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1 2º CONGRESSO BRASILEIRO DE POLÍTICA, PLANEJAMENTO E GESTÃO EM SAÚDE UNIVERSALIDADE, IGUALDADE E INTEGRALIDADE DA SAÚDE: UM PROJETO POSSÍVEL Classificação de Estoques na Saúde - Uma Abordagem Integrada Lauro Barillari Luck de Castro Associação Brasileira de Ensino Universitário - UNIABEU BELO HORIZONTE 2013

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2º CONGRESSO BRASILEIRO DE POLÍTICA, PLANEJAMENTO E GESTÃO EM

SAÚDE

UNIVERSALIDADE, IGUALDADE E INTEGRALIDADE DA SAÚDE: UM PROJETO

POSSÍVEL

Classificação de Estoques na Saúde - Uma Abordagem Integrada

Lauro Barillari Luck de Castro

Associação Brasileira de Ensino Universitário - UNIABEU

BELO HORIZONTE

2013

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“EFICIÊNCIA NA CLASSIFICAÇÃO DE ESTOQUES NA INDÚSTRIA DE

IMUNOBIOLÓGICOS: UMA APLICAÇÃO INTEGRADA”

TÍTULO RESUMIDO: CLASSIFICAÇÃO DE ESTOQUES

RESUMO

Este artigo aborda um estudo sobre classificação de estoques de sobressalentes de

máquinas no Instituto Bio-Manguinhos, a maior indústria pública de imunobiológicos do País.

Os métodos ABC e Multicritério são aplicados em três principais linhas de envase. Cada uma

destas aplicações é analisada e, por fim, realiza-se de modo integrado o uso dos dois métodos

para verificação dos desvios, da complementaridade entre eles e do ganho na qualidade das

informações gerenciais.

Palavras-chave1: Planejamento em Saúde. Recursos em Saúde. Classificação de estoque.

INTRODUÇÃO

Este artigo deriva de um estudo sobre a classificação gerencial de sobressalentes de

máquinas industriais no Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos Biomanguinhos (Bio),

unidade produtora da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e o maior fornecedor de

imunobiológicos do Brasil.

O objetivo é apresentar a importância da classificação dos estoques, a metodologia

utilizada e os resultados obtidos no estudo, que podem ser desdobrados e servir de base para

outros trabalhos.

Com as novas orientações sobre eficiência, registradas na Emenda Constitucional n°

19, e o novo cenário econômico, adotar uma metodologia eficaz para classificar e balancear

1 Palavras escolhidas em pesquisa DeCS. Descritor: Planejamento em Saúde\ Recursos em Saúde

(códigoD006295)

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estoques, estes em quantidades cada vez menores, tornou-se importante para a absorção das

incertezas e a manutenção dos custos em níveis competitivos. O foco em investimentos

qualitativos, com maior retorno e no controle de custos passou também a ser mais presente no

setor público, assim como na iniciativa privada.

“As empresas estão buscando cada vez mais garantir uma determinada

disponibilidade de produto com o menor nível de estoque possível [...]” (WANKE, 2003,

p.11). Observa ainda, (WANKE, 2003, p.12) que o elevado custo de oportunidade do capital

tem tornado a posse e a manutenção de estoques mais caros e que os recursos disponibilizados

poderiam estar sendo aplicados em outros projetos com melhores taxas de retorno.

A importância estratégica deste tema é explicada, na medida em que o custo de

eventuais faltas por gerenciamento inadequado recai sobre a sociedade e os prejuízos são de

difícil mensuração.

A busca de melhorias na gestão dos estoques visa garantir a disponibilidade da sua

produção e a continuidade do fornecimento de imunobiológicos à rede de saúde pública no

Brasil.

Um estudo qualitativo das relações de causa-efeito realizado, em abril de 2010, no

qual foi aplicado o método da Árvore da Realidade Atual (ARA) apontou que “o modelo de

gestão de suprimento de peças inadequado” é uma das principais causas que determinam o

aumento do pedido de peças em processamento de compras em Biomanguinhos.

Em setembro de 2010, Bio realizou um projeto para discussão da interface entre as

áreas de Logística e Manutenção, em parceria com a COPPE/UFRJ e a UFSC/SC. A questão

norteadora do trabalho foi identificar e priorizar quais as ações necessárias para garantir o

atendimento de materiais necessários à execução das atividades de manutenção e obras.

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O processo de priorização de materiais mal definido, o espaço saturado para

armazenamento dos materiais de manutenção e a falta de indicadores de gestão foram

destacados, pelo projeto, entre as 10 causas prioritárias para a solução do problema de

materiais de manutenção em geral.

Estas causas contribuem para uma visão preliminar a respeito do estado da arte da

gestão dos estoques de sobressalentes em Bio.

Como o custo político da falta costuma ser alto nas organizações, estima-se que parte

da indústria, inclusive as de grande porte, trabalha com estoque desbalanceado e

superestimado, sem a utilização de uma metodologia científica para classificar gerencialmente

os sobressalentes e racionalizar a aplicação de capital na formação dos seus estoques.

Acredita-se que uma classificação gerencial adequada aos sobressalentes pode

contribuir para o aumento da eficiência na alocação do tempo e do capital. Outra vantagem é

o direcionamento da atenção dos gestores aos itens chamados „relevantes‟, que possuem alta

tecnologia, custos expressivos e altas taxas de obsolescência.

“O custo de manutenção de estoque pode representar de 20 a 40% do seu valor por

ano. Por isso, administrar cuidadosamente os estoques é economicamente sensato”.

(BALLOU, 2006, p.271). Em função de parte dos componentes serem importados e de difícil

aquisição, as indústrias, normalmente, possuem políticas de estoque voltadas para uma maior

disponibilidade.

As questões inicialmente levantadas foram: Quais os métodos existentes? Onde serão

aplicados? Em quais itens? Quais as características destes itens? Como identificar o método

mais adequado?

METODOLOGIA

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A amostra obtida no banco de dados de Bio compreendeu valores históricos de

consumo dos componentes, referentes a um período de 50 meses, das linhas de envase das

marcas Bosch e B+S, do Centro de Processamento Final de Biomanguinhos. A escolha deu-se

em função da antiguidade da operação destas linhas, da representatividade dos seus

componentes sobre o total de sobressalentes de Bio e da existência de estudos anteriores,

realizados pela COPPE/UFRJ, sobre o grau de criticidade dos seus equipamentos.

Os dados coletados para tratamento foram: código de cadastro do componente,

descrição do componente, unidade de fornecimento, cesta de materiais a que pertencem

(família de gestão), data de cadastramento, valor unitário com base na última entrada de

estoque, nº de itens por componente que entraram mensalmente no almoxarifado, nº de itens

por componente que saíram mensalmente do almoxarifado e quantidade atual em estoque.

Foram listadas ainda as variáveis que poderiam influenciar a decisão de classificação

dos componentes em Bio, tais como: mercado de aquisição (Nacional X Importado), volume

de armazenamento (Baixo volume X Grande volume), condições de armazenagem (Normais

X Especiais), valor agregado (Itens de alta tecnologia X Itens com baixa tecnologia),

obsolescência (Itens de alta obsolescência X Itens de baixa obsolescência), disponibilidade

(Itens de prateleira X Itens de encomenda), substituição (Itens substituíveis X Itens não

substituíveis), garantia (Itens com garantia X Itens sem garantia), tipo de manutenção (Itens

de manutenção corretiva X Itens de manutenção preventiva), nº de peças instaladas,

fornecedor (Exclusivo x Não exclusivo) e impacto na disponibilidade da Produção (baixo X

médio X alto).

A análise dos dados foi precedida por um tratamento preliminar de dados e orientada

em três aplicações:

a) método de classificação ABC;

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b) método de classificação Multicritério;e

c) cruzamento dos métodos ABC e Multicritério.

O ABC é um método muito utilizado no controle de estoques pela sua simplicidade.

Aos itens considerados mais importantes, segundo a ótica do valor ou da quantidade, dão-se a

denominação de classe A; aos intermediários, itens de classe B e, aos menos importantes,

itens de classe C.

A experiência no uso da curva ABC demonstra que poucos itens, de 10% a 20% do

total, são da classe A, enquanto uma grande quantidade, em torno de 50%, é da classe C e

30% a 40% são da classe B.

A aplicação do Multicritério envolve o cálculo de um indicador com base no produto

dos valores atribuídos as variáveis. O esperado foi que o resultado da aplicação fosse sensível

ao tratamento dispensado a estas variáveis pelos gestores dos estoques.

A terceira proposta é uma alternativa para verificação de possíveis desvios e

complementaridades dos métodos anteriores.

A unidade de análise utilizada foi resultante do cruzamento das classes do ABC com

as definidas pelo Multicritério.

REFERENCIAL TEÓRICO

O conceito de estoque é encontrado na literatura de acordo com o contexto e a

aplicação proposta por cada artigo. Uma destas definições é a quantidade de qualquer item ou

recurso usado ou vendido por uma organização, ou ainda, mantido como reserva para uma

necessidade ou oportunidade futura (SANDOVAL, 2006; LINS et al., 2009).

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Lima (2003) e Dan Júnior et al. (2009) ressaltam a importância da busca da

padronização de marcas e equipamentos para redução do número de itens e do capital

aplicado em estoque.

A diversidade de componentes que possuem similares no mercado é

significativamente ampla. Suas diferenças podem ser simples, como as de conexões elétricas

dos equipamentos, ou complexas e não intercambiáveis. A falta de padronização de marcas e

modelos gera uma dispersão de compras e geração de estoque que poderia ser evitada,

refletindo um aumento de custo e a perda de competitividade (DAN JUNIOR et al., 2009).

A decisão sobre a classificação dos sobressalentes em estoque é dinâmica e deve

focar no equilíbrio econômico, considerando variáveis técnicas, de mercado, restrições de

recursos e necessidades de atendimento a produção.

Wanke (2005) opina sobre a diferença presente no contexto da gestão de

sobressalentes para reposição que “os gestores enfrentam um problema mais complexo

constituído por componentes caros, demanda aleatória e tempos de resposta mais longos e

estocásticos”.

Um componente pode ser substituído por outro através de uma aquisição, uma

reserva em estoque, uma fabricação ou um reparo específico e, em geral, suas demandas são

independentes.

“A decisão por uma destas alternativas possui implicações na classe e nos níveis dos

estoques, e além das relações de custo benefício entre realizar a manutenção ou substituir a

peça, leva em consideração as redundâncias existentes e os custos de indisponibilidade do

sistema” (BRICK et al., 2009).

Um ponto crítico da classificação do estoque de sobressalentes é a fase de avaliação

dos itens novos, que não possuem histórico de consumo (DIALLO et al., 2008).

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Esta fase é definida pela Força Aérea Brasileira como suprimento inicial e, na

ausência de dados, é preciso considerar as recomendações técnicas para back up do fabricante.

Em contrapartida, não é fácil decidir sobre quais componentes devem realmente ser agrupados

e comprados, tendo em vista que os valores fornecidos pelos fabricantes são, geralmente,

teóricos e influenciados por interesses em liquidar estoques de baixo giro (DIALLO et al.,

2008; ASSIS, 2005).

Além da consulta a fornecedores ou fabricantes, os Itens novos podem ser também

agrupados e geridos por similaridade ou ainda com base na troca de experiência com outras

indústrias do setor, que já utilizam o componente e possuem histórico de manutenção.

Para a classificação dos itens são utilizados critérios, tais como: natureza do material,

volume de armazenagem, tecnologia agregada, perfil de demanda, risco de falha,

complexidade de aquisição, preço de compra, custo de falta, condições de armazenagem etc.

No caso dos materiais para a manutenção, reparo e operações (Maintenance Repair

and Operations, MRO) nem sempre os autores os classificam de forma separada como

apresentado por Ching (2001) que já os diferenciava dos estoques de materiais

administrativos.

Optar por englobar os MRO na classe dos materiais de apoio, paradoxalmente, pode

sugerir uma gestão não diferenciada para estes itens, que representam, em muitos casos,

parcelas significativas da imobilização de capital e do número de itens estocados.

(VALENTIM, 2007).

A variedade de itens somada aos pontos críticos destacados por Castro (2008) pode

tornar a classificação gerencial de peças bem mais complexa.

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Os métodos de classificação por categorias ou clusters mais disseminados na

literatura de sobressalentes são o ABC e o AHP (Analytic Hierarchy Process conhecido por

Multicritério).

O método ABC pode ser observado no estudo do gráfico de Vilfredo Pareto,

economista italiano que realizou um estudo sobre renda e riqueza em 1897. Seu princípio tem

ajudado a resolver diversos problemas nas organizações. Moura [...] afirma que pequenos

fatores são responsáveis por grandes proporções. O que equivale a dizer que poucos itens

dentro do nosso estoque representam a maior parte do capital aplicado. Esse conceito é

conhecido como regra 80-20, ou seja, 20% do estoque representam 80% do gasto empregado

nele [...] (FALCÃO, 2008; MOURA, p.13; LINS et al., 2009).

O ABC, tradicionalmente, sugere a classificação dos estoques em grupos, utilizando

critérios como valor e consumo dos itens. Assaf Neto e Tubúrcio (1997, p.190) sugerem que

os produtos do grupo A sejam compostos pelos primeiros 10% em tamanho de receita, o que,

em geral, deve representar cerca de 70% da receita. Este grupo deve receber maior atenção

dos gestores pela sua relevância.

O grupo B seria compreendido pelos 20% produtos seguintes e devem representar

20% da receita. O grupo C por 70% dos produtos em estoque, mas representando apenas uma

pequena parcela de 10% da receita.

Os itens A devem existir em menor número, em regra geral, por serem os mais caros.

Os classificados como B devem ser monitorados com atenção, pois podem transitar pelas

demais classes, mas em geral possuem valores intermediários e podem ser estocados por um

pouco mais de tempo. Já os de classe C são aqueles cujo valor não é representativo e que,

caso não haja outras restrições, podem ficar estocados e não precisam ser controlados tão

rigorosamente (OLIVEIRA & CARNEIRO, 2004).

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A análise dos resultados deste método merece um cuidado em particular quanto a

possíveis distorções de classificação. Quando um item de baixo preço é consumido em

grandes quantidades e vice-versa. Um item muito caro, de demanda baixíssima, pode ser

classificado em uma classe inferior, B ou C.

Para evitar este desvio, sugere-se que nos limites entre classes, a multiplicação do

preço pela demanda futura do item, e não com base no histórico. Este procedimento se

distancia da prática, tendo em vista a notória dificuldade em prever estes fatores.

A aplicação do ABC pode não ser suficiente para estabelecer uma hierarquia quanto

à importância dos itens. É necessário cruzar dados sobre a utilização, aplicação e aquisição

dos materiais.

Pontes e Porto (2008) sugerem a realização das seguintes, etapas antes de aplicar o

ABC: verificar se a peça possui demanda significativa (mais de três reposições ao ano) e

verificar origem de aquisição (nacional ou importada). Os autores explicam que as peças

podem ser mantidas em estoque por estratégia de proteção contra descontinuidade da linha de

alguns equipamentos. É uma espécie de apólice de seguro em função dos riscos econômicos e

políticos envolvidos.

O método AHP é aquele em que “os problemas de decisão são decompostos em

níveis hierárquicos, facilitando assim o seu entendimento e a evolução da própria estrutura,

conforme a complexidade da situação analisada”.

A análise Multicritério, tanto quantitativa quanto qualitativa, consiste no cruzamento

de dados, tais como: lead time, atributos comuns aos itens, obsolescência, possibilidade de

substituição, escassez, durabilidade, perfil de demanda, dentre outros (MARINS et al., 2008;

PARTOVI E ANANDARAJAN, 2002; SANTOS & RODRIGUES, 2006).

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Santos e Rodrigues (2006) dividem a classe C quanto à criticidade em itens vitais e

não vitais e propõem uma abordagem metodológica para tratar estes itens, de forma que sobre

tempo livre para os gestores darem uma maior atenção aos de maior relevância.

Santos e Rodrigues (2006) apud Lenard e Roy (1995), os quais defendem a

classificação por grupos e a justificam destacando que, no dia-a-dia, gestores lidam com

dezenas de itens. Este método pode gerar economias em escala, maior velocidade nas decisões

e outras vantagens tendo em vista que os componentes agrupados, geralmente, são afetados,

simultaneamente, por restrições similares.

Em contrapartida, um mesmo componente pode ter diversas aplicações na mesma

organização e ser submetido a condições de operação com características diferentes.

Componentes elétricos de uma aeronave que voa na região amazônica sofrem mais

manutenção em função da umidade do ar que os da região sudeste, por exemplo.

Neste caso, o perfil de consumo do mesmo componente pode ser diferente, podendo

também ser gerido por métodos específicos em cada região.

Panisset (2007) analisa que o grau de agregação dos itens está relacionado ao nível

de detalhamento que se quer enxergar na demanda. Quando se decide gerir agrupamentos,

perde-se neste detalhamento por item, ou seja, nem sempre, pela média do grupo, é possível

identificar a variabilidade real dos dados.

Braga e Hijjar (2007) citaram um trabalho realizado pelo Centro de Estudos

Logísticos da UFRJ que recomenda a utilização de uma matriz 2x2 para a classificação de

produtos, cruzando o valor anual comprado e o risco de fornecimento de cada um.

A adaptação desta matriz com a alteração do vetor „valor anual comprado‟ pelo

„impacto sobre a disponibilidade‟ é útil para classificar os sobressalentes estratégicos e os que

precisam ter reservas em estoque para garantir a continuidade da produção

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DESENVOLVIMENTO DA APLICAÇÃO

Para seleção da amostra referente aos componentes das linhas de envase B+S e

Bosch, aplicou-se um filtro nos dados utilizando a marca das linhas como palavra-chave. O

total da soma das duas linhas estudadas foi de 602 componentes, o que representa uma parcela

de 15,54% do total de 3875 componentes existentes nas famílias de manutenção em Bio.

Para uma visão preliminar do perfil de cada componente, realizaram-se os seguintes

cálculos: o tempo de cadastro ou antiguidade do item, a demanda média mensal (DMM), o

valor total em estoque e a freqüência de consumo de cada componente.

a) tempo de cadastro: consiste na subtração da data atual pela data em que foi cadastrado.

A diferença é utilizada como denominador no cálculo da média do consumo;

b) demanda média mensal: é a média entre a quantidade total das saídas sobre o tempo de

cadastro do componente, acima descrito;

c) valor total em estoque: é a quantidade do estoque atual multiplicada pelo valor unitário

do item;

d) frequência de consumo: é a soma do número de meses diferentes de zero, ou seja,

daqueles em que houve retirada do estoque.

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Em seguida e com base na escala definida na tabela 1 , foram atribuídos valores para

as variáveis: valor, volume e condições de armazenagem de cada componente das duas linhas,

em colunas separadas.

Tabela 1 : Escalas adotadas na pesquisa

Fonte: Autor

Com os dados organizados, a próxima fase consistiu na aplicação do método ABC.

Os passos realizados foram:

a) ordenamento decrescente da planilha pelo valor total em estoque;

b) cálculo do valor do estoque acumulado por componente, ou seja, o somatório do valor

total em estoque do componente 1 com o 2 e assim por diante;

c) cálculo do percentual acumulado relacionado ao valor total em estoque de cada

componente; e

d) classificação dos componentes em A, B ou C, com base na tabela 2.

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Tabela 2: Meta sugerida para cada classe

Fonte: adaptado de Lins et al (2009)

Os resultados obtidos mostraram-se descolados dos valores de referência do ABC

(Tabela 2), distanciando-se do princípio de Pareto, em que “pequenos fatores são responsáveis

por grandes proporções” (MOURA, 2004, p.13).

Observou-se nas duas linhas de envase que há uma grande concentração da

quantidade de componentes na classe C. Dos recursos aplicados em estoque, 80%

correspondem a 1% do total de componentes „classe A‟ em ambas as linhas.

Aplicação do método de classificação Multicritério

A aplicação deste método consiste em mensurar variáveis qualitativas por meio do

cálculo de um indicador (denominado de VVA) para cada componente, e no agrupamento dos

seus resultados em classes, definidas na pesquisa como 1 2 e 3.

O VVA é o resultado da multiplicação dos valores atribuídos às variáveis. Cada

componente da amostra possui um VVA e o seu cálculo é viabilizado com o uso de escalas

paramétricas, estabelecidas anteriormente (Tabela 2).

O agrupamento de cada componente em classes realizou-se com base em uma tabela

de referência. Nela estão as possíveis combinações entre as variáveis da escala adotada e os

valores do VVA ordenados de forma decrescente. Os componentes de classe 1 são aqueles

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que apresentam o VVA a partir de 4. Os de classe 2 possuem o VVA igual a 3; e, os de classe

3, possuem VVA inferior a 3.

Adotando como referenciais de análise os parâmetros da tabela 2, verificou-se que os

valores obtidos na aplicação do Multicritério na linha B+S já não são tão concentrados quanto

na aplicação anterior. Ao contrário da linha Bosch que continuou apresentando uma alta

concentração dos seus componentes na classe C.

Cruzamento dos métodos ABC e Multicritério

A finalidade foi a verificação da consistência entre eles. Se a aplicação isolada de um

poderia ser suficiente ou se as duas integradas trazem melhorias na qualidade da informação.

Adicionou-se uma coluna para a combinação entre as classes do ABC e do

Multicritério como recurso para confrontar os métodos, contendo uma nova unidade de

classificação e análise. Os componentes das duas linhas de envase foram reclassificados e

alocados nas combinações obtidas na Tabela 3.

Tabela 3: Resultado das aplicações do método ABC e do Multicritério

Fonte: Biomanguinhos

ANÁLISE DOS RESULTADOS

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É possível verificar na tabela 3, após o cruzamento dos dois métodos, que os códigos

derivados da classe 1 – Multicritério estão concentrados nas combinações da classe C - ABC,

onde, paradoxalmente, se recomenda uma menor atenção aos gestores.

Quanto aos resultados do ABC, alguns pontos podem ser destacados:

a) os desvios nos valores apresentados indicam a necessidade de uma revisão das políticas

de estoque. Itens de maior valor e pouca relevância estratégica podem ser geridos por políticas

reativas, ou seja, adquiridos sob demanda;

b) a tabela de referência pode ser utilizada como orientação estratégica e base de análise

dos níveis mantidos em estoque;e

c) os valores obtidos não são suficientes para tomar decisões sobre os estoques em

Biomanguinhos, na medida em que a adição de variáveis importantes, como valor, volume

dos itens e requerimentos de armazenagem no método Multicritério modificou, de forma

significativa, a distribuição dos componentes entre as classes, em particular, na linha B+S.

Quanto aos resultados da aplicação Multicritério, foram observados:

a) a possibilidade de identificar a existência de itens críticos que haviam sido agrupados, na

aplicação anterior, como de menor relevância. Estes desvios podem comprometer a

disponibilidade operacional;

b) a obtenção de uma visão analítica do cenário atual. Na linha B+S, o resultado após a

aplicação do Multicritério mostra uma distribuição entre as classes não tão destoante quanto a

do ABC. Com o uso deste método foi possível perceber a influência da gestão das variáveis

volume e condições de armazenagem na formação do estoque, em contraste ao anterior, que

fornece uma visão geral.

Quanto aos resultados da terceira, que consistiu na aplicação integrada dos métodos

anteriores, destacam-se:

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a) o cenário resultante mostrou uma aparente discrepância entre os dois métodos. Com a

concatenação das classes do ABC e Multicritério, verificou-se que componentes considerados

pouco relevantes pelo ABC ficaram enquadrados nas classes 1 e 2 do Multicritério;

b) o cruzamento final dos métodos se mostrou útil para uma revisão caso a caso dos

componentes que se enquadraram em pólos opostos nas aplicações;

c) a constatação de que muitos itens C3 não possuem estoque físico. Observado o baixo

custo total de possuir sobressalentes disponíveis, os itens considerados de baixa relevância,

como os classificados em C3, podem ser orientados por políticas proativas ao invés de

reativas.

CONCLUSÃO

O resultado apresentou ganhos qualitativos com a aplicação da metodologia proposta

na classificação de sobressalentes.

O ABC é prático, entretanto a visão de valor e quantidade foi vista como genérica

para os estoques de sobressalentes, que são orientados por trade-off importantes como o do

custo de falta e o de manter estoques.

O resultado obtido no estudo foi importante para a obtenção de um cenário

preliminar. O princípio de Pareto, base da lógica ABC, serviu de orientação estratégica para

análise dos outros métodos, indo ao encontro do observado por alguns autores (FALCÃO,

2008; MOURA, p.13; LINS et al., 2009).

Quanto ao Multicritério, mesmo com a ponderação de somente três variáveis, ele se

mostrou sensível e forneceu uma visão analítica.

Sugeriu-se a avaliação e incorporação de outras variáveis de classificação, a fim de

refinar a metodologia para uso em Bio e aproximar mais os resultados da realidade.

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O agrupamento em classes facilita a análise dos dados e a tomada rápida de decisão,

quando se opera com uma grande quantidade de sobressalentes. É a confirmação da maior

eficiência da gestão sistêmica sobre a tradicional visão por item, ainda presente nos

algoritmos de avançados sistemas integrados.

A integração dos métodos e a complementaridade percebida na análise qualitativa

dos resultados são observações que merecem destaque.

Verificou-se na apuração de cada etapa que ambos os métodos melhoraram a

qualidade dos dados analisados.

A identificação do desbalanceamento do estoque das linhas e a necessidade de

revisão dos métodos utilizados estão entre os ganhos observados. Verificou-se que o uso

integrado do ABC e Multicritério orienta a classificação dos sobressalentes e melhora a

qualidade das decisões, podendo desta forma ser estendido a outros estoques, incluindo os

relacionados à saúde.

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