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B A T M A N D O A M A N H Ã Quando nos deparamos com o moderno molde do personagem facetado no título deste Argumento, presenciamo-nos com um arquétipo capaz de extravagar à fantasia alicerçada nas estórias de exposição gráfica, com fácil compreensão de fatos e assuntos que podemos analisar no seu conjunto, as seculares HQs. A hodierna adaptação vivenciada nos cinemas, não só transcendeu os contos em quadros matizados, mas como suplantou as películas antecessoras, cujo a abstração se fazia presente em esmero. Estabelecer um paralelo entre a realidade concatenada no enredo, como uma perspectiva cinematográfica, e a existência de fato, como a realidade propriamente dita, é algo que não se conjecturava para as películas de noutrora, pois existia somente a preocupação em amoldar a estória em mini-quadros, a uma feitura da cinematografia. Agora nos tempos atuais, uma mera aclimatação ao cinema, que visa apenas transplantar um panorama qualquer, seja este de alcunha literária, ou duma adaptação de personagens emblemáticos, não se faz palatável a crítica e as exigências de mercado. Isto só evoca a necessidade de engajar o processo de criação dum filme, de maneira que a temática abordada se transforme numa miscelânea de eventos atrelados a uma função social. É dessa forma que pretende-se transcursar esta proposta de roteiro, a qual está fadada a apropinquar o panorama do filme, à distrição social do mundo contemporâneo; máxime na questão da epidemia de furor avistada nas urbes conurbadas. Entretanto se faz imprescindível um escrúpulo, uma austeridade para que o propósito da película se consagre. Um exemplo claro de malogro do desígnio dum filme, é o do afamado Tropa de Elite, do Skywalker

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B A T M A ND O A M A N H Ã

Quando nos deparamos com o moderno molde do personagem facetado no

título deste Argumento, presenciamo-nos com um arquétipo capaz de extravagar à

fantasia alicerçada nas estórias de exposição gráfica, com fácil compreensão de fatos

e assuntos que podemos analisar no seu conjunto, as seculares HQs. A hodierna

adaptação vivenciada nos cinemas, não só transcendeu os contos em quadros

matizados, mas como suplantou as películas antecessoras, cujo a abstração se fazia

presente em esmero. Estabelecer um paralelo entre a realidade concatenada no

enredo, como uma perspectiva cinematográfica, e a existência de fato, como a

realidade propriamente dita, é algo que não se conjecturava para as películas de

noutrora, pois existia somente a preocupação em amoldar a estória em mini-quadros,

a uma feitura da cinematografia. Agora nos tempos atuais, uma mera aclimatação ao

cinema, que visa apenas transplantar um panorama qualquer, seja este de alcunha

literária, ou duma adaptação de personagens emblemáticos, não se faz palatável a

crítica e as exigências de mercado. Isto só evoca a necessidade de engajar o processo

de criação dum filme, de maneira que a temática abordada se transforme numa

miscelânea de eventos atrelados a uma função social. É dessa forma que pretende-se

transcursar esta proposta de roteiro, a qual está fadada a apropinquar o panorama do

filme, à distrição social do mundo contemporâneo; máxime na questão da epidemia

de furor avistada nas urbes conurbadas. Entretanto se faz imprescindível um

escrúpulo, uma austeridade para que o propósito da película se consagre. Um

exemplo claro de malogro do desígnio dum filme, é o do afamado Tropa de Elite, do

Skywalker

realizador José Padilha. Apesar do pleno êxito comercial, a obra não conseguiu

pleitear a acepção do mal, necessário?, em que a Polícia se transverteu. O

entendimento empíreo e assimilado pelo público, tangenciou apenas a superfície que

envolve a problemática da segurança comunal. Resumir uma solução para a

irascibilidade nas cidades, baseando-se apenas numa política do Big Stick, é algo que

só demonstra o desarranjo de governo e população. Por fim as últimas películas que

retrataram o figura deste pré-roteiro, granjearam uma aproximação maior com a

existência real, assim como encabeçaram um novo modelo, que visa conciliar um

prospecto surreal à um conspecto fixado na sociedade. Um exemplo clássico deste

protótipo de filme, O labirinto do fauno, do cineasta Guillermo Del Toro, é citado

como objeto de motivação para este Argumento. A película mencionada abarca dois

mundos contrastantes, que conquanto dissímeis em seus motes, perlustram um só

objetivo no composto. Não há uma fusão dos panoramas em Fauno, o que existe é a

coexistência entre universos paralelos, que se intercalam em permuta, como uma

simbiose entre o meio da quimera e a esfera do real. Contudo este pré-roteiro

predestina-se a ascender mais um degrau rente a realidade; vislumbra-se aqui uma

colisão completa dos domínios que abrangem a estória do personagem, a ponto de

formar uma terceira dimensão de distância prolixa com o mundo contemporâneo.

Acredito que a dubitação em respeito de intrincar um enredo de caráter social,

voltado a ponderar questões, nas quais afigura-se as aflições da sociedade, é algo

presente tão quanto a descrença sobre os filmes de outrora. Christopher Nolan foi o

percursor duma adaptação, cujo o limiar estava saturado de arrepsia. Poucos

creditavam sucesso numa aclimatação realista de personagens com origens nas HQs.

Destarte a consagração da variante de Nolan, nos permite antojar uma versão

posterizada da figura dramática que conduz este Argumento. Uma representação

engajada, comprometida a reflexionar a conjuntura da ordem capitalista-

neoliberalista-globalizada, donde emana a contristação do mundo hodierno.

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Antes de dar vazão para o decurso do enredo, um lacônico parecer a cerca do

móbil desta propositura audiovisual será consolidado doravante ao manuscrito.

Ultimamente tem se constatado uma série de reportagens veiculadas nos meios de

comunicação, como inquéritos radiodifundidos, filmados ou televisivos. Uma

abordagem indiscreta da mídia vernácula, a qual é marcada historicamente, como

segmento leviano que visa representar interesses do âmbito particular. Uma cobertura

perfunctória da onda de violência que avassala a sociedade coetânea, é avistada nos

diversos canais de intercurso informativo. Este suposto préstito dos veículos de

comunicação, não passa duma especulação dos problemas sociais, sem quaisquer

intento agatoide, que seja capaz de levar à audiência a ponderar de maneira

proveitosa, a contextura sociológica envolta de tamanha disceptação cultural. A

irreflexão é algo inconcusso na Mídia brasileira, a mesma atua desapegada, sem

comprometimento com um precógnito dever cívico, o de destinar respectivo espaço

para uma reflexão comungada entre, problemática da violência, Estado e população.

De fato há um elíptico lapso na programação da mídia eletrônica, que promove a

informação sem propósito, mas com um mero intento de alarmar a massa mirone.

Dessarte fica perspícua a pujança que a comunicação compreende, sendo ela coberta

de engajamento, como desafeiçoada de finalidade civil. Esta sobejidão da mídia se dá

em virtude da influência na ação da informação, uma vez que a ideologia opera como

condutor político, no intuito de tornar um pensamento; uma ótica; um ponto de vista

qualquer, numa verdade promíscua, e em alguns casos, num axioma. Nisto vemos

uma face perversa da preeminência da optimacia, que em tempos modernos se dispõe

de forma ramificada, ao invés duma força centralizada, mas ainda persiste a macróbia

visão oligárquica de domínio, algo típico em países emergentes, os quais se percebe

uma herança colonial, a tal Elite Tácita. Diante disso habita as acepções de Michel

Foucault a respeito do organismo de coibição do Estado, que em vez de alavancar a

mudança social, manobra a fim de manutenir o anelo da escol, já não mais colonista,

mas proeminentemente de anseio argentário, e com uma força finória supina. Neste

ínterim é possível epilogar a atividade da Mídia pátria, como um sustentáculo, a

Skywalker

própria égide da engrenagem de dominação ideológica. Os diversos veículos de

devoção comunicativa, em conjuminância, personificam uma das pilastras que

paramenta a instituição de jugo plutocrático. A inércia do Estado desempenha o papel

da politicalha de consentimento, na qual se apercebe uma amalgamação entre o

campo público e privado, que por sua vez segue no encalço de fautorias, em troca

dum apoio sectário. Dessa forma aquele que melhor manipular o ferrajão, usucapirá a

soberania da informação, e com esta, obtêm-se o alcance do topo da cadeia nas

relações de poder. Entretanto é factível aduzir que a temática da violência estende-se

há uma discussão estruturalista, de caráter implexo nas diversas interações sociais.

Sendo assim a superficialidade da Mídia é justificada como mecanismo de

permanência das classes dominantes.

Em meio a esta atmosfera de desalento social, agourar um porvindouro deveras

hermético, é algo que se aparece como uma unanimidade a margear o inconsciente

coletivo. A desídia humana caminha a colher seus frutos na medida duma cólera

vinda dos belisários por vassalagem. As ações reiteradas de perjúrio político, do

abandono estatal, e do ditame das privatizações, impeliram a lacuna que intermedeia

o equilíbrio na distribuição dos haveres. Assim a denotação da mídia a cerca da

violência, promulga uma reação de forma imponderada. Quem não se recorda do

incôndito promovido pela noticiada dos ataques executados pela organização

facínora, cujo a alcunha se sintetiza no acrograma PCC. O sobressalto da população

foi generalizado; a massa de civis fora compelida a regressar prematuramente aos

lares, o que fomentou o quadro de caos na cidade. Já é corrente a obstrução do

trânsito pela afluência demasiada de veículos e pessoas no final do vespertino, só que

naquela circunstância de conturbação, via-se um cenatório transcendente ao

corriqueiro. Um crepúsculo amotinado prosseguido duma alvorada calada, ambos

excediam o habitual. O dia consecutivo foi demarcado pelo acobardamento

conluiado, em decorrência da repercussão jornalística que lancinou a investida do co-

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Estado, instituído pelo desleixo crônico de prosápias passadas.

Estamos na temporada de coleta da juncada das gerações que nos precederam.

A herança do abandono, da denegação, da aquiescência daqueles que têm o vigor da

transformação em arpéus, é propalada e compartilhada em equável comunhão, na

famigerada política de repartição do bolo faccionário, e de concentração da riqueza.

As sequelas da ordem econômica presente, atingem inexoravelmente os subalternos

por condição social. Ora os com melhor afluência: se fortificam por meio da

blindagem de seus carros; das edificações que abarcam uma autossuficiência; e em

último caso, quando não se pode acastelar o patrimônio particular, tem se como

medida profilática, na forma dum isolamento criminoso, a criação de muralhas

físicas, envolta das então zonas carentes. Acantoar a periferia da cidade, só exibe a

faceta perversa do capitalismo, do mesmo tino, perpetua o distanciamento criado pelo

hiato entre as classes. Enfim o legado a ser transmitido para a citerior posteridade,

torna-se escalonadamente turvo a cada dia findo. O que devemos esperar dos que

foram abstraídos da civilização; apartados do bem comum; subjugados a uma

condição de inexistência em predicamento?. Hoje quando algum lordaça visita um

ponto de amostra cultural do país, como um Museu, ao se deparar com as exposições

urbanísticas, irá espreitar uma visão hipócrita das cidades, onde problemas como a

favelização e miséria são omitidos sem o menor desplante perpassável. Monumentos

em São Paulo e Rio de Janeiro ganham o relevo da impressão ádvena, não na

pressuposição que estes outros jejuam do cenário de discrepância social nas nações

insurgentes, mas certamente isto ocorre para evitar o impacto de culturas destoantes.

Pois por maior conhecimento obtido a cerca duma realidade, não se equipara a

vivência ou o recontro com aquela. Além disso, a presença dum complexo de

cortiços, mesmo na forma de gravuras e imagens, suscita uma ar de inquietude, de

desconforto social, duma instigação por mudança. Todavia a incurialidade se faz

presente em todo o arcabouço sociológico, dês da estrutura de penacho, como nas

Skywalker

relações triviais entre pessoas. Outrossim a ciência estatística, como ferramenta

interpretativa dos fenômenos coletivos, é empregada com indolência precogitada. A

perfídia é tanta que existem minuciosos dados sobre a frota de veículos automotivos

nas grandes cidades; informações a respeito do sistema de aviação nacional, em

detrimento da crise aérea apregoada pela camada prócere; estudos relacionados ao

surto temerário de influenza suína; teorias relacionadas ao pleonasmo do colapso

econômico mundializado, em países que nasceram na ergastenia resultada da

exploração. Entretanto há um inexpressivo saber a respeito do desdobre da população

de indigentes; do subalternado e menor abandonado; da prática execrável e

contraproducente da amblose; dos meninos rueiros por circunstancialidade; e de toda

a flagelação que assola o submundo. A veleidade é característica na ordem

neoliberalista, por conseguinte a ausência duma apreciação que franqueie a resmuda

da gritante tessitura iníqua, apenas corrobora para a conservação deste quadro

ululante. A procrastinação já faz parte da cultura de cuna, mas seu revés na política é

fundando com outro sentido. A prolação consuetudinária difere da estadista, uma é

fruto dos costumes, a diversa engrena o artifício de governo unilateral, onde o ânimo

por conservação é arraigado por séculos de predomínio. Portanto a insciência dos

problemas que atingem a população apedeuta, alicerçada na insuficiência de estudos

geográficos a respeito da evolução do abismo social, frustra a senil esperança dum

futuro arribado.

O amanhã é o circuncisfláutico âmago deste Argumento; e quando se fala do

crás, não há como olvidar-se daqueles que herdaram a potaba que os antecede.

Mormente a barda de jovens que compõe a pirâmide etária do país, onde quão sumo é

esta faixa de idade em determinada região, maior será o transtorno social, lá avistado.

Pelo menos é esta a interpretação que prepondera nas escolas e silogeu desta plaga.

Tal informação só pode ser considerada como resultado duma conformação que se

reitera por estirpes de governança. A inferência que associa o mancebil a iracúndia

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urbana, é prematura e não deve servir de proposição, mas sim como empeço para

uma isonomia de progenituras. A máxima que proclama: “Numa grei em que há a

predominância de mancebos na distribuição etária, prevalece a violência”, pode ser

sucumbida pela disquisição: “Por que as políticas públicas permitem há tempos,

uma disparidade no meio etático?”. O reducionismo é uma prática da metodologia de

ensino e consequentemente um aspecto da estrutura governamental, o que favoneia

para a perpetuação das injúrias, cá precitadas. Entrementes a obstinação desta

propositura esta conjugada a consumição em ver o futuro obnubilar-se com o

declínio, que beira a uma extinção, da perspectiva imberbe. O acúleo da juventude

marginalizada, acresce na medida dos exemplos que a sacramenta. A criminalidade

aponta-se como único caminho para uma existência graduada, onde visa-se atingir

uma audiência, mesmo que arraigada numa repudia da moralidade. Um salteador que

carrega um revólver, galeia diariamente o destaque na mídia; mas um condutor de

carroças só angaria alguma importância, quando a sua via-crúcis é cardada com o

vulgar propósito de fazer daquilo um espetáculo. Alienar-se destes problemas, no

direito do eximido por falta de obrigação, na tergiversação de que cabe ao Estado esta

tal responsabilidade, é o paliativo para digestir e naturalizar as injustiças sociais. A

amurada metafísica que segrega as raças é constituída: de tijolos e ideologismo; do

pão e circo; da pragmática do conformismo; e do ergástulo provindo da obliquidade

política. Desse modo o lenimento deste pré-roteiro, esta assentado na iniciativa de

demudar a expectativa do juvenalesco; em assoalhar uma nova vereda, soerguida pelo

traslado intrépido, de alguém que afluiu dos escombros da sociedade; e arvorou-se no

sobrexceder da condição de indigência, saltando para a compleição de indígete. O

indivíduo criador da afiguração fincada na vigilância e no temor, em prol duma

higienização do caráter coletivo, é o espelhito capaz de demonstrar a opcionalidade, e

refutar o condicionamento das massas a uma vida na criminalidade. O alento deste

personagem será o inquietante incitamento sobre a atual perspetiva do marginalizado.

A procedência húmile do sabagante paracleto dos outeiros malocados, a qual se

desencadeará pela enredadela, servirá como exemplo de que é possível jazer em meio

Skywalker

à pobreza e não ceder a delinquência, mesmo se pressionado a dolência, ou a uma

vida de míngua constante. Então veremos a constatação, onde aquele que se rende ao

crime é tido como um poltrão, mas alguém que sobreleva a circunstância de

pauperismo sem dobrar-se ao celerado, será visto como uma fortaleza psicológica.

Este baluarte é o grande foco do redigido, pois representa a inversão de valores do

que entonce vigora. Senão esta amalgamação da ficção com a exatidão dos fatos,

permite idear a superação dos problemas sociais inerentes à violência generalizada. A

instituição deste figura, em meio as favelas, nascendo delas, irromperá a conflagração

dos enlevados, das classes alienadas, daqueles com parte ativa na via política, mas

alheios nas questões humanitárias. O abstraído divergi do insciente, de um se espera a

allure engajada, porquanto é arrojado com conhecimento, do outro pouco pode-se

requerer, uma vez que a compostura de oprimido turva o intelecto. Porém o ausente

subsiste, não por ignorar a sua potestade de revolução, mas devido a um pensamento

de gênero elitista, onde aguarda-se a intervenção do Estado em situações

desfavoráveis a ordem dominante, como na recente e cíclica crise econômica. No

entanto quando se cogita a interposição do governo, em busca da igualdade na

distribuição de renda, na forma simplificada: “beliscar um faneco da riqueza dos que

a ostentam”, o sobressalto é extremamente adversante. Assim vemos que a ideia de

roteiro forceja atingir distintos lados da esfera que simboliza a problemática da

violência. O simulacro em colisão com a conjuntura real constitui a base da película e

a partir daí caminha a malhada em reciprocidade com o paralelo coevo. Contudo a

contumaz imagem de um párvulo portando uma arma é a abissal inquietação do

Argumento, visto que refleti o pélago donde estanca a determinação do espírito

esperançoso. Decerto a conjuntura, em que o sonho duma criança desacorçoada e

nascida nos morros, se sumariza em angariar um berrante, conduzir um veículo,

semelhante à bicicleta, mas movido por motor, e por cabeiro, ser o senhor do tráfico,

é algo agourento, logo manifesta a expectação dos sofreados. Enfim transfigurar este

cenário é a atroante iniciativa deste pré-roteiro, que consiste em maximizar o clamor

contrito das pessoas subestimadas socialmente, assim como espertar aqueles com

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envergadura política, mas de conduta apartada por prerrogativa. Feito esta

deliberação, prosseguir-se-á de cá em diante, a locomotiva que transporta as

aspirações da urdidura. A primeira vista, a qual personifica o medular Ato da película,

se desdobrará abaixo dum viaduto na cidade do garoar intermitente e da frieza

urbana.

E é sob o librinar paulista que se preludia a inaugural imagem do filme, onde

vemos uma cunhã, por entre a cortante atmosfera da urbe em aglomeração. A cachopa

andava pelo bulevar; procurava desviar dos flancos de borriços, assim como de se

defrontar com as pessoas e veículos que lá pervagam. Conforme a moça caminha,

lobriga-se a fisionomia aflitiva e um andar que revela alguma preocupação em não

ser apercebido. A mulher carregava algo no colo, o qual estava ocultado por uma

espécie de mortalha, na tentativa de livra-lo do molinheiro, ou das lentes de terceiros,

mas não se sabe ao certo qual a pretensão de tal tessitura. O pesadume fica cada vez

mais evidente; passa a voltar-se contra a fardelagem que aquela criatura conduzia

afora do ventre. O consome da rega se enleava com o aljôfar que escorria pelo

semblante da abadessa, pois com uma colgadura sobre a cerviz, na forma dum

toucado, a moleca transparecia a imagem duma madre. Pero as abarcas simplórias

apartam a ideia pudica e aprochegam o personagem a uma adolescente da periferia. O

pranto, a carga lancinante, além da acatadura humilde, são espreitados duma maneira

abafada, tanto pela ambiência ao arredor, quanto por o ânimo da garota ser

demasiadamente recatado. Afinal a plebeia atravessa algumas quadras; aparenta estar

desnorteada, ao mesmo passo que o ritmo arrastado, obtestava uma arrelia interna. A

nutriz segue numa tropelia cerne, até o ponto em que uma sandália se contorce,

devido ao aforçuramento, aí a cadência é contida, mas o aperto intrínseco continua. O

arredar finalmente angaria êxito, em face duma alameda devoluta, onde um caminho

suspenso e constituído de concreto, eleva a rodovia por forqueaduras. Neste lugar a

menina dos outeiros obductos, apazigua momentaneamente o alento ébrio. Ela agora

Skywalker

anda docilmente, mas ainda não sabe para onde ir, nem o que fazer para livrar-se do

fardo. Naquela altura, a coisa embuçada que até então permanecia inanimada, solta

um carpido característico dum chicuta. O vagido sobressaia o sonido dos confins de

asfalto. A recoveira percebendo que o fragoído poderia despertar atenção, prosseguiu

com alguns passos para o interior do viaduto em eminência. Acolá o capelo na forma

de véu é retirado, permitindo ver a fisionomia da mulher, assim como possibilita à

ela, um visar panorâmico. Despida do capuz sobre o rosto, deslumbra-se a face de

guria na adolescência. O ancenúbio carafuzo é entrevisto nas fácies da badameca com

origem infortunada por raça e condição financeira. Na parte escura da pontícula, onde

há pouca incidência de luz, o pacote viçoso é frouxamente desempapelado, não no

tentame de desentaipar o ser, mas com objetivo de emudecê-lo acintosamente. Os

gadanhos começam a descobrir o corpúsculo, com um simples subtrair dos panos que

o embalavam. Entretanto o desembrulhar é interrompido, quando o nuelo pronuncia

alguns soluçares. A mãe malogra a coragem de silenciar a criança, o pranto desta, faz

com que ressurja a moléstia de noutrora. Agora o ataraú íntimo compele a progenitora

em uma atitude desesperada; ela singra, com o gibi na frente e um pouco avante do

seu bandulho, ainda sob o efeito da maresia anímica. Ao atravessar o interior do

elevado, ela fixa os lúzios numa montoeira de entulho desprovido de vida; e afronta-

se com uma porção de sacos plásticos, com variadas cores e volumes, os quais

comportavam o lixo orgânico daquela banda da cidade. E neste recanto soturno, o

recém-nado é despejado e congregado a cenosidade do local. Ainda envolto em uma

fronha formada pelo tecido grosso de malha e algodão, a criança permanece derrelita,

esmorecida mediante ao pajonal e saquitéis do desvão. Após os átimos de abandono,

a genitora evade o lugar, sem prestar cerimônia ou transluzir compunção pelo que

havia feito. A aperreação que reprimia a vontade dela de afugentar-se, desmoronou

juntamente com a ptose que lançou o exíguo organismo, a condição de dejeto

sociogenético. Enquanto o bacorinho se sacolejava por adentro dos restos, a prófuga

debandava-se com a freima que antes era cingida. A cada percorrer da trânsfuga, um

olhar para atrás, na mira do enjeitado, que estilava lágrimas e erguia os braços para o

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alcantilado, com se buscasse um abraço; já a mãe desertora, enxugava o lacrimejo

com uma mão, a outra recolhia o bioco acima do rosto. No lance em que a fugitiva

sumia no horizonte, ascendia no contorno da esquina, uma nova figura no contexto.

Esta convergia em direção ao mausoléu, o qual sepultava morosamente o jito ser

renegado. Mesmo distal, via-se o principiante carrear pelo espinhaço, um veículo, que

embora carcomido, debuxava o instrumento de trabalho deste homem. A frente do

estrênuo, hasteava uma espécie dum haltere em molde de lavanca, por onde exercia-

se a energia de arranque necessária para o proveito. O advir dele é amiudado pela

fleuma translatícia à de alguém que se esforça compulsoriamente, empós do passadio,

duma vida digna, mesmo em circunstâncias de penúria. O sujeito tinha tom de pele

adusto, não pela genética, senão por labutar o dia inteiriço nas ruas; a velhice casual é

derivada do mistifório de resignação física e moral, nas quais se destaca a cariz

consternada, o fornimento guenzo, um labíolo ralo e disforme, assim como as

vestimentas modestas, sem grandes ornatos, mas esquálidas nas estampas. O

aproximar do pelejador deixa claro que se trata dum carroceiro em busca da matéria-

prima do seu sustento, a dejeção suburbana na forma do papel grosso e resistente,

seria ele um genuíno catador de papelão. Um tipo de excogitação é gerada sob este

adscrito, aquela instintual indagação: “como é que esta criatura suporta tamanho

encargo, sem esmorecer, ensandecer ou vergar-se ao crime?”. Nisso surge a

subsequência do último pensamento, onde há a ilação, pela qual fica fósmeo a

compreensão da geografia dos desvalidos e os caminhos que a mesma palmilha.

Atualmente acredita-se num simples transferir de renda, como o suficiente para

colmatar um forame que amove em direções antagônicas, as distintas classes sociais.

No entanto o óbice vai além da pecúnia, até por se tratar com experiências de vida,

que encruzilha gerações esteadas na desigualdade histórica. A resultância disto é um

complexo de culturas, que coexiste em planos paralelos, os quais se intercalam de

maneira apática nuns pontos, noutros colidem fervorosamente. Na prossecução do

enredo; O aditado marcha quase que num sobrestar, derivado do peso arriba de seus

ombros. O supositício tropeiro traspassa o recôndito da ponte alteada, um deflúvio

Skywalker

similar ao da jovem que escorraçou-se junto à cerração. O mesmo espavento que

agitou a moça, ao deparar-se com o entulho, compulsa o cangalheiro em igual

manejo, mas com ímpeto díspar do dela. O arrieiro vendo o amontoado de destroços,

aferra-se no fito do monturo. Uma congérie é encontrada naquele esconso, o que

embaraça a percepção do homem, na busca por papelório reciclável. A caçamba é

largada para que o colheiteiro possa granjear um bocado de amanho para própria

subsistência. O carrete parqueia numa postura carregada, na qual o esteio conservar-

se mirado para o alto, na contraposição do pequeno vagão, por onde se estocava a

coleta. Então o gari informal avança para a ribanceira da lixaria; e com as mãos, ele

começa a revirar o despejo, que se misturava com escorrer d'água, pelo chuviscar

descontinuado. O barulho do gotejar sobre as algibeiras de plástico, ofuscava a

poluição sonora da leva de carros que trafegava no pináculo da pista. Em meio ao

garimpar, um miúdo alarido derruba a concentração do homem. O gemido do

bacorim transmutaria o encadeamento de trabalho do carroceiro, levando a ele, uma

nuvem de curiosidades que transviou o presente impulso. O remoinhar dos refugos,

ganha veemência na varredura pela fonte do estrépito suasivo. Em algum momento

da rebusca, o pertinaz chega a se acalmar no pensar que poderia tratar-se duma

alimária à toa, mas o desamparado fazia questão de inflamar com um choro

compulsivo, a presença dum neném largado. Entretanto a criança malogra aos poucos

a vitalidade, pois havia um soterrar no cardume de sacos com lixo, onde o renegado

mergulhava gradativamente na profundura do detrito. Porém o encalço tem sua

postimária, no santiamém em que o catador soergue com os braços, retirando do

aglomerado de sacos encardidos, uma criança de colo, um manino ser encoberto pelo

velame vindo da maternidade que o demandou. Como dois esteiros que se esbarrão

pelo bambúrrio, assim depara-se o escanado defronte ao implume. As patolas do

maduro bateram de recontro com os pequeninos pulsos do recém-nascido, proscênio

no qual tanto um quanto outro, ficam face a face, guardando as justas proporções. O

bebê, quase desnudo por inteiro, permanece por algum tempo, pendurado e agarrado

pelas munhecas, o que traz a tona os traços marcantes desta criatura. Um cordame

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umbilical, inda é presente no párvulo, e o precitado piola, queda-se contíguo as

margens dos joelhos da criança, daqui pênsil. A cute negra toma realce com o

desenfronhar do achádego inoportuno. O homem demonstra-se estatelado nos

sentidos, como num estupor que arrebatou-lhe o raciocínio producente. Nisto o nuelo

insufla um bramido estridente, que arrancou do entorpecimento, o deparador de

peripécias. O trabalhador finalmente cai em si; ele compreende que estava perante

duma coisa vivaz, que retumbava uma guaia pungente; o pequeno esperneava,

incomodado com os pingos da chuva acima da cabeça, acrescentado duma posição

desconfortável, dependurado na frente do adulto. Logo o indivíduo maturado,

acomoda o nenê no regaço; o carroceiro ampara o incapaz, levando-o em seu corpo,

duma forma curvada, para proteger do regadio e frio, oriundos da lebreia, o

coadjuvado ser. No rés-do-chão da construção que permite a passagem superior de

carros, os dois homens de idades distantes, habitam em concórdia, no ensombro da

arquitetura da ponte. E num embalo figulino, o chicuta é acolhido pelo catador de

papel reutilizável; ele estaca-se contemplando o pequenito cenho do acalentado, que

exprimia uma tristeza percuciente, como se existe nele, a compreensiva dos

acontecimentos findos, mesmo prendado numa idade pseudo irracional.

Inconformado com o entristecimento do bacorinho, o obsequiador recolhe da acica,

um naco de pão que guardava para o interregno da labuta. Ele rasga uma parte com os

dentes, ao levar com a mão desocupada, o gravanço inconsútil para a boca; já a outra

lasca é direcionada para o chichuta acabrunhado, usando a mesma ganchorra livre,

sendo que um braço é reservado para o ninar. O homem mastigava o nutrimento com

esgana, mas o implume mal ingeria o cibo. O alimento era conduzido nos dedos do

barbado, rumo a cavidade do rosto da criança, mas não passava do focinho daquele.

O buenacho desiste das frações sólidas da pitança; ele larga na querência os ditos

fragmentos, e coloca numa palma da manopla, a fração que dantes ruminava. O viso

quebrantado é sobrepujado pela avidez da subjuntiva cria, que ingurgitava a espécie

de papa, resultante do regurgitar do manjua urdido. Um gáudio enrustido é observado

no pequito, logo após de iniciar o saciar da rafa, como num simples verter de ânimo

Skywalker

que fez encetar um sorriso retraído, em pontaria do benfeitor. A comoção tomou conta

do carroceiro; ele estava tão perdido quanto o acolhido; ambos permaneceram

debaixo do viaduto, um olhando para o outro, como num maravilhar comum,

originário do primeiro avistar duma coisa insólita. O homem fica admirando a

negrura nos ocelos do pitorra, enquanto este era aninado pelo fartar de agora pouco.

O acalmar do miúdo, permite um raciocínio afiado do acoitador; ele decide aguardar

pela genitora, ou por alguém capaz de responder pela criança, que repousava após a

breve refeição. Durante o adormecimento do infante, o matreiro atenta para uma reles

fita circunscrita no pulso do sopitado, a mesma continha uma minúscula escritura,

resguardada e enovelada por um invólucro de material resistente a compressão. Neste

ápice nota-se a dificuldade para o deciframento do texto; o inexperto segue com o

dedo indicador sob o redigido, tentando recitar, o que lá estava grafado. Um nome é

visto de relance na tira em forma de argola, o mesmo é tingido de caneta

esferográfica, com letra d'mão e dum jeito garrancho, mesmo assim revela a alcunha

do recém-nado, a qual foi concebida junto a clínica de gestantes. Neste instante é

possível espreitar por imediato o antenome: “Moises”, cujo a acentuação fora

suprimida pela umidade, proveniente do sobrevir da chuva, adentro da papeleta. Ao

espectador fica inteligível o velacho, mas para o personagem avelhado, permanece

uma lacuna de significação, que o induz numa inculca pela tradução da sequência de

letras entre os dois espaços em branco. A espera pela genetriz não gera corolário, pelo

contrário, causa uma eupatia, que delimita apenas um juízo, o de zelar pela cria, até

alguém assumir tal cuidado. Com o decorrer do tempo, vem o cessar da cruviana, e

um prelúdio de alteração da expectativa do catador; ele começa a se conformar com o

tento de adotar a criança, mesmo que dum modo clandestino. O passo sequente,

resolve surdir o homem daquele lugarejo insalubre; ele apascentava em pé, com o

nuelo no colo, que dormia placidamente nas espáduas do caritativo. A tirinha que

circulava o braço delicado, é arrancada e levada ao bolso do colheiteiro, que galgava

no curso da carroça abdicada. Ali o sédulo improvisa um berço, ao revirar as estilhas

de papelão recolhidas, e defrontar-se com uma caixa de sapato, que serviria de base

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para a estrutura. Então a caixola é forrada numa mistura de trapos, com pedaços de

papéis variados. O pequeno leito é cravejado numa armação, constituída por fios de

alambres maleáveis para a modelação. E nesta garupa, o bebê é efuso de maneira

retouça. A traquitana é convertida num carro-leito, e o opífice dispõe-se em testa-lo,

antes de qualquer andamento. Certificando-se da segurança da invenção, o caroável

procede na tramontana da civilização. A carroça se altera num riquixá, típico nos

países do Extremo Oriente, onde um passageiro é puxado manualmente por um

homem. Dentre as cenas promovidas no enredo, a que se concatenará adiante, tende a

ser impactante em sublimidade: “Uma criança de cueiro, sendo acarreada dentro

dum caixote, acoplado no interior duma sege, que é conduzida por um carroceiro”. E

assim o desfecho do introito do primário Ato da película se perfaz, no qual vislumbra-

se um pitoco ser que repousava, adentrado numa caçamba; e a cada roçagar do

veículo, um balanceio a favor do sopor para a criatura.

Uma escolha proveitosa para capturar as imagens, tanto de desarrimo, quanto

as afigurações de recolhimento, é a de ângulos aéreos, onde a noção de espaço

abrangente permite um cabedal com detalhes coadunados ao centro dos

acontecimentos. Dessarte vê-se o retrato duma criança ressonando, no íntimo dum

objeto oco em forma de receptáculo, que por sua vez conservar-se no interior duma

caçamba de formato parelho ao da anca, mas com dimensões alargadas; como numa

visão desenhada de uma caixa retangular, com menor extensão, aglutinada a de maior

comprimento. Este zênite do enlace, faz requerer uma trilha sonora, como verdadeiro

tema capaz de personificar as emoções lançadas na malhada, de maneira que o

público possa desenrijar-se em face a dramatização. Desse modo é constituído o

firmamento da película, por meio de três personagens, e nenhum diálogo

significativo. A estória do filme, até este ponto, não deliberou a colisão com a ficção

da figura-título, uma vez que o foco é engatilhar um início plausível para o

personagem, um degrau de partida factível, que se aproxime categoricamente da

Skywalker

realidade. Quando o fundamento de abertura da obra se consignar, na altura em que

não se faz mais necessário perlustrar a origem do personagem, dar-se-á vasão para o

ingresso da fábula, que ganhará espaço com graduação, onde a abstração cresce

vertiginosamente. Este método pode ser facilmente identificado na primeira

adaptação de Christopher Nolan, em Batman Begins, o qual é demarcado por uma

introdução realista.

Na continuação do entrecho: o fretador se atina na persecução do significado

dos grafemas no papelete em forma de argola, que antes circulava o punho do recém-

nado; ele atinge o alto de algumas quadras, adiante do viaduto que plasticizou o

abandono. De volta a muvuca da cidade, o encontro com um comerciante ambulante,

trará o sentido das letras incompreendidas. Aqui será vinculado o primeiro diálogo de

relevo na película, um breviloquente interlóquio, mas de grande valia, tanto para o

personagem, sendo que a descoberta do nome “Moisés” provém desta conversa;

quanto para os destinatários da ação audiovisual, que vislumbraram a extrema

dificuldade de comunicação do carroceiro, um reflexo da modéstia enrustida deste

homem, além da acatadura acanhada, como se algo o intimidasse a se relacionar com

os demais. Então incandescido com a revelação do velacho, o acolhedor avança na

eminência de seu lar; segue numa cadência agitada, repetindo para si, o nome que

acabara de compreender. Afinal o apanhador alcança o dito habitar; uma terriola

afastada do progresso urbano, um recanto devoluto, ainda mais por estar cercado com

a sujidade resultante do consumo desenfreado. O catador morava em pleno eirado

dum lixão, situado no município do garuar incessante. A localidade interatuava como

um habitat para a pobreza, um retiro para aqueles que se inibem ante a fulgência do

poder aquiritivo. Ali não havia a luxaria da esfera consumista, mas a chafurda

procedente desta, é o que predominava. Enfim o catador de papelão acerta-se para o

repouso, após a refrega de um dia inteiro; ele adentra num barraco, no imo daquele

cômoro de escombros orgânicos; prossegue acompanhado da carroça de ofício, na

16

qual debruçava Moisés. Ao imobilizar o carrete, o anoso pelejador apanha do vagão,

a criança que pernoitava num sono profundo. A caixola que fora improvisada com um

berço, também é colhida dos estoques, no intuito de manter um leito para o remido.

Em algum esconso desta dependência, o figurado arranjo duma cama gradeada, é

alocado rente ao piso meio barrento. A noite descia dos lugares altos, cobrindo a

montureira de dejetos que rodeava as proximidades. Contudo o carroceiro, observa

mais uma vez, a ataraxia que arrebatava o pequito. Aquilo parecia imbuir no

ambiente, uma calmaria capaz de suplantar a melancolia da penúria residente. Um

alívio revitalizador, assim como uma alegria fora de série, permitem ao acolhedor

uma atmosfera de família. Entretanto o entusiasmo é demasiado intenso, que o

obsequente deixa de aperceber o abordo dum cercão, um cômpar com a mesma

ocupação do então garrido. O morador adentra na vivenda, como de costume, e se

depara com o consorte, o qual permanecia apreciando o nuelo em seu repousar. Neste

fastígio da trama, irá emergir o segundo diálogo de relevância para a película. Um

colóquio contundente, uma discussão sobrecarregada de rancor, amargura e

impropérios em forma de palavras afrontosas. O consectário desta parlenda, colocou

em descrença a capacidade do hospitaleiro em acudir um párvulo, uma vez que cuidar

de si, já era uma tarefa imensamente onerosa. Depois de alguns instantes da pegadilha

entre vicinais, espreita-se o prestadio cabisbaixo, depresso com os fraseios que ouvira

à pouco. O homem estava esmorecido, o alegramento de antes fora sucumbido pelo

padecimento resultante desta conversa. Algumas das verbiagens ditas, o atingiram

como agulhas no peito, algo que a tempos não sentia. O cansaço dum dia inteiriço de

trabalho, não se equiparava com mágoa que desalentava seu ser material e moral. A

verdade é que o catador esperava uma reação positiva do cupincha, como se ambos,

por realizarem mesmo ofício, logo compartilhariam de igual alegria. Contudo isso, o

catador de papelão abdica-se de sua casa; ele parte na direção da urbe, que já não se

via no horizonte, pois a noite predominava nesta altura. Ele largou Moisés no barraco,

o nuelo permanecia dormindo dentro da cama improvisada. Em uma reação, de certo

modo estúrdia, o paternal por casualidade, caminha apressadamente na direção da

Skywalker

selva de pedra; ele percorria os limites do lixão, e via-se nele, aquele mesmo aperto

que sobrecarregara a mãe prófuga. Desse modo percebe-se uma cadeia de sensações,

a qual se desenrola em permuta pelo enredo. Entretanto o objetivo desta mutualidade

vai além da iteração, o mesmo tem como mister, escancarar a ideia de que pessoas

estão sujeitas as mesmas situações, mas a resposta diante delas, diverge em infindos

modos. A experiência histórico-social é um dos fatores determinantes a uma dada

resposta, não em absoluto, mas como ponto de partida para uma reação em cadeia,

com uma pluralidade de fins. Afinal o homem velhentado atinge o povoamento

urbano; ele seguia abalado com os pensamentos que o reprimiam. A amofinação só

tem ocaso, quando o carroceiro se depara com a entrada dum hospital; acolá a

primeira iniciativa do escanado, era a de encontrar algum servidor, na esperança de

que este o acudisse com a criança resgatada. No entanto o húmile é barrado

justamente no limiar do nosocômio; um segurança o impede de sequer adentrar no

prédio; o sobrestante indaga o carroceiro, mas o anoso mal consegue expressar o que

se passava. Para o atalaia, a imagem dum indivíduo esquálido, ligado a sua

dificuldade de comunicação, representa plenamente um multívago que poderia estar

alcoolizado ou até sob efeito de drogas. Aqui a prenoção se dissemina duma forma

perversa no enredo; aquilo que acontece em estabelecimentos do campo privado,

passa a acaecer num local comunal, que deveria ofuscar a segregação social,

permitindo a todos um acesso livre e igualitário, mesmo com uma diferença entre os

cabedais de casta, beirando ao absurdo. Após ser vítima de preconceito, o espectador

deve esperar um aprofundamento da atimia do vetusto, o que tampouco ocorre, pois

ser rejeitado era algo corriqueiro na vida deste homem. O catador tenta de todas as

formas expressar que havia uma criança abandonada, mas a cada gesto dele, mais se

intensificava a afiguração de um desatinado. Por fim o vedeta praticamente expulsa o

carroceiro da frente do hospital. No começo da tentativa de esclarecimento feita pelo

catador, percebe-se ainda uma vontade de compreender, por parte do guarda-noturno.

No entanto o retraimento do queba, impossibilita uma comunicação fluente entre os

dois sujeitos. Agora uma nova característica do escanado é lançada no enredo, um

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aspecto marcante da fala deste personagem, onde fica indutiva a ideia de alguém

ébrio. O velho carroceiro inicia as conversas, mirado para o receptor, mas com o

decorrer da alocução, ele perde o foco, e passa a falar com um tom de voz rasteiro,

direcionando a interpretação para si mesmo. Por conseguinte a extrusão do

changador, em face da casa de saúde, espera-se um declive do transtorno vivenciado

pelo personagem. Porém ao invés dum abalamento sobre ele, o que veremos é a

recuperação do juízo, um restabelecimento da lucidez do homem. Neste átimo da

dramatização, os pensamentos do vetusto serão reclinados para a criança esquecida.

O conjunto dos acontecidos fez surgir no carroceiro uma crença, a convicção de que

ele estava predestinado a acautelar o implume desprovido de jazigo. A consolidação

deste tino, cresce com altivez, na medida em que o estrênuo recompõe sua

perspectiva. Destarte o catador, parte obstinadamente numa correria semelhante a de

outrora, na qual fora compelido do lixão em busca de ajuda. A diferença é que o peso

de antes, derivado duma pseudo culpa, fora alicaído pela restauração da esperança do

acolhedor. Um enfado de quem procurava socorro, é substituído pela segurança

daquele que se tornara a solução. E assim o persistente regressa para o valhacouto,

um terreno ábdito da civilização, que de certo modo não deixa de ser uma periferia da

mesma. Os estrupícios da passada discussão, já não faziam a repressão sobre o

homem. A caminhada serviu como vazão para a reflexão do que havia se passado na

conversa inesperada. A dissensão entre os consortes, fundamentou em sobejo a

intenção do carroceiro de adotar o implume. O desfecho desta etapa da trama, ocorre

em conjuminância com o retorno do vetusto ao refúgio dos depreciados.

A partir deste ponto, o ritmo dos acontecimentos da trama, será demarcado por

uma aceleração, afim de deliberar a impressão de movimento dos anos, que

progressivamente causa a noção de crescimento dos personagens centro. Todavia a

estória do enredo, tem introito caracterizado por um andamento em tempo real, ou

algo próximo disto. A necessidade de se enquadrar este desenvolvimento paralelo a

Skywalker

realidade, é justificada com a devassa por um começo possível para o figura-título do

Argumento. Logo para atingir o êxito dos prelúdios, nada mais adequado do que

ajustar um prosseguimento contínuo e com poucas entrepausas, até para permitir uma

melhor assimilação do público. No entanto o curso do enredo, após a instituição da

convicção do carroceiro, a dilúcida certeza de perfilhação extrajudicial do menino

abandonado, não carece de cadência. Deste degrau em diante veremos uma celeridade

nos acontecimentos, com intuito de abalizar a relação entre os dois figuras. Enquanto

um tiriúma se converte num pai protetor, o enjeitado torna-se um filho heréu em

diversos aspectos. Aqui se faz inescusável a incrementação duma banda sonora,

talhada com a capacidade de envolver as cenas, dirimindo os diálogos conjeturados e

permeando as ações em fluxo alígero, embalado. Uma opção eficaz para representar

essa alteração no tempo dos eventos, os que comportam a ideia de crescimento do

figura Moisés, e de envelhecimento do catador de papelório reciclável, será descrita

de agora em diante: Em uma mesma vista, ou numa tomada ininterrupta, nota-se o

estrênuo conduzindo a carroça pelas vielas, descensionalmente a uma avenida

soerguida por colunas de cimento; um lugar escampado, uma vez que a agitação se

concentrava no alto da pista. A cena se inicia neste transcursar do carroceiro, no

fundo da alameda, e se rompe com a imagem de transfiguração dos personagens,

onde um envelhece, ao oposto do outro. Para o triunfo deste planejamento, é

consentâneo produzir a ideia de que a cada passagem do catador, por detrás dos

pilares, uma mudança abrupta na fisionomia dos figuras acontece. Desse modo a

impressão de ultrapassar dos anos se constitui duma forma elaborada, com uma deixa

propícia para incorporar temas sonoros a película. Do ponto de vista do espectador

teremos em sequência: o homem escanado arrastando uma sege, numa perspectiva de

flanco, mas sem a presença do rebento; posteriormente o maduro atravessa uma

escora que sustenta a estrada de rodagem; neste átimo a imagem se obscurece, para

representar o plano em que o carroceiro transcorre a coluna de cimento; a volta do

realce é acompanhada do ingresso de Moisés na cena, numa idade infante e

segurando o tutor pelas calças, pois o mesmo seguia acarreando o veículo de trabalho.

20

E este método se reitera por algumas feitas, de maneira que no último plano veremos

o carroceiro em estado avelhado, seguido do sucessor, que já era um menino crescido.

E assim temos o desfecho desta aceleração da trama, sendo que a retomada da

cadência ocorre na derradeira passagem do carroceiro por atrás duma coluna, pois na

saída desta, veremos a caçamba sendo levada tanto pelo pai, quanto pelo filho.

Portanto a retrocedência da regularidade na trama, é uma decorrência da

consolidação do relacionamento afetuoso entre os figuras. Mediante disto, o

prosseguimento dos eventos, dar-se-á em concordância com a afiguração, na qual há

o comungar do peso em carregar o veículo de manuseio. Neste ponto observa-se o

carroceiro numa condição de provecto; a velhice casual é destituída pela idade

avançada, afora duma lassidão perceptível. A canície é conspícua, mas não intimida o

pinante de andar como um sequaz, no rastro dos passos deste grandevo. Logo Moisés

encontra-se em pleno vigor da puerícia; um pouco disperso e com avidez voltada

sobre todas as coisas desconhecidas. Então apontam-se, cruzando a estremadura da

autovia, na qual delineou-se a cena antepassada, o par de catadores do papelão

reutilizável, tendo visto que Moisés acabara por legar o ofício do pai. Ambos

traquejavam no longe do estradado, após o dia de labutação nas ruas. Como dois

andarilhos, assim apercebia-se a parelha de trabalhadores. O ensolarado descia, mas o

calor campeava do alto das cabeças, até as bordas de pavimento asfáltico. Uma

canseira insidiosa tomava conta do vetusto, o que pungiu o estado de preocupação em

Moisés. Aqui há a incursão de pequenos diálogos, que denotam a convivência dos

personagens. O trato entre os figuras é caraterizado por uma sequidão, derivada da

penúria aferrada no quotidiano dos mesmos. As poucas palavras, as formas de

expressão lacônicas, assim como o alento obstinado, representam o arcabouço

sociocultural que margeia os figuras do enredo, da mesma forma manifesta a

resistência destes indivíduos, defronte a pobreza circunstancial. Neste instante os dois

andarengos percorriam a beirada duma estrada, que ligava os contérminos da cidade,

Skywalker

as bifurcações em rodovias, nas quais se notava o avultado magote dos veículos de

transporte. Enfim eram bandas ermas, isoladas do povoamento e destinadas ao

tráfego de automóveis. A sensação de tebaida, superava em todos os sentidos, o

interior devoluto da ponte atravessada em momento precedente. A traquitana

permanecia nas mesmas condições dantes ao recolhimento do pequeno derrelito, só

com alguns pontos oxidados pelo caminhar dos anos. E assim diante daquele

bochorno atípico, rompia no extremo da senda, a visualidade dos lidadores em meio

ao mormaço da pavimentação de ruas e estradas. O ar quente fazia tremular a imagem

dos consócios, como no fenômeno caraterístico em dias férvidos, onde a aragem

carregada de ardor provindo do solo, se emaranha com a refração da luz de tal forma,

que nos causa a impressão de distorção da visão. Todavia existia nestas horas uma

espécie de revezamento entre os comparsas, para definir um carreamento retilíneo da

maxambomba. Neste turno era do colmilhudo, o fardo de carrejar a caçamba

rubiginosa. Contudo Moisés percebendo a estafa do pai, resolve assumir a direção do

carro, mas o entibiado não admitia uma dirupção dos afazeres. Então o guri se

emparelha com o palinuro, na frente do mainel frontal da caçamba, demonstrando ao

calejado, que não se tratava de desrespeito, e sim dum mimo do párvulo para o

protetor. Ainda que o peso houvesse sido dividido, o alquebramento acima do

acolhedor, intumescia-se intensamente a cada andadura da sege. Aquilo deixou

Moisés estarrecido, ainda mais em saber que nos arrabaldes das imediações, apenas

se via um conglomerado de terrenos baldios pelo través; à ilharga nota-se a corrente

de carros, numa leva infinita. Os arruídos das conduções, por algumas ocasiões,

anulava a vontade de paleio entre os sofreados. O trajeto do carreamento chega a uma

extensa curvatura da estrada, aonde o caminho passadiço, vira um estreitado. O cerro

ao lado dos esparsos, restringia a uma única opção, o escape daquele beco. O sirtes

eram eminentes, dado que a chusma de automóveis transpassava na margem livre da

quelha. Alguns dos veículos de grande porte, como os cargueiros, cruzavam a

sinuosidade em nível rasante às corporaturas dos figuras. As canelas do confrangido,

estremeciam com o guidão da carroça, como se já não suportasse aquele peso acima

22

do corpo. A fisionomia do anoso transmitia ares nuviosos e uma morbidez no

ambiente, como num presságio de uma tragédia anunciada. Para Moisés, ver o pai

arquejando e combalido, com abrolhos por todo à aparência, era o enunciar duma

emoção que jamais pensara em viver. Entrementes o pronóstico veio a acaecer, o

longevo desaba resvés com o chão; ele cambaleia ao dar uns passos incertos, como

quem vem num vanguejar seguido de um tropeço súbito e letífero. A vertigem no

princípio, fez o carroceiro acreditar que tratava-se de mais uma daquelas sensações de

decesso, as quais vêm de uma hora para outra, e se esvai no mesmo embalo. No

entanto com o recalcitrar do vágado, vem a certeza de um infortúnio, que incita um

senso de despedida entre o paternal e a criatura acolhida. A queda brusca do homem

fez com que a caçamba ficasse estirada para o céu assoalhado e rodeado de nuvens,

pois o vagão de estoque estava abarrotado do papelório reciclável, como num

contrapeso preciso. A trigança nos acontecimentos imediatos, refreou qualquer reação

em Moisés, que teve de observar atônico, seu pai se debruçando rés ao solo insípido.

Até o próprio tormento do carroceiro era contido, como se estivesse a lutar contra si,

para não reluzir dor ao rebento. Entretanto o párvulo não se acanha diante daquela

situação; ele corre desesperadamente na direção dos carros, que seguiam como vultos

pelo trecho sinuoso. Porém nada se estagnava, nem a decedura do pai, quanto o fluxo

do tráfego de veículos. Aqui lobriga-se um traço crebro no enredo, onde fica

denunciado a conjuntura de vilipêndio na sociedade, na qual a indiferença é radicada

como algo racional e conivente. Quando Moisés fora abandonado, o único a ressentir

e agir perante àquela circunstância, fora o indivíduo que menos se espera, nem se

cogita alguma allure engajada. Embora belisário, o longevo dispunha de uma

sensibilidade incomum, uma aguçadura peculiar que não se compra com vinténs, ou

se adquire nos estudos. Nesse ínterim, o heréu retorna para um desvelo com o pai,

pois a busca por socorro, em meio ao manante de máquinas-transporte, não havia

dado resultado. Algures daquela imensidão, espevita-se Moisés segurando o

padroeiro pelas mãos, na tentativa de trazer um bálsamo para este confrangido.

Apenas o quengo do mentor pode ser acolhido no colo da criança; esta colocou a

Skywalker

cabeça do pai entre os joelhos e pernas flexionados, que estavam assentados cerce ao

piso, como numa posição de “lótus”, a postura (de Yoga) “Padmasana”. E na sombra

da carroça inclinada, espreita-se as lágrimas de Moisés, que escorriam pelo rosto em

direção a face prostrada do orientador. O que um dia acalentou uma cria, ora é

embalado nos miúdos braços desta. Enquanto isso um caminhoneiro na orilha da

estrada, enguiça seu veículo de carga e dirige-se a pé, na direção dos esmorecidos. O

estranho mal se abeira dos infaustos, visto que de longe já revelava-se um proscênio

brumal. O ádvena compreendendo o incidente nefasto, arranca da jaleca, um aparelho

celular, pelo qual faz contato com a emergência da localidade. Lestamente aporta-se

na cena, uma ambulância que corricava nas margens da fatídica ocorrência. Entre

todos os portes que deslocavam-se por aquelas ourelas remotas, o adjutório partiu de

um veículo desconjuntado, o qual era conduzido por um homem azafamado com o

ofício de praxe; um transcurso análogo ao do esboço da estória, quando um recém-

nado fora salvo pelo eremita, que guiava uma caçamba com um par de rodas.

Dessarte o acorro promana em duas feitas na estória, de indivíduos que são tachados

como ignotos por acepção perfunctória. O remate deste trecho da trama é visto com a

figuração de Moisés, na qual constata-se um carpido destoante, diante da perda do

pai; os paramédicos tentavam afastar o menino do obliterado, mas os cavernames

estavam entrelaçados, como num amplexo imperturbável. O pueril é arrancado à

força da presença do tutelar, que desfalecia com um declínio subitâneo da

temperatura do corpo-lúteo, como se o calor dele estivesse a dissipar para o meio

estuante. Os braços curtos do menino deslizavam pelas mãos nos cotovelos do finado,

no tentame de agarrar os punhos do pai, mas a sacadela dum enfermeiro era nímia

para uma criança suportar. Por conseguinte, Moisés é levado colado ao ombro do

auxiliar de esculápio, o qual descendeu da equipe de resgate acionada. O rebento é

colocado no piso da calçada, e deixado um pouco distante da defunção do carroceiro,

no intuito de conceder um espaço dissoluto para o trabalho dos medicinais. O

encerramento desta etapa apronta-se com um enquadramento afixo no semblante de

Moisés, donde entreve-se a resignação siderada do mancebo; ele permanecia sentado

24

no lancil da autopista, ao passo que o parente fortuito era dado como falecido pelos

servidores públicos. Neste ápice o espectador tende a afitar, por meio de uma

focagem conveniente, a face do menino entristecido; da testa franzida de absinto, dos

olhos sobreaguados de heu, até os lábios esmarridos pela quentura do ambiente,

assim centra-se o foco e a imagem de remate deste estágio da trama. A filmagem deve

colimar o cenho do garoto, de maneira que o sentimento de consternação seja

exteriorizado com concisão para o alvo observante. Afinal daqui adiante ocasiona-se

a separação dos personagens cabais, sendo que a vicissitude é um fruto dos adregos

no enredo. Naquilo que refere-se a amissão de entes queridos, os sortilégios do

Argumento compenetraram o ouvinte, em um discernimento a cerca do que

acontecera na vida do criaturo arredio. Se para alguém com uma estrutura

educacional e solidez financeira, a perca de uma pessoa dileta é algo abalador, que

causa a flagelação do intelecto; o que há de advir com uma criança desventurada e

carecente de adminículo? Moisés perdera o único elo de afeição, aquele que lhe

permitiu uma existência afetuosa, mesmo numa condição de paupérie inarredável. A

importância do carroceiro para o cá órfão, ultrapassa o acolhimento e as ações de

broquel, tangenciando a formação do caráter de Moisés. E desse modo a imisção do

vetusto na estória do figura súpero, o que virá a ser um condescendente do sentinela

notívago, é esclarecida em concordância com a destinação do lavor. É também

cogitado uma extinção da identificação cultural de Moisés, uma vez que a morte do

pai simboliza o desencontro com uma ordenada vivência. Finalmente é fovente os

rudimentos de ingresso da abstração, sendo que o cunho do personagem centro esta

praticamente ocluso, só restando a abalroação com o engendrar da malhada.

Skywalker

Em deferência a sucessão dos eventos, é apresto uma segunda mudança no

ritmo dos mesmos. Assim como foi elaborado uma dileção para representar o crivo

do tempo, torna-se receptível um urdido específico, a respeito da passagem seguinte:

Nisto vemos Moisés recostado acima dum meio-fio que rondava a estrada do

falecimento; com os cotovelos e braços sobre os joelhos recurvados, como se

estivesse sentado sobre os calcanhares; ainda vê-se a cariz desalentada do andejo,

como num abatimento profundo. De modo repentino os arredores e toda a atmosfera

que circunda o personagem se transmuda diametralmente; o que era uma ribanceira

atrás do figura, se transverte em um conglomerado de prédios; a guia estreita que

pairava Moisés, replica-se em uma extensa calçada precintado de pessoas; os fragores

da leva de automóveis é recomposto pelo burburinho da turba na cidade; unicamente

o menino permanece inalterado, com a mesma expressão de desarrimo e na igual

postura de alapado. Esta intercadência nos acontecimentos, pode ser considerada

como uma transposição do personagem, de um cenário descampado para a paisagem

do centro urbano. Este planeio se assemelha em alinho com a realização do cineasta

Fernando Meirelles, na feitura Cidade de Deus, no ato em que o personagem

Buscapé passa por uma eclosão súbita, por meio duma técnica de precipitação do

tempo. O único ponto de divergência entre a escolha efetuada na obra de Meirelles e

a ação aqui proposta, é o fato de que Buscapé cresce em conformidade com a

mudança da paisagem, ao contrário de Moisés, que estanca-se imutável ante a

resmuda do ambiente. A decisão de manter Moisés intacto diante do transfigurar da

ambiência, é uma maneira de prorrogar o sentimento crepe na traquinada, como se a

falta do criamoso entranhasse nele um desconsolo perdurável. Doravante teremos os

primeiros indícios duma ingerência, no raconto, da afabulação do figura-rótulo deste

pré-roteiro. Destarte a película é demarcada, até o presente momento, por dois saltos

no curso dos eventos, nos quais denota-se uma elaboração dedálea para reapresentar

uma necessária condução do tempo.

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No avio do enredado ter-se-emos: a imagem de Moisés cabiscaído na guia do

calçadão, em um panorama comutado após o ato de traspasse do carroceiro. As vestes

dele permaneciam parelhas ao momento transato, como se nicles houvesse sido

alterado, nem os aspectos emocionais, quanto o seu indumento. Moisés fora

literalmente arrebatado de um meio inabitado, para o bojo do progresso urbano. A

zona metropolita é debruada por um complexo de culturas distintas, e Moisés era só

mais uma fagulha no mar de gente. No entanto o retrato estancado do mancebo se

esvai em consonância com o restaurar do compasso na trama. E aquele transunto

quedo começa a se flabelar, no mesmo passo da envolvência, ou seja, aqui há o

encerro da diligência no tempo. Então o menino se levanta do trecho pavimentado e

elevado à parte central da rua, por onde transitam os veículos. Acolá o rosto

meditabundo de Moisés se miscigena com a multidão, cada qual seguindo sua rotina,

sem abjungir da vereda ou desviar-se em motivo de intempéries. Agora vemos o

protagonista se dirigir aos assentos duma praça, que estava cercada por plantas

ornamentais e engraxates de sortidas procedências. E neste comenos percebe-se que

não só há um desaparecimento do pai, mas como o ofício do mesmo fora trocado pela

tarefa de lustrar sapatos. Nisto o limpa-botas resolve dar início ao ônus, não como

execução, mas em seu rédito derradeiro. A mangorra de outrora, fora transpassada

como uma reminiscência, que coincidiu com a retomada do pulso contínuo na estória.

Portanto a ocupação se inaugura, como num retorno de um remanso, que ao invés de

suscitar refolgo, instiga a recordação do acoitador na memória do desamparado.

Contudo Moisés aparenta habituação com o práxis; sem devotar constrangimento, ele

se apodera dos instrumentos de trabalho, os quais se arranjavam no interior de um

receptáculo composto com madeira e acomodado ao ombro; contendo verniz, escovas

e alguns espanadores; na cobertura da caixola tinha uma armação de sarrafos, para o

apoio dos pés de modo alternado. Nas cercanias observava-se a malta de rueiros, em

busca da empalmação perfeita, numa roda mesclada com os silvícolas em plena urbe.

Enquanto isso Moisés exercia a faina com igual empatia a que lhe era expressada; se

o freguês incita uma conversa, ele correspondia com mesura; pero se a recepção fosse

Skywalker

regela, ele permanecia recatado ao maneio, sem desgostar o comprador, mas

intimamente compenetrado com a realização do serviço. Nesse ínterim nota-se a

aparição de um frequentador inaudito; um homem sempiterno de estatura arrojada,

com traços do senhoril, num porte de quem já fora um tipo atlético ou pertencera a

ordenança militar. Este estranho manifestava uma vontade latente de interagir com o

guri cerne, mas por razão etnológica, o mesmo só podia observar, com demasiado

afinco, o vivenciamento do menor. O sujeito praticava um ramerrão semanal por

aquele pátio público; ele surgia pela matina, vindo dum conversível prisco, que era

manobrado por um chofer com o mesmo tom de pele do personagem medular; o

automóvel tisnado, parqueava no limiar da pracinha, e acolá o manobrista saía do

veículo para acolitar o bedegueba a se locomover, uma vez que este só movia-se com

o amparo de uma bengala emadeirada. Quando via-se os dois homens juntos,

percebia-se que não havia uma diferença aguda entre eles, pois não se sabia quem

assistia, ou qual era o coadjuvado, porquanto existia lá, uma dupla de homens idosos.

Entretanto o usuário forâneo do largo comunal, recusava ao máximo a assistência do

seu mordomo, porque havia nele um prazer em lidar com as dificuldades corriqueiras.

Todavia os estrangeiros apresentavam uma discrição altanada, e somente Moisés, por

atuar integralmente naquelas bandas, descortinava o que foi dito anteriormente. E

assim vinha na direção do lugar largo e espaçoso, ordinariamente rodeado de

edifícios, o anoso amo, já apartado da presença do agregado, que voltava para o

veículo couraçado, para logo sumir na paisagem. O cajado em forma de muleta,

suprimia a perna deficiente, e o andar do estropiado é definido com pequenos

pinchos, onde o báculo toca o chão em primeiro, para que haja um amortecimento

favorável ao membro inferior avariado. O achegar do estrangeiro permite perceber

suas características nítidas, entre as quais, a gibosidade sobre os ombros, é a de maior

altivez, além do ar carrancudo e duma rudeza provinda da senescência dos anos.

Afinal o lordaça atinge um maquidum da área verde, e ali ele resserena da incoação

do dia, até o último arrebol do sol, no cair engrujado da tarde bandeirante. Durante o

tempo em que Moisés labutava, ouvia-se um vozerio dum noticiário, proveniente

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dum televisor situado dentro duma locanda nas imediações do terreno amplo e

arborizado. A soada informava uma inundação de pragas, conhecidas como as raposas

voadoras, dentro do ambiente urbano dos Estados de São Paulo e Rio de Janeiro. O

sobrosso só não era acentuado, porque os andirá-açus tinham comportamento

notívago e hábito alimentar, insetívoro ou fitófago, como então ora se via pelas

regiões da América do Sul e Central. A incursão destes animais nas cidades, devia-se

a imódica quantidade de edificações, onde a falta de conservação, falhas na

construção e até detalhes arquitetônicos, criados para o embelezamento, acabam

constituindo verdadeiras cavernas artificiais para alojá-los. A notícia enfatizava o

fato de haver uma migração, quase que diária, duma abundante manta de morcegos,

partindo dum ponto rural, perpassando em plena zona urbanizada, impregnada de

prédios e contraste social. A motivação deste suposto deslocamento periódico, não se

explicava como resultado de uma alteração ambiental, e um enigma pairava acerca

disso. O recém relato jornalístico promulgado, tende a passar desapercebido pelo

protagonista, sendo que o foco é direcioná-lo para a audiência endereçada, assim

como propiciar um prenúncio da ficção, prestes de vir à tona. Destarte a rotineira

perdurara da alvorada até a entrada do vespertino, e daqui por diante nada de

habitudinário irá recair no contexto. Com o entardecer as pessoas e comerciantes do

campo expresso ou informal que transitavam na praça, ausentam-se para seus lares, e

aquele lugareiro pátulo, passa a ser ocupado por pseudos cidadãos, os homens,

mulheres e crianças socialmente invisíveis. Moisés também fazia parte dos irrisórios,

mas isto não o impedia de permanecer sóbrio, contrariamente do resto dos meninos

da sua idade, que lá coabitam. A grande maioria dos infantes subalternos, havia

desistido da inteireza moral, e dobrado-se para a delinquência, de maneira que

Moisés, adjunto a um subgrupo, conservara-se íntegro entre os jovens. A maior parte

dos brunidores de botas, possuía uma residência própria, e o personagem principal

era um dos poucos que morava nas ruas, além de ser o mais juvenil, no meio dos

engraxadores. Para os outros, exercer o serviço de engraxate era como eternizar uma

vida de privação dos desejos, frente a um mundo consumista, na busca incansável por

Skywalker

divícias em forma de emolumentos. É claro que a conduta e vivenda de Moisés

incomodava o outrem, mas ele só não era extirpado de lá, porquanto tornara-se um

objeto de extorsão e escarnecimento para os demais alcachinados ao crime. Pero a

clientela se esvai com a romaria no curso das moradias, e o párvulo intemerato ficara

numa flanância superveniente ao meio evacuado. Ainda assim o franduleiro escanado

permanece no local, como se pressentisse uma desgraça a florescer. O estranja

estadia-se num tacanho banco da praça, abaixo duma densa árvore, a qual projetava

uma planturosa sombra na superfície da terra; ele quedava-se abscôndito no

obumbramento dos galhos na copa composta pela ramagem, em forma convexa.

Indubitavelmente o palmeirim fora o único dos civis que estavam presentes, desde o

primeiro clarear do horizonte, a remanescer no adro na orla da caruca. Mesmo com a

ocultação pelo sombreado, notava-se a presença de alguém, por meio de reflexos dum

anel prateado, e pela regular tosse rouca do dito-cujo. O sujeito não seria obsesso,

conquanto que ficasse quieto como um velho abalienado. Durante o enoitar, entrevia-

se uma malta de arreliados, desregrados e mandriões, indo na direção do menino

Moisés que entrouxava os pertences de confecção da tirineta diurnal. O corrilho fazia

uma roda ao derredor do efebo, que retrai-se de medo, mesmo já acostumado com

aquela situação de estorvamento. E numa sequência de esbordoadas, esmurros e

panázios, assunta-se Moisés erguendo o braço, com uns trocados do dia de serviço,

na mão cerrada e trêmula. O espanco ocorrera em razão do imberbe ter implorado

pelo pecúlio, aduzindo que estava com uma fome estridulante, e precisaria dos

ganhos para adquirir esculência. Mas a pancadaria não se detera com a súplica do

párvulo solito, e o término do obtundir é marcado por altas gargalhadas, como num

deleite comungado. Por conseguinte o bando arreda-se do pátio, deixando Moisés

combalido no piso ladrilhado, sem os proventos de um dia inteiro. Ainda cocava-se a

presença de um guarda-municipal, assim como a constância do ádvena, ambos viram

e ouviram tudo que acaecera, mas nenhuma intervenção ou manifestação partira

destes. A incógnita sobre o policial, logo será alumiada com o abocamento entre a

corja e este oficial da ausente justiça. Os pivetes corriam para longe da praça, mas

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aquele que resguardava a pecúnia afanada, andava lentamente na querena do fardado.

Acolá espevita-se uma tributação vulgar, onde o maloqueiro repassa parte do

montante dos furtos, e com isto ele acautela uma cobertura para o celerado, através da

dissimulação das autoridades. Em detrimento dos acontecidos, constata-se que a

corrupção atinge até os pormenores níveis da sociedade hodierna. Pouco depois da

sova, Moisés reajunta a parafernália que ficara esparramada ao chão; ele prossegue

no curso das imediações duma igreja desocupada, aonde dará de encontro com um

leito, forrado com camadas de papelão, no lado externo da gangarina. Os outros

meninos de rua pernoitavam em grupo, mas Moisés era insulado deles, pois não

compartilhava do uso da cola, dentre outras drogas, do mesmo modo das aspirações

que a súcia idealizava. É apropriado para reproduzir as decorridas cenas inscritas,

incutir a perspectiva do anoso palmeiro, uma vez que a localização no centro do

território, franqueava uma contemplação panorâmica dos acontecidos. Sendo assim o

teatino pôde observar as nequícias que atingiram Moisés, mas constantemente

empedernido diante das atrocidades, sem demonstrar qualquer reação, o que deveras

implicará a sensação de revolta e repulsa nos presenciadores do filme. Dessarte a

compreensão do que acontecera com Moisés, não virá por meio dos diálogos, mas em

virtude do conjunto de ademanes e gestos, como numa pantomima eventual. Aliás a

interpretação só se depreende, no lance em que espreita-se, no redor dos

escarnecedores, um braço esticado e estremecido, com uma porção embolada de

moedas e notas, indicando a rendição em busca dum quiete e o fim do estorvo. Em

continuidade ao enredo: Durante o tempo em que Moisés aprontava a dormida, via-se

finalmente o impassível em deslocamento vagaroso. O manquitó parecia tomar o

curso do veículo encostado na baliza rente a praça, mas é o mordomo quem vem ao

encontro do patrono (neste momento a película volta a retratar a óptica do

protagonista); os dois ficam de conversa, um frente ao outro, impelindo acenos em

mira da capela. Quando parecia que a dupla iria partir para longe dali, o inesperado

acontece; ambos aferram-se na pontaria do desadunado. A dobradinha de forasteiros

se achega no aposento do garoto desirmanado; um lugar escancarado ao ar livre, e

Skywalker

isolado dos outros menores de rua. O homem que usava a muleta, se abaixa até o

chão, dobrando os joelhos e com a ajuda do parceiro; visava apropinquar-se do

menino que estava com as pernas esticadas no piso, mas com o tronco erguido e reto.

Para aquele lugar um diálogo surpreendente se reproduz; o homem rengo se apresenta

como o Sr. Wayne, ora o serviçal se alcunha com o nome de Lucius Fox. Contudo o

fâmulo atua como tradutor e intérprete, o que afasta a alusão dum empregado, mas o

aproxima a um administrador dos recursos de Wayne, o qual ainda não tinha

conhecimento do idioma local. Uma sucessão de perguntas são atiradas para acima de

Moisés, que respondia sem objeção, mesmo não sabendo o motivo da disquisição.

Ambos os franduleiros almejam conhecer um pouco da biografia do mancebo,

partindo do nascimento até o ponto em que ele fora parar nas ruas. Mal sabia Moisés

que os forâneos tinham um plano de retira-lo do desolamento, por meio da

contrafeição do fenecimento dele. Os estranjas tinham ciência do pavoroso; eles não

ignoravam os outros, visto que havia na marginalidade uma espécie de hierarquia,

mesmo subjugados pela sociedade. Se para nós, os desfavorecidos são tidos como

impercebíveis socialmente, entre eles há uma recognição imparcial, de si e daqueles

cujo o recato ainda provém do Estado apático, ou da ascendência do capital. Por esta

razão se fazia necessário simular o exício de Moisés, pelo menos para dar uma

explicação perpassável, àqueles que perceberão a ausência do escorchado. Mr. Wayne

sabia que se, de um dia para outro, o bode expiatório desaparecesse dali, logo seria

notado, tanto pelo atalaia, quanto para o bando ordinário. Na prossecução da palra

entre estranhos: Uma indagação perturbava Bruce, e Lucius apercebia isto; parecia

que Wayne queria ouvir da própria boca de Moisés, sem a necessidade da tradução, o

porque da relutância em restribar o crime, se era tão fácil e esperado declinar a

corruptela da moral. Nisto o menino responde aquela questão capciosa, e dentre as

três palavras proferidas, somente uma ganha enfoque, o que abstêm a iniciativa de

traduzir do intérprete. Ao ouvir a menção do pai de Moisés, o indagador se quebranta

por inteiro, pois aquilo trazia uma memória análoga ao do consorte. O homem que

estava agachado, agora debruça-se no solo, com a força das recentes declarações do

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menino. Moisés vendo a reação do adulto, pensa ter dito algo de ofensa ou

inapropriado, mas Fox logo lhe esclarece, no dialeto vernáculo, que o patrono

também havia perdido o progenitor, mas independente disto, nunca malograra-se dos

ensinamentos, como numa herança imaterial. As revelações do preterido, robustecem

as expectativas da gringada, e a sabatina encerra-se com uma proposta mirabolante,

onde Moisés, que fora sucessivamente abandonado, teria a chance de uma nova

existência, antípoda a miserabilidade atual. O menino sem hesitar, aceita a veleidade

estipulada, como quem acredita ser uma evagação fortuita. Então Bruce Wayne retira

do bolso uma drágea, enquanto Lucius Fox explanava as implicações da referida

pílula. O travestido de chofer, instrui o medicado a deglutir uma pastilha antes do

repouso, o qual deverá ser profundo e supinamente duradouro ao de habitude.

Naquilo Moisés abre as duas palmas da mão, e num formato de concha, o

comprimido na forma sólida de um pó medicamentoso, é recebido sem arrepsia. Por

fim Lucius Fox se despede, ratificando o alvitre, no qual o párvulo haveria de ter um

sono estriduloso, mas que o amanhã seria absolutamente variegado. E assim os

intercessores desaparecem da cena, ao passo que Moisés ingeria o rebuçado; um

garoto deitado e coberto por folhas de jornal; numa postura de lado e pensativa,

adjacente ao leito de papelão.

O dia consecutivo renasce com o romper da aurora; os moradores a céu aberto

já se espalhavam pelos cantos da cidade, juntamente com o aflato do conjunto de

comércios paulistanos. A molecada desocupava a contiguidade do igrejário, pois o

mesmo samango ímprobo dantes, catucava os napeiros com um bastão de borracha e

alça numa das pontas. O amazelado se dirigia primeiramente no agregado de

menores; alguns mal despertavam da estagnação, de tão embriagados e alucinados

pelas drogas, mas a traulitada descia nos desavisados, que bordejavam debaixo das

pauladas, para afora do reduto. O despejar se completa por ali, mas noutro lado da

basílica ainda persiste um maltrapilho adormecido. O homem de farda sabia que

Skywalker

aquele espaço se destinava a pernoita avulsa do aperreado, e isto intriga o gambé,

sendo que Moisés matinava muito antes da mamparra. Nisto o mílite parte na

iniciativa de despertar, o que considera ser um vadio remanescente. Algumas

cutiladas brandas são emitidas na mira do empedernido, devido ao histórico de

comportamento irrepreensível, mas a esperada manifestação não revém. Então o

atalaia parte numa ação mais agressiva; ele sacoleja peremptoriamente o moleque,

indagando uma resposta razoável. Nesse ínterim o sobrestante apercebe a ínfima

tempérie do corpo de Moisés, e neste mesmo instante o sacudir é interrompido como

num susto intempestivo; o vigia passa as mãos sobre a cabeça e cabelos, já voltando o

quepe acima do rosto, como se estivesse a recompor as ideias depois do angatecô

nuvioso. Neste comenos há a constatação duma virtual decedura de Moisés; a palidez

sobrecabada é típica dum delfino; os párpados vedados, aliado a rigidez dos

membros, assela a concepção de morte. Nisso o vedeta resolve tomar o pulso do

menino, como a cabal sobreprova do atinado; o homem se ajoelha rente a criança,

cuja a parte do corpo entre o antebraço e a mão, é curtamente erigida; ao apalpar com

os dedos as pulsações da artéria radial, o beleguim se acerta por convicto sobre a

defunção do alvo de extorso das redondezas. Em pouco tempo as sirenes começam a

ressoar, anunciando uma fatalidade consumada. Uma olhadela furtiva é lançada

naquela direção, e no meio daquilo, observa-se de relance, algumas pessoas que

conheciam o vitimado; via-se a inconformação dos engraxates; o estupor dos

frequentadores da praça; a incompreensão dos moradores de rua; até mesmo os

viciados reparavam naquela cena abstrusa. O demandante acionador da equipe de

salvamento, também informara à estes, a cerca da constatada cessação definitiva de

existência no imolado, uma vez que os requisitos duma morte clínica, já haviam sido

atestados. Consequentemente como não existia assomos de vida, um rabecão do IML

é remetido para a ocorrência, na disposição de agilizar o procedimento de remoção da

vítima. Incontinenti os socorristas do sistema tétrico atingem o chamado; um deles

retira do veículo cimério, o prosaico saco com fecho, que serve para transportar um

cadáver e preservar as provas nele contidas. E neste envoltório de plástico, Moisés é

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impetuosamente inserto; o zíper percorre da ponta dos pés, achegando na

extremidade do crânio, onde vemos a serenidade no semblante do figura, como um

ser que encontra paz, após uma agonia impreterível. Em seguida o defunto é

introduzido numa bandeja de metal, conectada a um cacifo dentro do carro, no qual

comportam-se os corpos rumo ao núcleo de perícias médico-legais da região. Aqui há

o registro de cenas que denotam a perspectiva do corpo de Moisés, e os caminhos

trilhados por este. Evidentemente que nem o protagonista, quanto a plateia, hão de

compreender por imediato, o arquitetado pelo nababo. A indignação promulgada pela

aparência enganosa dos últimos eventos, logo será suplantada de sobremaravilhar,

com a consagração do orquestrado por Bruce Wayne. O pecunioso elaborara um

roteiro rebuscado para o menor derrelito. Antes de tudo, aconteceria uma aparente

defunção do menino. A opção dum medicamento sólido, que deve ser ingerido

durante o repouso, têm o desígnio de proporcionar algo de natural na falsa morte da

criança. Wayne sabia como simular um decesso, com um intricado manipular de

compostos químicos, de maneira que a qualquer momento, o medicado poderia ser

retirado do letargo. Bruce tinha plena convicção de que se o entorpecimento fosse

súbito, ou provocado num curto espaço de tempo, as entidades competentes logo

perceberiam a impostura dos acontecidos, assim como uma causa não natural de

envenenamento, poderia ser atribuída ao ocorrido. Bruce queria afastar ao máximo as

suspeitas, e para isto contara com o conhecimento superficial do guarda local, em

assuntos da medicina. A reputação dos drogados na localidade, é outro fator que

corrobora para o planeio do forâneo, porquanto a imagem abatida de Moisés seria

associada a uma decorrência da dependência química. Bruce Wayne também ressabia

que numa noite inteira, os resquícios do fármaco já não se veriam pelo dilúculo, pois

o próprio organismo haveria de consumi-los. Contudo a partida do corpo de Moisés à

caminho do Instituto Médico Legal, determina o ponto em que há a instância da

intercessão dos estrangeiros, no prepósito de recuperar a materialidade do cachopo.

Bruce temia que no exercício da perícia, o embuste fosse desmascarado, ou por

quiproquó, um verdadeiro óbito seria ocasionado. Portanto para o rapto do furtivo

Skywalker

defunto, os lordaças haviam preparado um esquema, no qual o poder do pecúlio será

revelado. Dessarte na retornança do enredo; O protagonista prossegue adentrado no

carro-necrotério, num armário de ferro, o qual servia para comportar os corpos até a

propriedade do IML. Chegando lá, os funcionários do laboratório atuam com

celeridade na ablação da vítima, para a posterior autópsia, visto que o garoto já era

dado como morto. O descaso das autoridades com a existência do menino de rua, fora

outro coeficiente colaborador com a deliberação de Wayne, haja visto que ninguém

levaria a fundo, minuciosamente, o caso de decesso dum janistroques, sem préstimo e

nem família. Entrementes o corpo partia para a repartição da polícia científica, numa

espécie de coma induzido e profundo, donde há a cessação de todas as reações

motoras e possível perturbações de funções vegetativas, como a respiração. Acolá

Moisés é desunido da cobertura de óbito descartável e colocado em uma chapa de

aço, acima duma maca movível, que é direcionada para o exame cadavérico. Em um

recinto sórdido e taciturno, que mistura o ar antisséptico com objetos metalinos e

cadáveres de variadas anatomias, vê-se um perito realizando a necropsia nos defuntos

figurantes. Ali fica claro que tratava-se duma ala destinada aos indigentes, tendo visto

lá uma relativa quantidade de corpos em estado de putrefação, como se estivessem no

esquecimento, sem ninguém para sepulta-los. O desmazelo se tornava ainda mais

claro, ao reparar que havia apenas uma geladeira, a qual abrangia poucos lugares para

acondicionar os vindimados na morgue. Moisés permanecera naquele local, como

num renque de atendimento contraditório, onde àqueles que estão há mais tempo na

espera, são os últimos a receber o devido tratamento. Neste átimo aparece a ação do

perito criminal, frente ao corpo do protagonista; ele começa a preparar o material

cirúrgico, partindo da esterilização do equipamento de praxe, até o ato em que um par

de luvas é retirado dum autoclave, para a iniciação da peritagem. Entretanto quando o

especialista ajeitava as lunetas sobre o rosto, afim de obter um renovo da nitidez,

alguém afora da sala, enceta um tamborilar na porta de entrada, comunicando a

chegança duma missiva. Naquilo o erudito suspende o afazer, que mal se iniciara,

para receber a correspondência desconhecida; ele indaga o estafeta, na busca do

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remetente, mas o mesmo não fazia ideia de quem se tratava. Percebe-se um volume

denso na carta, que permite a crença de haver algo à mais, além dum bilhete

manuscrito. O douto espera a saída do carteiro para abrir o envelope de origem

capeada; uma reação de espanto é vista no homem, ao ler a mensagem e se deparar

com o conteúdo do enviado. O técnico lia o papel aberto em três dobraduras, que

estava numa mão tremulante, enquanto na outra, via-se uma pequena pedra lapidada e

transparente, de cintilação expressiva. Agora o homem lança um olhar aferrado na

mira do personagem centro, como se estivesse a maquinar uma atitude inconcessa,

obviamente motivada pelo que acabara de embolsar. O cientista forense observa se a

sua volta, havia mais algum funcionário da necrópole, para dar um seguimento, meio

que homiziado, das galizias estipuladas na contrapartida. O apressuramento da

atuação do dissector, é evidenciado com a derrubada de alguns objetos no recinto; um

conjunto de bisturis dispostos em uma diminuta taça raso a parede, debatia na

saliência dos azulejos, e chocando-se na superfície, oscilava sons de talheres no

ambiente. A transpiração escorria numa torrente pelo rosto do perito, cujo os óculos

adstringiam a umidade, resultando um embaraçamento da vista. O apressado se

achega num cadáver, em decomposição avançada, que exigia um sepultamento

célere, sendo já prescrito nas fichas e etiquetas do fulano, a urgência duma inumação.

Diante disso a tinhanha se decifra; a prancheta do indivíduo tábido, que impetrava a

premência de um mortório, seria cambiada pela ficha antropométrica de Moisés, de

acordo com o estipulado na epístola intrincada. Dessa forma o escambo permite a

esquiva do incônscio, diante da solenidade inauferível dum óbito, por meio do

suborno de um oficial. A troca cavilosa ocorre numa fula que dispensa hesitação, pois

se aguardava a chegada do serviço funerário, para encovar um dos obliterados, em

consonância ao obituário preestabelecido. Todavia a vinda da iniciativa feral, já pode

ser notada na trama, da mesma maneira que o término da barganha ilídima. O

funcionário intermediário se aproxima do perito, que age com dissimulação, como

quem quer encobrir uma patranha, mas o atravessador não desvela isto, ao contrário,

uma rotina obstrui a percepção, através do observado. Porém no ato em que a

Skywalker

mercadoria é transferida para os cuidados do terceiro, o perito é tomado por uma

elucidação, assim como o público; ambos hão de intrujir que havia vida em Moisés,

de mesmo modo, o espectador percebe a aparição de Lucius Fox, na compleição do

servidor, o qual haveria de zelar pela veniaga. O facultativo do IML desvenda a

tramoia, só no último ensejo, no átimo do repasse de Moisés, para as mãos do

intermédio; naquele momento, quem pensava enganar, decifra que é ele o engodado.

O perito nota a vivacidade no mancebo, ao tocar o corpo, percebe a volta dum calor

modesto, mas que afasta qualquer possibilidade de morte; ao olhar a face encoberta

por um casquete, daquele indivíduo considerado como um empregado público, o

deluso constata algo além, uma presença assustadora de quem estava intrinsecamente

ligado a estratagema. Sem dilação, Lucius Fox recolhe o menino da jurisdição do

IML, que ficara aturdido, mediante a figura abismada do perito criminalista. Por

maior compreensão do dissector a cerca da infuca, um logogrífico vácuo de aclaração

ainda impera, sobretudo no que concerne ao porquê de tamanho ludíbrio. Fox arreda-

se da fundação dum modo tão alfaraz, que nenhuma manifestação pôde ser vista no

esculápio, a não ser o sentimento de confusão, ante aos acontecimentos inexplicáveis.

No santiâmen em que Moisés aparta-se do necrotério, ao romper a porta de duas

folhas do centro de autópsia, espreita-se Lucius retirando da fardeta, uma seringa com

função de alexetério, para arrancar do estado de inconsciência, o párvulo mortificado.

A aplicação do fluídico, propicia de maneira espontânea, uma matiz vívida, mas não

o regresso da consciência de Moisés. Logo a revitalização do protagonista é

convergida em etapas, sendo crucial o acesso as instalações de Bruce Wayne,

porquanto existia lá um vasto leque de recursos. Enfim Moisés parte num

Okuriguruma, um tipo de carro fúnebre com origem nipônica, que esbanja opulência

e uma sensação penetrante de luto, além de reforçar a concepção de poderio dos

Wayne. Por conseguinte Lucius Fox toma a frente da direção do automóvel

nocticolor, posteriormente ao acomodamento da criança, num postiço féretro, que de

fato constituía uma câmara de oxigênio. Fox arranja os filetes no corpo do

empedernido, assim como uma máscara de gás, numa forma de losango, é colocada

38

na face do menino. O fecho deste lance é visto em uma cena peculiar e presciente,

que instiga a perspectiva do protagonista: “um tampão que se fecha, em uma

delusória ataúde, a qual simboliza o fim da vida, mas que no Argumento, representa

o inédito incunábulo para o personagem”. A transcorrência do tempo tende a se

exprimir de maneira implícita, onde atingirá um perficiente significado, com a

distensão da nova vida de Moisés, que perigual ao espectador, destoldará aos poucos

a verdade. Para tanto se torna fundamental combinar numa filmagem ininterrupta, na

ótica do corpo da figura-centro, o auto em que a esquife é cerrada, seguido da

abertura em face a um novo mundo. Pode-se dizer que numa questão de segundos, a

visão do personagem apagaria-se no obstruir da tampa do caixão, mas sem

intermissão, uma fulguração despontaria, indicando a envasadura do fechal, como

num renascimento. Com isto o panorama de Moisés seria alienado ao observante, que

haveria de ser a consciência da criança, no âmbito de suas sensações, durante o

estado de inação daquela mente. Ainda dava para se ouvir as vozes atarefadas de

Lucius e Bruce, mesmo sem as imagens dos citados, logo após o arrastar da cobertura

móvel do túmulo. Finalmente Moisés despertaria, como de um sono prolixo, que para

nós seria alcançado no derradeiro piscar de olhos, o qual traduz a passagem do

necrotério para a morada dos Wayne.

Agora Moisés é tomado por uma luminosidade que obseda, mas aos minguados

a mesma se atenua, no passo do recuperar da nitidez, até o ponto do estabilizar-se

duma lâmpada acima do figura, num teto límpido. Então Moisés ressuscita, como em

um afogamento malogrado, de um mergulho entranhado, onde o seu tronco é

soerguido transversalmente, num proscênio similar ao de alguém que acorda dum

pesadelo. Acolá o menino observa boquiaberto os arredores, e constata uma compacta

sala de tratamento, uma clínica particular repleta de aparatos tecnológicos, que

colhiam informações de seu organismo, em meio ao conjunto de fios coligados no

corpo. Moisés se desespera diante daquele ambiente; ele arranca com abrasamento a

Skywalker

tubagem que o diagnosticava, assim como as fitas terapêuticas das narinas e dos

pulsos, para logo sumir dali. Todavia havia naquele lugar uma criança comum, que

temia a atmosfera dos hospitais, ainda mais por nunca ter vivenciado neste tipo de

órbita. Depois do mondar, Moisés corre para afora da ala de reabilitação, coberto de

um choro contido, mas que estava prestes a deblaterar-se; ele atravessa a UTI, uma

sigla conspícua numa placa acima do marco da entrada, e se depara com uma

imensidade de caminhos, ramificações com passagens relativamente estreitas e

compridas, dentro da casa, que liga uma parte a outra, um cômodo a outro, num

alegórico labirinto. Ali mais uma vez o garoto retêm o pranto, mesmo defronte de

uma solitude incondicionada. Nisto Moisés é guiado por um ruído acérrimo, que

emanava numa direção espalhada, mas possível de se acompanhar. A saída do espaço

medical, permitiu uma acalmada nos ânimos do mancebo, que passa a esquadrinhar

os detalhes da dependência, reconhecendo lá uma mansão. Moisés nota a rusticidade

da casa, pelos objetos e mobília nos corredores, assim como um pugilo de quadros

dependurados no elemento de vedação arquitetônica, uma alargada parede, típica em

habitações tradicionais. Nas pinturas podia-se ver os retratos de familiares, além da

molduragem que contrastava com a tintura do tabique. A cobertura elevada consolida

uma concepção de antiguidade, como também permite imaginar que não se tratava de

um lugar urbano, mas dum recanto no interior da cidade. Ora o soído acresce, a ponto

de Moisés aperceber um vozeamento, que insurgia no meio silencioso, mas de um

jeito limitado, como se algo o comprimisse. O pinante sente que estava perto do

bulício, onde a cada passo dado naquela direção, mais comperto ficava o rumorejo,

como num vozido entremeado com sons de apitos em variados timbres, e duma

chiadeira acessional. Movido por uma deturbadora curiosidade, Moisés gira a

maçaneta, da qual a grazinada derivava; ao rangir da portela, uma engenhosidade se

amostra para o menino; ele se atina com uma espécie de escritório, debruado com um

considerável acervo aparelhado, que recebe sinais radiofônicos e os decodifica,

transformando-os em ondas sonoras interpretáveis. O que parecia ser um

conglomerado de pessoas, na verdade não passa duma central de captação das ondas

40

eletromagnéticas, originadas da transcepção do sistema de radiocomunicação em

diversas localidades. Lá dentro, Moisés ausculta as chamadas de socorro, além de

presenciar a troca de informações entre os servidores públicos da saúde, do âmbito da

segurança, até alguns repiques do mando carcerário. Ainda observa-se por ali um rol

de computadores híbridos, no qual estabelecia-se uma interligação com a radiofonia

adjunta numa engrenagem de radares, que por sua vez transcrevia imagens dum

satélite. Naquilo Moisés se atenta para cada um dos estampidos peculiares de

circuitos eletrônicos, os quais se interpolavam com o burburinho das locuções de

rádio, causando um desnorteamento no arfante. Por conseguinte Moisés coloca as

mãos sobre os ouvidos, como quem quer tapar um som túrbido, e prossegue alguns

passos, rumo a uma sala dentro do sítio de espionagem, mas isolada da grulhada. Ao

cerrar a porta que silencia os sons da aparelhagem, o aflante se acerta com uma

departição administrativa, porquanto havia no centro um gabinete rodeado duma

papelada, que sacudia com a aragem dum ventilador sobranceiro. No tapume posto

atrás da mesa medial, Moisés vislumbra num mural, o tablier cartográfico, com

gigantescos mapas dos estados de São Paulo e Rio de Janeiro, de maneira que a

palma do mancebo cabia em cada divisão das coordenadas cartesianas. Aqui vê-se o

mapeamento social da violência pela representação bidimensional, uma vez que

existia variadas demarcações com diminutos pinos, nas regiões carentes de

equanimidade, mas minadas de revolta. Porém o petiz não para por ali, ele segue mais

adiante por um trajeto inexplorado que desembocava num copioso galpão. Adentro

do repartimento avista-se o infante por idade, mas mancebil de fato, num estado

perplexo defronte ao conteúdo do espaço; o meninote lança um olhar para o alto,

admirando o arquipélago de estantes que resguardava uma coleção inestimável de

livros. Na biblioteca particular, observa-se uma coletânea diversificada e organizada

por gêneros do conhecimento humano, abrangendo dês das ciências sociais,

perpassando pelo ramo das exatas, mas o maior repertório estava voltado para a

erudição jurídica. Portanto fica transparente a inclinação impositiva de Mister Wayne,

pois se uma instituição de ensino pode ter uma embocadura, Bruce acreditava numa

Skywalker

orientação específica para uma educação. Contudo Moisés perambulava entre

prateleiras com a livrarada, onde os atris se assemelham com arranha-céus, na

perspectiva da criança. O protagonista se sentia no centro da cidade, onde os reflexos

da luz do sol no alto dos prédios, era substituído pelo revérbero vindo da claridade

das vidraças do depósito de cartapácios. Os fragoídos dos carros e pessoas, se trocava

com os cantos dos pássaros e remexer das árvores no exterior da habitação. Moisés

andejava por entre as fileiras de brochuras, revoluteando em torno de si, dando giros

com o pescoço, como se procurasse algo no meio daquele lugar de coisas e extensões

graúdas, que o faziam se sentir perigual à uma fagulha no palheiro. Naquele dédalo

vemos uma criança que parecia retroagir um sentimento de derrelição; matutando a

possibilidade de ter sido enganado pelos lordaças. Enquanto o pequenote pensava

perder as estribeiras, um vulto farrusco vaza dum vitral, a mesma janela que servia

como clareira e pertuito para os sonidos. Moisés mal teve tempo para se agachar em

lágrimas, pois a figura indistinta fez com que tragasse aquele pranto, para logo

encher-se de medo. O badameco fixa a visão na cobertura do aposento, tendo visto o

espectro flanar na parte inferior do telhado, o que lhe permitiu acreditar num ser com

capacidade de voar. Uma ave pequena, esse era o maior pensamento de Moisés, que é

fortificado com o ouvir dum debater de asas no recinto. Ao estabelecer um contato

visual com a coisa, ele constata o que acredita ser um arranca-milho, mas com a

proximidade, a crença é derrubada na imagem dum andirá. O assombro só não tomara

conta do protagonista, porque o animal partia com açodamento dali, sem prestar

atenção ao menino, como se estivesse hipnotizado e sugado para uma direção oblíqua

da casa. O rapazelho vendo o desaparecer do animal silvestre, resolve com demasiado

receio, seguir o percurso que se acaba numa fenda na quadrela da biblioteca, donde

ocorrera a última visonha do bicho. Aí Moisés descobre que fora apartado da terra do

garoar, ao cindir um ádito do armazém de livros, e se afrontar com um longal vergel,

circunfuso com plantas de incomensuráveis espécimes; rochedos de proporções

piramidais, formavam arcos na altura do jardim, que abrangia um verdume célico; a

arvorecência e flora eram características do principal destino turístico na América

42

Latina, quanto mais por contar com grandes elevações rochosas. O rapagote chega a

crer que havia falecido, e aquele lugar seria o próprio paraíso. Entretanto a sensação

de ultravida é esfacelada com a volta dos mamíferos voadores; Moisés andava

distraidamente num corredor verdeal, segurava as folhas dos galhos, contemplando o

orvalho e os insetos hexápodes, como quem colhia uvas; repentinamente o que veio

antes como um vulto, agora atravessa o figura, numa leva inumerosa, perpassando

por ambos os lados do guri; outra vez o menino é ignorado, e o bando prossegue

rumo a declividade do relevo, que termina numa desembocadura duma itaoca. Vendo

mais uma assentada vultosa e alucinada do magote de morcegos, Moisés parte no

itinerário trilhado pelo cardume voante, só para satisfazer o interesse em saber a

razão do desvario coletivo, que se apresenta com um recrutamento forçado. Nesse

ínterim o garoto avista, no ponto extremo da declinação, o sumiço da porção

pertencente a família dos Phyllostomidae, com habitat conhecido em regiões tropicais

e subtropicais das Américas. No limiar dum recôncavo, vê-se o desaparecimento dos

troglóxenos em meio a caligem da cavidade natural rochosa, que possuía

desenvolvimento horizontal e vertical, pois os andirás imergiam por diversos cantos

do penedio. Lá dentro, Moisés caminha vagarosamente, devido a baixa intensidade da

luz, como também pela preocupação excessiva de não esbarrar nas pedras

pontiagudas. Para aquele local, Moisés nota um arrampado engenhado, com pedaços

de corrimão para facilitar o acesso as profundezas do aljube, o que ressuma a ação

humana, no meio natural. A escuridão é minorada com o alvissarar dum conjunto de

cortinas e escorrimentos no interior da cavernícola, que na mistura com a radiação

solar oriunda das claraboias, desprende um colorido esverdeado, do agregado de

musgos. Trazido pelos ecos e sombras dos animais da ordem Chiroptera, Moisés

finalmente se encontra com Bruce Wayne, que se achava no pico dum penhasco,

situado no hipógeo da gruta; feixes de luz escorriam das frestas pela cobertura, e

alumiavam parte do corpo de Wayne; o pulgueiro era rutilado pelo farol luminoso,

assim como o dorso de Bruce, que permanecia de costas para Moisés; as partículas de

terra que se levantam do chão, em meio ao facho reluzente, ouriçavam em diversas

Skywalker

direções. Diante do alcantil, existe uma estrutura em forma de plataforma, onde

quanto mais distante, maior era altura e o estreitamento, de modo que Bruce estava

no cume, um precipício larval. Aqui alumbra-se a estada do apinhado de morcegos,

que ao invés de refestelar-se na saliência do fojo, na postura de ponta cabeça,

repousava na superfície com espeleotemas de diversificantes grandezas. Diante disso

percebe-se a interferência dos estranjas na constituição do subterrâneo, de maneira a

compor uma caverna do avesso; onde o acúmulo e alojamento dos andirás era feito

em oposição ao de costume; uma passagem arquitetada e esculpida, fora alocada em

forma de trampolim rochoso, que afigurava um despenhadeiro, o qual iniciava rente

ao solo, elevando-se ao topo com uma borda alcandorada e de angustura beiral; bem

abaixo da escarpadura, concentrava-se um abastoso cardume de morcegos, que

ocupava totalmente o espaço dividido em duas bandas pelo fraguedo centralizado e

soerguido no planejamento de Wayne. Daqui pra frente se consigna por esmerado, o

abalroamento entre realidade e abstração, haja visto que há um preparado diálogo, o

qual deixará translúcida as intenções de Bruce Wayne, tanto para o público, quanto a

Moisés. Para tanto Bruce haverá de falar no idioma local, mas com muita dificuldade.

Pero o mancebo descobre o círculo em que jazera um palmeirim, o qual permanecia

em pé, com o auxílio dum cajado entre as duas mãos e o queixo, como quem

contempla um horizonte de maravilhas; o negrume era predominante, e Moisés dava

passos melindrosos na mira do abstraído. Entrementes o encalço é interrompido, no

comenos em que o protagonista tropeça num pedrisco, o qual rola desenfreadamente

nas batidas rumo ao abismo, emitindo fragores característicos de algo quebrando-se

em etapas. O barulho retira da meditação, um longevo homem, e coloca em estado de

choque, a aparvalhada criança. Neste lance Moisés compreende a altura da

plataforma, pois a queda da pedrita, o fez olhar no fundo do arcabouço, onde

habitavam os mamíferos com asas. O mancebo ficara petrificado ante a altitude,

assim como ao fixar os lúzios no escuro entremeado com morcegos polinizadores; ele

não arrisca mais algum passo, tendo visto que o medo paralisou seu corpo, mas não

sua mente, pois esta se inclinava para o discurso iluminativo de Mister Wayne.

44

Contudo a reação de Moisés ao ouvir todos os esclarecimentos do velhusco, não fora

outra a não ser de repugnância e denegação. Para o mancebo, Sr. Wayne não passava

dum estranho que enlouquecera na velhice; talvez a fala empolada, cheia de

estranhezas e lentidão no sotaque, tenha favorecido para tal acepção do garoto. Em

face da aversão de Moisés, o emérito vigilante, retira das mangas sua cartada

decisiva; ele saca no punho cerrado, um dispositivo parecido com um controle

remoto, e o estira pro deslado, juntamente com o braço esticado; ali o aparelho é

acionado e um LED, com diodo emissor de luz vermelha, passou a oscilar igualmente

a um sinaleiro. Sem compreender coisa alguma, Moisés acompanha com os olhos, o

movimento da manápula de Mr. Wayne, que conduzia o aparato como um regente de

orquestra marcando um compasso musical. Numa questão de segundos, o cenário é

mergulhado no inenarrável, onde a condição empedernida do cético, avançava para

uma apoplexia de corpo e alma. No rudimento da quimera, Moisés sente o

estremecimento do soterrâneo, seguido do assombroso levante do enxame caliginoso.

Os andirás se alvoravam num redemoinho em torno de Bruce Wayne, que estancava-

se no epicentro do diâmetro formado pelo ajuntamento. O vórtice era maciço, a ponto

de Moisés não conseguir mais avistar o idoso no núcleo da agitação de sentido

antitrigonométrico. Uma esterroada ensurdecedora derruba, o cá trepidante, no

terrado da caverna, que alastrava por todos os ângulos, um zéfiro do ruflar de asas em

comunhão. Como não era possível enxergar Bruce, nas entranhas do circuito

tremebundo, o figura- cerne passa a observar um tremeluzir, do que personifica uma

batuta de maestro. Mesmo sentado no torrão, Moisés conseguia entrever a deslocação

da lume vermelhusca, e nisto ele decifra o segredo da funcionalidade daquele

mecanismo remoto. O terrificado percebe que a caterva de morcegos, traquejava na

mesma direção do luzimento rubro, oriundo da espécie de bastão curto, que traçava o

andamento daquela leva inabalável. Mediante disso, quando a rutilação ia para um

lado, o bando convergia para o mesmo, mas mantendo um perímetro invariável com a

fonte de resplandecência. Nisto Moisés atenta para um fluxo que penetrava por

diversos orifícios do antro, rumo ao enxame em formação, como se fossem atraídos

Skywalker

para a confluência previamente incitada. No entanto o velho Wayne, toscando o

ensurdecimento do menino, resolve se aproximar de Moisés, que começa a retrotrair-

se, recuando com temor do levante. Aqui Bruce Wayne articula uma alocução, que

reivindica uma superação do medo, frente ao extraordinário, mas a criança de tão

aterrorizada, têm os sentidos deturpados. Então o matreiro lança aquele dispositivo

controlador, por acima do torvelinho, num trajeto em parábola, do píncaro da sáfara,

até as mãos de Moisés. Na cola da batuta, vinha o cardume de andirás, não mais na

composição dum rodamoinho, mas numa forma afunilada, onde a ponta seguia o

rastro da curva plana. No susto, o mancebo agarra o objeto coruscante, e o bando vêm

no mesmo embalo da lançadura, rumo a face de Moisés, que ficara sem qualquer

reação. Quando o cachopo percebera que seria atravessado pelo magote, ele obstrui

as pálpebras numa resposta do corpo, em face a um eminente acidente. Entretanto

Moisés nota de olhos cerrados, uma brisa tênue, ao invés da amolação do físico. No

ato em que há a reabertura das vistas, a criança contempla, maravilhado, uma

separação da corrente sombria, onde uma parte seguia em sentido inverso, já a outra,

num curso trigonométrico. Moisés encontrava-se no centro da voragem, assim como

permanecera Bruce, enquanto tinha posse do luzeiro. Somente ali o protagonista

compreendera os propósitos de Wayne, e nenhuma dúvida restara a respeito do que o

velho havia dito. Moisés tinha uma farta convicção sob algo além das carquilhas do

idoso, pois mesmo no meio do redemunho, via-se no alto da colina, o escanado com

um tipo de olhar carregado de suntuosidade, como alguém que resguarda um passado

portentoso. Destarte Moisés sobrexcedia aos parcos, a agoniação derivada do culape,

e uma sensação de desassombro, dominava o seu ser. A corônide da presente cena é

propagada em aglutinação com o terceiro e decisivo salto no roteiro, quiçá o de maior

notabilidade, sendo que exprime o concluimento do proêmio da figura-macota deste

Argumento. Desse modo a arte abstrata assume o comando da maranha, tendo visto

que não é mais de valimento ilustrar os primórdios do personagem, mas sim efetivar

o consagramento dele no ambiente social coetâneo.

46

Em relação ao derradeiro salteamento no enredo, é preconcebido uma

construção congenérica a dos pulos já descritos, sempre evitando a viciosidade nos

mesmos, de maneira a se criar algo de novo em cada um deles, sem afastar a ideia de

transição do tempo. Diante disso teremos: o protagonista no íntimo da voluta em

espiral do enxame de morcegos; a película deverá abranger a perspectiva de Bruce

Wayne, ou do espectador, com o fim de obter um panorama de alguém que esta afora

do torvelim. Desta forma veremos, dum modo lobrigado, um menino no

semidiâmetro do rodamento, por entre a circunfusão helicoidal de andirás. Com o

suprimento duma melodia, ter-se-á uma constituição dum mito; a trilha musical há de

acondicionar o episódio de confrontação do medo, onde um mancebo supera os

temores, ao mesmo passo do amadurecer, até o ponto de transfigurar-se num homem

crescido. Portanto quando Moisés sair do alveário, não será mais aquela criança

medrosa, coalhada de receios e dúvidas, as quais caracterizam um indivíduo que mal

obteve acesso a educação para desenvoltura do intelecto. O desenlace da voragem, é

visto com um homem maduro no lugar do badameco, mas ligado a Moisés por traços

particulares, como a cor de pele, representado desta maneira a definitiva precipitação

do tempo. O desmanchar do remoinho entorno do protagonista, é acompanhado com

o cessamento da trilha sonora, a mesma que serviu para embalar a maturação, assim

como a retomada da cadência na trama, sem mais transposições. Porém a crescença

de Moisés é concomitante com o fortalecimento de seu caráter, até mesmo a relação

de estranhos, passará a ter um vínculo inquebrantável, como da prole para com um

educador, sendo este entalhado na imagem de Bruce Wayne. Portanto os momentos

terminantes hão de ser descritos doravante, uma vez que a formação do cunho de

Moisés fora modelada, segundo os preceitos dum preceptor e paredro, sem afastar a

herança etérea do falecido carroceiro. Embora um conselheiro, a figura do lordaça

não veio para reciprocar a paternidade do acolhedor, mas como via de gnose, pois

através dele, uma enormidade de meios pecuniários, se farão disponíveis ao

discípulo. Contudo a lembrança de quem o acorrera, jamais cairá no olvidamento do

protagonista, mesmo se não existisse um encontro com um novo universo, Moisés

Skywalker

permaneceria firme nos ensinamentos do ancestral, e este é o pensamento mor que o

público deve absorver. Todavia não havia um dia sequer em que Moisés deixava de

pensar no almo, naquele que o manumitiu das vísceras do acogulado de despejos,

dando-lhe uma existência respeitável, mesmo em meio a tantas dificuldades.

No retrocesso do entrecho: A espiralagem ao derredor do menino, vai

escarcavelando numa malemolência, partindo das arestas, onde todo o alor maquinal,

provocado pelo estado de torpor induzido e coletivizado, é convertido numa

naturalidade do adejar dos morcegos, rumo a reentrância da caverna. A artificialidade

se desmorona, no mesmo andar que rompia o enxame negro no vértice do

desfiladeiro. As laterais são desocupadas, não a ponto de desencerrar o mancebo, pois

este permanecia coberto no núcleo do sorvedouro, mas ainda se espreitava o

dispositivo remoto, que agora emitia uma luz víride, como se indicasse uma

inatividade. Nisto a tarja vultuosa que encobria Moisés, se desfaz inteiramente,

permitindo assim constatar a medrança do personagem; de princípio o recente

panorama traz a impressão duma outra pessoa no lugar do figura, mas o sinais de

nascença derrubam tal interpretação. Aquele cujo o olhar era contrito e vexado, passa

a demonstrar uma autoconfiança realçada no próprio semblante, ainda mais em vê-lo

segurar o controle na palma da mão, como quem tinha pleno domínio de suas

funções. Rapidamente o archote se apaga, e nenhum andirá ficara sobrevoando o

penedal, confirmando deste modo que a hipnotização estava associada a algum

mecanismo do aparelho, não relacionado precisamente com a luz emitida, mas

afincado na ecolocalização. Então com o controlador praticamente desligado, Moisés

segue na mira de Bruce, que se achava no cimo da plataforma engenhada, na mesma

contextura em que fluíra o vórtice com a precipitação dos anos. No apropinquar dos

figuras, vê-se a solidificação do relacionamento, uma vez que ambos passam a

dialogar no mesmo idioma do estrangeiro. Se Moisés havia amadurecido, Wayne

parecia um pouco mais velho, sendo possível notar o acréscimo de algumas rugas no

48

rosto, mas nada que desviasse o foco da muda dum menino para um adulto. Ali um

indivíduo que em noutrora, mal sabia comunicar-se no dialeto nacional, esbanja

traquejo ao confabular com o idoso, num trato poliglota, expressando uma

familiaridade e contubérnio. Moisés se ajunta com o vedro, na intenção de auxilia-lo

a descer do rocado, já que apenas o arrimo do bordão, não era suficiente para a

locomoção dum encarquilhado coxo. Diante do sucedimento nupérrimo, fica

perceptível uma arrancadura nos acontecimentos, a qual eclipsou alguns eventos

salientes, que de cara ao espectador, pode gerar uma lacuna de significação. Portanto

é valedouro ressaltar de forma subentendida, com o uso de entrelinhas no enredo, os

notórios panos de fundo dum filme, nos quais haverá o colmatagem dos vazios até

aqui gerados. Logo em segundo plano ter-se-emos um conglomerado de informações,

por meio de jornais, fotos, rádios e outras mídias, de maneira a transfundir a ideia

duma atmosfera contemporânea, que revela a problemática da violência. De volta ao

enredado: Um manjaleco e o caiongo seguem passos cuntatórios para adiante do

algar, no exterior do propugnáculo de andirás, rumo a talude que deságua num

opíparo horto. Acolá Bruce pede um favor a Moisés, que imediatamente compreende

a pretensão de prosseguir para o privativo cemitério, dentro do jardim. Sem remediar,

ambos adentram no fossário, mas é o velhustro a ficar comovido, ao se deparar com

uma sepultura, e na laje colocada em forma de lápide, vê-se a inscrição em nome de

“Alfred Pennyworth”. Ali Bruce pratica uma rotina de condolências, que abaliza a ideia

da estância dos lordaças, há um longo tempo no país tropical. Acabando-se a

solenidade, os figuras partem para o interior da casa, como numa visão dum avô e um

neto, o qual amparava a caminhada do outro manco de uma das pernas. Na

privacidade da habitação, os dois compadres logo se afrontam com uma terceira

pessoa, o qual também envelhecera durante o salto da cadência, mais ainda mantinha-

se melhor conservado do que Bruce Wayne. Ali vemos novamente a presença do

procurador de Wayne, Lucius Fox, aquele que tinha a incumbência de representar o

patrono, além de promover os mais diversos recursos, logicamente financiados. Após

o encontro dos personagens, o trio parte para o repartimento de observação, pois Fox

Skywalker

anunciara que um grande rebuliço se fazia presente nas comunicações radiofônicas.

No sítio de captação e monitoramento de ondas moduladoras, o respectivo centro de

inteligência da bastilha, nota-se a tríade numa compenetração perene. A concentração

estava volvida para a noticiação urente, que cobria o colapso parcial no fornecimento

de energia elétrica da região. O alvoroço se ampliava, porque a autoria do blecaute já

era conhecida e antecipadamente declarada; as rádios cariocas discutiam

energicamente a questão do apagão, não pela calamidade pública ocasionada, mas

pelo fato da omissão das autoridades, em face de algo que repercutia a um longo

período nas ruas. Deveras quase toda a população tinha conhecimento de que a

qualquer instante, poderia acontecer um black-out premeditado, a queima de veículos

de transporte comunitário, ou algo mais ruinoso, pois sabia-se do aparecimento duma

nova seita criminosa, a qual prenunciara a tomada do governo e do controle

incondicionado de serviços basilares, como num atentado terrorista. Dessarte a

criminalidade fontal se organizava dum modo conturbado, ao mesmo passo que

incorria uma unificação, mas tal coalização originou o colapso e confronto entre as

facções do crime. Pouco podia-se conjecturar a cerca da origem deste hermético

grupo de insurrecionados, até mesmo cogitar qual era o seu ânimo, se este estava

arraigado no piáculo, numa busca por lucro, ou na iniciativa de ONGs. Alguns

arriscavam dizer que um bando estrangeiro viera ao país para instaurar uma moderna

ordem para a ilicitude, porquanto circulava pelas comarcas uma droga alucinogênica

de ínfimo custo, tanto ao produtor, quanto para as demandas. Por conseguinte a

retomada do abastecimento de energia, vêm a público, os representantes do Estado,

para desdizer e mistificar a causa da pane difundida. O secretário de segurança da

localidade, num discurso categórico, renega quaisquer envolvimento do facinoroso,

na interrupção do suprimento de eletricidade; ele ainda acrescenta à prédica, que o

governo, em nenhum momento, havia dado costas para as ameaças, pelo contrário,

uma ação extremada fora implementada desde o primeiro arreganho. A arenga

termina com palavras de tranquilização, nas quais objetiva-se desatemorizar a

população, além de trazer garantias de que os atos de violência organizada, vistos em

50

meados de 2006, não se repetiriam por lá. O pronunciamento era transmitido em

todos os canais abertos, por estado fluminense afora, mas o encerramento do mesmo,

já é seguido pela cobertura imprudente das mídias televisivas. Perdita a leviandade

destes meios de comunicação, possa estar ligada à aquela primitiva necessidade em

apresentar explicações para a massa paisana, como quem acredita trajar uma

realidade absoluta. Francamente as organizações de informação, manifestam uma

determinada presunção, maquiando-a como se ela representasse uma exatidão,

mesmo em circunstancias nebulosas, onde parte alguma pode deter ou precisar a

verdade. Contudo a sublevação que pairava no ar, constituía num agravamento das

investidas do celerado, contra o bem estar social; se de fato fosse atribuído

malfeitoria ao desligamento de energia, que com isto seria proposital, uma

sabotagem, teríamos a intensificação das ações criminosas, com uso sistemático do

terror para oprimir ou impor a vontade. Sendo assim quase todos os canais

televisionados, realizavam uma cobertura jornalística sobre os recentes

acontecimentos; inclusive a maior parte da programação das emissoras fora

interrompida, só para dar exclusividade aos latentes impulsos do crime. Enquanto um

lado se convencia da autoria, a outra parte culpabilizada se achava desmantelada, pois

nem mesmo os líderes sabiam o que acontecera realmente. A estrutura criminosa

havia sofrido uma abaladura voraz, a qual empestou de acracia, um sistema resultante

da negligência dos águias estadistas, assim como das classes optimates. A

bandidagem estava tão preocupada em se reestruturar, que mal dera atenção para a

conjetura veiculada pela Mídia. O durame da organização criminal, o coração que

bombeia e sustenta a máquina da ilegalidade, fora completamente demolido pela

presença dum mercador, o qual trouxera consigo uma produção de narcóticos com

suma competitividade. A concussão transcendia o mercado das drogas, atingindo todo

o liame que dela transverbera. Uma velada crise econômica, flutuava no âmbito dos

negócios, em virtude da queda abrupta dos índices de lucros, apresentados por

algumas empresas. Um desmascarar começava dali em diante, pois a ruína da

economia, arrancou o véu daqueles que atuavam as escondidas na injuridicidade, na

Skywalker

gestação dos entorpecentes, dês da importação para o manufaturar, até a sua

distribuição. É sabido que para o acesso e efetivação do comércio das substâncias

tóxicas, causadoras da síndrome de abstinência, é necessário uma segmentação de

vistas grossas da aristodemocracia, na qual vive-se hoje. Porém com o cair da

anteface dos empreendedores da droga, tornou-se difícil uma inércia para as

autoridades, e uma intervenção do Estado, passou a ser vista desde então. Um certo

número de prisões se concluíra, da mesma forma ocorrera o fechamento dos

estabelecimentos de fabricação dos tóxicos, mas nada que perturbasse a manutenção

do empreendimento. O que a mídia interpretava como um confronto de poderes, na

realidade se restringia a manipulação de alguém bem acima e seguramente oculto.

Em contrapartida notava-se uma colossal iniciativa privada, que abraçava da

implementação de casas para o sazonamento de dependentes químicos, estendendo-se

a ações de substrução, como o revigoramento do ensino público, principalmente nas

zonas carecidas. As atividades de capital misto, nas quais colima-se a reestruturação

do alicerce para o venturo, estavam supostamente ligadas aos grandes eventos que o

Rio haveria de sediar. Entretanto a mesmo coligação ádvena, reputada por fundar um

ditame modernoso para o mercadejo da droga, também seria a responsável por

refocilar o pedestal da sociedade, mas isto não se podia revelar. Com este escólio fica

clarividente que não houvera somente um salto na vida dos personagens, mas idem a

conjuntura do enredo lançara-se para um ponto improrrogável, o apogeu da intriga. A

balduína que açambarca o entusiasmo da estória, chegara num estágio derradeiro,

onde há a realização da figura-título, assim como sua edificação por meio dum

aparecimento imponente. Dessa forma haviam duas forças que se intensificaram na

trama; de um lado ocorrera o putativo recrudescimento do crime, baseando-se numa

inovadora traficância da droga; na contraposição, contemplava-se o conjunto de atos

para a reconstituição do vindouro, com base no amparo à educação, algo que

aparentemente é conferido as Olimpíadas porvindouras, pois já era esperado uma

margem de investimentos para a aclimação de tal evento. Afinal a retrogradação do

urdume é vista com a catadura de Bruce, com um riso reticencioso e dotado de ironia,

52

em face do sensacionalismo apregoado pelas mídias locais. Ora as comunicações são

cortadas pelo velhustro, com intuito de reintegrar as atenções do compadrio, tendo

visto que aquele era o momento tempestivo para a consumação do planejado. Ali é

realizado uma espécie de reunião, que definirá o papel de cada um dentro do

esquema, que forceja escancarar a todos, quem era e qual é a finalidade deste grupo

sibilino. Moisés auspiciando que haveria de agir em breve, é lestamente tomado por

uma escandescência capaz de levar a uma ansiedade nociva, ou transformar-se em um

ímpeto e adustível. Entrementes o protagonista ansiara a tanto tempo por esta

oportunidade, que quando a conquistara, não acreditara nela de início. Decerto os

longos anos de aprendizagem e preparação, finalmente seriam colocados a provação,

algo que de fato já se fazia corrente, pois Moisés combatia o crime duma maneira

sigilada, nos bastidores da atuação. Quase que diariamente, via-se o feito partir em

ações de inteligência; sempre portado com uma jaqueta escura e capacete de

motoqueiro, parecendo-se mais com um funcionário encarregado de fazer entregas

rápidas de motocicleta, além de ir acompanhado dum radiocomunicador, pelo o qual

interagia diretamente com Bruce e Fox, situados na mansão interiorana; ainda

percebia-se em sua roupagem, um aparelhamento iconoscópico destinado a capturar

imagens, uma genuína câmera fotográfica, com a qual registrou os maiores pontos da

criminalização, como num mapeamento das facções e milícias; o protagonista

também trazia consigo uma cédula de identidade, com a adscrição de “Moisés Wayne”,

agora caligrafado com uma acentuação em múltiplos sentidos. Em suma as investidas

do cá coadjuvante, foram fundamentais para derrocar a atual injunção da droga, que

como sequela motivou a pernície da criminalidade. Pero o leitor mais assíduo há de

indagar a razão da imaginada corrução de Wayne, haja visto que o mesmo influía

como um filantropo, ao empregar recursos para a desenvolução das comunidades, no

mesmo passo de operar como um modernista traficante dos psicotrópicos. No entanto

o que aparecia-se como uma substância psicoativa, na efetividade a mesma atingia

níveis de antitoxina adverso ao consumo degenerado, como um inibidor e

desestimulante da respectiva apetência. Por si só, o remédio jamais sanearia a imane

Skywalker

massa de praticantes do pó, mas irrefragavelmente aquilo tinha como escopo os

indivíduos baldos, que afundaram num grau irrecuperável do vício. A medicação

criada, não chegara a uma produção em larga escala pública, em virtude do alto

custeio e da tecnologia envolvidos, sem contar as prioridades duma plutocracia, pois

se o desamparo abrange a criança, o idoso, …, quiçá então os drogados. Ainda assim

o fármaco na forma de pseudo-cocaína, servia como o pontapé primordial para um

tratamento numa das clínicas de reabilitação recém abertas e com livre acesso, as

quais tiveram origem na ostensível ação de capital privado. Aliás não há nada melhor

para se capiscar os trâmites do tráfico, do que realizar integralmente o circuito da

droga; partindo do importar no estrangeiro (algo que de fato acontecia, pois Bruce

possuía inúmeras empresas e laboratórios no exterior); seguido do corrompimento

sacramental; e atingindo-se a estaca final, o empório e a comercialização do produto

ilícito. Destarte fica escrachado apenas ao espectador, que Bruce Wayne agira como

um grande manipulador, onde a Mídia, o crime, a população e o Estado alegorizam

fantoches involuntários. Agora a conduta espontânea difere da inconsciente, haja

visto que a primeira beira ao descaso, a um consentimento daqueles com consciência

de grupo. Portanto os títeres cônscios da atualidade, emblemam uma classe social que

se deixa manipular, na escusa de quem não têm o gravame da mudança, mesmo

detendo o poder para isto. Com tudo isso a risota lançada pelo velho Bruce têm sua

significância, do mesmo jeito o peso que seria colocado nos ombros de Moisés, cujo

o sobrenome também passara a pertencer a dinastia dos Wayne, como um lítico

herdeiro. Nesse ínterim o sob pressão, conseguira assimilar os fatos, e aquele choque

inicial, já tinha-se como ultrapassado, o que nivelou corpo e mente em uma vertente

estratégica. Com desempeno o trio se desaduna, e cada qual segue uma vereda, mas

Bruce fazia questão de acompanhar o discípulo, pelo menos até o grau de sua

independência. Ambos cruzaram as acomodações do alcácer, num ritmo açodado,

mas que abriga uma atmosfera silente, como numa liturgia ou em uma atitude

extrema, de excessiva concentração. Eles alcançam um elator, o qual desaguava numa

potencial garagem da morada, pois mesmo com as luzes apagadas, ouvia-se

54

estampidos de motores. A iluminação do repartimento é encetada, e seu alagar-se

ocorre dum modo gradativo, mas com o desenrolar-se, ficara inteligível que o local

sobrexcedia um trivial abrigo para automóveis, porquanto havia lá uma área imensa e

apenas dois veículos. Aquilo representa um estande de testes corpóreos e

psicológicos, tanto para homens, quanto a instrumentos, mas ainda era servidiço

como armazém para estocagem do maquinário. Lá dentro havia uma câmara num

formato retangular e de material cristalino; no centro do cubículo via-se, dependurado

por uma haste, uma agongorada armadura de matiz integralmente lúrida. O contraste

partia da clareza do recinto, para o negrume dos objetos, como quem pretendente uma

camuflagem, para o ambiente noturno das cidades. Sem evagação a dupla parte na

mira da espécime de Arnês; Bruce permanecera afora do tetrágono, enquanto Moisés

ingressava no reservado deste compartimento diáfano. Agora o preletor aciona uma

série de alavancas, que fazem mover a armação da arca, resultando na abertura do

traje caliginoso. O esqueleto do induto é repartido duma maneira lógica, que

possibilita a completa acomodação de Moisés, numa colocação centralizada ao

deslocamento efetuado, recostado em uma ara vertical, donde instalara-se aquele

manufato. A estrutura era composta por um exosqueleto escleral, uma placa de couro

curtido com a função de guarnecimento anfibológico, além de adornos que trazem o

acabamento do artefato. Naquilo o protagonista muda a postura do corpo, estendendo

os membros a estremadura exequível, como num abrir de braços e pernas, que

facilitará a ensambladura da fardamenta. Nisto vê-se várias demarcações pelo

tabuame, o qual guarnecia a sumptuosa armadura, mas que passou a comportar o

personagem basilar da trama, num ritual de encarne envolvendo máquina e homem.

O delineamento que define a posição correta para o êxito do encaixe, só corrobora

com a acepção inventiva do maquinado, criado por alguém que conserva um vasto

conhecimento em engenharia diversa. Sem pejo, o mentor inicia a sequência de

comandos, que fundirá o corpo da criatura com a ossamenta da coisa arquitetada.

Primeiramente ocorre a juntura do dorso, que é a base da carcaça, para a finalização

posterior, com o paramentar dos adornos, as peças de revestimento cabais, mas de

Skywalker

valor constitutivo. Em nenhum instante houvera uma movimentação, a não ser da

mecânica braçal que conectava a parafernália no figura, o qual permanecia atado

verticalmente num altar de construção. Como em uma linha de produção, tinha-se a

percepção visória e auditiva do funcionamento daquela engenhoca. A cada aparafusar

e conjungir das engrenagens, escapulia a imagem de Moisés, na mesma proporção

que transmontava a pirilampagem de algo medonho. No final da montagem, restara

unicamente uma monstruosidade, e qualquer resquício do homem paciente, não se

fazia mais presente. Nisto a mesa de criação realiza um movimento de rotação,

perpendicular ao arranjo anterior, remanejando a nova criatura numa postura de de

ponta-cabeça a pavimentação. Agora uma espécimen de pálio é enovelada em

Moisés, ou pelo menos no que remanescera dele; ali a capa é posta como um casulo e

involutório que possibilita a absoluta mimetização no meio das sombras, como um

criso para o personagem. Completado a operação de ensamblagem, onde há a

unificação da armadura com o manejador, percebe-se um salteamento de nervos no

compósito, que representa alguma coisa vivida dentro do entraje. Vislumbrando a

gênese dum mito, Bruce resolve promover a soltura dos ferros que mantinham

acinésico o invento fascinante, e ao mesmo tempo tenebroso. A liberação do

acafelado é vista com a inclinação da estrutura de armação, a qual conservara o

palendrengue obscuro, ora maneado pelo figura portento. Aqui a câmara especular é

tomada pela névoa, oriunda da evacuação de gases adiáforos a obragem que

conjuntou em Moisés, uma armadura mística. Ali o que apresentava-se como algo

excessivamente pesado, passa a locomover-se livremente, só tolhido pela força

natural da gravidade. Com a dissipação da bruma é possível tornar a ver, o

personagem basilar, trajado num manto dedáleo, de valor incalculável. Ali um

homem é transfigurado num ser pasmoso, fundado na psicologia do medo, como

artifício imperativo para a destruição do ímpeto criminoso. Se Moisés já aparentava

uma anatomia corpulenta, com a vestimenta não seria diferente; um aspecto supino

fora agregado ao figura mascarado, além duma flexura potencializada, após o uso da

vestidura. Desse modo ficara implícito, que o traje iria muito além da sorrelfa, como

56

um recurso de adaptação, ou mimetismo as eventuais necessidades. Por fim a

comunicação entre Bruce e Moisés, é restabelecida, não mais oralmente, mas por via

rádio; o paredro saca do bolso um emissor e receptor portátil, com o qual ouve da

própria boca do discípulo, a confirmação triunfal da acoplagem do traje. Por

conseguinte ambos partem para o tracejado, cada um numa trilha específica e

estuante em matéria, mas alinhada num mesmo desígnio. Ainda há um último

colóquio entre os figuras, no qual um deseja sorte ao outro, mesmo sabendo da

irrelevância daquilo. No ato em que Bruce regressa ao elevador, Moisés partira para a

montaria num veículo de duas rodas diametrais, movido por um motor de explosão

rumorosa, e chapeado com uma blindagem negra. O pneu traseiro de maior

proporção, é engatado com o torque da embreagem, cujo a queima fez abrasar no

asfalto, um anel vaporoso, envolta da dita roda. O roncar do arranque fora alternado

por um mutismo ocultante, logo após a primária ignição, o que indica uma função

tecnomilitar. Enfim a condução adentra no completório do depósito, interiormente a

um tunelamento, que por sua vez emergia numa estrada, no lado externo da mansão.

Deste ponto em diante será descrito a incursão da figura-master, no indiferente centro

urbano até as temíveis e imêmores periferias da Cidade Maravilhosa, com o intuito de

declarar socialmente, um regimento tranchã.

O calar da noite flumínea é observado precocemente, nem mesmo a

asseveração proclamada pelo ministério da segurança, fora capaz de conter o

sobressalto da população, no qual houve o acovardamento ao lares, dos que pelo

menos possuíam algum. As ruas ficaram desertas, o comércio fechara antetempo, e

um policiamento se intensificou por diversos cantos da urbe. Inúmeros comboios de

viaturas, transcursavam pelas ruelas da cidade, e quem fosse encontrado

perambulando na caruca, era cotado como um agente do crime. Os remanentes que

não se recataram, seja por razão do retarde no trabalho, pela falta de transporte, ou

por uma inexistência de domicílio, tinham ampla probabilidade de parar numa blitz.

Skywalker

Um toque de recolher, com natureza instintiva, fora instaurado e absorvido por todas

as classes sociais. Até mesmo a Mídia não ousava uma cobertura terrestre, mas a

utilização de aeronaves, com suficiência de elevar-se verticalmente, pairar no ar e se

deslocar por meio de rotores, passou a ser cruciante na atividade jornalística. A

verossimilhança com o clima experimentado nos ataques do Primeiro Comando da

Capital, é a matriz das seções noticiosas, mas havia uma lucubração a respeito do

envolvimento de facções criminosas da localidade, especialmente do Comando

vermelho, o medular articulador do crime no estado do Rio de Janeiro. Mesmo não

decretado uma suspensão parcial das garantias constitucionais, para se combater

ameaça interna, a própria massa civil havia promulgado tal atmosfera de conturbação

social. A taciturnidade campeava num ambiente de mandiola disseminada, e o sistema

prisional já repulsava ares de sedição, o que fomentou um reforçamento na guarda

das penitenciárias da região. Uma ventania encarrilhada, vaticinava a vinda dum

plúvio grávido, mas que ficara só na predição, pois sequer houvera o precipitar de um

chuvisco. O barulho da folhagem sendo carreada pela corrente de ar, adensado ao

arquipélago de nuvens plúmbeas no páramo, nutria a ambiência de sobrosso

socializado. Todavia Moisés, revestido num trajo profuso, partia na montaria duma

máquina motorizada, de tração integral para superfícies acidentadas, mas que permite

uma lepidez e fricção sublime no asfaltamento. O sentinela seguia no conjunto de

autoestradas que permeia os cinturões verdes, os hortifrutigranjeiros, e as vias rurais

ao estamento urbano, rumo a metrópole da discordância. No percurso o personagem

atravessa uma cordilheira de entulhos, o aterro sanitário do Jardim Gramacho, em

Duque de Caxias; no topo do monturo, havia uma porção de infantes, que

trebelhavam em meio a um volutabro colateral ao consumo infrene. A fantasmagoria

alvoroça a molecoreba, a qual dispersara em distintas direções, na busca de qualquer

adulto que possa aquinhoar da assombração presenciada. Porém o vulto é tão fugaz,

que nenhum vestígio restara no nicho da inópia, a não ser retalhos de papelicos, os

quais ficaram em suspensão, após a corredura da figura muliada. Ainda o pertransir

do protagonista, transpõe o umbral duma edificação morruda, que constitui um asilo

58

afastado da megalópole, reservado para o confinamento de orates, os cometedores de

delitos em insânia. Na frontaria do frenocômio, via-se de relance uma placa com a

epígrafe: “Elizabeth Arkham Asylum”, seguida do algarismo romano “II”. O hospício

fora inaugurado recentemente, mas tinha um filão indistinguível; dentro do enredo,

sua implantação é atribuída a uma ação de capital dissimilar, que representa a

aplicação de recursos privados para a restruturação do sistema de reclusão. A

fundação tinha o intuito de separar o joio do trigo, desvencilhando a conduta criminal

do alento vesano, além de descongestionar as cadeias locais. Contudo a instituição do

manicômio concebera-se através do empreender de variegadas empresas, as quais

aparentavam autarcia e distinção, mas por mais que fossem independentes entre si,

não deixariam de submeter-se a um alvedrio empíreo. A existência de alguém

nubívago, capaz de manipular politicamente os interesses ambíguos, o poder público

e privado, é inapercebida na trama, e somente o espectador descerrará um instituidor

arcano. Entretanto quando o debordamento parecia penetrar na conurbação, o esculca

metuendo desvia da rota iluminada, para adentrar numa carreira de terra obscurante.

A estrada carroçável culminava num matagal, que forçara a abdicação do protótipo e

tunagem duma Chrysler Tomahawk, para um itinerário a pé, mas de equivalente

freima. Acolá o fero rompia com prurido, um semideiro debruado num jângal, que

projetava-se numa elevação obstante ao alcance humano. Porém Moisés ao avistar o

aglomerado de rochas, que excogitam uma barragem natural, não demonstrara

abstenção, pelo contrário, um aceleramento extremo fora dedicado dali em diante.

Nisto apercebe-se o enrijecer da musculatura do figura, onde a canelura de nervos

salta para afora do traje; o esforço anagógico é atrelado ao denodo físico, como num

salto olímpico, que requer a máxima disciplina do corpo e mente; uma padreação

gradual passou a ser executada junto a manobra de transposição. Agora os pernames

do figura realizam um alor estrídulo, começando com miúdos pulos, aonde os

membros inferiores revezam a tungada com o solo. Decerto a cada passada, mais

impulso o personagem angariava, de modo que no último pincho, as duas pernas

cravam no relvado, e o flectir dos joelhos proporciona uma impulsão sobrenatural, a

Skywalker

ponto do figura escalar os rochedos intransponíveis. Depois da encravada que

concedeu a extranumeral força vertical, o alpinismo granjeara demasiada veemência e

elasticidade. Aqui fica perspícuo na armadura, uma possibilidade de potencialização,

para aquele que desfrutar do entraje, mas ainda é imprescindível a habituação com

tais articulações. No manto existe um mecanismo, que recupera a energia cinética

desperdiçada e liberada pelo calor, transformando-a num sprint ao utente do traje, um

tipo de KERS baseado no sistema anaeróbio do corpo humano. Dessarte o

escalamento atinge a desinência da serrania, no pico da colina, assim como o

arranque do induto caliginoso é finalizado. Na sumidade do monte, a figura pitoresca

dum mito, caminhava para a fímbria do outeiro, no ressalto de um rochedo que

termina num resvaladouro mortiço. No cúspide da ladeira, o varonil justiceiro dobra

os tendões patelares, com o intuito de manter-se inclinado naquela extremidade. Ali

contempla-se no horizonte visual, o cenário noturnal duma banda da cidade, onde a

astrotesia no céu se equiparava com os pingos luminosos da urbanificação, como

numa postiça constelação. Nesse ínterim a comunicação entre os cúmplices é

reintegrada, e Moisés aguardava pacientemente a autorização dos experientes, para

dar continuidade a saltada no morro. O intercurso era gerido por Bruce, mas a

participação de Lucius Fox é axial, uma vez que a vênia se restringia a atribuição que

desempenhara. Pero o longevo banto apregoa que sua parte havia se consignado, e

dali pra frente regressaria ao poscênio da estratagema, reunido-se a Bruce no

tabernáculo interiorano. O fecho da conferência é marcada com um sobreaviso do

velho Wayne; com uma rouquidão na voz e sagacidade de espírito, o regente da

cavilação reafirma a ruptura radiofônica que há de advir, onde o trio ficará

incomunicável por indeterminado período de tempo; o dirigente também assela a

onusta crença em seu tutelado, como num elóquio motivador e derradeiro. Depressa a

radiofonia é abortada, concorde ao vaticinado, donde fala alguma remanescera, a não

ser os zumbidos dos grilídeos saltadores no silvado. Entrementes Moisés inclinara a

visão para os confins do povoamento, na pontaria dos pontículos cintilantes, como se

esperasse um presságio permissivo. Aí ocorre sumariamente uma obliteração na rede

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elétrica do território, como numa queda repentina, que superabundou o clima de

assombro na cidade; gradualmente via-se o desluzimento da região, como se alguém

manipulasse um mero interruptor, mas de eficácia descomunal. O artífice do blecaute

é finalmente revelado, mas tão somente ao público, pois até aqui nenhum pródito do

mesmo havia sido exposto. Portanto Lucius Fox fora o promotor do embargo

energético, que refundou na ablepsia, o fôlego dos que julgavam desvelar os

acontecimentos transatos. Nas esquinas desabitadas, não existia um sequer tato, olfato

ou quaisquer resquício da gente urbana, só imperara o sentimento inquietante que se

tem diante duma ameaça contínua. O enjaulamento da massa policiada é optativo,

mas dificilmente alguém atreveria nadar contra a maré conformista. Seja lá qual fora

a ardileza que Fox utilizou para depor o luzimento dos poucos favorecidos,

certamente todos seriam colocados como semelhantes diante da cismática escuridão.

Em meio a tudo isso podia-se ver Moisés a encarar aquela negridão sobre o aterro

civilizado, que ao invés de relumbrar por entre a cadeia de postes e edificações,

refratava borrisco lumiosos do tráfego remanente. Assegurando-se da completa

caligem no meio povoado, o sobrestante incógnito resolve dar prosseguição ao

assalto petrificador, que revelara uma adversão para os alarifes do crime. Mediante a

ajuda do traje, sobretudo no seu encobrimento em forma de véu, desenrola-se o

arremesso rumo a civilização; o protagonista pratica um mergulho letífero do

penhasco no qual conservara-se, até as circunvizinhanças da faveleira adjacente. Num

descenso perecedouro, quando parecia que o impacto com a terra seria inevitável,

observa-se a distensão da capa, imutando-se em um par de apêndices membranosos,

como uma Asa-delta. O velame se convertera numa armação triangular de rigidez

estrutural, coberta por tecido, onde o controle da direção e velocidade é obtido nas

oscilações das posturas do corpo conduzido. O plainar do figura prescreve mais um

recurso da vestimenta, que sem dúvida transcendera a função de homiziação,

permitindo assim uma armadura dotada duma pluralidade de aplicações. Então

Moisés pairado no ar, procedia ascensionalmente aos contornos da cidade, que

permanecera numa obscuridade inalterável. Não se podia afirmar que havia a

Skywalker

proficiência de um voo, mas o salto planado providenciou a flutuação do

personagem, mesmo que de modo transitório. Logo é dado cabo a indescritível queda

livre, bem atrás dum ponto sorrateiro e sigiloso, que possibilita um ocultamento para

o acometimento. O descimento é visto num afincar de pés junto ao chão, como numa

cravada de paraquedismo, desprovida do fim esportivo, mas conjugada as técnicas

militares. Por conseguinte ao pouso, o retesamento do envoltório também é desfeito,

onde o que agora a pouco era uma dilatação em forma de guarda-chuva aberto,

retrocede ao atributo de ocultação. A aterragem é sucedida do regresso da

conversação entre os cúmplices, conforme o planejamento delineado. As direções

oriundas da mansão seriam cruciais no deslocamento em terra do protagonista,

porquanto a fruição dum satélite geoestacionário faculta uma vantagem para a

orientação espacial. Agora o trajeto de Moisés penetra furtivamente no cabeçorro,

sem usar qualquer meio de transporte, aproveitando-se das sombras da noite absoluta.

O avance alcança um amplo córrego, que precede o acesso ao desconjuntamento da

caixa de fósforos. As escorralhas do esgoto se caldeavam com a lameira descendida

da carestia dum saneamento básico, que merma a população local, assim como

segrega os salvantes de tal ambiência. A figura desenvolta percorria o corpo d'água

corrente de pequeno porte, continuamente no encalço de escombros, os cantos

homiziadouros que mimetizam a própria compleição corporal. Em determinado

comenos da sorrelfa, nota-se o protagonista deter o exercício furtivo, onde nenhum

passo é mais rompido. A estagnação transcursara em face dum aqueduto que obliqua

o corgo diro e pétreo. Acolá via-se dentro dum buraco no conduto, uma família

inteira, vivendo em pleno miolo da construção, sem a menor salubridade tolerável. Os

rostos dos olvidados eram fulgurados com os faróis de carros, os quais recresciam

numa estrada na ribeira do miúdo regato. Um casal é avistado no côncavo da ponte-

canal, a qual servira de abrigo e cancha para a prática do crack, pois ambos

manifestam as sequelas da inédia. A cada alumiar dos semblantes, observa-se os

espasmos e tremura pelo organismo nos viciados, e sobre a mulher apercebe-se algo

aquém sendo aninado. A mãe acalentava um nuelo entre o colo e os braços, mesmo

62

com a contração involuntária e convulsiva dos músculos, como num embalar

alvoroçado e inoportuno, uma vez que ouvia-se o apojado choro de rejeição daquela

cria. Aquela imagem nua e crua compungira Moisés em sobremaneira, que até Bruce

notou a soledade do marçano, pois palavra alguma se pronunciara dês da comoção.

Na cabeça do abismado, repercutia outra vez as citações do falecido carroceiro,

sobretudo as lembranças de como o pai ilustrava um nascimento em meio as ruínas.

O acolhedor frequentemente enarrava para Moisés, o dia do seu aparecimento, que

prefigurara mais um encontro impressentido e recíproco, como se nada existisse antes

daquilo. Afinal a brecha da qual deriva o orto do personagem é elucidada, e Moisés

pôde bispar além do interstício, através dum proscênio parecente ao que ocorrera

anteriormente. A presença dum implume debruçando-se no regaço de uma viciada,

reproduzia o que provavelmente acontecera com o protagonista. Defronte a isso,

Moisés sentia uma vontade turgescente de intervir na contextura túrbida, donde o

descuido levaria a um abandono perverso, similarmente ao que já vivenciara. Mesmo

ante a um passado remoto, o personagem pôde reavivar em sua mente, um pedaço de

existência apagado, e o incidente visório ativou a anamnese perdida. Contudo Bruce

apreende o aturdimento que emudecera o epígono, lançando-o numa disjunção do

caminho idealizado, na busca de livrar aquela criança duma derrelição eminente. Ali

estende-se uma altercação, onde um lado vindica o cumprimento do bosquejado, já a

outra parte pleiteia a remição do recém-nado, baseando-se numa experiência própria,

até aqui abalienada. Os argumentos do docente pujam a iniciativa do prosélito, no

mesmo andar que a devolução da consciência revela a este uma exaltação dos

ânimos, como num ato de recognição. O arroubo inflamara uma chama amortiçada,

mas a arguição de Bruce revertera o incendiar em aguilhões para a observância do

tramado, pois o mesmo abrangeria de forma latitudinária o clamor dos enjeitados. A

asserção restauradora ainda enfatiza que o múnus de Moisés, em nenhum momento

transluziria a afiguração de um salvador, ou de alguém acima das forças humanas e

de suas possibilidades. O velho Wayne possuía a crença de que, se em uma sociedade

procria-se a psicopatia, o estupro, a pedofilia e entre outras práticas obnóxias; a

Skywalker

oposição de tudo isto não seria algo utopista, quanto menos uma alegoria heroica,

mas um indivíduo que ofusca a vanglória em vista do altruísmo, afincado no

sacrifício e renúncia. Segundo Bruce o heroísmo seria uma conduta inalcançável, que

jamais realizaria-se de fato, mas o oposto dum psicopata, um arquétipo capaz de

antagonizar tal distúrbio comportamental, personifica suas pretensões para com

Moisés. Sendo assim a retirada do assecla em frente a sentina é realizada, dum modo

enfreado, porque ainda se ouvia o carpido da pequena criatura, como num rogo de

amparo. Definitivamente o personagem principal não se transformara num herói, haja

visto que a primeira deprecação por socorro fora recusada; e a cada distanciar do

socavão, um olhar de contrição além da retaguarda. O compungimento convertera-se

em denodo, pois via-se a celeridade nos passos de Moisés, como alguém que esta

pejado de motivação, deslocando-se com extrema fugacidade. Nisto toda àquela

meticulosidade para não ser presenciado é descartada, e a partir desse momento o

protagonista fará questão de ressurtir em meio ao bulcão, como num alastrar

temeroso duma imagem pantafaçuda e mitológica. O que parecia um deambular, um

meato sem destino, se abeira ao povoado, num complexo de habitações precárias,

pouco depois da desinência do filete de água corrente. O incorrimento atinge os

barracos do cerco, aonde alguns olhares, no recôndito das arribanas, pelas lucarnas na

parede, se lançavam em mira da figura aterradora. O tropel de passos coarctava os

sobrantes rumo as choças, e quem arriscara-se a afrontar aquela coisa medonha,

ficara arredado e no mínimo empedernido, sem transparecer qualquer reação. O clima

transudante ressoava por todos os recantos da região, compelindo um avultante

recuamento dos habitantes, onde se divisara apenas o relance de olhos, redistribuído

comumente, por adentro das cabanas. Evitava-se até mesmo um respirar altissonante,

com liberdade ou agudez, sob a crença de que só haveria uma hostilidade do pretenso

invasor, no caso do vingar duma perturbação do silêncio manifesto. A saltada

palmilhara as escadarias do morro, perpassando pela mixórdia de casitas, sempre na

ascendência do cole, na pontaria de seu picum. Enfim a surtida topeta a cimeira da

colina, numa vista privilegiada para o domínio territorial, quanto à uma defesa

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armada. Mais a frente localiza-se uma manufatura abandonada, a qual passou de

construção desocupada para propugnáculo das organizações criminosas, além de

eventualmente residir os comícios de coordenação e bailes festivos. Logo na soleira

do bastião, notava-se uma agitação intensa, que sustou a intrepidez de Moisés,

obrigando-o a enlapar-se de novo. Proximamente ao herdade via-se uma quadra

poliesportiva, mas que tornara-se um lugar propício para o consumo de substâncias

alucinógenas; inclusive a sintetização da delusória cocaína já era testemunhada, não

para a cheiração, mas na a análise e decomposição do conteúdo. Uma frágua no

derredor daquele espaço ao ar livre, imprimia o contraste com a faiscação dos

isqueiros utilizados pelos usuários. Ali o retovado decide acercar o torrão ripário,

meio que de sorrate, avançando sob as muretas e recostando-se encolhidamente no

parapeito delas. A apropinquação com o ginásio do celerado, permite ao olhapim uma

mensuração do número de pessoas que lá circulavam, assim como a melhor maneira

de infiltrar naquele liceu também era matutada. O malsim consegue dimensionar os

elementos circum-adjacentes; por volta de dois camburões farruscos, se achavam

estacionados na entrada do casbá; alguns homens da polícia alijavam pacotes de

alcaloides venéficos, rumo ao ádito da fábrica, porquanto havia lá uma circulação

com idas e vindas da droga. O degustar do polvilho narcótico também é observado,

pois existia uma difidência a respeito da fidedignidade do produto, como se o mesmo

tivesse sido adulterado, mas a convicção disto não se cientificara de fato. As poças

d'água que orbiculavam o território, favoreciam a espreita do espião, porque o

resplendor da lua nelas, acentuava a localização dos inimigos no âmbito material.

Então num ato de arrojo abrupto, o sentinela notívago quebra a acalmia e discrição,

transpondo o limiar do trincheirado, e deixando alvoroçados os adversos flagiciosos.

A ação partira dum muro baixo, perpassando pelo lamedo, até a porta do forte, onde o

protagonista saltara sobre os capôs dos tintureiros, que dispararam as sirenes rúbidas

e de soar estridente, como num sinal de alarme. O pulo sobre a cobertura dos veículos

vigera uma arrancadela na direção da laje do edifício, como se os feixes de lâminas

de metal situados nos eixos, induzisse um lançamento, onde as molas funcionaram

Skywalker

semelhantemente a uma catapulta. No entanto o despenque retumbante, fez com que

uma parte do bando, albergada no prédio, surdisse para o exido tumultuado. Enquanto

a malta se convergia para o quinchoso, Moisés deslizava no mirante da alcáçova,

socalcando o telhado deteriorado e quebradiço. Acolá o protagonista se depara com

uma ventana jequi, mas que transvazava no interior do recinto, donde ainda

apercebia-se alguns cabeças do crime. Alapardado em um batente, num fulcro que

derivara da janela, o acirrado auscultava e entrevia os caudilhos do narcotráfico.

Adentro da casamata ocorria um consílio de comuna facínora, e os líderes acenavam

em direção da restolhada, da qual brotava o estouro dos alarmes, atraindo um egresso

dos sotas para afora dali. Na distração da quadrilha, Moisés pôde, mesmo do alto,

bispar num laptop acima duma mesa, a videoconferência entre os corifeus do crime, a

qual partira de lá, coligando-se com uma chefia longínqua, direto dum presídio.

Inclusive ouvia-se a voz de alguém, exinanindo do aparelho, e requestando por uma

atenção, mas a evagação tolhera o corrilho de maneira integral. Se existia um

momento oportuno para uma aparição, Moisés o auspiciara com toda aquela ocasião

conturbada. Agora o guardião solífugo percorre lestamente o lajeamento da

edificação, na disposição de aproximar-se da portada, a única via de acesso do

imóvel. Os facínoras ainda apercebem uma movimentação, na forma duma

vultuosidade em meio a escureza do ambiente, o que os deixara desmedidamente

atônitos. Logo após a passagem do rascunho assombroso, os malfeitores lobrigam a

obstrução da entrada, precedida de um estrondo provindo da queda duma entulhada, a

qual configurara uma barragem rente ao umbral. A armadilha implicara em um

preparo retrasado, como se Moisés conhecesse de antemão o espaço fitado, sabendo

exatamente o que fazer e como proceder. Do lado de fora a agitação era desmanivada,

quanto mais pelo desmoronamento que selou a entrada do ginásio, assim como

obliterara a iluminação de reserva. A ideia de que Moisés preconcebia a área de

militância, é reforçada com o despejo de destroços, uma vez que o personagem fora o

promotor da emboscada. Decididamente o velada entabula uma invasão voraz, capaz

de sorver medo até mesmo naqueles que se consideravam impávidos por devoção.

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Aqui o místico salta do teto para o piso do laboratório de entorpecentes, bem no

círculo em que estanciara a liderança do morro, num alojar-se revolto depois da

sombração. A descida é vista num enraizar no pavimento das pernas estendidas e

unidas, sucedido do pendor da capa, de uma forma gradual e compassada, resultando

no encobrimento do personagem. A osculatriz de bandidos pressentia um inimigo,

mas a baixa luminosidade que só era composta por candeeiros e feixes das lanternas

dos veículos afora, inibia a localização do adversário. Os relâmpagos de uma chuva

que ficara só na promessa, lampejavam em uma intercadência, amostrando a imagem

apavorante de um borro caliginoso e vívido. Quando um dos bandoleiros maquinava

sacar um pinga-fogo, mesmo com a mão trêmula de receio, a corporatura negra sumia

da vista, a cada relampo novo. Naquilo Moisés atestando-se da posição de cada

indivíduo dentro do reduto, resolve atacar fisicamente os opositores, haja visto que o

golpe psicológico era notório. O exordiar da ação de opugnação é visionada no

santiamém em que o ascético põe as manzorras sobre uma espécime de talim,

plantado envolta da cintura do indumento; ele haure dum esgalho um objeto esférico

e negro, mas que cabia perfeitamente na palma da manopla; nisso vemos o arremeter

daquela cápsula orbicular, a qual deslizara no chão, fragmentando-se em corpúsculos

menores e ainda globosos. O Mover-se suavemente acima da superfície era

encaminhado aos infensos da orbe, que apenas distinguiram um soído assemelhado

com o de búlicas rolando num saguão. Consecutivamente vê-se uma sequência de

implosões derivadas dos globos melânicos, projetando no ambiente verdadeiros

clarões, como numa trovoada factícia. Os malevas ficaram redondamente

esturvinhados, sem divisar coisa alguma; uns içaram os braços na busca de rumar

tateando, ao passo que outros prologaram uma pistolada a esmo, e o restante ficou

paralisado, só palpando os olhos cegados. Exclusivamente o protagonista

permanecera intacto, invulnerado mesmo no centro dos relumes de abalo violento,

produzidos pela expansão abrupta da massa sólida das granadas. Sem a mínima

demora, Moisés avança na direção de cada anelante, os quais espalharam-se no

recinto após o jacto do projétil hexil e lacrimejante. As topadas entre os maloqueiros

Skywalker

com o sentinela mítico eram súbitas e não permitiam a menor reação dos afrontados.

A primeira iniciativa do sobrestante ao deparar um oponente era a de desarma-lo,

extirpando desse a posse da artilharia, para logo travar nele uma imobilização

forçosa, através duma sucessão de pancadas reumatizantes. Uma gritaria sem

precedentes se entreouvia pelos arredores do herdade, desencorajando aqueles que

tentavam abrir caminho entre os escombros do portão. A cada berrego no interior,

via-se a desistência de alguém fora da peladura, de modo que nenhum cúmplice

ousou continuar naquele local. O clamor no recôndito do ginásio, imprimia a pressa

do afugentar daqueles que restaram no quintal, onde alguns destes corriam numa

debandada, caindo pelo barro e cobrindo-se de assombro. Não obstante ocorria o

delíquio dos larápios que ficaram trancafiados na indústria de psicotrópicos; os

sopapos de Moisés equivaliam a patadas de um ursídeo, quanto mais pelo auxílio do

traje que incrementara a potência das pancadas desferidas. A síncope dos manatas é

realizada por meio dum golpe de jiu-jitsu, no qual o personagem se coloca detrás do

oponente, enastrando-o pela gorja, com as articulações do braço e o antebraço

enrijecidas, de forma a pressionar uma lipotimia do referido. Findado o desmaio do

opositor, sobrevinha o amordaçamento do mesmo, repetido dum enlaçar de braços e

pernas num único nó, em plena simetria lombar, com quem maniatava o gado.

Claramente que nem todos cediam a domação, e sobre estes intransigentes

prevalecera a força bruta em prol de uma represália e repreendimento, como artifício

de imposição do temor. Encerrado o aloite, restara apenas um silêncio de

obstupefação, como numa grulhada retida na consciência, mas que ainda era

exprimida por exíguos mugidos, os quais transcendiam as mordaças fixadas. A matula

ficara esparramada pelo pavimento, atordoada com a situação e indagando uma

explicação admissível, mas o clima sombrio tolhera quaisquer entendimento. Sobre

alguns padecia um lacrimejar invito, em decorrência da irritação ocular provocada

nas explosões. Unanimemente não sobrara um sequer desatado, pois a ofensiva de

Moisés fisgara a cáfila de modo absoluto. Até mesmo o vozear que manara dum

notebook se calou, e a conexão via internet também fora abortada durante a surtida

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cabalística. Reconhecendo o excídio do laboratório ilícito, assim como da captura dos

líderes da boca de fumo, Moisés resolve resilir dali, uma vez que a fama se espalhara

com ligeireza pelos quatro cantos da urbe. Antes de desarvorar-se, o sentinela retorna

ao telhado, onde deixa aceso um sinalizador, o instrumento pirotécnico que

denunciará o antro dos criminosos, através duma fumaça volumosa e enrubescida. De

longe já se enxergava a grande massa de vapor acinzentado, pois a escuridão

invertera o cetrino por um nevoeiro cinéreo. Os íncolas da favela abriram vários

chamados, tanto no corpo de bombeiros, como nas centrais de polícia, porquanto

pairava laivos dum incêndio. Todas as atenções logo seriam voltadas para aquela

localidade, até mesmo a Mídia haveria de ceder um espaço a cerca do acontecimento

umbroso. Seguro de que o lugar seria subitamente ocupado por diversas autoridades,

Moisés inicia a escapadela do circunstante, não pelo mesmo caminho de incursão,

mas por um trajeto radicado numa mata costeira. O figura portento abandona o

quartel das drogas, na íntegra destroçado, com a chefatura enclausurada e espavorida.

Dos cativos, a maioria se estrebuchava nos tacos da pavimentação, mas sobre a cariz

de alguns descia flúmens de lágrimas, não devidamente de choro, senão dum

irritamento que ainda persistia. No momento em que o protagonista adentra no cipoal,

vemos o regresso da eletrificação urbana, como se alguém sapiente, racionasse o

provimento de energia. A soturnidade que infestara os domínios, dá lugar para a

iluminância já conhecida, a qual de maneira alguma desobscureceria o báratro social

vigorante. A regressão das luzes encoraja os moradores a um adage coletivo, no qual

uma leva envereda-se no destino da nébula, ora pigmentada com a ruborização da

tocha sinalizadora. A plebe mantinha distância com o ginásio enevoado, mas nada os

impedia de segredar, presumindo vagamente o que ali sucedera-se. Nas quebradas e

ladeiras da morraria, distinguia-se longinquamente marchando, um referto comboio

de viaturas das distintas policias. Os uivos em forma de avisos sonoros, os quais

badalavam dos veículos trombudos, repelia a pretensão daqueles que se dirigiam na

mira do herdade nublado. Todavia Moisés rasgava a boscagem com suprema

pertinácia, lacerando a galhada por meio do prolongamento dos punhos, na carnadura

Skywalker

de tridentes afiados. Num terreno repecho, o indígete se depara com a margem

derradeira, um perau, o declive brusco que deságua no mesmo córrego de abordo

anterior. Mais uma queda é executada, racionalmente com os recursos de planação do

entraje, na ambição de alcançar o solo do atalho fundo. O personagem só não

aproveitara deste trajeto para a vinda, porque o mesmo é abnodoso, sem qualquer

entremeio ou rochedos que facilitem uma subida regular. No meato do regueiro,

apercebe-se o ofego de Moisés, como quem acaba de realizar um esforço

desmesurado e extenuante. O figura tropicava nos granizos do corgo, com uma mão

sobre o abdômen ferido, mais a outra palma na cabeça mascarada e oscilante. A

fadiga só se revelara aqui, bem depois do marco histórico efetuado, como uma

condição de quem intenciona a brilhantura em pleno anonimato. A extenuação de

Moisés preocupa a cúpula senil, a qual fora responsável por restituir o mantimento da

corrente elétrica, dando termo ao blecaute fementido. Ominando a astenia do

discípulo, Bruce locuciona encômios, num desejo de galvanizar o seu tutelado. O

heréu absorve a congoxa do paredro, e para aquietar os ares de acracia, o prodígio

reafirma que mesmo diante do abatimento físico, sua mente conservara-se inabalada.

Em determinada circunstância da hégira, num cruzamento do talvegue, o personagem

se depara com o rebuliço do alto duma ponte esconsa. A bulha compelira Moisés para

debaixo da estrutura de madeirite, onde obsidiara uma grandiosa batida policial. Ali o

protagonista constata entre os detidos, alguns integrantes da quadrilha de narcóticos,

pelo menos aqueles que ficaram no exterior do ginásio, e fugiram após o sobrosso

comungado. Os milicos revistavam cada um dos represados, numa varredura por

provas que liguem o bando ao sucedimento minaz. Porém nada era achado em posse

dos suspeitos, resultando na liberação de um a um, o que deixara Moisés por hora

cismado e ressentido com tudo aquilo. Contudo o afuroado é compreendido, quando

o sentinela senti algo tocar os pezunhos do induto; em uma olhada descensional, ele

nota rente ao curso d'água, uma armaria sendo arrastada pela corrente do regato.

Destarte ficara presumível que a corja, ao afrontar a tropa mílite, baldeara os

venábulos para as profundezas do ribeiro, pelo alambrado do elevado. Aliás até os

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malotes de cocaína foram alvejados no riacho, como tentativa de coonestar os cá

trasvisto. A acumulação dos ilícitos crescia ao rebalde do protagonista, e pelo fluxo

do ribete, depositavam-se no limbo pedregoso. Logo os retidos são eximidos, e a

frota de viaturas partira rumo a usina de narcóticos, da qual ainda exalava-se uma

fumarada maviosa. O que parecia um fracasso, algo concitador duma animadversão

contra o diligente, na verdade lhe conferira uma assaz esperança, além da convicção

de sucesso dos intentos programados. Por mais que as circunstâncias induzissem a

atitude de abandono da matulagem, Moisés acreditava em alguma coisa acima dos

adregos, a qual extrapolara a reação de covardia, perante a uma condição de

constrangimento. Para o vigilante a afetação que resultara no divórcio entre os

remanentes do crime, e os objetos de perversão emersos no arroio, representara numa

mudança de índole, ou ao menos num primeiro passo para uma circunspecção do

próprio celerado. Moisés não lamentara a escapatória dos réprobos, pois crera que

aquela seria uma mantena oportunidade para se repensar os ideais de comportamento.

Assim como os canas, o pugnaz aparta-se da presença dos escusos, mesmo tendo os

visto atuar na criminalidade. Moisés continua no caminho do córrego colubrino, na

vereda de voltar para a mansão reservada. Entretanto a récua situada no topo da

ponte, ainda conseguira entrever na fundura do álveo, um vulto sinistro e lampeiro,

desaparecendo nas sombras do muramento urbano. O grupo que acabara de

recuperar-se dum susto, agora padece de cólicas consumptivas, porquanto o recordo

das emoções vividas no herdade, retorna na visagem daquela figura indistinta.

Finalmente temos o desfecho da estória, com uma miscelânea de imagens,

entre as quais há a chegada das autoridades, no lugar delatado pelo nevoeiro

candente; também será visto a abordagem das mídias locais, como um meio de

alastrar e testificar o evento sepulcral; em último contempla-se Moisés, do alto dum

monte, esperando com reverência, a alba então reverdecida, num despontar do

primeiro alvor do dia. A erupção das vicissitudes tende a epilogar o enredo, com uma

Skywalker

oscilação da continuidade na trama, onde há o desdobramento do que virá após o

marco histórico vivenciado. Sendo assim teremos duma forma compendiosa, mas de

valor precípuo e sucinto, a reação da sociedade em face do que acontecera no antro

edificado, ao mesmo passo da resposta dos delinquentes. A compilação revelara um

retraimento das instituições do crime, pois acreditava-se que a repressão estava

associada ao advento de uma nova facção, uma pandilha com a pretensão de

desbancar a ordem vigente. Um discrímen aniquilara as pequenas seitas criminosas,

em virtude do conflito entre as organizações de maior porte. Derradeiramente vê-se

nos dias que sucederam a saltada no ginásio, um comportamento coletivizado das

populações dos morros, onde ainda persiste o toque de recolher, durante o enoutar

sobressaltado. Ao invés do corte de energia, os próprios moradores, no acuamento

entrosado, abscidavam as luzes das moradias, na ideia de convocar o sentinela

notívago. Do longe já se via as malocas numa escuridão parcial, não devido a um

blecaute intencionável, mas pela vontade dos habitantes, pois acreditavam que com

aquilo viria a benevolência e proteção do suposto ser sobrenatural. A mistificação das

ações que fulminaram os diversos pontos de droga, só endossara a recuada do

celerado. Em suma a primeira aparição do protagonista, mudara completamente os

hábitos na cidade, de maneira que criara-se um mito contra os criminosos e seus

simpatizantes. Dessarte a concludente imagem do filme, condensará o que aqui fora

descrito: Agora vemos o figura portento, logo após a saída da favela, parado no

mesmo monte onde deixara recovo, o veículo que o conduzira para a urbe. No alto do

outeiro, Moisés aguardava o amanhecer, enquanto Bruce Wayne o congratula pelos

feitos realizados. Ali nota-se a respiração serenada do personagem, como quem

conjetura ares novos. E no raiar da aurora tem-se o coroamento da película, onde

surge juntamente com o sol, uma narração dum locutor de rádio. O irradiador

comunicara o venturo, os acontecimentos que provirão depois do vitupério no

laboratório dos psicotrópicos. Portanto a narrativa suprimirá a efetivação da

conjuntura cá prenunciada, como se o orador estivesse situado em tempo a frente e

ulterior ao do protagonista. A feição abrandada do personagem centro, assim como o

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deslumbramento do alvorejar, trazem o acabamento peremptório para a feitura.

Mesmo com os presságios em forma de relatos distintos, ainda restará um vazio a

cerca do futuro, mas que certamente fora sortido de esperança com a chegada de

Moisés. Em síntese a trajetória do protagonista percorrera: o abandono ao

acolhimento; da perda de quem o aninhara, ao encontro como um novo universo; da

morte para o renascimento neste desconhecido mundo; e por fim, do obscurantismo

saltara para a compleição dum mito, um arquétipo alicerçado na psicologia do medo,

como ardileza para afastar a conduta criminosa e fortalecer ímpeto frugal.

E assim desvela-se a proposta de roteiro, a qual cristalizou a abstração contida

na gesta do personagem, sem demover uma função social para a obra. A consonância

obtida na permuta entre realidade e ficção, satisfará as expectativas do público

enfastiado com a reiteração, o ciclo vicioso donde nada de original é apresentado. A

iniciativa de trazer uma figura estrangeira para o cenário nacional, não objetiva

desmerecer a tão martirizada e ofuscada cultura de berço. A xenofobia no mundo

hodierno, atua como um dos mecanismo de defesa das etnias minoritárias em pecúlio,

com a finalidade de evitar a extinção dos costumes de cuna. Em uma sociedade

globalizada, o estrangeirismo não é somente um fruto do consumo de mercadorias,

mas até mesmo o âmbito da educação encontra-se parcialmente elícito. O

neocolonialismo exerce o domínio econômico, por meio duma exploração

segmentada, além de suplantar as tenências nativas, por um reputado modelo de vida

próspero. No entanto o problema não esta centrado na sobreposição de culturas, mas

como no monopólio das nações hegemônicas, tanto no campo mercadológico, quanto

na esfera do conhecimento. Dessa forma a construção do saber é amoldada segundo

as tinetas das potências numulárias, onde preconiza-se um ideal de prosperidade

condicionado a sujeitação das maiorias, para o luxo de poucos influentes. Embora o

domínio seja difuso, ainda notamos um páreo que permite a superação das barreiras,

rumo a uma independência alvissareira, ou no mínimo menos subordinada. Todavia o

Skywalker

cinema é uma das vertentes que busca um fortalecimento, baseado-se numa extensão

do alcance vernáculo. A cinematografia é um marmo ramo das artes, que possibilita a

inserção de uma entidade cultural, do mesmo jeito o respectivo modo de vida, num

círculo de relevância mundial. Portanto a inclusão duma ilustração ádvena, de

notoriedade incontrastável, só vem a majorar o alcançamento da propositura

audiovisual. Afinal a filmografia brasílica já é amplamente reconhecida pela

sensibilidade e engajamento de seus temas, o que não seria diferente com a sugestão

de roteiro elaborada. É provável que esta tal vocação engajada, seja um fruto dos

movimentos literários de cunho social ou da continuidade deles, como na obra de

Clarice Lispector “A hora da estrela”, onde a argúcia reflexiva fora inescurecível. O

mesmo siso da feita de Clarice, imagina ser atingido neste enredo, especialmente na

retratação da severidade que circunda a vida dos sofreados. Acredito que o sujeito

patrício, por ser desgarrado dum nacionalismo exaspero, tem o condão de opinar ou

transmitir pensamentos de uma forma idônea, sem deixar-se influenciar pela

comodidade da estrutura de éctipo exploratório. Se por um lado a segnícia patriota

impede uma consciência irrestrita de nação ou classe, em compensação o parecer

tende a ser lhano e dessujeito dos interesses privados. Entrementes a personagem

Macabéa de “A hora da estrela”, vive integralmente em um ambiente doloroso,

resignado a flagelação contida e renitente. Logo como resultado da constância

sofrente temos o turvamento da figura, como se mais nada de valor existisse, a não

ser o seu martírio permanente e abafado pelo cotidiano. A desestima da autora para

com Macabéa, chega a espiritar no leitor uma ânsia pela mudança da situação do

personagem, que de fato não acontece. Diante disso percebe-se que a temática social

da literatura inspirara a constituição de enredos do cenário nacional cinematográfico,

como em “Central do Brasil”, cujo a contextura da estória é demarcada pela quase

imutável circunstância de aperto anímico. Entretanto sobre a figura mor deste

Argumento, o personagem Moisés, é conjeturado um outro foco, algo além da

tribulação oriunda da carência financeira. Ao invés da fomitura como principal objeto

de discorrimento da película, vemos a valorização daqueles que sobrelevam a

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condição de estreiteza, sem emparvecer ou cimbrar-se a uma conduta criminosa.

Todavia a proposta aspira transfigurar a concepção indiferente dos indivíduos cotados

como invisíveis ou imperceptíveis socialmente, diamantizando a simplicidade e

honestidade contida neles. Ao maximizar o clamor dos abstidos, a película promove

um reconhecimento de classe, porquanto a existência duma voz, contraria o ânimo

apático. Enfim alterar a acepção dos ignorados, para a edificação de pilotis da

equanimidade, é o medular desígnio do Argumento, uma vez que aqueles onde

posição é vista na margem da sociedade, são os mesmos a escusarem, sustentando a

dignidade, um mergulho no completo obscurantismo.

Skywalker