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AVO MULTICOMPONENTE: INVERSÃO LINEAR E ANÁLISE DA APLICAÇÃO A RESERVATÓRIO DELGADO
PAULO FABRÍCIO PUGA MIRANDA
UNIVERSIDADE ESTADUAL DO NORTE FLUMINENSE – UENF LABORATÓRIO DE ENGENHARIA E EXPLORAÇÃO DE PETRÓLEO - LENEP
MACAÉ - RJ
MARÇO DE 2007
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AVO MULTICOMPONENTE: INVERSÃO LINEAR E ANÁLISE DA APLICAÇÃO A RESERVATÓRIO DELGADO
PAULO FABRÍCIO PUGA MIRANDA
Tese apresentada ao Centro de Ciência e Tecnologia da Universidade Estadual do Norte Fluminense, como parte das exigências para obtenção do título de Mestre em Engenharia de Reservatório e de Exploração.
Orientador: Prof. Luiz Geraldo C. L. Loures, Ph.D.
MACAÉ - RJ MARÇO DE 2007
622.15 M672i Miranda, Paulo Fabrício Puga. 2007 Inversão linear de AVO multicomponente e análise de
AVO multicomponente aplicada a reservatório delgado / Paulo Fabrício Puga Miranda. --- Macaé: Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro / Laboratório de Engenharia e Exploração de Petróleo, 2007. xii, 116p. : il. Bibliografia Tese de mestrado em Engenharia de Reservatório e de Exploração.
1. Geofísica de exploração – tese. 2. AVO - método- tese. 3. Sísmica – tese 4. Física de rocha – tese. 5. Inversão linear – tese. 6. Reservatório delgado – tese I.Título.
AVO MULTICOMPONENTE: INVERSÃO LINEAR E ANÁLISE DA APLICAÇÃO A RESERVATÓRIO DELGADO
PAULO FABRÍCIO PUGA MIRANDA
Tese apresentada ao Centro de Ciência e Tecnologia da Universidade Estadual do Norte Fluminense, como parte das exigências para obtenção do título de Mestre em Engenharia de Reservatório e de Exploração.
Aprovada em 09 de março de 2007.
Comissão Examinadora:
Prof. Jadir da Conceição da Silva (Dr., Geofísica de poços) – IGEO/UFRJ
Prof. Fernando Sérgio de Moraes (Ph. D., Geofísica de reservatório) – LENEP/UENF Prof. Hélio J. P. Severiano Ribeiro (Dr., Estratigrafia de Seqüências) – LENEP/UENF Prof. Luiz Geraldo C. L. Loures (Ph. D., Geofísica de reservatório) – LENEP/UENF
(Orientador)
1
CCaappííttuulloo 11
INTRODUÇÃO
A sísmica de reflexão é um método geofísico que mapeia feições geológicas
em subsuperfície baseado no comportamento das ondas sísmicas em relação às
diferentes propriedades petrofísicas das rochas. Por fornecer o imageamento em
alta resolução a um custo relativamente baixo, a sísmica de reflexão é amplamente
utilizada na prospecção de jazidas de petróleo, fornecendo quantidades físicas
importantes tais como: tempo de percurso (trânsito), amplitude das ondas, entre
outras. Desta forma, a sísmica de reflexão pode ser também utilizada na
caracterização de reservatórios, dimensionando e identificando os litotipos, visando
um melhor aproveitamento das reservas de hidrocarbonetos, assim como um melhor
entendimento do comportamento litológico. Apesar disto, por se tratar de um método
indireto, a sísmica não consegue reproduzir dados totalmente verossímeis, devidos a
erros de aquisição, de processamento, ruídos, atenuações, reflexões múltiplas,
reverberações (reflexões internas nas camadas geológicas), etc.
Entretanto, atualmente muitos estudos têm como escopo aumentar a
confiabilidade da caracterização dos reservatórios, visando uma melhoria no fator de
recuperação através da utilização de atributos sísmicos, conhecidos como
parâmetros elásticos. Estes atributos são importantes, pois se relacionam com
parâmetros da física de rochas. Quantificando os parâmetros elásticos, podem-se
estabelecer as propriedades básicas da rocha e dos fluidos (porosidade,
2
permeabilidade, saturação, entre outras), importantes na produção de um
reservatório.
Dentre as diversas formas de interpretação sísmica, aquelas que são
capazes de estabelecer uma relação com dados petrofísicos utilizam dados pré-
empilhados como fonte de informação. Estes dados necessitam de cuidados
especiais quanto ao processamento, para que se tenha sempre a preservação da
amplitude verdadeira. Um caso não visto na sísmica de alta resolução, como a
migração, onde o que se espera é um aumento na razão sinal/ruído para se criar a
imagem dos refletores, mascarando ou até inviabilizando o mapeamento de dados
petrofísicos e impossibilitando a correlação com dados de poços. A busca de uma
metodologia de migração eficiente na preservação das amplitudes relativas ainda é
tema de pesquisa.
Através da inversão sísmica, podem-se estimar estes parâmetros elásticos,
descrevendo um modelo do meio geológico. Todavia, um grande problema na
caracterização de reservatórios são incertezas relacionadas às estimativas dos
parâmetros elásticos. Isto acontece devido ao grande grau de complexidade dos
reservatórios, pois suas propriedades físicas são heterogêneas. Em se tratando de
reservatórios delgados, a resolução sísmica vertical é um dos principais fatores
limitantes. As incertezas também são constatadas devido ao aumento na
propagação de ruído durante o processo de inversão, ou mesmo erros decorrentes
do processamento pré-inversão, podendo implicar numa análise comprometida dos
resultados. Treitel (1999) relembra que o problema inverso aplicado à sísmica é mal
posto, apresentando não unicidade da solução. Em virtude destes problemas, é
necessária uma análise de incertezas dos resultados obtidos. Loures e Moraes
(2001), por exemplo, desenvolveram uma metodologia estatística baseada na teoria
da probabilidade, conhecida como teoria Bayesiana, para quantificar a discrepância
(incerteza) envolvida na obtenção dos resultados, fornecendo uma análise
quantitativa entre os atributos sísmicos e as propriedades das rochas.
Uma das rotinas mais estável e pouco dispendiosa é a modelagem e
inversão de AVO. Ela consiste na transformação da seção sísmica de afastamento
comum em seções simuladas de afastamento nulo, o que pode ser realizado
3
preservando as amplitudes verdadeiras. O que acontece é a transformação das
amplitudes das reflexões primárias em afastamento comum, com a substituição do
fator de espalhamento geométrico original por um correspondente no afastamento
nulo. O coeficiente de reflexão é, então, preservado, gerando a seção AVO
(amplitude versus offset) (Vasquez, 1999).
A metodologia de AVO utiliza dados pré-empilhados e consiste em três
etapas:
• Modelagem;
• Análise;
• Inversão.
A modelagem é a primeira etapa na metodologia de AVO, utilizando dados a
partir de perfis de poço e dados sísmicos próximos ao poço. Para a modelagem dos
dados, existem diferentes técnicas comumente usadas: traçado do raio, diferenças
finitas e refletividade.
A segunda etapa prevê uma análise qualitativa dos atributos de AVO,
consistindo no reconhecimento e estudo das anomalias.
Por último, a inversão dos dados de AVO estima os parâmetros de entrada.
Ela também pode obter parâmetros de AVO importantes na caracterização de
reservas petrolíferas.
Neste trabalho, a modelagem sísmica multicomponente foi feita através do
método de Amplitude Variations with Offset (AVO) (Downton, 2005), utilizando o
método do traçado do raio como base da modelagem, no intuito de se modelar
variações da espessura de um reservatório, tornando-se delgado.
A modelagem de AVO estabelece uma correlação entre os dados de poço e
os dados sísmicos. Através dos dados de perfis de poço (perfis sônicos e perfis de
densidade), como parâmetros de entrada na modelagem, pode-se relacionar os
eventos que aparecem nas seções sísmicas. A inversão multicomponente de AVO
4
visa re-obter estes parâmetros de entrada (parâmetros elásticos) da modelagem
multicomponente, através da variação de amplitude com ângulo de incidência das
ondas refletidas PP e PSV, objetivando a estimativa de valores dos parâmetros que
descrevem a interface.
1.1 Estado da arte da inversão sísmica
Inversão sísmica consiste em obter parâmetros considerados os atributos
sísmicos que melhor caracterizam o meio, tais como: velocidade compressional (Vp),
velocidade cisalhante (Vs) e densidade (ρ), todos provenientes de dados sísmicos.
A inversão sísmica teve seu início com Dix (1955), o qual baseou-se em um modelo
unidimensional (1-D), supondo que o interior da Terra é composto de camadas
homogêneas e horizontais, estimando-se a velocidade de uma camada através de
dados observados da sísmica de reflexão. O método desenvolvido por Dix ainda é
muito utilizado em trabalhos geofísicos, ilustrando a versatilidade de um simples
trabalho 1D. Mais adiante, Kunetz (1964) aplicou o processo inverso do método de
Goupillaud (1961) que estimava os coeficientes de reflexão em incidência normal
(afastamento zero) para um meio estratificado. Porém, a inversão dos dados
sísmicos quando obtidos em afastamento zero não fornece todas as informações
necessárias para a caracterização de um reservatório.
Com o uso de dados pré-empilhados, podendo ser dados obtidos da onda
compressional e/ou onda cisalhante, pode-se obter uma relação maior de
informações, gerando dados que posteriormente possam ser mais realistas ao
reservatório. Sabe-se que a onda compressional é sensível ao fluido; a onda
cisalhante não, criando assim um fator importante para discriminação de litologia.
Entretanto, a inversão destes dados, conhecida como inversão elástica, requer uma
alta demanda computacional, o que impossibilita o seu uso em larga escala (Mallick,
1999). Porém, os avanços computacionais e a utilização de algoritmos mais
otimizados e eficientes fazem com que tudo isso caminhe para a mudança desta
realidade (Treitel, 1999).
5
Existem duas classes de métodos de inversão elástica, segundo Haas e
Berkhout (1988). Primeiramente tem-se a classe chamada de método de inversão
linear de AVO (amplitude variations with offset), sendo baseadas em aproximações
da equação de Zoeppritz (Aki e Richards, 2002). Ela descreve o comportamento de
uma onda incidente ao encontrar uma interface unindo dois meios com propriedades
físicas diferentes. Alguns autores desenvolveram trabalhos que visavam criar
aproximações lineares das equações de Shuey (1985), Zoeppritz: Aki e Richards
(2002), etc. Com o uso destas aproximações na inversão de dados sísmicos, Smith
e Gidlow (1987) e Lörtzer et al.(1988) realizaram estimativas dos parâmetros
elásticos através dos coeficientes de reflexão encontrados nestas aproximações.
Dando seqüência a este tipo de trabalho, Stewart (1990), Larsen (1999) e Margrave
(2001) desenvolveram inversões conjuntas (simultâneas), obtendo parâmetros da
onda P e onda convertida S, sendo que os dois últimos fizeram aplicações práticas
em dados reais. Para a segunda classe de inversão, tem-se a inversão não linear de
AVO que se baseia na equação da onda, sendo capaz de modelar todos os modos
de propagação, incluindo múltiplas e ondas convertidas. Tarantola (1986),
Amundsen e Ursin (1991), Simmons e Backus (1996) e Gouveia (1998) são alguns
autores que desenvolveram este tipo de inversão utilizando o método da
refletividade (Fuchs e Müller, 1971).
Os dois tipos de inversão sísmica baseada em dados de onda
compressional geram parâmetros elásticos com um alto grau de incerteza (erros)
(Downton, 2005). Estes erros podem ser devido ao processamento a que foram
submetidos, ou mesmo pelo dado sísmico ter uma razão sinal/ruído baixa, tornando
necessário um método de inferência que minimize e quantifique a incerteza
relacionada ao resultado final.
Tarantola (1986) foi um dos pioneiros a abordar a inversão de uma forma
estatística. Seu trabalho foi baseado na teoria de Thomas Bayes (1763, apud Treitel
e Lines, 1999) e mostrou que se podem restringir parcialmente as soluções do
problema inverso a partir de informações a priori, ou inicial dos parâmetros de
subsuperfície. Pode-se também caracterizar a incerteza do resultado analisando
uma distribuição a posteriori. Seguindo esta mesma linha de pesquisa, Gouveia e
Scales (1998) desenvolveram um trabalho de inversão não linear utilizando a
6
inferência Bayesiana para estimar parâmetros elásticos baseados na modelagem
feita pelo método da refletividade (Fuchs e Müller, 1971). Desta forma, o problema é
resolvido de forma recursiva em profundidade, e são baseados na teoria da matriz
de propagação, assumindo que a velocidade da Terra varia somente com a direção
vertical. Buland et al. (2003) desenvolveram uma nova técnica de inversão de AVO
linearizada baseada na estrutura Bayesiana. Negligenciaram ondas convertidas,
múltiplas e efeitos de anisotropia, e constataram que a inversão dos parâmetros é
quase perfeita quando o ruído se aproxima de zero. Com nível de ruído real, o
mesmo não ocorre, destacando-se como melhor parâmetro determinado a
impedância acústica, acontecendo o contrário com a densidade. Downton (2005) é
outro autor que através do método Bayesiano, abordou a confiabilidade dos atributos
sísmicos estimados da inversão de AVO e propôs uma série de melhoramentos.
A seguir, será descrita a motivação deste trabalho.
1.2 Relevância do trabalho
A caracterização de reservatório é uma metodologia que visa um melhor
aproveitamento das reservas de hidrocarbonetos ou entendimento do
comportamento do reservatório. A sísmica representa uma ferramenta amplamente
utilizada para estes fins, mas como já citado não é um método totalmente confiável.
Assim, é necessária uma metodologia com a qual se possa estimar parâmetros que
descrevam o meio de forma mais próxima da realidade, especialmente levando-se
em conta características das quais nem sempre a sísmica pode determinar.
Neste caso, o mapeamento do topo e da base de um reservatório delgado,
muitas vezes não é identificado devido à necessidade de se ter uma melhor
resolução sísmica vertical. Essa resolução vertical é capaz de distinguir dois eventos
próximos (duas camadas em contato através de uma interface). Porém, a resposta
sísmica para camadas finas é muito sensível e nem sempre ressalta a realidade.
Isso geralmente ocorre em camadas sobrejacentes a este tipo de reservatório que
possuem altos valores de reflexão, mascarando o sinal das camadas delgadas
seguintes. Também podem ocorrer efeitos proporcionados pela geologia em
7
questão, dentre estes, o efeito de tunelamento (tunning), definido como uma
interferência destrutiva do sinal de topo com o sinal da base do reservatório,
mascarando ou induzindo a anomalia de AVO. Ele ocorre devido à espessura do
reservatório ser menor que ¼ do valor do comprimento de onda. Por esses motivos
supracitados, a visualização das anomalias, assim como a análise do tipo de
anomalia (assinatura) se torna difícil.
No Brasil, principalmente em suas bacias costeiras, é fato comum se ter
reservatórios delgados. Assim, este trabalho tem como proposta, realizar a
interpretação quantitativa de AVO e fazer uma análise de AVO nos dados sísmicos
sintéticos de um reservatório delgado. Para isso, a metodologia completa será
descrita na seção 1.5, onde se propõe a modelagem para gerar dados sísmicos
multicomponentes sintéticos, enfatizando um reservatório delgado. Posteriormente, é
realizada a inversão de AVO nestes dados, demonstrando os principais parâmetros
que podem ser obtidos para sua caracterização. A correlação dos resultados da
inversão do dado sísmico real com os dados sísmicos sintéticos objetiva não só os
dados da interface (parâmetros), mas também atributos que auxiliem na
caracterização, conhecidos como atributos de AVO, utilizados na análise de AVO,
validando o tipo de reservatório quanto à sua saturação e características litológicas
em que se encontra.
A seguir será apresentada a estrutura deste trabalho.
1.3 Estrutura da tese
O trabalho encontra-se dividido em 6 capítulos. Está estruturado da seguinte
forma:
No segundo (2) capítulo é descrita a metodologia desenvolvida neste
trabalho, seguida da teoria do método de AVO, enfatizando os passos básicos a
serem seguidos numa modelagem de AVO multicomponente, simulando todo o
processamento.
8
No terceiro (3) capítulo, é feita uma breve abordagem sobre física de rocha,
demonstrando como as velocidades e a densidade são afetadas pelas
características rochosas.
No quarto (4) capítulo é abordada a teoria de inversão do método de AVO,
descrevendo a teoria dos parâmetros utilizados para a obtenção das informações
quantitativas de um dado sísmico multicomponente.
No quinto (5) capítulo são feitos testes da metodologia a partir de um modelo
de dados sintéticos elásticos, baseados em dados de perfis de poço. Estes testem
enfatizam a simulação de um reservatório delgado, demonstrando o efeito de
tunelamento. A seguir, discutem-se os resultados, apresentando as interpretações
quanto à modelagem e os dados da inversão utilizada, validando a qualidade dos
dados e gerando a identificação do reservatório e a sua composição.
O trabalho é concluído no sexto (6) capítulo, onde é feita uma análise da
metodologia e de sua aplicabilidade prática.
1.4 Metodologia
Para o desenvolvimento deste trabalho, é apresentada, basicamente, a
teoria que envolve a modelagem e a inversão de AVO, direcionada para dados
multicomponentes de um reservatório delgado. A metodologia aplicada neste
trabalho pode ser visto no fluxograma mostrado na Figura 1.1.
A modelagem constitui a primeira etapa desta metodologia, consistindo na
criação de sismogramas sintéticos pelo método do traçado do raio, verificando o
comportamento das anomalias das amplitudes de topo e base do reservatório.
Os dados da modelagem iniciam a etapa da inversão de AVO. A inversão
estima os parâmetros de entrada, bem como possibilita uma análise qualitativa dos
atributos de AVO: intercepto, gradiente, refletividades das velocidades das ondas P,
9
S e densidade relativa, fator de fluido e módulos elásticos, sendo importantes no
estudo do reservatório. A inversão será desenvolvida da seguinte forma:
• Inversão individual da onda PP;
• Inversão individual da onda PSV;
• Inversão conjunta (simultânea).
Por último, na etapa de análises dos dados da modelagem e das inversões é
realizado um estudo comportamental da metodologia de AVO diante do efeito de
espessura do reservatório.
Figura 1.1. Fluxograma da metodologia aplicada.
10
As etapas supracitadas serão realizadas de 2 maneiras distintas:
I. Modelagem e inversão de AVO em uma única interface, sendo
composta de anomalias clássicas de areias saturadas com gás e com salmoura;
II. Modelagem e inversão de AVO a partir de dados de perfis de poço. O
gather CDP será criado com dados que indiquem um reservatório saturado com
óleo, variando a espessura vertical de 200 m a 1 m.
O trabalho será desenvolvido utilizando bibliotecas geofísicas da Crewes em
parceria com o departamento de geologia e geofísica da Universidade de Calgary,
Canadá. Os modelos sísmicos são gerados pelo pacote de modelagem sísmica
portados por Margrave (2001) como funções do Matlab; e também será usado o
software geofísico Hampson-Russell na constituição dos dados.
As etapas (item i e ii) são utilizadas para analisar a metodologia a partir dos
dados sintéticos, onde as fontes de incerteza podem ser controladas. A modelagem
e a inversão criada são livres de ruídos, mas não dos efeitos proeminentes do
comportamento das ondas na geologia, vindo a mascarar as estimativas, podendo
assim, analisar a sensibilidade da modelagem e da inversão diante destes
problemas.
Nas próximas seções, as teorias relacionadas a esta metodologia serão
explicadas conforme a utilização neste trabalho, iniciando-se pela teoria envolvida
na modelagem de AVO multicomponente.
11
CCaappííttuulloo 22
MODELAGEM DE AVO
2.1 Introdução
Análise de AVO é baseada na modelagem sísmica, de forma a estudar
assinatura sísmica de uma geologia estratificada, desta forma, obtemos pela
modelagem o modelo sintético interpretado da Terra ou modelo assumido.
Dados de AVO multicomponente relacionam a resposta sísmica diretamente
às propriedades físicas das rochas. A modelagem pode ser feita por equações
complexas de Zoeppritz pelo traçado do raio. É uma modelagem rápida e de fácil
identificação das reflexões primárias, gerando soluções exatas, sem influências
negativas. Através de simplificações (aproximações) baseadas nas equações de
Zoeppritz, podemos estimar atributos necessários para caracterização de
reservatórios.
A maneira de se fazer modelagem segue o objetivo proposto; geralmente
são utilizados para modelagem os dados petrofísicos de perfis de poço. Neste
capítulo é desenvolvida apenas a modelagem de interface única, como exemplo
ilustrativo, onde se apresentam diferentes tipos de comportamento das anomalias
quanto aos topos de um reservatório com gás e com salmoura.
12
A principal vantagem da modelagem de uma única interface é a ausência do
efeito de tunning (Li et al., 2003; 2004). Sendo assim, obtém-se o contraste elástico
da interface sem interferências, pois se trata de duas camadas distintas, separadas
por uma interface. Para este tipo de modelagem, pode-se utilizar as chamadas
anomalias clássicas de AVO (Rutherford e Williams, 1989; Castagna e Swan et al.,
1998).
A teoria da modelagem de AVO é detalhada conforme a aplicação neste
trabalho.
2.2 O método de AVO e as equações de Zoeppritz
O comportamento de uma onda sísmica ao incidir em uma interface com
propriedades litológicas diferentes faz com que sua energia seja particionada, sendo
parte refletida e parte transmitida. Este comportamento é descrito completamente
através das complexas equações de Zoeppritz (Aki and Richards, 2002), onde
idealiza dois meios separados por uma interface. As amplitudes refletidas dependem
das propriedades físicas que compõem o meio, tais como litologia, porosidade e
fluido (Castagna, 1997); assim como, dependem do ângulo de incidência da onda P.
Se o ângulo de incidência for diferente de uma incidência normal, ou afastamento
zero (90°), a energia da onda P é particionada em onda transmitida PP e PSV, assim
como em onda refletida PP e PSV. Desta forma temos a base de AVO (Amplitude
Variations with Offset) ou mais propriamente AVA (Amplitude Variations with Angle)
(Downton, 2005). A Figura 2.1 mostra o comportamento da onda na forma de
traçado do raio.
Os parâmetros elásticos que determinam o comportamento das amplitudes
em um meio homogêneo e isotrópico são velocidades das ondas P e S, e
densidade, (Vp, Vs e ρ). Knott (1899) e Zoeppritz (1919) (Castagna et al.,1993)
solucionaram o problema do coeficiente de reflexão em função do ângulo de
incidência e das propriedades do meio elástico. Aki e Richards (1980) trabalharam
matematicamente as 16 equações de Zoeppritz, obtendo a relação (equação 2.1):
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Q = M-1 N, (2.1)
onde Q =
⎥⎥⎥⎥⎥⎥⎥⎥⎥
⎦
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\
2
/
2
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2
/
2
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2
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1
\
2
\
1
\
2
/
2
\
2
/
2
\
2
\
1
\
2
\
1
/
1
/
2
/
1
/
2
/
1
\
1
/
1
\
1
/
1
/
2
/
1
/
2
/
1
\
1
/
1
\
1
SSSPSSSP
PSPPPSPP
SSSPSSSP
PSPPPSPP
,
M = ( ) ( )
( ) ( )
1
22
2222
22
222
21
2211
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211
22
222
22
2222
21
211
21
2211
222
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21
2
22
22
21
21
12211221
21122112
11
11−
⎥⎥⎥⎥⎥⎥⎥⎥
⎦
⎤
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⎡
−−−−−−
−−−−
−−−−
−−−−
VsppVsVspVpVsppVsVspVp
VspVsVpppVsVspVsVpppVs
pVsVpppVsVpp
VsppVpVsppVp
ρρρρ
ρρρρ
,
Figura 2.1. Particionamento de energia da onda incidente P em uma interface, separando duas camadas distintas. A onda incidente é dividida em dois: refletida (PP, PSV) e transmitida (PP, PSV) (Downton, 2005).
14
e
N = ( ) ( )
( ) ( ) ⎥⎥⎥⎥⎥⎥⎥⎥
⎦
⎤
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⎡
−−−−−−
−−−−
−−−−
−−
22
2222
22
222
21
2211
21
211
22
222
22
2222
21
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21
2211
222
21
21
2
22
22
21
21
12211221
21122112
11
11
VsppVsVspVpVsppVsVspVp
VspVsVpppVsVspVsVpppVs
pVsVpppVsVpp
VsppVpVsppVp
ρρρρ
ρρρρ
.
Pela equação acima, pode-se obter de maneira geral os diferentes
coeficientes para as ondas incidentes descendentes (downgoing) e ascendentes
(upgoing) para P e S. As barras (/, \) sobrescritas significam o sentido da onda, as
letras significam o tipo de onda incidente (P e S), e os números subscritos indicam
qual a camada em que a onda está transitando (1, 2). Um exemplo de como deve
ser entendido é mostrado a seguir: /
1
\
1 PP é a amplitude relativa (coeficiente de
reflexão) refletida de uma onda incidente P no sentido descendente (downgoing) na
camada 1 gerando uma onda refletida PP ascendente (upgoing) na camada 1. Pode-
se notar que os coeficientes de reflexão estão em função da vagarosidade
horizontal, ou comumente chamado de parâmetro do raio p, e das propriedades das
camadas (Downton, 2005). O parâmetro do raio é relacionado através da lei de Snell
e será mais bem discorrido na seção 2.2.2 sobre o traçado do raio.
Por este trabalho basear-se apenas em dados da onda P incidente e suas
respectivas ondas refletidas e transmitidas PP e PSV, as equações de Knott e
Zoeppritz podem ser representadas da mesma forma matemática vista na equação
2.1, porém de forma específica:
Q = M-1 N,
Q =
⎥⎥⎥⎥⎥⎥⎥⎥⎥
⎦
⎤
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⎣
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\
2
\
1
\
2
\
1
/
1
\
1
/
1
\
1
SP
PP
SP
PP
,
15
M = ( ) ( )
( ) ( )
1
22
2222
22
222
21
2211
21
211
22
222
22
2222
21
211
21
2211
222
21
21
2
22
22
21
21
12211221
21122112
11
11−
⎥⎥⎥⎥⎥⎥⎥⎥
⎦
⎤
⎢⎢⎢⎢⎢⎢⎢⎢
⎣
⎡
−−−−−−
−−−−
−−−−
−−−−
VsppVsVspVpVsppVsVspVp
VspVsVpppVsVspVsVpppVs
pVsVpppVsVpp
VsppVpVsppVp
ρρρρ
ρρρρ
e
N =
( ) ⎥⎥⎥⎥⎥⎥⎥
⎦
⎤
⎢⎢⎢⎢⎢⎢⎢
⎣
⎡
−
−
−
21
211
21
2211
21
2
1
21
12
1
VspVp
VpppVs
Vpp
pVp
ρ
ρ.
As equações de Zoeprittz descrevem dados da interface com exatidão,
porém são muito complexas de manipular, sendo necessária a utilização de
aproximações para trabalhos práticos.
2.2.1 Aproximações lineares das equações de Zoeppritz
Aproximações lineares têm como finalidade a aplicação prática, revelando
informações contidas no comportamento das amplitudes. Elas não necessitam de
grande capacidade computacional e fornecem a base para a técnica do
processamento de AVO (Castagna, 1997). Muitos trabalhos foram apresentados
simplificando as equações de Zoeppritz por meio de linearização, tais como: Bortfeld
(1962), Richards e Frasier (1976), Aki e Richards (2002). As aproximações assumem
pequenas mudanças nas propriedades das camadas. Aki e Richards (2002)
publicaram a mais conhecida de todas as aproximações linearizadas para todos os
coeficientes de reflexão e transmissão em função das mudanças dos termos de
densidade, velocidade de onda P e velocidade de onda S.
16
Os coeficientes de reflexão /
1
\
1 PP e /
1
\
1 SP , seguindo a anotação supracitada
da seção anterior, pode ser obtido pelas seguintes equações:
( ) ( )VsVs
VpVpRPP
∆−
∆+
∆−≈ θγ
θρρθγθ 22
222
1 sin4cos2
1sin4121 , (2.2)
( ) ( )⎢⎣
⎡ ∆+−−≈
ρρϕθγθγϕϕθ coscos2sin21
2tan, 22
11 VsVpRPS
( ) ⎥⎦⎤∆
−−VsVsϕθγθγ coscos4sin4 22 , (2.3)
onde,
( ) 2/21 VpVpVp += ,
( ) 2/21 VsVsVs += ,
( ) 2/21 ρρρ += ,
12 ρρρ −=∆ ,
12 VpVpVp −=∆ ,
12 VsVsVs −=∆ ,
VpVs /=γ ,
( ) 121 2/ θθθθ ≈+= ,
( ) 121 2/ ϕϕϕϕ ≈+= .
θ é o ângulo de incidência médio da onda P, ϕ é o ângulo de incidência médio da
onda S.
Enquanto a aproximação de Aki e Richards (1980) envolve Vp, Vs e ρ ,
Shuey (1985) desenvolveu uma aproximação envolvendo Vp, ρ , coeficientes de
reflexão para incidência normal (Rp) e a razão de Poisson (ν ), obtendo:
( ))(
21)( 222
20 θθθννθ sentg
VpVpsenRpARpR −
∆+⎥
⎦
⎤⎢⎣
⎡
−∆
++≈ , (2.4)
17
onde,
⎟⎟⎠
⎞⎜⎜⎝
⎛ ∆+
∆=
ρρ
VpVpRp
21 ,
12 ννν −=∆ ,
221 ννν +
= ,
( )νν
−−
+−=1
2112 000 BBA ,
ρρ∆
+∆
∆
=
VpVp
VpVp
B0 .
As aproximações de Aki e Richards e Shuey de forma geral podem ser
vistas pela relação descrita na equação (2.5), feita através de algumas
simplificações:
θθ 2)( senBAR +≈ , (2.5)
onde, A = Rp, coeficiente de reflexão normal para onda P, também conhecido como
intercepto de AVO; e B = Rp - 2Rs, conhecido como gradiente de AVO, relacionado
a variações em médios afastamentos (curvatura), onde Rs é o coeficiente de
reflexão normal para onda S. Como normalmente usam-se ângulos com menos de
40 graus na análise de AVO, estes termos são os mais utilizados.
Pode ser visto que o intercepto (A) é caracterizado pela velocidade da onda
P e pela densidade, conhecido como refletividade P, sendo então afetado pelo
contraste da impedância acústica através da interface. O gradiente (B) é
caracterizado pelas velocidades das ondas P e S, razão de Poisson e densidade.
Koefoed (1955) foi o pioneiro a apontar as possibilidades práticas na análise
de AVO como um indicador das variações da razão Vp/Vs, ou equivalentemente a
razão de Poisson (ν ). Através de análises em dados restringidos a ângulos
18
encontrados na sísmica de exploração (em torno de 30°), e com a razão de Poisson
variando através da interface, mostrou-se o princípio básico explorado quando AVO
é usado na detecção de hidrocarboneto. A razão de Poisson pode ser escrita em
função da razão Vp/Vs pela equação (2.6):
1
121
2
2
−⎟⎠⎞
⎜⎝⎛
−⎟⎠⎞
⎜⎝⎛
=
VsVpVsVp
ν . (2.6)
Ostrander (1984) constatou que a razão de Poisson nas interfaces (média
das camadas) possui valores baixos para formações de areias com gás capeadas
por folhelho, causando aumento significativo na amplitude positiva com o
afastamento (ângulo) na interface inferior, quando a base da camada possui gás. O
mesmo tipo de comportamento ocorre na interface superior, onde o topo da camada
possui gás, porém é na amplitude negativa que esse aumento acontece.
Posteriormente, Shuey (1985) confirmou matematicamente através das
aproximações de Zoeppritz que a razão de Poisson é a constante elástica mais
significativa na refletividade em função do afastamento para ângulos de incidência
acima de 30°.
Como as aproximações de Zoeppritz estão em função do ângulo de
incidência médio da onda e os dados sísmicos são obtidos em função do
afastamento, uma mudança de domínio é necessária para relacionar afastamento a
ângulo de incidência médio, sendo necessário o uso do traçado do raio.
2.2.2 Traçado do raio variando com a profundidade (Z)
Assumindo que a Terra é composta de várias camadas homogêneas e
isotrópicas, existem vários métodos eficientes para calcular a relação entre
afastamento e ângulo de incidência, dentre estes o traçado do raio é o mais simples.
19
O meio variando somente com a profundidade é um meio que tem as
variações de velocidade somente na vertical, supondo não haver variações de
velocidade na horizontal. Sendo assim, a lei de Snell descreve a seguinte notação:
j
j
j
j
Vsen
Vsen φθ
=−
−
1
1 , (2.7)
onde,
θ = ângulo de incidência;
φ = ângulo de transmissão;
j = índice da camada investigada;
V = velocidade da camada.
Para o caso da onda P, as velocidades das camadas, serem homogêneas e
horizontais, assume-se o ângulo transmitido da onda P como ângulo refletido,
jj θφ = então:
pV
senV
sen
j
j
j
j ==−
− θθ
1
1 . (2.8)
Assim, p é geralmente referido como parâmetro do raio, sendo uma
constante única para qualquer raio. A análise de p e sua identificação com camadas
planas e horizontais pode ser caracterizada como vagarosidade horizontal. Desta
forma, a variação de p é determinado pela profundidade:
)())((
zVzsenp θ
= . (2.9)
O tempo de trânsito pode ser determinado através da equação Eikonal,
partindo da equação da onda para velocidades variáveis (Borçoi, 2005):
( ) 22 1
Vt =∇ . (2.10)
20
A Figura 2.2 descreve o comportamento do parâmetro do raio (p) para ondas
planas em camadas horizontais.
Com o parâmetro do raio tem-se o comportamento da onda plana, onde as
variações de velocidades nas interfaces descrevem os ângulos necessários,
utilizados na modelagem de AVO.
A Figura 2.3 representa um exemplo do traçado do raio para um meio
estratificado com três camadas. Neste exemplo são representados dados de duas
camadas elásticas. O comportamento da frente de onda PP (linha azul) e da onda
PSV (linha vermelha) pode ser vista em função do ângulo de incidência encontrado
pelo traçado do raio. A primeira camada tem 600 metros de espessura de água
(lâmina de água), a segunda camada tem espessura de 500 metros de uma litologia
com impedância elástica maior que a camada sobrejacente e a terceira e última
camada têm 500 metros de outra litologia. Os receptores desta modelagem
encontram-se no fundo do oceano (OBC – Ocean Bottom Component).
Figura 2.2. Comportamento descrito pelo parâmetro do raio para a onda plana. A velocidade homogênea ( v ) variando com as interfaces ( z ) descrevem os ângulos de reflexão (θ ) e os ângulos de transmissão (φ ) (Margrave, 2001).
21
2.3 Banda de freqüência limitada
Medidas de perfil sônico (velocidades da onda P e S) e de densidade
fornecem informações para estabelecer um relacionamento entre dados sísmicos e a
geologia da subsuperfície (Yilmaz, 1987).
Em perfis sônicos a componente de baixa freqüência está relacionada à
profundidade, ocorrendo um aumento na velocidade devido à compactação, que
pode ser utilizada para identificar extensas variações litológicas, do contrário ocorre
com a componente de alta freqüência, onde se tem uma melhor resolução, podendo
identificar melhor as variações litológicas e as mudanças nas propriedades de rocha.
Figura 2.3. Comportamento das ondas PP (azul) e da onda convertida PSV (vermelha) pelo traçado do raio em um meio elástico.
22
Para a criação de um sismograma sintético elástico de banda de freqüência
limitada é adotada a suposição de que a Terra é composta de várias camadas
horizontais sobrepostas de velocidades constantes.
Na modelagem, os coeficientes de reflexão encontrados pelas equações
estão em profundidade (Z), sendo necessária uma conversão para que estejam em
função do tempo (t). Esta conversão é feita escolhendo um tempo de amostragem
(geralmente em ms), transformando o perfil das velocidades que estão em função da
profundidade (Z) para um perfil em função do tempo de trânsito (t). As amplitudes
modeladas em função do tempo (t), são as refletividades em função dos ângulos das
interfaces das camadas separadas pelo tempo de amostragem, até então, essas
amplitudes são apenas representações das reflexões primárias. Para se fazer uma
modelagem 1-D completa do meio é necessário o pulso sísmico gerado na
superfície, também conhecido como assinatura da fonte (wavelet). Toda assinatura
de fonte é uma wavelet de banda de freqüência limitada de duração finita, ou seja,
sofre influência do meio (atenuação, divergência), e depende do tempo e da
profundidade. Esta mudança na forma de onda é denominada não-estacionária.
Assim, para não se perder a forma da onda, assume-se que a wavelet é
estacionária, ou seja, a forma de onda não se altera com o tempo de trânsito na
subsuperfície.
O sismograma (amplitude) gerado é o resultado da convolução da resposta
impulsiva do meio (coeficientes de reflexão) com uma wavelet, somando ruídos de
diversas origens (ruído do ambiente).
A equação matemática mostrada pela equação (2.11) descreve a
convolução.
( ) ( ) ( ) ( )tntetwtx +∗= , (2.11)
onde,
( )tx = sismograma sintético;
( )tw = wavelet (assinatura da fonte);
( )te = resposta do impulso sísmico (refletividades);
23
( )tn = ruídos aleatórios do meio.
A Figura 2.4 demonstra o método da convolução de uma wavelet com as
respostas do meio (refletividades), resultando no sismograma sintético.
A Figura 2.5 representa perfis utilizados na modelagem de AVO com banda
de freqüência limitada, sem ruídos. Neste caso os dados de interesse estão
destacados.
Dessa forma um fluxo simples pode ser definido para a modelagem de AVO
multicomponente:
a- Entrada dos modelos elásticos (velocidades de onda P e S) e densidade;
b- Definição dos parâmetros de geometria (traçado do raio);
c- Cálculo das amplitudes dos refletores alvos (equação de Zoeppritz);
Figura 2.4. Método da convolução. Wavelet de fase mínima com 25 Hertz de freqüência, convolvendo com a refletividade da terra, tendo como resultante o traço sísmico.
24
d- Transformação dos dados em profundidade para tempo;
e- Convolução com a wavelet.
2.4 Anomalias clássicas de AVO
Os atributos de AVO componentes das equações de Aki e Richards (2.2 e
2.3) e de Shuey (2.4) (intercepto (A) e gradiente (B)) são utilizados para identificar
tipos de anomalias. Essas anomalias podem ser interpretadas através da técnica de
cross-plot do intercepto (A) versus gradiente (B), desenvolvida por Castagna et al.
(1997). Através desta técnica, define-se uma linha de tendência geral para a litologia
e a saturação que rege a anomalia, onde a variação da razão Vp/Vs e qualquer
desvio podem indicar a presença de hidrocarbonetos, principalmente gás.
Figura 2.5. Perfis vistos em função do tempo. O primeiro perfil representa as velocidades da onda P e S, seguida do perfil de densidade, coeficientes de reflexão da onda P, coeficientes de reflexão da onda S, refletividades das velocidades das ondas P e S e densidade relativa.
25
Estudos sobre classes (tipos) de anomalias encontradas em areias
saturadas com gás foram primeiramente sugeridos por Rutherford e Williams (1989),
onde definiram 3 classes de AVO baseadas em dados onde o topo das areias é
localizado em um gráfico cross-plot do Intercepto versus gradiente. Posteriormente,
Castagna e Smith (1994) adicionaram uma 4ª classe; o gráfico de cross-plot é
dividido em 4 quadrantes, eixo X representa o intercepto (A), e o eixo Y representa o
gradiente (B). Cada quadrante possui sua característica, o primeiro quadrante possui
valores positivos para o intercepto e para o gradiente; o segundo possui valores
positivos para o gradiente e negativos para o intercepto; o terceiro possui valores
negativos para ambos e o quarto quadrante possui valores negativos para o
gradiente e positivos para o intercepto. Não existe uma relação de igualdade entre
as 4 classes definidas de anomalia com os 4 quadrantes de um gráfico cartesiano.
A Figura 2.6 representa o gráfico cross-plot do intercepto pelo gradiente para as 4
diferentes classes de areias com gás, sendo mostrado apenas os topos dos
reservatórios.
Basendo-se nos dados fornecidos por Castagna et al. (1994; 1998),
exemplos das 4 classes foram retirados e modelados, notando-se as características
distintas do topo e da base destas areias, com 2 diferentes saturações: salmoura e
gás. Castagna et al. (1994) fizeram uma análise de 25 tipos de areias capeadas por
folhelhos, identificando os tipos de classes e demonstrando como, através da
análise da combinação de intercepto (A) e do gradiente (B), pode-se ter um indicador
de hidrocarbonetos para seções clásticas.
A 1ª classe de AVO está no 4° quadrante, possuindo o intercepto positivo e
gradiente negativo, como já explicado anteriormente. Sua anomalia é caracterizada
por alto contraste de impedância. A areia com hidrocarboneto (gás) pode ser
cimentada (rocha dura). Por isso, possui também baixa sensibilidade ao fluido.
Seguindo a tendência de background no gráfico cross-plot.
Um exemplo de modelo elástico da anomalia de Classe 1 está na Tabela 2.1
para um arenito com gás e com salmoura. Estes modelos são constituídos por uma
primeira camada de lâmina de água de 600 metros, uma camada de folhelho de 500
26
metros e uma camada de areia de alta impedância, saturada com hidrocarboneto
(gás), com 50 metros de espessura seguida de um folhelho, com os mesmos dados
do folhelho capeador, porém com espessura de 200 metros. A outra camada de
areia com a saturação de salmoura, apresenta as mesmas especificações acima
descritas, mudando apenas seus parâmetros elásticos. Uma figura esquemática de
como pode ser visto os dados da Tabela 2.1 é demonstrado na Figura 2.7.
Figura 2.6. Cross-plot do intercepto e do gradiente para as diferentes anomalias clássicas de arenitos saturados de hidrocarbonetos (gás).
27
Tabela 2.1. Modelo gerado para visualizar anomalia de Classe 1 para um arenito saturado com hidrocarboneto (gás) e com salmoura.
Litologia Vp
(m/s)
Vs
(m/s)
Densidade
(g/cm3)
Impedância
P
(m*g/s*cm3)
Impedância
S
(m*g/s*cm3)
Água 1500 0 1000 15000 0
Folhelho 2770 1520 2290 6343300 3480800
Areia cimentada
com hidrocarboneto
3080
2340
2140
6591200 5007600
Folhelho 2770 1520 2290 6343300 3480800
Areia cimentada
com salmoura
3850
2240
2240
8624000 5017600
Folhelho 2770 1520 2290 6343300 3480800
A modelagem de AVO dos dados da Tabela 2.1 representada pela Figura
2.8 caracteriza uma anomalia da Classe 1. As anomalias sísmicas de OBC (Ocean
Bottom Component), onde os receptores se encontram no solo oceânico,
representam quatro interfaces: folhelho/areia com hidrocarboneto (topo gás),
areia/folhelho (base gás), folhelho/areia com salmoura (topo água) e areia/folhelho
Figura 2.7. Representação esquemática dos dados da Tabela 2.1.
28
Figura 2.8. Modelagem dos dados da Tabela 2.1, representando a Classe 1. As primeiras anomalias sísmicas são computadas para as interfaces (topo e base) pertencentes à saturação de hidrocarboneto, seguida das anomalias das interfaces (topo e base) pertencentes à saturação de salmoura. Onda PP (A) e onda PSV (B) no tempo de PP.
29
(base água), sem o efeito de NMO (normal moveout) e a componente PSV (radial)
convertida para o tempo da onda PP. A wavelet utilizada para convolucão com a
refletividade foi de fase zero, com freqüência dominante de 30 Hertz para ondas PP
e PSV.
O estudo da variação de amplitude pelo afastamento pode ser visto na
Figura 2.9, onde se têm as interfaces descritas na Tabela 2.1. As amplitudes tendem
a diminuir com o afastamento (topo do gás e da água) até atingirem o ângulo crítico,
por volta de 48° na onda PP, e criando uma diferença do ajuste das equações de
Zoeppritz para as aproximações de Aki e Richards a partir dos 10°. Ocorre o mesmo
para a base do gás e da água, aumentando apenas em afastamentos acima do
ângulo crítico. A diferença do ajuste das equações de Zoeppritz para as
aproximações de Aki e Richards ocorre a partir dos 15°. Nas ondas convertidas
PSV, em afastamentos pequenos e médios o que se nota é o aumento da amplitude,
tendendo a diminuir para afastamentos maiores. O ajuste das equações de Zoeppritz
com as aproximações de Aki e Richards não é tão bom, sendo válida apenas até os
5°.
A 2ª classe pode ser representada por uma areia saturada com
hidrocarboneto (gás), possuindo a anomalia caracterizada por baixo ou quase
nenhum contraste de impedância entre a areia e a rocha capeadora. Sua ocorrência
é mais freqüente em reservatórios não muito profundos. O intercepto possui
pequenos valores positivos ou negativos, e o gradiente altamente negativo. Quando
se têm valores do intercepto pequenos e positivos, ocorre uma mudança de
polaridade com o afastamento, assim Ross and Kinman (1995) a caracterizaram
como classe 2p.
Exemplo de modelo elástico da anomalia de Classe 2 é visualizado na
Tabela 2.2 para um arenito com hidrocarboneto (gás) e para um arenito com
salmoura, seguindo as mesmas formas de especificações da Tabela 2.1.
30
Figura 2.9. Comportamentos distintos das amplitudes da componente PP (A) e da componente PSV (B) pelo ângulo de incidência no topo e base do gás (vermelha) e da água (preta) na Classe 1. As linhas (tracejada e contínua) indicam o uso das equações de Zoeppritz para topo e base do gás e da água, as linhas compostas por figuras (estrela e losango) indicam o uso da aproximação de Aki e Richards para o topo e base do gás e da água.
31
Tabela 2.2. Modelo gerado para visualizar anomalia de Classe 2 para um arenito saturado com hidrocarboneto (gás) e com salmoura.
Litologia Vp
(m/s)
Vs
(m/s)
Densidade
(g/cm3)
Impedância
P
(m*g/s*cm3)
Impedância
S
(m*g/s*cm3)
Água 1500 0 1000 15000 0
Folhelho 3270 1650 2200 7194000 3630000
Areia com
hidrocarboneto
3040 1740 2050 6232000 3567000
Folhelho 3270 1650 2200 7194000 3630000
Areia com salmoura 3280 1680 2190 7183200 3679200
Folhelho 3270 1650 2200 7194000 3630000
A Figura 2.10 representa as anomalias sísmicas geradas pela modelagem.
Os dados podem ser caracterizados como uma anomalia de Classe 2, com
freqüência dominante de 30 Hertz para ondas PP e PSV, sendo para o arenito
saturado com hidrocarboneto (gás) e salmoura.
O estudo da variação de amplitude pelo afastamento para esta classe pode
ser visto na Figura 2.11, onde se têm as interfaces descritas na Tabela 2.2. As
amplitudes tendem a diminuir em afastamentos pequenos (topo do gás e base do
gás), ocorre mudança de polaridade quando em afastamentos médios (por volta de
15°) para onda PP, aumentando assim a amplitude. O ajuste das aproximações de
Aki e Richards com as equações de Zoeppritz tende a diferir a partir de 20° (gás).
Quanto à saturação de salmoura, as amplitudes tendem a variar muito pouco e o
ajuste das aproximações é bem vista, a onda convertida PSV em ambos os casos
tem um aumento de amplitude, para afastamentos pequenos, seguidos do seu
decréscimo para afastamentos maiores o ajuste das aproximações é muito bom até
os 25°, para o topo e base do gás, sendo para o topo e base da salmoura bem
ajustada.
32
Figura 2.10. Modelagem dos dados da Tabela 2.2, representando a Classe 2. As primeiras anomalias sísmicas são computadas para as interfaces (topo e base) pertencentes à saturação de hidrocarboneto, seguida das anomalias das interfaces (topo e base) pertencentes à saturação de salmoura. Onda PP (A) e onda PSV (B) no tempo de PP.
33
Figura 2.11. Comportamentos distintos das amplitudes da componente PP (A) e da componente PSV (B) pelo ângulo de incidência no topo e base do gás (vermelha) e da água (preta) na Classe 2. As linhas (tracejada e contínua) indicam o uso das equações de Zoeppritz para topo e base do gás e da água, as linhas compostas por figuras (estrela e losango) indicam o uso da aproximação de Aki e Richards para o topo e base do gás e da água.
34
A 3ª classe é conhecida como anomalia de AVO clássica. As anomalias são
associadas à areia friável saturada com hidrocarbonetos, possuem baixa
impedância, tornando a resposta sísmica altamente sensível ao fluido e a variação
de pressão, tendo a tendência de background bem distinta no gráfico cross-plot.
Ambos o intercepto e o gradiente são negativos.
Exemplo de modelo elástico da anomalia de Classe 3 para arenito saturado
de hidrocarboneto (gás) e salmoura é visualizado na Tabela 2.3.
Tabela 2.3. Modelo gerado para visualizar anomalia de Classe 3 para um arenito saturado com hidrocarboneto (gás) e com salmoura.
Litologia Vp
(m/s)
Vs
(m/s)
Densidade
(g/cm3)
Impedância
P
(m*g/s*cm3)
Impedância
S
(m*g/s*cm3)
Água 1500 0 1000 15000 0
Folhelho 4060 2180 2580 10474800 5624400
Areia friável com
hidrocarboneto
3620 2580 2300 8326000 5934000
Folhelho 4060 2180 2580 10474800 5624400
Areia friável com
salmoura
4060 2340 2300 9338000 5382000
Folhelho 4060 2180 2580 10474800 5624400
A Figura 2.12 representa as anomalias sísmicas que caracterizam o dado
como sendo de Classe 3, com freqüência dominante de 30 Hertz para ondas PP e
PSV.
O estudo da variação de amplitude com o afastamento para esta classe
pode ser visto na Figura 2.13, onde se têm as interfaces descritas na Tabela 2.3. As
amplitudes tendem a aumentar com o afastamento (topo do gás e base do gás),
para onda PP. O ajuste das aproximações de Aki e Richards com as equações de
Zoeppritz tende a ser satisfatória para todas as anomalias. A onda convertida PSV,
35
Figura 2.12. Modelagem dos dados da Tabela 2.3, representando a Classe 3. As primeiras anomalias sísmicas são computadas para as interfaces (topo e base) pertencentes à saturação de hidrocarboneto, seguida das anomalias das interfaces (topo e base) pertencentes à saturação de salmoura. Onda PP (A) e onda PSV (B) no tempo de PP.
36
Figura 2.13. Comportamentos distintos das amplitudes da componente PP (A) e da componente PSV (B) pelo ângulo de incidência no topo e base do gás (vermelha) e da água (preta) na Classe 3. As linhas (tracejada e contínua) indicam o uso das equações de Zoeppritz para topo e base do gás e da água, as linhas compostas por figuras (estrela e losango) indicam o uso da aproximação de Aki e Richards para o topo e base do gás e da água.
37
para a anomalia representante da saturação de salmoura no topo e na base, tendem
amplitude aumenta até ângulos médios, por volta de 25° (afastamentos médios), a
aumentar a amplitude com o afastamento. Quanto ao gás, o comportamento da
ocorrendo então a troca de polaridade para afastamentos longos, as aproximações
são bem correlacionadas para topo e base da água, logo para o gás o mesmo não
ocorre.
A 4ª classe possui anomalias relativamente mais raras. Ocorre em areia
friável saturada de hidrocarbonetos capeados por folhelho bem compactado. Possui
os valores de intercepto negativo e os de gradiente positivos.
Exemplo de modelo elástico da anomalia de Classe 4 é visualizado na
Tabela 2.4, para um arenito saturado com hidrocarboneto (gás), seguido de um
arenito saturado de salmoura.
Tabela 2.4. Modelo gerado para visualizar anomalia de Classe 4 para um arenito saturado com hidrocarboneto (gás) e com salmoura.
Litologia Vp
(m/s)
Vs
(m/s)
Densidade
(g/cm3)
Impedância
P
(m*g/s*cm3)
Impedância
S
(m*g/s*cm3)
Água 1500 0 1000 15000 0
Folhelho 3240 1620 2340 7581600 3790800
Areia friável com
hidrocarboneto
1650 1090 2070 3415500 2256300
Folhelho 3240 1620 2340 7581600 3790800
Areia friável com
salmoura
2580 1060 2210 5701800 2342600
Folhelho 3240 1620 2340 7581600 3790800
A Figura 2.14 representa as anomalias sísmicas que caracterizam o dado
como sendo de Classe 4, com freqüência dominante de 30 Hertz para onda PP e
PSV.
38
Figura 2.14. Modelagem dos dados da Tabela 2.4, representando a Classe 4. As primeiras anomalias sísmicas são computadas para as interfaces (topo e base) pertencentes à saturação de hidrocarboneto, seguida das anomalias das interfaces (topo e base) pertencentes à saturação de salmoura. Onda PP (à direita) e onda PS (à esquerda) no tempo de PP.
39
O estudo da variação de amplitude pelo afastamento para esta classe pode
ser visto na Figura 2.15, onde se têm as interfaces descritas na Tabela 2.4. As
amplitudes tendem a permanecer com sua magnitude inicial até atingir médios
afastamentos (25°) em todos os dois casos de saturação para onda PP. Nas
equações de Aki e Richards observamos a boa correlação para ambos os casos de
saturação, porém uma leve divergência ocorre na base do gás, a partir de 15°. A
onda convertida PSV, para as anomalias da saturação de ambos os fluidos no topo
e na base, tendem a aumentar a amplitude com o afastamento. Porém, de forma
mais acentuada para o gás. As equações aproximadas para o gás são divergentes
desde o início da aquisição; para o topo da salmoura, inicialmente são bem
convergentes, divergindo com o aumento do afastamento e convergindo com
afastamentos longos. Na base tem-se uma boa convergência.
A Tabela 2.5 mostra um resumo do comportamento das anomalias de AVO
nas diferentes classes supracitadas.
Tabela 2.5. Classes de AVO. Rutherfod and Williams (1989), extendido por Castagna e Smith (1994), e Ross e Kinman (1995).
Classe Impedância Quadrante Intercepto Gradiente Produto
AVO
I Alta 4o + - Negativo
II Nenhum ou
baixo
contraste
4 o + - Negativo
IIp Nenhum ou
baixo
contraste
3 o - - Positivo
III Baixa 3 o - - Positivo
IV Baixa 2 o - + Negativo O comportamento das anomalias pode ser visualizado, pelo cross-plot do
intercepto (A) versus gradiente (B), sendo demonstrado pelas Figuras 2.16 e 2.17.
Nestas figuras, os topos dos reservatórios saturados em gás e salmoura podem ser
40
Figura 2.15. Comportamentos distintos das amplitudes da componente PP (A) e da componente PS (B) pelo ângulo de incidência no topo e base do gás (vermelha) e da água (preta) na Classe 4. As linhas (tracejada e contínua) indicam o uso das equações de Zoeppritz para topo e base do gás e da água, as linhas compostas por figuras (estrela e losango) indicam o uso da aproximação de Aki e Richards para o topo e base do gás e da água.
41
.Figura 2.16. Cross-plot do intercepto versus gradiente para as Classes 1 (A) e 2 (B). As linhas de tendências de litologia e de saturação: gás (vermelha) e salmoura (preta) para os dados das Tabelas 2.1, 2.2.
42
.Figura 2.17. Cross-plot do intercepto versus gradiente para as Classes 3 (C) e 4 (D). As linhas de tendências de litologia e de saturação: gás (vermelha) e salmoura (preta) para os dados das Tabelas 2.3, 2.4.
43
vistos pelo dado obtido do intercepto (A), assim como as bases, resultando em uma
linha de tendência.
2.5 Conclusões
Neste capítulo foram apresentados os fundamentos da modelagem de AVO
multicomponente, onde as etapas citadas visam a criação de modelos clássicos das
anomalias de AVO, sendo compostos de arenitos com diferentes tipos de saturação,
capeados por folhelhos, criados a partir de dados de poço (Castagna et al., 1994,
1998), simulando uma geologia estratificada. Assim vimos que estes sismogramas
elásticos sintéticos, utilizando uma aproximação linear das equações de Zoeppritz
(aproximação de Aki e Richards) em conjunto com o método do traçado do raio,
apresentam com clareza a anomalia da interface do folhelho com o arenito (topo do
reservatório), e da interface do arenito com folhelho (base do reservatório), bem
como sua boa correlação com as complexas equações de Zoeppritz. Porém, resta
lembrar que este método apresentou só bons resultados, porque foi desconsiderado
ruídos e efeitos da estrutura.
No capítulo seguinte, um breve estudo sobre a física de rocha é
demonstrado, relacionando atributos encontrados nos dados de perfil com os
atributos sísmicos que podem ser obtidos da inversão de AVO.
44
CCaappííttuulloo 33
FÍSICA DE ROCHAS
3.1 Introdução
Propriedades do reservatório, tais como porosidade, litofáceis, fluido de
poro, saturação e pressão estimada de dados sísmicos são tecnicamente
necessários para o desenvolvimento do campo petrolífero. Os dados sísmicos são
sensíveis a variações dessas propriedades e podem fornecer informações valiosas
na exploração e desenvolvimento de novas reservas. Para isso, as relações entre as
propriedades físicas da rocha e os atributos sísmicos devem ser bem estabelecidas.
A física de rochas é a ciência que estuda as relações entre as medições
feitas da geofísica e as propriedades de rocha, enfatizando suas interpretações em
dados sísmicos e sônicos.
As amplitudes sísmicas, como se sabe, são regidas pelas propriedades da
rocha. Estas propriedades necessitam ser estudadas de forma quantitativa, com
objetivo de se descobrir a relação dos parâmetros sísmicos com os parâmetros do
reservatório. Esta relação é criada através de alguns parâmetros constituintes do
meio.
45
Antes do entendimento da física de rochas é necessário se ter o
conhecimento de parâmetros, descritos como parâmetros elásticos, regentes das
velocidades das ondas sísmicas, criados a partir da relação da tensão e deformação.
A seguir, os parâmetros constituintes do meio que influenciam a resposta
sísmica são abordados.
3.2 Parâmetros elásticos
O meio é assumido como homogêneo, isotrópico e elástico. Por ser elástico,
Hooke, no século XVII (Bourbie et al., 1987), descreveu as relações, onde a tensão
é diretamente proporcional à deformação, demonstrando que pequenas
deformações são causadas por tensões de maneira direta e proporcional. Na
sísmica, a propagação da onda sísmica (frente de onda) se deve ao deslocamento
de partículas no meio elástico, criando relação entre tensão e deformação. Essa
relação é descrita pela equação abaixo:
ii Eεσ = , (3.1)
onde,
iσ = tensão na direção proposta i ,
iε = deformação na mesma direção i ,
E = módulo de Young, podendo ser interpretado como a resistência de um material
sólido contra uma tensão uniaxial.
O módulo de Elasticidade, módulo de Cisalhamento e módulo de
Incompressibilidade fazem parte de um grupo de coeficientes chamados de módulos
elásticos e são utilizados para caracterizar o meio.
A razão de Poisson (ν ) pode ser definida como a relação entre a
deformação lateral e a deformação longitudinal de um corpo. A Figura 3.1
demonstra essa relação de maneira tridimensional. Um cubo está sujeito a uma
tensão normal ( xxσ , sendo representando por F) aplicada na direção x, causando
46
uma deformação na mesma direção, e ocorrendo uma diminuição dos comprimentos
(deformação) das outras faces (y, z). Essa deformação na direção y cuja
componente é yyε , e a deformação da direção z cuja componente é zzε , são ambos
diferentes de zero (dependendo do esforço, pode ser positivo se houver
compressão), definindo a razão de Poisson com a equação 3.2:
xx
zz
xx
yy
εε
εε
ν −=−= , (3.2)
sendo,
zze
yy
xx
zzyyxx∆
=∆
=∆
= εεε , .
Através da Figura 3.1, pode-se definir o módulo de Elasticidade ( E ),
também conhecido com módulo de Young, estabelecido pela relação entre a tensão
normal ( xxσ ) e a deformação de um corpo ao longo de uma direção ( xxε ), neste caso
a direção x, definido como:
xx
xxEεσ
= . (3.3)
Figura 3.1. Corpo submetido a tensão ao longo do eixo x (Vasquez, 1999).
47
O módulo de Cisalhamento (µ ), também conhecido como módulo de
Rigidez, é estabelecido pela relação entre a tensão cisalhante e a deformação
cisalhante ( yyε ), causando deformação, mas sem variar volume. Ele é definido
como:
xy
xy
εσ
µ = . (3.4)
O módulo de Incompressibilidade (K), também conhecido como módulo de
Volume, é definido como a soma das tensões normais ( zzyyxx σσσσ === e
0=== yzxzxy σσσ ) aplicadas em um corpo. A dilatação ou deformação volumétrica
resultante ( zzyyxx εεεε ++= ) indica a capacidade do material de resistir à contração
sob pressão hidrostática, podendo ser expresso pelos parâmetros de Lamé:
µλσ32
+==e
K . (3.5)
A resposta sísmica é dependente da resistência do material que está sujeito
à passagem da onda sísmica. Por sua vez, os parâmetros elásticos descritos nesta
seção constituem as propriedades litológicas do meio. A seguir serão descritos os
parâmetros litológicos e suas relações com os parâmetros elásticos.
3.3 Velocidades sísmicas
As velocidades das ondas compressionais e das ondas cisalhantes podem
ser definidas em função dos parâmetros elásticos do meio homogêneo e isotrópico:
ρ
µ
ρµλ 3
42 +=
+=
KVp (3.6)
e
48
ρµ
=Vs (3.7)
onde,
Vp = velocidade da onda P (onda compressional),
Vs = velocidade da onda S (onda cisalhante),
K = módulo de Incompressibilidade,
µ = módulo de Cisalhamento,
ρ = densidade da rocha.
Os dois tipos de velocidades têm comportamentos distintos em relação ao
meio em que propagam, sendo afetados por diversos fatores, tais como: porosidade,
litologia, fluido. Devido ao fato de material fluido não sofrer cisalhamento, o módulo
de cisalhamento é insensível ao fluido (Castagna e Batzle, 1993). Desta forma,
enquanto Vp é sensível a variações de fluido na rocha, Vs é praticamente insensível.
As únicas variações de Vs devido a mudança no fluido são devido às variações na
densidade volumétrica do material. Por este motivo, a razão entre a Vp/Vs é um bom
indicador direto de hidrocarboneto, principalmente de gás. A razão Vp/Vs também
possui boa capacidade de discriminar litologias entre rochas reservatório.
3.4 Propriedades litológicas do meio
Diversos estudos foram feitos entre os efeitos de parâmetros litológicos
(propriedades de rocha) e atributos sísmicos (Mavko et al., 1998; Hilterman, 1998).
As velocidades são os atributos sísmicos mais utilizados, pois seus dados acarretam
uma grande quantidade de informações. A Figura 3.2 demonstra o comportamento
da velocidade da onda P e as diversas propriedades físicas do meio.
Pode-se observar que a variação do comportamento de cada tipo de
propriedade de rocha em relação à velocidade é distinta, podendo ser dependentes
entre si. Um exemplo disso pode ser verificado na Figura 3.2, onde se aumentando a
pressão de confinamento, tem-se uma redução de porosidade, aumentando a
49
velocidade, porém, essa queda de porosidade pode indicar uma diminuição na
densidade da rocha.
Em um reservatório pode ocorrer a composição de várias fases.
Combinações de gás dissolvido em água, gás dissolvido em óleo, e óleo-água,
afetam as velocidades sísmicas, pois as propriedades determinantes do fluido
(densidade e módulo de Incompressibilidade) sofrem influência da resposta elástica
do meio. Em relação às várias fases, Vp só é sensível à parte gasosa quando a
saturação gasosa é maior que a saturação líquida (Sg > 0,5). Para o caso de um
reservatório saturado em óleo e água, a discriminação do tipo de fluido tende a não
ter bons resultados utilizando apenas Vp, por isso é taxado como sendo baixa a
confiabilidade quanto à determinação do tipo de saturação nas rochas.
Figura 3.2. Comportamento da onda P mediante as diferentes propriedades de
rocha (Takahashi, 2000).
50
A velocidade decresce em função da porosidade. Porém, existem situações
que fazem esse quadro variar. Um meio poroso, quando seco, causa redução da
velocidade, pois a rocha se torna mais “macia”, fazendo com que K seja menor;
Porém, quando saturado por completo, a velocidade tende a aumentar devido à
resistência causada pelo fluido, fazendo com que K tenha uma variação de valores
maiores do que os valores de densidade da rocha. Existe ainda uma série de fatores
que podem afetar a porosidade, como a textura da matriz. As rochas sedimentares
possuem textura de matriz que afeta o comportamento elástico, como arenito mal
selecionado e não consolidado, que possuem velocidades relativamente menores do
que um arenito cimentado; a porosidade, neste caso, influencia uma queda suave da
velocidade, ocorre o mesmo com o arenito consolidado, porém de forma brusca.
A porosidade de uma rocha é relacionada com a sua deposição. Assim,
areias bem selecionadas tendem a ter porosidade maior do que areias mal
selecionadas. Minerais de argila afetam a porosidade, pois diminuem o diâmetro dos
poros, aumentando K. A porosidade também pode decrescer devido à diagênese.
A pressão efetiva sendo relacionada como pressão de confinamento menos
a pressão de poro, afeta a porosidade, conseqüentemente a velocidade. O aumento
da velocidade em função da pressão efetiva ocorre devido ao aumento da pressão
(função da profundidade) e ao efeito da diagênese (cimentação), fazendo os poros
diminuírem de tamanho.
A Figura 3.3 (a) e 3.3 (b) mostram o comportamento das velocidades da
onda P (Vp) e onda S (Vs) e dos módulos K e µ em função da pressão,
respectivamente, para amostras de arenitos saturados em água e secos, com a
variação de pressão. Na Figura 3.3 (a), o aumento de Vp, obedecendo ao efeito de
sobreposição previamente citado, e a pequena diminuição de Vs (não sensível à
variação gerada pelo fluido) devido à variação na densidade. Na Figura 3.3 (b) a
variação de K é claramente visível, bem como a mínima variação de µ .
51
3.5 Conhecimento dos limites elásticos
Para se quantificar uma propriedade de rocha é preciso ter três tipos de
informação: (i) as frações volumétricas dos constituintes da rocha, (ii) os módulos
elásticos, (iii) geometria dos grãos. Na prática, os itens (i) e (ii) podem ser bem
determinados pelo estudo de dados de poço, porém o item (iii) somente é
determinado em laboratório.
Sem a geometria pode-se apenas limitar os dados, determinando limite
superior e inferior aos módulos e às velocidades. A Figura 3.4 mostra os limites,
superior e inferior para dois constituintes. Qualquer dos constituintes, havendo uma
influência na sua fração volumétrica, ou no seu módulo, causa um comportamento
dentro dos limites estabelecidos; e a variação da geometria pode ser determinada
pelo comportamento vertical (linha vertical tracejada da Figura 3.4), onde o seu
Figura 3.3. Medidas de Vp e Vs (a), medidas dos módulos k e µ (b) em
arenitos saturados por água e secas em função da pressão. (Han and Batzle,
2004).
52
aumento pode ser caracterizado como poro de formato “duro” e sua redução como
poro de formato “macio”.
O gráfico da Figura 3.4 mostra a distribuição dos dados em função de sua
fração volumétrica e do seu módulo. O comportamento de qualquer propriedade do
meio sedimentar vai depender dessa distribuição, sendo influenciado pelo formato
do poro.
Devido à complexidade geométrica dos poros das rochas, as informações
sempre são simplificadas e aproximadas, determinando a relação entre tensão e
deformação. Como a rocha é anisotrópica, é de se esperar que a relação entre
tensão e deformação seja não-uniforme, para isso, dois limites podem ser
assumidos: limite de Voigt e limite de Reuss. O limite de Voigt relaciona uma tensão
uniforme com uma deformação uniforme, sendo assim também chamado de iso-
strain. Neste caso, o sedimento encontra-se sob ação física da diagênese,
compactação, cimentação. A equação abaixo descreve o limite de Voigt:
Figura 3.4. Limites entre dois diferentes tipos de material (Avseth et al., 2005).
53
∑==
n
i iiv MfM1
, (3.8)
onde,
Mv = módulo elástico efetivo,
fi = fração volumétrica do i-ésimo constituinte,
Mi = módulo elástico do i-ésimo constituinte.
O limite de Reuss relaciona uma tensão normal uniforme com uma variação
de deformação nos seus constituintes, sendo assim também chamado de iso-stress.
Para que se tenha uma tensão uniforme, é necessário que se tenha uma mistura de
fluidos, ou partículas em suspensão, caracterizando assim um sistema físico real
para as rochas sedimentares com misturas isotrópicas. A equação a seguir descreve
o limite de Reuss:
∑ ==
n
ii
i
r Mf
M 1
1 , (3.9)
onde,
Mr = módulo elástico efetivo,
fi = fração volumétrica do i-ésimo constituinte,
Mi = módulo elástico do i-ésimo constituinte.
A Figura 3.5 mostra o comportamento das propriedades acústicas das
rochas sedimentares. Vp (k) está relacionado com a porosidade para sedimentos
saturados em água, criando o intervalo dos sedimentos do fundo oceânico até o
intervalo de arenitos consolidados. Antes da deposição, partículas dos sedimentos
em suspensão na água são abrangidas pelo limite de Reuss, e devem permanecer
assim ao atingir o fundo do oceano quando ainda são fracas e inconsolidadas;
porosidade varia de acordo com a partícula. Areias bem selecionadas possuem
porosidade por volta de 40% (Avseth et al., 2005); quando são mal selecionadas, a
porosidade tende a decair ao longo do limite de Reuss.
54
Aumentando pressão e temperatura, vários processos alteram o estado
físico do sedimento (diagênese, cimentação, compactação), fazendo com que o
sedimento fuja do limite de Reuss e passe a ser abrangido pelo limite de Voigt,
tendendo a chegar em um mineral com porosidade zero.
O gráfico formado pela combinação da incompressibilidade (K) e da
porosidade (φ ) é o mais utilizado para a análise das propriedades de rocha, onde as
fáceis são identificadas pela variação diagenética ou textural. O gráfico da Figura 3.6
ilustra os diferentes comportamentos das propriedades físicas da rocha (pressão,
diagênese, propriedades do fluido, textura) quando qualquer tipo de alteração
ocorre. Os dois efeitos geológicos, representados pela diagênese e pela textura,
Figura 3.5. Relação da velocidade da onda P (Vp) e porosidade demonstrando os diferentes comportamentos dos sedimentos saturados em água. (Avseth et al., 2005)
55
criam diferentes tendências. Quando a porosidade é controlada pela diagênese
(cimentação, compactação), mantendo todas as outras propriedades constantes
(quantidade de argila, pressão, propriedades do fluido), seu aumento tende a seguir
o modelo de Voigt (MV), decaindo a porosidade. Na variação textural, também
mantendo todas as outras propriedades constantes (pressão, propriedades do
fluido), mas variando o conteúdo de argila, a porosidade decai, tendendo a seguir o
modelo de Hashin-Shtrikman (HSLB, este modelo é conhecido por fornecer o menor
intervalo entre os limites inferiores e superiores dos módulos elásticos, sendo
considerado um modelo mais refinado); que pode ser visto como mudanças nas
propriedades do fluido não influenciam a porosidade, mas apenas a
incompressibilidade, ocorrendo quase o mesmo com o aumento da pressão,
influenciando muito pouco a porosidade. Abaixo do ponto de porosidade crítica φc é
considerado estado de suspensão (onde os grãos estão dispersos em algum fluido).
O ponto mineral é o ponto de porosidade zero.
Figura 3.6. Relação dos efeitos nas propriedades de rocha no gráfico porosidade (φ ) versus incompressibilidade (K), com relação a mudança das seguintes propriedades;. i) Pressão (setas vermelhas); ii) Mudança de fluido (setas verde); iii) Diagênese (setas pretas); iv) Textura (setas azuis). A linha MV representa o limite superior de Voigt, e a curva HSLB o limite inferior de Hashin e Shiktriman (Takahashi, 2000).
56
A análise da física de rocha baseado neste gráfico é um meio de grande
importância, pois expressam as informações das propriedades de rocha numa
perspectiva de dados petrofísicos.
3.6 Relações empíricas
Relações empíricas foram criadas e são úteis na identificação do
comportamento das propriedades do reservatório, porém devem ser utilizadas com
cuidado. Relações empíricas são criadas a partir de dados específicos de um
campo, não podendo ser extrapolados. Han et al. (1986) demonstraram através de
dados laboratoriais que suas formulações empíricas foram capazes de caracterizar a
velocidade em função da porosidade e do conteúdo de argila. No gráfico da Figura
3.7 pode ser visto que a velocidade decresce com o aumento da porosidade. O
espalhamento dos valores é causado pelo grau de conteúdo de argila. De uma
maneira geral, rochas clásticas tendem a ter sua velocidade influenciada pelo
conteúdo de argila, causando perda de porosidade.
Figura 3.7. Velocidade versus porosidade. Relação empírica criada por Han et al. (1986) (Avseth et al., 2005).
57
Outros tipos de relações empíricas relacionando Vp - Vs podem definir
trends para litologias, como os definidos por Castagna et al. (1993). Rochas clásticas
(arenito, folhelho) definem trends conhecidos, como a mudrock line. Da mesma
forma que existem relações empíricas para rochas clásticas, pode-se definir relações
empíricas para rochas carbonáticas (calcário, dolomito). A Figura 3.8 demonstra os
trends para as diferentes litologias. A relação empírica de Vp - Vs para as rochas
clásticas é estabelecida como:
)/(8559.08042.0 sKmVpVs −= , (3.10)
para o arenito;
)/(8574.07700.0 sKmVpVs −= , (3.11)
para o folhelho.
A relação para as rochas carbonáticas:
)/(2304878.0 sKmVpVs −= , (3.12)
para o calcário;
)/(8.5004748.0 sKmVpVs −= , (3.13)
para o dolomito.
A densidade também pode ser definida a partir dos dados de Vp, utilizando-
se da relação empírica determinada por Gardner et al. (1974), definida como relação
de Gardner. A densidade para as rochas clásticas é estabelecida a seguir:
)/(66.1 3261.0 ccKgVp=ρ , (3.14)
para o arenito;
58
)/(75.1 3265.0 ccKgVp=ρ , (3.15)
para o folhelho.
As relações para as rochas carbonáticas:
)/(5.1 3225.0 ccKgVp=ρ , (3.16)
para o calcário;
2000 2500 3000 3500 4000 4500 5000 5500 6000
1000
1500
2000
2500
3000
3500
P−Wave velocity (m/s)
S−
Wav
e ve
loci
ty (
m/s
)
ArenitoFolhelhoCalcarioDolomito
Figura 3.8. O gráfico demonstra a linha criada no trabalho de Castagna et al. (1985), designando a mudrock line (linha contínua azul) resaltando a possível composição de um reservatório (pontos em vermelho) diante dos dados de perfil de poço (pontos em azul). A relação empírica é estendida para folhelho (linha contínua preta), calcário (linha tracejada preta) e dolomito (linha tracejada azul).
59
)/(74.1 3252.0 ccKgVp=ρ , (3.17)
para o dolomito.
Usando-se estas relações empíricas, pode-se determinar os comportamento
dos atributos sísmicos (Vp, Vs e ρ ) para rochas clásticas e carbonáticas.
3.7 Conclusões
Neste capítulo, utilizamos conhecimentos esclarecedores da física de rocha,
onde se demonstrou a metodologia capaz de definir com sucesso as propriedades
que compõem um reservatório, caracterizando as propriedades litológicas, podendo
estender o conhecimento para os atributos sísmicos. A importância do conhecimento
da física de rochas nos dados sísmicos de AVO se torna evidente, fornecendo uma
importante ferramenta na interpretação sísmica dos dados.
No próximo capítulo, os modelos clássicos de AVO (sismogramas elásticos)
obtidos no capítulo da modelagem são invertidos, visando a estimativa dos
parâmetros de AVO, necessários para a caracterização do dado.
60
CCaappííttuulloo 44
INVERSÃO DE AVO MULTICOMPONENTE
4.1 Introdução
A inversão de AVO é um dos métodos utilizados para se estimar os
parâmetros que caracterizam o meio geológico, conhecido como parâmetros
elásticos (velocidade de onda P, velocidade de onda S e densidade); em princípio,
as variações das amplitudes refletidas das ondas PP com o afastamento possuem
todos os contrastes destes parâmetros (Lörtzer and Berkhout, 1988). Porém, visando
estimativas mais confiáveis, a combinação dos dados das ondas PP e PSV são
necessárias, pois contêm grande parte das informações de todos os parâmetros
elásticos necessários para uma boa caracterização.
A classificação quanto aos métodos de inversão pode ser descrita como:
inversão não linear e inversão linear. A inversão não linear compreende métodos
mais complexos de estimativas, utilizando a equação da onda completa para a
modelagem de seus dados. Logo sua sensibilidade a ruídos (incluindo múltiplas) ou
efeitos de processamento e aquisição, causam problemas nas estimativas dos
parâmetros. A inversão linear é mais simples por compreender aproximações das
equações de Zoeppritz, equações estas que descrevem o comportamento das
amplitudes na interface de maneira ideal, sem as muitas complicações encontradas
na inversão não-linear.
61
Como já mostrado no segundo capítulo, a modelagem de AVO
multicomponente foi baseada nas equações de Zoeppritz. Sendo assim, este
capítulo baseia-se nos resultados compreendidos da inversão linear de AVO de
todas as classes, sendo apenas considerado o topo e a base do reservatório. Serão
apresentados a teoria envolvida na inversão de AVO e exemplos com dados
sintéticos.
4.2 Inversão linear
Primeiramente, partindo do princípio do que é um problema inverso,
considere um sismograma resultante de uma modelagem de AVO. A obtenção dos
parâmetros de subsuperfície deste sismograma, que caracterizam o meio geológico,
constitui o chamado problema inverso. Quando se têm os parâmetros e a função que
caracteriza a resposta do meio, faz-se o caminho oposto ao problema inverso, e se
obtém a modelagem sísmica.
A Figura 4.1 exemplifica de modo esquemático os dois tipos de problema:
direto e inverso.
Solução do Problema Inverso
Solução do Problema Direto
Modelo matemático
Modelo matemático ?
Informação conhecida
(parâmetros)
Incógnita ? (sismograma)
(a) Problema Direto
(b) Problema Inverso
Incógnita ? (parâmetros)
Dados experimentais
conhecidos
Figura 4.1. Representação esquemática do Problema Direto (a) e do Problema Inverso (b).
62
Um problema inverso pode ser caracterizado tendo uma função F,
relacionando linearmente, ou não-linearmente o modelo de parâmetros m a um dado
d. O dado real observado é denominado dobs e o dado resultante do problema
direto, conhecido como dado calculado é denominado dcal. A finalidade é determinar
o modelo de parâmetros que minimize a diferença entre os dados observados e os
dados calculados, esta função é conhecida como função objetivo.
Através do método linear, os dados e os parâmetros são linearmente
relacionados pela função F e são expressos como:
Xmd = , (4.1)
onde,
d = dado,
X = função teórica de F,
m = modelo de parâmetros a serem encontrados na inversão.
Para se definir m, a solução por mínimos quadrados é utilizada. Menke
(1984) e Tarantola (1987) citam a forma analítica como uma das vantagens da
inversão linear, que pode ser descrita pela equação 4.2:
( ) ( ) ( ) ( )XmXXXdXXXXmXdXXmd TTobs
TTTobs
Tobs
11 −−=→=→=
( ) obsTT dXXXm 1−
=→ (4.2)
Este é o operador para estimativa de m adotado ao longo deste trabalho.
4.3 Estimativa dos parâmetros de AVO
Na inversão de AVO, inversão linear é feita para estimar parâmetros de AVO
dos dados sísmicos não-empilhados. Dentre os diversos parâmetros que podem ser
obtidos da inversão para uma análise de AVO, os que mais se destacam são:
63
• Refletividades das velocidades da onda P (Rp), onda S (Rs) e
densidade relativa (R ρ );
• Intercepto (A) e gradiente (B);
• Fator de fluido ( F∆ );
• Módulos elásticos: primeiro parâmetro de Lamé (λ ), segundo
parâmetro de Lamé, também conhecido como módulo de cisalhamento
(µ ).
Estes parâmetros são utilizados na detecção de hidrocarbonetos e na
caracterização de reservatório. As seções seguintes discorrem sobre cada um
destes atributos de AVO.
4.3.1 Refletividade das velocidades da onda P (RP), onda S (RS) e densidade relativa (R ρ )
As equações de Zoeppritz descrevem com exatidão como é o
comportamento da amplitude com o afastamento (ângulo). Através da incidência de
ondas P na interface, produzem-se ondas refletidas e transmitidas PP e PSV. Estas
dependem das propriedades elásticas (velocidade de onda P, velocidade de onda S
e densidade da camada acima e abaixo da interface) ao qual se propagam; porém,
as equações de Zoeppritz numa inversão, resultam em um problema inverso não
único e instável, por estas equações serem não lineares aos parâmetros do meio.
Pode-se utilizar no processo de inversão, aproximações lineares das
equações de Zoeppritz. A aproximação linear de Aki e Richards é neste trabalho
utilizada para relacionar os parâmetros elásticos com as amplitudes sísmicas.
Através da inversão linear de AVO pode-se estimar a refletividade da velocidade da
onda P (RP), refletividade da velocidade da onda S (RS) e a variação da densidade
relativa (R ρ ). As equações (4.3) e (4.4) descrevem o comportamento das
amplitudes das ondas PP e PSV:
( ) ( ) VsVpPP RRRR θγθ
θγθ ρ22
222
1 sin4cos2
1sin4121
−+−≈ , (4.3)
64
( ) ( )[ ρϕθγθγϕϕθ RVs
VpRPS coscos2sin212tan, 22
11 +−−≈
( ) ]VsRϕθγθγ coscos4sin4 22 −− . (4.4)
Sendo utilizadas as seguintes relações:
VpVpRVp
∆= , (4.5)
VsVsRVs
∆= , (4.6)
ρρ
ρ∆
=R , (4.7)
onde,
( ) 2/21 VpVpVp += ,
( ) 2/21 VsVsVs += ,
( ) 2/21 ρρρ += ,
12 ρρρ −=∆ ,
12 VpVpVp −=∆ ,
12 VsVsVs −=∆ ,
VpVs /=γ ,
( ) 121 2/ θθθθ ≈+= ,
( ) 121 2/ ϕϕϕϕ ≈+= .
θ é o ângulo de incidência médio da onda P, ϕ é o ângulo de incidência médio da
onda S.
65
A inversão é desenvolvida individualmente para cada tempo t, conhecido
como tempo de observação (amostra) de um gather CDP com correção de NMO. A
Figura 4.2 ilustra as amplitudes como dado de entrada nesta inversão.
O problema direto desta modelagem pode ser escrito na forma matricial,
conforme descrito na equação (4.8):
( )
( ) ⎥⎥⎥
⎦
⎤
⎢⎢⎢
⎣
⎡
⎥⎥⎥
⎦
⎤
⎢⎢⎢
⎣
⎡
−−
−−=
⎥⎥⎥
⎦
⎤
⎢⎢⎢
⎣
⎡
ρθγθγθ
θγθγθ
θ
θ
RRR
R
R
Vs
Vp
MMMM22222
1222
12
12
1
sin41sin8sec
sin41sin8sec
)(.
)(MMM , (4.8)
Xmdcal = ,
onde,
M = quantidade de offsets,
Figura 4.2. Amplitudes modeladas pelas equações de Zoeppritz, e o comportamento destas no topo e base de um reservatório, conhecido como de gráfico de AVO, ou AVA (amplitude variation with angle)
66
dcal = vetor de dados calculados,
X = matriz contendo os termos que relacionam o ângulo médio de incidência e a
razão Vs/Vp (média da velocidade da onda S pela média da velocidade de onda
P), representado por γ ,
m = vetor de parâmetros contendo as refletividades.
Para se definir os parâmetros representados por m, utiliza-se o método dos
mínimos quadrados, descrito abaixo:
( ) calTT dXXXm 1−
= . (4.9)
Na inversão para a onda PSV, a modelagem pode ser feita da mesma
maneira, porém, como pode ser visto na equação (4.4), os coeficientes de reflexão
da onda PSV (RS) não dependem da refletividade da velocidade da onda P (RP).
Sendo assim, a equação matricial é expressa na forma abaixo:
⎥⎦
⎤⎢⎣
⎡
⎥⎥⎥
⎦
⎤
⎢⎢⎢
⎣
⎡=
⎥⎥⎥
⎦
⎤
⎢⎢⎢
⎣
⎡
ρϕθ
ϕθ
RR
b
b
a
a
R
RVs
MMMM
MM1111
),(.
),(, (4.10)
Xmdc = ,
onde,
( )ϕθγθγβϕα
112
121
1 coscos2sin212tan
+−−=a ,
( )ϕθγθγβ
ϕαMMM
MMa coscos2sin21
2tan 22 +−−= ,
( )ϕθγθγβϕα
112
121
1 coscos4sin42tan
−−−=b ,
67
( )ϕθγθγβ
ϕαMMM
MMb coscos4sin4
2tan 22 −−−= .
A inversão conjunta, por utilizar informações das duas ondas refletidas PP e
PSV, é chamada também de inversão multicomponente. Têm-se os mesmo objetivos
de obter as refletividades das velocidades e densidade relativa. As equações (4.8) e
(4.10) representam esta maneira de modelagem na equação matricial:
⎥⎥⎥
⎦
⎤
⎢⎢⎢
⎣
⎡
⎥⎦
⎤⎢⎣
⎡=⎥
⎦
⎤⎢⎣
⎡
ρRRR
AA
dd
Vs
Vp
PS
PP
PS
PP . (4.11)
Entretanto, como já citado, os coeficientes da onda PSV (equação 4.10) não
dependem da refletividade da velocidade da onda P (RP), por isso, a primeira coluna
da matriz APS é composta por valores nulos (zeros). Os sub-indíces PP representam
dados da onda PP, e PS dados da onda PSV.
A seguir serão apresentados alguns testes com modelos sintéticos,
baseados nas 4 Classes de AVO descritas anteriormente.
4.3.2 Testes da refletividade das velocidades e densidade com modelos sintéticos
Os dados de entrada para a inversão de AVO, como já citado, são as
amplitudes das ondas PP e PSV e os ângulos de incidência, obtidos pelo método do
traçado do raio. Estas amplitudes foram obtidas através da modelagem (capítulo 2),
utilizando parâmetros que caracterizam o meio (Vp, Vs e ρ ). Foram realizados para
cada uma das 4 Classes de AVO os seguintes testes de inversão (equação 4.2):
• Inversão individual da onda PP;
• Inversão individual da onda PSV;
• Inversão conjunta das ondas PP e PSV (simultânea).
68
As inversões feitas utilizaram dados de banda de freqüência limitada de 15-
60 Hz para componente PP e PSV.
As Figuras 4.3, 4.4, 4.5, 4.6 mostram a inversão das refletividades das
velocidades e densidade relativa para a Classe 1, 2, 3 e 4 de AVO. A Inversão dos
dados da componente PP (A) resulta em estimativas de RP, RS e R ρ . Teoricamente,
estes resultados devem ser bem ajustados para RP e dispersivos para RS e ρ . A
inversão dos dados da componente PSV (B) resulta em estimativas de RS e ρ .
Teoricamente, estes resultados devem ser bem ajustados para RS e R ρ . E por
último, a inversão dos dados simultâneos (C) tem como propósito obter uma melhor
estimativa para ρ , dentre todas as inversões.
A inversão da componente PP na Figura 4.3.A mostra que os resultados
encontrados para Rp do reservatório com gás pode ser melhor correlacionado que o
da salmoura, o mesmo acontecendo para Rs e R ρ . Na Figura 4.3.B, inversão da
componente PSV, os resultados também possuem melhores correlações para os
dados do gás que os da salmoura. Por último, a inversão conjunta mostrada na
Figura 4.3.C, os resultados desta inversão, novamente ressaltam a melhor
correlação com os dados do gás, porém não há melhoramento na estimativa da
densidade, umas das principais funções da inversão conjunta.
A inversão da componente PP na Figura 4.4.A mostra que os resultados
encontrados para Rp de ambos os reservatórios estão bem correlacionados, o
mesmo acontecendo para Rs e para R ρ , apenas o reservatório com salmoura é
bem correlacionado. Na Figura 4.4.B, inversão da componente PSV, os resultados
possuem melhores correlações para os dados com gás. Por último, os resultados da
inversão conjunta mostrada na Figura 4.4.C, novamente ressaltam a melhor
correlação com os dados da salmoura, porém não há melhoramento na estimativa
da densidade em nenhum dos dois reservatórios.
A inversão da componente PP na Figura 4.5.A mostra que os resultados
encontrados para Rp de ambos os reservatórios estão bem correlacionados apenas
para os dados referentes à base dos reservatórios, o mesmo acontecendo para Rs e
69
para R ρ . Na Figura 4.5.B, inversão da componente PSV, novamente os resultados
de Rs e R ρ possuem melhores correlações para os dados referentes à base dos
reservatórios. Por último, os resultados da inversão conjunta mostrada na Figura
4.5.C, ressaltam uma correlação ruim para Rp e uma melhor correlação referente
aos dados da base dos reservatórios, porém não há melhoramento na estimativa da
densidade em nenhum dos dois reservatórios.
A inversão da componente PP na Figura 4.6.A mostra que os resultados
encontrados para Rp com os dados do reservatório com gás são ruins, melhorando
para os dados referentes ao reservatório com salmoura, ocorrendo o mesmo para as
estimativas de Rs e R ρ . Na Figura 4.6.B, inversão da componente PSV, novamente
os resultados de Rs e R ρ possuem melhores correlações para os dados referentes
ao reservatório com gás. Por último, os resultados da inversão conjunta mostrada na
Figura 4.6.C, ressaltam uma correlação ruim para Rp, Rs e R ρ com dados do
reservatório com gás, melhorando a correlação com dados referentes aos dados do
reservatório com salmoura, porém não há melhoramento significativo na estimativa
da densidade em nenhum dos dois reservatórios.
Com os atributos sísmicos estimados de RP, RS e R ρ , pode-se estimar,
além dos coeficientes de reflexão da interface, atributos relacionados a física de
rocha, como os módulos elásticos, a serem vistos na seção 4.3.8.
Entretanto, para uma análise interpretativa mais acurada, há a necessidade
de mais atributos. A análise de intercepto e do gradiente pode ser de grande auxílio
e será visto na seção seguinte.
70
Figura 4.3. Inversão das refletividades das velocidades da onda P (RP) e S (RS) e a variação da densidade relativa (R ρ ), obtidas a partir de dados da onda PP (A), onda PSV (B) e simultânea (C), referentes a anomalia sísmica de classe 1 (em vermelho, dados obtidos da inversão de banda de freqüência limitada e em preto dados observados).
71
Figura 4.4. Inversão das refletividades das velocidades da onda P (RP) e S (RS) e a variação da densidade relativa (R ρ ), obtidas a partir de dados da onda PP (A), onda PSV (B) e simultânea (C), referentes a anomalia sísmica de classe 2 (em vermelho, dados obtidos da inversão de banda de freqüência limitada e em preto dados observados).
72
Figura 4.5. Inversão das refletividades das velocidades da onda P (RP) e S (RS) e a variação da densidade relativa (R ρ ), obtidas a partir de dados da onda PP (A), onda PSV (B) e simultânea (C), referentes a anomalia sísmica de classe 3 (em vermelho, dados obtidos da inversão de banda de freqüência limitada e em preto dados observados).
73
Figura 4.6. Inversão das refletividades das velocidades da onda P (RP) e S (RS) e a variação da densidade relativa (R ρ ), obtidas a partir de dados da onda PP (A), onda PSV (B) e simultânea (C), referentes a anomalia sísmica de classe 4 (em vermelho, dados obtidos da inversão de banda de freqüência limitada e em preto dados observados).
74
4.3.3 Intercepto (A) e gradiente (B)
Diferentes atributos podem ser extraídos, mapeados e analisados de dados
sísmicos. Dois importantes atributos, do ponto de vista da aplicação prática são
provenientes da equação linear de Aki e Richards (equações 2.2 e 2.3) e de Shuey
(equação 2.4): Intercepto e gradiente.
A estimativa destes atributos pode ser feita especificando o tempo de
amostra (observação) representado por t, em um sismograma com correção de
NMO. Esta estimativa é estabelecida da seguinte forma:
),(sin)()0,(),( 2 xttBtAxtR θ+= . (4.12)
R(t, x) é a amplitude ou sismograma em função do tempo e do espaço, A (t,0) é o
intercepto, B (t) o gradiente e ),( xtθ o ângulo médio de incidência. A (t,0) e B são
extraídos para cada amostra de tempo do gather CDP.
O problema direto para modelagem do sismograma pode ser representado
como uma equação matricial:
⎥⎦
⎤⎢⎣
⎡
⎥⎥⎥
⎦
⎤
⎢⎢⎢
⎣
⎡
=⎥⎥⎥
⎦
⎤
⎢⎢⎢
⎣
⎡
)()0,(
),(sin.
),(sin
1.1
)(.
)(
2
12
1
tBtA
xt
xt
xR
xR
NN θ
θ, (4.13)
Xmdcal = ,
onde,
N = quantidade de offsets,
dcal = vetor de dados calculados (amplitudes),
X = matriz contendo os termos que relacionam o ângulo médio de incidência,
m = vetor contendo os parâmetros A e B.
Para se definir os parâmetros A e B, representados por m, pode-se utilizar o
método dos mínimos quadrados.
75
( ) calTT dXXXm 1−
= . (4.14)
Tem-se assim a estimativa para os parâmetros A e B para um dado tempo
de observação (amostra).
A seguir serão apresentados alguns testes com modelos sintéticos,
baseados nas 4 Classes de AVO descritas anteriormente.
4.3.4 Testes do intercepto e gradiente com modelos sintéticos
Os sismogramas (amplitudes) obtidos da modelagem são os dados de
entrada para a inversão do intercepto e do gradiente. Através do gráfico cross-plot
destes dois atributos, pode-se interpretar de maneira intuitiva os dados de AVO.
As Figuras 4.7 e 4.8 representam dados de A e B estimados através da
inversão linear de AVO multicomponente para todas as anomalias clássicas de AVO.
A partir destas estimativas de A e B podem ser obtidos outros parâmetros de
AVO que são usados no auxílio da caracterização de reservatórios, dentre estes, o
fator de fluido tem grande destaque.
Os resultados obtidos através da inversão de A e B mostrados nas Figuras
4.7 e 4.8, representam os distintos comportamentos dos reservatórios de acordo
com a saturação, representados pelas as 4 classes de AVO, podem ser comparados
com as Figuras 2.16 e 2.17, onde a análise dos comportamentos do topo e da base
dos reservatórios foi feita. A comparação indica uma semelhança grande com os
resultados da inversão, validando a inversão, bem como os dados obtidos.
76
Figura 4.7. Cross-plot de A e B estimados da inversão de um sismograma para as Classes 1 (A) e 2 (B) de AVO. Reservatório saturado com gás (vermelha) e reservatório saturado com salmoura (preta) e o seu comportamento.
77
Figura 4.8. Cross-plot de A e B estimados da inversão de um sismograma para as Classes 3 (C) e 4 (D) de AVO. Reservatório saturado com gás (vermelha) e reservatório saturado com salmoura (preta) e o seu comportamento.
78
4.3.5 Fator de fluido ( F∆ )
Smith e Gidlow (1987) introduziram o conceito de geo-stack, partindo da
suposição das relações entre a velocidade da onda P e velocidade da onda S para
rochas clásticas saturadas em água; sendo possível criar uma demonstração que
destaque a presença de gás.
A técnica é baseada na criação de um “traço” relativo às tendências do
fluido. Este parâmetro é referido como fator de fluido. As anomalias de AVO
relacionadas a hidrocarbonetos devem ser realçadas neste atributo, pois somente as
reflexões associadas a gás permanecem no traço.
Arenitos saturados e folhelhos têm aproximadamente comportamentos
iguais descritos pelo trend da Mudrock Line (Castagna et al.,1985), essa trend é uma
linha criada através de um cross-plot dos dados de Vp e Vs. Arenitos saturados por
gás, por outro lado, tem baixa velocidade de onda P e um suave aumento na
velocidade de onda S, fugindo do trend definido pela Mudrock Line:
( )smVsVp /16.11360 += . (4.15)
A equação (4.15) demonstra a Mudrock Line e deve ser calibrada para áreas
específicas através de dados de perfil sônico.
Através das estimativas supracitadas de A e B na seção 3.2.1, pode-se,
seguindo Smith & Gidlow (1987), propor na diferença de A e B uma aproximação
para a mudança da velocidade de onda S na interface, normalizada pelas médias
das velocidades de onda S nas camadas acima e abaixo da interface (Wiggins et al.,
1983 apud Avseth et al., 2005):
BAVsVs
−≈∆ , (4.16)
onde,
12 VsVsVs −=∆ ,
79
221 VsVs
Vs+
= ,
⎟⎟⎠
⎞⎜⎜⎝
⎛ ∆+
∆=
ρρ
VpVpA
21 ,
⎟⎟⎠
⎞⎜⎜⎝
⎛ ∆+
∆⎟⎟⎠
⎞⎜⎜⎝
⎛−
∆=
VsVs
VpVs
VpVpB 22
21
2
ρρ .
Stolt e Weglein (1985) demonstraram que o parâmetro RP na equação (4.3),
somente é efetivo em afastamentos longos (ângulos maiores), e mesmo assim de
baixa confiabilidade quando determinado; por isso, a equação de Gardner (Gardner
et al., 1974) é proposta, assumindo um relacionamento entre a densidade e
velocidade de onda P para arenitos, sendo descrita da seguinte maneira:
VpVp∆
≈∆
41
ρρ , (4.17)
onde,
12 ρρρ −=∆ ,
221 ρρ
ρ+
= ,
12 VpVpVp −=∆ ,
221 VpVp
Vp+
= .
Substituindo a equação (4.17) no intercepto (A):
⎟⎟⎠
⎞⎜⎜⎝
⎛ ∆+
∆≈
ρρ
VpVpA
21 . (4.18)
Tem-se uma aproximação do contraste da velocidade da onda P:
58A
VpVp
≈∆ . (4.19)
80
Usando a derivada da mudrock line de Castagna (equação 4.15), encontra-
se:
VsVp ∆=∆ 16.1 . (4.20)
Aplicando a derivada na forma de refletividade das velocidades, obtém-se:
⎟⎠⎞
⎜⎝⎛ ∆⎟⎟⎠
⎞⎜⎜⎝
⎛=
∆VsVs
VpVs
VpVp 16.1 . (4.21)
Assim, para rochas saturadas com hidrocarboneto, o fator de fluido é
definido como:
⎟⎠⎞
⎜⎝⎛ ∆⎟⎟⎠
⎞⎜⎜⎝
⎛−
∆=∆
VsVs
VpVs
VpVpF 16.1 . (4.22)
O comportamento de F∆ é definido da seguinte maneira: Se as camadas
(acima e abaixo) da interface resultarem em dados que seguem a trend da mudrock
line, o 0=∆F . Mas, se existir divergência do trend da mudrock line através de uma
das camadas, 0≠∆F .
A seguir serão apresentados alguns testes com modelos sintéticos,
baseados nas 4 Classes de AVO descritas anteriormente.
4.3.6 Testes do fator de fluido com modelos sintéticos
Os dados estimados do intercepto e do gradiente da seção 4.3.4 são a base
para implementar o fator de fluido.
As Figuras 4.9 e 4.10 representam as estimativas da variação das
velocidades de onda PP e PSV, seguido de um traço resultante das diferenças das
velocidades. O último traço é conhecido como fator de fluido.
81
Os resultados encontrados através do fator de fluido mostrado na Figura
4.9.A correspondem a dados da classe 1 de AVO, fornecendo dados com boa
correlação em ambos os reservatórios, ressaltando a existência de algum fluido.
A Figura 4.9.B correspondem a dados da classe 2 de AVO, fornecendo
também dados com boa correlação, principalmente para os dados indicativos do
reservatório com gás.
A Figura 4.10.C correspondem a dados da classe 3 de AVO, fornecendo
correlação não tão boa quanto às das classes anteriores, porém, pode-se ressaltar a
existência de fluido em ambos os reservatórios.
A Figura 4.10.D correspondem a dados da classe 4 de AVO, fornecendo
dados com comportamentos similares aos dados encontrados na Figura 4.9.B, onde
o reservatório com gás possui um maior ressalto no fator de fluido.
4.3.7 Módulos elásticos (λ , µ )
Goodway et al (1997) sugeriram que os pâmetros elásticos de Lamé (λ , µ ),
conhecidos como módulos elásticos, e os seus produtos com densidade ( ρ ),
poderiam ser úteis na análise de AVO. O aumento significativo através dos módulos
elásticos na discriminação petrofísica sobre o método convencional pode ser
comprovada pelo fato das velocidades dependerem destes parâmetros, oferecendo
um melhor entendimento das propriedades de rocha.
Os módulos elásticos são de maior utilidade do que as velocidades e as
impedâncias, pois acrescentam um alto grau de distinção nos reservatórios. Essa
dependência das velocidades sísmicas nos parâmetros não é óbvia nos métodos de
AVO convencionais, onde se confia nas análises de Intercepto e Gradiente, nas
refletividades P e S, na razão das velocidades Vp/Vs e no coeficiente de Poisson
(Castagna et al, 1993b). Castagna e outros autores já indicavam um sentido físico
para o módulo de rigidez (µ ), assim como a relação entre velocidade e propriedade
82
Figura 4.9. Estimativa do “traço diferenciado” do fator de fluido baseado em valores de A e B dos dados estimados (vermelha) e observados (preta) das Classes 1 (A) e 2 (B) de AVO. Cada um dos gráficos expõe no primeiro traço a variação da velocidade de onda P, o segundo é a variação de velocidade de onda S, o terceiro a diferença entre a onda P e a onda S, e por último, o traço do fator de fluido estimado.
83
Figura 4.10. Estimativa do “traço diferenciado” do fator de fluido baseado em valores de A e B dos dados estimados (vermelha) e observados (preta) das Classes 3 (C) e 4 (D) de AVO. Cada um dos gráficos expõe no primeiro traço a variação da velocidade de onda P, o segundo é a variação de velocidade de onda S, o terceiro a diferença entre a onda P e a onda S, e por último, o traço do fator de fluido estimado.
84
da rocha para a detecção do fluido no poro através do módulo de
Incompressibilidade ( K ) que faz parte de Vp. Porém, λ (Goodway et al, 1997) é
mais utilizado neste tipo de análise e é dito como incompressibilidade pura, devido
ao fato de apenas se relacionar com módulo de rigidez na composição da fórmula de
Vp, sendo um parâmetro determinante quanto ao fluido, visto que no fluido não
ocorre cisalhamento.
A Tabela 4.1 mostra a mudança média nos valores dos atributos sísmicos
quando ocorre a mudança de um folhelho para um reservatório com gás. Nota-se
que o atributo de mais alta variação é a razão dos parâmetros de Lamé.
Tabela 4.1. Comportamento dos parâmetros em função da variação do reservatório (Goodway, 2001).
Vp
(m/s)
Vs
(m/s)
ρ
(g/cm3)
Vp/V
s
(Vp/
Vs)2
σ µλ 2+
µ
(GPa)
λ
(GPa)
µλ /
Folhelho 2898 1290 2.42 2.25 5.1 0.38 20.37 4.035 12.3 3.1
Areia c/
gás
2857 1666 2.27 1.71 2.9 0.24 18.53 6.314 5.9 0.9
Mudança
média
1.4% 25% 6.4% 27% 55% 45% 9.2% 44% 70% 110
%
O comportamento destes parâmetros diante do fluido e da litologia pode ser
descrito da seguinte forma: numa matriz de rocha sem ocorrer qualquer tipo de
compressão em seu interior, tem-se uma quantidade máxima de espaço entre poros
em relação a seus grãos. Quando a rocha sofre o efeito da compressão, causada
pela onda sísmica, os grãos são comprimidos causando uma diminuição na
porosidade. Se a rocha está completamente saturada por fluidos como óleo ou água,
a compressão aumenta a pressão nos grãos, produzindo uma rocha mais
incompressível. A introdução de gás no espaço poroso resulta em baixa
incompressibilidade, devido ao fato do gás não resistir a compressão de maneira tão
efetiva quanto o óleo ou água.
85
Quanto à rigidez (cisalhamento), sabe-se que pode ser utilizado para
discernir o tipo de litologia. O arenito possui um grau de cisalhamento menor que o
de um folhelho, pois seus grãos são mais espaçados, sendo menos compactados.
Para extrair os parâmetros de Lamé, são necessárias as seguintes relações:
222 2 ρρµλρ +
=Vp , ou µρλ 22 +=Ip , (4.23)
222 ρρµρ =Vs , ou µρ=2Is , (4.24)
onde Ip e Is são impedância P e impedância S, respectivamente.
Assim, para se obter os parâmetros de Lamé, têm-se as seguintes relações:
ρρλ 22 2VsVp −= e ρµ 2Vs= . (4.25)
Goodway (2001) constatou que há mais uma significativa vantagem ao
utilizar os parâmetros de Lamé na identificação das propriedades litológicas. As
propriedades litológicas podem ser identificadas através de um isolamento no gráfico
cross-plot, Ip versus Is os dados tendem a seguir uma tendência linear (como em
Castagna et al. (1986), conhecida como “Mudrock Line”), onde os valores mais
baixos identificam o folhelho. Através do gráfico λρ versus µρ acontece o contrário,
valores mais baixos identificam o arenito com gás, sendo um fator discriminante e
também mais intuitivo.
Gray et al. (1999) desenvolveram uma nova equação, onde relaciona a
mudança de amplitude com o afastamento e as propriedades fundamentais da rocha
elástica: primeiro parâmetro de Lamé (µ ), segundo parâmetro de Lamé (µ ) e
densidade ( ρ ). Para isso as aproximações de Aki e Richards foram utilizadas, sendo
expressas diretamente em termos dos contrastes dos módulos elásticos. Os
resultados foram bem próximos das amplitudes descritas por Aki e Richards,
86
fazendo estes parâmetros úteis na detecção do comportamento da amplitude em
função das propriedades da rocha.
( ) ( )ρρθθθγ
µµθγ
λλθ ∆
⎟⎠⎞
⎜⎝⎛ −+⎟
⎠⎞
⎜⎝⎛ −
∆+⎟
⎠⎞
⎜⎝⎛ −
∆= 222222 sec
41
21sin2sec
21sec
21
41
PPR . (4.26)
O problema direto desta modelagem pode ser escrito na forma matricial,
conforme equação 4.31:
⎥⎥⎥
⎦
⎤
⎢⎢⎢
⎣
⎡
⎥⎥⎥⎥⎥
⎦
⎤
⎢⎢⎢⎢⎢
⎣
⎡
⎟⎠⎞
⎜⎝⎛ −⎟
⎠⎞
⎜⎝⎛ −⎟
⎠⎞
⎜⎝⎛ −
⎟⎠⎞
⎜⎝⎛ −⎟
⎠⎞
⎜⎝⎛ −⎟
⎠⎞
⎜⎝⎛ −
=⎥⎥⎥
⎦
⎤
⎢⎢⎢
⎣
⎡
ρ
µ
λ
θθθγθγ
θθθγθγ
θ
θ
RRR
R
R
MMMMM2222222
12
12
1222
122
1
sec41
21sin2sec
21sec
21
41
sec41
21sin2sec
21sec
21
41
)(.
)(MMM , (4.27)
21
122λλλλ
λλ
λ +−
=∆
=R ,
21
122µµµµ
µµ
µ +−
=∆
=R ,
21
122ρρρρ
ρρ
ρ +−
=∆
=R ,
onde M representa a quantidade de offsets.
A seguir serão apresentados alguns testes com modelos sintéticos,
baseados nas 4 Classes de AVO descritas anteriormente.
4.3.8 Testes dos módulos elásticos com modelos sintéticos
Os dados de entrada para esta inversão são as amplitudes e os ângulos,
obtidos através do método do traçado do raio, seguindo a mesma metodologia
87
descrita na seção 4.3.1, porém a aproximação utilizada é baseada nos módulos
elásticos e na densidade (equação 4.30).
As Figuras 4.11 e 4.12 mostram as estimativas para os módulos elásticos λ ,
µ e ρ para todas as 4 classes de AVO.
A Figura 4.11.A corresponde a dados da classe 1 de AVO, mostrando que a
inversão das variações relativas dos módulos elásticos possuem resultados de boa
correlação para λ e µ em ambos os reservatórios estudados, porém para a
estimativa de ρ , apenas o reservatório com gás teve boa correlação.
A Figura 4.11.B corresponde a dados da classe 2 de AVO, mostrando que a
inversão das variações relativas dos módulos elásticos possuem resultados
melhores para variações relativas de λ e µ , quando comparados com dados da
classe 1 de AVO, porém para a estimativa de ρ , apenas o reservatório com
salmoura teve boa correlação.
A Figura 4.12.C corresponde a dados da classe 3 de AVO, mostrando que a
inversão das variações relativas dos módulos elásticos possuem resultados
melhores apenas para variações relativas de λ e µ referentes à base dos
reservatórios, porém para a estimativa de ρ a correlação é ruim em ambos os
casos.
A Figura 4.12.D corresponde a dados da classe 4 de AVO, mostrando que a
inversão das variações relativas dos módulos elásticos possuem resultados bons
apenas para variações relativas de λ e µ referentes aos reservatórios, sendo
melhores para o reservatório com salmoura, porém para a estimativa de ρ a
correlação é ruim em ambos os casos.
88
Figura 4.11. Estimativas dos módulos elásticos da inversão das classes 1 (A) e 2 (B) de AVO modeladas. Dados observados de banda limitada em preto e os dados calculados em vermelho.
89
Figura 4.12. Estimativas dos módulos elásticos da inversão das classes 3 (C) e 4 (D) de AVO modeladas. Dados observados de banda limitada em preto e os dados calculados em vermelho.
90
4.4 Conclusões
Neste capítulo, realizou-se a inversão dos dados multicomponentes
baseados na modelagem de AVO para todas as anomalias clássicas encontradas
para arenitos saturados com gás e salmoura. Os diferentes atributos de AVO foram
encontrados e podem ser interpretados através de conhecimentos da sísmica,
propriedades de física de rocha e geologia, aumentando assim a certeza na
caracterização do reservatório.
No próximo capítulo, será feita a modelagem e a inversão de AVO
multicomponente baseado em dados de perfis de poço de um reservatório delgado.
91
CCaappííttuulloo 55
ANÁLISE DA RESOLUÇÃO DE INTERPRETAÇÃO
QUANTITATIVA DE AVO
5.1 Introdução
Este capítulo apresenta um trabalho de interpretação quantitativa de AVO
utilizando os conceitos e a inversão de AVO apresentados nos capítulos anteriores.
Para análise da resolução da técnica de AVO, foco deste trabalho, foram feitas
modelagens sísmicas para um reservatório arenítico, com espessura variando de
200 metros a 1 metro. As modelagens consideram o meio 1D e representam ondas
do tipo PP e PSV, numa geometria de dados de OBC.
As análises das amplitudes fornecidas pela modelagem sísmica, assim como
os resultados obtidos para os diferentes tipos de parâmetros de inversão serão
comparadas e interpretadas. Ao final, é discutido o nível de resolução da técnica de
inversão de AVO apresentada e sua capacidade para identificar reservatórios
delgados.
A próxima seção descreve o modelo de reservatório adotado e a modelagem
sísmica.
92
5.2 Modelagem multicomponente dos dados
Esta seção abrange a modelagem multicomponente baseada em dados de
perfis de poço de um reservatório arenítico. Dados de poços de um reservatório
arenítico, saturado em óleo pesado, da província petrolífera de Foothill em Alberta,
Canadá foram adotados para a definição das propriedades do reservatório e suas
encaixantes. Neste capítulo serão apresentados os resultados obtidos com a
modelagem e inversão de AVO em relação à variação da espessura de um
reservatório, indicando até que ponto um reservatório delgado pode ser identificado.
A interferência de ondas convertidas (PSV) e de reflexões primárias na base
da camada se tornam fatores importantes a considerar quando a espessura da
camada decresce (Avseth et al, 2005). Assim, neste trabalho, os dados modelados
são gerados em função da variação vertical do reservatório, analisando a resolução
sísmica e seus efeitos proeminentes.
Os perfis utilizados para a modelagem de AVO são os perfis sônico,
constituídos pelos tempos de trânsito das ondas P (Vp) e S (Vs), e de densidade
( ρ ). A modelagem simulada neste trabalho é do tipo OBC (Ocean Bottom Cable),
onde se consideram os receptores enterrados no assoalho oceânico e fonte próxima
à superfície do mar.
Foram simulados dados sísmicos relativos a reservatórios com espessuras
de 1, 5, 10, 20, 40, 50 e 200 m, respectivamente. A Figura 5.1 apresenta os modelos
de propriedades elásticas criados para simulação.
Com esta variação de espessura visamos caracterizar os efeitos de transmissão
destrutiva e construtiva causado pela geologia (tunelamento), na análise de AVO.
Para que se possa entender melhor como o efeito de tunelamento é causado, é
necessário entender o conceito de resolução sísmica vertical, onde pode ser definido
como a separação mínima na identificação de duas interfaces, de maneira que
possa identificar duas interfaces ao invés de uma (Sheriff and Geldhart, 1995, apud
Avseth et al, 2005). Geralmente isto ocorre quando o comprimento de onda ( dλ ) é
93
Figura 5.1. Modelos elásticos adotados para modelagem elástica, com espessuras de 1, 5, 10, 20, 50 e 200 metros respectivamente, conforme indicado da Figura.
94
menor que ¼ da espessura da camada, causando distorções nos sinais de topo e
base, impossibilitando a visualização do reservatório delgado ou amplificando a
amplitude resultante a partir da interferência entre topo e base do reservatório,
dependendo do contraste entre as camadas adjacentes e sobrejacentes observadas.
Para a análise visual, o reservatório encontra-se demarcado nos
sismogramas para componente PP e PSV, nas Figuras 5.2 e 5.3, respectivamente.
Foi adotada uma wavelet de fase zero com 30 Hz de freqüência dominante para
ambas as componentes. Os dados finais possuem banda de freqüência limitada
entre 15 e 60 Hz. Pode ser visto que na componente PP o contraste do topo é bem
mais visível que o contraste da base, quase sem identificação, não ocorrendo o
mesmo na componente PSV.
Fica claro nas Figuras 5.2 e 5.3 que a distinção entre topo e base do
reservatório pode ser visível até os 5 metros de espessura. Porém, o efeito de
tunelamento ocorre a partir dos 20 metros de espessura, influenciando através do
aumento ou decremento das amplitudes de topo e base, podendo assim invalidar a
análise de AVO a partir dos 20 metros.
A Figura 5.4 ilustra o comportamento das amplitudes do topo do reservatório
em função do afastamento e da variação da espessura. Analisando-se cada
anomalia, tem-se para a componente PP (A) uma anomalia de topo sendo positiva,
onde a variação de espessura do reservatório gera uma pequena variação de
valores, terminando forte para afastamentos médios, acarretando em um ganho de
amplitude para todas as variações do reservatório. Esse comportamento de
amplitude variando com o afastamento indica uma anomalia de Classe 1. Para a
componente PSV (B) a anomalia de topo é positiva e crescente inicialmente (baixos
ângulos), tendo uma maior variação dos valores de amplitude em função das
espessuras estudadas, sendo o ápice em afastamento médio (por volta dos 1000 m),
decrescendo em seguida, existindo troca de polaridade.
95
Figura 5.2. Sismogramas modelados através da variação de espessura do reservatório para a componente PP.
96
Figura 5.3. Sismogramas modelados através da variação de espessura do reservatório para a componente PSV.
97
A Figura 5.5 ilustra o comportamento das anomalias referentes à base, por existir
interferência do sinal de topo, o comportamento das anomalias em função do
afastamento e da variação do reservatório apresenta comportamentos não tão bem
definidos quanto aos valores encontrados no topo, cujo comportamento da variação
de espessura do reservatório ocorre de maneira quase ordenada (1 m a 200 m). Na
componente PP (C) as amplitudes têm o comportamento negativo para todas as
espessuras, sendo excepcionalmente positiva para o reservatório com espessura de
1 m, ocorrendo grandes variações nos valores das amplitudes em função das
mudanças de espessura. Para a componente PSV (D) a variação da espessura do
reservatório demonstrou também ter grandes variações nos valores das amplitudes,
sendo de comportamento negativo, ocorrendo esse aumento de amplitude em
afastamento médio (por volta de 1000 m),
Essas anomalias de AVO são características de uma areia de alta
impedância, com alto grau diagenético e saturada em óleo ou gás, ou areia friável
em condições de baixa pressão de poros.
5.3 Inversão multicomponente dos parâmetros de AVO
A análise quantitativa das amplitudes de topo e base do reservatório é feita
visando um estudo de alguns parâmetros viáveis no auxílio da identificação e
caracterização de reservatórios. Para isso, atributos de AVO provenientes das
propriedades de interface podem ser utilizados, pretendendo analisar o
comportamento destes atributos sob o efeito de tunelamento. Os parâmetros a
serem analisados são intercepto (A), gradiente (B), refletividade das velocidades de
onda P (RP), onda S (RS), densidade relativa (R ρ ), fator de fluido ( F∆ ), módulos
elásticos(λ ,µ ), todos podendo ser obtidos através de inversão apresentada no
capítulo anterior.
98
Figura 5.4. Dados das amplitudes em função do afastamento, mostrando o quanto a espessura do reservatório afeta a assinatura de AVO. Dados do topo do reservatório, componente PP (A) e componente PSV (B).
99
Figura 5.5. Dados das amplitudes em função do afastamento, mostrando o quanto a espessura do reservatório afeta a assinatura de AVO. Dados da base do reservatório, componente PP (C) e componente PSV (D).
100
5.3.1 Inversão das Refletividades (RP, RS, R ρ )
A inversão dos sismogramas apresentados na seção anterior é executada
com a aproximação de Aky e Richards nas seguintes formas:
• Inversão individual da onda PP;
• Inversão individual da onda PSV;
• Inversão simultânea (conjunta).
A inversão individual da onda PP e a simultânea apresentam em seus
resultados as três refletividades (RP, RS, R ρ ); a inversão individual da onda PSV
apresenta apenas duas refletividades ( RS, R ρ ), pois em sua composição (Equação
4.7) não depende da refletividade da velocidade da onda P.
A análise dos resultados é feita pela comparação entre os parâmetros
estimados e os parâmetros computados pelo modelo.
As Figuras 5.6, 5.7 e 5.8 ilustram a diferença entre os dados observados
(provenientes da modelagem) e os dados estimados (calculados) da inversão para a
onda PP, onda PSV e inversão simultânea em função da variação de espessura do
reservatório.
A inversão individual da onda PP apresenta valores estimados não muito
diferentes dos valores observados para RP e RS, porém para R ρ ocorre uma
diferença mais visível, pois PP é relacionado ao fluido Para a inversão individual da
onda PSV, as estimativas de RS na base do reservatório mostraram baixa qualidade
e R ρ teve resultados melhores comparados com a inversão PP, já que a onda PSV
tem relação litológica. A inversão simultânea PP-PSV apresentou resultado melhores
para RP e RS, porém inferiores para R ρ . Em todas as inversões pode-se destacar a
capacidade de detectar com confiabilidade um reservatório fino de até 20 metros,
pois os coeficientes de reflexão do topo e da base ainda são distinguíveis até tal
espessura; e demonstrou-se que grandes variações quanto à espessura não afetam
de maneira significativa os dados invertidos.
101
Figura 5.6. Inversão da onda PS com os dados observados (preta) e
calculados (vermelha) em função da variação da espessura do reservatório. À
direita, refletividade S; à esquerda, densidade relativa.
Figura 5.6. Inversão da onda PP com os dados observados (preta) e calculados (vermelha) em função da variação da espessura do reservatório. À direita, refletividade da velocidade da onda P (RP); ao centro, refletividade da velocidade da onda S (RS); à esquerda, densidade relativa (R ρ ).
102
Figura 5.7. Inversão da onda PSV com os dados observados (preta) e calculados (vermelha) em função da variação da espessura do reservatório. À direita, refletividade da velocidade da onda S (RS); à esquerda, densidade relativa (R ρ ).
103
5.3.2 Intercepto (A) e gradiente (B)
A Figura 5.8 representa o cross-plot do intercepto versus gradiente. O
intercepto e o gradiente foram estimados através da inversão de AVO apresentada
no capítulo anterior.
Uma análise quantitativa deste gráfico de intercept versus gradiente mostra
uma pequena sensibilidade em relação à variação da espessura do reservatório.
Figura 5.8. Inversão simultânea com os dados observados (preta) e calculados (vermelha) em função da variação da espessura do reservatório. À direita, refletividade da velocidade da onda P (RP); ao centro, refletividade da velocidade da onda S (RS); à esquerda, densidade relativa (R ρ ).
104
Figura 5.8. Comportamento do intercepto versus gradiente em função da variação da espessura do reservatório.
105
Neste gráfico, podemos observar o comportamento distinto de topo e base do
reservatório diante de variações de espessura. Os pontos representando o topo do
reservatório sempre se localizam no quadrante 1, enquanto que os pontos relativos
à base variam entre os quadrantes 1, 3 e 4.
5.3.3 Fator de Fluido ( F∆ )
O fator de fluido foi introduzido na análise de AVO para ser um indicador
direto de hidrocarboneto, principalmente gás (Smith et al, 1999). Os valores do fator
de fluido foram estimados a partir dos dados de intercepto e gradiente, sendo de
fácil utilização na análise de AVO.
A Figura 5.9 representa o fator de fluido estimado a partir da inversão de
intercepto e gradiente, fazendo uma comparação com os dados do fator de fluido
observados. O comportamento do fator de fluido com a variação de espessura do
reservatório demonstra ser semelhante aos resultados encontrados nos dados das
seções anteriores, sendo a distinção de dados do topo e base visível e confiável até
os 20 metros de espessura.
O traço do fator de fluido para as diferentes espessuras de reservatório
demonstrou ser bem correlacionado, discriminando o topo e a base do reservatório
nas espessuras de maneira confiável até os 20 metros, apresentando um
comportamento com valores indicativos de fluido neste reservatório.
5.3.4 Módulos elásticos (λ ,µ )
Os módulos elásticos são úteis como estimativas mais precisas de distinção
do reservatório, bem como do fluido, principalmente em rochas saturadas com gás.
A interpretação utilizando os módulos elásticos reduz a ambigüidade para
determinação da litologia e do fluido, levando a um melhor estudo do reservatório.
106
Foram estimados o λ , µ e ρ a partir dos sismogramas computados e
seguindo a metodologia de inversão apresentada na seção anterior.
O reservatório encontra-se saturado em óleo e pode ser visto que no topo
apresenta um valor de λ alto. O valor de µ demonstra que a litologia de topo
apresenta uma baixa rigidez, podendo ser uma areia argilosa, com baixa pressão de
poro.
As Figuras 5.10, 5.11 e 5.12 mostram que variação de espessura do
reservatório também não surtiu tanto efeito nas estimativas, podendo identificar o
Figura 5.9. Dados do fator de fluido observados (preta) e estimados (vermelha) em função da variação da espessura do reservatório.
107
reservatório de maneira confiável até 20 metros de espessura, sendo o topo e base
do reservatório bem definido até tal espessura.
Figura 5.10. Dados observados (preta) e estimados (vermelha) de λ em função da variação de espessura do reservatório.
108
Figura 5.11. Dados observados (preta) e estimados (vermelha) de µ em função da variação de espessura do reservatório.
109
5.4 Conclusões
Neste capítulo demonstrou-se a utilização dos métodos descritos nos
capítulos anteriores, utilizando dados de um reservatório delgado. A metodologia
descrita provou ser eficiente no auxílio do estudo quantitativo através de dados da
Figura 5.12. Dados observados (preta) e estimados (vermelha) de ρ em função da variação de espessura do reservatório.
110
modelagem e da inversão de AVO multicomponente. A variação de espessura
causada neste reservatório demonstrou na modelagem um limite de distinção entre
topo e base, bem como não influenciou de forma crítica a obtenção dos dados da
inversão sísmica, sendo capaz de estimar dados confiáveis de topo e base com até
20 m de espessura.
110
CCaappííttuulloo 66
CONCLUSÕES
Inicialmente, vale considerar que a análise visual em sismogramas sintéticos
de dados modelados possibilita o mapeamento de um reservatório delgado saturado
em óleo. A análise de AVO revelou a possibilidade de distinção de interfaces de topo
e base de reservatórios delgados com espessura mínima confiável de 20 m com a
banda de freqüência dos dados sísmicos. Com isso, observa-se que a análise de
AVO é eficaz na detecção de reservatórios delgados com resolução acima dos
métodos de interpretação sísmicos qualitativos.
A partir dos dados da modelagem sísmica, a inversão multicomponente em
dados de banda de freqüência limitada apresenta bons resultados para componente
PP e PSV, sendo comparativamente melhor para a primeira, devido à maior riqueza
de informações encontrada neste tipo de onda. Contudo, a inversão simultânea das
ondas (PP e PSV) não apresentou resultados diferenciados, como era esperado,
pois geralmente a inversão simultânea obtém resultados diferenciados por trabalhar
com dados agregados.
Os parâmetros de AVO analisados na inversão sísmica demonstraram que a
variação da espessura do reservatório não afetou de maneira crítica nenhum dos
dados obtidos, porém, fazendo uma comparação, os dados obtidos pelo cross-plot
do intercepto (A) versus gradiente (B) tiveram um grau maior de variação no
resultado. Os dados do cross-plot foram pouco afetados devido à variação feita no
111
reservatório, a qual foi realizada afinando lateralmente tanto o topo quanto a base,
centralizando a janela do reservatório. Além disto, a inversão dos dados de
intercepto, bem como de gradiente indicaram um reservatório saturado por
hidrocarbonetos provavelmente composto por uma areia cimentada, ou por um
arenito com elevada incompressibilidade ocasionada pelos baixos índices de
pressão de poros, caracterizando uma anomalia de Classe 1.
A partir dos dados de intercepto e gradiente constatou-se uma boa
correlação entre os dados invertidos e observados, evidenciando a ocorrência de
óleo pelo fator de fluido.
Os dados estimados de λ e µ também apresentaram bons resultados de
correlação, demonstrando ser de grande utilidade na análise de AVO, e as respostas
indicam um reservatório com alto grau de incompressibilidade, portanto, saturado
por completo; com baixo grau de rigidez, indicando a possibilidade de ser uma areia
argilosa.
Com aplicação dos métodos propostos para este trabalho podem-se estimar
parâmetros admissíveis e incomuns para os reservatórios delgados.
Vale destacar, que a caracterização de reservatórios com qualidade requer
uma integração efetiva dos dados de perfis de poços com os dados sísmicos do
campo.
6.1 Recomendações para trabalhos futuros
A inversão dos contrastes elásticos, baseada em aproximações, tem
resultados de boa qualidade; porém, há a necessidade de se fazer uma comparação
com outros métodos de inversão sísmica, como o método da refletividade, o qual
baseia-se na equação completa da forma de onda em 1D.
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