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Beitrge trad Carneiro Leo 18. Impotncia do pensamento A impotncia do pensamento parece evidente, tanto mais quanto vale, como potncia, a fora da ao e a afirmao imediata. Mas se, em vez disso, potncia significasse fundar-se e consolidar-se na vigncia essencial com base na capacidade de transformao? Mesmo neste caso, ainda no se decidiu nada sobre impotncia ou potncia do pensamento. A impotncia do pensamento entendida em sentido comum possui muitas razes: 1 - que at o momento, ainda no se cumpriu nem mesmo possvel cumprir-se qualquer pensamento essencial; 2 que a maquinao e a experincia vivida pretendem ser a nica coisa eficaz e portanto potente e no deixam espao para a potncia genuna. 3 que mesmo se um pensamento essencial pudesse ter sucesso e cumprir-se, ainda no teramos a fora de nos abrir para sua Verdade, de vez que tal comporta um nvel prprio de pre-sena. 4 que, com a crescente obtusidade frente simplicidade da meditao do sentido e com a falta de perseverana no questionamento, despreza-se logo todo curso e caminho de pensamento, que no traga logo desde o primeiro passo um resultado com que se possa fazer alguma coisa e em cuja ocasio haja ou possa haver uma experincia a ser vivida. Por isso a impotncia ainda no de per si uma objeo contra o pensamento, mas contra aqueles que o desprezam. Por outro lado, porm, a potncia genuna do pensamento (no sentido de um pensamento que atinge a verdade de SER) no admite definio e 115 avaliao imediata, tanto mais quanto h de levar o pensamento para o SER e expor, pondo em campo, toda a estranheza de SER e por isso mesmo nunca poder contentar-se com sucesso no mbito do sendo. Tal o fundo mais escondido da solido de todo questionamento especulativo. A to proclamada solido do pensador no seno uma decorrncia, pois no nasce de um retirar-se para dentro de si mesmo, afastando-se de algo, mas advm de sua provenincia do mbito do SER. Esta provenincia nunca tambm ser iluminada pela ao e sucesso de um pensador, ao contrrio, ser, ao invs, intensificada pela inao e insucesso, caso tenha algum sentido falar-se aqui de intensificao. iv Heidegger, M. Beitrge zur Philosophie (Vom Ereignis). Frankfurt AM: Vittorio Klostermann, 1989. GA.65. Passagem extrada do incio da obra e, itens 1 e 2. Traduo Emmanuel Carneiro Leo: Contribuies para a Filosofia (da Parusia) Uma longa hesitao me levou a manter parte o que aqui se considerou, em acenos, pegadas a serem percorridas inteiramente. 1. Preliminar Ttulo pblico: Contribuies para a Filosofia e Ttulo do vigor de ser: Da Parusia, da abertura de acontecer (Er-eignis) O ttulo pblico no pode deixar de ter a aparncia de uma necessidade rala, ordinria e insignificante nem deixar de dar a impresso de Contribuies cientficas para o progresso da filosofia. A Filosofia no se pode anunciar, em pblico, de outro modo, uma vez que todos os termos essenciais se tornaram impossveis, por se terem gasto todas as palavras fundamentais e se ter destrudo o relacionamento genuno com a palavra da Linguagem. Todavia, o ttulo pblico corresponde prpria coisa porque, na poca de se passar da metafsica para o Pensamento da Histria de Ser, poder-se- apenas arriscar uma tentativa de pensar a partir da perspectiva de um posicionamento 116 mais originrio dentro da questo oriunda da Verdade de Ser. Mesmo que tivesse sucesso a tentativa de se pensar ativamente (er-denken) conforme a abertura do acontecer da Parusia de Ser, dever-se-ia guardar de pretender escrever falsamente uma obra, no estilo utilizado at aqui. O pensamento vindouro um curso que percorre um mbito, at agora totalmente escondido: a vigncia de Ser onde se abre a clareira e destarte se propicia o carter mais condizente com o acontecer da Parusia. J no se trata de uma coisa qualquer que seja ou de expor algo objetivo. Trata-se, ao invs, de entregar-se e aviar-se abertura do acontecer da Parusia (Er-eignis). o que implica uma transformao no modo essencial de ser homem, passando do animal para a Pre-sena. O ttulo adequado , pois, Da abertura do acontecer da Parusia (Er-eignis). O que no significa que se faa um relatrio, mas quer significar: pela abertura e na abertura da Parusia apropria-se a pertinncia de pensamento e linguagem pertencerem a Ser e palavra de Ser.

1. As Contribuies desenvolvem questes dentro de um percurso 1 As Contribuies desenvolvem questes dentro de um percurso inaugurado apenas pela passagem para Outro Princpio em que est entrando o pensamento ocidental. Trata-se de um percurso que inclui passar pela abertura da Histria e o pensamento instala na morada talvez bem longa, onde o Outro Princpio se d sempre, mas apenas, como pressgio, embora j decidido. Destarte, pois, as Contribuies, embora j falem e falem apenas da vigncia essencial de Ser, isto , da abertura em que se d e acontece Parusia, ainda no tem condies de elaborar (fgen) o trabalho de tecelagem (Fuge) da Verdade de Ser a partir dela mesma. Caso venha a conseguir, ser a prpria vigncia de Ser que h de sintonizar a vibrao das tramas de todo esforo especulativo. Esta vibrao se refora, ento, tornando-se o vigor da livre mansido de uma intimidade em que ocorre a divinizao (Gtterng) de ser Deus dos deuses. E da assinala para Pre-sena a ser, enquanto fundao de sua verdade. Todavia mesmo aqui j se deve tentar, num exerccio preliminar, o discurso especulativo prprio da filosofia neste novo Princpio. Aqui, ressalte-se, no se descreve nem se explica nada, no se anuncia nem se ensina pois aqui o dizer do 117 discurso no est diante do que se diz, mas ele mesmo, ou seja, a vigncia essencial (Wesung) do prprio Ser. Tal dizer recolhe o Ser numa primeira ressonncia (Anklang) de sua vigncia e o eco lhe ecoa apenas e somente no timbre de sua vigncia. No exerccio preliminar, uma questo pronunciada no como ao de um sujeito singular, visando alcanar um escopo, nem como clculo limitado de uma comunidade, mas sobretudo como uma resposta a um aceno que vem do que mais digno de ser questionado pelo pensamento e lhe fica sempre atribudo. Liberar qualquer elaborao pessoal s tem sucesso com base em pertencer ao aceno primordial. Nenhuma fundao se alcana sem que se valha desta libertao. J passou o tempo dos sistemas. E o tempo de edificar uma elaborao do sendo com base na Verdade de Ser, ainda no chegou. No meio tempo ao passar para o Outro Princpio, a filosofia j deve ter se desincumbido de algo essencial: a saber, do projeto, isto , da abertura, que funda o jogo de espao e tempo (Zeit-Spiel-Raum) prprio da Verdade de Ser. Como , ento, que se deve cumprir e realizar esta nica coisa? Para isto, estamos sem precursores, nem arrimo. Simples variaes da tradio, mesmo que fossem completas, por meio de uma combinao mais larga possvel dos modos de pensar conhecidos da histria, no nos ajudariam em nada. No nos fariam avanar um passo. E tanto mais qualquer tipo escolstico de viso de mundo, visto que todas elas s podem basear-se na negao da dignidade exigida pela questo de Ser. No compromisso do que digno de ser questionado, a filosofia encontra a prpria dignidade que refratria ao clculo e sem possibilidade de deduo. Todas as decises no agir da filosofia se tomam para salvaguardar e como salvaguarda desta dignidade. No mbito do que sobretudo mais digno de ser questionado, a atividade de todo agir s poder ser a de questionar uma nica questo. Caso haja, entre os tempos retrados da filosofia, um tempo em que ela se deve decidir por sua prpria vigncia essencial, movida pela certeza do prprio saber, tal tempo o tempo da passagem e do passamento para um Outro Princpio. Chama-se de Outro Princpio do pensamento no porque se apresente apenas de uma outra forma, face a qualquer filosofia conhecida at agora, e sim porque tal deve ser o nico Outro Princpio referente ao nico Primeiro Princpio. Com esta recproca referncia de um e de outro Princpio sintoniza-se tambm o modo 118 de passar da meditao especulativa. O pensamento da passagem cumpre ao passar o projeto de fundao da Verdade de Ser enquanto meditao Histrica. Histria aqui no nem o objeto, nem a regio definida por uma observao, mas apenas o que a questo especulativa e s ela desperta e realiza como lugar das prprias decises. Ao passar, o pensamento pe em dilogo o que j foi primeiro (das erste Gewesene) o ser da Verdade de Ser e o ltimo por-vir da Verdade de Ser e neste dilogo d a palavra vigncia de Ser que at aqui e agora no foi atingida nunca por nenhuma questo. No saber do pensamento transitivo, o Primeiro Princpio se impe decisivo, por ser primeiro, mas tambm superado, por ser incio. Neste pensamento, a independncia de dirigir-se para outro questionamento e outro dizer deve necessariamente acompanhar, sem preconceito, o mais ntido temor reverencial diante do Primeiro Princpio, o nico que lhe destranca a unicidade. O esboo do projeto das Contribuies visa a preparar a passagem para Outro Princpio. Foi retirado de um plano originrio ainda no realizado completamente, sobre a historicidade da prpria passagem. A ressonncia (Der Anklang). O jogo de passes (der Zuspiel). O salto (der Sprung). A fundao (die Grndung). Os vindoutros (Die Zuknftigen). O ultimo Deus (der letzte Gott). O esboo no apresenta uma sequncia de reflexes diversas sobre objetos diversos. Tambm no uma introduo que eleva de um estgio inferior para outro superior. Trata-se, ao contrrio, do desenho (bosquejo) preliminar do espao em que age o tempo. S a Histria da passagem cria um mbito para ela mesma decidir pela prpria lei, entre aqueles que no tm futuro, i. , que so sempre apenas eternos, e aqueles que esto por vir, i. , aqueles que no so seno de uma nica vez. 2. Dizer o acontecer da abertura a primeira resposta questo de Ser. A questo de Ser a questo de sua verdade, a revelao de ser dos seres. Depois de cumprida e compreendida na histria pela Histria, ela se transforma 119 em contraste com a questo at agora em voga na filosofia, sobre o sendo do ser, questo guia (der Leit-frage), ela se transforma na questo de fundao (Grundfrage). A questo da verdade de Ser irrompe, sem dvida, num espao j reservado: de fato, a verdade de Ser enquanto especulativa, insiste em saber como que Ser se apresenta em seu vigor de vigncia talvez ela no diga respeito nem mesmo aos deuses, mas pertena unicamente ao abismo da destinao a que at agora os deuses se devem submeter. E, no entanto, para o sendo, o que e est sendo, Ser deve-se dar em sua vigncia ontolgica (Wesen). Mas como que Ser se d em sua vigncia ontolgica? E, no entanto, o que e est sendo, e est mesmo sendo? Com que base o pensamento poder decidir aqui, seno movendo-se a partir da Verdade de Ser? Ser, pois, j no pode ser pensado dentro da perspectiva do sendo, do que e est sendo, mas ele mesmo que se deve pensar ativamente (er-dacht) em si mesmo por si mesmo. H tempos em que os fundadores do abismo se devem consumir no fogo do que se preserva a fim de que se torne possvel ao homem a pre-sena e assim se venha preservar a estabilidade do sendo em meio ao sendo, com a finalidade de o prprio sendo fazer a experincia de recuperao (Verwindung) na abertura da disputa entre terra e mundo. Em consequncia, o sendo que e est sendo, impelido em sua estabilidade pelo ocaso dos fundadores da Verdade de Ser. isso que requer o prprio Ser. Este mesmo necessita daqueles que desaparecem no ocaso. Onde surge um sendo, l mesmo eles j se abriram no e ao acontecer da Parusia (er-eignet), a que j se determinaram a si mesmos. Tal a apresentao essencial do prprio Ser: ns o chamamos de abertura da e para a Parusia. (Parusia o nome para o abrir-se e acontecer de realizaes). Sem limites e, por isso, incomensurvel a profundidade da remisso recproca (kehrig) entre ser e pre-sena na Parusia. Incalculvel, a plenitude de riquezas do abrir-se para o acontecer apropriador da Parusia (Er-eignng). E sempre pouco o que se chega a dizer agora, neste instante de pensamento inaugural, aberto pelo aparecimento da Parusia. Tudo que se diga provm do jogo recproco de passes na passagem do Primeiro para o Outro Princpio. Trata-se do jogo da ressonncia de ser, movido pela urgncia (Not) de abandonar o ser dos seres em favor do salto de Ser na direo de fundar-lhe a verdade, ao preparar a chegada dos vindouros do ltimo Deus. 120 Este dizer especulativo apenas uma indicao, que mostra a abertura de salvamento da Verdade de Ser, como urgncia no sendo e para o sendo, sem a imposio de um comando. Um pensar assim no admitiria nunca transformar-se numa doutrina e subtrar-se-ia a toda opinio por mais oportuna e contingente que seja. Em troca, porm, proporcionaria a poucos e a seu saber, uma remisso para arrancar o homem da confuso do no sendo (das Unseinde) e recoloc-lo na docilidade de criar uma instancia reservada para o passar do ltimo Deus. Se o evento, porm, constitui o apresentar-se essencial de Ser, torna-se, ento, bem prximo o perigo de recusa da Parusia e de no poder recus-la. que o homem se tornou demasiado frgil para a Pre-sena, suplantado pela violncia de uma fria desencadeada pelo gigantesco com aparncia de grandeza. Todavia, e se o evento se transformar numa recusa de ser (Weigerng) e numa rejeio de deixar ser (Ver-weigerng) ento o que se d e acontece reduzir-se- subtrao de Ser, e ao abandono do sendo, ao que no nem est sendo? Ou talvez ser que a recusa (carter negativo - das Nichthafte - de Ser) poder alcanar o extremo de transformar-se na mais distante Parusia? Admitindo-se que o homem compreenda tal evento e o espanto (Schrecken) do pudor (Scheu) o reconduza disposio fundamental de conter-se (Verhaltenheit) e assim o exponha j Pre-sena? Saber que a vigncia da Parusia de Ser esteja j acontecendo, no implica nem significa apenas reconhecer o perigo da recusa mas dispor-se a estar pronto para a superao. A primeira coisa a fazer em tal propsito e com grande antecedncia, s poder ser mesmo: por em questo e questionar Ser. Ningum compreende o que aqui se passa em meu pensamento: levar a Pre-sena a provir da Verdade de Ser (e isto O provir essencial da Verdade) visando a fundar todo sendo enquanto sendo, mas no meio do sendo, homem. Ningum o compreende porque todos se afanam por explicar minha tentativa apenas em termos historiogrficos, reportando-se a um passado que pretendem compreender pelo fato de j se achar a suas costas. Mas, quem, um dia, chegar a compreend-lo, no ter necessidade de minha tentativa; pois j ter realmente aberto por si mesmo o caminho. Deve-se poder pensar o que se tenta, de modo a fazer com que aquele pensamento lhe chegue de longe e no entanto lhe seja o mais prximo. ele que lhe confiado, por ter 121 necessidade e, por isso mesmo no poder cair na tentao, nem ter ocasio de pensar por si mesmo. Num simples arranque do pensamento essencial, transfere-se, forosamente, a abertura da Verdade de Ser para Outro Princpio, a fim de que no jogo de passes da passagem ressoe o canto de Ser totalmente Outro. Assim o que aqui se torna efetivamente real a Histria refratria a qualquer aproximao historiogrfica, pois ela no faz surgir o passado e retoma sempre o impulso de lanar-se (berschwung) na direo do futuro. v Heidegger, M. Beitrge zur Philosophie (Vom Ereignis). Frankfurt AM: Vittorio Klostermann, 1989. GA.65, item 12, p. 32. Traduo Emmanuel Carneiro Leo: 12. Parusia e histria Aqui no se entende histria, como o mbito do sendo entre sendos mas unicamente com vista pertena essencial de SER. Analogamente j em Ser e Tempo a historicidade da pre-sena s se compreende na perspectiva fundamental ontolgica e no como contribuio (Beitrge) para a filosofia da histria existente. A Parusia (Er-eignis) a prpria histria originria, o que poderia aludir ao fato de aqui a vigncia de SER entendida em geral historicamente, mas ateno: historicamente no no sentido de um conceito de histria e sim historicamente no sentido de que vigncia de SER j no significa apenas a simples ocorrncia mas a permanncia plena do abismo como fundao do espao-tempo e por conseguinte da Verdade. Junto com isso resulta, portanto, o saber da unicidade de SER. Isto, porm, no significa que a natureza seja desconsiderada, ao contrrio transformada de modo igualmente originrio. Com esta concepo originria da histria, conquista-se ento o mbito onde se v porque e de que modo a Histria seja mais do que simples ao e vontade. Tambm o destino pertence histria sem esgotar-lhe a vigncia. O caminho que leva vigncia da histria, entendida pela permanncia do SER mesmo, preparando na ontologia fundamental, fundando-se a historicidade na temporalidade. que no sentido da nica questo guia de Ser e Tempo, a questo de SER, isto significa: enquanto espao-tempo, o tempo assume a vigncia da histria; entretanto na medida que espao-tempo o abismo do fundamento, 122 i. , da Verdade de SER, um envio vigncia do prprio SER se insere na interpretao da historicidade. E unidade fctica que ali se prope, o que se requer e no uma teoria ou filosofia da histria. vi Heidegger, M. Beitrge zur Philosophie (Vom Ereignis). Frankfurt AM: Vittorio Klostermann, 1989. GA.65. Item 16, p. 43. Traduo Emmanuel Carneiro Leo: 16. Filosofia A filosofia um saber imediatamente intil e no obstante soberano advindo do sentido de uma meditao do sentido (Besinnung). Meditar o sentido consiste em perguntar pela Verdade de Ser. Perguntar pela Verdade saltar dentro (Einsprung) da vigncia principial e portanto dentro do prprio Ser. Esta pergunta quer saber se e quando que pertencemos ao Ser (enquanto Parusia). Esta pergunta h de ser feita devido vigncia do Ser ter necessidade de ns, mas de ns no enquanto agentes, mas de ns enquanto suportamos a Pre-sena, sustentando-a insistentemente e fundando-a na Verdade de Ser; a meditao tem de ser justamtente por isso meditao do sentido de si mesmo (Selbstbesinnung = meditao do sentido de si mesmo), o que no quer dizer nem significa que seja uma observao de si mesmo, como dado e contedo e sim visando fundao da verdade de si mesmo com base na apropriao da Pre-sena. A pergunta exige de ns uma pertena ao Ser, j , pois, em si mesma, como se disse, a pergunta pela exigncia vigente do Ser; a pergunta pela pertena pergunta pela deciso entre a pertena ainda a ser determinada, e o abandono de Ser, como rigidez e enrijecimento no no sendo, enquanto mera aparncia de sendo. Enquanto esta meditao do sentido, a filosofia percorre a deciso extrema possvel e com a abertura domina previamente toda recuperao da verdade no sendo, e no sendo enquanto sendo. neste sentido que a filosofia saber soberano, por excelncia, embora no seja saber absoluto, maneira da filosofia do idealismo alemo. Por outro lado, porque a meditao do sentido uma meditao de si mesmo, por isso que nela chegamos a perguntar quem somos ns (qual nosso 123 Sentido?) de vez que nosso ser um ser histrico, um ser sobretudo legado j sendo e assim a meditao do sentido se transforma obrigatoriamente na pergunta pela Verdade histrica da filosofia, com a meditao do sentido acerca do Primeiro Princpio que tudo supera e acerca de seu desdobrar-se e desenvolver-se at o fim. Uma meditao sobre hoje, o que hoje acontece, tem um alcance sempre demasiado estreito. Essencial a meditao sobre o Princpio que, prefigurando o prprio fim, compreende tambm hoje, enquanto linhagem e descendncia do fim. E o faz de tal modo que, na perspectiva do Princpio, o hoje se manifeste segundo a Histria do Ser (ver cap II: A re-ssonncia, 57: A Histria do Ser e o abandono do ser). Ainda mais estreito o horizonte, que orienta a filosofia pelas cincias, hoje costumeiro e no por acaso desde o incio da modernidade. Tal orientao da pergunta e no apenas a de tipo explicitamente epistemolgico deve ser rejeitada de todo. A filosofia nunca constri diretamente sobre o sendo, mas prepara a Verdade do Ser e se mantm pronta nas perspectivas e nos horizontes que aqui se abrem para ela. A filosofia uma fuga (Fge) musical no que e est sendo, na medida em que se torna a disponibilidade que, dispondo-se para e no Ser, dispe de sua Verdade vii Heidegger, M. Beitrge zur Philosophie (Vom Ereignis). Frankfurt AM: Vittorio Klostermann, 1989. GA.65. Item 16, p. 43. Traduo de Emmanuel Carneiro Leo: 17. O carter necessrio da filosofia Toda indispensabilidade se funda numa necessidade. A filosofia, enquanto meditao primordial e ltima do sentido sobre a Verdade de Ser e sobre Ser da Verdade tem sua indispensabilidade na necessidade primordial e ltima. Necessidade o que agita (umtreibt) o homem no sendo e o leva primeiro para o sendo em SEU todo e no meio do sendo e, portanto, leva a si mesmo e faz com que a histria de quando em vez tenha aurora ou ocaso. 124 O que traz tenses o ser e O estar lanado (Geworfenhiet) do homem no que e est sendo, no sendo, portanto. Este estar lanado o leva e determina a lanar Ser (a verdade de Ser). Lanar e ser lanado cumpre o gesto primordial, aquele que funda enquanto projeto (ver cap V: A fundao, 203: O projeto e a pre-sena), do sendo sobre o Ser no Primeiro Princpio desde o momento em que o homem vem a estar defronte do sendo, o projeto, tal como seu modo e sua indispensabilidade bem como necessidade, ainda so obscuros e velados, mas poderosos: fusij alhqeia en pan logoj nouj polemoj me on dikh adikia. A indispensabilidade da filosofia est no fato de, enquanto meditao do sentido, no conseguir remover a necessidade mas sustent-la e fund-la tornando-se o fundamento da histria do homem. Esta necessidade, porm, sempre diversa nos primrdios essenciais e nas passagens transitivas da histria humana. Nunca, porm, deve-se considera-la de modo exterior e mope como falta, misria e coisas assim. que ela est fora de qualquer avaliao, seja pessimista seja otimista. De acordo com a experincia primordial que, cada vez, se tem, esta necessidade o estado de nimo fundamental, a angstia que dispe indispensabilidade. O estado de nimo fundamental no Primeiro Princpio a admirao (Er-staunen) pelo fato de o sendo ser, pelo fato de o prprio homem ser em sendo, um sendo no que ele no . O estado de nimo fundamental do Outro Princpio o espanto (Er-schrecken). O espanto no abandono de Ser (cf. cap. II: A ressonncia) o retraimento (o re-ter-se) que funda este espanto criativo. A necessidade enquanto busca torna unicamente necessrias a deciso e a ciso do homem, enquanto sendo do sendo no meio do sendo e voltando para o sendo, tal necessidade pertence Verdade do Ser em si mesma. No modo mais originrio ela (a necessidade) necessria para tornar necessria a indispensabilidade das possibilidades extremas no caminho e a caminho das quais (possibilidades) o homem, criando e fundando, vai alm de si mesmo e retorna fundao do sendo. Onde essa necessidade se eleva ao mximo, ela torna necessria a pre-sena e sua fundao (cf. a prelao os semestre de inverno 1937/38, pp. 18ss). 125 A necessidade desta procura carrega o que essencialmente presente: mas se tal fosse a prpria Verdade de Ser e se com a fundao mais originria da Verdade, o ser se tronasse o que, como evento, viesse a ser o que se apresenta ainda mais essencialmente? E se tal necessidade se tornasse o que mais necessita e leva em tal fria fosse apenas a contenda, que se fundaria negando-se no excesso da intimidade do Ser no sendo? viii Heidegger, M. Beitrge zur Philosophie (Vom Ereignis). Frankfurt AM: Vittorio Klostermann, 1989. GA.65. Item 19, p. 43. Traduo de Emmanuel Carneiro Leo: 19. A Filosofia (Sobre a pergunta: quem somos ns) A filosofia sempre meditao sobre o sentido de si mesmo, por ser meditao sobre o sentido de SER. A fundao desse nexo antecedente e distingue-se no vigor de sua vigncia essencial de toda e qualquer relao com a certeza de si prpria do eu que visa alcanar a certeza e a verdade de SER. que esta remonta a um nvel at mais originrio do que o nvel da passagem que teve de realizar a colocao da ontologia fundamental da pre-sena (Dasein) em Ser e Tempo. Uma passagem que at hoje ainda no se cumpriu de modo satisfatrio nem foi assumida no pensamento de quem questiona Ser. Por outro lado, porque na fundao originria da meditao, como meditao do sentido de si mesmo, ns mesmos nos achamos inseridos no mbito da questo, e por isso que, nesta perspectiva, a questo filosfica se pode expressar na pergunta: quem somos ns?. Prescindindo da pergunta pelo quem, o que que entendemos por este ns? (cf. a preleo do semestre de vero de 1934, A lgica, como questo sobre a linguagem). entendemos ns mesmos? Ns que estamos presentes, ns aqui e agora? Por onde passa o crculo de delimitao? Ou ser que entendemos o homem como tal? ora o homem s histrico, enquanto a-histrico. Ou entendemos ns no sentido de nosso povo? Mas mesmo neste caso, ns no estamos ss e sim somos um povo no meio de outros povos. E de que modo se define a vigncia essencial de um povo? Uma coisa imediatamente evidente: o modo em que, ao questionar, se atingido pela questo; que o ns j traz consigo uma deciso sobre o quem. E isso significa: no poderemos supor o ns com uma coisa qualquer presente, da qual s 126 falta determinar o quem, sem nem mesmo ser tocado pela questo, quem somos ns. Tambm nesta questo age um retorno de vira-volta. No se pode p-la nem se pode responder em sentido linear no mesmo horizonte. Mas enquanto no se conceder a vigncia essencial da filosofia, como meditao da Verdade de SER nem se deixar operar a urgncia (not) da meditao do sentido de si, da decorrente, toda questo, j como questo, se expe a grandes dvidas, a saber: 1. No obstante o ns, a questo se dirige certamente de volta a ns mesmos, e , portanto, reflexiva; exige uma postura de retorno sobre si mesmo que quebra e desfaz a linearidade de todo agir e de toda atuao. 2. E no apenas por esta postura de voltar-se reflexivamente sobre o sentido de si mesmo, que a questo parece ser um desvio e revirada, mas em sentido absoluto, i. enquanto questo. Que significa realmente ser si mesmo? Talvez que o homem e ns somos simplesmente pelo fato de deixar correr seu curso o que pesa sobre ns e nos mantm prisioneiros? No de forma alguma claro o sentido em que o homem seja, como somos ns mesmos. Nem mesmo a indicao de agir e atuar seja suficiente, toda atividade (Betrieb), todo empenhar-se em fazer pe o homem e ainda resta sempre a perguntar-se se com isso ele j seja. No se pode, de certo, negar que assim ele seja j um sendo, mas justamente por isso que se radicaliza a pergunta se ento o homem seja j pelo simples fato de ser e se apresentar deste modo, e se um povo seja ele mesmo pelo simples fato de aumentar ou diminuir a prpria subsistncia. evidente que se exige mais para o povo ser ou para o ser do povo, de vez que este ser se caracteriza por um conjunto de determinaes de sentido, cuja unidade ainda fica mais obscura. Donde deveria ento provir, p ex, o esforo para dar forma, por meio de restituies e ordenamentos, ao corpo do povo existente? O fato de o homem constar de corpo, alma e esprito no diz muito. Com isso evita-se de fato a questo sobre o ser desta unidade consistente, sem levar em conta que os elementos constituintes e sua posio, como determinaes do homem, pressuponham uma experincia histrica particular do homem e de sua relao com o sendo. O que que se acha inserido na alma anima yuxh( ? E o que se insere no esprito animus, spiritus pneuma. Se ento, tal como se pretende fazer agora, dar-se apenas o primeirssimo passo para esclarecer mais o simples e opaco uso das palavras, surgem, 127 ento, tarefas essenciais de esclarecimentos que no so, decerto, indiferentes e sim decisivas para se assumir e realizar o ser do homem e do povo. Em qualquer caso, a questo sobre o sentido de ser homem, posta deste modo, fica de vez parte. Ou melhor, sobre o sentido de ser si mesmo que se requer e prope, o que h e acontece com estes si mesmo? Si mesmo no significa isto talvez que nos colocamos a servio de SER e que nos mantemos ao alcance da vista e da mo, que estejamos juntos e conosco mesmos? Donde e de que modo o homem tira a experincia de ser e estar junto de si mesmo e no junto de uma aparncia ou de uma superfcie da prpria essncia? Conhecemos a ns mesmos? Como poderemos ser ns mesmos sem saber quem somos ns? E como poderemos ser ns mesmos sem saber quem somos ns, de forma a podermos estar certos de sermos aqueles que somos? A pergunta pelo quem no , pois, uma pergunta que se venha acrescentar de fora, como se sua resposta desse uma informao a mais e suprflua para fins prticos sobre o homem: ao contrrio, a pergunta sobre quem pe a pergunta sobre ser si mesmo e portanto sobre a essncia da identidade. Na pergunta, quem somos ns acha-se inclusa a pergunta que pergunta se ns somos. As duas perguntas so inseparveis uma da outra e esta inseparabilidade no seno uma outra indicao da essncia velada da humanidade e precisamente da humanidade histrica. Aqui a viso se abre sobre nexos completamente diferentes, de outra natureza, em composio com os nexos conhecidos do simples clculo e do mero trato do ser humano presente, como se bastasse conferir-lhe apenas de quando em vez uma nova forma, tal como o oleiro faz com o barro. A identidade do homem, tanto do homem histrico como do povo o lugar de um acontecimento em que s lhe dedicado ao chegar a alcanar o espao tempo aberto, onde pode dar-se e acontecer uma apropriao. O ser mais prprio do homem, funda-se, pois, num pertencer Verdade de SER como tal, o que, por sua vez, se d por que a vigncia de SER como tal e no a vigncia do homem, contm em si o apelo ao homem que o encaminha no e para o destino da histria (cfr. Cap. V A fundao, 197: pre-sena, propriedade ipseidade). 128 Resulta, portanto, claro que a pergunta pelo quem, enquanto complemento da meditao do sentido de si mesmo, no tem nada em comum com o empenhar-se curioso e egosta daquele que se enreda nas prprias experincias vividas, mas um percurso essencial visando realizar a pergunta pelo que mais digno de questionamento, a pergunta que somente ela abre a considerao desta dignidade, a questo da verdade de SER. Somente quem compreende que o homem deve fundar historicamente a prpria vigncia por meio da fundao da Presena, que a insistncia que sustenta a Presena no seno morar vizinho do espao-tempo daquele acontecer que se d, como fuga dos deuses, somente quem, criando, retoma na conteno (Verhaltenheit), enquanto disposio fundamental (Stimmung) a tristeza e alegria do acontecer, capaz de pressagiar a vigncia de Ser e em tal meditao do sentido, de preparar a Verdade para o que no futuro ser verdadeiro. Quem se sacrificar por tal preparao, acha-se na passagem e deve estar em grande antecipao e no pode esperar hoje nenhuma compreenso imediata quando muito apenas resistncia, por vezes urgente que este possa ser. A meditao de sentido, na medida que seja meditao de si mesmo, tal como se impe necessria na perspectiva da questo da vigncia de Ser, est longe de toda perceptio clara et distincta, em que o eu se des-cobre e tornar-se certo. Pois a identidade o instante da convocao e do pertencimento ainda deve submeter-se deciso, pois na passagem no se pode compreender o que com o passar sobrevm. Todo recurso do e ao passado intil porque estril caso no provenha de decises extremas e s serve para iludir com maior quantidade possvel de elementos desbaratados. Na meditao do sentido e graas a ela se d necessariamente o que sempre outro, o que propriamente deve ser preparado mas que no encontraria o lugar por acontecer se no houvesse uma clareira-lareira para o velado. A filosofia enquanto meditao do sentido de si na maneira indicada, s pode ser exercida, como pensamento principial do Outro Princpio. Esta meditao de si mesmo fica s costas de todo subjetivismo, mesmo daquele que, com mais perigo, se esconde no culto da personalidade. Onde se postula personalidade e, na arte, se requer correspondentemente o gnio, ainda se est movendo no caminho do pensamento moderno do eu e da conscincia, no obstante 129 todas as garantias em sentido contrrio. O que ocorre, tanto caso se interprete a personalidade, como verdade do esprito - alma - corpo, como caso se destrua tal combinao para se afirmar decididamente o primado do corpo, no se modifica em nada a confuso de pensamento reinante que exclui todo questionamento. Neste tipo de pensamento o esprito sempre considerado como razo, enquanto e na condio de possibilidade de dizer eu; de vez que a razo se funda no poder de autolegislao, de dar si mesmo a lei. De certo ainda restaria uma espcie de platonismo. E se talvez se quisesse dar o eu e o dizer eu em bases biolgicas? Se no for assim, ento a vira-volta no seno um joguete e em todo caso assim porque, sub-repticiamente se supe sem nenhum questionamento, uma metafsica de corpo e sensibilidade, de alma e esprito. A meditao do sentido de si mesmo, como fundao da identidade, se acha fora de todas estas teorias. que esta meditao sabe de certo que se toma uma deciso essencial, quando se levanta a questo, quem somos ns e nas teorias no somente no se pe a questo, como se chega at a neg-la como questo. No querer colocar esta questo significa: ou iludir a verdadeira problemtica, que se refere ao homem, ou ento difundir a convico de que j desde toda eternidade, se decidiu quem somos ns. Neste ltimo caso, toda experincia de prestao s ser realizada, como expresso da vida segura de si mesma, e, portanto ser considerada organizvel. Em princpio, no h alguma experincia que tenha posto o homem como se agora, poderia tronar-se problemtico. Trata-se daquela certeza de si mesmo da essncia ntima do liberalismo, em virtude da qual ele pode desenvolver-se e devotar-se ao progresso perptuo. Em consequncia, a viso de mundo, e a personalidade, o gnio e a cultura se apresentam como os parmetros e valores que de uma maneira ou de outra se tem de realizar. Aqui a questo que pergunta, quem somos ns mais perigosa do que qualquer oposio que se possa alcanar no mesmo nvel de certeza a propsito do homem (a forma final do marxismo que essencialmente no tem nada a ver nem com o hebrasmo nem como Rssia; se ainda tiver latente um espiritualismo in nuce, do povo russo; o bolchevismo originariamente ocidental, uma possibilidade europia: a rebelio das massas, a indstria, a tcnica, a extino do cristianismo. Na medida 130 porm, que o domnio da razo que nivela tudo decorre do cristianismo , no fundo, de origem hebraica (cfr. O pensamento de Nietzsche sobre a moral como insurreio dos escravos), o bolchevismo de fato hebraico, mas ento tambm o cristianismo , no fundo bolchevista! E nesta perspectiva quais decises se tornam necessrias?). Todavia a periculosidade da questo quem somos ns? , ao mesmo tempo, caso o perigo possa tornar-se extremo, a nica via para atingir a ns mesmos e portanto para aviar a salvao originaria, i. , a justificativa do Ocidente com base na sua histria. A periculosidade desta questo nos, , em si mesma, to essencial a ponto de perder a aparente oposio nova vontade alem. Enquanto filosfica, porm, esta questo deve-se prepar-la com grande antecipao e no poder pretender tal como se entende a si mesma, substituir ou mesmo apenas determinar a conduta atualmente necessria. E tanto mais a questo quem somos ns? deve ficar pura e plenamente inserida no questionamento da questo fundamental: como que essencialmente vige (west) o SER? 131