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A OBRA DE ARTE NA ERA DA SUA REPRODUTIBILIDADE TCNICA

Venise Paschoal de Melo[footnoteRef:1] [1: Mestre em Estudos de Linguagens (UFMS), doutoranda em Tecnologia (UTFPR).]

Luciana Martha Silveira[footnoteRef:2] [2: Orientadora, Professora do PPGTE/UTFPR, Doutora em Comunicao e Semitica (PUC-SP) e Ps-Doutora pela Universidade de Michigan. ]

1 O AUTOR:Segundo a autora Jeanne Marie Gagnebin (1999), Walter Benjamin nasceu em 15 de julho de 1892 em Berlim, era judeu, proveniente de uma famlia burguesa e abastada. Como escritor livre, possua afinidades aos ideais marxistas e foi bolsista do Instituto de Pesquisa Social, Ncleo da Escola de Frankfurt. Em 1933 ficou exilado temporariamente em Paris, devido caa aos judeus por Hitler, emigrou posteriormente para Genebra e Nova York. Em 1939 foi destitudo de sua cidadania alem, o que fez retornar Paris, onde tentou, sem sucesso, buscar naturalizao. Sem cidadania ou naturalizao, recebeu a denominao de estrangeiro de nacionalidade indeterminada, mas de origem alem. Em 1940, a partir de acordos internacionais com Alemanha, a Frana se comprometeu a entregar todos os emigrantes refugiados alemes. Diante destes aspectos, o autor novamente buscou, sem nenhum sucesso, asilo em outros pases, e como consequncia deste fato, Walter Benjamin, no dia 6 de setembro de 1940 cometeu suicdio.Algumas de suas obras publicadas no Brasil:A Modernidade e os ModernosReflexes: a criana, o brinquedoObras Escolhidas, v. I, Magia e tcnica, arte e poltica. Obras Escolhidas, v. II, Rua de mo nica. Obras Escolhidas, v. III Charles Baudelaire: um lrico no auge do capitalismo.Sobre Arte, Tcnica, Linguagem e Poltica.

2 SOBRE AS VERSES E TRADUESAinda segundo Gagnebin (2010), o texto denominado A Obra de Arte na Era de sua Reprodutibilidade Tcnica foi o primeiro texto de Benjamin a ser traduzido no Brasil, e possui quatro verses, sendo trs escritas na lngua alem e uma traduzida pelo prprio filsofo para o francs.A primeira verso escrita em 1935 e 1936 equivalente quela que foi traduzida em nosso pas nos anos 1980, por Srgio Paulo Rouanet e a segunda ficou desaparecida por dcadas. A verso francesa foi publicada em 1936 em Paris, em ocorrncia das diversas restries impostas contra a sua publicao na Alemanha. Esta mesma verso, sofreu vrios cortes sem a concordncia de Benjamin, e foi publicada entre 1938 e 39, sendo traduzida no Brasil por Jos Lino Grunewald em 1969. A segunda verso em alemo, de 1936, que estava desaparecida, foi localizada no Arquivo Horkheimer em Frankfurt e publicada em 1989 num volume de "Suplementos". Essa verso foi traduzida no Brasil, em 2012 por Francisco de Ambrosis Pinheiro Machado.3 RESENHA CRTICANesta verso dos escritos de Walter Benjamin, escrita em 1936 e publicada em 1955, se inicia com um pensamento do filsofo Paul Valry, que vai apontar para a ideia central do discurso apresentado no texto. Na citao o autor afirma serem inevitveis as transformaes da arte frente s inovaes tcnicas decorrentes da modernidade, deste modo, aponta a necessidade de tambm alterarmos os modos de olh-la e compreend-la: Em todas as artes existe uma parte fsica que no pode continuar a ser olhada nem tratada como outrora, que j no pode subtrair-se ao conhecimento e potncia modernos. Nem a matria, nem o espao, nem o tempo so desde h vinte anos o que foram at ento. E de esperar que to grandes inovaes modifiquem toda a tcnica das artes, agindo, desse modo, sobre a prpria inveno, chegando talvez mesmo a modificar a prpria noo de arte em termos mgicos. (VALRY, s. data, in BENAJMIN, 1955/1992, p.70).

Deste modo, em A Obra de Arte na Era de sua Reprodutibilidade Tcnica, Benjamin, vai tecer seus argumentos sobre as relaes e consequncias entre a arte e as inovaes tcnicas, tais como a fotografia e o cinema, apresentando argumentos crticos a respeito de conceitos como: a perda da aura da obra de arte; a substituio dos valores de culto pelos sociais, promovidos principalmente pelo cinema; e a transformao dos modos de recepo e percepo humana a partir das modernas mediaes tcnicas.

3.1 A PERDA DA AURA DA OBRA DE ARTE com a seguinte afirmativa, A princpio a obra de arte sempre foi reprodutvel, que Benjamin vai iniciar um breve panorama histrico sobre as transformaes na arte devido ao advento das tecnologias modernas. Nos apresenta a realidade da reproduo da obra de arte, atravs da necessidade da imitao pelos artistas, alunos e mestres, cuja inteno primordial era o aprimoramento da prtica, a divulgao ou a venda do mesmo. Neste contexto, as tcnicas de reproduo j eram conhecidas dos Gregos que realizavam os processos de fundio e cunhagem do bronze. Posteriormente, a xilogravura levou a possibilidade de maior produo pelos processos de impresso grfica e na Idade Mdia surge a gravura em cobre e gua forte. Porm, foi no incio do sculo XIX que a litogravura proporciona um avano para o mercado literrio, proporcionando inclusive a produo da ilustrao do cotidiano atravs dos jornais, cartazes e rtulos.Neste panorama surge uma nova revoluo tcnica: a fotografia, que vem libertar a mo dos artistas em sua obrigao do processo de reproduo de imagens. No incio do sculo XX, a reproduo tcnica atingiu um alto nvel, transformando no somente as obras das pocas anteriores, mas comeava a conquistar um espao nos processos artsticos, e neste contexto que o autor apresenta sua preocupao: Mesmo na reproduo mais perfeita falta uma coisa: o aqui e agora da obra de arte a sua existncia nica no lugar em que se encontra. , todavia, nessa existncia nica, e apenas ai, que se cumpre a histria qual, no decurso da sua existncia, ela esteve submetida. (BENAJMIN, 1955/1992, p.77)

Para o autor, o aqui e agora do original o que constitui o conceito da sua autenticidade, e atravs de sua materialidade que ela pode ser validada. Um dos exemplos apresentados a possibilidade de averiguao da autenticidade de um manuscrito, o qual uma anlise qumica pode comprovar sua legitimidade, sendo assim, sua cpia considerada uma falsificao, o que no ocorre nos processos inseridos reproduo tcnica, pois no h como salientar os aspectos do original. Com um olhar pessimista, Benjamin reflete sobre o resultado da reproduo tcnica na obra de arte, afirmando a desvalorizao e a perda de sua autenticidade devido falta deste testemunho histrico, da vem o conceito da perda da aura: Pode resumir-se essa falta no conceito de aura e dizer: o que murcha na era da reprodutibilidade da obra de arte a sua aura (BENAJMIN, 1955/1992, p.79).A fim de clarear e Ilustrar o conceito de aura, Benjamin a define como:[...] manifestao nica de uma lonjura, por muito prxima que esteja. Numa tarde de Vero descansando, seguir uma cordilheira no horizonte, ou um ramo que lana a sombra sobre aquele que descansa isso a aura destes montes, a respirao deste ramo. (BENAJMIN, 1955/1992, p.81)

Nesta citao, fica aparente a associao do conceito de aura com o estado do homem em relao obra de arte: um elemento, que apesar de prximo, elevado a um pedestal imaginrio e inacessvel, e seus valores so atribudos a partir da contemplao distncia, atravs do culto inacessibilidade. Esta singularidade da obra de arte est diretamente ligada sua forma de se instalar no contexto da tradio. Sabendo que o valor singular da obra de arte "autntica" tem suas origens primeiras nas formas de rituais e na religiosidade, independentemente de como estas obras so transmitidas, os valores em parte se mantem.Quando se retira a durabilidade e o carter nico da obra de arte, estamos destroando sua aura, deste modo, para Benjamin, a reproduo tcnica liberta o objeto reproduzido do domnio da tradio, e ocorre a substituio da unicidade, da ocorrncia nica e singular, para a fugacidade e repetitividade, a multiplicidade voltada para as massas. So estes os processos que provocaram um profundo abalo, gerando a liquidao do valor da tradio na herana cultural, causando a renovao da humanidade. Neste processo de decadncia, verifica-se o efeito reverso, do desejo apaixonado das massas pela aproximao das coisas, superando atravs da dominao do objeto, em sua cpia e reproduo, o carter do nico de qualquer realidade. Para Benjamin, o agente mais poderoso neste processo o cinema, que gera alm de seu aspecto destrutivo e catrtico, um novo significado social para a arte. E ainda conclui: E, se pudermos entender, como decadncia da aura, as alteraes no medium da percepo de que somos contemporneos, tambm possvel mostrar as condies sociais dessa decadncia (BENAJMIN, 1955/1992, p.80-81).

3.2 O CINEMA: A SUBSTITUIO DOS VALORES DE CULTO PELOS VALORES SOCIAIS

A fotografia apresentada pelo autor, como o primeiro meio de reproduo verdadeiramente revolucionrio, e tambm como principal responsvel por emancipar a arte de sua existncia parasitria no ritual, inclusive quando se volta para os aspectos inseridos neste contexto por Benjamin como negativos, de uma arte pura. E este ainda afirma: a obra de arte reproduzida, toma-se cada vez mais a reproduo de uma obra de arte que assenta na reprodutibilidade (BENAJMIN, 1955/1992, p.83), ou seja, a reprodutibilidade tcnica do produto no uma condio imposta do exterior, simplesmente para a sua divulgao em massa, o local onde a obra de arte passa a se fundamentar. Deste modo, em vez de apresentar um ritual, ela passa a assentar a poltica. neste percurso que ocorrem as transformaes que substituem o valor de culto pelo valor de exposio da obra de arte.Neste vis, Benjamin se volta para uma anlise a respeito do contexto do cinema no sculo XX, e mostra as dificuldades para a aceitao dos novos meios que fundamentam uma nova forma de arte, entre elas, a problematizao sobre a produo de uma linguagem esttica:Mas as dificuldades que a fotografia tinha levantado relativamente esttica tradicional, eram uma brincadeira de crianas comparadas com as que foram provocadas pelo cinema. [...] A linguagem das imagens ainda no atingiu a sua maturidade porque os nossos olhos ainda no evoluram o suficiente. Ainda no existe suficiente respeito, culto por aquilo que elas exprimem. (BENAJMIN, 1955/1992, p.89)

Com este argumento, o autor observa o esforo de muitos tericos de sua poca em tentar reconhecer o filme, ainda atravs dos elementos de culto e do sagrado. E a fim de reforar a necessidade de encontrar uma nova linguagem, aponta a importncia do comentrio de Werfel sobre o filme Uma noite de vero:O filme ainda no apreendeu o seu verdadeiro sentido, suas verdadeiras possibilidades...estas consistem na sua faculdade nica de, com meios naturais e um poder de persuaso incomparvel, expressar a ambincia do conto de fadas, do maravilhoso, o sobrenatural. (WERFEL, 1935 apud BENAJMIN, 1955/1992, p.90).

Outros problemas foram localizados e descritos por Benjamin, tais como: o desempenho do ator diante das cmeras, a diferena de sua atuao no teatro, o posicionamento da cmera realizada por um operador, a montagem composta por cenas vezes no sequenciais, entre outras. Para o pensador, Isto no atitude a que se possam expor valores de culto (BENAJMIN, 1955/1992, p.91). O ator de cinema tem a conscincia de que, perante a cmera sabe que atua para os receptores, que por sua vez constituem um determinado mercado, e que alm de atuar como fora de trabalho, lhe imposto um determinado empenho, tal qual a produo de mercadorias feitas em qualquer outra fbrica. Deste modo, para um aperfeioamento da mercadoria apresentada pela indstria cinematogrfica, este ator de cinema passa a ser testado por especialistas, atravs de exames de aptido profissional.Ao se direcionar para uma reflexo sobre o pblico receptor, o autor observa que h a presena de um culto aos atores, visto como personalidades e estrelas, e por outro lado h tambm a incitao ilusria deste mesmo pblico, as massas, pela explorao capitalista do filme, a se tornarem parte da obra de arte ou at mesmo produzi-las. O autor confirma, assim, a diferena entre autor e pblico est prestes a perder o seu carcter fundamental [...] O leitor est sempre pronto a tomar-se um escritor (BENAJMIN, 1955/1992, p.97).Deste modo, a realizao de um filme, com sua natureza ilusria e artificial, se transforma em um espetculo como nunca anteriormente, em tempo ou lugar algum, tinha sido imaginvel (BENAJMIN, 1955/1992, p.98), e modifica tambm o comportamento do homem contemporneo, para o qual a representao cinematogrfica ir possuir um significado bem maior do que a prpria realidade. Neste sentido, as reflexes de Benjamin demonstra a preocupao com os modos os quais as produes cinematogrficas se inserem no contexto capitalista, pois alm de se posicionar diante das transformaes a respeito da arte, no havia outra possibilidade crtica de manifestao. Nesta afirmativa, o autor frisa a sua no contestao s poucas possibilidades de crtica revolucionria social causada pelo cinema, porm o mesmo acreditava estar muito distante de acontecer.

3.3 MEDIAES TCNICAS: ALTERAES DAS FORMAS DE RECEPO E PERCEPO

Para pensar sobre o estado de alterao dos modos de recepo da arte e consequentemente, sobre a percepo das massas em relao realidade, Benjamin, estabelece uma discusso sobre a pintura, no qual questiona as relaes entre o comportamento do operador de cmera e o pintor. Neste instante ele faz uma relao, da qual um mago est para o pintor - pensado como aquele que realiza uma imagem total e mantm a distncia natural da realidade, assim como um cirurgio est para o operador de cmera - como aquele que produz fragmentos e possui uma grande possibilidade de fazer intervenes sobre a textura da realidade.O autor afirma que com os artifcios da reprodutibilidade tcnica, a arte se aproxima das massas, e possui a capacidade de transformar sentimentos reacionrios em progressistas, insere como exemplo os modos de contemplao das obras de Picasso e Chaplin:A reprodutibilidade tcnica da obra de arte altera a relao das massas com a arte. Reaccionrias, diante, por exemplo, de um Picasso, transformam-se nas mais progressistas frente a um Chaplin. O comportamento progressista caracterizado pelo facto do prazer do espectculo e da vivncia nele suscitar uma ligao ntima e imediata com a atitude do observador especializado. Tal ligao um indcio social importante. Porque quanto mais o significado social de uma arte diminui, tanto mais se afastam no pblico as atitudes, crticas e de fruio como reconhecidamente se passa com a pintura. (BENJAMIN, 1955/1992, p.100)

Afirma, neste ponto de vista, a crise da pintura, proveniente a partir do surgimento da fotografia e que se agravou com o cinema. Este, com sua aptido recepo coletiva proporcionou transformaes alm de sua amplitude ptica e acstica, alterando profundamente a percepo do homem moderno, tornando realidade at mesmo as possibilidades de tornar reconhecveis, no mesmo nvel de importncia, os valores artsticos associados aos cientficos.Segundo Benjamin, o cinema leva os espectadores a um inconsciente ptico e ao associar a tela de pintura com a tela de projeo, nos revela o carter alienador do segundo objeto em contraposio aos processos de reflexes do primeiro: Comparemos a tela em que se desenrola um filme com a que est subjacente a um quadro. Esta ltima convida o observador contemplao, perante ela pode entregar-se ao seu prprio processo de associaes. Diante do filme no pode faz-lo, mal regista uma imagem com o olhar e j ela se alterou. No pode ser fixada. (BENAJMIN, 1955/1992, p.107)

Assumindo que o cinema a forma de arte correspondente vida cada vez mais perigosa que levam os contemporneos, justifica que as alteraes do aparelho de percepo, so reaes s necessidades das massas a se submeterem a efeitos de choque, um modo de adaptao das pessoas frente aos perigos que as ameaam nos tempos modernos. Neste caso, Benjamin faz meno aos contrapontos: Cinema e pintura - diverso ou recolhimento; Cinema e Arquitetura - uso e contemplao; percepo ttil e ptica; distrao e recepo coletiva. a partir destes conceitos, que o filsofo vai associar as construes de edifcios arquitetnicos ao filme, afirmando que,As tarefas que so apresentadas ao aparelho de percepo humana em pocas de mudana histrica, no podem ser resolvidas por meios apenas visuais, ou seja, da contemplao. Elas s so dominadas gradualmente, pelo hbito, aps a aproximao da recepo tctil. (BENAJMIN, 1955/1992, p.109)

Para Benjamin, a arquitetura sempre foi o prottipo de uma obra de arte, cuja recepo foi distrada e coletiva, sua histria mais antiga do que a de qualquer outra arte, e nesta capacidade de se atualizar que se localiza a compreenso da relao das massas com a obra de arte. Com este ponto de vista ainda afirma: Tambm quem se distrai pode criar hbitos. Mais: pode dominar certas tarefas na distraco, [...] Atravs da distraco que a arte oferece, podemos verificar de modo indirecto em que medida se tero tomado resolveis novas tarefas da percepo (BENAJMIN, 1955/1992, p.110). Nesta afirmativa, Benjamin mostra a capacidade da manipulao das massas pelo cinema:Alis, como para cada indivduo existe a tentao de se furtar a tais tarefas, a arte conseguir resolver as de maior peso e importncia se conseguir mobilizar as massas. Concretiza-o no cinema actual. A recepo na diverso, cada vez mais perceptvel em todos os domnios da arte, e que sintoma das mais profundas alteraes na apercepo, tem no cinema o seu verdadeiro instrumento de exerccio. No seu efeito de choque, o cinema vai ao encontro desta forma de recepo. O cinema rejeita o valor de culto, no s devido ao facto de provocar no pblico uma atitude crtica, mas tambm pelo facto de tal atitude crtica no englobar, no cinema, a ateno. O pblico um examinador, mas distrado. (BENAJMIN, 1955/1992, p.110)

O autor em seu Eplogo menciona que, o fascismo v a sua salvao, no quando as massas exercem seus direitos, mas quando permite a sua expresso, como consequncia, acaba introduzindo uma estetizao na vida politica, e tudo o que pode gerar a violncia e a sua subjugao, e como consequncia, a guerra: os movimentos de massas, incluindo a guerra, representam uma forma particular de correspondncia do comportamento humano tcnica dos aparelhos (BENAJMIN, 1955/1992, p.111, nota 1). citando os horrores do manifesto do movimento artstico futurista, que Benjamin escancara as verdades sobre o pensamento fascista a partir do uso das tecnologias:No manifesto Marinetti, sobre a guerra colonial etope, diz-se: "H vinte e sete anos que ns, futuristas, nos manifestamos contra o facto de se designar a guerra com anti esttica... por conseguinte declaramos:... a guerra bela porque fundamenta o domnio homem sobre a maquinaria subjugada, graas s mscaras de gs, aos megafones assustadores, aos lana-chamas e tanques. A guerra bela porque inaugura a sonhada metalizao do corpo humano. A guerra bela porque enriquece um prado florescente com as orqudeas de fogo das metralhadoras. A guerra bela porque rene numa sinfonia o fogo das espingardas, dos canhes, dos cessar-fogo, os perfumes e os odores de putrefaco. A guerra bela porque cria novas arquitecturas, como a dos grandes tanques, a da geometria de avies em formao, a das espirais de fumo de aldeias a arder e muitas outras... poetas e artistas do futurismo... lembrai-vos destes fundamentos de uma esttica da guerra, para que a vossa luta possa iluminar uma nova poesia e uma nova escultura! (BENAJMIN, 1955/1992, p.112).Deste modo, so apresentados os traos da guerra imperialista, em seus mais terrveis aspectos, caracterizada pela revolta da tcnica e seu aproveitamento inadequado no processo produtivo, como o autor menciona:Em vez de canalizar rios, conduz a corrente humana ao leito das suas trincheiras, em vez de lanar sementes dos seus avies, lana bombas incendirias sobre cidades e, como a guerra do gs, encontrou um meio de aniquilar a aura, de uma nova forma. (BENAJMIN, 1955/1992, p.113)

atravs destes espetculos, com registros captados por equipamento visual e sonoro, que as massas reveem a si prprias, no mais como outrora, um objeto de contemplao para os deuses do Olimpo, como cita Benjamin, mas a humanidade objeto de sua prpria autocontemplao, e sua auto alienao atingiu um grau tal que lhe permite assistir sua prpria destruio (BENAJMIN, 1955/1992, p.113).

4 REFERNCIASBENAJMIN, Walter. A Obra de Arte na Era de sua reprodutibilidade Tcnica. In: Sobre Arte, Tcnica, Linguagem e Poltica, Lisboa: Relgio d`gua, 1992. (Texto original publicado em 1955)GAGNEBIN, Jeanne Marie. Walter Benjamin: um estrangeiro de nacionalidade indeterminada, mas de origem alem. In: SELIGMANN-SILVA, Mrcio (org.). Leituras de Walter Benjamin. So Paulo: FAPESP e Anna Blume, 1999.

GAGNEBIN, Jeanne Marie. Walter Benjamin na era da reprodutibilidade tcnica. Folha de So Paulo, So Paulo, 07 de outubro de 2010. Disponvel em http://www1.folha.uol.com.br/ilustrissima/1164782-walter-benjamin-na-era-da -reprodutibilidade-tecnica. shtml. Acesso em 30 de setembro de 2013.