Benefícios do Cobre na Cafeicultura

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ISSN 0103-4413 n. 3 - maio - 2007 Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais Av. José Cândido da Silveira, 1.647 - Cidade Nova - 31170-000 Belo Horizonte - MG - site: www.epamig.br - e-mail: [email protected] 1 BENEFÍCIOS DO COBRE NA CAFEICULTURA 2 Vicente Luiz de Carvalho 3 Rodrigo Luz da Cunha 4 João Paulo Felicori Carvalho INTRODUÇÃO As primeiras referências sobre a aplicação do cobre no cafeeiro datam por volta de 1920, na Índia, com o uso da calda bordalesa para o controle da ferrugem. Além do seu controle, outros efeitos benéficos como tônico, retenção foliar e aumento da produtividade pela utilização de fungicidas cúpricos são observados desde a década de 40, no Quênia. Os fungicidas à base de cobre, que já demonstraram superioridade no controle da ferrugem em outros países, foram os primeiros a ser testados e adaptados para as condições brasileiras em seus aspectos de formulações, dosagens, épocas e técnicas de aplicação e, até o momento, exercem papel de destaque nas estratégias de controle a doenças. COBRE NA NUTRIÇÃO DO CAFEEIRO Os fungicidas cúpricos funcionam como nutrientes para as plantas. Sua utilização pode promover, além do controle da ferrugem e outras doenças, o fornecimento do íon Cu+ ou Cu++ para as plantas, o qual funciona como co-fator de dezenas de enzimas nas células. Várias enzimas que contêm cobre ou são por este ativadas, catalisam reações de óxido-redução: oxidase do Ácido Ascórbico, Lacase, oxidase de Diamina, oxidase de Citocromo, Polifenoloxidase, oxidase do Ácido Indol Acético. O cobre é constituinte de uma proteína do cloroplasto, a plastocianina que participa da cadeia de transporte de elétrons ligando os dois sistemas fotoquímicos da fotossíntese. Outras funções importantes ligadas a atividades enzimáticas que envolvem o cobre são descritas na literatura. Plantas deficientes em cobre mostram menor síntese protéica e diminuição da atividade fotossintética. Verifica-se, portanto, que os fungicidas aplicados nos cafeeiros para controle de doenças, agregam- se àqueles proporcionados pelo cobre como componente indispensável ao desenvolvimento normal de processos fisiológicos e químicos nas plantas, que envolvem as fases de crescimento e reprodução. Sintomas de deficiência Folhas novas deformadas com nervuras salientes (acosteladas) e folhas velhas curvadas para baixo (orelha de zebu), que em caso agudo têm um amarelecimento ao longo da nervura central. Os sintomas de deficiência podem ser ocasionados pela falta de cobre no solo, excesso de calagem ou de matéria orgânica. Sintomas de toxidez Pequeno desenvolvimento e morte de raízes, clorose nas folhas a partir da base, secamento e queda destas. 1 Circular Técnica produzida pela EPAMIG - Centro Tecnológico do Sul de Minas (CTSM). Telefone: (35) 3821-6244 - correio eletrônico: [email protected] 2 Eng o o Agr , M.Sc., Pesq. EPAMIG-CTSM, Caixa Postal 176, CEP 37200-000 Lavras-MG. Correio eletrônico: [email protected] 3 Eng o o Agr , D.Sc., Pesq. EPAMIG-CTSM, Caixa Postal 176, CEP 37200-000 Lavras-MG. Correio eletrônico: [email protected] 4 Graduando em Agronomia, Bolsista CNPq/UFLA, Caixa Postal 3037, CEP 37200-000 Lavras-MG. Correio eletrônico: [email protected]

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Circular técnica da EPAMIG - Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais que trata dos benefícios do uso do Cobre na cultura do café

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  • ISSN 0103-4413 n. 3 - maio - 2007 Empresa de Pesquisa Agropecuria de Minas Gerais

    Av. Jos Cndido da Silveira, 1.647 - Cidade Nova - 31170-000 Belo Horizonte - MG - site: www.epamig.br - e-mail: [email protected]

    1BENEFCIOS DO COBRE NA CAFEICULTURA

    2Vicente Luiz de Carvalho3Rodrigo Luz da Cunha4Joo Paulo Felicori Carvalho

    INTRODUO

    As primeiras referncias sobre a aplicao do cobre no cafeeiro datam por volta de 1920, na ndia, com o uso da calda bordalesa para o controle da ferrugem. Alm do seu controle, outros efeitos benficos como tnico, reteno foliar e aumento da produtividade pela utilizao de fungicidas cpricos so observados desde a dcada de 40, no Qunia. Os fungicidas base de cobre, que j demonstraram superioridade no controle da ferrugem em outros pases, foram os primeiros a ser testados e adaptados para as condies brasileiras em seus aspectos de formulaes, dosagens, pocas e tcnicas de aplicao e, at o momento, exercem papel de destaque nas estratgias de controle a doenas. COBRE NA NUTRIO DO CAFEEIRO

    Os fungicidas cpricos funcionam como nutrientes para as plantas. Sua utilizao pode promover, alm do controle da ferrugem e outras doenas, o fornecimento do on Cu+ ou Cu++ para as plantas, o qual funciona como co-fator de dezenas de enzimas nas clulas. Vrias enzimas que contm cobre ou so por este ativadas, catalisam reaes de xido-reduo: oxidase do cido Ascrbico, Lacase, oxidase de Diamina, oxidase de Citocromo, Polifenoloxidase, oxidase do cido Indol Actico. O cobre constituinte de uma protena do cloroplasto, a plastocianina que participa da cadeia de transporte de eltrons ligando os dois sistemas fotoqumicos da fotossntese. Outras funes importantes ligadas a atividades enzimticas que envolvem o cobre so descritas na literatura. Plantas deficientes em cobre mostram menor sntese protica e diminuio da atividade fotossinttica.

    Verifica-se, portanto, que os fungicidas aplicados nos cafeeiros para controle de doenas, agregam-se queles proporcionados pelo cobre como componente indispensvel ao desenvolvimento normal de processos fisiolgicos e qumicos nas plantas, que envolvem as fases de crescimento e reproduo.

    Sintomas de deficincia

    Folhas novas deformadas com nervuras salientes (acosteladas) e folhas velhas curvadas para baixo (orelha de zebu), que em caso agudo tm um amarelecimento ao longo da nervura central. Os sintomas de deficincia podem ser ocasionados pela falta de cobre no solo, excesso de calagem ou de matria orgnica.

    Sintomas de toxidez Pequeno desenvolvimento e morte de razes, clorose nas folhas a partir da base, secamento e queda

    destas.

    1Circular Tcnica produzida pela EPAMIG - Centro Tecnolgico do Sul de Minas (CTSM). Telefone: (35) 3821-6244 - correio eletrnico: [email protected]

    2Engo o Agr , M.Sc., Pesq. EPAMIG-CTSM, Caixa Postal 176, CEP 37200-000 Lavras-MG. Correio eletrnico: [email protected]

    3Engo o Agr , D.Sc., Pesq. EPAMIG-CTSM, Caixa Postal 176, CEP 37200-000 Lavras-MG. Correio eletrnico: [email protected]

    4Graduando em Agronomia, Bolsista CNPq/UFLA, Caixa Postal 3037, CEP 37200-000 Lavras-MG. Correio eletrnico: [email protected]

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    COBR

    fungicidas base de cobre foram por muito tempo quase os nicos produtos qumicos que se empregaram no controle qumico da ferrugem do cafeeiro, porm a partir dos anos 60, apareceram novos produtos de diferentes composies qumicas; alguns de largo espectros e outros de uso mais especfico.

    Os resultados de inmeras pesquisas em diferentes pases mostraram que, em mdia, os fungicidas base de cobre foram superiores aos orgnicos no controle da ferrugem. Os cpricos podem ser utilizados isoladamente ou associados com fungicidas sistmicos dentro de um programa de controle especfico para cada condio da lavoura (carga pendente, estado nutricional e outros).

    No Brasil, nos ltimos anos, a cercosporiose tem-se agravado em todas as regies produtoras de caf. Entre as hipteses para esse agravamento est a intensificao do uso dos fungicidas sistmicos especficos para a ferrugem em detrimento do uso de cobre. Os fungicidas cpricos so eficientes no controle da cercosporiose e outras doenas como: antracnose e mancha-aureolada (Grfico 1). Em algumas regies da frica, a antracnose do cafeeiro, causada pelo Colletotrichum, limita a explorao da cafeicultura. Formulaes cpricas so os fungicidas recomendados para o controle dessa doena e, em combinaes, principalmente com antibiticos, so recomendadas para o controle de diversas bacterioses em diversas culturas. No cafeeiro, a mancha-aureolada, causada pela Pseudomonas syringae, controlada principalmente por associaes de antibiticos com o cobre.

    E NO CONTROLE DE DOENAS

    Os

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    Ferrugem (2001)

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    AA

    CPI

    C

    Cercospora (2001)

    Testemunha Oxiclor. CobreSulfato Cobre Triazol 5% 2x

    Triazol+Cobre

    Grfico - Efeito do cobre aplicado isoladamente e associado a sistmico no controle da ferrugem e cercosporiose do cafeeiro

    FONTE: Dados bsicos: Cunha et al. (2004). OUTROS BENEFCIOS DO COBRE PARA O CAFEEIRO

    Depois de quase um sculo, os fungicidas base de cobre ainda so largamente usados na cafeicultura.

    Provavelmente, devido aos efeitos que agregam aos cafeeiros, quando so aplicados para o controle das doenas. Pode-se afirmar, com segurana, que o principal deles o aumento significativo da produo, superior ao que se espera do simples efeito do controle qumico das doenas.

    Ainda como efeito benfico do cobre salienta-se o efeito tnico, que d s folhas uma colorao verde intensa e melhora a aparncia geral das plantas. Aliado a esse efeito tnico, o efeito de reteno de folhas e frutos que os cpricos promovem nos cafeeiros deve ser destacado e, como conseqncia, maior produo e melhoria da qualidade final do caf (Grfico 2). Sabe-se que, entre outros benefcios, a proteo dos frutos da incidncia direta dos raios solares por meio das folhas, no perodo de frutificao, evita leses que abriro portas para fungos e bactrias que degradam a qualidade final do caf.

    Grfico 2 ssociado a sist folhas

    do cafeeiro FONTE: Dados bsicos: Cunha et al. (2004).

    - Efeito do cobre aplicado isoladamente e a mico na produo e na preservao de

    Testemunha Oxiclor. Cobre Sulfato Cobre

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    Desfolha (2001)

    Testemunha

    Oxiclor. Cobre

    Sulfato Cobre

    Triazol 5% 2x

    Triazol+Cobre

    Triazol 5% 2x Triazol+Cobre

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    Prod

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    Produo 2002

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    Finalmente, produtos base de cobre, quando aplicados aps chuvas de granizo ou aps a colheita, azem os benefcios da proteo e cicatrizao dos ferimentos dos ramos, causados pelo vento ou pela

    REFERNCIA CUNHA, R.L. da; CHALFOUN, S.M.; MENDES, A.N.G. Controle qumico da ferrugem do cafeeiro (Coffea arabica L.) e seus efeitos na produo e preservao do enfolhamento. Cincia e Agrotecnologia, Lavras, v.28, n.5, p.990-996, 2004.

    trprtica da colheita. Juntando todos esses benefcios, deve-se salientar sua baixa toxicidade e probabilidade de induo de resistncia dos patgenos. CUIDADOS NA UTILIZAO DOS CPRICOS

    a) para o controle efetivo da ferrugem, devem-se iniciar as aplicaes com ndice de infeco prximo a zero.

    b) o intervalo entre as aplicaes no pode ultrapassar 30 dias. c) necessita maior nmero de aplicaes (3 a 5), para controle da ferrugem. d) as aplicaes devem ser bem feitas, ou seja, boa cobertura de toda planta, com presso suficiente

    para penetrao do produto no seu interior. e) difcil controle em reas com sistemas de plantio adensados e em terrenos inclinados. f) difcil controle no perodo chuvoso por ser um produto que atua por contato.

    BENEFCIOS DO COBRE NA CAFEICULTURA