BeneditoNeto Trabalho,Marx,Keynes

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    Benedito Rodrigues de Moraes Neto

    EMPREGO E TRABALHO NO INCIO DO SCULO XXI:revisitando Keynes e Marx

    Benedito Rodrigues de Moraes Neto*

    DOSS

    I

    A natureza do trabalho nas economias avanadas apresentou significativa mudana recente. Oprogresso tecnolgico ocasionou reduo do trabalho sem contedo e ampliao daquele demaior qualificao ou escolaridade, fenmeno para cuja discusso se busca auxlio de Keynese Marx. No caso de Keynes, destaca-se sua anteviso de que o progresso tecnolgico gerariaimensa reduo do tempo de trabalho e ampliao do tempo de lazer. Considerando que issono ocorreu, a falha pode ter acontecido por trabalhar com oposio entre trabalho sem conte-do e lazer, no possibilitando capturar as mudanas histricas no trabalho e na relao doshomens com ele. A viso de Marx completamente diferente, pois sua oposio se d entretrabalho desprovido de contedo e trabalho atividade, esse ltimo impregnado de contedoe fundamental para o desenvolvimento das individualidades. A realidade atual tem, portanto,uma maior colagem com Marx e apresenta grandes desafios para o capitalismo e sua crtica.PALAVRAS-CHAVE: Keynes. Marx. Emprego. Trabalho. Progresso tcnico.

    Em tempos de forte crise, grande o desa-fio de pensar a questo do emprego e do trabalhonuma perspectiva mais tendencial, mais histrico-estrutural. Paradoxalmente, a inspirao para issovem de Keynes, o maior dos tericos sobre a crisee seus remdios, que, em curto ensaio escrito em1930, no olho do furaco da maior crise do capi-talismo, debruou-se sobre a questo exatamentesob o ponto de vista do longo prazo. Utilizaremosesse ensaio, sugestivamente intitulado EconomicPossibilities for our Grandchildren (Keynes, 2008),como ponto de partida, explicitando inicialmentesuas duas principais colocaes:a) Num primeiro momento, o progresso tecnolgico

    criaria um novo tipo de desemprego, denomina-do desemprego tecnolgico, devido ao fato deque esse progresso ocorreria num ritmo mais ele-vado do que a capacidade da sociedade de ab-sorver trabalhadores.

    b) Todavia, o problema acima se deveria apenas auma temporria fase de desajustamento. O fun-damental, para Keynes, que, no longo prazo,em funo do progresso tecnolgico, a humani-dade conseguiria resolver em definitivo o pro-blema econmico, consistente na luta pela sub-sistncia. Isso permitiria uma vigorosa reduodo tempo dedicado ao trabalho: Turnos de trshoras, ou uma semana de trabalho de quinzehoras, poderiam resolver em grande medida oproblema. (2008, p. 23) Todo o restante do tem-po seria dedicado a pequenas tarefas domsticase, em especial, ao lazer.

    Em coletnea recente, inteiramente dedicadaao curto ensaio de Keynes (Pecchi; Piga, 2008), osdiversos autores procuram elementos para enten-der como o grande economista pde ser, a um stempo, extremamente percuciente, em especialnaquele momento da histria, na anteviso da ten-dncia ao progresso tecnolgico sob o capitalismo,e to equivocado com respeito reduo do tempodedicado ao trabalho. Ainda que a jornada sema-nal de trabalho das pessoas efetivamente emprega-das tenha, na verdade, se reduzido bastante ao

    * Doutor em Cincias Econmicas. Professor adjunto (li-vre-docente) aposentado do Departamento de Econo-mia da UNESP em Araraquara, SP.Rodovia Araraquara-Ja, km 1. Cep: 14800-901.Araraquara So Paulo Brasil. [email protected]

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    longo da maior parte do sculo XX, ela se estabili-zou mais para o fim desse sculo em um nvelbem mais elevado do que o antevisto por Keynes:como nos informa Freeman, em 2005 ela chegou mdia de 34,7 horas semanais nos Estados Uni-dos e 27,6 horas na Alemanha (Freeman, 2008,p.142, nota 2). Um aspecto do debate realizado nacoletnea nos interessa particularmente: o de queKeynes teria chegado a essa anteviso por forte in-fluncia de Marx, que teria sobre o trabalho umaviso anloga da Escola Neoclssica da Econo-mia. Vejamos as observaes nesse sentido:

    O mais surpreendente do tratamento dado ao tra-balho por Keynes em seu ensaio no sua previ-so incorreta de que rendas mais elevadas causa-riam uma queda vertiginosa no tempo de traba-lho, mas sim sua viso depreciativa sobre todo otipo de trabalho (Freeman, 2008, p. 139).Minha forte crena que esta especfica predi-o de Keynes (de produzir tudo o que se necessi-ta em muito menos horas de trabalho, dedican-do, portanto, muito mais horas ao lazer) guiadapor uma crucial falcia antropolgica. A visokeynesiana do trabalho extremamente influ-enciada pelo conceito marxista de alienao eestruturada sobre a perspectiva especfica doslivros-texto de Economia acerca dos trabalhado-res manuais. [...] se olharmos para a maior partedas formalizaes ou do pensamento terico emEconomia do Trabalho, e naquelas prevalecen-tes poca de Keynes, veremos que elas so bas-tante prximas da perspectiva marxista (qual seja,a de que trabalho apenas alienao). O indiv-duo escolhe a alocao tima de suas horas entretrabalho e lazer. O trabalho no produz nenhu-ma satisfao e, em formalizaes-padro, acompanhado por um custo imaterial represen-tado pela desutilidade do esforo. Taldesutilidade, ou ausncia de utilidade, com-pensada por uma recompensa monetria (o sal-rio), que usada para o desfrute dos bens de con-sumo durante o tempo dedicado ao lazer. claro,portanto, que, se nos aferrarmos a esta viso, aqual devemos entender como fortemente influ-enciada pela prevalncia de tarefas alienadas poca de Keynes, devemos provavelmente espe-rar que o alienado homo oeconomicus deveriatentar explorar os incrementos na produtivida-de e nos salrios por hora para reduzir as horastrabalhadas (Becchetti, 2008, p.187-188).

    Teria sido essa excessiva influncia marxis-ta-neoclssica a responsvel pela incapacidadedemonstrada por Keynes de visualizar uma dimen-so enriquecedora do trabalho, a qual se teria for-

    talecido em momentos mais recentes:

    Uma atrao pelo trabalho tambm ajuda a ex-plicar porque a previso de uma jornada de tra-balho to imensamente reduzida ficou to longeda efetivamente alcanada [...] Muitas pessoasvo ao trabalho por razes que vo alm do di-nheiro, e podem preferir trabalhar mais do queas quinze horas por semana de Keynes sob quasequalquer circunstncia (Freeman, 2008, p. 140).A falcia antropolgica que afeta Keynes a deconsiderar apenas o componente alienante dotrabalho humano, sem considerar seu lado posi-tivo, consistente na realizao da dimenso cria-tiva do ser humano (Becchetti, 2008, p. 188).Keynes nunca visualizou que, junto com o pro-gresso tcnico e a intensificao do uso do capi-tal, que ele postulou argutamente, uma parcelasempre crescente da populao pode permitir-se ter empregos estimulantes e atraentes. [...] Por-tanto, se a populao em idade de trabalhar notrabalhar, ou trabalhar apenas umas poucas ho-ras por semana, uma grande parte dela se verprivada de usufruir da maior recompensa ofere-cida pelas economias mais avanadas (Phelps,2008, p. 102).A falcia da viso antropolgica do trabalho huma-no e a incapacidade de compreender a evoluo dosempregos e das atividades criadoras de valor estona raiz da equivocada noo de Keynes sobre o futu-ro das horas trabalhadas (Becchetti, 2008, p.189).

    Antes de discutir criticamente a empobrecidaviso de Becchetti sobre o trabalho em Marx, o quenos permitir visualizar uma interessante analogiaentre Keynes e Marx, vale considerar o que teriaacontecido historicamente com o trabalho nas eco-nomias mais avanadas, como forma de avaliar aanteviso de Keynes e as observaes acima sobrea razo de seu equvoco maior. Uma primeira ob-servao que a postulao da existncia da fal-cia antropolgica de Keynes s faz sentido nummundo ps-fordista. No mundo do taylorismo-fordismo, que teve grande presena na maior partedo sculo XX, a viso depreciativa de Keynes so-bre o trabalho faz todo o sentido. Essa viso seajusta plenamente, em nossos dias, ao trabalho nasmegafbricas chinesas de montagem de produtoseletrnicos, sendo a famigerada cidade-fbrica daFoxconn em Shenzhen, com seus quase 400.000trabalhadores, sua ilustrao mais rica. As razespelas quais o trabalho sob o taylorismo-fordismomerece toda a viso depreciativa de Keynes sobre

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    o trabalho foram desenvolvidas por ns em vriosensaios (Moraes Neto, 1989, 2003, 2005, 2008). Oque interessa marcar aqui que, com o advento daautomao de base microeletrnica (e no com oadvento do toyotismo/ohnosmo, como pensarammuitos), o taylorismo-fordismo morreu no mundomais avanado, e foi deslocado, com grande fora,para as franjas mais atrasadas do sistema econ-mico mundial. Apenas para marcar a distncia dosdias atuais em relao fase fordista, vale a se-guinte lembrana:

    Com um total de empregados de 60.400, a Applepossui menos de um quarto do nmero de em-pregados da quinquagsima empregadora segun-do a revista Fortune, a AT&T. Quando da mortedo fundador da Apple, Steve Jobs, em 2011, vri-os comentadores o compararam a Henry Ford.Como inovadores e criadores de valor para osacionistas, os dois so na verdade comparveis.Mas como empregadores eles no o so. Duranteos anos 30, Ford empregava mais de cem milpessoas numa nica planta o complexo RiverRouge, em Michigan. E esta era apenas uma dasmuitas plantas de Ford nos Estados Unidos e foradele (Noah, 2012, p.101-102).

    A citao acima j nos coloca numa das prin-cipais caractersticas do ps-fordismo, qual seja, agrande diminuio do emprego na indstria, a qual,durante o perodo fordista, oferecia empregos deremunerao relativamente alta para trabalhadoresde nvel de qualificao ou escolaridade no eleva-do. Diversos autores tm enfatizado o peso que tevea indstria de bens de consumo durveis, ou seja,o segmento taylorista-fordista da indstria, na ofer-ta dessa grande quantidade de empregos bem re-munerados e pouco exigentes de qualificao(Holzer; Lane; Rosenblum; Andersson, 2011, p. 7,15). a partir da superao dessa fase que devemosprocurar as razes da falcia antropolgicakeynesiana. A grande diminuio do emprego in-dustrial, nos anos recentes, deve-se, no fundamen-tal, a grandes avanos de ordem tecnolgica, quedeixaram para trs o taylorismo-fordismo, mudan-do radicalmente a natureza dos processos de traba-lho:

    Tecnologias como robtica, mquinas de contro-le numrico, controle computadorizado de esto-

    ques e transcrio automtica tm substitudoas tarefas rotineiras, desalojando os trabalhado-res (Brynjolfson; McAfee, 2011, p.41).[...] para os Estados Unidos como um todo, o co-mrcio e o outsourcing explicam apenas 20 % daperda de 5,8 milhes de empregos na indstriadurante o perodo 2000-2010; mais de dois ter-os da perda de empregos pode ser atribuda aocontnuo crescimento da produtividade(McKinsey Global Institute, 2012, p. 8).

    A grande mudana ocasionada pelo progres-so tecnolgico, a partir das duas ltimas dcadasdo sculo XX, refletiu-se fortemente na estruturadas ocupaes nas economias mais avanadas, comdiminuio vigorosa das atividades de trabalho des-providas de contedo, em todos os setores. Aindaque a preocupao keynesiana do desempregotecnolgico no merea ser desprezada1, a fortealterao nas exigncias de qualificao para o tra-balho, em todas as reas de atividade, a maismarcante das alteraes recentes no que se refere aotrabalho nas economias mais avanadas:

    Portanto, nossa predio ao estilo de Simon deque a maior consequncia da computadorizaono ser o desemprego em massa, mas sim umcontnuo declnio da demanda por trabalho mo-deradamente ou menos qualificado. As oportu-nidades de emprego iro crescer, mas o cresci-mento do emprego ser maior nas ocupaes demaior nvel de qualificao, nas quais os compu-tadores iro complementar o pensamento espe-cializado (expert thinking) e a comunicaocomplexa (complex communication) para pro-duzir novos produtos e servios (Levy; Murnane,2004, p. 152).[...] o acrscimo na demanda relativa por traba-lhadores qualificados est fortementecorrelacionado com os avanos da tecnologia,particularmente as tecnologias digitais(Brynjolfsson; McAfee, 2011, p. 41).Como temos visto, as foras do crescimento eco-nmico causam agora uma demanda crescentepor trabalhadores altamente qualificados, en-quanto reduzem a demanda por trabalhadoresmenos qualificados. [...] Se nossa previso estcorreta, essa tendncia ir continuar, e os empre-

    1 Sobre esse ponto, vale citar Brynjolfsson e MacAfee: Afalta de empregos no simplesmente uma questo dedespedida em massa de trabalhadores em funo da Gran-de Recesso. Ao invs disso, ela reflete profundas ques-tes estruturais que tm piorado h uma dcada ou mais.O JOLTS (Bureau of Labor Statistics Job Openings andLabor Turnover Survey) mostra uma dramtica quedanas contrataes desde 2000. Falta de contrataes, maisdo que aumento nas despedidas, o fator responsvelpela maior parte da atual falta de empregos (2011, p. 35).

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    gos de tipo operrio (blue-collar) e de apoio ad-ministrativo (clerical jobs) continuaro a desa-parecer (Levy; Murnane, 2004, p. 153-155).O captulo conclui que, contrariamente per-cepo popular, empregos relativamente bonsno esto desaparecendo, mas eles esto menosdisponveis nas indstrias onde eles eram tradi-cionalmente encontrados (na produo de bensdurveis), e crescentemente requerem nveismais elevados de educao e qualificao dostrabalhadores (Holzer; Lane; Rosenblum;Andersson, 2011, p. 15).De maneira geral, os resultados por indstria noscontam uma histria bastante consistente. Mui-tos empregos de salrio elevado ainda esto dis-ponveis e esto sendo criados nos mercados detrabalho nos Estados Unidos. Todavia, menosprovvel que antes encontr-los na indstria; mais provvel ach-los numa grande variedade deservios. Na verdade, impressionante a magnitu-de das mudanas no emprego entre as atividadesprodutivas no perodo de aproximadamente umadcada. E no interior da indstria, e em qualqueroutro lugar, os empregos que permanecem esto setornando menos acessveis a trabalhadores quepossuam fraca qualificao pessoal (Holzen; Lane;Rosenblum; Andersson, 2011, p. 43).

    A sensvel alterao na natureza das ocupa-es gerou um comentrio significativo de EnricoMoretti em livro bastante recente:

    Numa fbrica, os componentes dominantes docho de fbrica so claramente as mquinas, etudo o mais, incluindo a localizao e as ativida-des das pessoas que as operam, ocorre em tornodelas. Num laboratrio ou numa empresa desoftware, so claramente as pessoas que impor-tam, e tudo ocorre em torno delas. Ironicamente,os locais de trabalho onde so criadas as maisinovadoras tecnologias so ainda largamente de-pendentes do trabalho humano, enquanto os lo-cais de trabalho onde so produzidos os bens tra-dicionais so amplamente tocados por robs(Moretti, 2012, p. 63).

    Um desdobramento relevante da mudanarecente nas ocupaes nos Estados Unidos, queestamos usando como referncia fundamental, que esto desaparecendo as diferenas anteriormen-te existentes entre a natureza dos trabalhos na in-dstria e nos servios:

    Debates acerca da importncia da indstriaversus servios numa economia, por exemplo,ignoram o fato de que a linha divisria entre es-ses setores est borrada (McKinsey; GlobalInstitute, 2012, p. 17).

    Essa homogeneizao do trabalho ocorre atmesmo no interior da atividade industrial, cada vezmais impregnada de atividades de trabalho tpicasdos servios:

    Incluindo os servios demandados de outros se-tores (outsourced services), encontramos que, nosEstados Unidos, os empregos relacionados a ser-vios na indstria agora excedem os empregosligados produo 8,9 milhes em serviosversus 7,3 milhes na produo (McKinsey; Glo-bal Institute, 2012, p. 7).

    Em funo dessa unificao da natureza dasatividades de trabalho, o fato de ele possuir ou noum resultado material perdeu qualquer relevncia:

    Ao final, no importa se os trabalhadores america-nos produzam alguma coisa fsica ou alguma coisaimaterial. O que realmente interessa que os tra-balhadores norte-americanos produzam bens ouservios que sejam inovadores e dificilmentereproduzveis. Esta a nica maneira de gerarempregos de elevada remunerao em face da re-nhida competio global (Moretti, 2012, p. 55).

    J nos possvel, aps as referncias aosresultados das pesquisas empricas mais recentessobre o trabalho nas economias avanadas, emparticular nos Estados Unidos, localizar com pre-ciso aquilo que Becchetti denominou falcia an-tropolgica presente na viso keynesiana sobre otrabalho no sculo XXI. De forma bastante abrup-ta, em funo do progresso tecnolgico observadodesde o final do sculo XX, com destaque para amicroeletrnica, observou-se uma tendncia deeliminao, nas sociedades mais avanadas, da-quelas atividades de trabalho esvaziadas de con-tedo, tpicas do taylorismo-fordismo. Ademais doprogresso tecnolgico, a possibilidade de transferi-las para as franjas do sistema econmico mundi-al, como as linhas de montagem para a China e oscall-centers para a ndia, reforaram aquela ten-dncia de eliminao. As atividades de trabalho tor-naram-se cada vez mais impregnadas de contedo,em todos os segmentos produtivos, e cada vez maisexigentes em termos de qualificao ou escolarizao.Em funo disso, pode-se entender que a relaodas pessoas com suas atividades de trabalho tenham

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    perdido a natureza de estranhamento, e que otrabalho tenha sido crescentemente assumido comoparte fundamental do desenvolvimento das indi-vidualidades. Os estudos recentes tm apontadoexatamente nessa direo, enfatizando a importn-cia de uma carreira para que se possa alcanar aautorrealizao numa economia avanada (Phelps,2008, p. 102). A razo pela qual Keynes no con-seguiu antever tal processo histrico encontra-sefundamentalmente no fato de que ele encampoucompletamente a viso dos clssicos, especialmenteneoclssicos, sobre o trabalho, de uma maneirageral, como uma canga a ser carregada com sofri-mento pela espcie humana. Em funo disso, ogrande economista trabalhou sempre com a oposi-o entre trabalho esvaziado de contedo,imanentemente alienado e lazer. Veremos, mais frente, que isso o diferencia fundamentalmente deMarx, exatamente ao contrrio do que afirmaBecchetti. Fica evidenciada, ento, a razo do equ-voco keynesiano: Por um lado, ele acertou com-pletamente ao antever que o aumento da produti-vidade em funo do progresso tecnolgico teriacomo efeito de longo prazo a eliminao do traba-lho esvaziado de contedo, cuja permanncia elecaracterizava como a manifestao por excelnciado problema econmico. Por outro lado, ao sediminuir imensamente esse tipo de trabalho, o quesobraria s pessoas seria fundamentalmente o lazer,e ele no conseguiu visualizar a positividade queseria gerada a partir do prprio trabalho, como tra-balho impregnado de contedo. interessante lem-brar que essa viso de Keynes significava que eleno se havia aprisionado ao taylorismo-fordismo,que, sua poca, j afirmava sua importncia,dominando ramos significativos da indstria, emespecial o metal-mecnico. Isso porque, se o au-mento de produtividade fosse pensado por elecomo advindo das inovaes tayloristas-fordistas,no haveria como pensar, ao mesmo tempo, natendncia ao desaparecimento do problema eco-nmico. Nesse sentido, Keynes se alia a Marx,muito especialmente ao Marx dos Grundrisse, comoveremos mais frente. A grande diferena entre osdois est ligada natureza da oposio: se Keynes

    trabalhava com a oposio entre trabalho esvazia-do de contedo e lazer, a oposio, para Marx, secolocava entre trabalho esvaziado de contedo etrabalho atividade.

    Antes, porm, de dar destaque diferena, necessrio esclarecer um aspecto comum aos doisautores: Keynes, como j mencionamos, e Marxpassam ao largo do taylorismo-fordismo. No casodo segundo, se abstrairmos a impossibilidade his-trica do encontro, certamente ele no teria consi-derado a linha de montagem taylorista-fordistacomo algo ancorado em uma grande mquina, aesteira transportadora, como quer Eleutrio Prado(Prado, 2013, p. 25), mas sim como uma grandemquina cujas peas so homens, como quis comgrande acuidade Ferguson para o caso da manufa-tura (apud Marx, 1983, p. 284). O primeiro talveztenha sido ajudado por uma determinao geogrfi-ca, pois o taylorismo-fordismo foi, acima de tudo,uma criao norte-americana e, no incio da dcadade 30 do sculo XX, ainda no tinha se difundidopara as naes europeias como ocorreu, ainda quecom dificuldades e ajustes, no perodo ps-segun-da guerra. De qualquer forma, independentementedas razes, Keynes manteve-se colado grandecontribuio de sua nao histria da tecnologia,ou seja, mquina, tal como descrita agudamentepor Marx em O Capital. De qualquer forma, foi adesconsiderao do desvio mediocrizante das for-as produtivas representadas pelo taylorismo-fordismo que permitiu aos dois grandes autorespensar no fim do trabalho esvaziado como resulta-do do progresso tcnico. Ambos consideraram quea elevao da produtividade do trabalho no bas-tava para caracterizar com presteza os efeitos doprogresso tcnico; necessrio que essa elevaose d em funo da automao, ou seja, do desa-parecimento do homem como instrumento de pro-duo. essa concepo que torna ambos to atu-ais, to ps-fordistas.

    Aps a considerao do que iguala os doisautores, voltemos ao que os diferencia, ou seja, anatureza da oposio que fundamenta o racioc-nio. J afirmamos que, diferentemente de Keynes,Marx trabalha com uma oposio entre trabalho

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    desprovido de contedo e trabalho atividade.A citao abaixo nos parece a mais importante paraconstatar este fato:

    Trabalhars com o suor de teu rosto! foi a maldi-o que Jeov lanou a Ado, e desta maneira,como maldio, que Adam Smith concebe o tra-balho. O repouso aparece como o estado ade-quado, como idntico liberdade e fortuna.Parece estar muito longe de seu pensamento queo indivduo, em seu estado normal de sade, vi-gor, atividade, habilidade e destreza tenha tam-bm a necessidade de sua poro normal de tra-balho e da supresso do repouso. [...] Tem razo,sem dvida, Adam Smith, na medida em que asformas histricas de trabalho como trabalhoescravo, servil, assalariado sempre se apresen-taram como trabalho forado, imposto exterior-mente, frente ao qual o no trabalho aparececomo liberdade e fortuna. Isto duplamenteverdadeiro: verdadeiro com relao a este tra-balho antittico [quer dizer, condicionado poruma anttese de classe (Rosdolsky, 1985, p.474)],e, em conexo com ele, ao trabalho para o qualainda no se criaram as condies subjetivas eobjetivas para que se torne trabalho atraente,autorrealizao do indivduo, o que de modo al-gum significa que seja mera diverso, mero en-tretenimento, como concebia Fourier. Precisa-mente, os trabalhos realmente livres, como, porexemplo, a composio musical, so ao mesmotempo terrivelmente srios e exigem o mais in-tenso dos esforos. O trabalho da produo mate-rial s pode adquirir esse carter (de trabalhorealmente livre, emancipado): 1) Se o seu con-tedo se tornar diretamente social; 2) Se se re-vestir de um carter cientfico e surgir direta-mente como tempo de trabalho geral. Por outraspalavras, se deixar de ser o esforo do homem,simples fora de trabalho natural no estado bru-to, tendo sofrido um determinado treinamento,para se tornar a atividade do sujeito que regulatodas as foras da natureza no seio do processo deproduo (Marx, 1978, p. 119-120).

    Observamos que Marx considera avisualizao do trabalho a la Smith e Keynes, comoalgo a ser depreciado, que prejudica enormementeo desenvolvimento das individualidades, comoajustada apenas e to somente ao caso de sua par-ticular conformao pelas sociedades de classe. Poroutro lado, de forma oposta a Keynes, considera otrabalho livre e emancipado, atraente, comomomento fundamental da autorrealizao do in-divduo, ainda que possa exigir o mais intensodos esforos. Pode-se tambm inferir da citao

    que Marx considera o trabalho no ligado repro-duo material da sociedade, que ele ilustra com acomposio musical, como aquele mais imediata-mente apto a apresentar essas caractersticas posi-tivas. Vemos, ento, que a preocupao maior deMarx localiza-se na natureza do trabalho nas ativi-dades voltadas reproduo material da sociedade,objeto de suas conhecidas anlises sobre a evolu-o dos processos de trabalho. Para o caso dessetipo de trabalho, so duas as condies postas paraque ele se transforme em trabalho livre e emanci-pado: uma de natureza social, a superao da for-ma social capitalista, e outra de natureza tecnolgica,a transformao do processo de produo numaaplicao tecnolgica da cincia (Marx, 1978, p.221). Essa considerao nos leva para um momen-to fundamental da obra de Marx, que, a despeito deum momento de ambiguidade em O Capital(Zilbersheid, 2000; Moraes Neto, 2004), tem a abo-lio do trabalho como passo crucial para atranscendncia do modo de produo capitalista:

    Apenas nesta fase (aps a revoluo) aautoatividade coincide com a vida material, oque corresponde transformao dos indivduosem indivduos totais [...] a revoluo comunista dirigida contra o modo anterior de atividade, su-prime o trabalho e supera a dominao de todasas classes ao superar as prprias classes (Marx;Engels, 1991, p. 108).

    Em outro texto, trabalhamos a questo daevoluo das foras produtivas dentro do capita-lismo como elemento necessrio para a conquistada abolio do trabalho, atravs da generalizaodo grande autmata, ou seja, da eliminao dohomem como instrumento de produo (MoraesNeto, 2004). O que nos interessa marcar aqui que, para Marx, o desenvolvimento da sociedadehumana exige que seja abolido todo o trabalho queno contribua decisivamente para a autorrealizaodo indivduo. Ora, como a humanidade s seprope as tarefas que pode resolver (Marx, 1974,p.136), dever-se-ia buscar, no interior do prpriocapitalismo, em sua evoluo histrica, o prprioencaminhamento da abolio do trabalho e daafirmao do trabalho como atividade, algo atra-

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    ente, autorrealizao do indivduo. Ora, exa-tamente isso que vem ocorrendo nos pases deeconomia mais avanada, conforme nos revelamas anlises empricas mais recentes. Esse fato foicapturado nas anlises de Negri e outros (Negri;Hardt, 2001; Negri; Lazzarato, 2001), o que os le-vou ao conceito de trabalho imaterial, bastanteinfeliz, pois admitem que ele se difunde por todasas atividades produtivas, independentemente deapresentarem ou no um resultado material(Moraes Neto, 2006). Diferentemente, portanto, doque ocorreu com os prognsticos de Keynes, aanlise de Marx, que no procurava fazer predi-es, especialmente de um momento histrico todistante, acabou sendo muito mais feliz comoanteviso histrica. Resta saber quais os desafiospostos pela situao atual. Para o regime do capital,a pergunta seria: uma forma social fundada na pro-duo mercantil com vistas obteno de lucro temcapacidade de proporcionar, de uma maneira geral,a conquista de um trabalho autorrealizador? A pr-pria natureza da produo voltada para o lucro nodificultaria o processo por ela encetado de busca deum trabalho impregnado de sentido? Sem mencio-nar os efeitos perversos de uma crise econmica,como ilustra o momento atual, o que estamos que-rendo dizer que o prprio regime do capital abrepotencialidades, j vivenciadas, de uma vida maisrica, ligada a um trabalho atraente, mas se trans-forma, ao mesmo tempo, num empecilho ao plenodesenvolvimento dessas potencialidades. Sendo as-sim, deparamo-nos com a ilustrao histrica de umanoo marxiana de grande importncia, a da contra-dio entre as foras produtivas e as relaes de pro-duo, amortecida durante a maior parte do sculoXX em funo da forte presena da mediocridadetaylorista-fordista.2 Parece-nos pertinente mencionara presena dessa questo em textos anteriores:

    Atravs da exploso do taylorismo-fordismo,recoloca-se a questo enfatizada por Marx daprescindibilidade do trabalho vivo para a repro-duo material da sociedade; a produo indus-trial passa a ser, em todos os seus segmentos, umaaplicao tecnolgica da cincia. Para aqueles(poucos) que permanecerem com atividades detrabalho na rea da produo material, tornar-se- possvel superar a heteronomia do trabalhosob o capitalismo, permitindo um considervelgrau de envolvimento do homem com sua ativi-dade de trabalho (saliente-se que isto no superaa mediocridade social do capitalismo, coisa quese pode ilustrar, por exemplo, pela subordinaoda segurana fsica dos trabalhadores ao clculodo lucro em indstrias com elevado grau de ris-co). A questo que se coloca imediatamente : equanto atividade de trabalho da grande maio-ria da populao, que passar a ser dispensadado trabalho necessrio reproduo material dasociedade? Se a resposta da sociedade for umgrande volume de desempregados, ela estarmostrando sua mediocridade; afinal, no have-ria atividades socialmente teis (e individual-mente gratificantes) a desempenhar? A socieda-de no necessitaria de atividades humanas nasreas da educao, da sade, das artes, da cin-cia, do lazer, etc.? Na verdade, a atividade huma-na ser sempre socialmente imprescindvel jus-tamente onde imprescindvel a presena hu-mana. Seria, dessa forma, possvel estabelecer umavinculao enriquecida entre trabalho e cidada-nia: as atividades de trabalho remanescentes seri-am, a um s tempo, possibilitadoras do desenvol-vimento das individualidades de quem as exerce,e do desenvolvimento da qualidade de vida dequem as usufrui. As relaes de produo capita-listas permitem esse caminho histrico? A subor-dinao da produo de bens e servios lgica dolucro permite desenvolver o conjunto das ativida-des de trabalho enriquecedoras individual e soci-almente? No seria algo socialmente muito ambi-cioso para os limites estabelecidos pelas relaescapitalistas? O que no nada confortvel para ocapital que as atividades de trabalho remanes-centes dificilmente podem ser integralmente su-bordinadas lgica capitalista da produo debens e servios como um meio para a valorizaodo valor. O capital defrontar-se- com uma nova edifcil barreira, de natureza tica, caso queira su-bordinar todas essas atividades lgica do lucro.Finalizando, por mais paradoxal que parea, oatual momento histrico de fortalecimento do ca-pitalismo pode estar gestando uma grande fra-queza, num futuro talvez no muito distante(Moraes Neto, 2003, p. 117-118).

    2 Em texto anterior, procuramos esclarecer esse amorte-cimento: A contraditoriedade do capital consigo mes-mo est posta, por Marx, a partir do movimento de nega-o do trabalho vivo como unidade fundamental do pro-cesso de produo, e sua substituio pelo trabalho morto.Sendo assim, como se coloca a natureza auto-contradi-tria do capital quando sua base tcnica possui a nature-za taylorista/fordista? A resposta : no se coloca; a for-ma taylorista/fordista de organizar o processo de traba-lho no contraditria com o capital enquanto relaosocial; pelo contrrio, o taylorismo/fordismo chancela a

    forma social capitalista. Uma forma tcnica lastreada notrabalho humano, que induz ao emprego de milhares detrabalhadores parciais/desqualificados, perfeitamenteassentada forma social capitalista; o sonho da eterni-dade capitalista teria encontrado sua base tcnica ade-quada (Moraes Neto, 2003, p. 60-61).

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    Este caminho de reflexo implica em considerarmais viva do que nunca a clebre advertncia con-tida no Manifesto Comunista segundo a qual o ca-pitalismo gera civilizao demais para os estrei-tos limites colocados por sua mediocridade en-quanto forma social (Moraes Neto, 2006, p. 59).

    Alguns momentos dessa contradio fun-damental aparecem nos dias atuais. Vejamos al-guns comentrios sobre palestra de LawrenceSummers no Forum Econmico Mundial, emDavos, Sua, no dia 26 de janeiro de 2012:

    uma iluso que os iPods, iPads e Kindles vocriar mais empregos para pessoas normais, dis-se Summers. Para ele, a economia americana estevoluindo numa direo em que a criao deemprego ter de vir muito mais de segmentosligados ao Estado, como sade e educao, doque do industrial. [...] Os servios de sade, alis,segundo Summers, so o segmento previsto paragerar mais empregos nos Estados Unidos nos pr-ximos dez anos [...] O desafio da poltica econ-mica na atual fase do capitalismo, portanto, seriao de preservar o dinamismo dos setores de baixacriao de emprego que, por outro lado, produ-zem em massa bens de qualidade para a popula-o, ao mesmo tempo em que tenta construiruma sociedade com trabalho digno para todos(Dantas, 2012).

    Numa tentativa de amarrar as ideias ime-diatamente anteriores, vale questionar: se sade eeducao vierem a se constituir em fontes funda-mentais de uso da capacidade humana de trabalho,como pens-las como atividades inteiramente apro-priadas pela lgica capitalista?3 Seria isso social epoliticamente aceitvel? Talvez essa dificuldade leveSummers a consider-las como prioritariamente li-gadas ao Estado. Seria, ento, possvel pensar numcapitalismo com presena amplamente majoritriados trabalhadores em setores no ligados lgicacapitalista? o tratamento desses e de outros desa-fios contemporneos ao regime do capital que vaifornecer significncia sua crtica.

    Recebido para publicao em 27 de maio de 2013Aceito em 18 de julho de 2013

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    3 Podemos estar em presena daquilo que teria motivado oinsight de Marx a respeito dos limites inerentes s atividadesde servios para sua apropriao pela lgica capitalista, infe-lizmente no explicitados pelo autor. (Moraes Neto, 2006).

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    Benedito Rodrigues de Moraes Neto Doutor em Cincias Econmicas. Professor adjunto (livre-docente)aposentado do Departamento de Economia da UNESP em Araraquara, SP. Atua principalmente em teoria ehistria dos processos de trabalho. Algumas publicaes: Processo de trabalho e eficincia produtiva: Smith,Marx, Taylor e Lnin. Estudos Econmicos (USP.), v. 9, p. 651-671, 2009; O processo de trabalho em Marx e osurpreendente sculo XX. Revista de Economia, Curitiba, v. 34, p. 7-19, 2008; Marx, Taylor, Ford: as forasprodutivas em discusso. So Paulo: Brasiliense, 1989; Sculo XX e trabalho industrial: taylorismo/fordismo,ohnosmo e automao em debate. So Paulo: Xam Editora, 2003.

    EMPLOYMENT AND LABOR IN EARLYTWENTY-FIRST CENTURY:revisiting Keynes and Marx

    Benedito Rodrigues de Moraes Neto

    The nature of labor in advanced economieshas presented a significant change lately. Thetechnological process has resulted in the reductionof labor without content and the expansion of la-bor with higher qualification or schooling, aphenomenon that can be discussed by turning toKeynes and Marx. As far as Keynes is concerned,his foresight was that technological progress wouldgenerate a huge reduction of labor time and theexpansion of leisure time. Since this did not occur,the failure may be attributed to the fact of havingworked with opposition between labor withoutcontent and leisure. Thus, it was not possible tocapture the historical changes in labor and mansrelationship with it. Marxs viewpoint iscompletely different, because his opposition takesplace between labor without content and activitylabor, the latter impregnated with content andessential to the development of individualities.Therefore, present reality has a greater identificationwith Marx and presents major challenges tocapitalism and its critique.

    Key Words: Keynes. Marx. Employment. Labor.Technical progress.

    EMPLOI ET TRAVAIL AU DBUT DU XXIeSICLE: revisitant Keynes et Marx

    Benedito Rodrigues de Moraes Neto

    La nature du travail dans les conomiesavances a subi un changement rcent important.Le progrs technologique a conduit une rductiondu travail sans contenu et une augmentation decelui exigeant une plus grande qualification ouscolarit, phnomne qui exige la contribution deKeynes et de Marx pour en discuter. Dans le casde Keynes, on peut mettre en vidence sa prvisiondun progrs technologique engendrant uneimmense rduction du temps de travail et uneaugmentation du temps des loisirs. Mais,considrant que cela na pas eu lieu, lchec peuttre attribu au fait de travailler en opposition avecle travail sans contenu et les loisirs, ce qui na paspermis de saisir les changements historiques dansle travail ni dans la relation de lhomme avec sontravail. La vision de Marx est compltementdiffrente puisque lopposition quil fait est entrele travail dpourvu de contenu et le travailactivit , ce dernier tant imprgn de contenu etfondamental pour le dveloppement desindividualits. La ralit actuelle combine doncplus avec Marx et prsente de nombreux dfis pourle capitalisme et la critique quon en fait.

    MOTS-CLS: Keynes. Marx. Emploi. Travail. Progrstechnique.