BANCÁRIO · 2019. 6. 25. · das empresas públicas, como a Caixa, Petrobras e Banco do Brasil, e...

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INFORMATIVO DO SINDICATO DOS BANCÁRIOS DO ES FILIADO À INTERSINDICAL Nº 992 24/06/2019 A 15/07/2019 www.bancarios-es.org.br CORREIO BANCÁRIO Greve geral enfrenta reforma da Previdência, o desemprego e defende a educação Congresso Estadual dos Bancários será nos dias 12,13 e 14 de julho. Inscreva-se Página 03 Banco do Brasil amplia atendimento digital em nova reestruturação Página 05 Página 04 Caixa: regras do trabalho remoto indicam precarização extrema Página 07 Banestes não recua sobre terceirização no CPD Greve unificou categorias profissionais e estudantes na luta em defesa da aposentadoria, contra o corte de recursos para a educação pública e contra o desemprego, que segue em escalada. Mobilização mostrou força e aumentou a pressão sobre governo e parlamentares que tentam aprovar a reforma da Previdência. Fotos: Sérgio Cardoso LANÇAMENTO: Sindicato terá canal digital de denúncias Página 05 Página 08

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  • INFORMATIVO DO SINDICATO DOS

    BANCÁRIOS DO ESFILIADO À

    INTERSINDICAL Nº 992

    24/06/2019 A 15/07/2019

    www.bancarios-es.org.br

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    BANCÁRIOGreve geral

    enfrenta reforma da

    Previdência, o desemprego e defende a

    educação

    Congresso Estadual dos Bancários será nos dias 12,13 e 14 de julho. Inscreva-se

    Página 03

    Banco do Brasil amplia atendimento digital em nova reestruturação

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    Página 04

    Caixa: regras do trabalho remoto indicam precarização extrema

    Página 07

    Banestes não recua sobre terceirização no CPD

    Greve unificou categorias profissionais e estudantes na luta em defesa da aposentadoria, contra o corte de recursos para a educação pública e contra o desemprego, que segue em escalada. Mobilização mostrou força e aumentou a pressão sobre governo e parlamentares que tentam aprovar a reforma da Previdência.

    Fotos: Sérgio Cardoso

    LANÇAMENTO: Sindicato terá canal digital de denúncias

    Página 05Página 08

  • Artigo

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    www.bancarios-es.org.br

    CO

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    BANCÁRIOInformativo do Sindicato dos Bancários do Espírito SantoRua Wilson Freitas, 93, Centro, Vitória/ES - 29016-340 Tel: (27) 3331-9999 Colatina (3722-2647), Cachoeiro (3522-7975) e Linhares (3371-0092)

    Coordenador Geral: Jonas Freire SantanaDiretor de Imprensa: Carlos Pereira de Araújo Editoras: Bruna Mesquita Gati - MTb 3049-ES e Ludmila Pecine dos Santos - MTb 2391-ESEditoração: Gustavo BindaImpressão: Grafita - Gráfica e EditoraE.mail: [email protected]: 7.000 exemplaresDistribuição gratuita

    Há séculos, um açougueiro no poder

    Bancos: quanto vão lucrar e porque apoiam a reforma da Previdência

    Os bancos que atuam no Brasil lideram os lobistas pela aprova-ção da reforma da Previdência. E eles têm motivos para isso: estão en-tre os principais devedores da Previdên-cia e serão os mais beneficiados com o sistema de capitalização.

    Até 2017, de acordo com um cálculo preliminar do Sindicato Nacional dos Pro-curadores da Fazenda, a dívida dos ban-cos públicos e privados com a Previdência Social era de R$ 124 bi. A Caixa devia R$ 549 milhões, o Bradesco R$ 465 milhões, o Banco do Brasil R$ 208 milhões e o Itaú R$ 88 milhões. A pergunta que não quer calar: por que, afinal, o governo não co-bra essa dívida para amenizar o “rombo” na Previdência que ele diz existir?

    Além de não serem incomodados pelo que devem, os bancos ainda vão lucrar, e muito, com o modelo de pre-vidência complementar e o regime de capitalização. Os trabalhadores serão forçados a entregar dinheiro em contas de capitalização para os bancos, que vão lucrar muito administrando essas contas sem sequer serem obrigados a dar garantia de rentabilidade aos tra-

    balhadores. Pelo contrário, poderão aplicar esse dinheiro a seu bel prazer, podendo colocar em risco os recursos dos trabalhadores em investimentos mal sucedidos. Embora o relator da Co-missão Especial tenha orientado retirar a capitalização da proposta, isso ainda não é definitivo e depende da tramita-ção do projeto na Câmara e no Senado.

    O governo, que não se propõe a co-brar essa dívida, ainda joga essa conta nas costas dos trabalhadores e impõe a capitalização que já foi rechaçada por 18 dos 30 países que adotaram esse modelo, de acordo com a Organização Internacional do Trabalho (OIT).

    A proposta de reforma da Previdência é mais uma evidência de que o projeto des-se governo é reafirmar o Estado como ins-trumento de transferência de dinheiro pú-blico para o setor privado, principalmente aos bancos. O ataque à Previdência públi-ca coloca em risco a sobrevivência futura dos trabalhadores. É urgente continuar a ocupar as ruas como nas manifestações em defesa da Educação e na greve geral de 14 de junho. Defender a Previdência pública é dever de todos os trabalhadores.

    Acaba de ser lançado o Atlas da Violência 2019, do Ipea. Novamente, os dados provam que o Brasil é um dos países mais violentos do mundo.

    Entre as muitas conclusões que apresenta, a publicação revela que o número de homicídios cometidos com armas de fogo crescia 5,44% anuais nos 14 anos anteriores ao Estatuto do Desarmamento. Já nos 14 anos posteriores, esse índice caiu para 0,85%.

    Mesmo assim, o presidente do próprio Ipea, Carlos Von Doellin-ger, afirmou que “por uma ques-tão de princípio, me incomoda a impossibilidade de o cidadão ter uma arma para a defesa da sua integridade física, de sua família e do seu patrimônio”.

    É esta a lógica dos integrantes do governo Bolsonaro. Há mortes demais nas estradas? Flexibilizem--se as leis, punições e fiscalização de trânsito. O agronegócio abusa dos venenos agrícolas? Liberem-se ainda mais agrotóxicos. Mulheres são agredidas? Ofereça-se a elas uma arma para se defenderem.

    Mas nada disso é um raio no céu azul. A alcateia louca que está no poder se vale de fake news, men-tiras, calúnias e difamações. Mas seu modo de administrar o País é perfeitamente coerente com nossa realidade social e histórica.

    Bolsonaro na presidência é a classe dominante sem filtros. Sem sociólogos, metalúrgicos ou guerri-lheiras a tentar dourar a pílula ve-nenosa da dominação extremamen-te truculenta dos poderosos locais.

    A eleição de Bolsonaro é a mais pura demonstração da debilidade de uma Constituição cujas belas vestes da democracia moderna já não es-condem o emporcalhado avental de um velho açougueiro sanguinolento.

    Sérgio Domingues é sociólogo

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    VI Congresso Estadual dos Bancários: é hora de organizar a nossa resistência

    Acontece nos dias 12, 13 e 14 de julho o VI Congresso Estadual dos Bancários e das Bancárias. O evento será no hotel Praia Sol, em Nova Almeida, na Serra, e reunirá tra-balhadores de bancos públicos e pri-vados para debater as prioridades da Campanha Nacional e as estratégias de luta da categoria diante da conjun-tura política e econômica do país.

    “Nossa Campanha terá como cen-

    tralidade a defesa do emprego, das condições de trabalho e o combate à privatização dos bancos públicos, além das pautas mais gerais, como o combate à reforma da Previdência, que atinge a todos os trabalhadores e que precisa ser enfrentada de forma unitária”, diz Jonas Freire, coordena-dor geral do Sindibancários/ES.

    Jonas explica que o Congresso é um importante momento de reflexão

    e de organização dos bancários para compreender e enfrentar melhor a exploração do trabalho, sobretudo num contexto em que vários direi-tos históricos estão sendo atacados. “É preciso nos manter mobilizados e atentos. Nosso congresso estadual é um ponto de encontro que dá a parti-da para construir a Campanha Nacio-nal com os demais colegas bancários por todo país”, diz.

    HOSPEDAGEM E CRECHEMães e pais com filhos entre 3 e 10 anos contarão com creche para as crianças mediante solicitação prévia na inscrição. Para crianças abaixo de 3 anos, o Sindicato pagará hos-pedagem e alimentação de babá ou familiar do bancário ou bancária cre-denciados. A proposta faz parte da política de gênero do Sindicato que busca proporcionar a participação igualitária de homens e mulheres.

    INSCRIÇÕESAs inscrições podem ser feitas até o dia 08 de julho, pelo site do Sindicato ou via formu-lário impresso no folder do evento, que deve ser preenchido e entregue na sede do Sindicato ou a algum diretor da entidade.

    CONGRESSOS ESPECÍFICOS

    O primeiro dia do evento será dedicado aos congressos esta-duais específicos dos bancos públicos – Banestes, Caixa e Banco do Brasil, que terão programação própria para debater as pautas de cada corporação. Os detalhes da programação você confere no site bancarios-es.org.br.

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    Caixa publica normas para trabalho remoto e impõe perda de direitos

    STF se curva ao mercado privado e dá aval para privatização de empresas públicasNa contramão da defesa do patrimônio dos brasileiros, o

    Supremo Tribunal Federal (STF) autorizou o governo federal a vender as subsidiárias das empresas públicas, como as lo-terias da Caixa, sem a prévia autorização do Congresso Na-cional. A medida coloca em risco a entrega de pelo menos 94% do patrimônio do total das empresas estatais federais.

    A medida representa o verdadeiro esquartejamento das empresas públicas, como a Caixa, Petrobras e Banco do Brasil, e acarretará graves prejuízos para a população. Com a entrega das subsidiárias para o setor privado, o governo perderá rentáveis fontes de recursos que hoje são destinados para as políticas públicas. As loterias adminis-

    tradas pela Caixa, por exemplo, arrecadaram quase R$ 14 bilhões em 2017. Desse total, cerca de 48% foram trans-feridos para programas nas áreas de seguridade social, esporte, cultura, segurança pública e saúde.

    “Apesar do governo anunciar que 12 empresas públi-cas não serão privatizadas, essa decisão do STF já é o su-ficiente para desidratar as empresas e torna-las obsoletas. É preciso descontruir a ideia de que as empresas públicas geram gastos. Pelo contrário, elas são altamente lucra-tivas e geram recursos para a manutenção das políticas públicas de atendimento à população”, destaca a diretora do Sindibancários/ES, Rita Lima.

    A Caixa publicou no início de ju-nho as normas do Programa de Novos Modelos de Trabalho (RH 226). O normativo evidencia o que já é característico do trabalho remoto: imposição de metas, fim da jornada de seis horas e custos operacionais na conta dos trabalhadores.

    Os empregados que se submeterem a uma das modalidades terão obrigato-riamente que assinar um aditivo de mo-dificação do contrato de trabalho. Essa é uma das mais graves ameaças aos direitos conquistados pelos bancários e bancárias, ao impor, por exemplo, o fim da jornada de seis horas.

    De acordo com a RH 226, o direcio-namento do programa é todo por metas. O alcance das metas estabelecidas pela Caixa, inclusive, é pré-requisito para a seleção das unidades e empregados para o programa. Além disso, os trabalhadores remotos não precisarão registrar ponto no Sipon - todo o controle do trabalho será por meio de metas, definidas pelo gestor.

    “A adoção do trabalho remoto é a institucionalização de uma gestão opressora, em que a jornada será substituída por metas, definidas ao bel prazer do seu gestor, sem que o trabalhador ganhe a mais por isso. Pelo contrário, pode sofrer redução de verbas salariais com a possibilidade, por exemplo, de ficar sem o auxílio-re-feição”, alerta a diretora do Sindibancá-rios/ES Lizandre Borges.

    CUSTOS Para trabalhar em casa, o emprega-

    do deve atender a exigências da Caixa, que incluem iluminação e mobiliários adequados, climatização, equipamen-tos, limpeza, entre outras. Todos os cus-tos com aquisição e manutenção da es-trutura física e tecnológica ficarão nas costas dos empregados.

    “A Caixa exige dos trabalhadores re-motos um padrão de local de trabalho que não há nas próprias unidades do banco. Os empregados enfrentam falta de climatização, iluminação imprópria, mobiliário velho, equipamentos obsole-tos e quebrados”, contesta Lizandre.

    MOBILIDADEDentre as ciladas do programa está

    ainda a categoria Mobilidade Caixa,

    em que os trabalhadores podem ser realocados para atender demandas em outras agências. A estratégia permitirá à Caixa burlar a escassez de emprega-dos nas agências e reduzir as substitui-ções de funções, já que o banco poderá ter bancários disponíveis apenas para substituir ausências ou atender deman-das momentâneas.

    O trabalho remoto é ainda um ata-que à organização dos trabalhadores. “Com bancários atuando em casa, fora do país ou cada dia em um local, há uma fragmentação da unidade, da organização da categoria, que se dá principalmente com o contato diário. Além disso, impõe barreiras para o acesso das entidades representativas aos empregados”, destaca Lizandre.

    Ar CondicionadoBancário paga

    ComputadorBancário paga

    InternetBancário paga

    EnergiaBancário paga

    TelefoneBancário paga

    Metasgestor define

    Jornada de Trabalhoaté cumprir a meta

    Metas do dia:90 cartões

    85 previdências70 captalizações90 seguros

    As facilidades do trabalhoremoto para os bancos

    MobiliárioBancário paga

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    3º onda: BB faz nova reestruturação

    Sindicato lança canal de denúncias

    Bancários e bancárias têm agora um novo canal para encaminhar denúncias de violação de direitos ao Sindicato. A proposta é facilitar o contato dos trabalhadores com a enti-dade, permitindo um meio rápido e se-guro para o envio de mensagens.

    O formulário do canal já está dis-ponível do site do Sindibancários/ES. O preenchimento é simples, e os bancá-rios ainda têm opção de enviar arqui-vos de foto, áudio ou vídeo que ajudem a corroborar a denúncia.

    “É fundamental que os emprega-dos relatem situações que estejam em desacordo com as normas trabalhistas, seja em relação à CLT, à Convenção Co-letiva, aos acordos específicos ou mes-mo aos normativos do banco. Muitas vezes acontecem irregularidades que prejudicam os bancários não só indi-

    vidualmente, mas como coletivo, e o Sindicato só consegue intervir com a colaboração dos bancários”, explica a diretora de Saúde e Condições de Tra-balho do Sindicato, Lizandre Borges.

    O canal é aberto a receber qualquer tipo de denúncia, como descumpri-mento de acordo coletivo em relação à jornada, marcação de ponto, assédio moral, falta de estrutura nas agências, cobrança de metas, ranqueamento, questões de segurança entre outras.

    “A proposta do canal é ajudar o em-pregado a romper o silêncio, para que o Sindicato possa averiguar possíveis irregularidades e fazer os encaminha-mentos. Não podemos deixar que o medo nos impeça de lutar pelos nossos direitos”, completa a diretora.

    Vale lembrar que a identidade dos empregados que utilizam o canal é

    mantida sob sigilo. Há também a opção de enviar a denúncia de forma anônima, mas o acompa-nhamento dos bancários é fundamen-tal para ajudar na apuração dos fatos.

    O Banco do Brasil iniciou em junho a terceira onda de re-estruturação para expansão do Modelo Varejo na rede de atendimento. Estão previstos novos cortes de funções, mi-gração de carteiras para o digital e centralização de processos.

    O banco já divulgou calendário para concorrência de vagas em lateralidade e início do pagamento do VCP (Verba de Contri-buição Pessoal) para futuros descomissionados, mas ainda não é possível dimensionar o impacto das mudanças no Espírito Santo.

    A reestruturação é parte da estratégia do BB para fortale-cer o atendimento digital e ampliar a captação de negócios, como explica o diretor do Sindibancários/ES Thiago Duda. Segundo ele, o atendimento digital tem limites e traz conse-quências para a população e para os bancários.

    “A sequência de reestruturações no BB têm esvaziado as agências. A estrutura do banco se desloca para o digital, priorizando negócios e clientes maiores, o que vai de encon-tro ao papel do BB como banco público, que deveria atender a todos. Além disso, quantos da população de menor renda têm realmente acesso à internet, a computadores e celulares adequados, ou estão familiarizados com a tecnologia para usar esse serviço?”, questiona.

    Para o diretor, a demanda por atendimento presencial não diminuiu, “basta olhar as filas cotidianas nas lotéricas e demais correspondentes bancários”. Ele alerta que, para além do discurso de modernização e flexibilização que acompanha a estratégia digital está uma política de redução

    de custos e de precarização do trabalho bancário. “O uso da tecnologia vai eliminando a obrigatoriedade de

    acompanhamento de determinados níveis gerenciais, com isso, as funções comissionadas são reduzidas. A migração e centralização de contas nas agências digitais inflam essas carteiras, e o que temos são bancários tendo que administrar centenas de contas, além de ter que bater várias metas de vendas. A pressão é enorme, num ambiente de trabalho que pouco se diferencia de um call center”, destaca.

    A estimativa do BB é de que esta fase da reestruturação atinja 173 praças no país, que englobam 189 agências – 3% do total. Concluída essa fase, serão 415 praças e 2.080 agên-cias, ou seja, 40% da rede, funcionando dentro do modelo de atendimento Varejo.

    Mudanças fortalecem estratégia digital. 173 praças no Brasil serão

    atingidas nessa nova etapa

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    Diálogo

    Marcelo Badaró Mattos, professor de História do Brasil da Universidade Federal Fluminense, pesquisador de história do trabalho e autor do livro “A classe trabalhadora: de Marx ao nosso tempo”, fala sobre as novas configurações do mundo do trabalho e as ameaças aos direitos dos trabalhadores.

    Marcelo Badaró Mattos

    “Querem matar o futuro dos trabalhadores”

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    Quais mudanças vêm ocorrendo no mundo do trabalho?

    Tanto no plano internacional, quanto no Brasil, vivemos uma expan-são da classe trabalhadora. No início do século XXI, em 2000, tinha mais ou menos 2,6 bilhões de trabalhadores. Em 2016, já eram mais de 3,2 bilhões. Essa força de trabalho global não para de crescer. Mas, ao mesmo tempo, essa força de trabalho não encontra empre-go em quantidade suficiente para seu ritmo de expansão, e o que encontra nem sempre é o emprego formal, com contrato padrão de trabalho. De acordo com a OIT, no máximo 45% da força de trabalho têm emprego formal. Quase 60% da força de tra-balho estão em empregos tempo-rários, informais ou precários. No Brasil, temos uma taxa histórica de informalidade entre 40% e 50%. Mas a marca do trabalho no mun-do é a precariedade. De acordo com os dados brasileiros mais re-centes, há quase 40 milhões de traba-lhadores na informalidade. O melhor indicativo disso é que hoje o maior empregador no Brasil não é um único empregador, são os aplicativos. Isso seria a “uberização” do trabalho...

    Isso tem sido chamado de “uberi-zação” do trabalho, porque, talvez, a Uber seja a primeira e maior dessas empresas que se relaciona com pessoas através de um aplicativo que ganham um percentual do trabalho que exe-cutam, sendo o outro percentual apro-priado pela empresa dona do aplicati-vo. No Brasil, já se estima que hoje 14 milhões de pessoas trabalham para a Uber, o Ifood e tantas outras desse tipo.

    A reforma trabalhista prometia ge-rar mais emprego e o que vemos é aumento do trabalho informal. A quem interessa a reforma trabalhis-ta e, agora, a da Previdência?

    Essas reformas interessam sem dúvida nenhuma ao capital. Vivemos uma crise econômica que no Brasil teve uma cronologia um pouco distinta da internacional. Depois da crise de 2008, a manutenção do comércio internacio-nal, especialmente com a China, de commodities, das mercadorias vindas do agronegócio, da extração mineral,

    manteve a economia brasileira por mais alguns anos. Mas principalmen-te de 2014 para cá, vivemos uma crise significativa, e a saída que o capital, especialmente em uma periferia capi-talista como é o Brasil, encontra para a crise é sempre jogar a conta sobre a classe trabalhadora. A linha geral é retirar direitos para diminuir os custos da força de trabalho. Foi isso que acon-teceu no Brasil sob o governo ilegítimo de Michel Temer com a justificativa de que diminuindo os custos indiretos, se geraria mais emprego.

    Mas tudo que vimos de lá para cá não só não gerou mais emprego, como o pouco que gerou foi emprego precário,

    informal. O fim de obrigações patro-nais tem um peso para a classe traba-lhadora. Para aqueles que continuam empregados, os salários diminuíram nos últimos anos no Brasil, a jornada de trabalho só aumenta e, recentemente, a Organização Mundial de Saúde (OMS) reconheceu a síndrome de Bornout, que é a exaustão completa do trabalhador pelo excesso de trabalho.

    A Previdência Social é hoje absoluta-mente sustentável, mas vai ficando in-sustentável na medida em que diminui os postos de trabalho formais, porque

    cai a contribuição para a Previdên-cia. Se essa reforma for aprovada pode acontecer uma diminuição ain-da maior da contribuição patronal, e a consequência disso é a inviabili-zação do futuro das aposentadorias. Então a reforma que está colocada, na prática, não vai gerar mais em-pregos e vai precarizar ainda mais as relações de trabalho e a vida dos trabalhadores no futuro.

    Nesta conjuntura quais são as pers-pectivas para a classe trabalhadora?

    Seria muito otimismo dizer que te-mos no horizonte algum tipo de prog-nóstico positivo para a classe trabalha-dora brasileira. Pelo contrário, estamos vivendo um cenário de ameaças muito sérias. A reforma da Previdência é uma delas. O governo que está aí ameaça direitos, ameaça liberdades democráti-cas, as condições de vida. As perspec-tivas para a classe trabalhadora vão depender de sua capacidade de orga-nização e de luta. A resposta só pode vir da própria classe trabalhadora. Não dá para confiar em nenhuma saída ins-titucional, por cima.

    “Com a proposta da reforma da Previdência o que está

    colocado para a classe trabalhadora é ainda pior,

    porque se eles já estão matando o presente, querem

    agora matar o futuro dos trabalhadores”

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    Foto: Sérgio Cardoso

    Operadores noturnos podem sofrer corte de 40% do salário após terceirização no CPD

    É dramática a situação dos ope-radores de telemarketing que trabalham no turno da noite na Coordenadoria de Atendimento Re-moto ao Cliente do Banestes (Coarc), setor de telemarketing do Centro de Processamento de Dados (CPD) que será terceirizado.

    A empresa Sollo, que ganhou a lici-tação, começa a operar dia 17 de julho. A partir de então, a função de operador de telemarketing será extinta, e os oito bancários que trabalham no local serão realocados na função de Caixa. Desse total, cinco são encarregados noturnos, com jornada de 12X60h. Para esses, a mudança representa uma perda de até 40% da remuneração mensal. Isso por-que eles recebem desde 2003 um adi-cional noturno diferenciado, que será perdido com a movimentação.

    O Sindicato já se organiza para noti-ficar o banco em relação à redução sa-larial dos empregados e a qualquer ou-tro prejuízo decorrente da terceirização, como a realocação de função. “Vamos intervir junto ao banco buscando nego-ciação e, se preciso for, recorreremos à justiça para impedir que os emprega-dos sejam lesados”, afirma Jornas Frei-re, coordenador geral do Sindicato.

    Jonas critica a falta de diálogo com o Sindicato sobre a movimenta-ção dos bancários. “O banco deveria ter nos procurado para ajudar a con-duzir uma alternativa, mas ao invés disso, a única possibilidade que deu aos bancários foi a adesão a um plano de demissão, sem sequer especificar os termos ou benefícios”.

    Na Coarc, o clima é de desmotiva-ção. “Os bancários estão se sentindo desrespeitados, alguns têm 30, até 35

    PRÉDIO DO CENTRO DE PROCESSAMENTO DE DADOS DO BANESTES (CPD), ONDE ESTÁ INSTALADO O SETOR DE TELEMARKETING QUE FOI TERCEIRIZADO

    anos de banco, é uma vida dedicada à instituição para serem desvalorizados dessa forma”, conclui Jonas.

    PROBLEMA VAI ALÉM O Sindibancários/ES vem criticando

    desde março o processo de terceiriza-ção no CPD, preparado após notificação do Ministério Público sobre irregulari-dades no contrato dos 87 estagiários que trabalhavam no setor, que agora serão substituídos por empregados da prestadora de serviços.

    Para o Sindicato, a terceirização no Coarc representa uma maior precariza-ção das relações de trabalho e podem abrir um precedente grave no banco. A defesa da entidade é de que os estagi-ários sejam substituídos por concursa-dos, que passariam a integrar o quadro de funcionários do banco.

    Os bancários estão se sentindo desres-peitados, alguns têm 30, até 35 anos de banco, é uma vida dedicada à instituição para se-rem desvalorizados

    dessa forma.

    Jonas Freire SantanaCoordenador geral doSindibancários-ES

    Cassi i O Sindicato oficiou a Fetraf RJ/ES, a Contraf, o Comando Nacional e a Comissão de Empresa.

    Cassi iiO motivo foi a proposta de aumento da coparticipação e alteração no critério de cobrança da mesma.

    Cassi iii O Sindicato quer que as entidades se posicionem sobre o aumento de custos aos associados.

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    Fotos: Sérgio Cardoso

    Para o Sindicato, o balanço da greve foi positi-vo, mas a reforma ainda não foi derrotada, o que requer maior pressão nas ruas e também sobre os parlamentares.

    “Existe um consenso entre governo, represen-tantes de bancos e grandes empresas em torno da reforma. Mesmo partidos de centro e da direita tradi-cional que criticam o governo trabalham no sentido de aprovar o quanto antes a reforma da Previdência, por isso os trabalhadores precisam reforçar sua luta nas ruas e expor os parlamentares que se posicio-nam contra os trabalhadores”, afirma Carlos Pereira de Araújo (Carlão), diretor do Sindibancários/ES.

    A atuação da Polícia Militar foi novamente violen-ta. Os trabalhadores foram reprimidos desde a madru-gada, na ação de contenção dos ônibus nas garagens da Grande Vitória. Vários manifestantes foram detidos. Na concentração na Vila Rubim, policiais usaram spray de pimenta, sacaram armas e cassetetes contra os trabalhadores que participavam da manifestação.

    GREVE GERAL: trabalhadores param contra a reforma da Previdência, por emprego e educação

    Resistir, resistir, até a reforma cair

    Repressão

    O Brasil amanheceu em greve no dia 14 de junho. Trabalha-dores e trabalhadoras de diversas categorias se mobiliza-ram em atos unificados paralisando os principais setores produtivos do país, em protesto contra a reforma da Previdência, os cortes na educação e o desemprego.

    Na Grande Vitória, bancários, rodoviários, estudantes, trabalha-dores da limpeza, da saúde, professores, petroleiros, comerciários e outros profissionais se concentraram em vários pontos da capital, como a Terceira Ponte e a Vila Rubim. Aos poucos, as principais avenidas da cidade ficaram desertas, demonstrando o impacto e a força da greve geral. O ponto alto do movimento paredista aconte-ceu no início da tarde, com ato unificado em frente à Federação das Indústrias do Espírito Santo (Findes), na Reta da Penha.

    “É um dia especial e histórico. Em todos os cantos desse país, nas fábricas, nas cidades, nas rodovias, no campo, tem trabalhador e tra-balhadora dizendo não à reforma da Previdência de Bolsonaro e Paulo Guedes. Não aceitaremos morrer trabalhando porque contribuímos a vida inteira e lutamos para conquistar o direito a uma aposentadoria digna. É preciso dizer em alto e bom som que os trabalhadores desse país, que produzem a riqueza, não aguentam mais perder direitos. E nós resistiremos, como resistimos à escravidão, à Ditadura de Vargas, à Ditadura Militar, nós resistiremos ao fascismo de Bolsonaro”, disse em tom vibrante a diretora do Sindibancários/ES Rita Lima, que parti-cipou da condução do ato representando a Intersindical.

    O coordenador geral do Sindicato, Jonas Freire, falou sobre os interesses que estão por trás da reforma da Previdência e da pre-carização da educação pública, e da necessidade de uma mobi-lização mais ampla para romper em definitivo com o sistema de exploração e opressão em que vivemos.

    “Não é à toa que Paulo Guedes quer implantar a capitalização nesse país. Para Guedes, que é banqueiro, a capitalização deu certo, porque os bancos ganharam muito dinheiro com a capitalização no Chile. Por isso ele quer a capitalização, e a gente que se dane! E é por isso também que temos que reagir, ir à luta. Não basta um, dois, três mil nas ruas; é preciso milhões para construir a nossa libertação de uma vez por todas, pra gente largar de vez essa miséria que querem nos impor. Querem cortar as verbas da educação pública, pois quem estuda na escola pública são os filhos dos trabalhadores. Para os filhos dos ricos, a educação está garantida, mas para garantir a educação dos nossos filhos precisamos estar nas ruas”, alertou Jonas.