Babaçu riqueza inexplorada, por Ademir Braz

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Babaçu: riqueza inexplorada, por Ademir Braz 04 de junho de 2007 Uma das mais antigas referências ao babaçual existente na região de Marabá está no relatório da Viagem ao Tocantins do então secretário de Estado Deodoro Machado de Mendonça, no ano de 1926. 4/6/2007 [Quaradouro] Uma das mais antigas referências ao babaçual existente na região de Marabá está no relatório da Viagem ao Tocantins do então secretário de Estado Deodoro Machado de Mendonça, no ano de 1926. Ao referir-se, pela primeira vez, à flora marabaense “uma das ricas e mais bellas da Amazônia”, o autor acrescenta que as palmeiras “contam-se por dezenas de espécies em todo o município, desde o assahy, a bacaba, o patoá, até o prodigioso babassú, de que há extensas florestas ao longo dos rios”. E prognostica que resolvido o problema do transporte, “o babassú constituirá a segunda fonte de receita do município, que já hoje o exporta em pequena escala para a praça de Belém, sobretudo no verão, finda a safra da castanha”.Este mesmo relatório, de autoria não definida, dedica um capítulo inteiro á “riqueza inexplorada” do babaçu, que então espraiava-se em ambas as margens do Tocantins a partir de Arumatheua, e “infelizmente toda essa formidável fonde de renda jaz ainda improductiva ao longo do grande rio, à espera da resolução do grande problema tocantino e quiçá brasileiro – o transporte.”Barruel de Lagenest, sacerdote francês e pesquisador que viveu em Marabá na segunda metade do século XX, também se refere ligeiramente à floresta de babaçu e ao raro aproveitamento de suas amêndoas. Não obstante, seu livro – Marabá, cidade do diamante e da castanha, publicado em São Paulo em 1958 – assinala que na cidade, à época, 73% das casas eram de taipa e coberta de palha.O que Barruel não esclarece é que essa palha era tirada do babaçuzeiro, tanto para as paredes externas quanto para as divisórias internas e a cobertura da moradia.Da palha do babaçuzeiro fazia-se também os abanos, as esteiras, os cestos para armazenamento ou transporte de mandioca, farinha, milho e outros produtos agrícolas desde a zona rural até o mercado consumidor na cidade. Brinquedos de palha de babaçu são feitos ainda hoje em certas regiões do interior do município.De Tucuruí ao extremo sul do Pará, o babaçual ocupava uma longa e larga faixa no meio da floresta densa dos castanhais. Muito dessa vegetação extraordinária foi destruída, juntamente com as castanheiras, para a formação de fazendas de gado. Importa dizer que a extração manual e o beneficiamento da amêndoa do babaçu foi uma atividade de pouco valor econômico: atendia mais ao consumo doméstico das famílias camponesas de origem nordestina, na forma de leite ou azeite, porque na culinária urbana predominava a gordura de porco. Em 1976, em viagem à cidade de Tocantinópolis (então Goiás, hoje Tocantins) conheci a Tobasa – Tocantins Babaçu S.A. – que produzia e enlatava óleo e fazia bebida a partir do fermento da levedura existente entre a casca e o caroço do babaçu.Na segunda metade dos anos 90 do século passado, com a crescente demanda de carvão vegetal pelas siderúrgicas no Distrito Industrial de Marabá, houve um início de carbonização dos cachos de babaçu – sua utilização menos nobre – para a redução do minério de ferro nos altos-fornos. O custo elevado da produção desse tipo de insumo parece haver desestimulado sua continuidade.A indústria do babaçu seria uma alternativa excelente para a base produtiva do sul do Pará, se os investidores não tivessem olhos apenas para o umbigo do boi.Já não é aceitável dizer que falta tecnologia para o beneficiamento em larga escala de derivados da castanha do babaçu quando, efetivamente, a produção dessas amêndoas é uma forte geração de emprego e renda principalmente para as trabalhadoras camponesas. O que não se permitirá é a exploração dessa mão de obra em trabalho semelhante à escravidão, como ocorre com os produtores de carvão.*Leitura complementar* As 985 mil toneladas de cascas do coco babaçu obtidas anualmente com o aproveitamento industrial de castanhas, no norte e nordeste, poderiam gerar o equivalente a 104 mW por ano, o que corresponde a 5% da matriz energética nacional. É o que revelou uma tese de doutorado defendida ontem (26) na Faculdade de Engenharia Mecânica (FEM) da Unicamp. Incluindo as cascas que as quebradeiras de coco jogam no mato, a biomassa de babaçu chega a 2,9 milhões de toneladas por ano, o suficiente para produzir 260 mW de energia em sistema de co-geração.“O estudo demonstrou que a biomassa de babaçu é uma alternativa energética altamente viável”, diz o autor da tese, Marcos Alexandre Teixeira. De acordo com ele, o aproveitamento da casca do coco como fonte energética poderia ser adotado principalmente em centros comunitários de beneficiamento da castanha do próprio babaçu. O fruto ocorre naturalmente em toda a Amazônia Legal além dos estados do Piauí e Maranhão. Todos os dias, as catadeiras de coco deixam nas matas de 5 a 7 quilos de casca.Segundo Teixeira, a tecnologia para geração de energia a partir do babaçu é a mesma usada em relação à biomassa de cana-de-açúcar. “São necessários apenas algumas ajustes nas caldeiras”, explica. Além disso, segundo o pesquisador, o babaçu apresenta como vantagem adicional uma densidade 2,5 vezes maior e um teor de umidade menor, de 15% a 17%, enquanto o teor de umidade do bagaço de cana fica em torno de 50%.Isso significa que as cascas de babaçu armazenadas em um metro cúbico produzem 2,5 vezes mais energia do que o bagaço de cana e queimam melhor porque estão mais secas. “Outra vantagem é que o babaçu ocorre em abundância em áreas onde normalmente a cana não vai bem”, diz Teixeira. Segundo ele, trata- se de um sistema de geração de energia ecologicamente correto em locais onde a cana não é uma boa opção.Na tese, orientada por Luiz Fernando Milanez, o pesquisador fez um cálculo custo/benefício, concluindo que a melhor alternativa seria produzir vapor de alta pressão a 4,56 Mpa (Mega Pascal) a 420 graus centígrados. Mega Pascal é uma unidade de pressão de fluidos que pode ser genericamente traduzida por força sobre a área. O vapor de alta pressão alimentaria as turbinas para gerar energia elétrica.Teixeira conta que a energia gerada poderia ser usada na própria cadeia produtiva do babaçu, alimentando máquinas de centrais de beneficiamento, onde se extrai o óleo das castanhas. “Ainda Eco & Ação: Ecologia e Responsabilidade http://www.ecoeacao.com.br Fornecido por Joomla! Produzido em: 21 June, 2012, 23:18

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Babaçu: riqueza inexplorada, por Ademir Braz04 de junho de 2007

Uma das mais antigas referências ao babaçual existente na região de Marabá está no relatório da Viagem ao Tocantinsdo então secretário de Estado Deodoro Machado de Mendonça, no ano de 1926.

4/6/2007     [Quaradouro] Uma das mais antigas referências ao babaçual existente na região de Marabá está no relatório da Viagemao Tocantins do então secretário de Estado Deodoro Machado de Mendonça, no ano de 1926. Ao referir-se, pelaprimeira vez, à flora marabaense “uma das ricas e mais bellas da Amazônia”, o autor acrescenta que aspalmeiras “contam-se por dezenas de espécies em todo o município, desde o assahy, a bacaba, o patoá, até oprodigioso babassú, de que há extensas florestas ao longo dos rios”. E prognostica que resolvido o problemado transporte, “o babassú constituirá a segunda fonte de receita do município, que já hoje o exporta empequena escala para a praça de Belém, sobretudo no verão, finda a safra da castanha”.Este mesmo relatório, deautoria não definida, dedica um capítulo inteiro á “riqueza inexplorada” do babaçu, que então espraiava-seem ambas as margens do Tocantins a partir de Arumatheua, e “infelizmente toda essa formidável fonde derenda jaz ainda improductiva ao longo do grande rio, à espera da resolução do grande problema tocantino e quiçábrasileiro – o transporte.”Barruel de Lagenest, sacerdote francês e pesquisador que viveu em Marabána segunda metade do século XX, também se refere ligeiramente à floresta de babaçu e ao raro aproveitamento de suasamêndoas. Não obstante, seu livro – Marabá, cidade do diamante e da castanha, publicado em São Paulo em1958 – assinala que na cidade, à época, 73% das casas eram de taipa e coberta de palha.O que Barruel nãoesclarece é que essa palha era tirada do babaçuzeiro, tanto para as paredes externas quanto para as divisórias internas ea cobertura da moradia.Da palha do babaçuzeiro fazia-se também os abanos, as esteiras, os cestos paraarmazenamento ou transporte de mandioca, farinha, milho e outros produtos agrícolas desde a zona rural até o mercadoconsumidor na cidade. Brinquedos de palha de babaçu são feitos ainda hoje em certas regiões do interior do município.DeTucuruí ao extremo sul do Pará, o babaçual ocupava uma longa e larga faixa no meio da floresta densa dos castanhais.Muito dessa vegetação extraordinária foi destruída, juntamente com as castanheiras, para a formação de fazendas degado. Importa dizer que a extração manual e o beneficiamento da amêndoa do babaçu foi uma atividade de pouco valoreconômico: atendia mais ao consumo doméstico das famílias camponesas de origem nordestina, na forma de leite ouazeite, porque na culinária urbana predominava a gordura de porco. Em 1976, em viagem à cidade de Tocantinópolis(então Goiás, hoje Tocantins) conheci a Tobasa – Tocantins Babaçu S.A. – que produzia e enlatava óleo efazia bebida a partir do fermento da levedura existente entre a casca e o caroço do babaçu.Na segunda metade dos anos90 do século passado, com a crescente demanda de carvão vegetal pelas siderúrgicas no Distrito Industrial deMarabá, houve um início de carbonização dos cachos de babaçu – sua utilização menos nobre – para aredução do minério de ferro nos altos-fornos. O custo elevado da produção desse tipo de insumo parece haverdesestimulado sua continuidade.A indústria do babaçu seria uma alternativa excelente para a base produtiva do sul doPará, se os investidores não tivessem olhos apenas para o umbigo do boi.Já não é aceitável dizer que faltatecnologia para o beneficiamento em larga escala de derivados da castanha do babaçu quando, efetivamente, a produçãodessas amêndoas é uma forte geração de emprego e renda principalmente para as trabalhadoras camponesas. O quenão se permitirá é a exploração dessa mão de obra em trabalho semelhante à escravidão, como ocorre com os produtoresde carvão.*Leitura complementar*As 985 mil toneladas de cascas do coco babaçu obtidas anualmente com o aproveitamento industrial de castanhas, nonorte e nordeste, poderiam gerar o equivalente a 104 mW por ano, o que corresponde a 5% da matriz energéticanacional. É o que revelou uma tese de doutorado defendida ontem (26) na Faculdade de Engenharia Mecânica (FEM) daUnicamp. Incluindo as cascas que as quebradeiras de coco jogam no mato, a biomassa de babaçu chega a 2,9 milhõesde toneladas por ano, o suficiente para produzir 260 mW de energia em sistema de co-geração.“O estudodemonstrou que a biomassa de babaçu é uma alternativa energética altamente viável”, diz o autor da tese,Marcos Alexandre Teixeira. De acordo com ele, o aproveitamento da casca do coco como fonte energética poderia seradotado principalmente em centros comunitários de beneficiamento da castanha do próprio babaçu. O fruto ocorrenaturalmente em toda a Amazônia Legal além dos estados do Piauí e Maranhão. Todos os dias, as catadeiras de cocodeixam nas matas de 5 a 7 quilos de casca.Segundo Teixeira, a tecnologia para geração de energia a partir do babaçu é amesma usada em relação à biomassa de cana-de-açúcar. “São necessários apenas algumas ajustes nascaldeiras”, explica. Além disso, segundo o pesquisador, o babaçu apresenta como vantagem adicional umadensidade 2,5 vezes maior e um teor de umidade menor, de 15% a 17%, enquanto o teor de umidade do bagaço de canafica em torno de 50%.Isso significa que as cascas de babaçu armazenadas em um metro cúbico produzem 2,5 vezesmais energia do que o bagaço de cana e queimam melhor porque estão mais secas. “Outra vantagem é que obabaçu ocorre em abundância em áreas onde normalmente a cana não vai bem”, diz Teixeira. Segundo ele, trata-se de um sistema de geração de energia ecologicamente correto em locais onde a cana não é uma boa opção.Na tese,orientada por Luiz Fernando Milanez, o pesquisador fez um cálculo custo/benefício, concluindo que a melhor alternativaseria produzir vapor de alta pressão a 4,56 Mpa (Mega Pascal) a 420 graus centígrados. Mega Pascal é uma unidade depressão de fluidos que pode ser genericamente traduzida por força sobre a área. O vapor de alta pressão alimentaria asturbinas para gerar energia elétrica.Teixeira conta que a energia gerada poderia ser usada na própria cadeia produtivado babaçu, alimentando máquinas de centrais de beneficiamento, onde se extrai o óleo das castanhas. “Ainda

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teríamos um vapor de média pressão, que poderia ser usado no aquecimento da pasta de babaçu, para separar o óleo,usado na indústria, e a torta, fornecida como ração animal”.Babaçu: Alternativa de Geração de Renda na AmazôniaUma palmeira muito comum no norte do Brasil pode ser a resposta às preces do Governo, dos ambientalistas e dosmoradores de áreas remotas da região amazônica. Graças a uma nova tecnologia denominada "aproveitamento total",desenvolvida na tese de doutorado de Edmond Baruque Filho, do Programa de Engenharia Química (PEQ) da COPPE,o babaçu (Orbygnia martiana) pode transformar-se em fonte de renda para a população e matéria-prima para a produção deálcool.Enquanto as indústrias tradicionais de produção de óleo de babaçu só utilizam 7% do coco, através da tecnologiadesenvolvida na COPPE os frutos da palmeira são aproveitados integralmente na produção etanol, óleo e carvão. A novatecnologia vem sendo colocada em prática pela empresa. Fundada em 1970, em Tocantinópolis, a Tobasa é a primeiradestilaria de álcool de babaçu do país a operar em nível industrial. Para implantar a tecnologia de aproveitamento total, ainfra-estrutura da fábrica foi toda reformulada e o projeto concebido na COPPE, em parceria com a Tobasa, pelo própriopesquisador.Na contramão da históriaApesar de conhecido o potencial do babaçu como matéria prima para uma ampla gama de produtos, a palmeira continuasendo subaproveitada. Segundo Baruque, até hoje só se produzem, basicamente, óleo e torta extraídos das amêndoas."Isso representa apenas cerca de 7% do peso do coco. O restante é desperdiçado"- critica o pesquisador, alertando paraos resultados que a otimização da utilização do produto poderia representar em termos de economia em divisas aoPaís.Atualmente o setor tradicional de produção de óleo de babaçu está passando por uma crise muito séria. Óleo de palma,conhecido no Brasil como dendê, importado da Ásia, tem esvaziado o mercado nacional. "Sem investimento ou políticaindustrial relativa ao produto, o processo de produção ainda é muito artesanal e a maioria dos produtores não conseguecompetir com uma produção mecanizada e uma mão-de-obra muito mais barata" explica Baruque.Mas o que é que oBabaçu tem?Por conter amido, o babaçu é a única palmeira no mundo que pode ser utilizada na produção de etanol. Na floresta nativaé possível encontrar, em média, 200 palmeiras por Km2. Cada planta, sem receber nenhum cuidado especial, produzno mínimo 2,5 toneladas de frutos por ha/ano. Quando as plantas são tratadas, a produção chega a 7,5 toneladas porha/ano. Para se ter uma idéia, uma tonelada de frutos processados resultam em 80 litros de etanol, 145 kg. de carvão,40 Kg. de óleo e 174m3 de gás. "Se considerarmos toda a reserva disponível de babaçu no país, o potencial de produçãode energia chega a 5 mil Mega-watts. O que equivale a mais de 10% de toda a capacidade de geração de energia deorigem hidrelétrica no Brasil", ressalta Baruque.O custo de produção de etanol do babaçu é elevado porque o amido temque ser transformado em açúcar para poder produzir o álcool. Mas a experiência da TOBASA demonstrou que osoutros subprodutos conseguem compensar este déficit, tornando este etanol competitivo e até mais rentável que oproduzido através da cana-de-açúcar. O óleo de babaçu, por exemplo, é um produto muito utilizado na fabricação decosméticos, gordura e sabão de coco, entre outros. O carvão e os gases são utilizados na geração de energia. Já aqualidade do etanol extraído do babaçu é tão superior à de outras fontes que este é utilizado até na produção de licoresfinos. "Parte da produção da TOBASA é destinada a estas indústrias", confirma o pesquisador.Social e AmbientalmenteCorretoSegundo Baruque, a exploração do babaçu pode ser uma alternativa para dois problemas cruciais da região amazônica:desemprego e degradação ambiental. A indústria do babaçu gera muitos empregos e sua produção é auto-sustentável,não ameaça o meio ambiente. "Esta palmeira não poderia entrar num processo industrial de produção, pois seu plantio nãocompensaria o investimento. Cada planta demora entre 12 e 15 anos para dar frutos". O babaçu é uma fonte energéticarenovável que apresenta balanço favorável entre a fotosíntese e a combustão, removendo dióxido de carbono daatmosfera e gerando oxigênio. O beneficiamento da palmeira representa um enorme potencial de geração de postos detrabalho para a população de áreas isoladas. "Só na TOBASA, considerada uma empresa de médio porte, foram criados2050 postos de trabalho", garante Baruque. (Jornal Coppe 27/2/2003)(www.ecodebate.com.br) artigo originalmente publicado pelo Blog Quaradouro,http://quaradouro.blogspot.com/ - 27/05/2007enviado por Mayron Régis, colaborador e articulista do EcoDebate 

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