BAKHTIN - Dialogismo e Construção de Sentido - Profª Regiane

5/16/2018 BAKHTIN - Dialogismo e Construção de Sentido - Profª Regiane - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/bakhtin-dialogismo-e-construcao-de-sentido-profa-regiane 1/13

~I

Ii

'II1

I !

I

Beth B ra it

(Org . )

'I~[)rTOI~A DA

UNICAMP.... .... --_----



COJ v ' i:H J 1 J L1 C ;oE S DE BA t:J - J TJ j\ f

'(' TY ~'()J )l A S ' D O D! ['(' r ll: ('I)] .,4 ..) _ 1 . . J . \ /1... '- "'_' ..._)-; ,-. '-d-,

DianoLu: l'cssoc de ltarros

~(:Sl(' 1'::\\(1 r:':WI1HI ~: dOL: co m iuuidadc :.; aigumas rcficx oc's

a ntc r io rc s (! 994) :;0[:)]'[': us co nt r iuu icocs ~t: Bakhun ao ex arne cios

icxios c ODS d iscursos. Bukln in influc nciou Oll u ntecipou as p r inc i -

pal!, or icntacocs t cori cas <los e st udo s sobre 0 tcxro C (, dixcur s«dcscnvo lvidos scbrctudo nos u ltimos trim a 'IllOS.

Os cstudos do 'tcxto c do d iscu rso tornararn, no periodo men-

c i o n n d o , dirc90CS d i v e r s a s , com princ ip ios e m e t o d e s d ifc rc n tcs

n !l!icn lados em quad ros tco r icos d ivcrsificados. E 0 caso en tiio de s e

pergun ta r de que fo rma e par qua is razoes Bakhtin pode ser consi-

dcrado u rna cspec i e de precu rso r ou de an tec ipador de perspec tivas

tc6ricns 150 d ifc rcnc iadas. Este traba lho procu ra mostra r que fo rumlobrctUdo .su as rc flcxoes variadas sobre 0 principio dialogico que

Im tcc iparam c innucnc ia ram as estudos do d iscu rso e do texto , a tua l-

.m en te em dcscnvo lvimcnlo , e , com esse fim , organiza-se em duaspanes ' n . . .,. ' prirncira sobre a concepciio de tcx to (d iscu rso au enUTIC1-

:/~,orno obj c to das c icnc ias hurnanas ; a segunda sobre a princ ip ia

:;;..~~, leo c scus dC '5cnvo lvimcn los em difercn tes ieorias do d iscu rso··~~tQ·o A... .1, scgunda parte subd ivide-se , po rsua vez, em dua s on-



tras: uma sabre a d ia logo entre in tcrlocu to rcs, ou tra sobrc 0 dia iogo

en tre d iscu rsos (ou cnunciudos, no d izcr de Bakht in ).

1 0 rcxto: objc to dus c lcnc ias hu rnana s

A o co nl r a ri o do c a m in h o cmprccnd ido p c los cstudos lin -

gu isticos, que to rnaram a lingua por obj c to C comccaram pcla busca

de un idadcs m in ima s ou de u ni d udcs a te a d imcnsao c ia frusc ,

Bakhtin afirrna que a cspccif icidadc das cicncias hurnanas CSlo'l no

faro de que sell objct o l: 0 tcxt o (o« 0 discurso) (1992:31). Em ouiras

pa lavras, as c icnc ia s humanas voharn -sc para 0 humcrn , mas C 0

hornem como produ to r de icxtos que sc aprcscn ta ai. IksSJ COIICCp-

o ; ; : a n dccorrc qllc 0 horncm nfio S() ~ co nhccido at ra vcs dos (CXIOS,

como sc coustroi CllCJU<lIl\O obj c to de cstudos nos 01: pm mcio des

tCXlOS, 0 que distinguiria as cicucias humanas das c icnc ia s cx aras c

biologicas que cx aruinarn o homcm "fora do icxto". Buk hu n pro-

poe. para cada c icnc ia humane, umcbjcio tcxtuu l cspccif ico , p.ois

pontes de vista d ifcrcn t cs so brc 0 tcxt o constrocrn "lCX!OS" C, p o r-

tan to , objc ios tambern di fcrcrucs.A linguistica scria u ina dcssus perspectivas, a icoriu do dis-

curso (mctalinguist ica, em Bakhiin, all transl ingu ist ica , como prc-

fere T od oro v) Dutra. OplOU-SC par t cori a do d iscu rso para 0 co r res-

pendente hoje da translinguisticu o u d a m ctalin gu istica d e B akhtin .

ao con trario de Todorov qu c con sid cra .qu c "pragmaucu" seria 0

nomcatualmentc rrrais a dcquado.

A o tra ta r, em seu s escritcs , do lcxto como objcto das c iencias

humanas, Bakhtin aponta ja as duas di Icrcnrcs conccpcocs do prin-

cipia dialcgicc, a do dialc go entre intcrlocutorcs c a do d ialo go

en tre d iscu rsos, pa is considcra que nas cicnc ias hu manus a obje to c

o m etoda sao dialogicos,

Quanro ao objc to , 0 tcxto sc define COI11O:

a - objcro significantc Oll de significncao, isro C, 0 tcxto signif'ica;

b - prcduto du criacao idcol ogica au de urna cnunciacac, com tudea que CSl{1 a i subcntcndi do: contexte histor ico , social, cultural ,

e tc .(Em ou tras pa lavras , () rcxro !laO cx istc fo ra da socicdadc. so

cx isic nc la c para cia c niio pode SCI' rcduzido ,j sua mutcri aiidadc



Iingu istica (cmpirismo objc tivo ) ou d isso lvido nos cstados psiqu i- '

cos daquc lcs que 0 produzcrn au 0 in terp rctam (empirisrno subj e-

t ivo));

c - d ia logico : ja como conscquencia das duas carac tcristicas anterio-

ref; 0 t cxto C , para 0 autor , consti tutivarnente d ia logico ; dcfine-sc

pcl o dia lug o entre os interlocutorcs c pclo dialogo com outros

tcx tos;

d - unico, nfio rcproduzivcl: os traces mcnc ionados fazcm do tcxto

urn objeto unico, ufio rc it c ra vc l ou rcpctivcl.

D cve-sc mcncionar 0 1 esse rcspciio que, para Bakhtin, H linguis-

tica Iaz abstracao das forrnas de organ izacao do tcxto c de suas fun-

< , : < k s s o c i u i s c i d c o l o g i a s , e s cu o b j c t o C , p o r t a n t o , r c p c t i v c l ,

rc itcn ivcl. Ser ia 0 casu de sc pergun ta r sc para 0 au t or c cia umacicncia humane.

Q uant o ao rnct odo nas cicnc iu s humanas, Bakhtin afirma que

se trat a cia co mpr ce nsao rcspo ndcnte: procura-se conheccr urn ob-

j ct o , nus cicncius nat u r ai s, u rn su j clto _. produt or de tcxto s --, nus

cicncias human as. E diz 0 autor:

"A s cicncias cxa tas sao urna forma monologica do conhe cirn cn -

10: 0 in tc lcc to contc rnpla lim a co isa e pronuncia -se sobrc c ia . H au rn unico su jc it o : aquclc que prauca (l all) de cognicfio (d e co ntc rn -

plucao) c Cala (prcnuncia-sc). Din nt c dele, h.-l a coisa mud a. Qual-

quer objcro do conhecimento (incluindo 0 homem) pode ser pcrcc-

bido c conhccido a titu lo de co isa. M as o sujeito como tal n5.o rode

ser pcrccbido e estudado a titu lo de coisa porquc, como sujeito , 1150

podc ,.permaneecndo su je ito , fiea r mudo ; consequcn ternen te , 0 co -

uhccimcnto que se tern dele 56 pocle ser c lia l6gico" (1992 :403).A s re lacocs en tre 0 sujcito da cogn icao eo sujcito a SCI' co-

nhecido nils c icncias human as sao, para Bakhtin, relacfies de cornu-

nicacjio en tre D cst inador e D cstina tario . 0 su jeito da cognicao pro -

cura interprctar au comprccndcr 0 ou tro su je ito em lugar de bus-

car apcnas con hcccr 1I1ll objeto. Citando:

A comprecnsiio e lima [orma de dialogo; eta esta parn a

enunciociio assim COIIIO uma replica esta para a outra

no dialogo. Comprecndcr C opor a palavra do locutor

lima cun t ra p ula vra (1986:13J,!32).



As rcflcxocs de Bakhtin sobrc as cicncias humanas c a Ii ngun-

gem ind icam ja algumas da s razocs que 0 toruararn prccur sor c

aniccipadcr dos cstudos do discurso. Sell ponte de pari ida, sell ges-

to inicial nu conccpcao da p r opri a c icnc ia c a de cc loca r a rcxro

como fulcra, como lugar central de ioda invcsugacao sobrc 0 ho-

memo A inda hojc , muitos dos cs tudi osos da linguagcrn t cm dif icul-

dade em accitar i5S0. em rcco nhcccr 0 papcl do tcxto:

2 D la logisuro

D cvc-sc observer ern primciro lug ar que sc a conccpcao de lin-

gllagem de Bukhun c dialog ica, sc a cicncia 1111111:lIla tern mct odo c

objcro d ia logicos, rarnbcm SlI<lS idcias sobrc 0 horncrn c a vida ::;iio

ma r cadas pc l o priucip i o d ia logico . A altcrid adc define 0 SCI" hu-

muuo , pOlS 0 o ut ro i : . imprcsc indivcl para sua conccpcilo: :: i(11)1o:;-

s ivcl pcns;Jr 110 horner» fora das rc lacoc s que 0 l ig am a o (JuLIO

(199~:35,36). Em SiIlICS(;, d i« o nu t or, "a vida c dial6gic;1 por nutu-

rcza".

E ncss c quadro , ponanlO, que 101110111 forma c scnrido a:; COI1-ccpcocs d ia lugicns de linguagcrn c de discurso que mais de pcn o

nos imcressam , Neste cstudo foram scparadas as duns nococs de

dialogismo que pcrmciam os cscritos de Bakhuu c procurou-se as-

sin.ilar 0 papc) de cada lima dclas nos cstudos do d iscu rs o c do t cx t o

2. J Dialogo entre int crlocutores

~~1 difcrcntcs tcxtos Bukhrin trara do dialcgo entre intcrlocu-

teres c, corn essa qucstao, ingrcssa no campo dos cstudos que hojc

se dc scnvolvcm sabre a in tc rac ao verba l en tre su jcn os e sabre a

intcrsu bj eli vidadc.

Q uutro aspec tos de sua conccpcao de dialogisrno en tre in tc r!o -

cutorcs dcvcrn scr mcncionados:

a - a inicracao entre intcrlocutorcs C 0 principio [undador da lin-

guagCIl1 (Bnkhtin vai mais l ongc do que os liugii istu s s au ssu ria no s,

pois cousidcra nfio apcuas (JlIC a liuguagcm C fun damcnt a] pan! a



comunicacao , mas que a in tcra c jio dos in tcrlccu torcs funda avli·n -

guagcm) ;

b - 0 senti do do tcxto e a sign if'icacao das palavras depcndcm du

rc lacao entre su jc iio s, ou scja , constroem-se na producao c na in ter-

prctacao dos tcxtos:

c - a in tcrsubj crivi dndc i : anterior a subjctividudc, pais a rc l acfio

entre os inier locutores nao apcnas fundaa linguagern e d< i., 's cnti do

ao t cxt o , como lamb em ccnstroi os proprios sujcitos produtorcs do

t c x t o ;

d - as obscrvacocs fc iias podcrn conduzir a conclusocs cqu ivocadas

sobrc a conccpciio bakhi in iana de su jc iro , considerando-a "ind ivi-

dualistn" ou "subj ct ivistn", Na vcrdadc Bakhtin aponta da is tipos

de so ciubi l idadc: a rclnciio entre suj eiios (entre os interlocutoresque in tcragem) c a dos sujc itos com a socicdadc .

Considerados csscs quatro aspectos do d ia logisrno in tcrac iona!

p o d c m SCI' agora apo n tadas as con tribu icoes de Bakhtin aos cs tuoos

da cornunicacao c da in tcraca o verbal. Entre ou tros, scrao uss ina la-

dos: a qucstfio da variacao lingtiistica , funcional c d iscu rsiva .:n

rcvcrsibil idadc c a coustrucjio dos inicrtocutorcs no d ialogo: 0 J ago

de imagcns, o s sirnulacros c as avaliacocs en tre elcs; a qucstfio dr!

compctenc ia dos sujciios da comunicacao .

Os cstudos da cornun icacao verbal nfio p u r t i r a r n da linguisli-

en ou das tcorius do discurso, mas trad ic iona lrncntc seguiram a Te-

oriu cia l nforrnacfto, que, nos anos 50, cxcrccu forte influcuc ia na

l ingiiistica . Sc pcnsarmos na cornun icacao en tre sores humanos C

mais cspceificamentc na comunicacao verbal, a lgumas "dif'icu lda-

des" sao cncontrudns nos "csqucrnas" or iundos ou hcrdados cia Tc-

oria da lnforrnacfio . A concepcao de Bakhtin de comunicacao e bas-

Lanle d ifcrcnc iada das propostas da Tcoria da Inforrnacao c am cci-

pa muitas das "so lucoes" cncon tradas por ou tr os estud iosos para a

comunicacao verbal cn lr~ seres humanos,

T r e s Sal) as pr inc ipa is objecocs que sc fazcm aos esqucrnas

mc nci oua dos:

a - sirnp lif'icacao excessive da cornun icacso Jingiiistica ;

b - modclo linear que sc ocupa apenas au de prcfercncia com 0 pla-no cia cxprcssiio;

c - cara tcr par dcrnais mecanic isLa.



M almbcrg( 1969) c Jakobson( 1969) procuram veneer a p rirn ci-

ra d ificu ldade c rc tornam c "complcrncntam", no sc io das aborda-

gens linguisticas, as propostas .d a Teoria da Infor111a95.0, da Tcoria

da Cornunicacao c da Cibcrnctica para 0 processo de cornunicacao .

Dcssa forma, resolvcrn duas d a s s irnp lific a co c s criiicadas: a cia varia-

c : ; a o de codigos e subcod igos c a da divcrsidade d e funcocs da lin-

guagcm , rcstringida , nos cstudos antcriorcs, { I funcao inform ativa.

Bakhiin insi stc cno rmcmcntc na qucstiio da variaciio iingiiis-

t ica, funciona l, discursivu , Iaccras da hetcrologia au pturldiscur-

sivi d ad c que, pam clc, caractcrizu os discurso s. Ocupa-sc, em SCl!S

traba lho s, da d ivcrsivi da dc de V()7.CS, C a s l inguas c dos t ipos d iscur-

s ivos. 0 icrrno hctcro lug ia , crnbora em pr incip io sc ap liquc ;\ diver-

sidudc de tipos discursivos, C cmprcgado muuas vczcs, nos cscruosde Bakhtin, para ' i divcrs idadc ern gcral dos difcrcnrcs elementos

que caructcrizam (I dis curso: de gcncro (tipos discursivos), de pro-

fissiio, tit: cumada social. de idaclc t' de rcgiJo (dial eros). To dos cs-

scs elementos dc variacao dc vcm SCi' co nsidcrudox quando sc pc!!sa

em comunicaciio verbal entre scrcs humano s. \.,

A scgunda objccao fcita aos modclus cia Tcoriu 0,1 Informac.io,

a do caroller linear dos csqucmi'ls. t evc como rcaciio os cstudos de-

scnvolvicos sobrctu do nos Estudos Unidos. a partir dos a nos 5U , que

propfrcrn urn modclo "circu lar pal'J a cornuni caci io": a COIllLIIlIC,l-

95.0, no quadro da tcor ia da "'nova informacao", da socio logia cia

, comunicacao ou da ana lise da convcrsaciio , nao deve rna is scr pcn-

sada como urn fcnorncno de m50 unica , do crnissor para 0 receptor,

mas como urn sistema rc vcrs ivcl c inreruci onal. Ba kht in. como VI-

mos, va i longe na questao , po is corisidcra a intcracao a rcali dadc

fundamental da linguagcrn (1988:7] ,88)."Ncsse quadro surge tarnbcm a qucstao da dinarnica da intcraciio

c da construcao dos sirnulacros in icrsubjciivos (198S-:83). Dcvcm-

sc mcncionar aqui , Cf!l outras perspectivas tcoricas, as coritribuicoes

dcPcchcux, que propoc 0 tao conhccido (e rnu itas vezcs dcturpa-

do) jogo de irnagcns que sc fazcm mutuarncntc as irucrlocutorcs da

cornunicacao , e as de G rc imas, que tra ta da ccnstrucao dos simula-

. eros que dctcr minarn as rciacocs entre su jc itos,Bakht in insistc ncssc aspccto da inrcracao, sobrctudo quando

tr a tu do contexte cxt ra-vcrbal do cnunciado , c in tr oduz a qucstfio

da ava li a ciio 1H1 rc la c iio en tre O~ uucrlccu t orcs. Os inrcrl ocutorcs



avalium -se e cxprcssam csscs valo rcs por rneios d ivcrsos de c.Q ntell-

do ou de exprcssao , en tre os quais 0 autor dcstaca a entonaciio .tcomo

cxprcssao Ionica da ava lia cjio social:

o tom niio e deterniinado pelo material do conteudo do

enunciado 011 pela vivencia do locutor. mas pela atitudedo locutor para com a pessoa do.interlocutor (auuitud«

para com sua posir;:/io social. para com sua imporuincia_ _ .

etc.) (J 992:396). .

Dcvc-sc mcnc ionar 0 fat o de que em ncnhurn dos cas os ella-

des ---() das imagcns de Pcchcux, 0 dos sirnu lacr os de Gre imas ou ()

d a s uva l iac o c s de Bakhtin - as co nstruc ocs sao indi vi dua is , mas.

ao cnntr ari o , cstiio clas asxcntudas 110 que Bakhtin dcnornina "hori-

z.o n tc id co lo gic o".

Final mcu tc , chcgu -sc a t cr ccira objccfio feita aos mo dc los de:

cornun icuciio da Tcnria cla l nfcr macao, o de see caratcr mccanicistc.

Os cstudos mcuc iouad ox sabre a intcracao verbal e n c a rninham-sc

pan: propo s t a s rn a is "humanizantcs" da cornunicaci io . (HI, 1lIl, r~i".s-

pccti vu de Bukhtin, rnais "sociologiz antcs".

Rccncomrn-sc a i a segundo conccpc iio de Bakhtin de d in l o -

gismo, a de d ia logo entre d iscursos. N o item que segue, sc riio ex a-

minada s ass: m as qucs tocs de discurso e cnunciacao, di SCll~SO c

con texte soc io -histo rico , d iscurso e idcologia , jun ta rnen tc corn as

nocoes de in tertcxtua lidadc, in tcrd iscu rsividadc, po lifon ia , hctc ro -

gcnc idadc d iscu rsive.

2,2 Dialogo entre discursos"

Bakht in , rcpetirnos, considera 0 dia logismo 0 principio COlts-

titu tiyo da I inguagcm c a co ndicao do sen tido do discurso. Insiste

no fato de que a d iscu rso njio e ind ividua l, nas duas accpcocs de

dialogismo mcncionadas : nao c ind ividua l porque sc constr6 i en -

tre pelo mcnos d ois in tc r!o cu to rc s que, pa r sua vcz, sao seres soc i-ais: nao c ind ividual porquc sc constr6 i como um "dia logo en tre

disellrsos", ou scj a.rporquc mantcrn rclaciics com outros discursos.

COI1eiliam-sc, assirn, nos cscritos de Bakhtin , a s abordag cns do tcxio



avaliurn-sc c cxprcssarn csscs val orcs par mcios d ivcrsos de contcu-

do au de ex prcssao, entre os quais 0 autor dcstaca a entona<;:ao:'como

cx prcssjio Ionica da avnlias:ao social:

010111 niio e detcrmlnado pelo material do conteudo do

cnunciado Oli pela vivencia do locutor; mas pela atitu dedo locutor para com a pessoa do.jnterlocutor (auuitu de

pam com SIIa IJOsirlio social. para COlli sua imporlant.=i{_i:

etc.) (J 992:396). .

Dcvc-sc mcncionar 0 fa to de que em nenhurn des casas ci tu -

des _. (\ das imagens de Pcche ux, 0 des simu lacr os de Grcirnas ou (l

da s d V ; . d i a c , : ( ) c : - ; d e H a k h t i n - a s c o nstruco es sao idi vidua i s . r n u s .

a o co nt r ariu , cstfio clas asscn tudas 110 que Bakhtin dcnornina "hori-

zo nrc ide ologico".

Final mente, chcgu -sc ,) icrceiru objcciio feita aos mo dclos de

C0111t l11JCnC;l to du Tcoriu cia l nforruacao, o de sell caratcr mccanicisra.

Os cstudos mcncinnad os sabre a intcracao verbal enca minham-sc

par;: propo s ta s mais "human iz antcs" da cornunicaciio , ou , !lll, r~I::;-

pccti vu de Bakbtin , mais "soci o logizantes".

Rccnconun-sc ai a segundo conccpcao de Bakhtin de dia lo-

gismo, a de dia logo entre d iscursos. No item que segue, scriio ex a-

minadas us si 111 as qucstocs de discurso c cnunc iacao , di SCU~S() c

contcxto socic-historico, discurso e idcol ogia, juntarnentc com as

nococs de intcrtcxtua lidadc . in tcrd iscursividadc, polifon ia , hctcro-

gcncidudc discursive.

2.2 Dialogo entre discursos. .. l ,.

Bakhti n , rcpetimos, considera 0 dialogismo 0 principio corrs-

litu ti;;o da I inguagcm c a condicao do sentido do discu rso . Insiste

no faro de que Q discurso nao e ind ividual, nas duas accpcocs de

dia logismo mcncionadas: nao c ind ividual porque sc constro i en-

tre pelo mcnos dois in tcrloeu lo res que, par sua vez, s50 sercs soci-

a is: nao c ind ividual porquc sc constr6i como urn "dia lo go entre

d iscursos", ou scj a , 'porquc rnan tcrn rclacocs com outros d iscursos.

Concilii:lm -sc , assi m , nos cscritos de Bukhtin , as abordagcns do tcxio



diras "cx tcrnas" c "intcrnas " c rccuperu-sc, no t cxto, sell cstauuo

pl eno de objc t o lingu isuco-d iscu rsi vo , soc ia l c hist o ri c o. O,lulor

c r i t i c a a s a n a l i s c s p a r c i a i s t a n t o d o " id c o l o g i s m o c s t r c i t o " , qUJ!110

do "forrna lismo l imit adc" (Todorov 19~ l:J 7 ,Sg).

Trcs pontes dcvcrn scr 'csclarecldos: em primciro lu gar e prc-

. c iso obscrvar que as rc lacocs do d iscurs o com a cnunciacao, com 0

contcxto scci o-hi sto r ic o ou com 0 "outro" sao, para Bakluin, rc l a -

c ocs en tre d iscu rs os-cnunciados: 0 segundo csc larcc imcn to c 0 de

qu e 0 dialogismo tal C0l110 flli ac irn a co ncc bid o define 0 rex to corno

lim "t cc ido dt: mu i t as vozcs ", ou de ruuuos tcxto s ou discu rso», que

sc cntrccruzam, sc complcta m, rcspondcm umas a s outras au polcmi-

zum entre si no int cr io r do !CX10; a t crccirn e ultima obscrvac.io i :

s ob rr0

car.u cr i(Lo l(lgico do sU!SCLlrSOs

ass im Jdin ld u~.Com essu couccpcao de: d ia logismo nprox irna mo-nos l\~() I11(!i~

OOS cstudos (Ll comum cacao verbal, mas pr inc ipahncru c da~ tcorr-

as pra~!ll"ll ica s , Ji!:> icorias do discurso C 00 lex to ~: ,lii: ,k plCOCU-

p a c ocs psicanalu icas COI11 0 "outro ' do discurso. Com cssa COllCCP-

c ; a o t a m b l : ! l 1 s o m o s l e v a d o s ,I e x a m i n a r d u a s o u t r a . . q u c s t o c s : ; : (il)

c ara te :' d ia l,'J:;!ic o de: i ingu;\ e ll, rc L.II.;50;H I d i a log i smo do~. JiSCll:-SO:>

C a do mascaramcnto do dia log isrno dos icxt os.

a ) O d iu l o g is m « c o n s u tu t i v o d a l iu g u u g c m

Muitas vczcs 0 rcc onhccirncnto do di al ogismu do discurso, Lal

como fo i cn tcnd ido lias duas conccpcocs udotadas , C c onscqucu t c -

mente de SCLl curatcr idcnlo gico , leva a crcr, par oposiciio . IlO cura-

te r mono lu g ico c ucu tro d a lin gu u.Bukhlill nao est a cnli"e o s glle

pcnsam dessa forma: para c!c u linguagcm C, pOl' co nst n ui cao,

d ia logica c a lingua u iio c id co logicamcntc ncu tra c sim cornp lcx a ,

po is, a partir do USa coos tr3\OS dos discursos que nc!a sc impri-

mcrn , insta lam -sc na lingua choques c con trud icocs. Em ouir os tc r-

mas, para Bak htin , no signo confron tam -sc ind ices de valor contra-

ditorio. Assim caractcr iadu , a lingua c d ia logica e co mplcxa , pu is

ncla sc impr irncrn h i sio r icarncn tc e pc!o usa as rc lacocs d ia logicas

des discursos.

A l ingu agcm , scj a cl a pens ada COIllO l iuguu Oll como discu rso ..

c , portanto, csscnciulmcntc diaI6gic<l. l gnorar sua natureza dlai()gic<l



C (l 11lCSIllO, para Hak ht i n , que apagar ;1 ligac,:iio que cx ist c entre a

lillguagcll1 c a vida (19_79:26H).

b) D ialogismo e polifonia

I'j n almcn tc chcga-sc ~lqucsta o tao cara a o s cstudi~sos do dis-

C\lI"SO, qual scja a do ocult arncnto 00 nao do dialogismo discurs ivo

Par" isso cx arnma-sc a rclacao entre dialogismo c polifonia.Ycrrnos

rnu itas vczcs IIliJizados como sinon imos nos cscritos de Bukht in .

Fill ILlba llio <Interior (1t)l)4 ) sobrc o assunt o, dlstillgui clara-

mente dialngi~tno c po li Io uiu , rcscrvaudo () icrmo dialogi sn:« rara

(1 !lI'illCipl(1 di.li(·)gico cnnst iturivo d:1 lingllagem c de to do discurs o

t' clllpn;_l!<lIHlo a pu la vra !l0ld 'OIlI;! para cura ctcr izar lim ccrt o tipo de

IC . '; [O . aqucl c ern qllc 0 dialoFismo s c dc i xa vcr, aquc lc em qlll: sfie

pnccbic\;IS mui las vozcs , pOI opo s icfio <lOS tcx t o s mono f6ni c os que

CSC()Il(k1l1 o s d i a l o g o s q~lc ()s c ons t itucrn. Tr o can do em m iud os ,

P()(!c-sc dlI.CI· que 0 di:dogu 0 co ndicao cia linguag cm c do d iscur-

so , rnn.: h;'1 icx t o s po lifoni c o s c monofc ni c os , conformc va ric m a:-

c,;tr;llcg:as d isc u rs iv a s cmprc gu da s. 1\O S tcxtos polifcnic o s. m (L!~

lO!~ll'; entre dis c uts o s rnostr am-s c. dcix am-sc vcr ou cntr cvrr: no';lCX1()~; inOlloi011ICOS cl c s Sl" o cu n n m sob a aparcncm dl: tim lilSCI!r,,(;

iu u . - o . d e 1I1,1;\ unic n \'0/'.. i \1 0110 fo u 1<1 c po lifo ni« s i lo , p o r t. u u o , L'f: . " i-

los de scnt i c ! n , dcc orrcntc s d c proccduncutos discursivos, (h: chs-

U II'SI)S P (lr d c f i11i((;\0 c COil S ti l u j ( ( fi (1 did 1 o ~ ic o s

Cube ;IOS cstud io so s <ill tcxto cx arninar as cstra tc gi as , OS pro-

c c d i m c n r o s , o s r c c u rs o s que [ a z c m d e urn t c x t o d i u l o g i c aru e m c

c oustitu ido discursos monofonicos c polif6nicos. Essa tern si do , ern

gcra l, a d irccao crnpr ccnd ida par varies daqu elcs que cxp l ic itu ou

implieitamcnlc dcrarn scguimcnto a s rcflcxocs de Bakhtin , ta is como

J. Aut hicr-Rcvuz] 1982) c D . Maingucncau, no qu adro tcor ico da

analise do discurso franccsa, ou O. Ducrot, na pcrspcctiva da scrnfin-

tiea cl,l cnunciaciio 011 0;1 lil1giiistica intcracicnal. Essa dcvc ser hojc

U l 1 1 a dns t a r c f a s do csludioso do t c x t o e do discurso, p o i s h a m u n o

ainda ;1 SCI" fc i to , muit a s po s s ib il idadcs de polifonia dis cur s iva a

SCICI1l cxami nadas, inumcros c divcrsificados proccdimcntos c cs-

Lrategi<!s de pr o du c a o de c Fc i t o s de p o iifoni a c de rno n o Fo n i a

discl!rsi va a s c rcm dcs cri t os c ex pI ica dos.



N O T A

' L s I ! . : t cx t o ~ u r n a Vt;;S:H' r c s umi da < I t ; u r n t r aua lh« malt), q u e s c r ;i p u b ir c u -

lit. 110 lrvr o c olct ivo iJllj/II,t.:or nHl: HoAh:ln. pcL~ i:lIJlllr:1 th~ Ui'I'r. em Curit iba.



R E F E R E 'N C IA S B 1JJL JO G R A F 1C A 5'

! \LTHiER-IZFVUZ, . 1 . (I < J E 2 ) . "Hctcrog cncitc montrcc c t iictcro-

gcncitc constituuvc: c lements p O l l r unc approche de !"autre

d:lllS lc discours." In' DRLIIV Revue de l inguistiquc (26;: l) l-

IS I.

U;\ K l-!Tli\', M ikhail ( 1970), j,(I Poctiquc de f)os/oi'evski. Pans, Scui l.

· (ll}j,)) La culiura p0fll!lar en I;! Ldad M edia y Rcnacirn icmo.

H<1I'cclolla. B:l!'i'al Edi Lures.

· (19K I). "Lc discour« dam la vic ct dans Ii! pocs ic" 111 : T.

To d () r 0 1,. ', / 1 ' 1 i k II (J if h ' t . I k h f in c . L c J ) 1'/11 cip (' d i (/ lo!!. i q 1I C l'an :) ,.Scud,p.lI:-:1-:16

· (I !)SCJ). Murxi smo cfilosofia do lin gua gcm, Ed . S~(l I"alllu,

Hucitcc (original russo de 1929).

· (1 9 88 ). Questell's de litera/lira o de estctica: C I teoria do 1'(1-

malice. Sao Paulo, Uncsp/Hucitcc.

· (1992) . Estctica do criaciio verbal. S'50 Paulo , M artins Fon-

tes.

BA RROS, D iana Luz Pcssoa de (1987). "Sem io tics c d iscu rso lite-

ra r io ". 1 1 1 : Oliveira, A . C. &:Santaclla , L. (orgs.). Scniiotica

I i I t: I " { l r i a. S 5 . o P au ! 0, Eel u c .

· (1 98R ). Tcoria do discurso: [undamcntos sentioti cos, Sao

Paulo, A iua l.

- (1990). "De !'aml'ngu',tc de certains tcxtcs". Voics !,/l.,.CI 42.

Lyon,

BAKHTIN - Dialogismo e Construção de Sentido - Profª Regiane

Documents

Transcript of BAKHTIN - Dialogismo e Construção de Sentido - Profª Regiane