 45

Figura 15 – Concepção do sistema de tratamento de efluentes do complexo de industriais

frigoríficas até 2008 .................................................................................................................. 46

Figura 16 – Sistema de tratamento de efluentes do complexo de industriais frigoríficas de

2008 a 2010 .............................................................................................................................. 47

Figura 17 – Sistema atual de tratamento de efluentes do complexo de industriais ................. 48

Figura 18 – Distribuição dos pontos de coleta nas lagoas anaeróbias durante o primeiro teste

de batimetria ............................................................................................................................ 50

Figura 19 – Distribuição dos pontos de coleta na lagoa facultativa durante o primeiro teste de

batimetria ................................................................................................................................. 50

Figura 20 – Distribuição dos pontos de na lagoa de maturação durante o primeiro teste ....... 51

Figura 21 – Lagoa anaeróbia 1 durante o primeiro teste de batimetria ................................... 51

Figura 22 – Lagoa anaeróbia 2 durante o primeiro teste de batimetria ................................... 51

Figura 23 – Lagoa facultativa durante o primeiro teste de batimetria ...................................... 51

Figura 24 – Lagoa de maturação durante o primeiro teste de batimetria ................................. 51

Figura 25 – Tecido branco felpudo para fixação do lodo. ........................................................ 52

Figura 26 – Tubo revestido com manta acrílica ....................................................................... 52

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Figura 27 – Distribuição dos pontos de coleta nas lagoas anaeróbias durante o segundo teste

de batimetria ............................................................................................................................ 52

Figura 28 – Lagoa anaeróbia 1 durante o segundo teste de batimetria .................................... 53

Figura 29 – Lagoa anaeróbia 1 durante o segundo teste de batimetria .................................... 53

Figura 30 – Lodo seco na superfície das lagoas ...................................................................... 53

Figura 31 – Efluente na superfície da lagoa ............................................................................ 53

Figura 32 – Elementos geométricos de um trapézio isósceles resultante do corte longitudinal

da lagoa .................................................................................................................................... 54

Figura 33 – Elementos geométricos de topo de pirâmide ....................................................... 54

Figura 34 – Tubos para coleta ................................................................................................. 55

Figura 35 – Construção do coletor .......................................................................................... 55

Figura 36 – Construção da sucção ........................................................................................... 56

Figura 37 – Extremidade coletora ........................................................................................... 56

Figura 38. Distribuição vertical dos pontos de coleta ............................................................. 56

Figura 39 – Recipientes utilizados para coleta ........................................................................ 57

Figura 40 – Frascos de acondicionamento das amostras ......................................................... 57

Figura 41 – Representação das camadas da Lagoa Anaeróbia 1 durante o primeiro teste de

batimetria ................................................................................................................................. 60

Figura 42 – Representação das camadas da Lagoa Anaeróbia 2 durante o primeiro teste de

batimetria ................................................................................................................................. 60

Figura 43 – Representação das camadas da Lagoa Facultativa durante o primeiro teste de

batimetria ................................................................................................................................. 61

Figura 44 – Representação das camadas da Lagoa de Maturação durante o primeiro teste de

batimetria ................................................................................................................................. 61

Figura 45 – Representação das camadas da Lagoa Anaeróbia 1 durante o segundo teste de

batimetria ................................................................................................................................. 62

Figura 46 – Representação das camadas da Lagoa Anaeróbia 2 durante o segundo teste de

batimetria ................................................................................................................................. 62

Figura 47 – Lodo sobre o solo na área da Lagoa Facultativa .................................................. 63

Figura 48 – Lodo sobre o solo na área da Lagoa de Maturação ............................................... 63

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Teor de nutrientes de lodos em concentrações de nitrogênio e fósforo .................. 26

Tabela 2 – Composição de nutrientes em diferentes tipos de lodo e materiais orgânicos ...... 26

Tabela 3 – Classificação de lodo de esgoto ou produto derivado em função da concentração de

agentes patogênicos ................................................................................................................. 29

Tabela 4 – Faixas de relação SV/ST em diversos tipos de lodo .............................................. 31

Tabela 5 – Teor de sólidos secos presente em lodo de efluentes e sua consistência ............... 31

Tabela 6 – Métodos das variáveis físico–químicas ................................................................. 57

Tabela 7 – Métodos das variáveis microbiológicas ................................................................. 58

Tabela 8 – Caracterização Físico Química da Lagoa Anaeróbia 1........................................... 64

Tabela 9 – Caracterização Físico Química da Lagoa Anaeróbia 2........................................... 64

Tabela 10 – Análise Quali–Quantitativa do lodo .................................................................... 66

Tabela 11 – Carga e concentração de Nitrogênio e Fósforo no lodo das lagoas anaeróbias ... 66

Tabela 12 – Análises Microbiológicas da Lagoa Anaeróbia 1 ................................................. 67

Tabela 13 – Análises Microbiológicas da Lagoa Anaeróbia 2 ................................................. 67

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

CETESB – Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental de São Paulo

CONAMA – Conselho Nacional de Meio Ambiente

DBO – Demanda Bioquímica de Oxigênio

DQO - Demanda Química de Oxigênio

ETE – Estação de Tratamento de Esgoto

NMP – Número mais Provável

OD - Oxigênio Dissolvido

pH - Potencial Hidrogeniônico

PIB – Produto Interno Bruto

SANEPAR – Companhia de Saneamento Básico do Paraná

UFF - Unidade formadora de foco

UFP – Unidade formadora de placa

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................... 15

1.1 Delimitação da Pesquisa e Justificativa .......................................................................... 15

1.2 Questão de Pesquisa ....................................................................................................... 16

1.2.1 Objetivo Geral ............................................................................................................. 16

1.2.2 Objetivos Específicos .................................................................................................. 16

1.3 Estrutura do Trabalho ..................................................................................................... 17

2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ....................................................................................... 18

2.1 Estações de Tratamento de Efluentes ............................................................................. 18

2.2 Lagoas de Estabilização.................................................................................................. 18

2.2.1 Lagoas Facultativas ..................................................................................................... 19

2.2.2 Lagoas Anaeróbias ...................................................................................................... 20

2.2.3 Lagoas de Maturação ................................................................................................... 20

2.2.4 Arranjo de Lagoas ....................................................................................................... 21

2.2.5 Eficiência e Padrões de Lançamento ........................................................................... 21

2.3 Lodos de Sistemas de Tratamento de Efluentes ............................................................. 22

2.3.1 Produção de Lodo em Lagoas de Estabilização .......................................................... 22

2.3.2 Principais Constituintes do Lodo ................................................................................. 24

2.3.2.1 Metais Pesados ......................................................................................................... 24

2.3.2.2 Nutrientes ................................................................................................................. 25

2.3.2.3 Microrganismos Patogênicos .................................................................................... 27

2.4 Tratamento do Lodo ....................................................................................................... 29

2.4.1 Composição de Água e Sólidos nos Lodos de Estações de Tratamento ..................... 30

2.4.2 Estabilização do Lodo ................................................................................................. 32

2.4.3 Remoção de Umidade .................................................................................................. 32

2.4.4 Higienização de Lodos ................................................................................................ 40

3. METODOLOGIA DE PESQUISA ................................................................................ 42

3.1 Área de Estudo ............................................................................................................... 42

3.1.1 Frigorífico de Aves ...................................................................................................... 43

3.1.2 Frigorífico de Bovinos ................................................................................................. 43

3.1.3 Fábricas de Derivados Cárneos ................................................................................... 44

3.1.4 Sistema de Tratamento de Efluentes ........................................................................... 45

3.2 Avaliação Quantitativa do Lodo ..................................................................................... 49

Page 15: AVALIAÇÃO FÍSICO -QUÍMICA E MICROBIOLÓGICA DE LODO …

3.2.1 Primeiro Teste de Batimetria ....................................................................................... 49

3.2.2 Segundo Teste de Batimetria ....................................................................................... 52

3.3 Avaliação da Qualidade do Lodo ................................................................................... 55

3.3.1 Coleta das Amostras .................................................................................................... 55

3.3.2 Métodos de Análises dos Parâmetros Físico Químicos ............................................... 57

3.3.3 Métodos de Análise Microbiológica ........................................................................... 57

3.4 Avaliação das Condições Quali-Quantitativas do Lodo ................................................. 58

4. RESULTADOS E DISCUSSÕES .................................................................................. 60

4.1 Análise Quantitativa ....................................................................................................... 60

4.1.1 Primeiro Teste Quantitativo do Lodo .......................................................................... 60

4.1.2 Segundo Teste Quantitativo do Lodo .......................................................................... 61

4.1.3 Consolidação da Quantificação do Lodo ..................................................................... 62

4.2 Resultados das Análises Físico Químicas ...................................................................... 64

4.2.1 Avaliação das Condições do Lodo Considerando a Concentração de Sólidos............ 65

4.2.2 Discussão dos Resultados das Análises Físico Químicas ............................................ 66

4.3 Resultados Microbiológicos ........................................................................................... 67

5. ESTIMATIVA PARA A REDUÇÃO DE VOLUME DE LODO ............................... 68

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS E RECOMENDAÇÕES ............................................... 72

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................................... 74

Page 16: AVALIAÇÃO FÍSICO -QUÍMICA E MICROBIOLÓGICA DE LODO …

15

1. INTRODUÇÃO

De acordo com dados do IBGE registrados no censo de 2010, a agropecuária, apesar

de corresponder a 28,1% das riquezas de Mato Grosso, é a principal atividade econômica,

pois o setor de serviços, que contribui com 55,5% no PIB do estado, e o industrial, que

contribui com 16,4%, estão diretamente ligados a ela. A indústria mato-grossense é voltada

principalmente ao setor alimentício e a atividade frigorífica é a principal dentro deste gênero.

A indústria frigorífica, desde o abate até o produto já embalado, produz efluentes que

necessitam de tratamento antes de serem diluídos em corpos d’água ou enviados a outra forma

de destinação adequada. Dentre os vários processos de tratamento de esgoto industrial o mais

utilizado em frigoríficos no Estado é o de Lagoas de Estabilização.

As principais vantagens de um sistema de lagoas são a facilidade de construção,

operação e manutenção e respectivos custos reduzidos, além da sua satisfatória resistência a

variações de carga. Uma grande desvantagem é a necessidade de grandes áreas para a

construção. (VON SPERLING, 2001).

A operação de lagoas de estabilização, de modo geral, necessita de uma solução para o

desaguamento e disposição do lodo quando esse se encontra em excesso nas lagoas, passando

a prejudicar seu desempenho. A maioria dos projetos de tratamento não contempla o destino

final do lodo produzido, podendo com isso anular parcialmente os benefícios da coleta e do

tratamento dos efluentes. O lodo de lagoas de estabilização também é um problema quando

ocorre o encerramento e desativação do sistema, tornando-se um passivo ambiental que

precisa ser tratado e destinado de maneira adequada.

Uma possibilidade de manejo, tratamento e destinação de lodo proveniente de sistemas

de lagoas de estabilização seria, após a sua estabilização, redução de umidade e higienização,

a incorporação no solo como forma de repositor de nutrientes.

1.1 Delimitação da Pesquisa e Justificativa

Um complexo de indústrias frigoríficas, localizada no município de Várzea Grande,

foi instalado no fim dos anos 70 e destinou, desde sua instalação até janeiro de 2012, seus

efluentes a um sistema de lagoas de estabilização com arranjo do tipo australiano e forma de

operação em série contendo duas lagoas anaeróbias, uma lagoa facultativa e uma lagoa de

maturação.

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16

Fazem parte do complexo industrial um abatedouro de aves, um frigorífico de bovinos

e sua desossa, uma fábrica de alimentos enlatados de origem animal e uma fábrica de

produtos assados e grelhados de origem animal.

O sistema de tratamento por lagoas de estabilização foi totalmente desativado em

janeiro de 2012. Desde então, o efluente gerado no complexo de indústrias passou a ser

destinado para um sistema composto por lodos ativados. O encerramento do sistema de lagoas

de estabilização, a destinação final do lodo e a descaracterização da área onde este sistema

estava instalado, fazem parte de um Termo de Ajustamento de Conduta para recuperação

ambiental do local.

Desde a desativação o lodo presente nas lagoas de estabilização foi reunido nas lagoas

anaeróbias objetivando uma possível estabilização natural para, posteriormente, ser

incorporado no solo como forma de destinação e aproveitamento de seus nutrientes.

Sendo assim, este estudo objetiva avaliar quantitativamente e qualitativamente este

lodo, comparando com os parâmetros estabelecidos pela Resolução CONAMA 375/2006 que

define critérios e procedimentos, para o uso agrícola de lodos de esgoto gerados em estações

de tratamento de esgoto sanitário e seus produtos derivados.

Espera-se assim contribuir para tomadas de decisões ambientalmente corretas em

relação à disposição de lodo de lagoas de estabilização.

1.2 Questão de Pesquisa

Questão que envolve a pesquisa: É possível afirmar que o lodo gerado nas lagoas de

estabilização do complexo de indústrias em estudo, após a desativação do sistema e da sua

reunião nas lagoas anaeróbias, está estabilizado e é biologicamente seguro para ser destinado

ao solo como forma de reposição de nutrientes?

1.2.1 Objetivo Geral

Avaliação quali-quantitativa do lodo acumulado nas lagoas de estabilização do

complexo de indústrias em estudo com vistas à disposição final no solo.

1.2.2 Objetivos Específicos

Os objetivos específicos visam:

Determinar o percentual de redução de lodo após a desativação do sistema de lagoas;

Determinar as variáveis físico-químicas de SST, pH, DBO, Nitrogênio e Fósforo para

avaliar a sua estabilização, desidratação e potencial de nutrientes;

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17

Avaliar a patogenicidade do lodo quanto às variáveis Ovos de Helmintos, Coliformes

Termotolerantes e Salmonellas.

1.3 Estrutura do Trabalho

O trabalho está dividido em seis capítulos: Introdução, Revisão Bibliográfica,

Metodologia de Pesquisa, Resultados e Discussão, Considerações Finais e Recomendações e

Referências Bibliográficas.

A introdução aborda o trabalho a ser realizado de um modo geral, seguido da

problemática, da questão de pesquisa, dos objetivos gerais e específicos além da estrutura

geral do trabalho.

Na revisão bibliográfica são apresentados os conceitos relativos à geração e tratamento

de lodo gerado em lagoas de estabilização. O texto apresenta uma revisão do que são lagoas

de estabilização e de como o lodo é gerado neste sistema. Após, são apresentadas informações

sobre os constituintes físico-químicos e microbiológicos do lodo. Por fim, o capítulo

apresenta as técnicas e procedimentos aplicáveis no manejo e tratamento do lodo objetivando

a sua estabilização, desidratação e higienização.

No capítulo três é apresentada a metodologia de pesquisa com informações detalhadas

sobre o local de estudo e problemática de pesquisa: primeiro estudo quantitativo de lodo,

desativação do sistema, reunião do lodo, segundo estudo quantitativo e estudo qualitativo.

Além das técnicas utilizadas para quantificação e qualificação do lodo.

Em resultados e discussões são apresentadas as quantificações do lodo realizadas em

dois momentos, uma em outubro de 2010 e outra em janeiro de 2014 e, também as

considerações quanto à redução do volume ocorrido. Também serão apresentados os

resultados do estudo qualitativo do lodo realizado em janeiro de 2014 e suas respectivas

discussões quanto à estabilização do lodo, sua umidade e seu potencial de nutrientes. Por fim,

são apresentados estudos que determinam em quanto tempo o lodo reunido estará com

umidade ideal para ser incorporado no solo e de como deverá ocorrer a sua higienização antes

desta operação.

Em considerações finais e recomendações são apresentados os resultados de maneira

associada aos objetivos propostos e a conclusão do trabalho quanto à questão de pesquisa.

Por fim, o capítulo de referências bibliográficas apresenta as fontes e autores que dão

suporte ao trabalho.

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18

2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1 Estações de Tratamento de Efluentes

A principal função de uma estação de tratamento de esgoto é a preservação dos

recursos naturais e também da saúde humana. Segundo Almeida (2005) os projetos de

esgotamento sanitário, juntamente com as estações de tratamento de efluentes, têm a função

de minimizar os efeitos do lançamento do esgoto in natura no ambiente, permitindo assim a

redução dos índices de doenças e de perigo à saúde da população e a melhoria de qualidade

das águas.

Quando a matéria orgânica, presente nos esgotos, é lançada em um rio, parte do

mesmo sofre processo natural de degradação denominado autodepuração. O processo de

autodepuração da matéria orgânica ocorre, dentre outros, por mecanismos biológicos de

microrganismos que se desenvolvem naturalmente sob condições favoráveis à sua reprodução.

Os maiores responsáveis por esta depuração da matéria orgânica são os microrganismos

decompositores, bactérias e fungos. (NUVOLARI, 2011).

O sistema de tratamento artificial de uma estação copia os fenômenos naturais de

autodepuração biológica dos corpos d'água receptores de despejos contendo matéria orgânica

depurável. Com o lançamento contínuo de despejos sem tratamento nos corpos receptores,

pode ocorrer o esgotamento do oxigênio dissolvido, como consequência da estabilização da

matéria orgânica, provocando a morte de microrganismos aquáticos, peixes e de vegetais,

inviabilizando os corpos d'água para abastecimento e recreação. (JORDÃO e PESSÔA,

2009).

Para que o sistema de tratamento seja eficiente na remoção de materiais indesejáveis, o

projeto é baseado principalmente nas condições de sobrevivência e reprodução dos

microrganismos responsáveis pela degradação do material poluente.

2.2 Lagoas de Estabilização

Não se sabe exatamente quando, mas o homem percebeu que certos lagos nos quais

eram lançados esgotos em quantidades compatíveis, havia certa depuração natural. Assim

surgiram as lagoas de estabilização. Os primeiros registros no Brasil surgiram na década de

1960, com as lagoas de São José dos Campos - SP e que hoje já podem ser estimadas em mais

de 700 unidades em todo País. (NUVOLARI, 2011).

As lagoas de estabilização são grandes tanques escavados no solo, nos quais os

esgotos fluem continuamente e são tratados por processos naturais. Bactérias e algas são os

Page 20: AVALIAÇÃO FÍSICO -QUÍMICA E MICROBIOLÓGICA DE LODO …

19

microrganismos que habitam as lagoas, coexistindo em um processo de simbiose e, desta

forma, tratando os esgotos através da decomposição da matéria orgânica pelas bactérias.

(VON SPERLING, 2001).

2.2.1 Lagoas Facultativas

As lagoas facultativas são unidades de estabilização projetadas para que o tratamento

do esgoto proceda de maneira natural por meio do sincronismo de condições propicias à

sobrevivência de algas e bactérias. Neste tipo de lagoa, as bactérias aeróbias irão degradar a

matéria orgânica solúvel presente no esgoto, consumindo o oxigênio livre disponível na água

e resultando como subprodutos; água, gás carbônico e nutrientes. Por sua vez, as algas

consumirão os nutrientes e o gás carbônico, utilizar-se-ão da luz solar como fonte de energia

para realizar a fotossíntese e irão liberar como subproduto o oxigênio (necessário às

bactérias), fechando assim o circuito. (NUVOLARI, 2011).

A matéria orgânica em suspensão tende a sedimentar, vindo a constituir o lodo de

fundo, criando uma zona anaeróbia. Este lodo ao sofrer o processo de decomposição por

microrganismos anaeróbios é convertido lentamente em gás carbônico, água, metano e outros.

Após algum tempo, apenas a fração inerte (não biodegradável) permanece na camada de

fundo. (VON SPERLING, 2001).

A Figura 1 demonstra a interação entre bactérias e algas em uma lagoa facultativa

atuando na remoção da matéria orgânica.

Figura 1 – Esquema simplificado do funcionamento de uma lagoa facultativa

Fonte: VON SPERLING, 2001

Page 21: AVALIAÇÃO FÍSICO -QUÍMICA E MICROBIOLÓGICA DE LODO …

20

2.2.2 Lagoas Anaeróbias

As lagoas anaeróbias caracterizam-se por receber uma carga de aplicação de DBO

muito mais alta que aquelas fixadas para as facultativas, o que resulta numa menor área de

implantação. O resultado disso é que, em toda a lagoa, a matéria orgânica vai ser decomposta

em condições anaeróbias. (NUVOLARI, 2011).

As lagoas anaeróbias são usualmente profundas, da ordem de 3m a 5m. A

profundidade é importante, no sentido de reduzir a possibilidade da penetração do oxigênio

produzido na superfície para as demais camadas. Pelo fato das lagoas serem mais profundas, a

área requerida é correspondentemente menor. (VON SPERLING, 2001).

2.2.3 Lagoas de Maturação

A remoção de organismos patogênicos é um dos objetivos mais importantes das lagoas

de estabilização. Entre os organismos a serem removidos, incluem-se bactérias, vírus, cistos

de protozoários e ovos de helmintos. Uma certa remoção ocorre nas lagoas anaeróbias e

facultativas. No entanto, a grande remoção tem lugar nas lagoas de maturação, especialmente

projetadas para esta finalidade. (VON SPERLING, 2001).

A lagoa de maturação constitui-se como uma opção de desinfecção bastante eficiente e

econômica, quando comparada a outros métodos convencionais, como a cloração, por

exemplo, principalmente quando o preço e a disponibilidade de áreas para sua implantação

não sejam problemas limitantes. (NUVOLARI, 2011).

O ambiente ideal para os microrganismos patogênicos é o trato intestinal humano.

Fora deste, quer na rede de esgotos, no sistema de tratamento ou no corpo receptor, os

organismos patogênicos tendem a morrer. Bactérias e vírus são sensíveis a temperatura,

insolação, pH, escassez de alimento, organismos predadores, competição e compostos tóxicos.

Cistos de protozoários e ovos de helmintos são eliminados em condições físicas de

sedimentação. (VON SPERLING, 2001).

A lagoa de maturação é dimensionada de forma a fazer uma utilização ótima de alguns

destes mecanismos de seleção natural, especialmente para remoção de bactérias e vírus.

Alguns destes mecanismos se tornam mais efetivos com menores profundidades, o que

justifica o fato para que as lagoas de maturação sejam mais rasas, comparadas aos demais

tipos. Consequentemente, associados à baixa profundidade, na lagoa de maturação ocorrerá a

alta penetração da radiação solar com efeito ultravioleta que é um mecanismo esterilizador de

microrganismos, o aumento do pH devido a elevada atividade fotossintética e a alta da

Page 22: AVALIAÇÃO FÍSICO -QUÍMICA E MICROBIOLÓGICA DE LODO …

21

concentração de oxigênio dissolvido que favorece uma comunidade aeróbia, mais eficiente na

eliminação de coliformes. (VON SPERLING, 2001).

2.2.4 Arranjo de Lagoas

O sistema de lagoas de estabilização pode ser projetado para ter mais de uma unidade,

o que confere uma maior flexibilidade operacional objetivando aproveitar as funcionalidades

mais eficientes de cada uma. Um sistema de lagoas em série, com um determinado tempo de

detenção total, possui uma maior eficiência do que uma única, com o mesmo tempo de

detenção total. A implicação de tal é que, para uma mesma qualidade do efluente, pode-se ter

uma menor área ocupada com um sistema em série. (VON SPERLING, 2001).

Foi na Austrália que pela primeira vez foram projetadas e construídas lagoas

facultativas precedidas por anaeróbias, este sistema recebeu o nome de “sistema australiano”.

(JORDÃO e PESSÔA, 2009).

2.2.5 Eficiência e Padrões de Lançamento

As lagoas de estabilização apresentam excelente eficiência de tratamento. A matéria

orgânica dissolvida no efluente das lagoas facultativas é bastante estável, e a DBO geralmente

encontra-se numa faixa de 30 a 50 mg.L-1

, havendo uma separação de algas, esta concentração

pode reduzir para 15 a 30 mg.L-1

. A eficiência de remoção de DBO se situa na faixa de 70 a

85%. (VON SPERLING, 2001).

Nem sempre o objetivo será a remoção da DBO ou da DQO. Interessará muitas vezes

a remoção de organismos coliformes, e tem-se alcançado até 99,999% de eficiência em lagoas

de maturação e em série. A eficiência na remoção de nitrogênio se situa entre 30 a 50% e a de

fósforo entre 20 a 60%. Modernamente se aceita que as lagoas devam cumprir dois objetivos

principais: a proteção ambiental, e nesse caso tem-se em vista principalmente a remoção da

DBO; e a proteção da saúde pública e aí se visa à remoção de organismos patogênicos.

(JORDÃO e PESSÔA, 2009).

Após o tratamento realizado nas lagoas de estabilização ou qualquer outro sistema de

tratamento de esgoto, o efluente originados destes poderão ser lançados em corpos receptores,

desde que obedeçam os padrões de lançamento. A Resolução CONAMA Nº 430/2011 dispõe

sobre as condições, parâmetros, padrões e diretrizes para gestão do lançamento de efluentes

em corpos de água receptores, alterando parcialmente e complementando a Resolução

CONAMA Nº 357/2005.

Page 23: AVALIAÇÃO FÍSICO -QUÍMICA E MICROBIOLÓGICA DE LODO …

22

2.3 Lodos de Sistemas de Tratamento de Efluentes

O termo “lodo” tem sido utilizado para designar os subprodutos sólidos do tratamento

de esgotos. Nos processos biológicos de tratamento, parte da matéria orgânica é absorvida e

convertida, fazendo parte da biomassa microbiana, denominada genericamente de lodo

biológico ou secundário, composto principalmente de sólidos biológicos, e por esta razão

também denominado de biossólido. Porém, para que este termo seja utilizado de maneira

prática é preciso que o lodo apresente características químicas e biológicas compatíveis com a

utilização produtiva. O termo biossólido ressalta os aspectos benéficos do lodo, valorizando

sua utilização, em comparação com a simples disposição final improdutiva, por meio de

aterros, disposição superficial no solo ou incineração. (NUVOLARI, 2011).

O lodo de esgoto, portanto, não deve ser considerado como rejeito. Suas características

físico-químicas podem torna-lo um repositor de nutrientes para o solo. Segundo Nuvolari

(2011) alguns componentes dos efluentes, ao passarem pelo sistema de tratamento,

concentram-se em proporções variáveis no lodo. Vários componentes orgânicos e minerais

podem ser benéficos ao lodo sob o aspecto de reposição de nutrientes.

Segundo Von Sperling (2001) todos os processos que recebem o esgoto em

decantadores primários geram o lodo primário, composto pelos sólidos sedimentáveis do

esgoto bruto. Na etapa biológica de tratamento é gerado o lodo biológico ou lodo secundário,

que é a própria biomassa que cresceu às custas do alimento fornecido pelo esgoto afluente.

Caso o lodo primário ou a biomassa não sejam removidos, de acordo com o projeto ou

observação, o lodo excedente tende a se acumular no sistema, podendo eventualmente sair

com o efluente, prejudicando a eficiência da estação e até a qualidade do efluente final, em

termos de teores de sólidos em suspensão e de matéria orgânica.

O processo de remoção de lodo está presente em todos os sistemas de tratamento de

efluentes, entretanto, a frequência desta retirada depende da taxa de acumulação do mesmo no

sistema. Segundo Von Sperling (2001) alguns sistemas de tratamento conseguem armazenar o

lodo por todo o horizonte de operação da estação (exemplo: lagoas facultativas), outros

permitem um descarte apenas eventual (exemplo: reatores anaeróbios) e outros requerem uma

retirada contínua ou bastante frequente (exemplo: lodos ativados).

2.3.1 Produção de Lodo em Lagoas de Estabilização

O lodo de lagoas de tratamento tende a se depositar no fundo dos reatores. Em um

sistema de lagoas de estabilização com arranjo do tipo australiano, as lagoas anaeróbias,

operando em série ou em paralelo, serão responsáveis pela sedimentação dos sólidos

Page 24: AVALIAÇÃO FÍSICO -QUÍMICA E MICROBIOLÓGICA DE LODO …

23

originados do esgoto bruto. Segundo Gonçalves (1999) nas lagoas primárias (anaeróbias) são

retidos quase 100% dos sólidos sedimentáveis, enquanto nas secundárias (facultativa) e

terciárias (maturação) não ocorre uma sedimentação significativa.

O mesmo autor relata que o lodo de lagoas de estabilização é constituído por

compostos inorgânicos, compostos orgânicos originados do esgoto, microrganismos e

subprodutos de sua atividade. Tomando-se por base, os mecanismos que resultam no

tratamento de esgotos em lagoas de estabilização do tipo facultativas, o lodo ocupa o

compartimento anaeróbio do processo, cumprindo importante tarefa no tratamento conforme a

descrição a seguir:

a. Compartimento anaeróbio – Região do fundo da lagoa, onde ocorre a deposição do

material sedimentável presente no esgoto e outros subprodutos gerados nos

compartimentos superiores, e a sua subsequente degradação pela via anaeróbia. Este é

o compartimento de maior interesse no tocante à gestão de lodos neste tipo de

processo.

b. Compartimento facultativo – Situado acima do compartimento anaeróbio, nele

ocorrem mecanismos de degradação tanto pela via anaeróbia quanto pela via aeróbia.

Predominam nesta região bactérias heterotróficas facultativas.

c. Compartimento aeróbio – Este compartimento é caracterizado pela grande atividade

fotossintética das algas, que se situam na superfície da lâmina líquida da lagoa. Nele

observa-se uma farta disponibilidade de oxigênio dissolvido. A maior parte da

degradação da matéria orgânica solúvel do esgoto, ocorre devido a respiração aeróbia

das bactérias.

Segundo Von Sperling (2011), o lodo formado em sistemas de tratamento de efluentes

composto de lagoas de estabilização origina-se dos reatores anaeróbios e do fundo das lagoas

onde predominam condições anaeróbias. A biomassa anaeróbia também cresce e se multiplica

às custas de matéria orgânica. Nestes processos de tratamento, usualmente a biomassa fica

retida um longo tempo, no qual ocorre a digestão anaeróbia do próprio material celular. Nas

lagoas de estabilização, o lodo é constituído ainda de sólidos sedimentados de esgoto bruto,

bem como de algas mortas.

Nas lagoas anaeróbias coexistem somente os compartimentos facultativo e anaeróbio,

com uma predominância nítida para a via anaeróbia de degradação da matéria orgânica. No

tocante aos sólidos presentes no esgoto e que sedimentam na lagoa, a fração orgânica é

decomposta pelos microrganismos anaeróbios, sendo transformada em biogás (CH4 e CO2,

principalmente), produtos solúveis intermediários da decomposição e material sólido

Page 25: AVALIAÇÃO FÍSICO -QUÍMICA E MICROBIOLÓGICA DE LODO …

24

mineralizado. Portanto, a parte orgânica do lodo é composta por matéria orgânica em

decomposição e por microrganismos. A fração inorgânica que se acumula é constituída por

material inerte que sobrou da atividade microbiana, bem como por partículas sólidas não

biodegradáveis carreadas pelo esgoto e pela erosão dos taludes. Por isso, o acúmulo do lodo

no fundo da lagoa depende diretamente das características do esgoto, do estado de

conservação e operação da rede coletora e da eficiência da etapa de pré-tratamento na ETE.

Uma rede mal construída ou com estado de conservação deficiente poderá carrear grandes

quantidades de material inerte para as ETEs. (GONÇALVES, 1999).

Portanto, a origem da formação de lodo em lagoas de estabilização está relacionada

com a deposição do material sedimentável do esgoto e com a reprodução de bactérias

responsáveis pela digestão anaeróbia no fundo do reator.

2.3.2 Principais Constituintes do Lodo

Segundo Von Sperling (2001) da mesma forma que alguns componentes orgânicos e

minerais podem conferir benefícios ao lodo de sistemas de tratamento de efluentes como

forma de reposição de nutrientes, outros componentes, pelo seu risco sanitário e ambiental,

são indesejáveis. Estes podem ser genericamente agrupados em: metais pesados, componentes

orgânicos (nutrientes) e microrganismos patogênicos.

As características físico-químicas de alguns lodos dependem da composição das águas

residuárias e dos processos do sistema de tratamento. Estas características podem modificar

anualmente, sazonalmente ou até mesmo diariamente, em consequência das variações nas

características das águas residuárias. (GONÇALVES, 1999)

2.3.2.1 Metais Pesados

Ambientalmente, metais pesados podem ser entendidos como aqueles que, em

determinadas concentrações e tempo de exposição, oferecem risco à saúde humana e ao

ambiente, prejudicando a atividade dos organismos vivos. Os principais elementos químicos

enquadrados neste conceito são: prata, arsênio, cádmio, cobalto, cromo, cobre, mercúrio,

níquel, chumbo, antimônio, selênio e zinco. Estes elementos são encontrados naturalmente no

solo em concentrações variáveis, porém são inferiores àquelas consideradas tóxicas para

diferentes organismos vivos. O arsênio, cobalto, cromo, cobre, selênio e zinco são essenciais

aos organismos em pequenas, já a prata, o cádmio, o mercúrio, o níquel, o chumbo e o

antimônio não desempenham qualquer função no metabolismo, sendo tóxicos às plantas e

animais. (VON SPERLING, 2001)

Page 26: AVALIAÇÃO FÍSICO -QUÍMICA E MICROBIOLÓGICA DE LODO …

25

O lodo das estações de tratamento que recebem apenas efluentes domésticos contém

pequena quantidade de metais pesados provenientes da própria natureza dos resíduos. Von

Sperling (2001) relata que embora os metais pesados, de modo geral, possam vir a ser tóxicos

às plantas e aos animais, nas concentrações reduzidas em que habitualmente aparecem nos

esgotos domésticos, não se tem notícias de problemas de toxidez crônica na disposição dos

mesmos. Por outro lado, o mesmo não pode ser dito com relação à disposição de alguns

esgotos industriais. A concentração de metais pesados no lodo é muito variável de local para

local, tendo em vista todos os diversos fatores de influência. No esgoto, sua presença está

associada, principalmente, aos despejos das indústrias de galvanoplastia, indústrias químicas

de formulação de compostos orgânicos, curtumes e indústrias farmacêuticas, metalurgia e

fundições e das indústrias químicas de formulação de compostos inorgânicos, lavanderias,

indústrias de petróleo, formulação de corantes e pigmentos.

2.3.2.2 Nutrientes

Do ponto de vista agronômico, o interesse em utilizar lodo de estações de tratamento

de efluentes depois de estabilizado (biossólidos) está associado principalmente ao teor de

nutrientes, medido conforme a concentração de nitrogênio (N) e fósforo (P). Segundo Von

Sperling (2001) os biossólidos apresentam em sua constituição, quantidades significativas de

nutrientes essenciais ao desenvolvimento de plantas. Os usos benéficos dos biossólidos

incluem diversas formas de disposição no solo, como reciclagem na agricultura, na

silvicultura, floricultura, paisagismo, recuperação de áreas degradadas, podendo, até mesmo,

ser utilizados em parques e gramados, dependendo da qualidade do biossólido. A utilização

dos biossólidos como substratos e fertilizantes para produção de mudas e de solos sintéticos

constituem um mercado crescente.

A presença destes elementos depende do esgoto de origem e do processo de

tratamento do esgoto e do biossólido. Andreoli (1999) relata que os teores de nutrientes

presentes no lodo de esgoto são superiores aos encontrados na maioria dos materiais

orgânicos de uso habitual na agricultura A Tabela 1 apresenta o teor de nutrientes (nitrogênio

e fósforo) presentes em lodos crus e digeridos.

Page 27: AVALIAÇÃO FÍSICO -QUÍMICA E MICROBIOLÓGICA DE LODO …

26

Tabela 1 – Teor de nutrientes de lodos medidos em concentrações de nitrogênio e fósforo

Nutriente Lodo cru Lodo digerido

Intervalo Valor médio Intervalo Valor médio

Nitrogênio

(% SST) 1,5 – 6,0 4,0 1,6 – 6,0 4,0

Fósforo

(% SST) 0,8 – 3,0 2,0 1,5 – 4,0 2,5

Fonte: Adaptado de Metcalf e Eddy, 1991

A Tabela 2 apresenta a composição média de nitrogênio e fósforo em diferentes tipos

de lodo e materiais tradicionalmente utilizados como fonte de nutrientes na agricultura.

Tabela 2 – Composição média de nutrientes em diferentes tipos de lodo e materiais orgânicos

Identificação / Nutrientes Nitrogênio (% SST) Fósforo (% SST)

Lodo aeróbio calado 2,50 0,90

Lodo anaeróbio 1,60 0,20

Esterco de poedeiras 2,00 2,00

Esterco de Bovinos 0,30 1,17

Esterco de Equinos 0,44 0,32

Esterco de Ovinos 0,60 0,30

Esterco de Suínos 0,60 0,60

Fonte: Dados do Programa de Reciclagem Agrícola de Lodo da SANEPAR apud Andreoli, 1999

De acordo com Andreoli (1999) os lodos digeridos aerobiamente tendem a concentrar

mais os nutrientes e patógenos; enquanto os lodos anaeróbios são naturalmente menos

concentrados de nutrientes. Porém, mesmo após a calagem, onde há expressiva perda de

nitrogênio (em torno de 50%), tanto os lodos aeróbios quanto os lodos anaeróbios ainda

apresentam teores altos de nitrogênio (N) e médios de fósforo (P). No processo de

compostagem as perdas são menores, uma vez que os nutrientes são incorporados aos tecidos

dos microrganismos durante o processo de decomposição e estabilização do resíduo.

Quando a higienização do biossólido é realizada com adição de cal e/ou outro material

alcalino, o biossólido poderá ser utilizado, ainda, como corretivo do solo: aumenta o pH,

reduz os níveis de metais tóxicos como alumínio e manganês, fornece cálcio e magnésio,

melhora a absorção de nutrientes e estimula a atividade microbiana. Porém, demandará maior

cautela na recomendação de uso, podendo provocar desequilíbrio nutricional, salinização e

aumento dos níveis de pH (acima de 6,5), o que prejudicará o desenvolvimento das culturas e

sua produtividade. (VON SPERLING, 2001).

Page 28: AVALIAÇÃO FÍSICO -QUÍMICA E MICROBIOLÓGICA DE LODO …

27

2.3.2.3 Microrganismos Patogênicos

A capacidade de um microrganismo de causar doença é denominada patogenicidade.

Quando um micróbio invade um hospedeiro estabelece-se uma infecção. Se este hospedeiro é

susceptível à infecção, estabelece-se a doença. Portanto, um patógeno é qualquer

microrganismo ou organismo superior capaz de causar doença. (PELCZAR, 2011).

A patogenicidade de lodo de tratamento de efluentes está associada à contaminação do

solo e da água, por escoamento superficial de microrganismos até corpos d’água ou pela

infiltração até o lençol freático. Andreoli (1999) relata que a origem da contaminação

microbiológica do lodo é principalmente em razão do material fecal contido no esgoto,

portanto, depende das características epidemiológicas da população local e dos efluentes

lançados na rede coletora. No esgoto são encontrados vírus, fungos, bactérias e parasitas

(protozoários e helmintos) e, embora a grande maioria desses organismos seja inofensiva,

alguns grupos de patógenos são considerados perigosos pelo risco que representam para a

saúde humana e animal.

Segundo Pelczar (2011) doenças transmitidas pela água contaminada ocorrem quando

um microrganismo infeccioso é adquirido por matéria fecal, contendo patógenos humanos ou

de animais. Bactérias, vírus, protozoários e helmintos têm sido implicados como responsáveis

por doenças transmitidas por águas e alimentos. Enquanto muitas dessas doenças são de

natureza gastrintestinal, algumas pode afetar outras partes do organismo, tais como os

músculos, o sistema nervoso ou órgãos como o coração.

O mesmo autor explana que dentre as doenças transmitidas pela água destacam-se a

gastroenterite causada por Salmonella, devido a sua ocorrência frequente, à variedade de

fontes de contaminação e à complexidade antigênica desse organismo, a gastroenterite por

Campylobacter, mais frequente das gastroenterites bacterianas e a gastrite por Heliobacter,

causadora de gastrite ou úlceras pépticas em humanos e a febre tifoide, doença grave causada

por um sorotipo específico, a Salmonella typhi. Algumas infecções transmitidas por água e

alimentos são causadas por vermes parasitas, ou helmintos.

De acordo com Nuvolari (2011) a pesquisa e a identificação dos microrganismos

patogênicos na água é praticamente inviável, devido a complexidade dos procedimentos de

análise, do custo elevado das mesmas e do longo tempo para se obter os resultados. As

bactérias do grupo coliformes, por estarem presentes em grande número no trato intestinal

humano e de outros animais de sangue quente, são eliminadas em grande número pelas fezes,

sendo assim é o indicador de contaminação fecal mais utilizado como parâmetro

Page 29: AVALIAÇÃO FÍSICO -QUÍMICA E MICROBIOLÓGICA DE LODO …

28

bacteriológico básico e para a definição de padrões para monitoramento da qualidade das

águas destinadas ao consumo humano.

Muitas doenças de veiculação hídrica estão associadas a presença de helmintos.

Helmintos são animais parasitas multicelulares que apresentam corpos alongados e

moles. Os helmintos são classificados em dois grupos principais: (1) os platelmintos,

que são achatados em corte transversal, e (2) os nematoides, que se apresentam

arredondados em corte transversal.

Os platelmintos são divididos em duas categorias principais. Os cestoides, ou tênias,

apresentam formas adultas longas, estreitas, que se assemelham à fita métrica. Como

exemplo tem-se a tênia de boi e de porco, pertencentes ao gênero Taenia. Os

termatódeos, ou fascíolas, apresentam formas adultas semelhantes à folha. Exemplo

são as fascíolas sanguíneas, que pertencem ao gênero Schistosoma e causam

esquistossomose; são transmitidos por contato direto com água contendo os estágios

infeciosos dos parasitas, e não por ingestão de alimento ou água contaminados.

Dentre as enfermidades causadas por helmintos, destaca-se a infecção causada por

Ascaris. Órgãos oficiais de saúde estimam que o grande nematoide Ascaris

lumbricoides infecta perto de um bilhão de pessoas em todo o mundo, especialmente

na áreas tropicais e subtropicais. Os ovos de Ascaris eliminados nas fezes tornam-se

infeciosos em duas a três semanas e podem permanecer infeciosos no solo por meses

ou anos. (PELCZAR, 2011, p. 242).

As Salmonellas são microrganismos em forma de bastonetes, Gram-positivos e não

esporulados estão agrupados em duas espécies, de acordo com a hibridação do DNA: as S.

Entéricas e S. Bongori. São mundialmente reconhecidas como uma das principais causadoras

de infecções de origem alimentar. É um microrganismo amplamente difundido na natureza,

sendo os animais e o ambiente seus principais reservatórios naturais. Seu habitat primário é o

trato intestinal dos animais como aves, répteis e o homem, embora seja encontrada

ocasionalmente em diversas outras partes do organismo. Sua eliminação ocorre pelas fezes,

constituindo o principal meio de propagação para contaminar águas e alimentos. Dentre os

alimentos que mais veiculam esta bactéria estão os ovos, frangos, carne bovina e seus

subprodutos (JAY, 2005).

No Brasil, o uso agrícola de biossólidos gerados em estações de tratamento de

efluentes sanitários deve seguir os critérios e procedimentos definidos pela Resolução do

CONAMA nº 375/2006. Esta Resolução classifica o lodo de esgoto ou produto derivado em

duas classes (A e B) de acordo com a concentração dos microrganismos patogênicos presentes

(Tabela 3).

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29

Tabela 3 – Classificação de lodo de esgoto ou produto derivado em função da concentração de agentes

patogênicos

Tipo de lodo de esgoto ou produto derivado Concentração de patógenos

A Coliformes termotolerantes < 10³ NMP.g

-1 de SST

Ovos viáveis de helmintos < 0,25 ovos.g-1

de SST Salmonellas ausência em 10 g de SST

B Coliformes Termotolerantes < 10

6 NMP.g

-1 de SST

Ovos viáveis de helmintos < 10 ovos.g-1

de SST

Legenda: ST = Sólidos em Suspensão Totais; NMP = Número mais provável; UFF: Unidade formadora de foco;

UFP = Unidade formadora de placa.

Fonte: Resolução CONAMA 375/2006

Lodos de esgoto ou produto derivado enquadrados na classe A poderão ser utilizados

para quaisquer culturas, respeitadas as seguintes restrições estabelecidas pela Resolução

CONAMA 375/2006:

É proibida a utilização de qualquer classe de lodo de esgoto ou produto derivado em

pastagens e cultivo de olerícolas, tubérculos e raízes, e culturas inundadas, bem como

as demais culturas cuja parte comestível entre em contato com o solo;

Não será permitida a aplicação de lodo de esgoto ou produto derivado em unidades de

conservação e suas zonas de amortecimento, em áreas de preservação permanentes,

em locais que possam comprometer a qualidade de águas minerais, balneários e águas

para abastecimento, em solos com declividade acentuada, em áreas onde a

profundidade do nível do aquífero freático seja inferior a 1,5 m na cota mais baixa do

terreno e em áreas agrícolas definidas como não adequadas por decisão motivada dos

órgãos ambientais e de agricultura competentes.

A utilização de lodo de esgoto ou produto derivado enquadrado como classe B é

restrita ao cultivo de café, silvicultura, culturas para produção de fibras e óleos, com a

aplicação mecanizada, em sulcos ou covas, seguida de incorporação, respeitadas as restrições

previstas apresentadas anteriormente.

2.4 Tratamento do Lodo

Segundo Andreoli (1999) o volume de lodo produzido em uma Estação de Tratamento

de Esgoto representa cerca de 1 a 2% do volume de esgoto tratado, entretanto seu tratamento e

disposição final chega a atingir entre 30 e 50% do custo operacional da ETE. O manejo do

lodo compreende operações como adensamento, desaguamento, estabilização, higienização e

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30

secagem, e sua aplicação está diretamente relacionada ao destino final escolhido para o

mesmo.

O aspecto, a cor e o cheiro podem dar indícios sobre o estado do lodo. O lodo urbano

fresco é acinzentado ou amarelado e contém fragmentos facilmente reconhecíveis de

excrementos, papel e restos de verduras. Tem mau cheiro e seca com dificuldade. A água

intersticial é turva e malcheirosa. O lodo digerido possui coloração escura (devido ao sulfeto

de ferro) e tem cheiro de piche. Uma amostra espalhada sobre a superfície de um recipiente

branco esmaltado mostra imediatamente linhas de água brancas, pois a água intersticial clara

se separa rapidamente dos grânulos de lodo preto. O lodo estabilizado aerobiamente (aeração

prolongada, por exemplo) tem coloração tirante a marrom e cheira a terra. (IMHOFF, 1996).

Os processos aplicáveis ao tratamento podem ser separados em estabilização, redução

da umidade e higienização. A meta final é a utilização do lodo na agricultura ou a disposição

em aterros sanitários. Os diversos estágios antecedentes a esses processos, que podem ter sua

sequência modificada, e não requerem aplicação em sua totalidade, são meios para atingir o

objetivo.

2.4.1 Composição de Água e Sólidos nos Lodos de Estações de Tratamento

Para expressar as características do lodo quanto a sua estabilização, bem como para se

calcular a produção de lodo em massa e em volume e determinação dos procedimentos de

redução de umidade torna-se essencial o entendimento da relação entre teor de sólidos e de

umidade.

O lodo é composto por sólidos e por água. Os sólidos totais (ST) dividem-se em

sólidos em suspensão e sólidos dissolvidos. No lodo, a grande maioria dos sólidos é

representada pelos sólido em suspensão. Com relação à matéria orgânica, os sólidos

dividem-se em sólidos fixos ou inorgânicos (SF) e sólidos voláteis ou orgânicos

(SV). A Figura 2 ilustra a distribuição dos sólidos segundo estas diversas formas.

(VON SPERLING, 2001).

Figura 2 – Composição do lodo conforme os sólidos presentes

Fonte: SPERLING, 2001

TOTAIS

EM

SUSPENSSÃO

(SS)

DISSOLVIDOS

FIXOS

VOLÁTEI

S

FIXOS

VOLÁTEIS

(SSV)

VOLÁTEI

S

FIXOS

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31

De acordo com o mesmo autor a relação entre os sólidos voláteis e os sólidos totais dá

uma boa indicação da fração orgânica dos sólidos do lodo, bem como do nível de digestão do

lodo. Em lodos não digeridos, a relação entre sólidos voláteis e sólidos totais (SV/ST) é entre

0,75 e 0,70, ao passo que em lodos digeridos estes valores situam-se entre 0,60 e 0,65. A

Tabela 4 apresenta faixas típicas da relação SV/ST em lodos oriundos de diversos processos

de tratamento de esgotos.

Tabela 4 – Faixas de relação SV/ST em diversos tipos de lodo

Tipo de lodo de Relação SV/ST

Lodo primário 0,75 – 0,80

Lodo secundário anaeróbio 0,55 – 0,60

Lodo secundário anaeróbio (Lagoa Anaeróbia convencional) 0,75 – 0,80

Lodo secundário anaeróbio (aeração prolongada) 0,65 – 0,70

Lodo de lagoa de estabilização 0,35 – 0,55

Lodo primário adensado 0,75 – 0,80

Lodo secundário adensado (Lagoa Anaeróbia convencional) 0,75 – 0,80

Lodo secundário adensado (aeração prolongada) 0,65 – 0,70

Lodo misto adensado 0,75 – 0,80

Lodo misto digerido 0,60 – 0,65

Lodo desidratado 0,60 – 0,65

Fonte: Adaptado de VON SPERLING (2001)

Segundo Van Haandel e Lettinga (1994) apud Von Sperling (2001) a umidade influi

nas propriedades mecânicas do lodo, sendo que estas influenciam no tipo de manuseio e de

disposição final. Lodos em estado fluido podem ser transportados por gravidade e por

bombeamento, ao passo que lodos em estados variando de torta semissólida e totalmente seco

podem ser transportados por caminhões caçambas ou contêineres. A relação entre a umidade e

as propriedades mecânicas estão mostradas na Tabela 5.

Tabela 5 - Teor de sólidos secos presente em lodo de efluentes e sua consistência

Teor de sólidos (%) Umidade (%) Consistência do lodo

0 a 25 75 a 100 lodo fluido

25 a 35 65 a 75 torta semissólida

35 a 60 40 a 65 sólido duro

60 a 85 15 a 40 lodo em grânulos

85 a 100 0 a 15 lodo desintegrado em pó fino Fonte: Van Haandel e Lettinga (1994) apud Von Slperling (2001).

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2.4.2 Estabilização do Lodo

Os processos de estabilização do lodo têm por objetivo atenuar duas características

indesejáveis desse resíduo: odor e conteúdo de patógenos. Estes dois fatores têm importância

variável, de acordo com o destino final previsto para o lodo. Portanto, no âmbito de um

sistema de gestão do lodo produzido por Estações de Tratamento de Esgoto (ETEs), a

estabilização é uma das peças do sistema, devendo ser definida de forma articulada com o

desaguamento, higienização e uso final do produto. (ANDREOLI, 1999).

Von Sperling (2001) relata que os processos de estabilização do lodo podem ser

divididos em:

Estabilização biológica: podem ser por digestão anaeróbia ou aeróbia e utiliza

bactérias específicas para promover a estabilização da fração biodegradável da matéria

orgânica;

Estabilização química: por meio da adição de produtos químicos a estabilização é

atingida mediante a oxidação química da matéria orgânica;

Estabilização térmica: obtida a partir da ação do calor sobre a fração volátil em

recipientes hermeticamente fechados.

Conforme foi observado na Tabela 4 os lodos originados de lagoas de estabilização

geralmente são estáveis com relação SV/ST, cuja concentração varia de 0,35 a 0,55. Segundo

a Resolução CONAMA 375/2006 para fins de utilização agrícola, o lodo de esgoto ou

produto derivado será considerado estável se a relação entre sólidos voláteis e sólidos totais

for inferior a 0,70.

2.4.3 Remoção de Umidade

A remoção de umidade é uma operação unitária fundamental para a redução de massa

e de volume de lodos gerados em sistemas de tratamento de efluentes. Segundo Von Sperling

(2001) os processos de remoção de umidade podem ser realizados em duas etapas:

adensamento ou espessamento e desaguamento ou desidratação. O adensamento é mais

utilizado nos processos de tratamento primário, lodos ativados e filtros biológicos

percoladores. O desaguamento, realizado com o lodo digerido, tem impacto importante nos

custos de transporte e destino final do lodo. Em ambos os casos, a remoção da umidade

exerce ainda influencia decisiva no manuseio do lodo, já que o comportamento mecânico

deste varia com o teor de sólidos.

Atualmente, novas formas de remoção de umidade de lodo de tratamento de efluentes

estão disponíveis. Dentre estas soluções cita-se a utilização de BAG de polipropileno que são

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bolsões de alta resistência com poros que permitem o escoamento do líquido e retêm o

material sólido.

Segundo Richter (2001) depois de removidos do sistema, os lodos normalmente

necessitam ser adensados antes dos tratamentos que seguem. A viabilidade do adensamento

consiste na produção de um lodo concentrado mais adequado para as etapas seguintes de

desidratação ou na possibilidade de ser transportado economicamente para uma aplicação no

solo como disposição final. Os principais processos utilizados para o adensamento do lodo

são: adensadores por gravidade, flotadores por ar dissolvido e centrífugas.

O adensamento por gravidade ocorre em tanque semelhante a um tanque de

sedimentação. O lodo diluído é direcionado a uma câmara de alimentação central e, após a

alimentação contínua, o lodo concentrado é retirado pela parte inferior. Os mecanismos de

coleta convencionais consistem em pontes raspadoras que direcionam o lodo concentrado do

fundo do adensador à parte central coletora. As Figuras 3 e 4, demonstra um adensador por

gravidade com raspadores no fundo para direcionamento e posterior coleta do lodo adensado.

Figura 3 – Planta de um adensador por gravidade com raspador mecânico

Fonte: Metcalf-Eddy, 1985

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Figura 4 – Corte de um adensador por gravidade com raspador mecânico

Fonte: Metcalf-Eddy, 1985

A flotação é o processo no qual a fase sólida, com uma densidade menor que o líquido

em suspensão, é separada permitindo-lhe flutuar para a superfície.

No sistema de flotação a ar dissolvido, as partículas sólidas são removidas da água

fazendo-as flutuar (flotar) reduzindo sua densidade pela adesão de pequeníssimas

bolhas de ar. Neste processo as bolhas de ar são geradas pela súbita redução de

pressão na corrente liquida saturada de ar, proveniente da câmara ou tanque de

saturação. Por meio de uma bomba, uma pequena quantidade de água clarificada é

elevada à pressão de 4 a 5,5 atm e conduzida ao tanque de saturação onde se torna

saturada de ar alimentado por um compressor. Esta água, que é recirculada no

sistema, vê a sua pressão diminuída bruscamente, liberando uma grande quantidade

de microbolhas de ar, que aderem aos flocos já formados, fazendo-os flutuar. Os

flocos sobem e se acumular na superfície do tanque, formando uma capa de lodo de

espessura crescente, que se remove periodicamente mediante raspadores

superficiais. (RICHTER, 2001, p. 34).

A Figura 5 demonstra o esquema de um sistema de flotação a ar dissolvido.

Figura 5 – Esquema de um sistema de flotação a ar dissolvido

Fonte: RICHTER, 2001

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O uso de centrífugas serve tanto para adensar quanto para desidratar lodos gerados em

sistemas de tratamento. O adensamento por centrifugação é realizado com a sedimentação das

partículas mais densas do lodo pela força centrífuga.

Uma centrífuga consta de um tambor cilíndrico de eixo horizontal com uma secção

cônica convergente em uma extremidade, que gira em torno de seu eixo a 3000 –

4000 rpm. Um transportador tipo parafuso no interior do tambor gira a uma

velocidade ligeiramente diferente do tambor, raspando, assim, o lodo centrifugado

para fora da máquina.

O lodo é alimentado por um tubo concêntrico perto da secção cônica. O ponto de

alimentação mais próximo do cone aumenta o tempo de detenção do líquido na

câmara de separação, favorecendo a clarificação do líquido e prejudicando a

desidratação do lodo. Ao contrário, o ponto de alimentação mais afastado do cone

favorece a desidratação, que é o desejável no tratamento de lodos de estações de

tratamento. Do tubo de alimentação o lodo passa para a câmara de separação, onde a

força centrífuga faz com que a superfície líquida torne-se um anel junto à parede do

tambor girante. Os sólidos depositados contra a parede são transportados pela rosca

sem fim para a secção cônica sendo removidos da câmara de separação, enquanto o

líquido clarificado é drenado na outra extremidade. No transporte do lodo pela

secção cônica até a sua descarga, o líquido continua a ser gradualmente drenado,

aumentando a concentração de sólidos na torta resultante. (RICHTER, 2001, p. 66).

A Figura 6 demonstra uma centrífuga utilizada para adensamento de lodo.

Figura 6 – Esquema do interior de uma centrífuga

Fonte: RICHTER, 2001

O desaguamento de lodos pode ser realizado através de meios naturais ou

mecanizados. Os processos naturais utilizam a evaporação e a percolação como principais

mecanismos de remoção de água, o que demanda tempo de exposição do lodo às condições

que resultam no desaguamento. Embora sejam operacionalmente mais simples e baratos, tais

processos demandam maiores áreas e volumes para instalação. Em contrapartida, os processos

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mecanizados baseiam-se em mecanismos, tais como filtração, compactação ou centrifugação

para acelerar o desaguamento, resultando em unidades compactas e bem mais sofisticadas,

sob o ponto de vista de operação e manutenção. (VON SPERLING, 2001).

Consequentemente, os dispositivos mecânicos de desidratação demandam de energia

elétrica, mão de obra especializada e áreas favoráveis para instalação dos aparelhos. Os

principais equipamentos de desidratação são: filtro prensa, centrifugas e prensa desaguadora.

Os filtros prensa mais utilizados na desidratação de lodos de estações de tratamento

são do tipo câmara. Consta de uma série de placas tipo câmara, dispostas entre uma

meia placa fixa e uma meia placa móvel nas extremidades. Cada placa tem uma

secção reentrante ou recesso que forma o espaço que será ocupado pela torta final. O

meio filtrante é instalado contra as paredes internas das placas e retém os sólidos,

deixando passar o filtrado.

Assim, há duas superfícies filtrantes por placa interna e uma nas placas externas. As

placas têm geralmente a forma quadrada, porém também existem placas

retangulares. Seu tamanho pode variar desde 250 mm x 250 mm até 1.500 mm x

1.500 mm ou mais. (RICHTER, 2001, p. 55).

A Figura 7 demonstra a representação esquemática de um filtro prensa de câmara.

Figura 7 – Esquema de funcionamento de um filtro prensa Fonte: VON SPERLING, 2001

A prensa desaguadora ou filtro prensa de correia é utilizada para secagem de lodos

provenientes, principalmente de sistemas de tratamento por lodos ativados. Segundo Richter

(2001) o filtro prensa realiza um desidratação contínua, fazendo passar o lodo por entre duas

correias porosas móveis e tensionadas, espremendo a água à medida que o aglomerado

lodo/correia passa acima e abaixo de uma série de rolos de diâmetros diferentes, conforme

ilustrado na Figura 8.

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37

Figura 8 – Esquema de uma prensa desaguadora Fonte: RICHTER, 2001

A desidratação não mecânica, como seu nome indica, é aquela que não utiliza

acessórios mecânicos, tais como prensas ou centrífugas, para o desaguamento dos lodos,

apenas agentes naturais, como a gravidade e a evaporação. Segundo Richter (2001) os

dispositivos não mecânicos de desidratação mais comuns são os leitos e as lagoas de secagem.

Os mecanismos de desidratação dos leitos de secagem consistem essencialmente em

decantação, percolação (drenagem) e evaporação para obter a concentração desejada.

Segundo Von Sperling (2001) o processo caracteriza-se por um tanque, geralmente retangular,

com paredes de alvenaria ou concreto e fundo de concreto. No interior do tanque são

incluídos os dispositivos que possibilitam a drenagem da água presente no lodo, sendo eles:

Soleira: permite que líquido presente no lodo percole por camadas sucessivas de areia

e pedregulho;

Camada suporte: composta de tijolos recozidos ou outros elementos de material

resistente à operação com a finalidade de permitir uma melhor distribuição do lodo,

impedir a colmatação e garantir que a retirada do lodo desidratada seja realizada sem o

revolvimento das camadas superficiais da soleira drenante;

Sistema de drenagem: constituídos de tubos assentados com juntas abertas ou

perfurados, colocados no fundo do tanque, e que recolhem todo o líquido percolado na

soleira drenante.

A Figura 9 apresenta o esquema em corte de um leito de secagem com os elementos

que possibilitam a secagem limitados por muretas de confinamento lateral, camada suporte

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em tijolos cerâmicos não rejuntados e sistema de drenagem composto por leito de areia sobre

uma espessa camada de brita com inclinação no fundo direcionando o líquido percolado para

tubos dreno.

Figura 9 – Corte transversal esquemático de um leito de secagem com pavimento de tijolos Fonte: NUVOLARI, 2011

Segundo Viessman e Hammer (1985) apud Nuvolari (2011) além da simplicidade, os

leitos de secagem apresentam ainda a vantagem de não aumentarem o volume de lodo por

conta da não utilização de produtos químicos, pois normalmente não se faz qualquer pré-

condicionamento do lodo, diferentemente dos processos mecanizados. As principais

vantagens e desvantagens desse processo de desaguamento são:

Problemas com a secagem do lodo durante os períodos chuvosos. Em alguns locais, a

cobertura dos leitos de secagem pode ser aplicada, visando à solução desse problema;

Operação manual, na remoção do lodo desaguado, com certos riscos à saúde do

operador. Pontes mecanizadas podem ser instaladas para promover a remoção do lodo;

Eventuais problemas com a vizinhança por conta de odores desagradáveis;

Comparado aos outros processos de secagem, requer grandes áreas. Enquanto nos

processos mecanizados consegue-se a secagem de um determinado volume em

algumas horas, um ciclo completo em leitos de secagem é variável, mas, em média,

fica por volta de 21 dias.

Lagoas de secagem de lodo são utilizadas para adensamento, digestão complementar,

desaguamento e até mesmo para disposição final de lodos de esgotos. Segundo Von Sperling

(2011) trata-se de um processo de baixo custo, e operacionalmente simples. As lagoas de

secagem são geralmente escavadas no solo, ou posicionadas em depressões naturais do

terreno, ou dotadas de diques, onde o lodo de descarte da ETE é acumulado por períodos de

tempo prolongado (de 3 a 5 anos). Durante esse período, o lodo é adensado por ação da

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gravidade, digerido pelos próprios microrganismos presentes no lodo e desaguado através da

drenagem da água livre, de evaporação e de escoamento superficial.

Segundo o mesmo autor, a principal diferença entre os processos que ocorrem em

lagoas de secagem e os leitos de secagem reside no fato de que a evaporação é o principal

mecanismo que influencia no desaguamento. A percolação tem um efeito menor do que nos

leitos de secagem. O desaguamento na lagoa pode ser acelerado com a utilização de

dispositivos que permitam a retirada da água sobrenadante em vários níveis após a carga de

lodo. A utilização de drenos de fundo também não é prática corrente em lagoas de secagem,

porque o lodo de esgoto possui reduzida drenabilidade e o risco de entupimento da tubulação

é bastante provável de ocorrer. Uma vez cheia a lagoa, esta poderá ser desativada sem a

remoção do lodo, servindo como solução definitiva para disposição final. Outra possibilidade

é a remoção do lodo da lagoa cheia, permitindo o reaproveitamento do reservatório e

transformando a lagoa em processo contínuo de desaguamento.

Von Sperling (2001) também traz que as principais variáveis que influenciam no

tamanho (área) da lagoa são a carga de lodo, a precipitação pluviométrica, a temperatura e as

taxas de evaporação na região. Após a introdução do lodo na lagoa, contribuem para a

redução de volume a perda de água por infiltração no solo (fundo da lagoa e taludes), em

menor escala, e a evaporação através da superfície do líquido na lagoa (fenômeno

predominante). Esta perda de volume só não é mais acentuada devido às chuvas, que,

dependendo da região, podem retardar consideravelmente a secagem do lodo.

Segundo Jordão e Pessôa (2009), os principais fatores que contribuem para os longos

períodos de secagem do lodo neste tipo de processo são:

Grandes profundidades;

Alimentação contínua ou semi-contínua em pequenos intervalos;

Mistura de lodo úmido com lodo seco por ocasião da alimentação da lagoa;

Estratificação entre as camadas sólida e líquida indefinida;

Sistema de drenagem pouco eficiente, o que minimiza a percolação;

Períodos chuvosos e de pouca insolação;

Períodos prolongados de remoção do lodo das lagoas;

Possibilidade de influência das variações de nível do lençol freático.

Uma opção em destaque para desague e desidratação dos lodos de tratamento de

efluentes são os bolsões de polipropileno de alta densidade. Esta solução pode ser executada

in loco e requer pouca mecanização. Segundo informações extraídas do catálogo do fabricante

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Maccafferri® o BAG ao receber o lodo em seu interior, permite o escoamento do líquido

através dos poros do tecido geotêxtil, que retém as partículas sólidas, reduzindo o teor de

umidade e consequentemente, o teor de DBO, gerando um líquido clarificado. O processo é

acelerado com adição de produtos químicos que permitem a floculação do lodo no interior do

BAG. Também podem ser adicionados produtos químicos que permitem a higienização do

lodo como a cal (hidróxido de cálcio). A Figura 10 demonstra a utilização destes bolsões.

Figura 10 – BAG de desaguamento e desidratação de lodos de ETE

Fonte: Catálogo técnico do fabricante MACCAFERRI (2010)

2.4.4 Higienização de Lodos

Do ponto de vista biológico, o lodo concentra a maioria dos organismos presentes no

esgoto sanitário, podendo constituir significativa ameaça à saúde pública. A contaminação

microbiológica do lodo é originada principalmente do material fecal contido no esgoto,

portanto, dependente das características sanitárias da população que produz os efluentes

lançados na rede coletora, refletindo dessa maneira o perfil de saúde da população atendida.

(ANDREOLI, 1999)

Os níveis de patogenicidade podem ser substancialmente reduzidos através dos

processos de estabilização e tratamento, como a digestão anaeróbia ou aeróbia. Entretanto,

muitos parasitas intestinais e principalmente seus ovos, são muito pouco afetados por

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processos de digestão convencional, necessitando uma etapa complementar ou conjugada aos

processos convencionais para sua completa inativação, denominada higienização. É

importante salientar que o processo não é uma desinfecção, uma vez que não são desativados

totalmente todos os microrganismos patogênicos presentes no lodo. A higienização busca

reduzir a patogenicidade do lodo a níveis que não venham causar riscos à saúde da população,

de acordo com as exigências para cada utilização. (VON SPERLING, 2001).

De acordo com o mesmo autor os processos de higienização de lodos combinam

mecanismos térmicos, químicos e/ou biológicos para alcançar a inativação pretendida. O

mecanismo de redução por via térmica combina duas variáveis de controle, relacionadas ao

tempo de permanência do lodo a uma dada temperatura. Estas duas variáveis agem em

conjunto para atingir a qualidade microbiológica exigida. O mecanismo de higienização de

lodos pela via química utiliza um produto alcalinizante para elevar o pH do lodo e

consequentemente alterar a natureza coloidal do protoplasma celular dos microrganismos

patogênicos de forma letal, e produzir um ambiente inóspito para a sua sobrevivência. Já a

inativação via biológica busca a continuidade do processo de estabilização microbiológica

com destaque à compostagem, que é um processo aeróbio de decomposição da matéria

orgânica efetuada em condições controladas de temperatura, umidade, oxigênio e nutrientes.

De acordo com os experimentos realizados pela Companhia de Saneamento do Paraná

– SANEPAR, descritos no Programa de Pesquisa em Saneamento Básico – PROSAB,

observou-se que o limite mínimo de umidade (% água) do lodo, que promove uma boa reação

com o cal, é um teor próximo a 70%. Teores de umidade menores não apresentam quantidade

de água suficiente para que a mistura atinja temperaturas muito altas, reduzindo o efeito

desinfetante.

Gonçalves (1999) define que a compostagem é um processo biológico no qual uma

mistura inicial de resíduos sofre a ação de vários grupos de microrganismos. Durante o

processo de biodegradação da matéria orgânica a temperatura se eleva naturalmente chegando

a 60-65 ºC nos primeiro dias do processo, temperatura esta suficiente para inviabilizar ou

reduzir os patógenos presentes no lodo.

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3. METODOLOGIA DE PESQUISA

3.1 Área de Estudo

A área de estudo da pesquisa está localizado na região Metropolitana do Vale do Rio

Cuiabá. Segundo informações obtidas com o setor de planejamento e engenharia do

empreendimento, o complexo conta com cinco indústrias instalas em uma área total

construída de 196.629,43 m². A Estação de tratamento de água, que abastece todo o complexo,

tem a capacidade de tratar até 24.000 m³ por dia. A estação de tratamento de efluentes,

utilizada atualmente, possui um sistema de lodos ativados com a capacidade de receber

20.000 m³/dia de efluente gerado nos processos de todas as indústrias instaladas. Tanto a

captação de água quanto a diluição de efluentes são outorgadas pela Agência Nacional de

Águas para utilizar a margem direita do Rio Cuiabá, em pontos próximos ao complexo de

indústrias.

O complexo está situado entre os municípios de Cuiabá e Várzea Grande nas

coordenadas: Longitude 56°5’12,5” Oeste e Latitude 15°37’56” Sul. A Figura 11 exibe a

localização do complexo.

Figura 11 - Localização do complexo de indústrias frigoríficas

Fonte: Google Maps, 2014

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43

A figura 12 apresenta a delimitação do perímetro do empreendimento. Nos próximos

itens são apresentadas as indústrias presentes no complexo. As informações foram obtidas

junto ao setor de planejamento e engenharia do empreendimento.

Figura 12 - Delimitação do perímetro do empreendimento

Fonte: Adaptado do Google Earth, 2014

3.1.1 Frigorífico de Aves

O frigorífico de aves opera realizando o abate e produção in natura de frango com

capacidade instalada de 170.000 unidades por dia. Atua em dois turnos totalizando 17,6 h de

produção por dia. Possui 1.249 funcionários trabalhando em duas linhas.

Segundo relatório técnico fornecido pelo empreendimento, em 2012 o frigorífico de

aves realizou abate médio de 151.871 frangos/dia consolidando uma produção média de

287,82 ton/dia. O consumo de água é de 6.380 m³/dia o que representa um volume de 42

L/frango. A geração de efluente decorrente do processo é de 5.423 m³/dia o que representa um

volume de 35,7 L/frango.

3.1.2 Frigorífico de Bovinos

O frigorífico de bovinos opera realizando o abate e produção in natura de bovinos com

capacidade instalada de 2.000 unidades por dia. Atua em um turno totalizando 8,48 h de

produção por dia. Possui 961 funcionários trabalhando em uma linha.

O frigorífico de bovinos, no ano de 2012, realizou abate em média de 927 bois/dia

produzindo assim 237,22 ton/dia de carne. O consumo de água foi de 3.890 m³/dia

representando um consumo per capta de 4.180 L/boi. A correspondente geração de efluente

foi de 3.294 m³/dia representando um per capta de 3.553 L/boi.

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3.1.3 Fábricas de Derivados Cárneos

A unidade possui três fábricas de produtos cárneos: 1 - Hambúrguer e Porcionados, 2 -

Carne Cozida Congelada e 3 - Assados, Grelhados e Empanados.

A Fábrica 1 (Hambúrguer e Porcionados) possui uma capacidade instalada para

produzir 250 ton/dia. Opera em 2 turnos totalizando 14,7 h de produção por dia e o quadro de

colaboradores é de 551 funcionários trabalhando em 10 linhas.

A Fábrica 2 (Carne Cozida Congelada) possui uma capacidade instalada para produzir

35 ton/dia. Opera em 1 turno totalizando 8,48 h de produção por dia e o quadro de

colaboradores é de 106 funcionários trabalhando em 2 linhas.

A Fábrica 3 (Assados, Grelhados e Empanados) possui uma capacidade instalada para

produzir 100 ton/dia. Opera em 2 turnos totalizando 14,7 h de produção por dia e o quadro de

colaboradores é de 313 funcionários trabalhando em 8 linhas.

Em 2012, a fabricação de industrializados gerou 175,7 ton/dia de produtos, consumiu

4.145 m³/dia de água que representa um consumo per capta de 23,6 m³/ton. Gerou 3.523

m³/dia de efluente que representa um per capta de 20,1 m³/ton.

A Figura 13 apresenta a localização das indústrias dentro do complexo. As áreas em

destaque são: 1 - Fábrica Assados, Grelhados e Empanados, 2 - Fábrica de Hambúrguer e

Porcionados, 3 - Frigorífico de Bovinos, 4 - Fábrica de Carne Cozida Congelada e 5 -

Frigorífico de Aves. As demais áreas são unidades anexas, setores administrativos,

estacionamento, almoxarifados, depósitos e setores de apoio.

Figura 13 - Localização das indústrias dentro do complexo

Fonte: Adaptado do Google Earth, 2014

Page 46: AVALIAÇÃO FÍSICO -QUÍMICA E MICROBIOLÓGICA DE LODO …

45

3.1.4 Sistema de Tratamento de Efluentes

Atualmente, todos os efluentes gerados nas indústrias do complexo são destinados a

uma estação de tratamento por lodos ativados. Até setembro de 2008, os mesmos eram

tratados em um sistema de lagoas de estabilização. A Figura 14 demonstra a localização das

estações de tratamento no complexo com as localizações das estações (atual e desativada) em

destaque. Após tradado, o efluente é lançado no rio Cuiabá.

Figura 14 - Localização das ETEs

Fonte: Adaptado do Google Earth, 2014

Para promover uma melhor separação da carga orgânica presente nos descartes

industriais há uma separação dos efluentes gerados no frigorífico de bovinos em duas linhas:

Linha Verde: efluente originado do corte e abertura do sistema digestivo dos animais abatidos

(Rumem). Possi esta denominação devido a sua coloração, em virtude da presença do rumem

bovino. Linha Vermelha: efluente originado das demais etapas do processo de abate e corte de

carcaças. O nome se dá por sua coloração, em decorrência da presença de sangue dos animais

abatidos.

Os efluentes originados dos processos industriais de produção de Hambúrguer, Carne

Cozida e AGE (Assados, Grelhados e Empanados) são incorporados à linha vermelha e

destinados a um tratamento preliminar composto de grades e peneiramento. Posteriormente os

mesmos são destinados a um tratamento primário composto de tanque de equalização, sistema

de dosagem e mistura de cloreto férrico e polímero para separação da gordura em um flotador.

Os efluentes gerados no Frigorífico de Aves são encaminhados para um sistema de

tratamento preliminar e primário também composto de tanque de equalização, sistema de

dosagem e mistura de cloreto férrico e polímero para separação da gordura em um flotador.

Page 47: AVALIAÇÃO FÍSICO -QUÍMICA E MICROBIOLÓGICA DE LODO …

46

Desde a abertura da fábrica até setembro de 2008, a linha verde do frigorífico de

bovinos, após o tratamento preliminar (gradeamento e peneiramento), era misturada com os

efluentes originados dos flotadores da linha vermelha e do frigorífico de aves para depois

serem encaminhados a um sistema de tratamento secundário (biológico). Esse tratamento é

composto por lagoas de estabilização contendo duas anaeróbias, uma facultativa e uma de

maturação, todas operando em série. A Figura 15 ilustra o sistema de tratamento de efluente

(STE) realizado no complexo até setembro de 2008

Figura 15 - Concepção do sistema de tratamento de efluentes do complexo de industriais frigoríficas até 2008

Fonte: Yano, 2012

Lagoa Facultativa

Lagoa de Maturação

Lagoa

Anaeróbia I

Lagoa

Anaeróbia II

Tanque de

Equalização

Grades PeneiraDosagem de

Cloreto e PolímeroAves

Flotador

Flotador

Linha Vermelha

Linha VerdeGrades Peneira

LV

Grades PeneiraDosagem de

Cloreto e PolímeroAGE

Boi

Hamb.

Tanque de

Equalização

Corpo Receptor

Page 48: AVALIAÇÃO FÍSICO -QUÍMICA E MICROBIOLÓGICA DE LODO …

47

Em setembro de 2008 foi instalado, um sistema de tratamento por lodos ativados que

passou a receber os efluentes originados dos flotadores do frigorifico de aves e da linha

vermelha. A linha verde continuou sendo direcionada para as lagoas de estabilização. A

Figura 16 demonstra o fluxograma do sistema de tratamento de efluentes implantado em

setembro de 2008, cuja operação ocorreu até janeiro de 2010.

Figura 16 – Sistema de tratamento de efluentes do complexo de industriais frigoríficas de 2008 a 2010

Fonte: Yano, 2012

Decantador

Secundário

Lagoa Facultativa

Lagoa de Maturação

Lagoa

Anaeróbia

I

Lagoa

Anaeróbia

II

Linha Verde

Corpo Receptor

Tanque de Aeração

Calha Parshall

Rec

ircu

laçã

o d

o L

odo

Linha Vermelha

Peneira

Av

es

Tanque de

Equalização

Grades

Dosagem de

Cloreto e Polímero

Flotador

Peneira

AG

E

Bo

i

Ham

b.

Tanque de

Equalização

Grades

Dosagem de

Cloreto e Polímero

Flotador

Peneira

Grades

Corpo Receptor

Destino final

Adensador

Prensas

Sobrenadante

Lodo

Page 49: AVALIAÇÃO FÍSICO -QUÍMICA E MICROBIOLÓGICA DE LODO …

48

Em janeiro de 2012, as lagoas de estabilização foram totalmente desativadas e o

efluente da linha verde passou a ser destinado também ao sistema de lodos ativados. Para

tratamento primário, com inclusão desta linha foram instalados um tanque de equalização, um

sistema de dosagem e de mistura de cloreto férrico e polímero, e também um flotador para

separação de sólidos. A Figura 17 mostra o fluxograma atual do sistema de tratamento de

efluentes do complexo

Figura 17 – Sistema atual de tratamento de efluentes do complexo de industriais frigoríficas

Fonte: Yano, 2012

Decantador

Secundário

Corpo Receptor

Tanque de Aeração

Calha Parshall

Rec

ircu

laçã

o d

o L

od

o

Destino final

Adensador

Prensas

Sobrenadante

Tanque de

Equalização

Grades PeneiraDosagem de

Cloreto e PolímeroAves

Flotador

Flotador

Linha Vermelha

Linha VerdeGrades Peneira

LV

Grades PeneiraDosagem de

Cloreto e PolímeroAGE

Boi

Hamb.

Tanque de

Equalização

Flotador

Dosagem de

Cloreto e PolímeroTanque de

Equalização

Lodo

Page 50: AVALIAÇÃO FÍSICO -QUÍMICA E MICROBIOLÓGICA DE LODO …

49

3.2 Avaliação Quantitativa do Lodo

Este estudo refere-se ao lodo das lagoas de estabilização que se encontram

desativadas. Os próximos itens mencionam os estudos realizados para quantificação e

caracterização.

Para quantificar o volume de lodo na superfície e no fundo das lagoas foram realizados

testes de batimetria. O teste consiste em medir a altura de cada camada em pontos

previamente estabelecidos. A partir do valor médio destas alturas determina-se o volume de

lodo ou de efluente presente nas lagoas.

Foram realizados dois testes de batimetria, um antes da desativação do sistema de

tratamento de efluentes, realizado em outubro de 2010 por uma empresa contratada e o outro

em janeiro de 2014, realizado pelo autor com o auxílio de operadores do sistema de

tratamento de efluentes do complexo. As lagoas de estabilização foram desativadas em janeiro

de 2012.

O conteúdo das lagoas facultativas e de maturação (efluente e lodo) foi bombeado para

as lagoas anaeróbias 1 e 2. As lagoas facultativas e de maturação foram desmontadas com a

demolição dos taludes internos e externos realizada por máquinas de terraplanagem. O solo

foi nivelado de modo a evitar o acúmulo de água de chuva. O segundo teste de batimetria,

portanto, foi realizado apenas nas lagoas anaeróbias, onde foram reunidos o efluente e o lodo

proveniente de todo o sistema desativado.

3.2.1 Primeiro Teste de Batimetria

O primeiro teste de batimetria, feito antes da desativação do sistema, foi realizado por

um ecobatímetro, equipamento que por meio da emissão, propagação e recepção de ondas

acústicas, consegue determinar o nível de efluente e lodo nas lagoas, diferenciando as

camadas conforme sua densidade. Para coleta dos dados da primeira batimetria foram fixadas

estacas ao longo dos perímetros das lagoas, uma corda presa às duas estacas opostas serviu de

guia para a medição da altura da camada de lodo em cada ponto de coleta. Um bote foi

utilizado para acesso aos pontos de coleta.

Nas lagoas anaeróbias, as estacas foram espaçadas a cada 10 e 15 m nas dimensões

comprimento e largura, respectivamente. A lagoa anaeróbia 1 possui uma largura de 60 m e

um comprimento de 152 m, totalizando 42 pontos de coleta. A lagoa anaeróbia 2 possui 57 m

x 152 m, totalizando 42 pontos de coleta. A Figura 18 demonstra o espaçamento entre as

estacas e os pontos de coleta nas lagoas anaeróbias durante o primeiro teste de batimetria.

Page 51: AVALIAÇÃO FÍSICO -QUÍMICA E MICROBIOLÓGICA DE LODO …

50

Figura 18 - Distribuição dos pontos de coleta nas lagoas anaeróbias durante o primeiro teste de batimetria

A lagoa facultativa possuía 250 m de comprimento e 230 m de largura, as estacas

foram espaçadas a cada 30 e 33 m nas dimensões comprimento e largura, respecrivamente,

totalizando 42 pontos de coleta. A Figura 19 demonstra o estaqueamento da lagoa facultativa

durante o teste de batimetria.

Figura 19 - Distribuição dos pontos de coleta na lagoa facultativa durante o primeiro teste de batimetria

As dimensões da lagoa de maturação eram 230 m de comprimento e 26 m de largura.

As estacas foram espaçadas a cada 42 e 6,5 m nas dimensões comprimento e largura,

respectivamente, totalizando 30 pontos de teste. A Figura 20 demonstra como ficaram

dispostos os pontos de coleta.

Page 52: AVALIAÇÃO FÍSICO -QUÍMICA E MICROBIOLÓGICA DE LODO …

51

Figura 20 - Distribuição dos pontos de coleta na lagoa de maturação durante o primeiro teste

Durante as coletas do primeiro teste de batimetria, as lagoas anaeróbias e facultativa

possuíam vegetação (gramas e arbustos) que se desenvolveu sobre o lodo de superfície, o que

impossibilitou a coleta nos pontos centrais das lagoas anaeróbias e em partes da facultativa.

As imagens das Figuras de 21 a 24 demostram as condições das lagoas durante a realização

do primeiro teste de batimetria.

Figura 21 - Lagoa anaeróbia 1 durante o primeiro

teste de batimetria

Figura 22 - Lagoa anaeróbia 2 durante o primeiro

teste de batimetria

Figura 23 - Lagoa facultativa durante o primeiro

teste de batimetria

Figura 24 - Lagoa de maturação durante o

primeiro teste de batimetria

Page 53: AVALIAÇÃO FÍSICO -QUÍMICA E MICROBIOLÓGICA DE LODO …

52

3.2.2 Segundo Teste de Batimetria

Para medição do nível de lodo durante o segundo teste de batimeria, realizado após a

desativação das lagoas facultativa e de maturação, foi utilizado uma haste montada com tubo

de PVC para esgoto de 40 mm com 6 m de comprimento. O tubo foi revestido com uma

manta acrílica fixada com barbante para favorecer a aderência do lodo. As Figuras 25 e 26

ilustram a construção da haste para medição do nível de lodo nas lagoas.

Figura 25 - Tecido branco felpudo para fixação do

lodo Figura 26 - Tubo revestido com manta acrílica

Ao longo do perímetro das lagoas foram fixadas estacas espaçadas em 38 m no sentido

longitudinal e em 15 m no sentido transversal, determinando-se 9 pontos de coleta. Uma

corda presa às duas estacas opostas serviu de guia para a medição da altura da camada de

lodo. A Figura 27 ilustra a disposição dos pontos de medição das alturas das camadas de lodo.

Figura 27 - Distribuição dos pontos de coleta nas lagoas anaeróbias durante o segundo teste de batimetria

Page 54: AVALIAÇÃO FÍSICO -QUÍMICA E MICROBIOLÓGICA DE LODO …

53

A haste preparada foi introduzida perpendicularmente nos pontos de medição até o

fundo da lagoa e, após cinco minutos em cada ponto, mediam-se as camadas de lodo com o

auxílio de uma trena. A introdução e a retirada da haste nos pontos de coleta foram realizadas

rapidamente para que o lodo de superfície ou de fundo não aderisse na haste durante esta

etapa.

O lodo de superfície das lagoas estava seco em alguns pontos possibilitando caminhar

sobre o mesmo. Em outras partes é possível visualizar apenas efluente, nessas foi utilizado um

bote para realizar a coleta As imagens das Figuras de 28 a 31demonstram as condições das

lagoas durante o segundo teste de batimetria.

Figura 28 - Lagoa anaeróbia 1 durante o segundo

teste de batimetria

Figura 29 - Lagoa anaeróbia 1 durante o segundo

teste de batimetria

Figura 30 - Lodo seco na superfície das lagoas Figura 31 - Efluente na superfície da lagoa

Com os dados coletados em campo e com a utilização de fórmulas matemáticas de

geometria e volumetria foi possível determinar o volume de lodo e de efluente das lagoas a

partir das profundidades médias de cada camada. Os taludes internos das lagoas possuem

Page 55: AVALIAÇÃO FÍSICO -QUÍMICA E MICROBIOLÓGICA DE LODO …

54

inclinação de 1:2 (V:H). Ao se fazer um corte na sessão longitudinal ou transversal da lagoa

tem-se um trapézio isósceles. A Figura 32 demonstra suas dimensões geométricas do corte.

Figura 32 - Elementos geométricos de um trapézio isósceles resultante do corte longitudinal da lagoa

Onde,

B = comprimento da superfície;

m = indicador horizontal de talude;

h = altura;

b = comprimento do fundo.

Para determinar o comprimento ou largura no fundo (b) ou em qualquer outro ponto

(b’) em função da altura (h) ou (h’) utilizou-se a fórmula:

A partir dos valores de comprimento e largura da superfície e das camadas definidas

em função da altura (Figura 33), utilizou-se a fórmula de volumetria de tronco de pirâmide

para determinar o volume.

Figura 33 - Elementos geométricos de topo de pirâmide

[ ]

Onde,

A = comprimento da superfície (m);

B = largura da superfície (m);

a = comprimento do fundo ou da camada (m);

b = largura do fundo ou da camada (m)

h = altura (m)

Page 56: AVALIAÇÃO FÍSICO -QUÍMICA E MICROBIOLÓGICA DE LODO …

55

Para determinação da área lateral dos taludes internos utilizou-se a relação:

Onde HS (comprimento lateral em metros) é determinado por:

√(

)

3.3 Avaliação da Qualidade do Lodo

3.3.1 Coleta das Amostras

Durante o teste de batimetria foi possível verificar uma camada intermediária de

efluente nas lagoas e, em algumas partes, foi possível constatar que este líquido estava

presente também na superfície. Portanto, foram coletadas amostras de efluente para

caracterizá-lo considerando as variáveis utilizadas na análise qualitativa do lodo.

As amostras de lodo e efluente foram coletados, nos pontos estabelecidos na Figura

27. Para esta coleta foi utilizado um tubo de PVC de esgoto de 40 mm, com um embolo

interno construído com um tubo de PVC de água de 20 mm e espuma fixada na extremidade

inferior (coletora), funcionando como pistão para através de vácuo, succionar a amostra para o

interior do tubo - Figuras 34 a 37. O tubo foi graduado na parte externa permitindo que se

fizesse coleta em três secções, gerando amostras do lodo de superfície, do efluente e do lodo

de fundo.

Figura 34 - Tubos para coleta Figura 35 - Construção do coletor

Page 57: AVALIAÇÃO FÍSICO -QUÍMICA E MICROBIOLÓGICA DE LODO …

56

Figura 36 - Construção da sucção Figura 37 - Extremidade coletora

A Figura 38 demonstra a distribuição dos pontos de coleta em corte.

Figura 38 - Distribuição vertical dos pontos de coleta

Foram coletados 100 mL de amostra em cada ponto. Posteriormente, as mesmas foram

misturadas gerando seis amostras compostas de 900 mL (separadas por seção vertical e por

lagoa, ficando distribuídas da seguinte forma: (A1) amostra composta dos 9 pontos de coleta

do lodo de superfície da lagoa anaeróbia 1; (A2) amostra composta dos 9 pontos de coleta do

lodo de superfície da lagoa anaeróbia 2; (B1) amostra composta dos 9 pontos de coleta do

efluente presente na camada intermediária da lagoa anaeróbia 1; (B2) amostra composta dos 9

pontos de coleta do efluente presente na camada intermediária da lagoa anaeróbia 2; (C1)

amostra composta dos 9 pontos de coleta do lodo de fundo da lagoa anaeróbia 1 e (C2)

amostra composta dos 9 pontos de coleta do lodo de fundo da lagoa anaeróbia 2. A Figura 39

demonstra o lodo e efluente coletados da lagoa anaeróbia 1.

Por fim, as amostras foram acondicionadas e preservadas em frascos fornecidos pelo

laboratório contratado para realização dos testes - seguindo as recomendações da Norma

Técnica ABNT NBR 9898/1987 (Preservação e técnicas de amostragem de afluente líquidos e

corpos receptores), Figura 40.

Page 58: AVALIAÇÃO FÍSICO -QUÍMICA E MICROBIOLÓGICA DE LODO …

57

Figura 39 - Recipientes utilizados para coleta Figura 40 - Frascos de acondicionamento das amostras

3.3.2 Métodos de Análises dos Parâmetros Físico Químicos

A determinação de Sólidos em Suspensão Totais (SST), Voláteis (SSV) e Fixos (SSF),

assim como o Potencial Hidrogeniônico (pH), a Demanda Biológica de Oxigênio (DBO) e as

concentrações de Nitrogênio Total e Fósforo foram realizadas por métodos descritos nos

Standard Methods for the Examination of Water and Wastwater (22ª ed., 2012). A Tabela 6

resume os parâmetros analisados, as unidades dos resultados e os métodos de análises

aplicados.

Tabela 6 - Métodos das variáveis físico-químicas

Variável Unidade Método

SST mg/L Gravimétrico

SSV mg/L Gravimétrico

SSF mg/L Gravimétrico

pH - Potenciométrico

DBO mg/L de Dilução

N mg/L Volumetria

P mg/L Espectrofotometria

3.3.3 Métodos de Análise Microbiológica

A determinação de Coliformes Totais e Termotolerantes foi realizada de acordo com

métodos descritos nos Standard Methods for the Examination of Water and Wastwater (22ª

ed., 2012). As concentrações de Salmonellas spp e Ovos de Helmintos (Ovos viáveis de

Ascaris spp) foram determinadas conforme Normas Técnicas disponibilizadas pela CETESB:

Norma Técnica L5. 551/2013 - Ovos viáveis de Ascaris spp, determinação pela técnica de

centrífugo-flutuação em amostras de lodo de esgoto; Norma Técnica L5.218/1993 -

Page 59: AVALIAÇÃO FÍSICO -QUÍMICA E MICROBIOLÓGICA DE LODO …

58

Salmonella spp - isolamento e identificação. A Tabela 7 resume as variáveis analisadas, a

unidades de resultado e os métodos aplicados.

Tabela 7 - Análise microbiológica

Variável Unidade Método

Coliformes Totais e Termotolerantes N.M.P. / g ST tubos múltiplos

Salmonellas spp N.M.P. / g ST tubos múltiplos

Ovos de Ascaris spp Ovos viáveis / g ST centrífugo flutuação

3.4 Avaliação das Condições Quali-Quantitativas do Lodo

Para determinação do teor de sólidos, de umidade e da densidade do lodo presente nas

amostras, foi utilizada metodologia proposta por METCALF & EDDY (1991) apud

SPERLING (2001). A relação entre o teor de sólidos secos e de umidade em um lodo foi

determinado pela equação:

A concentração de sólidos secos é obtido a partir do resultado da análise de Sólidos

em Suspensão Totais (SST) expresso em mg/L por meio da seguinte relação:

A densidade é obtida por meio das relações entre as concentrações de Sólidos em

Suspensão Totais, Voláteis e Fixos. A densidade das partículas de sólidos fixos situa-se em

torno de 2,5. Enquanto a densidade dos sólidos voláteis é próxima de 1,0. A densidade da

água é 1,0. A densidade do lodo (mistura água + sólidos) depende da distribuição relativa

entre estes três constituintes do lodo. A densidade pode ser aproximada por:

(

)

Por sua vez, a densidade do lodo (mistura sólidos + água) pode ser determinada por:

Page 60: AVALIAÇÃO FÍSICO -QUÍMICA E MICROBIOLÓGICA DE LODO …

59

(

)

A fração de sólidos no lodo corresponde aos sólidos secos (SST), expressos em

decimais, ao passo que a fração de água no lodo corresponde à umidade, expressa também em

decimais.

A relação entre densidade e volume foi determinada conforme metodologia proposta

por METCALF & EDDY (1991) apud NUVOLARI, 2011. O volume de lodo pode ser

calculado por meio da expressão:

Considerando as concentrações em mg/L dos parâmetros de DBO e concentrações de

N e P pode-se determinar a carga em massa de cada constituinte a partir do volume (lodo ou

efluente) onde estão contidos. Utiliza-se a seguinte expressão para determinar:

Conhecendo o valor da massa lodo presente nas camadas do mesmo, determinada a

partir da concentração de sólidos secos (SST) e da densidade, relacionando-a com as cargas

de N e P presente nas camadas de lodo das lagoas determina-se a concentração de N e P em

percentual de sólidos secos (SST):

Page 61: AVALIAÇÃO FÍSICO -QUÍMICA E MICROBIOLÓGICA DE LODO …

60

4. RESULTADOS E DISCUSSÕES

4.1 Análise Quantitativa

4.1.1 Primeiro Teste Quantitativo do Lodo

A batimetria realizada em outubro de 2010 constatou que o lodo presente na Lagoa

Anaeróbia 1 estava dividido em duas camadas, uma na superfície medindo 0,5 m de altura e

uma no fundo medindo 1,29 m, representando 3.962,2 m³ de lodo na superfície e 7.857,3 m³

no fundo da lagoa, totalizando 11.819,5 m³. As profundidades médias encontradas durante o

teste estão ilustradas na Figura 41, as dimensões estão apresentadas em metros.

Figura 41 – Representação das camadas da Lagoa Anaeróbia 1 durante o primeiro teste de batimetria

Na Lagoa Anaeróbia 2 o lodo presente também estava dividido em duas camadas

durante o primeiro teste de batimetria. A camada de lodo de superfície era de 0,7 m

representando um volume de 5.689,6 m³ e a camada de fundo possuía 0,7 m representando

3.348,5 m³, portanto, o volume total de lodo presente na Lagoa Anaeróbia 1 durante o

primeiro teste era de 9.38,1 m³. A Figura 42 apresenta as dimensões médias das camadas da

Lagoa Anaeróbia 1.

Figura 42 – Representação das camadas da Lagoa Anaeróbia 2 durante o primeiro teste de batimetria

Page 62: AVALIAÇÃO FÍSICO -QUÍMICA E MICROBIOLÓGICA DE LODO …

61

O lodo presente na Lagoa Facultativa estava localizado apenas no fundo e media 0,73

m representando um volume de 34.262,8 m³. A Figura 43 apresenta as dimensões das

camadas da Lagoa Facultativa durante o primeiro teste de batimetria.

Figura 43 – Representação das camadas da Lagoa Facultativa durante o primeiro teste de batimetria

Na Lagoa de Maturação, durante o primeiro teste, o lodo estava localizado apenas no

fundo e media 1,27 m representando um volume de 3.257,3 m³. A Figura 44 apresenta as

dimensões das camadas da Lagoa de Maturação.

Figura 44 – Representação das camadas da Lagoa de Maturação durante o primeiro teste de batimetria

4.1.2 Segundo Teste Quantitativo do Lodo

O segundo teste de batimetria foi realizado em janeiro de 2014 nas Lagoas Anaeróbias

1 e 2. A Lagoa Anaeróbia 1 apresentou uma camada de lodo de superfície medindo 0,85 m de

altura e uma camada de lodo de fundo de 2,02 m, separadas por uma camada de efluente

medindo 0,43 m. Representando 6.617,4 m³ de lodo na superfície e 12.848,8 m³ no fundo,

totalizando 19.466,3 m³. A Figura 45 apresenta as dimensões médias, em metro, das camadas

determinadas durante o segundo teste de batimetria.

Page 63: AVALIAÇÃO FÍSICO -QUÍMICA E MICROBIOLÓGICA DE LODO …

62

Figura 45 – Representação das camadas da Lagoa Anaeróbia 1 durante o segundo teste de batimetria

Na Lagoa Anaeróbia 2 o lodo também estava disposto em duas camadas, uma de

superfície e uma de fundo, separadas por efluente. A camada de superfície media 0,9 m

representando 6.526,0 m³ enquanto a camada de fundo media 2,75 m representando 15.119,0

m³, totalizando 21.645,0 m³ de lodo. A Figura 46 apresenta as dimensões médias das camadas

determinadas no segundo teste de batimetria realizado na Lagoa Anaeróbia 2.

Figura 46 – Representação das camadas da Lagoa Anaeróbia 2 durante o segundo teste de batimetria

4.1.3 Consolidação da Quantificação do Lodo

O primeiro teste de batimetria possibilitou a determinação de um volume total de

58.377,7 m³ de lodo enquanto, o segundo teste demonstrou haver 41.113,3 m³. Observou-se

uma redução de 29,6% do volume de lodo em três anos e dois meses. Esta diferença

volumétrica pode ser justificada por uma má execução dos serviços de sucção de lodo das

lagoas facultativa e de maturação para as lagoas anaeróbias 1 e 2 durante a desativação do

sistema. Foi possível observar lodo sobre o solo nas áreas onde estavam instaladas as lagoas

Page 64: AVALIAÇÃO FÍSICO -QUÍMICA E MICROBIOLÓGICA DE LODO …

63

facultativa e de maturação (Figuras 47 e 48), indicando a possibilidade de que nem todo o

lodo do sistema foi reunido nas lagoas anaeróbias 1 e 2.

Figura 47 – Lodo sobre o solo na área da Lagoa

Facultativa

Figura 48 – Lodo sobre o solo na área da Lagoa de

Maturação

Há a possibilidade de ter havido também uma redução volumétrica devido à

evaporação e infiltração da parte líquida do lodo representando uma diminuição da umidade,

porém, esta afirmação só poderia ser precisa se houvesse a realização da análise de Sólidos

em Suspensão Totais do lodo durante o primeiro teste de batimetria para comparação com

esta análise realizada durante o segundo teste. A diminuição da umidade representaria o

adensamento do lodo, processo preliminar importante para a disposição final do mesmo –

melhorando suas condições de manejo e transporte, reduzindo o volume e diminuindo a

produção de lixiviados quando da disposição no solo.

O volume total de efluente determinado pelo primeiro teste foi de 52.102,8 m³ e de

6.812,4 m³ para o segundo teste. Houve uma redução considerável do volume de efluente de

86,9%. Esta redução é justificada com o descarte de efluente tratado do sistema para o corpo

receptor durante a desativação do sistema. Ocorre também a infiltração de líquido no solo e

evaporação na superfície, o que representa também uma diminuição da umidade total do

sistema.

A diminuição do volume do lodo com a remoção da umidade, culminando nos

benefícios apresentados anteriormente, poderia ser otimizada com o desaguamento das

camadas de efluente das lagoas para o novo sistema de tratamento do complexo de indústrias

ou para o corpo receptor desde que observados os parâmetros determinados por legislação e

pela outorga de diluição de efluentes. A execução deste procedimento transformaria as lagoas

anaeróbias 1 e 2 em lagoas de secagem, acelerando os processos de adensamento e

Page 65: AVALIAÇÃO FÍSICO -QUÍMICA E MICROBIOLÓGICA DE LODO …

64

desaguamento do lodo. Porém, se as condições atuais se mantiverem – existência de uma

camada de efluente entre o lodo de superfície e o de fundo, os processos serão retardados por

não haver uma superfície de contato (efluente – atmosfera) para promover a evaporação da

parte líquida.

4.2 Resultados das Análises Físico Químicas

Após a coleta, realizada em fevereiro de 2014, as amostras de lodo e efluente das

lagoas anaeróbias 1 e 2 foram enviadas para um laboratório contratado para determinar os

principais parâmetros físico-químicos. Os resultados obtidos relativos a lagoa anaeróbia 1

estão reunidos na Tabela 8.

Tabela 8 – Caracterização Físico Química da Lagoa Anaeróbia 1

Lagoa Anaeróbia 1

Variável Unidade Lodo de Superfície Lodo de Fundo Efluente

SST mg/L 27.337,0 23.125,0 12

SSV mg/L 12.257,0 9.944,0 25

SSF mg/L 15.080,0 13.181,0 188

pH - 7,4 7,4 7,4

DBO mg/L 108 102 48

N mg/L 327 366 372

P mg/L 20 20 0,2

Os resultados obtidos relativos a lagoa anaeróbia 2 estão reunidos na Tabela 9.

Tabela 9 – Caracterização Físico Química da Lagoa Anaeróbia 2

Lagoa Anaeróbia 2

Variável Unidade Lodo de Superfície Lodo de Fundo Efluente

SST mg/L 31.255,0 29.874,0 16,0

SSV mg/L 13.440,0 9.560,0 32,0

SSF mg/L 17.815,0 20.314,0 248,0

pH - 7,6 7,6 7,6

DBO mg/L 120,0 120,0 60,0

N mg/L 420,0 476,0 490,0

P mg/L 30 30 0,2

Page 66: AVALIAÇÃO FÍSICO -QUÍMICA E MICROBIOLÓGICA DE LODO …

65

4.2.1 Avaliação das Condições do Lodo Considerando a Concentração de Sólidos

O lodo de superfície da lagoa anaeróbia 1 apresentou uma concentração de sólidos

secos de 2,73% (SST = 27.337,0 mg/L) e uma concentração de umidade de 97,27% ao passo

que o lodo de fundo apresentou uma concentração de sólidos secos de 2,31% (SST = 23.125,0

mg/L) e uma concentração de umidade de 97,69%. Na lagoa anaeróbia 2 o lodo de superfície

apresentou uma concentração de sólidos secos de 3,13% (SST = 31.255,0 mg/L) e uma

concentração de umidade de 96,87% enquanto o lodo de fundo apresentou uma concentração

de sólidos secos de 2,99% (SST = 29.874,0 mg/L) e uma concentração de umidade de

97,01%. Em ambas as lagoas foi possível observar uma concentração de sólidos secos maior

na superfície, justificada pela evaporação superficial. Conforme classificação apresentada por

Van Haandel e Lettinga (1994) apud Von Sperling (2001) o lodo presente nas lagoas pode ser

identificado como lodo fluido, com concentração de umidade entre 75 e 100%.

Com a relação SSV/SST foi determinada a fração orgânica dos sólidos no lodo bem

como o nível de digestão do lodo. Na lagoa anaeróbia ,1 o lodo de superfície apresentou uma

relação de SSV/SST de 45% e o lodo de fundo de 43%. Na lagoa anaeróbia 2 o lodo de

superfície apresentou uma fração de sólidos orgânicos de 43% em relação aos sólidos totais

ao passo que o lodo de fundo apresentou um teor de 32%. O lodo contido nas lagoas

apresentou-se como digerido segundo a classificação apresentada por VON SPERLING

(2001), relação SSV/SST abaixo de 65%.

Na lagoa anaeróbia 1 o lodo de superfície apresentou uma densidade de sólidos de

1,49 enquanto o lodo de fundo apresentou uma densidade de sólidos de 1,52. Na lagoa

anaeróbia 2 o lodo de superfície apresentou uma densidade de sólidos de 1,52 ao passo que o

lodo de fundo apresentou uma densidade de sólidos de 1,69. Respectivamente, a densidade do

lodo na lagoa anaeróbia 1 é de 1,009 para o lodo de superfície e 1,008 para o lodo de fundo e

na lagoa anaeróbia 2 é de 1,011 para o lodo de superfície e 1,012 para o lodo de fundo. Os

valores de densidade do lodo apresentaram-se bem próximos à densidade da água.

Para os volumes de lodo determinados no teste de batimetria temos que a massa de

Sólidos Secos (SST) é, respectivamente, na lagoa anaeróbia 1: 182,55 ton de lodo na

superfície, 299,5 ton de lodo no fundo, na lagoa anaeróbia 2: 206,17 ton de lodo na superfície

e 457,24 ton de lodo no fundo. A Tabela 10 resume os resultados da análise quali-quantitativa

do lodo.

Page 67: AVALIAÇÃO FÍSICO -QUÍMICA E MICROBIOLÓGICA DE LODO …

66

Tabela 10 – Análise Quali-Quantitativa do lodo

Parâmetros Lagoa Anaeróbia 1 Lagoa Anaeróbia 2

Lodo Superfície Lodo Fundo Lodo Superfície Lodo Fundo

Conc. Sól. Secos 2,73% 2,31% 3,13% 2,99%

Conc. Média Sól. Secos 2,79%

Conc. Umidade 97,27% 97,69% 96,87% 97,01%

SSV/SST 44,8% 43,0% 43,0% 32,0%

SSF/SST 55,2% 57,0% 57,0% 68,0%

Densidade Sólidos 1,49 1,52 1,52 1,69

Densidade Lodo 1,009 1,008 1,011 1,012

Densidade média 1,010

Volume lodo, batimetria (m³) 6.617,4 12.848,8 6.526,0 15.119,0

Volume total de lodo (m³) 41.111,3

Massa de SST (ton) 1.158,45

4.2.2 Discussão dos Resultados das Análises Físico Químicas

Considerando a DBO de 48 mg/L na camada de efluente da lagoa anaeróbia 1 e seu

volume de 3.131,1 m³ serão destinados 150,3 Kg de DBO para o sistema enquanto na lagoa

anaeróbia 2 serão enviados 220,9 Kg de DBO (DBO = 60 mg/L e volume = 3.681,3 m³). Este

efluente também poderia ser destinado ao corpo receptor, respeitando a Resolução CONAMA

430 de 2011 que dispõe sobre as condições e padrões de lançamento de efluentes.

Com relação a carga de nitrogênio total (N) e fósforo total (P) presente nas camadas de

lodo das lagoas, os resultados encontrados foram: 2.163,9 Kg de N e 132,3 Kg de P no lodo

de superfície da lagoa anaeróbia 1; 4.702,7 Kg de N e 257 Kg de P no lodo de fundo da lagoa

anaeróbia 1; 2.740,9 Kg de N e 195,8 Kg de P no lodo de superfície da lagoa anaeróbia 2;

1.814,3 Kg de N e 453,3 Kg de P no lodo de fundo da lagoa anaeróbia 2.

A Tabela 11 reúne os resultados de carga e concentração de N e P divididos de acordo

com as camadas de lodo das lagoas.

Tabela 11 – Carga e concentração de Nitrogênio e Fósforo no lodo das lagoas anaeróbias

Lagoa Anaeróbia 1 Lagoa Anaeróbia 2

Lodo Superfície Lodo Fundo Lodo Superfície Lodo Fundo

Volume (m³) 6617,43133 12848,82 6525,972 15119,04

Massa (ton) 182,552455 299,4976 206,17304 457,2393

N (mg/L) 327 366 420 476

Carga de N (kg) 2163,90005 4702,668 2740,9082 7196,664

Concentração de N (%) 1,19% 1,57% 1,33% 1,57%

P (mg/L) 20 20 30 30

Carga de P (Kg) 132,348627 256,9764 195,77916 453,5713

Concentração de P (%) 0,07% 0,09% 0,09% 0,10%

Page 68: AVALIAÇÃO FÍSICO -QUÍMICA E MICROBIOLÓGICA DE LODO …

67

4.3 Resultados Microbiológicos

Junto com a coleta das amostras de lodo e efluente realizada em fevereiro de 2014 para

as análises físico químicas foram também realizadas as coletas para análises microbiológicas

e enviadas para o laboratório contratado. Os resultados microbiológicos fornecidos para a

lagoa anaeróbia 1 estão reunidos nas Tabelas 12.

Tabela 12 – Análises Microbiológicas da Lagoa Anaeróbia 1

Lagoa Anaeróbia 1

Variável Unidade Lodo de

Superfície

Lodo de

Fundo Efluente

Coliformes

Termotolerantes

N.M.P. / g SST lodo e

N.M.P / 100 mL para efluente 2,2 x 10

7 7,8 x 10

7 1,4 x 10

6

Salmonellas spp N.M.P. / g SST lodo e

N.M.P / 100 mL para efluente Ausente Ausente Ausente

Ovos de Ascaris

spp

Ovos viáveis / g SST lodo e

Ovos viáveis / 100 mL para efluente 1,2 2,1 0

Os resultados microbiológicos fornecidos para a lagoa anaeróbia 2 estão reunidos nas

Tabelas 13.

Tabela 13 – Análises Microbiológicas da Lagoa Anaeróbia 2

Lagoa Anaeróbia 2

Variável Unidade Lodo de

Superfície

Lodo de

Fundo Efluente

Coliformes

Termotolerantes

N.M.P. / g SST lodo e

N.M.P / 100 mL para efluente 3,4 x 10

6 6,1 x 10

7 1,4 x 10

6

Salmonellas spp N.M.P. / g SST lodo e

N.M.P / 100 mL para efluente Ausente Ausente Ausente

Ovos de Ascaris

spp

Ovos viáveis / g SST lodo e

Ovos viáveis / 100 mL para efluente 2,0 2,0 0

De acordo com a tabela 3 da Resolução CONAMA 375/2006 que define critérios e

procedimentos, para o uso agrícola de lodos de esgoto gerados em estações de tratamento de

esgoto sanitário e seus produtos derivados o lodo presente nas lagoas, no estado em que se

encontram com relação a sua qualidade microbiológica, não pode ser aplicado no solo para

uso agrícola justificando, portanto, a necessidade do desaguamento e secagem do lodo.

Posteriormente a estes procedimentos, após uma nova análise microbiológica, poderá ser

necessário a inertização microbiológica com a aplicação de produtos desinfetantes como a cal.

Page 69: AVALIAÇÃO FÍSICO -QUÍMICA E MICROBIOLÓGICA DE LODO …

68

5. ESTIMATIVA PARA A REDUÇÃO DE VOLUME DE LODO

Aliado ao desaguamento proposto, pode-se reduzir consideravelmente o volume de lodo

presente nas lagoas com a evaporação da água englobando os processos de adensamento e

desaguamento. Reduzindo a concentração de umidade para 70% a redução do volume total de

lodo será de 90,7%, de 41.111,3 m³ para 3.823,0 m³. O tempo de secagem do lodo para um

teor de umidade de 70% será estimado por meio do balanço hídrico para lagoas de

estabilização apresentado por JORDÃO, 1995:

Onde:

Qp = Vazão de precipitação de chuvas no período considerado (m³/dia);

Qs = Vazão efluente da lagoa (m³/dia);

Qi = Vazão de infiltração no solo (m³/dia);

Qe = Vazão de evaporação no período considerado (m³/dia)

Como as lagoas estão desativadas, não recebendo mais contribuição de efluente, as

vazões Qa e Qs são nulas no período. Portando, a vazão de secagem do lodo será dada pela

expressão:

Onde:

Qsec = Vazão de secagem do lodo (m³/dia)

Cálculo da Vazão de Precipitação

A vazão de precipitação de chuvas depende do índice de pluviosidade relativo ao

período em que será realizada a operação. Recomenda-se que as operações de manejo e

secagem do lodo das lagoas sejam realizadas durante o período de estiagem, porém, devido à

quantidade de lodo espera-se que o processo se prolongará além deste período. Portanto,

considerou-se a média do índice de pluviosidade anual. A vazão de precipitação (Qp) é

determinada pelo produto do índice pluviométrico do período (tp) pela área superficial (As)

de cada lagoa.

Page 70: AVALIAÇÃO FÍSICO -QUÍMICA E MICROBIOLÓGICA DE LODO …

69

O índice pluviométrico médio mensal foi obtido a partir estudos disponíveis no Banco

de Dados Meteorológicos para Ensino e Pesquisa do Instituto Nacional de Meteorologia –

INMET para a estação do 9º Distrito Meteorológico, localizado em Cuiabá, de janeiro de

1961 a janeiro de 2014, com resultado de 113,5 mm/mês. A área superficial da lagoa

anaeróbia 1 é de 9.120 m² enquanto a área da lagoa anaeróbia 2 é de 8.664 m². Portanto, as

vazões de precipitação serão:

Cálculo da Vazão de evaporação

Com o desaguamento estima-se uma redução de 80% das camadas de efluente de cada

lagoa, na lagoa anaeróbia 1 de 0,43 m para 0,09 m ficando a borda livre em 1,54 e a área de

superfície do lodo (ASL) em 7.852 m² (145,84 m x 53,84 m). Na lagoa anaeróbia 2 a camada

de efluente será reduzida de 0,55 m para 0,11 m ficando a borda livre em 1,77 m e a área de

superfície do lodo (ASL) em 7.234,4 m² (144,92 m x 49,92m).

A vazão de evaporação depende da taxa de evaporação da água presente no lodo, que

não é a mesma da água livre na natureza. A taxa de evaporação (te) utilizada para

dimensionamento da vazão de evaporação foi obtida segundo metodologia proposta por

SPERLING (em Princípios do Tratamento Biológico de Águas Residuárias, 2001). A taxa de

evaporação em uma determinada região é definida por:

Onde:

te = taxa de evaporação potencial do lodo (kg/m².dia);

Ke = 0,6 (fator de correção da evaporação da água livre com relação à água presente no lodo);

Ep = taxa de evaporação na água no local (cm/ano)

A taxa de evaporação da água na região de estudo é de 144,7 cm/ano, obtida a partir

de dados disponibilizados pelo Instituto Nacional de Meteorologia – INMET para a estação

do 9º Distrito Meteorológico, localizado em Cuiabá, de 1961 a 1990. Estes dados foram

Page 71: AVALIAÇÃO FÍSICO -QUÍMICA E MICROBIOLÓGICA DE LODO …

70

obtidos por um evaporímetro de Piche que mede a evaporação (em m ou mm) a partir de uma

superfície porosa, mantida permanentemente umedecida por água. A evaporação é calculada

por abaixamento do nível da água no tubo. Portanto, a taxa de evaporação potencial do lodo

para a área de estudo é de 2,4 kg de água / m².dia. De posse desta taxa e da área de superfície

do lodo (ASL) determina-se a vazão de evaporação pela expressão:

Portanto, considerando a densidade da água, as vazões de evaporação serão:

Cálculo da Vazão de Infiltração

A vazão de infiltração depende do coeficiente de infiltração do líquido no fundo das

lagoas e nos taludes laterais. Este varia em função da qualidade da impermeabilização

realizada e do material utilizado. Considerou-se como coeficiente de infiltração o valor

sugerido pela NBR 7.229 de 1993 (Projeto, construção e operação de sistemas de tanques

sépticos) de 10 L/m².dia para argilas compactadas (material utilizado conforme projeto

descritivo do sistema). A vazão de infiltração é determinada pelo produto do coeficiente de

infiltração (Coef. Inf) pela soma das áreas do fundo e dos taludes laterais em contato com

lodo (ALM):

A soma das áreas de fundo e taludes laterais em contato com lodo na lagoa anaeróbia

1, considerado o desaguamento do efluente, será igual a 7.386,6 m² enquanto esta na lagoa

anaeróbia 2 valerá 6.626,7 m². Portanto, as vazões de infiltração serão:

Page 72: AVALIAÇÃO FÍSICO -QUÍMICA E MICROBIOLÓGICA DE LODO …

71

Cálculo da Vazão e Tempo de Secagem

Considerando, portanto, as vazões de evaporação, de infiltração e de precipitação, a

vazão de secagem de cada lagoa será:

O tempo de secagem (TS) é calculado pelo quociente do volume de água a ser

evaporada / infiltrada pela vazão de secagem. Com o desaguamento de 80% da camada de

água, proposto anteriormente, o volume resultante de lodo na lagoa anaeróbia 1 será de

25.099,9 m³ e na lagoa anaeróbia 2 29,619,4 m³. Considerando a concentração média de SST

do lodo em cada lagoa, 2,52% para a lagoa anaeróbia 1 e 3,06% para a lagoa anaeróbia 2 e a

densidade média do lodo, 1,009 para a lagoa anaeróbia 1 e 1,012 para a lagoa anaeróbia 2

tem-se que a lagoa anaeróbia 1 possuirá 638,7 ton de SST de lodo e a lagoa anaeróbia 2 915,8

ton de SST de lodo. Com a redução da umidade a 30% (concentração de SST elevada a 70%)

o volume de líquido a ser evaporado / infiltrado na lagoa anaeróbia 1 será 22.988,9 m³ e

26.601,7 m³ na lagoa anaeróbia 2. Portanto, o tempo de secagem em cada lagoa será:

Page 73: AVALIAÇÃO FÍSICO -QUÍMICA E MICROBIOLÓGICA DE LODO …

72

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS E RECOMENDAÇÕES

Após o estudo quantitativo do lodo realizado em dois momentos, um antes e outro

após a desativação do sistema, e efetivação das análises físico-químicas pode-se chegar às

seguintes conclusões:

De outubro de 2010, data do primeiro teste de batimetria, até janeiro de 2014, data do

segundo teste, houve uma redução de 29,6% no volume de total de lodo, de 58.377,7 m³ para

41.113,3 m³. Parte desta redução atribui-se ao fato de que durante a operação de reunião de

todo o lodo do sistema nas lagoas anaeróbias parte deste não foi removido corretamente,

secando ao sol no fundo das lagoas a que faziam parte. Pode-se concluir também que durante

estes três anos e dois meses houve evaporação e infiltração da parte líquida, contribuindo para

diminuição do volume de lodo.

A concentração média de sólidos seco do lodo confinado é de 2,79% ao passo que a

umidade média vale 97,91%. Segundo classificação apresentada por Van Haandel e Lettinga

(1994) apud Von Sperling (2001) o lodo presente nas lagoas pode ser identificado como lodo

fluido, com concentração de umidade entre 75 e 100%. O ideal seria que lodo estivesse com

característica de torta semissólida onde a concentração de umidade varia de 65 a 75%.

A diminuição da umidade a uma concentração de 70% representaria uma redução de

90,7% no volume de lodo, reduzindo de 41.113,3 m³ para 3.823,0 m³. Esta redução pode

demorar aproximadamente 1 ano e 1 mês, considerada as condições locais de temperatura,

precipitação e características do solo para promover a evaporação e infiltração da parte líquida

contida nas lagoas.

Analisando a concentração de SSV relacionando com a concentração de SST do lodo

confinado pode-se observar que este se encontra estabilizado, tanto na lagoa anaeróbia 1

(SSV/SST = 45% no lodo de superfície e SSV/SST = 43% no lodo de fundo) quanto na lagoa

anaeróbia 2 (SSV/SST = 43% no lodo de superfície e SSV/SST = 32% no lodo de fundo).

Os valores encontrados de concentração de pH, variam de 7,4 (em todas as camadas da

lagoa anaeróbia 1) a 7,6 (em todas as camadas da lagoa anaeróbia 2). Segundo Von Sperling

(2001) estão dentro de uma faixa desejada em um tratamento anaeróbio, que deve variar de

6,7 a 8,0, onde os ácidos orgânicos estão em sua maioria em sua forma ionizada (não tóxica).

Para as variáveis de nutrientes foram determinadas as suas concentrações em

percentual de massa de SST. Nitrogênio e Fósforo variaram de 1,19% a 1,57% e de 0,07% a

0,1%, respectivamente. Segundo dados do Programa de Reciclagem Agrícola de Lodo da

SANEPAR apud Andreoli (1999) a concentração de Nitrogênio encontra-se acima dos

Page 74: AVALIAÇÃO FÍSICO -QUÍMICA E MICROBIOLÓGICA DE LODO …

73

principais materiais utilizados para reposição natural de nutrientes no solo (esterco bovino =

0,3%, esterco equino = 0,44%, esterco ovino = 0,6% e esterco suíno = 0,6%) ao passo que a

concentração de Fósforo encontra-se abaixo (esterco bovino = 1,17%, esterco equino =

0,32%, esterco ovino = 0,3% e esterco suíno = 0,6%).

Com relação às análises microbiológicas analisadas, o lodo confinado apresentou uma

concentração de Coliformes Termotolerantes variando de 3,4 x 106 a 7,8 x 10

7 N.M.P. / g SST

lodo; Ovos viáveis de Helmintos (Ascaris spp) variando de 1,2 a 2,1 ovos viáveis / g SST

lodo e ausência de Salmonellas. A Resolução CONAMA 375/2006 define que para

enquadramento do lodo como tipo A o mesmo deve possuir concentração de até 1.000 N.M.P.

/ g SST lodo de Coliformes Termotolerantes, menos de 0,25 Ovos viáveis de Helmintos por

grama de SST e ausência de Salmonellas. Portanto, o lodo deve passar por processo de

higienização antes de ser utilizado como biossólido. Recomenda-se a aplicação de cal para

realizar esta inertização. Segundo a Resolução CONAMA 375/2006, caso apresente

caraterísticas do tipo A, o lodo depois de higienizado poderá ser utilizado na recuperação

ambiental do local onde estava instalado o sistema, desde que não seja introduzido na área de

preservação permanente do Rio Cuiabá.

Recomenda-se, por fim, que o lodo confinado continue sendo monitorado quanto às

variáveis físico-químicas de SST, SSV e SSF para determinação de sua umidade e densidade.

Um novo teste de batimetria deve ser realizado em março de 2015 para verificação da redução

volumétrica. Após a redução da umidade e volume deve-se realizar a dosagem de cal para que

ocorra a higienização do lodo. Antes da utilização como biossólido deverão ser analisadas as

variáveis microbiológicas para caracterização do lodo segundo a Resolução CONAMA

375/2006.

Page 75: AVALIAÇÃO FÍSICO -QUÍMICA E MICROBIOLÓGICA DE LODO …

74

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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procedimentos, para o uso agrícola de lodos de agosto gerados em estações de tratamento de

esgoto sanitário e seus produtos derivados, e dá outras providências. Diário Oficial da União,

DF, 29 de agosto de 2006.

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