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FUNDAÇÃO DOM CABRAL Programa de Mestrado Profissional em Administração - MPA Luiz Gustavo Leite Souza A SUSTENTABILIDADE NA CAFEICULTURA: um estudo sobre a relação de uma cooperativa de cafeicultores com o mercado Nova Lima 2019

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FUNDAÇÃO DOM CABRAL

Programa de Mestrado Profissional em Administração - MPA

Luiz Gustavo Leite Souza

A SUSTENTABILIDADE NA CAFEICULTURA:

um estudo sobre a relação de uma cooperativa de cafeicultores com o mercado

Nova Lima

2019

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Luiz Gustavo Leite Souza

A SUSTENTABILIDADE NA CAFEICULTURA:

um estudo sobre a relação de uma cooperativa de cafeicultores com o mercado

Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado

Profissional em Administração (MPA) da Fundação

Dom Cabral como requisito parcial à obtenção do

título de Mestre em Administração.

Área de concentração: Sustentabilidade

Linha de Pesquisa: Estratégia

Orientador: Prof. Dr. Hugo Ferreira Braga

Tadeu

Nova Lima

2019

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AGRADECIMENTOS

Reconhecer quem me apoiou nesta jornada é muito importante. Porém, este espaço

torna-se pequeno, pois só consegui chegar até aqui graças a muitas pessoas, desde o dia em que

decidi fazer um mestrado na Fundação Dom Cabral, após me tornar gestor PAEX e participar

de um treinamento com a Profª. Dra. Rosileia Milagres, no Espírito Santo (ES). Isso só foi

possível pelo apoio que tive da cooperativa na qual trabalho, que me despertou e me fez

entender que uma empresa deve ir muito além do campo financeiro. Então, agradeço a todos da

Coocafé.

Também devo um agradecimento especial à DVF, associada da FDC, que levou a

Fundação a várias pequenas e médias cooperativas agropecuárias do ES e a nós de Minas

Gerais, que temos dois corações. Pelas reuniões com o Grupo de Desenvolvimento Estratégico,

percebi a oportunidade de trabalhar melhor esse conceito de sustentabilidade, então devo um

agradecimento especial a cada colega de trabalho, em especial ao superintendente

Administrativo Financeiro Luciano Fonseca, ao presidente Fernando Cerqueira e ao diretor de

Comercialização e Produção Pedro Araujo.

Aprendi muito com cada professor e com todos os colegas do Mestrado Profissional em

Administração (MPA). Também devo um agradecimento aos meus colegas professores e alunos

do Unifacig, onde tenho o prazer de estar desde 2012. Ainda no campo acadêmico, é mais do

que necessário reconhecer o papel fundamental que meu orientador, Prof. Dr. Hugo Tadeu,

desempenhou, seja nas cobranças para cumprir os prazos, seja nos direcionamentos. Agradeço

ainda aos docentes da banca, Prof. Dr. Jersone Tasso Moreira Silva e Prof. Dr. Rodrigo Baroni

de Carvalho, que tiveram papel crucial no desenvolvimento deste estudo.

Dedico este trabalho a cada família cafeicultora e também à minha família, que tornou

possível este sonho e que sempre esteve comigo em todos os momentos, sobretudo meus pais,

Sebastião Luiz de Souza e Maria do Carmo Leite Souza, e minha irmã, Larissa Leite Souza.

Espero, sinceramente, que todos os citados direta e indiretamente – e também os demais

que em algum momento contribuíram para que este estudo fosse realizado – entendam que estão

fazendo parte de vários sonhos, pois a intenção com este trabalho vai além da titulação. Talvez

de forma pretensiosa, mas com a melhor das intenções, sempre entendi que vale a pena investir

na comunidade. Esse deveria ser o lema de qualquer empreendimento. Portanto, se este trabalho

contribuir para a melhoria da qualidade de vida de, pelo menos, uma comunidade, o objetivo

maior foi atingido.

Saudações cooperativistas!

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RESUMO

Este estudo teve como objetivo identificar divergências na avaliação da sustentabilidade pelos

players que atuam na cafeicultura. A dissertação está dividida em cinco capítulos: no primeiro,

o tema sustentabilidade é apresentado; no segundo, é feita a relação do tema à agricultura e ao

cooperativismo. No terceiro capítulo, apresentam-se a metodologia utilizada bem como a

justificativa de sua escolha. Detalham-se ainda os objetivos, os procedimentos e instrumento

para a coleta de dados e as fases da pesquisa. Para atingimento dos objetivos, foi realizado um

estudo de caso em uma cooperativa da agricultura familiar, na qual se identificaram as

principais partes interessadas, suas ações e o contexto no qual a cooperativa está inserida. A

partir desse momento, foi feita a coleta de dados através da aplicação de um questionário on-

line (e-survey) junto aos seguintes públicos: alta gestão, formado por conselho de

administração, diretoria, superintendência e executivos responsáveis pelo planejamento

estratégico; cooperados, representados pelo conselho consultivo; e empresas multinacionais

que possuem relações comerciais e institucionais com a cooperativa. O questionário usou como

base as cinco principais dimensões da sustentabilidade, estabelecidas por Ignacy Sachs,

considerado precursor do Desenvolvimento Sustentável: econômica, social,

ecológica/ambiental, espacial/geográfica e cultural. O capítulo quatro traz a descrição dos dados

obtidos no estudo. É realizada uma análise estatística, e, ao confrontar os resultados de cada

grupo, foi possível identificar pontos de convergência e divergência quanto às avaliações.

Houve divergências entre cooperados do conselho consultivo e empresas nas dimensões

econômica e geográfica; e alta gestão da cooperativa e empresas nas dimensões social e

ecológica. No quinto capítulo, apresentam-se as conclusões deste trabalho, além do

detalhamento das suas implicações gerais, suas limitações e as sugestões para pesquisas

posteriores.

Palavras-chave: Sustentabilidade. Agricultura familiar. Cooperativismo. Certificações.

Indicadores de Sustentabilidade.

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ABSTRACT

The objective of this study was to identify divergences in the sustainability assessment by

coffee players. The dissertation is divided into five chapters. Firstly, the theme sustainability is

presented, and then the theme is related to agriculture and cooperativism. The following is the

methodology used as well as the justification of its choice. It also details the objectives,

procedures and instrument for data collection and the research phases. To achieve the

objectives, a case study was conducted in a family farming cooperative, in which the main

stakeholders, their actions and the context in which the cooperative is inserted were identified.

From then on, data were collected through the application of an online survey (e-survey) to the

following audiences: senior management, consisting of the board of directors, the board of

directors, the superintendency and executives responsible for strategic planning; members,

represented by the advisory board; and multinational companies that have commercial and

institutional relations with the cooperative. The questionnaire was based on the five main

dimensions of sustainability established by Ignacy Sachs, considered a precursor to sustainable

development: economic, social, ecological / environmental, spatial / geographical and cultural.

The following chapter gives a description of the data obtained in the study. A statistical analysis

is performed, and by comparing the results of each group, it was possible to identify points of

convergence and divergence regarding the evaluations. There were disagreements between

Advisory Board Members and Companies in the economic and geographical dimensions; and

Senior Management of the Cooperative and Companies in the social and ecological dimensions.

The fifth chapter presents the conclusions of this paper, as well as the details of its general

implications, limitations and suggestions for further research.

Keywords: Sustainability. Family farming. Cooperativism. Certifications Sustainability

Indicators.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Mapa Estratégico da Cooperativa ...................................................................... 16

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 - População ............................................................................................................. 40

Gráfico 2 - Amostra ................................................................................................................ 44

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 - Visão, Missão e Valores ...................................................................................... 15

Quadro 2 - Desenvolvimento Sustentável - Componentes e objetivos de cada um dos

cinco pilares do Ecodesenvolvimento .................................................................................... 18

Quadro 3 - Resumo dos marcos, perspectiva histórica e cronológica ............................... 20

Quadro 4 – Atributos do produto ......................................................................................... 23

Quadro 5 – Constructos, perguntas, autores ....................................................................... 36

Quadro 6 – Caracterização da pesquisa ............................................................................... 42

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Alfa de Cronbach das dimensões ........................................................................ 45

Tabela 2 - Dimensão Econômica ........................................................................................... 46

Tabela 3 - Teste Bonferroni – “Alguma perda de recursos é inevitável, mas isso

pode ser compensado pelo aumento de capital” .................................................................. 47

Tabela 4 - Dimensão Social .................................................................................................... 48

Tabela 5 - Teste Bonferroni – “O modelo cooperativista como uma das principais

estratégias para o enfrentamento de uma economia por natureza excludente,

identificada como a globalização” ......................................................................................... 49

Tabela 6 - Dimensão Ecológica .............................................................................................. 50

Tabela 7 - Teste Bonferroni – “Adequação de produtos e processos às especificações

ecológicas” ............................................................................................................................... 51

Tabela 8 - Dimensão Geográfica ........................................................................................... 52

Tabela 9 - Teste Bonferroni – “Concentração da população em áreas

metropolitanas é uma ameaça” ............................................................................................. 52

Tabela 10 - Dimensão Cultural ............................................................................................. 53

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

3P People, Planet e Profit

ACI Aliança Cooperativa Internacional

CCI Câmara de Comércio Internacional

COOCAFÉ Cooperativa dos Cafeicultores da Região de Lajinha Ltda.

COOPCEL Cooperativa Cultural e Educacional da Região de Lajinha Ltda.

EF Ecological Footprint

ESI Environmental Sustainability Index

FDC Fundação Dom Cabral

FLO Fair Trade Labelling

FTSE4 Good Footsie for Good

FNQ Fundação Nacional da Qualidade

GDE Grupo de Desenvolvimento Estratégico

GRI Global Reporting Initiative

ICO-2 Índice Carbono Eficiente

IDH Índice de Desenvolvimento Humano

IGC Índice de Ações com Governança Corporativa Diferenciada

IGCT Índice de Ações com Governança Corporativa Diferenciada Trade

ITAG Índice de Ações com Tag Along Diferenciado

ONGs Organizações Não Governamentais

ONU Organização das Nações Unidas

PAEX Programa Parceiros para a Excelência

PNUD Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento Humano

PPL Pessoas, Planeta e Lucro

PRONAF Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar

SCOOB CREDICAF Cooperativa de Crédito do Leste de Minas Ltda.

TBL Triple Bottom Line

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 11

1.1 Considerações iniciais ...................................................................................................... 11

1.2 Problema da pesquisa ....................................................................................................... 13

1.3 Justificativa ....................................................................................................................... 14

1.4 Objetivo geral do trabalho ............................................................................................... 16

1.5 Objetivos específicos ......................................................................................................... 16

2 REFERENCIAL TEÓRICO .............................................................................................. 17

2.1 Considerações iniciais ...................................................................................................... 17

2.2 Sustentabilidade ................................................................................................................ 17

2.3 Agricultura familiar e cooperativismo ........................................................................... 23

2.4 Certificações e sustentabilidade ...................................................................................... 27

2.5 Indicadores ........................................................................................................................ 29

2.6 Considerações finais ......................................................................................................... 32

3 METODOLOGIA ................................................................................................................ 34

3.1 Caracterização da pesquisa ............................................................................................. 34

3.1.1 Abordagem ...................................................................................................................... 34

3.1.2 Objetivos .......................................................................................................................... 35

3.1.3 Procedimentos ................................................................................................................. 35

3.1.4 Instrumento de coleta de dados ...................................................................................... 36

3.1.5 Universo da Amostra ...................................................................................................... 39

3.1.6 Fases da pesquisa ........................................................................................................... 41

3.1.7 Síntese da metodologia da pesquisa ............................................................................... 41

4 ANÁLISE DE DADOS ........................................................................................................ 43

4.1 Análise descritiva .............................................................................................................. 43

4.2 Análise de consistência interna e de conteúdo ............................................................... 44

4.3 Análise não paramétrica .................................................................................................. 45

5 CONCLUSÃO ...................................................................................................................... 55

5.1 Considerações iniciais ...................................................................................................... 55

5.2 Principais resultados ........................................................................................................ 55

5.3 Contribuições para a teoria, contribuições práticas e limitações ................................. 58

REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 60

APÊNDICE A – Questionário aplicado ................................................................................ 69

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1 INTRODUÇÃO

Este capítulo contextualiza o tema e apresenta o problema da pesquisa, as justificativas

para a escolha do tema e os objetivos geral e específicos desta dissertação de forma concisa,

objetivando deixar clara cada uma dessas partes.

1.1 Considerações iniciais

O estudo foi motivado, inicialmente, pela relevância, cada vez maior, que o tema

sustentabilidade adquire, sobretudo no mundo corporativo. De acordo com Dyllick and

Hockerts (2002), a sustentabilidade tornou-se o mantra do século XXI por agregar promessas

de evolução social em um mundo mais justo e mais rico, dentro do qual o meio ambiente e as

conquistas culturais deveriam ser preservadas para as gerações futuras.

Embora o tema tenha ganhado força a partir do século XXI, alguns estudos já apontavam

uma tendência quanto às exigências junto às empresas. Drucker (1946) observou que, sob

qualquer circunstância, o ser humano está se movendo no sentido de exigir que nossas

instituições tomem responsabilidade além de seu desempenho próprio. Ressalta-se que o

conceito de Ecodesenvolvimento foi introduzido por Maurice Strong, Secretário da

Conferência de Estocolmo (Raynaut & Zanoni, 1993), e foi largamente difundido por Ingacy

Sachs, a partir de 1974 (Godard, 1991).

Mas o tema ganhou dimensões globais quando a Organização das Nações Unidas

(ONU) criou uma comissão para realizar um estudo dos problemas globais de ambiente e

desenvolvimento. Em 1987, sob a coordenação da primeira ministra da Noruega, Gro Harlem

Brundtland, essa comissão publicou o Relatório Brundtland "Our Commom Future" (Nosso

Futuro Comum), no qual então apareceu a definição: "sustentável é o desenvolvimento que

satisfaz as necessidades presentes, sem comprometer a capacidade das gerações futuras de

suprir suas próprias necessidades". Essa dinâmica empresarial passou a atingir, de fato, as

instituições nos anos 90, quando John Elkington, cofundador da organização não

governamental internacional SustainAbility, criou o conceito do tripé da sustentabilidade,

conhecido como triple bottom line: people, planet, profit – pessoas, planeta e lucro (Elkington,

1998).

Robinson (2000) observa que, com o advento do paradigma do desenvolvimento

sustentável no início dos anos 1980, as organizações começaram a aprimorar suas visões

puramente econômicas por meio de ajustes estratégicos que se relacionariam com as pressões

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ambientais e as transformações sociais cada vez mais constantes. Para Jamali (2006), os anos

1990 testemunharam uma nova modificação paradigmática inspirada pela apreciação social

sobre o fato de as empresas optarem por – em vez de realizarem uma simples gestão ambiental

técnica – assumir a responsabilidade de desenvolverem métodos de gestão comprovadamente

sustentáveis.

Cabe ressaltar ainda que o tema possui uma forte ligação com a agricultura.

Ruscheninsky (2004) reforça que a sustentabilidade é um termo que tem origem na agricultura,

sendo uma palavra dinâmica, que visa manter a capacidade de reposição de uma população,

isto é, manter sua biodiversidade sem perdas para o funcionamento do ecossistema – a longo

prazo – para possibilitar sua sobrevivência e continuidade como espécie. Para Altiere (1983),

sustentabilidade agrícola é a capacidade de um agroecossistema de manter a produção através

do tempo na presença de repetidas restrições ecológicas e pressões socioeconômicas.

Quando se trata do setor cooperativista, a sustentabilidade torna-se ainda mais relevante,

pois uma cooperativa é uma sociedade de pessoas. Assim sendo, este estudo terá como base

uma cooperativa de cafeicultores que trabalham em regime de agricultura familiar. Com o

dinamismo do mercado e a concorrência cada vez mais acirrada, é importante identificar a

interpretação do tema e suas possíveis contribuições para a atuação dessa cooperativa no

mercado, uma vez que, mesmo com a evolução dos conceitos ao longo dos anos, o tema

sustentabilidade ainda gera inúmeros debates. Alguns autores, como Montaño (2002) e Cabette

(2004), acham o desenvolvimento sustentável algo utópico, não acreditando nem mesmo no seu

significado. Já outros, como Cavalcanti (2003), Bruseke (2003), Leonardi (2003), Vecchiati

(2004) e Leff (2006) não visualizam esse novo modelo de desenvolvimento com as propostas

éticas e econômicas da sociedade atual, crendo que isso será difícil, não impossível.

De qualquer forma, o assunto tem entrado na pauta das empresas e vem evoluindo ao

longo dos anos. A pesquisa "Estágios da Sustentabilidade Corporativa no Brasil” (Spitzeck,

Qazi, Bachetti, & Borges, 2016), realizada pelo Núcleo de Sustentabilidade da Fundação Dom

Cabral, apresenta cinco estágios para o assunto: Elementar, Engajado, Inovador, Integrado e

Transformador. Para cada estágio, há diferentes comportamentos empresariais. Neste estudo,

após pesquisar 465 empresas, conclui-se:

O tema entrou na agenda dos Conselhos de Administração, representado pelo aumento de 4% em

2012 para 63% em 2016, e são lideradas pelos CEO´s, tendo o engajamento evoluído de 51% em

2014 para 78% em 2016. Em comparação às pesquisas anteriores, o estágio da liderança melhorou de

engajado a inovador. Parte dessa mudança vem de um novo entendimento, para 85% dos respondentes, de

que a sustentabilidade traz uma contribuição concreta para o resultado líquido da empresa.

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Assim como as empresas passam por transformações, o consumidor também vem

mudando. A população mundial cresceu e com ela uma ética de consumo, além de as

transformações ambientais induzidas pelo homem ocorrerem numa escala maior e mais severa

de ordem material, espiritual ou estética jamais vista na história da humanidade (Harvey, 2004).

Essa preocupação para além dos aspectos econômicos sempre fez parte do contexto

cooperativista, como afirma Rios (2006): o mais importante do cooperativismo não está

atrelado a ganhos econômicos e sim aos ganhos sociais.

Para fazer o link entre a sustentabilidade, o cooperativismo e a agricultura familiar, este

estudo terá como base a Cooperativa dos Cafeicultores da Região de Lajinha Ltda. (Coocafé),

fundada em 1979, composta hoje por cerca de 9.500 cooperados, dos quais 95% trabalham em

regime de agricultura familiar. A cooperativa atua em 60 municípios, das Matas de Minas e

Montanhas do Espírito Santo, que dependem quase que exclusivamente da cultura do café. A

preocupação com a sustentabilidade sempre esteve presente na história da cooperativa, mesmo

que sem uma metodologia e planejamento a longo prazo. Por exemplo, a Coocafé criou, em

1988, a Cooperativa de Crédito do Leste de Minas Ltda. (Sicoob Credicaf), contribuindo

diretamente com a assistência financeira aos seus cooperados. Também preocupada com o

futuro e com a precoce evasão das crianças que procuravam um estudo de qualidade em cidades

distantes, a Coocafé fundou também, em 1998, a Cooperativa Cultural e Educacional da Região

de Lajinha Ltda. (Coopcel). Ao longo dos anos, a cooperativa se desenvolveu

consideravelmente, saindo de R$ 60 milhões de faturamento, em 2005, para R$ 530 milhões

em 2018, aumentando de forma significante número de colaboradores, geração de renda e de

partes interessadas, com uma filosofia pautada no relacionamento com os cooperados e com a

comunidade, Ainda hoje, a Coocafé, através de ações próprias e de parcerias com diversas

instituições, realiza dezenas de projetos e ações de sustentabilidade, impactando milhares de

pessoas de centenas de comunidades anualmente.

1.2 Problema da pesquisa

Esse debate acerca da sustentabilidade não gerou consenso no ambiente corporativo, até

pela amplitude do tema. Redclift (1987) e Goodman e Redcliff (1991) observam que o conceito

de agricultura sustentável abrange um amplo leque de visões, refletindo o conflito de interesses

existentes na sociedade. Congrega desde uma maioria, que vê a possibilidade de uma simples

adequação do atual sistema de produção, até aqueles que veem a possibilidade de promover

mudanças estruturais – incluindo os aspectos sociais, econômicos e ambientais – em todo o

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sistema. De acordo com van Marrewijk and Werre (2003), cada organização deveria escolher

sua específica ambição e abordagem com respeito à sua sustentabilidade, de maneira que os

objetivos e os intentos organizacionais sejam unidos aos processos de planejamento estratégico,

por meio de decisões que apresentem respostas apropriadas para as circunstâncias que

circundam o contexto sobre o qual a gestão organizacional acontece. Olde et al. ((2016)

destacam a falta de consenso entre os especialistas sobre a melhor forma de medir a

sustentabilidade agrícola.

Diante disso, a questão que esta pesquisa pretende identificar é: Há divergências na

avaliação da sustentabilidade pelos players que atuam na cafeicultura?

1.3 Justificativa

Em decorrência dessa nova dinâmica, o ambiente corporativo tem sido impactado nos

mais diversos níveis e setores. Para Rockström, Sachs, Öhman and Schmidt-Traub (2013), o

desafio político é criar uma nova estrutura global – tanto na forma de metas globais como regras

– para evitar uma disputa de todos contra todos. Isto implicará não apenas a formulação de

metas de desenvolvimento sustentável, mas também regras de ação nos tratados e acordos

ambientais, comerciais e tecnológicos. E, como observado, parte dessas regras envolverá a nova

responsabilidade das empresas multinacionais, as principais impulsionadoras da economia

mundial hoje.

Dessa forma, a mudança acaba interferindo também na estratégia da empresa, fazendo

com que conceitos como ética e responsabilidade social sejam fundamentais até mesmo para a

própria viabilidade empresarial.

(...) A crescente atenção à ética e à responsabilidade social corporativa, bem como a ideia de que as

organizações do terceiro milênio precisam ser socialmente responsáveis se quiserem sobreviver no meio

à competição cada vez mais acirrada, fazem parte desses processos profundos de mudança. (...) A

preocupação com a responsabilidade social tornou-se um diferencial fundamental para tornar as

organizações mais produtivas e garantir o respeito do público e, enfim, sua própria viabilidade (Ashley,

2005, p.7).

No momento em que se correlaciona o tema sustentabilidade com uma cooperativa de

cafeicultores localizada em uma região montanhosa, formada por agricultores familiares, torna-

se relevante compreender como as partes interessadas interpretam a sustentabilidade. Dessa

forma, é de suma importância que o estudo analise tanto o lado empresarial, dos executivos e

diretores, quanto o ponto de vista de cooperados e representantes de empresas multinacionais,

que adquirem os cafés produzidos pelos cooperados através da cooperativa.

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O desenvolvimento sustentável está na essência da cooperativa, que tem, inclusive, em

sua missão “oferecer soluções integradas aos seus cooperados”. Nesse contexto, a cooperativa

oferece o que seu cooperado precisa em todas as fases, desde orientação técnica para o manejo

na lavoura, passando pelos insumos e armazenamento do café, às opções de comercialização

da produção. Esse posicionamento estratégico torna-se uma vantagem sustentável da

cooperativa, que, de certa forma, acaba dificultando para a concorrência.

É possível perceber a relação da sustentabilidade com a ideologia da cooperativa,

traduzida há mais de 10 anos através da declaração de Visão, Missão e Valores (Quadro 1).

Propostas como qualidade de vida, preocupações com o meio ambiente e com a família,

desenvolvimento da comunidade já estavam expressas nessa declaração.

Quadro 1 - Visão, Missão e Valores

Visão Coocafé • Ser reconhecida como uma cooperativa inovadora, comprometida

com o desenvolvimento e líder regional na oferta de bens e serviços

de excelência.

Missão Coocafé

• Oferecer ao associado, dentro dos princípios cooperativistas,

soluções integradas aos seus negócios, por meio de bens e serviços

de excelência, visando à melhoria da qualidade de vida da sua

família, da comunidade e do meio ambiente.

Valores Coocafé • Respeito, ética, transparência e comprometimento.

Fonte: Elaborado pelo autor.

Desde 2015, a cooperativa passou a fazer parte do programa Parceiros para a Excelência

(PAEX) da Fundação Dom Cabral, com foco no desenvolvimento de médias empresas. Com

este trabalho, houve uma revisitação da ideologia e elaboração de um Mapa Estratégico como

orientadores para a cooperativa. Como uma das etapas, estabeleceu-se como Negócio e

Proposta de Valor da Coocafé: “Garantir sustentabilidade à cooperativa, ao cooperado e à

comunidade”.

No Mapa Estratégico (Figura 1), elaborado no segundo semestre de 2015 e, desde então,

revisitado anualmente, percebe-se que a sustentabilidade está em destaque tanto no Negócio

quanto na Proposta de Valor da Coocafé: “Garantir sustentabilidade à cooperativa, do

cooperado e à comunidade”. Durante a elaboração da primeira versão do Mapa, foi definido

ainda pelo Grupo de Desenvolvimento Estratégico (GDE) o acréscimo da perspectiva

socioambiental, que tem como objetivo estratégico avançar na Dimensão Sustentabilidade.

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Figura 1 – Mapa Estratégico da Cooperativa

Fonte: Elaborada pelo autor.

1.4 Objetivo geral do trabalho

O objetivo principal deste estudo é identificar se há divergências na avaliação da

sustentabilidade pelos players que atuam na cafeicultura.

1.5 Objetivos específicos

São objetivos específicos:

• avaliar a percepção da sustentabilidade em uma amostra composta pela alta gestão de

uma cooperativa, cooperados e representantes de multinacionais do setor cafeeiro;

• identificar a relevância dada pelos públicos às dimensões da sustentabilidade;

• comparar pontos de convergência e divergência pelos públicos pesquisados quanto ao

tema;

• direcionar possíveis ações para cada público pesquisado.

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2 REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 Considerações iniciais

Este referencial teórico apresenta o tema sustentabilidade e como este vem se

desenvolvendo sob diversos aspectos. Também é possível compreender como o assunto se

correlaciona com a cafeicultura e com o cooperativismo. Destacam-se ainda os benefícios

gerados pela adoção de estratégias relacionadas à temática e os principais desafios que dizem

respeito à criação e à compreensão de indicadores de sustentabilidade.

Para facilitar a leitura, o referencial está organizado da seguinte maneira: a primeira

parte trata do conceito sustentabilidade; a segunda relaciona o tema ao assunto agricultura e

cooperativismo; na sequência, o enfoque será dados às certificações e benefícios; e, por

derradeiro, os indicadores de sustentabilidade fecham o referencial.

2.2 Sustentabilidade

Kuhlman and Farrington (2010) destacam que a palavra Nachhaltigkeit (termo alemão

para sustentabilidade) foi usada pela primeira vez com esse significado em 1713. Também é

lembrado que a escassez de recursos é uma preocupação central para estudos com prognósticos

mais pessimistas. Um exemplo famoso é o trabalho de Thomas Malthus, que publicou sua teoria

sobre a fome em massa iminente (devido à incapacidade de terras agrícolas disponíveis para

alimentar uma população em expansão), em 1798. No entanto, o termo sustentabilidade tornou-

se popular a partir do Relatório Brundtland, de 1987.

A sustentabilidade, de acordo com Sachs (1990), constitui-se um conceito dinâmico que

leva em conta as necessidades crescentes das populações num contexto internacional em

constante expansão. Para o autor, a sustentabilidade tem como base cinco dimensões principais,

que são a sustentabilidade social, a econômica, a ecológica, a geográfica e a cultural (Quadro

2). A sustentabilidade social está vinculada a uma melhor distribuição de renda com redução

das diferenças sociais. Já a sustentabilidade econômica está vinculada ao fluxo constante de

inversões públicas e privadas, além da destinação e administração correta dos recursos naturais.

A sustentabilidade ecológica está vinculada ao uso efetivo dos recursos existentes nos diversos

ecossistemas e, como um dos resultados, mínima deterioração ambiental. Já a sustentabilidade

geográfica está ligada a uma espacialização rural-urbana mais equilibrada. A sustentabilidade

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cultural, por sua vez, procura a realização de mudanças em harmonia com a continuidade

cultural vigente.

Cada dimensão da sustentabilidade evidenciada por Sachs (1990) tem seus componentes

principais e seus objetivos, como pode ser observado no Quadro 2.

Quadro 2 - Desenvolvimento Sustentável - Componentes e objetivos de cada um dos cinco pilares do

Ecodesenvolvimento

DIMENSÃO COMPONENTES PRINCIPAIS OBJETIVOS

SUSTENTABILIDADE

SOCIAL

• Criação de postos de trabalho que

permitam renda individual adequada a

melhor condição de vida e a melhor

qualificação profissional

• Produção de bens dirigida

prioritariamente às necessidades básicas

sociais

Redução das

desigualdades sociais

SUSTENTABILIDADE

ECONÔMICA

• Fluxo permanente de investimentos

públicos e privados (estes últimos com

especial destaque para o

cooperativismo)

• Manejo eficiente dos recursos

• Absorção pela empresa dos custos

ambientais

• Endogeneização: contar com suas

próprias forças

Aumento da

produção e da

riqueza social, sem

dependência externa

SUSTENTABILIDADE

ECOLÓGICA

• Produzir respeitando os ciclos

ecológicos dos ecossistemas

• Prudência no uso de recursos não

renováveis

• Prioridade à produção de biomassa e à

indutrialização de insumos naturais

renováveis

• Redução da intensidade energética e

conservação de energia

• Tecnologias e processos produtivos de

baixo índice de resíduos

• Cuidados ambientais

Qualidade do meio

ambiente e

preservação das

fontes de recursos

energétivos e

naturais para

próximas gerações

SUSTENTABILIDADE

ESPECIAL OU

GEOGRÁFICA

• Produzir respeitando os ciclos

ecológicos dos ecossistemas

• Descentralização espacial (de atividade,

de população)

• Desconcentração - democratização local

e regional do poder

• Relação cidade-campo equilibrada

Evitar excesso de

aglomerações

SUSTENTABILIDADE

CULTURAL

• Soluções adaptadas a cada ecossistema

• Respeito à formação comunitária

Evitar conflitos

culturais com

potencial regressivo Fonte: Adaptado de Montibeller Filho (1993).

Page 23: A SUSTENTABILIDADE NA CAFEICULTURA: um estudo sobre a ...

19

Em 2002, esse mesmo autor acrescentou mais quatro dimensões de sustentabilidade:

ambiental, territorial (em lugar de geográfica), política nacional e política internacional. A

sustentabilidade ambiental permitiria que ecossistemas naturais realizassem autodepuração. Já

a territorial visa à eliminação de disparidades inter-regionais, à destinação igualitária de

investimentos públicos e à conservação da biodiversidade pelo ecodesenvolvimento. A

sustentabilidade no âmbito das políticas nacionais, por sua vez, passaria por um nível razoável

de coesão social, democracia e capacidade institucional do Estado em implantar um projeto

nacional. Em relação às políticas internacionais, a sustentabilidade passaria pela garantia de paz

assegurada pelo fortalecimento da ONU, controle do sistema financeiro internacional,

verdadeira cooperação científica e diminuição das disparidades sociais entre os hemisférios

norte-sul (Sachs, 2002).

Para a Global Footprint Network (2006), sustentabilidade é uma ideia simples, baseada na

quantificação das taxas de produção e consumo de recursos naturais. Em um mundo sustentável,

a pressão da sociedade sobre a natureza deve estar dentro dos limites desta em responder de

modo equilibrado a essa pressão. Assim, quando as demandas da humanidade por recursos

ecológicos excedem a capacidade da natureza em fornecê-los, surge o denominado excesso

ecológico.

Atualmente, um dos conceitos mais praticados e disseminados diz respeito ao Triple

Bottom Line. De acordo com Oliveira, Medeiros, Terra e Quelhas (2012), o conceito do Triple

Bottom Line surgiu a partir do estudo realizado por Elkington (1998). A sigla em inglês é

conhecida por 3 P (People, Planet e Profit), em português seria PPL (Pessoas, Planeta e Lucro).

Em análise separadamente de cada conceito, tem-se: Econômico, com o propósito de criação

de empreendimentos viáveis, atraentes para os investidores; Ambiental, com o objetivo de

analisar a interação dos processos com o meio ambiente sem prejudicá-lo, e Social, que se

preocupa com a implantação de ações justas para colaboradores, parceiros e sociedade em geral.

Alguns desdobramentos, além de interpretações, do tema são divulgados

constantemente, como o que separa a sustentabilidade fraca da sustentabilidade forte. Kuhlman

and Farrington (2010) destacam a visão polêmica e as provocações do cientista político Robert

Gibson, no que diz respeito às distinções entre desenvolvimento econômico e social, uma vez

que “ganhos materiais não são medidas suficientes ou preservadores do bem-estar humano”.

Nesse contexto, os autores destacam que a questão é: “quanto de nossos recursos naturais

podemos sacrificar? Mais precisamente, devemos colocar duas questões: que recursos devemos

preservar a todo custo, e até que ponto? E, para aqueles que podem ser substituídos pelo capital,

Page 24: A SUSTENTABILIDADE NA CAFEICULTURA: um estudo sobre a ...

20

quanto capital deve ser criado para compensar a perda de quanto em termos de recursos

naturais?”

A sustentabilidade, então, é uma questão de quais recursos – naturais, qualidade do meio

ambiente, e capital – nós legamos às gerações vindouras. Como vimos, alguma perda de

recursos naturais é inevitável, mas isso pode ser compensado pelo aumento de capital, pelo

menos na opinião de Solow (1997). Dessa forma, entende-se que, para cada questão ambiental,

pode haver argumentos sobre a substituibilidade, caso seja possível a substituição, por exemplo,

um combustível fóssil trata-se de uma fraca sustentabilidade. Caso não seja possível substituir

como uma espécie em extinção, trata-se de uma forte sustentabilidade. Os autores chamam

atenção, na própria conclusão, sobre a dificuldade de se “medir” a sustentabilidade e que,

embora exista um grande corpo teórico sobre o tema, ainda há a necessidade de se esclarecer e

alinhar conceitos. No Quadro 3, encontra-se o resumo dos marcos, perspectiva histórica e

cronológica.

Apesar dos desafios destacados quanto à medição e ao alinhamento de conceitos, a partir

de 1972, foram inúmeros os acontecimentos importantes relacionados à sustentabilidade, o que

contribuiu para uma maior popularidade do tema. Os principais marcos podem ser observados

cronologicamente no Quadro 3.

Quadro 3 - Resumo dos marcos, perspectiva histórica e cronológica

ANO PERSPECTIVAS

1972

Publicação do Relatório do Clube de Roma (The Limits to Growth) sobre riscos globais

dos efeitos da poluição e do esgotamento das fontes de recursos naturais. Conferência

das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento e Meio Ambiente Humano, em

Estocolmo, Suécia, com a participação de 113 países, O conceito de

Ecodesenvolvimento foi apresentado por Ignacy Sachs, considerado precursor do

Desenvolvimento Sustentável.

1975 Elaboração do Segundo Plano Nacional de Desenvolvimento (PND-1975/79), que

definiu prioridades para o controle da poluição industrial.

1980 Em 1980, surge a noção de Ecologia profunda, que coloca o homem como o

componente de sistema ambiental complexo, holístico e unificado.

1983

A ONU criou a Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, que

desenvolveu o paradigma de desenvolvimento sustentável, cujo relatório (Our Common

Future) propunha limitação do crescimento populacional, garantia de alimentação,

preservação da biodiversidade e ecossistemas, diminuição do consumo de energia e

desenvolvimento de tecnologias de fontes energéticas renováveis, aumento da

produção industrial à base de tecnologias adaptadas ecologicamente, controle da

urbanização e integração campo e cidades menores e a satisfação das necessidades

básicas.

(continua)

Page 25: A SUSTENTABILIDADE NA CAFEICULTURA: um estudo sobre a ...

21

(conclusão)

ANO PERSPECTIVAS

1991

A Câmara de Comércio Internacional (CCI) aprovou a "Diretrizes Ambientais para a

Indústria Mundial", definindo 16 compromissos de gestão ambiental a serem

assumidos pelas empresas, conferindo à indústria responsabilidades econômicas e

sociais nas ações que interferem com o meio ambiente. Essas diretrizes foram acatadas

no Brasil pelo Comitê Nacional da Câmara de Comércio Internacional, tendo-se criado

a Fundação Brasileira para o Desenvolvimento Sustentável.

1992

Realizou-se no Rio de janeiro a ECO-92 (a Conferência das Nações Unidas para o

Meio Ambiente e o Desenvolvimento), na qual foram elaboradas a Carta da Terra

(Declaração do Rio) e a Agenda 21, que reflete o consenso global e o compromisso

político objetivando o desenvolvimento e o compromisso ambiental.

1997

Discutido e negociado em Quioto, no Japão, o Protocolo propõe um calendário pelo

qual os países-membros teriam obrigação de reduzir a emissão de gases do efeito

estufa. Em novembro de 2009, 187 países haviam aderido ao Protocolo.

1999

John Elkington concebeu o Triple Bottom Line (TBL) para ajudar empresas a

entrelaçarem os componentes do desenvolvimento sustentável: prosperidade

econômica, justiça social e proteção ao meio ambiente em suas operações.

2002 Aconteceu, em Johanesburgo, a conferência mundial denominada Rio + dez, onde se

instituiu a iniciativa “Business Action For Sustainable Development”.

2006

O documentário “Uma verdade inconveniente” de Davis Guggenheim (sobre a

militância política de Al Gore a quem rendeu o Nobel da Paz em 2007 e dois Oscar)

cuja mensagem principal (become carbon neutral) se coloca como um novo paradigma

planetário.

2009 Realiza-se em Copenhagen a 15ª Conferência do Clima (COP 15) das Nações Unidas,

evento que reuniu 25 Chefes de Estado.

Fonte: Maria de Lourdes Bacha, Jorgina Santos e Angela Schaun. Adaptado de Zozzoli (2008), Oliveira

Filho (2004), Paula (2008) e Kato (2008).

Giovannucci and Ponte (2005) apresentam algo mais prático, examinando a nova

configuração do mercado através do estudo de caso de iniciativas de sustentabilidade no setor

cafeeiro. Há uma análise sobre normas e padrões governamentais e privados. Segundo os

autores, “normas voluntárias podem ser introduzidas como resposta aos pedidos dos

consumidores, ou como resultado de iniciativas lideradas por Organizações Não

Governamentais (ONGs) ou associações industriais”. Os autores analisam questões

relacionadas aos padrões de sustentabilidade na indústria do café, buscando identificar:

"Eficácia na comunicação e na criação de novos mercados; se incorporam elementos de

interesses coletivos e privados; se é realmente entregue conteúdo sustentável aos seus

beneficiários; e qual é o papel de política pública para lidar com suas deficiências”.

Page 26: A SUSTENTABILIDADE NA CAFEICULTURA: um estudo sobre a ...

22

Iniciativas voltadas para certificações também são analisadas pelos autores. Por meio

delas, percebe-se que o consumidor final médio nem sempre é impactado por comunicação

relacionada à sustentabilidade, tendo em vista que decide pela compra em supermercados em

alguns segundos e não está disposto a trocar uma marca familiar e pagar mais caro por outra

apenas devido ao "apelo sustentável”. Outra observação:

Iniciativas cafeeiras sustentáveis têm sistemas limitados de monitoramento e avaliação. Muitas vezes,

eles não conseguem documentar de forma consistente e precisa os níveis e a distribuição de benefícios

que se acumulam aos vários atores da cadeia de valor. As mensagens para os consumidores sobre as suas

realizações não são claras. (Giovannucci & Ponte, 2005).

Observa-se, ainda, que, "às vezes, não é esclarecido exatamente quem recebe os

benefícios mais concretos – como remuneração ou prêmios de preço. Esses benefícios podem

ser perdidos ou diluídos ao longo da cadeia de valor, ou entre a administração e os membros de

uma cooperativa” (Giovannucci & Ponte, 2005). Dessa forma, segundo os autores, entende-se

que "os benefícios são subutilizados para fomentar relacionamentos com compradores e para

estimular potenciais parcerias comerciais”. Cabe destacar que, mesmo diante dessas

dificuldades, existe um número crescente de empresas do café adotando padrões

de sustentabilidade.

Giovannucci and Ponte (2005) concluem que:

para que as normas funcionem para os produtores de países em desenvolvimento, quatro fatores devem

ser assegurados: (1) transparência e clareza dos padrões e seus requisitos; (2) participação efetiva de

produtores de países em desenvolvimento em decisões sobre os procedimentos e monitoramento dos

padrões; (3) acesso razoável; (4) compensação pelos esforços exigidos dos produtores para atender e

monitorar padrões.

No que diz respeito ao direcionamento de comunicação para a sustentabilidade, em uma

análise sobre a Cadeia de Valor, observa-se a importância de se focar nos atributos do produto

(Quadro 4), que podem ser classificados dependendo da facilidade com que podem ser medidos

(Jensen, 2002; Reardon, Codron, Busch, & Harris, 2001).

Atributos de pesquisa são aqueles que podem ser verificados na hora da transação (a cor

de um grão de café). Atributos de experiência podem ser avaliados somente após a transação

ocorrer (o gosto do café). Atributos de credibilidade não podem ser objetivamente verificados

através da análise das características físicas do produto e são baseados em confiança.

Page 27: A SUSTENTABILIDADE NA CAFEICULTURA: um estudo sobre a ...

23

Quadro 4 – Atributos do produto

ATRIBUTOS VERIFICAÇÃO

Atributos de pesquisa Podem ser verificados na hora da transação (a cor de um grão

de café)

Atributos de experiência Podem ser avaliados somente após a transação ocorreur (o

gosto do café)

Atributos de credibilidade

Não podem ser objetivamente verificados através da análise

das características físicas do produto e são baseados em

confiança

Fonte: Adaptado de Jensen (2002) e Reardon et al. (2001).

Esses atributos podem pertencer ao produto em si (aspecto do café, sabor, limpeza,

ausência de manchas) ou aos métodos de produção e processamento, que incluem aspectos

relacionados à autenticidade de origem (denominação geográfica), segurança (resíduos de

pesticida, níveis de toxinas) e condições ambientais e socioeconômicas (orgânico, comércio

justo, cafés cultivados).

Quando se trata de países em desenvolvimento, o café tem um peso muito grande.

Stefano Ponte (2004) destaca esse aspecto:

A análise da cadeia de comercialização do café é particularmente importante na compreensão da

economia por várias razões. Primeiro, mais de 90% da produção de café ocorre em países em

desenvolvimento, enquanto o consumo ocorre principalmente nas economias industrializadas. Esta

produção-padrão de consumo fornece insights sobre as relações Norte-Sul. Em segundo lugar, para a

maioria do mundo pós-Segunda Guerra Mundial, o café tem sido a segunda commodity mais valiosa,

depois do petróleo. Terceiro, tentativas de controlar o comércio internacional de café têm sido realizadas

desde o início do século 20, fazendo do café uma das primeiras commodities “regulamentadas”. Em

quarto lugar, um número de países em desenvolvimento, mesmo aqueles com uma baixa participação no

mercado global de exportação, dependem do café para uma alta proporção de suas exportações. O café é

uma fonte de sustento para milhões de pequenos agricultores e trabalhadores rurais em todo o mundo.

Quinto, os governos dos países produtores historicamente trataram o café como um bem “estratégico”.

2.3 Agricultura familiar e cooperativismo

A sustentabilidade está diretamente relacionada à agricultura, tendo inclusive autores

que defendem que o termo tem origem nesse segmento (agricultura). Há também uma forte

ligação do tema ao cooperativismo pela doutrina e princípios desse modelo de negócio. Pelo

fato de o estudo ser feito em uma cooperativa da agricultura familiar, torna-se fundamental

destacar parte do referencial para esta pesquisa.

Nos anos de 1960, a modernização agrícola afetou bastante a exploração familiar que,

em grande parte, foi excluída de tal processo. O Estado direcionou suas políticas públicas,

Page 28: A SUSTENTABILIDADE NA CAFEICULTURA: um estudo sobre a ...

24

representadas, sobretudo, pelas políticas de crédito, pesquisa agropecuária e extensão rural para

a grande produção em favor dos agricultores patronais, fator que foi fundamental na

consolidação desse modelo modernizante. A agricultura familiar, por sua vez, enfrentou e ainda

enfrenta dificuldades de acesso às tecnologias e ao capital, diminuindo sua capacidade de

influenciar as decisões públicas, marginalizando-se no aspecto socioeconômico (Guanziroli,

2001). A denominação agricultura familiar é recente na literatura e nos trabalhos científicos

brasileiros. Já foi designada “agricultura camponesa”, “pequena produção”, entre outros

termos, adquirindo força e notoriedade nos anos 1990 pela ação de movimentos sociais

organizados e a partir da criação do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura

Familiar (PRONAF), em 1996, quando passou a ser reconhecida de fato e de direito pelo Estado

(Schneider, 2003). Segundo Oliveira (2007), a agricultura familiar é uma das principais

responsáveis pela manutenção do agricultor no campo e, por conseguinte, da diminuição do

êxodo rural, justamente por sua maior capacidade gerencial, pela sua flexibilidade e, sobretudo,

por sua maior aptidão para a diversificação das culturas. O conceito de agricultura sustentável

vai ainda além, como identificam Singh and Deewan (2019). Para os autores, há muitos

benefícios da agricultura sustentável e, em geral, eles podem ser divididos em benefícios à

saúde humana e benefícios ambientais. Horrigan, Lawrence and Walker (2002) definem que os

sistemas agrícolas sustentáveis baseiam-se em fazendas relativamente pequenas e lucrativas.

Nesse contexto, tem havido uma necessidade cada vez maior de utilização de máquinas,

seja nas grandes ou nas pequenas propriedades. Embora a mecanização na agricultura seja uma

realidade, nem sempre tal fenômeno foi bem absorvido pelo produtor rural. Paiva (1968)

chamava atenção para decisões do produtor de não absorver tecnologias em virtude de o setor

não agrícola apresentar dinamismo insuficiente para gerar demanda ou oferecer fatores a preços

menores, o que ficou conhecido como mecanismo de "autocontrole", que geraria uma dualidade

tecnológica. O mesmo autor afirma ainda que apenas seriam protagonistas de uma agenda de

modernização da agricultura brasileira aqueles que pudessem avaliar as vantagens da adoção

do progresso técnico diante de preços comparativos dos fatores de produção, influenciados pelo

crescimento do setor não agrícola. Alves (1981) enfatiza a pobreza e a desocupação na

agricultura como originadas da ruptura de um suposto pacto existente entre empregador e

empregado. Além disso, chega a afirmar que a mecanização da agricultura teria sido

consequência e não causa do processo migratório rural-urbano.

O modelo de negócio cooperativo se torna ainda mais relevante diante desse cenário. O

cooperativismo é um modelo de economia solidária, que procura maximizar o predomínio do

fator trabalho sobre o fator capital, que pode ser composto por associados, produtores

Page 29: A SUSTENTABILIDADE NA CAFEICULTURA: um estudo sobre a ...

25

autônomos ou produtores que formam unidades produtivas comuns (Oliveira 2007).

Cooperativismo vem de cooperativa, que, por sua vez, originou-se do termo cooperação, que

“etimologicamente, vem do verbo latino cooperari, de cum e operari, produzir junto, produzir

em conjunto” (Cavalcanti, 2006, p. 11). Cavalcanti (2006) esclarece, ainda, que o

cooperativismo é uma doutrina econômica estruturada para a geração de riquezas por meio do

livre associativismo entre pessoas que, espontaneamente, concordam em criar uma cooperativa,

unidas pelos mesmos ideais e tendo os mesmos objetivos. Segundo Pires e Silva (2004), a

cooperação é uma das principais estratégias para o enfrentamento de uma economia por

natureza excludente, identificada como a globalização. Daí a necessidade de criação de

associações diversas, especialmente cooperativas e empresas da economia solidária, como um

canal importante de organização do produtor e da produção, geração de trabalho e renda,

agregação de valor e comercialização da produção.

Stahl e Schneider (2013) identificam como e por que surgiram as cooperativas.

Segundo eles:

As organizações cooperativas foram criadas por representantes da classe operária no início da deflagração

da revolução industrial capitalista. Então, a classe trabalhadora estava submetida à ganância incontrolável

de empreendedores industriais da época, que os mantinham em 12 a 14 horas contínuas de trabalho diário,

com salários de fome, em condições precárias de saúde e de segurança laboral, sem legislação trabalhista,

previdenciária e nem sindical que os protegesse.

Os autores observam ainda que, nesse contexto, surgem os operários de Rochdale, que

criam uma cooperativa de consumo autônoma, solidária, integralmente sob o seu controle, a ser

gerida democraticamente na base de “uma pessoa, um voto”, algo então inusitado no cenário

econômico, social e político europeu, tanto no processo produtivo quanto na distribuição dos

excedentes gerados.

Com o passar do anos, as cooperativas passam a ocupar um papel cada vez mais

importante no que diz respeito a desenvolvimento e inclusão. Stahl e Schneider (2013) também

fazem uma correlação entre as cooperativas e o que se propõe como desenvolvimento pela

ONU. Ignacy Sachs (2007), em consonância com os postulados éticos propostos pelo Programa

das Nações Unidas para o Desenvolvimento Humano (PNUD) em seus relatórios sobre o tema,

cita três atributos básicos: desenvolvimento das pessoas, aumentando suas oportunidades,

capacidades, potencialidades e direito de escolha; desenvolvimento para as pessoas, garantindo

que seus resultados sejam apropriados equitativamente pela população; e desenvolvimento

pelas pessoas, empoderando-as, isto é, alargando a parcela de poder dos indivíduos e

Page 30: A SUSTENTABILIDADE NA CAFEICULTURA: um estudo sobre a ...

26

comunidades humanas durante sua participação ativa na definição do processo de

desenvolvimento do qual são sujeitos e beneficiários.

Um grande desafio para as cooperativas diz respeito ao aspecto governança:

Os agricultores são donos, através do investimento na cooperativa e, assim, tornando-se membros e daí

os donos dos ativos da cooperativa. Com isso, os agricultores também ganham o direito único participar

da governança da cooperativa elegendo diretores, bem como ganhando direitos. (Craig, 1993; Hansmann,

1996; Hogeland, 2006; Nourse, 1922).

A cadeia de suprimentos provavelmente enfrentará membros com valores cada vez mais

individualistas da mudança de valor social descrita (Pettersson & Esmer, 2008) e (World Values

Inquérito, WVS, 2014). Hakelius and Hansson (2016) observam que a literatura sobre

governança de cooperativas é extensa (Barbaud-Didier, Henninger, & El Akremi, 2012;

Bijman, Hendrikse, & van Oijen, 2013; Bijman, Hanish, & van der Sangen, 2014; Chadd &

Iliopoulos, 2013, Liang & Hendrikse, 2013; Osterberg & Nilsson, 2009). Inclui aspectos como

ação coletiva, processos decisórios cooperativos, interesses conflitantes dos membros, interesse

dos membros em participar no governo da cooperativa, características dos diretores, papéis e

responsabilidades, confiança, compromisso e satisfação entre os membros.

Outro aspecto relevante nas cooperativas é o grande número e a importância das partes

interessadas. Essa teoria entende as empresas como parte de um sistema social mais amplo,

quais atividades comerciais afetam e são afetadas por outros grupos de stakeholders dentro da

sociedade (Deegan 2002; Freeman 1983). Adicionalmente, Freeman (1983) classificou o

desenvolvimento do conceito de stakeholder em um planejamento corporativo e política de

negócios modelo e um modelo de sustentabilidade da gestão de stakeholders. Nesse sentido, o

reconhecimento da parte interessada requer não apenas a capacidade de atender a suas

necessidades, mas também a uma política de informação que permita visualizar a suposição de

compromissos (Archel 2003).

A literatura de sustentabilidade sobre cooperativas desenvolveu-se significativamente

nos últimos anos e lida com uma ampla gama de tópicos. Portanto, existe um “discurso

cooperativo” voltado para a sustentabilidade, com características especiais ligadas a fatores

históricos, sociais, econômicos e fatos políticos (Carrasco, 2007; Vargas & Vaca, 2005).

A sustentabilidade representa parte integrante dos valores cooperativos (Belhouari,

Buendía, Lapointe, & Tremblay, 2005). Desde a criação da primeira cooperativa de consumo

em Rochdale, na Inglaterra, em 1844, houve a necessidade da criação de normas e/ou regras

que garantissem o funcionamento desse novo tipo de associação. Essas normas, conhecidas

Page 31: A SUSTENTABILIDADE NA CAFEICULTURA: um estudo sobre a ...

27

como valores cooperativos, sofreram algumas alterações ao longo dos anos. Esses princípios

cooperativos sustentados pela Aliança Cooperativa Internacional (ACI) derivam das ideias

formuladas e instituídas como os Princípios de Rochdale (Benato, 1994). As ideias adotadas

em Rochdale estavam pautadas numa busca social, na qual o homem é o elemento fundamental

da cooperação, prezando pela igualdade, democracia, solidariedade e liberdade (Benato, 1994).

Esses sete princípios sofreram algumas alterações desde 1844, em Rochdale, até 1995, em

Manchester. Os princípios conhecidos como universais do cooperativismo eram, de acordo com

Cançado, Silva Júnior e Pereira (2007, p. 57):

1. Adesão voluntária e livre.

2. Gestão democrática.

3. Participação econômica dos membros.

4. Autonomia e independência.

5. Educação e informação.

6. Intercooperação.

7. Interesse pela comunidade.

2.4 Certificações e sustentabilidade

Quando se trata de sustentabilidade na cafeicultura, um fenômeno diretamente

relacionado são as certificações. O número de certificações na cafeicultura vem evoluindo

consideravelmente, e essas certificações sempre possuem um apelo voltado para a

sustentabilidade.

Segundo Potts, Voora, Lynch, and Mammadova (2014), as vendas de cafés certificados

têm crescido muito desde 2000, em um crescente mercado para cafés sustentáveis, nos quais se

destacam o Brasil e o Vietnã como os maiores produtores de cafés sustentáveis na safra

2011/2012. Outro fator que deve ser considerado está relacionado à imagem transmitida através

de uma certificação. Barra (2006) aponta que a certificação é um mecanismo sinalizador da

qualidade que favorece a redução dos custos de transação e tem sido um vetor fundamental na

promoção do desenvolvimento de melhores práticas de produção e venda de café no Brasil.

A principal certificação na cafeicultura é o Fairtrade (Comércio Justo). O moderno

movimento do Comércio Justo começou no início dos anos 80, quando um padre holandês

divulgou que os produtores de café mexicano das montanhas eram incapazes de receber um

preço que lhes assegurasse um padrão digno (Modelo, 2014). O comércio justo surgiu para

Page 32: A SUSTENTABILIDADE NA CAFEICULTURA: um estudo sobre a ...

28

resolver as inadequações de mercado em fornecer oportunidades de comércio que aliviam as

várias questões sociais ligadas à pobreza (Haight, 2011).

Para coordenar atividades e elaborar orientações gerais sobre certificações, foram

criadas organizações guarda-chuva, a mais importante delas é a Fair Trade Labelling (FLO). A

FLO monitora os produtores e comerciantes e desclassifica aqueles que não conseguem padrões

exigidos. Em relação ao café, um grupo de produtores (cooperativa, associação de agricultores)

pode ser registrado na FLO se: (1) seus membros são pequenos proprietários; e (2) o grupo é

democraticamente administrado e politicamente independente. A primeira condição é

rigorosamente aplicada pela FLO. O histórico em relação à segunda condição pode ser

questionado em alguns países onde o comércio justo compra café de cooperativas anteriormente

controladas pelo Estado, cuja independência política é duvidosa (Ponte, 2004).

Hoje, os produtos certificados trazem os selos nos próprios rótulos, que têm transmitido

uma imagem positiva aos consumidores. Esses rótulos são familiares e, geralmente, disponíveis

nos EUA, no Canadá (Givens & Jannasch, 1999; Rice & McLean, 1999; Giovannucci, 2001;

Dimitri & Greene, 2002 ), no Japão e em vários países europeus (Giovannucci & Koekoek,

2003). Em muitos desses países, eles emergiram de pequenos nichos de mercados para entrar

nos principais canais de distribuição. No entanto, pesquisas recentes da indústria em larga

escala em 14 importantes mercados sugerem que características específicas das certificações

são confusas para a indústria do café – e especialmente para os consumidores (Giovannucci,

2001; Giovannucci & Koekoek, 2003; Consumers International, 2004).

Sefano Ponte (2004) observa que cafés sustentáveis fornecem retornos positivos para os

operadores do país do consumidor. Eles remuneram um prêmio médio de US$ 1,30/kg para

orgânicos e US$ 1,36/kg para Fairtrade. Esses são prêmios médios pagos por vários operadores

aos seus fornecedores, mas não significa necessariamente que são transferidos para os

produtores em sua totalidade. A pesquisa também sugere que “sustentabilidade” e “qualidade”

não podem ser mantidas isoladamente. O fator mais importante em fazer café sustentável que é

valorizado para as empresas diz respeito à “qualidade especial do sabor” (indicado em quase

92% dos casos), seguido de ética pessoal e crenças sobre comércio justo e meio ambiente.

Curiosamente, cafés sustentáveis não parecem ser orientados para o cliente. A demanda do

cliente foi classificada como importante fator apenas em 50,9% das respostas (Ponte, 2004).

Um estudo mais recente cobrindo 11 países europeus e o Japão (Giovannucci & Koekoek, 2003)

estima que o volume de “café sustentável” nesses países, em 2001, foi de 21.266 toneladas, o

equivalente a 1,1% do volume total de café consumido. Essa é uma estimativa muito maior que

a fornecida para o mercado global de cafés certificados em 2000: 16.634 toneladas

Page 33: A SUSTENTABILIDADE NA CAFEICULTURA: um estudo sobre a ...

29

(Giovannucci, 2001). O crescimento médio anual estimado de café sustentável para o período

1999-2004 nesses países é de cerca de 10% (Giovannucci & Koekoek, 2003).

Hajjar, Newton, Adsheadd, Bogaerts, Maguire-Rajpaul and Pinto (2019) destacam

ainda o fato de que a

cadeia do café é relativamente curta e simples. Envolve relativamente poucos estágios, locais e atores e é

relativamente fácil de ser rastreada. Em muitos casos, a produção e o comércio são organizados por

cooperativas. Se o mercado de exportação exige a certificação do café, as cooperativas podem ajudar os

agricultores na obtenção da certificação.

2.5 Indicadores

Um dos grandes desafios quando se trata de sustentabilidade é conseguir mensurá-la, ou

seja, medir a sustentabilidade. Mas a partir da evolução e do maior esclarecimento do tema,

têm-se buscado iniciativas para a criação de indicadores voltados para esse fim.

Originados do latim (indicare), os indicadores são utilizados há bastante tempo para

comunicar tendências. Desse modo, os indicadores de sustentabilidade comunicam o progresso

em direção a uma meta de forma simples e objetiva o suficiente para retratarem o mais próximo

da realidade, mas dando ênfase aos fenômenos que tenham ligações entre a ação humana e suas

consequências, isso porque têm a capacidade de abordar diferentes segmentos: social, ambiental

e econômico, de forma conjunta (Bellen, 2005; Kieckhofer, 2005).

Um índice de sustentabilidade deve inicialmente referir-se aos elementos relativos da

sustentabilidade de um sistema (Camino & Müller, 1993) e à explicitação de seus objetivos,

sua base conceitual e seu público usuário (Romeiro, 2004).

Uma das mais importantes contribuições ao uso de indicadores de sustentabilidade foi

dada por Rees (1992) com o desenvolvimento de um índice denominado Pegada Ecológica ou

EF (do inglês Ecological Footprint). A metodologia original consistiu em construir uma matriz

de consumo/uso de terra, considerando cinco categorias principais do consumo (alimento,

moradia, transporte, bens de consumo e serviços) e seis categorias principais do uso da terra. O

objetivo desse índice é calcular a área de terra necessária para a produção e a manutenção de

bens e serviços consumidos por uma determinada comunidade (Wackernagel & Rees, 1996).

Outro índice considerado de grande importância na discussão sobre sustentabilidade de

países é o Índice de Sustentabilidade Ambiental (ESI), do inglês Environmental Sustainability

Index (Samuel-Johnson & Esty, 2000). Esse índice, quando proposto, rapidamente originou

importantes discussões e controvérsias em escala acadêmica e política nos países do mundo

Page 34: A SUSTENTABILIDADE NA CAFEICULTURA: um estudo sobre a ...

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inteiro, principalmente porque alguns países como Estados Unidos e Dinamarca, que possuem

uma comprovada participação na poluição do planeta, aparecem com valores muito bons. A

comunidade científica considera o EF e o ESI como os de maior impacto na avaliação da

sustentabilidade de países, isto é, esses índices estão gerando grandes discussões no mundo

todo.

Um dos aspectos críticos de um índice de sustentabilidade é a metodologia adotada,

tanto para sua determinação quanto para sua leitura e interpretação. Independentemente da

escolha, a metodologia deve ser clara e transparente, não deixando dúvidas sobre quais

princípios estão na base do processo. Outro aspecto determinante em uma avaliação ambiental

de um sistema é que não existe a possibilidade de determinar sua sustentabilidade considerando

apenas um indicador ou indicadores que se refiram a somente um aspecto do sistema. A

sustentabilidade é determinada por um conjunto de fatores (econômicos, sociais e ambientais),

e todos devem ser contemplados no cálculo do índice de sustentabilidade através dos

correspondentes indicadores (Bouni, 1996), tal como ocorreu com o Índice de

Desenvolvimento Humano (IDH) (UNDP, 2005).

Segundo Dixon and Clifford (2007), as organizações sustentáveis, particularmente na

divulgação dos relatórios oficiais, buscam demonstrar a aplicabilidade dos valores do Triple

Bottom Line mantendo um consenso entre as decisões da equipe de gestão com os objetivos

sustentáveis. Para tanto, investem nas competências essenciais de empregabilidade e na

formação de pessoas, garantindo a viabilidade econômica empresarial.

Apresentam-se, a seguir, os valores do Triple Bottom Line:

Ambiental: Tinoco e Kraemer (2011) defendem que o gerenciamento ambiental deve

ser um fator estratégico para análise da alta administração das organizações, incluindo outras

atividades que devem ser administradas, como manter a conformidade com as leis ambientais,

implantar programas de prevenção à poluição, adequar produtos e processos industriais às

especificações ecológicas, entre outros.

Social: segundo Aligleri (2011), sociedade sustentável é uma coletividade humana que

busca desenvolver-se, realizando a integração do bem-estar com respeito à capacidade de

organização e renovação dos ecossistemas, garantindo qualidade de vida para a geração atual e

assegurando a continuidade das próximas gerações.

Econômico: trata-se do resultado econômico positivo, ou seja, proporcionar meios de

manter a continuidade do bom desempenho organizacional, considerando os pilares sociais e

ambientais (Rocha, 2012).

Page 35: A SUSTENTABILIDADE NA CAFEICULTURA: um estudo sobre a ...

31

Conforme Ciofi (2010), em 1999, a Bolsa de Nova York criou o índice Dow Jones

Sustainability, agrupando as empresas mais sustentáveis com ações negociadas em bolsa.

Seguindo o mesmo exemplo, mais países criaram outros índices com a mesma finalidade: o

JSE de Johanesburgo, na África do Sul, em 2003, e FTSE4 Good (Footsie for Good), em

Londres, na Inglaterra, no ano de 2011.

A BM&FBOVESPA elaborou diversos índices, como: Índice Carbono Eficiente (ICO-

2), Índice de Ações com Governança Corporativa Diferenciada (IGC), Índice de Ações com

Governança Corporativa Diferenciada Trade (IGCT), Índice de Ações com Tag Along

Diferenciado (ITAG) e o Índice Ibovespa, estes com a finalidade de mensurar o desempenho

de empresas que adotam práticas de Sustentabilidade, Governança Corporativa e

Responsabilidade Social e analisar o retorno financeiro das empresas que adotam tais práticas

separadamente do retorno das que representam o mercado de maneira global (Milani, Righi,

Ceretta, & Dias, 2012).

O Balanço Social representa a compilação de informações, indicadores e ações

realizadas pelas organizações no desempenho de sua função social, tendo por finalidade servir

de instrumento de diálogo com todos os públicos com os quais a empresa se relaciona.

Segundo Tinoco (2010), a inclusão das questões econômicas, ambientais e de cidadania

às sociais ampliou o escopo do Balanço Social, denominando-o Relatório de Sustentabilidade,

compreendendo as atividades executadas pelas organizações, o balanço das pessoas, a

demonstração do valor adicionado, o balanço ecológico e a responsabilidade social.

Segundo Carreira e Palma (2012), a Global Reporting Initiative (GRI) é uma

organização sem fins lucrativos, localizada na Holanda, que tem procurado disponibilizar

linhas orientadoras e matrizes de indicadores que permitem a todas as organizações estruturar

o seu relato de sustentabilidade em termos de conteúdo e abrangência.

Os relatórios de sustentabilidade são estruturados por indicadores essenciais e

adicionais, subdivididos na categoria econômica, ambiental e social, o último composto pelas

seguintes subcategorias: práticas trabalhistas, direitos humanos, sociedade e responsabilidade

pelo produto (Global Reporting Initiative, 2013).

Pinto e Ribeiro (2004) destacam como crítica ao GRI o viés favorável, destacando

aspectos positivos em detrimento dos negativos ou utilizando o relatório de sustentabilidade

como ferramenta de marketing. Nesse contexto, Perez (2008) defende que é fundamental

verificar a confiabilidade nos dados e informações de um relatório e avaliar se a empresa está

incluindo as questões relevantes. A avaliação independente é um meio-chave para assegurar a

necessária garantia para os investidores a partir das informações contidas nos relatórios de

Page 36: A SUSTENTABILIDADE NA CAFEICULTURA: um estudo sobre a ...

32

sustentabilidade; as informações devem ser adequadas, confiáveis, demonstrando clareza e

equilíbrio e atendendo às exigências dos stakeholders em termos de conteúdo e qualidade.

(Bureau Veritas, 2013).

No que diz respeito às dimensões da sustentabilidade, não há consenso quantitativo para

as propostas de indicadores, mas há percepção quanto à qualidade multidimensional da

sustentabilidade. Alguns atores identificam cinco dimensões de sustentabilidade: social,

econômica, ecológica, geográfica e cultural (Sachs, 1997 apud van Bellen, 2005); outros

apontam para as dimensões sociais, ecológicas e econômicas e as interações entre elas

(Gallopín, 2003; Guimarães, 1998; van Bellen, 2005). De todo modo, é consensual a ideia de

que indicadores que ficam restritos a apenas uma dimensão não refletem a sustentabilidade de

uma região.

Cabe ressaltar que

se houver discrepâncias significativas nas atitudes dos proprietários em relação a como a organização está

operando e a forma como eles gostariam que operasse, a organização dedica um importante tempo com

reorganização ou, em alguns casos, com os proprietários desinvestindo na organização. (Hadani,

Goranova, & Khan, 2011; Ng, Sibilkov, Wang, & Zaiats, 2011).

Portanto, é de suma importância que as organizações mapeiem esses entendimentos dos

proprietários.

2.6 Considerações finais

Após análise do referencial teórico, percebe-se a relevância do tema sustentabilidade e

sua evolução ao longo dos anos. É possível identificar ainda que o assunto tem uma relação

direta com a agricultura, sendo defendido por autores que a própria sustentabilidade tem origem

no segmento agrícola, devido à utilização de recursos naturais pelo setor e também pela

ocupação geográfica. O cooperativismo também possui em sua essência uma preocupação para

além dos lucros, ou seja, com toda a comunidade, desde a criação dessa doutrina cooperativista.

Através dos princípios cooperativistas, fica evidenciada a preocupação com as pessoas e o

interesse pela comunidade, sendo esse o último princípio.

Quando se trata de percepção de ganhos e de tangibilizar a sustentabilidade, por meio

do crescimento das certificações com apelo socioambiental, ressalta-se que algumas, como

Faitrade, pagam acréscimo pelos preços de café de acordo com o atingimento de metas e

Page 37: A SUSTENTABILIDADE NA CAFEICULTURA: um estudo sobre a ...

33

cumprimento das normas. Uma vez esclarecidos conceitos, existe dificuldade de mensurar a

sustentabilidade, por isso a necessidade de se pesquisarem indicadores voltados para o tema.

Assim, ao se fazer esta estrutura do referencial, pretendeu-se guiar o leitor por meio de

uma lógica sequencial, na qual se buscou que ele primeiramente entendesse do que se trata o

tema; nesse contexto, é possível identificar diferentes visões e percepções e alguns

questionamentos. Logo após, o tema foi desdobrado para a agricultura familiar e

cooperativismo, segmentos que possuem forte ligação com o desenvolvimento sustentável. Por

fim, o objetivo foi apresentar ao leitor possibilidades de tangibilização e de ganhos diretos,

através de certificações e do estabelecimento de indicadores voltados para a sustentabilidade.

Para tanto, objetivando buscar na literatura trabalhos sobre essa temática, foram

realizadas buscas na web nas seguintes bases científicas: Academic Databases for Colleges na

Universities – EBSCO (www.ebscohost.com), Scientific Electronic Library Online – SciELO

(www.scielo.br), Revista de Economia e Sociologia Rural – RESR

(https://www.revistasober.org) e Google Scholar (https://scholar.google.com/).

Page 38: A SUSTENTABILIDADE NA CAFEICULTURA: um estudo sobre a ...

34

3 METODOLOGIA

Este capítulo apresenta a metodologia adotada com detalhamento de abordagem,

objetivos, procedimento, coleta de dados, universo da amostra, fases da pesquisa e síntese da

metodologia com o intuito de deixar claros todos os passos realizados na confecção desta

pesquisa. Ressalta-se que a metodologia relaciona-se à forma e ao tipo de pesquisa realizada.

3.1 Caracterização da pesquisa

Metodologia de pesquisa é um conjunto de atividades sistemáticas visando atingir um

determinado objetivo (Fachin, 2001; Sekaran, 1984). Marconi e Lakatos (2005) afirmam que a

atividade científica tem como finalidade obter a verdade, comprovando hipóteses, observando

a realidade e a teoria científica, a fim de explicar tal realidade.

Assim, em função disso, a presente pesquisa busca identificar como players que atuam

na cafeicultura avaliam a sustentabilidade. A seguir, será apresentado como o estudo pode ser

caracterizado.

3.1.1 Abordagem

Este trabalho pode ser classificado como uma abordagem quantitativa. Para Creswell

(2010), a pesquisa quantitativa é um meio para testar teorias objetivas, examinando relações

entre as variáveis, as quais, por sua vez, podem ser medidas tipicamente por instrumentos, para

que os dados numéricos possam ser analisados por procedimentos estatísticos. O relatório final

escrito tem uma estrutura fixa, a qual consiste em introdução, literatura e teoria, método,

resultados e discussão.

A pesquisa quantitativa significa transformar opiniões e informações em números, para

possibilitar a classificação e análise, fundamentado em que tudo pode ser quantificável (Silva

& Menezes, 2001).

No estudo, optou-se pela realização de uma pesquisa survey com players que atuam na

cafeicultura. Através desta pesquisa, foi possível obter e mensurar informações relacionadas a

opiniões, preferências e atitudes do público pesquisado.

Page 39: A SUSTENTABILIDADE NA CAFEICULTURA: um estudo sobre a ...

35

3.1.2 Objetivos

No que diz respeito aos objetivos, pode-se classificar este trabalho como uma Pesquisa

Descritiva, uma vez que visa entender as características da população. Segundo Vergara (2014),

a pesquisa descritiva expõe características de determinada população ou de determinado

fenômeno, podendo também estabelecer correlações entre variáveis e definir sua natureza.

Para identificar divergências na avaliação da sustentabilidade pelos players que atuam

na cafeicultura, foram realizadas pesquisas com cooperados da Coocafé, representados pelo

conselho consultivo; alta gestão, representada por todos os conselheiros administrativos,

diretoria e superintendências também da Coocafé; e empresas multinacionais compradoras dos

cafés.

A partir da aplicação dos questionários, os resultados de cada grupo foram confrontados,

permitindo a identificação de pontos de convergência e divergência no que diz respeito à

avaliação dos players quanto à sustentabilidade.

3.1.3 Procedimentos

Quanto aos procedimentos, o estudo foi realizado através de um levantamento de corte

transversal autoadministrado on-line, coletado em um momento do tempo. Malhotra (2006)

define ainda um levantamento transversal como aquele que envolve a coleta dos dados apenas

uma vez.

A coleta de dados pode também envolver a criação de um levantamento baseado na web

ou na internet administrado on-line (Nesbary, 2000; Sue & Ritter, 2007). Os levantamentos, de

acordo com Hair Jr., Joseph, Babin, Money e Samoel (2005), podem ocorrer em duas amplas

categorias: entrevistas (pessoalmente, por computador ou por telefone) ou administração de

questionários para que o próprio respondente responda (por meio eletrônico ou correio). Dessa

forma, o mesmo questionário foi enviado via e-mail aos cooperados, alta gestão e clientes de

café; porém, foi criado um grupo específico de análise para cada público, sendo necessárias,

inclusive, algumas abordagens pessoais e via telefone, no intuito de estimular a participação e

esclarecer possíveis dúvidas.

Page 40: A SUSTENTABILIDADE NA CAFEICULTURA: um estudo sobre a ...

36

3.1.4 Instrumento de coleta de dados

O questionário usou como base fundamental os estudos desenvolvidos por Ignacy

Sachs, considerado precursor do Desenvolvimento Sustentável e ainda hoje um dos autores mais

renomados no tema, com 15.600 citações no Google Scholar. Foi elaborado um questionário

(Apêndice A) com base nas cinco dimesões da sustentabilidade e, para cada dimensão, foram

identificados os principais constructos, autores e leituras orientadoras.

Na dimensão Econômica, utilizaram-se os seguintes autores e empresa: Giovannucci

and Ponte (2005); Sachs (2002) e Núcleo de Sustentabilidade da Fundação Dom Cabral (2016).

Quanto ao Social, foram selecionados os seguintes autores como base para o questionário:

Sachs (2002); Pires e Silva (2004); Aligleri (2011); Cavalcanti (2006) e Oliveira (2007). Para

a Ecológica, os autores Sachs (2002) e Tinoco e Kraemer (2011) foram usados como base. A

Geográfica teve Sachs (2002) como base. Já para a dimensão Cultural, foram utilizados os

autores Sachs (2002), Touraine (1988) e Archel (2003).

Constructos, autores, leituras orientadoras e perguntas estão descritos e referenciados

no Quadro 5.

Quadro 5 – Constructos, perguntas, autores

CONSTRUCTOS PERGUNTAS

GRAU DE

IMPORTÂNCIA /

CONCORDÂNCIA*

AUTORES

E

C

O

N

Ô

M

I

C

O

Contribuição da

sustentabilidade

para o resultado

líquido de uma

empresa /

propriedade rural.

A eficiência

econômica baseia-

se em uma

"alocação e gestão

mais eficientes dos

recursos e por um

fluxo regular do

investimento

público e privado.

Alta

sustentabilidade e

baixa

sustentabilidade.

1. Relação entre sustentabilidade e o

resultado líquido de uma empresa. O1 O2 O3 O4 O5

Giovannucci

and Ponte

(2005); Sachs

(2002); Núcleo

de

Sustentabilidade

da Fundação

Dom Cabral

(2016)

2. Disposição do consumidor final

médio para trocar uma marca de café

familiar e pagar mais caro por uma

com apelo sustentável.

O1 O2 O3 O4 O5

3. Destinar parte do resultado

financeiro da empresa para ações

relacionadas à sustentabilidade.

O1 O2 O3 O4 O5

4. A eficiência econômica deve ser

medida sobretudo em critérios

macrossociais, ou seja, quando se

abrange grande parte da sociedade.

O1 O2 O3 O4 O5

5. Alguma perda de recursos é

inevitável, mas isso pode ser

compensado pelo aumento de capital.

O1 O2 O3 O4 O5

6. A certificação é um mecanismo

sinalizador da qualidade que

favorece a redução dos custos e tem

sido fundamental na promoção do

desenvolvimento de melhores

práticas de produção e venda de café

no Brasil.

O1 O2 O3 O4 O5

(continua)

Page 41: A SUSTENTABILIDADE NA CAFEICULTURA: um estudo sobre a ...

37

(continuação)

CONSTRUCTOS PERGUNTAS

GRAU DE

IMPORTÂNCIA /

CONCORDÂNCIA*

AUTORES

S

O

C

I

A

L

Garantia de

qualidade de vida

para a geração atual

assegurando a

continuidade das

próximas gerações.

Cooperativismo é

um modelo de

economia solidária

que procura

maximizar o

predomínio do fator

trabalho sobre o

fator capital.

1. Preocupação das empresas quanto

à qualidade de vida para a geração

atual e a continuidade das próximas

gerações.

O1 O2 O3 O4 O5

Sachs (2002);

Pires e Silva

(2004); Aligleri

(2011);

Cavalcanti

(2006); Oliveira

(2007)

2. O modelo cooperativista como

uma das principais estratégias para o

enfrentamento de uma economia por

natureza excludente, identificada

como a globalização.

O1 O2 O3 O4 O5

3. O processo deve se dar de tal

maneira que reduza substancialmente

as diferenças sociais.

O1 O2 O3 O4 O5

4. A empresa deve ter práticas e

metas voltadas para a redução da

desigualdade social.

O1 O2 O3 O4 O5

5. Investimento das empresas em

projetos com a comunidade. O1 O2 O3 O4 O5

6. Incentivo das empresas a trabalhos

voluntários dos colaboradores. O1 O2 O3 O4 O5

7. Apoio das empresas a práticas de

equilíbrio da vida profissional com a

vida pessoal para todos os

colaboradores.

O1 O2 O3 O4 O5

E

C

O

L

Ó

G

I

C

O

Gerenciamento

ambiental deve ser

um fator estratégico

para análise da alta

administração.

1. Adequação de produtos e

processos às especificações

ecológicas.

O1 O2 O3 O4 O5

Sachs (2002);

Tinoco e

Kraemer (2011)

2. Manter conformidade com as leis é

sustentabilidade ambiental. O1 O2 O3 O4 O5

3. Projetos e ações de combate à

poluição com indicadores e metas. O1 O2 O3 O4 O5

4. Integração entre conservação da

natureza e desenvolvimento. O1 O2 O3 O4 O5

G

E

O

G

R

Á

F

I

C

O

Pressupõe evitar a

concentração

geográfica

exagerada de

populações,

atividades e de

poder. Busca uma

relação equilibrada

cidade/campo.

1. Concentração da população em

áreas metropolitanas é uma ameaça. O1 O2 O3 O4 O5

Sachs (2002)

2. Controle nos processos de

colonização. O1 O2 O3 O4 O5

3. Empresas devem possuir práticas

para evitar o êxodo rural. O1 O2 O3 O4 O5

4. Concentração geográfica

exagerada de populações e atividades

é uma preocupação.

O1 O2 O3 O4 O5

(continua)

Page 42: A SUSTENTABILIDADE NA CAFEICULTURA: um estudo sobre a ...

38

(conclusão)

CONSTRUCTOS PERGUNTAS

GRAU DE

IMPORTÂNCIA /

CONCORDÂNCIA*

AUTORES

C

U

L

T

U

R

A

L

Além da necessidade

de se traduzir o

conceito normativo de

desenvolvimento

sustentável numa

pluralidade de soluções

locais, adaptadas a

cada ecossistema, a

cada cultura e,

inclusive, soluções

sistêmicas de âmbito

local, utilizando-se o

ecossistema como um

paradigma dos sistemas

de produção elaborados

pelo homem.

1. Respeito à formação cultural

comunitária. O1 O2 O3 O4 O5

Sachs (2002);

Touraine

(1988); Archel

(2003)

2. Ao se estabelecer em uma

região, a empresa deve propor

soluções adaptadas para aquele

ecossistema.

O1 O2 O3 O4 O5

3. Práticas de incentivo à

pluralidade cultural. O1 O2 O3 O4 O5

4. Realização e apoio a eventos

que valorizem a cultura local. O1 O2 O3 O4 O5

* O1 – Pouco importante / Discordo totalmente

O2 – Ligeiramente importante / Discordo

O3 – Moderadamente importante / Não concordo nem discordo

O4 – Muito importante / Concordo

O5 – Extremamente importante / Concordo totalmente

Fonte: Elaborado pelo autor.

Com o objetivo de facilitar a análise e, consequentemente, a importância dada a cada

pilar da sustentabilidade, o questionário foi subdividido por perguntas sequenciais relacionadas

a cada tema: econômico, social, ambiental, geográfico e cultural.

As perguntas foram estruturadas em formato de escala do tipo Likert de 5 pontos. Trata-

se de uma escala em que os participantes registram sua concordância extrema ou discordância

extrema aos itens propostos (Gil, 2010). Para Malhotra (2001), a principal vantagem de utilizar

essa escala é a fácil construção e aplicabilidade, além de os participantes do estudo entenderem

rapidamente como utilizá-la. As respostas variam em torno das possibilidades a seguir:

1. Discordo totalmente / Pouco importante.

2. Discordo parcialmente / Ligeiramente importante.

3. Não concordo e nem discordo / Moderadamente importante.

4. Concordo parcialmente / Muito importante.

5. Concordo totalmente / Extremamente importante.

Após a elaboração do questionário, ele foi enviado para avaliação, sendo aplicada a

validação de face e conteúdo junto ao orientador desta dissertação. Foram solicitados alguns

Page 43: A SUSTENTABILIDADE NA CAFEICULTURA: um estudo sobre a ...

39

ajustes no questionário, no sentido de deixá-lo mais objetivo, após os quais foi realizada a coleta

de dados, no período entre junho e julho de 2019, pela modalidade on-line.

Para a realização da coleta de dados, foi utilizada a ferramenta Survey Monkey, que

possibilita a geração de dados em estatísticas descritivas ou informações em gráficos. Embora

o questionário tenha sido enviado via e-mail, a abordagem pessoal precisou ser diferente junto

a cada público. Com a alta gestão, foi realizada uma reunião com todos os membros, na qual o

pesquisador explicou brevemente a importância da pesquisa para a cooperativa. Com os

cooperados do conselho consultivo, foram necessárias abordagem individual, em determinados

casos, e abordagens coletivas, via reunião, e também em grupos de redes sociais, no sentido de

engajá-los quanto à participação e esclarecimento de dúvidas. Já com os clientes de café, devido

à quantidade de e-mails que o público recebe diariamente, o pesquisador precisou entrar em

contato via telefone com os entrevistados e explicar brevemente a pesquisa, mesmo constando

no corpo do e-mail informações relacionadas ao tema, ao objetivo e ao trabalho.

3.1.5 Universo da Amostra

Assim, foi aplicado um questionário (e-survey) aos seguintes públicos:

Alta gestão da cooperativa: 17 pessoas, sendo 3 diretores executivos (presidente,

produção e administrativo-financeiro), 3 conselheiros administrativos vogais, 2

superintendentes (administrativo-financeiro e técnico-comercial) e 9 executivos, membros do

Grupo de Desenvolvimento Estratégico.

Cooperados do conselho consultivo: 16 pessoas selecionadas pelo nível de participação

em reuniões trimestrais e maior acesso à internet. O conselho consultivo foi criado em 2012 e

é composto por líderes representantes das principais comunidades em que a cooperativa atua.

Esses cooperados estão divididos geograficamente, de forma que possam representar todo o

quadro social da cooperativa. Para cada 1.000 cooperados de uma unidade comercial, há um

representante no conselho consultivo. De forma planejada, esses líderes participam de reuniões

que ocorrem quatro vezes por ano. Nas reuniões, eles expressam suas sugestões, reclamações e

elogios. A cada biênio, o conselho é renovado ou acrescido, de acordo com a quantidade e a

qualidade das participações nas reuniões.

Empresas ligadas à cooperativa: multinacionais, que atuam na cafeicultura e possuem

parcerias com a cooperativa: 19, sendo 15 empresas que fazem negócio, 2 corretoras e 2

parceiros institucionais.

A população que abrangeu o questionário encontra-se no Gráfico 1.

Page 44: A SUSTENTABILIDADE NA CAFEICULTURA: um estudo sobre a ...

40

Gráfico 1 - População

Fonte: Elaborado pelo autor.

Ressalta-se que, para se obter um nível de confiança de 95%, a amostra necessitou ser de,

pelo menos, 37 respondentes.

Como os elementos da população têm probabilidade conhecida, trata-se de uma

amostragem probabilística. Técnicas de Estatística Indutiva pressupõem que as amostras sejam

probabilísticas, mas nem sempre é possível conseguir isso. A amostra foi intencional e por

conveniência. As amostras intencionais compreendem os diversos casos em que “o pesquisador

deliberadamente escolhe certos elementos para pertencer à amostra, por julgar tais elementos bem

representativos da população” (Costa Neto, 1977, p. 45). A intencionalidade torna uma pesquisa

mais rica em termos qualitativos.

Em amostras por conveniência, elementos são incluídos na amostra sem probabilidades

previamente especificadas ou conhecidas (Anderson, Sweeney, & Williams, 2007), ou seja, a

seleção dos elementos da amostra é feita entre os indivíduos que estão mais acessíveis a

participarem do estudo e que sejam capazes de fornecer as informações requeridas (Costa Neto,

1977).

17; 33%

16; 31%

19; 36%

População

Alta Gestão Cooperados Empresas

Page 45: A SUSTENTABILIDADE NA CAFEICULTURA: um estudo sobre a ...

41

3.1.6 Fases da pesquisa

Para a execução da presente pesquisa, foram adotadas as fases a seguir.

Primeira fase:

• Preliminarmente, foi realizada uma ampla revisão bibliográfica, no intuito de identificar

os principais conceitos e evolução da sustentabilidade ao longo dos anos e sua relação

com cooperativismo, agricultura familiar, certificações com apelo ambiental e

indicadores voltados para a sustentabilidade.

• Na sequência, foi realizada uma revisão de conteúdo, através de consultas em base

científica, em que foram delimitadas as cinco dimensões da sustentabilidade.

Segunda fase:

• Elaboração do questionário com base nas cinco dimensões.

• Após a elaboração do questionário, este foi enviado para avaliação, sendo aplicada a

validação de face e de conteúdo juntamente com o orientador da dissertação.

• Foram solicitados alguns ajustes no questionário, no sentido de deixá-lo mais objetivo.

• Após os ajustes, foi realizado um pré-teste do questionário.

Terceira fase:

• Coleta de dados, no período entre junho e julho de 2019, pela modalidade on-line.

• Tabulação das respostas.

• Análise dos dados coletados.

3.1.7 Síntese da metodologia da pesquisa

Este capítulo apresentou a caracterização da pesquisa bem como os aspectos

metodológicos, conforme pode ser observado no Quadro 6.

Page 46: A SUSTENTABILIDADE NA CAFEICULTURA: um estudo sobre a ...

42

Quadro 6 – Caracterização da pesquisa

DESENHO DA

PESQUISA CARACTERÍSTICAS

Abordagem Quantitativa

Objetivos Descritiva

Corte Temporal Transversal

Procedimento Questionário

Coleta de Dados Internet (e-mail)

Universo da Amostra /

Sujeito

Alta gestão da cooperativa; cooperados do conselho consultivo;

empresas multinacionais da cafeicultura ligadas à cooperativa

Técnica de Amostragem Probabilística

Tamanho da Amostra

A pesquisa foi realizada com 37 players que atuam na cafeicultura,

sendo 13 cooperados(as) do conselho consultivo da cooperativa; 11

pessoas ligadas à alta gestão da cooperativa, entre diretores,

conselheiros administrativos e membros do Grupo de

Desenvolvimento Estratégico; 13 empresas multinacionais que

atuam na cafeicultura

Fonte: Elaborado pelo autor.

Page 47: A SUSTENTABILIDADE NA CAFEICULTURA: um estudo sobre a ...

43

4 ANÁLISE DE DADOS

4.1 Análise descritiva

Grande parte do público é formada por homens (75%) com idade entre 41 e 50 anos

(43%). Esse perfil corresponde à cafeicultura e até mesmo ao público da cooperativa, que possui

perfil similar, com a maior parte dos cooperados formada por homens entre 41 e 50 anos. Quando

analisados separadamente, a alta gestão da cooperativa é 90% masculina, já o conselho consultivo

é 33% feminino, os clientes de café são 30% femininos.

Embora o questionário tenha sido enviado para 52 pessoas, a pesquisa foi realizada com

37 players que atuam na cafeicultura, conforme pode ser percebido no Gráfico 2, sendo 13

cooperados(as) do conselho consultivo da cooperativa; 11 pessoas ligadas à alta gestão da

cooperativa, entre diretores, conselheiros administrativos e membros do Grupo de

Desenvolvimento Estratégico e 13 empresas multinacionais que atuam na cafeicultura. Com os

cooperados, foram necessárias abordagens individuais, via mensagens, e coletivas, através de

reuniões. Destaca-se aqui o baixo acesso a e-mails por parte desse público, tendo havido,

inclusive, orientação para a criação de endereços eletrônicos. No que diz respeito às empresas

multinacionais, pelo fato de receberem muitos e-mails, foi necessária a abordagem individual

com cada uma delas no intuito de explicar brevemente o trabalho. Já com a alta gestão da

cooperativa, foram realizadas majoritariamente abordagens coletivas em reuniões do grupo de

desenvolvimento estratégico. A maior dificuldade aqui foi com relação ao Conselho de

Administração, que se reúne mensalmente, portanto, houve a necessidade de, em alguns casos,

entrar em contato diretamente com o conselheiro.

Page 48: A SUSTENTABILIDADE NA CAFEICULTURA: um estudo sobre a ...

44

Gráfico 2 - Amostra

Fonte: Elaborado pelo autor.

4.2 Análise de consistência interna e de conteúdo

O primeiro passo da análise estatística foi a verificação do conteúdo. Apesar de a validade

de conteúdo fazer parte da análise de consistência interna, ela foi observada na elaboração da

survey como apontado por Haynes et al. (1995). A primeira parte do questionário envolveu a

identificação dos grupos estudados (alta gestão da cooperativa, cooperados, conselho consultivo

e empresas clientes de café) assim como perguntas básicas sobre os respondentes. Já na segunda

parte do questionário, questionou-se sobre a prática de sustentabilidade como apontado no

Quadro 5, considerando questões na escala Likert. Outros aspectos facilitam a conversão para a

validade de conteúdo como rápidas explicações sobre o preenchimento do questionário aos

respondentes.

O segundo passo da análise estatística foi verificar a confiabilidade dos itens da survey e

dos respondentes com a aplicação do alfa de Cronbach (Cronbach, 1951). Para tal finalidade

utilizou-se o IBM SPSS versão 23. O alfa de Cronbach é uma das ferramentas mais difundidas

na realização de pesquisas, pois leva em consideração a variância atribuída aos sujeitos e a

variância atribuída à interação entre sujeitos e itens da pesquisa (Almeida, Santos, & Costa, 2010).

Valores do coeficiente variam entre 0 e 1,0; quanto mais próximo de 1,0, maior a cosistência

interna. Como referência, valores de alta consistência interna estão normalmente entre 0,70 a

11; 30%

13; 35%

13; 35%

Amostra

Alta Gestão Cooperados Empresas

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45

0,90; porém, podem-se aceitar valores próximos de 0,60 (Hair et al., 2006), o que indica uma

consistência moderada ou baixa. A Tabela 1 mostra o resultado do teste para as cinco dimensões

em investigação nesta pesquisa. Percebe-se que três dimensões apresentam uma consistência alta

(0,70) e duas dimensões um valor moderado e baixo (<0,60). Tal fato pode ser explicado pelo

baixo número de respondentes. Salienta-se que não é possível aumentar o número de

representantes pelo foco desta pesquisa ser somente os grupos cooperativa, alta gestão e empresa

da região.

Tabela 1 - Alfa de Cronbach das dimensões

Dimensões Número de itens Alfa de Cronbach

Cultural 4 0,807

Ecológico 4 0,781

Social 7 0,701

Econômico 6 0,562

Geográfico 4 0,461

Fonte: Elaborada pelo autor.

4.3 Análise não paramétrica

A estatística não paramétrica representa um conjunto de ferramentas de uso mais

apropriado em pesquisas em que não se conhecem bem a distribuição e os parâmetros da amostra.

Utilizou-se o teste Kruskal and Wallis (1952), equivalente ao teste ANOVA da estatística

paramétrica. Ele não requer a suposição de que a população esteja distribuída em forma de curva-

normal e se utiliza de ordenação (ranking) das observações (Levin & Rubin, 2004). O teste

Kruskal-Wallis é utilizado quando se pretende avaliar se várias amostras têm a mesma

distribuição, ou seja, a hipótese nula é quando os grupos possuem a mesma distribuição, e a

hipótese alternativa é quando os grupos não possuem a mesma distribuição. A estatística do teste

é qui-quadrado com k-1 graus de liberdade. Esse teste foi escolhido por ser apropriado para

comparar as distribuições de duas ou mais variáveis pelos mesmos ordinais observados em duas

ou mais amostras independentes (Marôco, 2011, p.317).

Portanto, tal teste fornece uma forma de se verificar se há diferenças na percepção dos

grupos (cooperados do conselho consultivo, alta gestão e empresas) sobre os constructos. Em

resumo, testamos:

H0: os grupos têm a mesma distribuição de valores.

Page 50: A SUSTENTABILIDADE NA CAFEICULTURA: um estudo sobre a ...

46

H1: os grupos não têm a mesma distribuição de valores.

A Tabela 2 apresenta o resultado do teste, sendo que a hipótese nula é se os grupos

possuem a mesma distribução. Para se encontrarem diferenças estatísticas significantes, a

significância deve ser menor que o p-value, por exemplo de 5% ( p-value ≤ 0,05).

Tabela 2 - Dimensão Econômica

Itens Significância

Alguma perda de recursos é inevitável, mas isso pode ser compensado pelo aumento de

capital. 0,091*

A certificação é um mecanismo sinalizador da qualidade que favorece a redução dos custos e

tem sido fundamental na promoção do desenvolvimento de melhores práticas de produção e

venda de café no Brasil.

0,304

Disposição do consumidor final médio para trocar uma marca de café familiar e pagar mais

caro por uma com apelo sustentável. 0,396

A eficiência econômica deve ser medida sobretudo em critérios macrossociais, ou seja,

quando se abrange grande parte da sociedade. 0,430

Relação entre sustentabilidade e o resultado líquido de uma empresa. 0,589

Destinar parte do resultado financeiro da empresa para ações relacionadas à sustentabilidade. 0,751

*** significante a 1%; ** significante a 5%; * significante a 10%

Fonte: Elaborada pelo autor.

Nesse caso, percebe-se que não há diferença considerável entre os grupos, pois não foi

possível rejeitar a hipótese nula em um nível 5% de significância. Isto é, as respostas dos

respondentes, considerando os três grupos (alta gestão, cooperados e empresas), possuem a

mesma percepção sobre a dimensão econômica. Tal resultado está alinhado aos resultados da

pesquisa "Estágios da Sustentabilidade Corporativa no Brasil 2016", realizada pelo Núcleo de

Sustentabilidade da Fundação Dom Cabral. Conforme 85% dos respondentes, a sustentabilidade

traz uma contribuição concreta para o resultado líquido da empresa.

Porém, caso seja considerado um nível 10% de significância, a pergunta “Alguma perda

de recursos é inevitável, mas isso pode ser compensado pelo aumento de capital” demonstraria

uma divergência na respostas dos grupos. Por isso, foi realizado o teste Bonferroni para descobrir

qual par dos três grupos indica uma divergência (Tabela 3). O teste pode ser usado para dados

balanceados ou não e utiliza a comparação dos pares para investigar as diferenças. Assim, a ideia

básica é aplicar um teste nos grupos independentes (cooperados, empresas e altas gestão) para

descobrirmos em qual par há desiguldade.

Page 51: A SUSTENTABILIDADE NA CAFEICULTURA: um estudo sobre a ...

47

Tabela 3 - Teste Bonferroni – “Alguma perda de recursos é inevitável, mas isso pode ser compensado pelo

aumento de capital”

(I) Grupo Diferença média

(I-J)

Erro-

Padrão Sig.

Intervalo de Confiança

95%

Limite

inferior

Limite

superior

Alta Gestão

Cooperados -,280 ,414 1,000 -1,32 ,76

Empresas ,713 ,406 ,264 -,31 1,74

Cooperados

Alta Gestão ,280 ,414 1,000 -,76 1,32

Empresas ,994 ,397 ,052* -,01 1,99

Empresas

Alta Gestão -,713 ,406 ,264 -1,74 ,31

Cooperados -,994 ,397 ,052* -1,99 ,01

*** significante a 1%; ** significante a 5%; * significante a 10%

Fonte: Elaborada pelo autor.

Pelo resultado do teste Bonferroni, o par “Cooperados” e “Empresas” mostra uma

divergência, pois apresenta um p-value de 0,052. A pergunta está relacionada à visão polêmica e

às provocações do cientista político Robert Gibson citado por Kuhlman and Farrington (2015),

que divide a sustentabilidade entre forte e fraca. Embora os respondentes em geral não concordem

que o aumento de capital possa compensar perdas de recursos naturais, houve divergência

significante a 10% entre os grupos cooperados do conselho consultivo e Empresas Multinacionais

Clientes de Café. Cabem aqui duas observações: a primeira diz respeito à cadeia comercial do

café, em que os produtores rurais, que estão na primeira parte dessa cadeia, têm um alto custo de

produção, sobretudo os que trabalham em regiões montanhosas, onde não há mecanização. Esse

alto custo possibilita menores ganhos financeiros, o que influencia diretamente na avaliação dos

produtores rurais quanto ao aumento de capital. Outro fator que deve ser levado em conta é o fato

de que os cooperados lidam diariamente, em suas atividades, com recursos naturais, enquanto as

empresas, de certa forma, estão mais distantes da terra.

Destaca-se ainda o fato de que nas demais questões existe uma consonância do público

pesquisado quanto às perguntas da dimensão econômica. Quando questionados se o consumidor

final médio está disposto a trocar uma marca de café familiar pagando mais por uma com apelo

sustentável, ainda há uma certa descrença. Giovannucci and Ponte (2005) já apontavam em seu

estudo que o consumidor final normalmente tem pouco tempo para escolher uma marca de café,

e critérios como conhecimento e lembrança acabam sendo mais relevantes. Para os autores, o

consumidor final médio nem sempre é impactado por comunicação relacionada à

Page 52: A SUSTENTABILIDADE NA CAFEICULTURA: um estudo sobre a ...

48

sustentabilidade, tendo em vista que decide pela compra em supermercados em alguns segundos

e não está disposto a trocar uma marca familiar e pagar mais caro por outra apenas devido ao

"apelo sustentável”.

Quanto às avaliações dos ganhos originados pelas certificações, embora não tenha

ocorrido uma divergência considerável, a convergência também não foi relevante. As

certificações na cafeicultura foram criadas para garantir a procedência dos produtos e também

gerar benefícios para as partes. A maioria dessas certificações possui apelo sustentável, embora

o fator mais determinante ainda seja a qualidade do café. Barra (2006) defende que a certificação

reduz custos de transição entre as empresas, pois é um sinalizador de qualidade. Por outro lado,

há uma série de itens exigidos pelas certificações, aos quais as empresas certificadas devem se

adequar. No caso da Coocafé, ela possui a certificação Fairtrade desde 2005. A cooperativa teve

que passar por uma verdadeira transformação, que envolve investimentos em recursos humanos

(consultores técnicos), financeiros e também tempo. Nem sempre os benefícios são percebidos,

pois uma pequena parte dos cafés são exportados via certificação.

A maior consonância nas percepções está relacionada à destinação de parte do resultado

financeiro para a sustentabilidade. No caso da cooperativa, isso também está traduzido na prática,

pois, em análise recente, identificou-se que, nos últimos três anos, o percentual do orçamento da

gerência onde estão alocados recursos para ações relacionadas à sustentabilidade tem evoluído,

saindo de 6%, em 2017, para 9%, em 2019, do orçamento da gerência responsável.

A próxima dimensão a ser investigada é a social. A Tabela 4 apresenta o resultado do teste

Kruskal-Wallis.

Tabela 4 - Dimensão Social

Itens Significância

O modelo cooperativista como uma das principais estratégias para o enfrentamento de uma

economia por natureza excludente, identificada como a globalização. 0,051*

A empresa deve ter práticas e metas voltadas para a redução da desigualdade social. 0,265

Preocupação das empresas quanto à qualidade de vida para a geração atual e a continuidade

das próximas gerações. 0,505

Apoio das empresas a práticas de equilíbrio da vida profissional com a vida pessoal para

todos os colaboradores. 0,577

O processo deve se dar de tal maneira que reduza substancialmente as diferenças sociais. 0,615

Incentivo das empresas a trabalhos voluntários dos colaboradores. 0,742

Investimento das empresas em projetos com a comunidade. 0,974

*** significante a 1%; ** significante a 5%; * significante a 10%

Fonte: Elaborada pelo autor.

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49

A dimensão social não apresentou diferenças considerando um nível de significância de

5% como usualmente utilizado na literatura, porém, se fosse considerado 10%, observa-se que a

pergunta “O modelo cooperativista como uma das principais estratégias para o enfrentamento de

uma economia por natureza excludente, identificada como a globalização” apresentaria

diferenças nas opiniões dos grupos. Aplicando o teste Bonferroni, percebe-se que o par que

apresenta uma diferença é “alta gestão” e “empresas” (Tabela 5).

Tabela 5 - Teste Bonferroni – “O modelo cooperativista como uma das principais estratégias para o

enfrentamento de uma economia por natureza excludente, identificada como a globalização”

(I) Grupo Diferença média

(I-J)

Erro-

Padrão Sig.

Intervalo de Confiança

95%

Limite

inferior

Limite

superior

Alta Gestão

Cooperados ,386 ,295 ,598 -,36 1,13

Empresas ,790* ,290 ,030** ,06 1,52

Cooperados Alta Gestão -,386 ,295 ,598 -1,13 ,36

Empresas ,404 ,283 ,489 -,31 1,12

Empresas

Alta Gestão -,790* ,290 ,030** -1,52 -,06

Cooperados -,404 ,283 ,489 -1,12 ,31

*** significante a 1%; ** significante a 5%; * significante a 10%

Fonte: Elaborada pelo autor.

Para Pires e Silva (2004), o cooperativismo é uma das alternativas à globalização, pois o

sistema é mais inclusivo. Percebe-se divergência significante a 5% entre os grupos alta gestão e

empresas. Os grupos cooperados do conselho consultivo e a alta gestão da cooperativa são

formados por pessoas que vivem o sistema cooperativista há bastante tempo. Esse modelo vem

se desenvolvendo com maior intensidade comercial e visão empresarial nos últimos anos. Essa

divergência apontada no teste indica que as empresas mercantis não pertencentes ao sistema

cooperativista, embora tenham relação comercial e/ou institucional, ainda não percebem o

cooperativismo como um sistema mais inclusivo.

Todos os públicos demonstram uma preocupação quanto à qualidade de vida para as

próximas gerações. Os cooperados estão atentos quanto a esse quesito. Isso se explica pela grande

preocupação que há hoje na agricultura quanto aos processos de sucessão na agricultura familiar.

Ainda nessa linha, tanto a cooperativa quanto as empresas pesquisadas têm desenvolvido projetos

nessa ordem, como núcleos de jovens, trabalhos em escolas da rede pública, dentre outros.

Page 54: A SUSTENTABILIDADE NA CAFEICULTURA: um estudo sobre a ...

50

Também há convergência quanto à redução das diferenças sociais. Todos concordam com

o princípio da equidade entre grupos sociais, que consta no Relatório Brundtland (1987).

Incentivar a participação em trabalhos voluntários tem sido uma prática cada vez mais

comum nas empresas, como aponta a pesquisa de Oliveira (2008). No consolidado, houve

considerável convergência nesse quesito. Cabe ressaltar que, muitas vezes, essas práticas não são

muito divulgadas, o que influencia na percepção dos cooperados.

Na dimensão social, a maior convergência está relacionada ao investimento em projetos

com a comunidade. A alta valorização pelos cooperados pode ser explicada também pelo fato de

a cooperativa realizar ou apoiar, constantemente, inúmeros projetos com as comunidades.

Anualmente são cerca de 70 projetos apoiados pela Coocafé através de sua política de patrocínios

e doações.

Na dimensão ecológica, observa-se que a pergunta “Adequação de produtos e processos

às especificações ecológicas” apresenta diferença entre os grupos a um nível de significância de

10% (Tabela 6).

Tabela 6 - Dimensão Ecológica

Itens Significância

Adequação de produtos e processos às especificações ecológicas. 0,058*

Integração entre conservação da natureza e desenvolvimento. 0,120

Projetos e ações de combate à poluição com indicadores e metas. 0,192

Manter conformidade com as leis é sustentabilidade ambiental. 0,793

*** significante a 1%; ** significante a 5%; * significante a 10%

Fonte: Elaborada pelo autor.

Para identificar o par em que pode haver diferença, foi procedido o teste Bonferroni e

identificado que o par é “alta gestão” e “empresas”, conforme Tabela 7.

Page 55: A SUSTENTABILIDADE NA CAFEICULTURA: um estudo sobre a ...

51

Tabela 7 - Teste Bonferroni – “Adequação de produtos e processos às especificações ecológicas”

(I) Grupo Diferença média

(I-J)

Erro-

Padrão Sig.

Intervalo de Confiança

95%

Limite

inferior

Limite

superior

Alta Gestão Cooperados -,348 ,313 ,820 -1,14 ,44

Empresas -,720 ,307 ,075* -1,49 ,05

Cooperados Alta Gestão ,348 ,313 ,820 -,44 1,14

Empresas -,372 ,300 ,672 -1,13 ,38

Empresas Alta Gestão ,720 ,307 ,075* -,05 1,49

Cooperados ,372 ,300 ,672 -,38 1,13

*** significante a 1%; ** significante a 5%; * significante a 10%

Fonte: Elaborada pelo autor.

Mais uma vez, houve uma divergência significante a 10% entre a alta gestão da

cooperativa e empresas clientes de café. Cabe ressaltar que a maior parte da receita da Coocafé

não é oriunda de produtos com marca própria, e sim da revenda de insumos agrícolas e da

comercialização de cafés em grão cru. Já as empresas normalmente industrializam esses cafés e

os disponibilizam para o consumidor final, o que tem valorizado o apelo sustentável. Para Tinoco

e Kraemer (2011), as empresas devem adequar produtos e processos de acordo com as

especificações ecológicas. Esse conceito também está alinhado aos estudos realizados por Givens

and Jannasch (1999), Rice and McLean (1999), Giovannucci (2001), Dimitri and Greene, (2002).

Identifica-se que, hoje, os produtos certificados têm os selos nos próprios rótulos, transmitindo

uma imagem positiva aos consumidores.

Crescer sem comprometer a natureza é um grande desafio para as empresas. E essa

preocupação está aqui retratada por todos os públicos que concordam com a afirmação.

A poluição é uma preocupação mundial, que é retratada através dos resultados. Os dados

consolidados demonstram que o público considera essa preocupação como muito ou

extremamente importante. No entanto, para ele, é importante que se estabeleçam indicadores de

combate à poluição, iniciativa ainda não desenvolvida pela Coocafé.

Estar em conformidade com as leis tem exigido cada vez mais tanto das empresas quanto

dos cooperados. E há autores que defendem que manter essa conformidade pode ser considerada

sustentabilidade ambiental. Esse quesito apresentou a maior convergência entre os públicos na

dimensão ecológica.

Em relação à dimensão geográfica, apresentamos o resultado do teste Kruskal-Wallis na

Tabela 8.

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52

Tabela 8 - Dimensão Geográfica

Itens Significância

Concentração da população em áreas metropolitanas é uma ameaça. 0,031**

Controle nos processos de colonização. 0,783

Empresas devem possuir práticas para evitar o êxodo rural. 0,819

Concentração geográfica exagerada de populações e atividades é uma preocupação. 0,823

*** significante a 1%; ** significante a 5%; * significante a 10%

Fonte: Elaborada pelo autor.

A única pergunta que apresentou divergência significante está relacionada à

“Concentração da população em áreas metropolitanas é uma ameaça.” Assim, realizamos o teste

Bonferroni (Tabela 9).

Tabela 9 - Teste Bonferroni – “Concentração da população em áreas metropolitanas é uma ameaça”

(I) Grupo Diferença média

(I-J)

Erro-

Padrão Sig.

Intervalo de Confiança

95%

Limite

inferior

Limite

superior

Alta Gestão Cooperados -,424 ,406 ,912 -1,45 ,60

Empresas ,755 ,399 ,201 -,25 1,76

Cooperados Alta Gestão ,424 ,406 ,912 -,60 1,45

Empresas 1,179* ,390 ,014** ,20 2,16

Empresas Alta Gestão -,755 ,399 ,201 -1,76 ,25

Cooperados -1,179* ,390 ,014** -2,16 -,20

*** significante a 1%; ** significante a 5%; * significante a 10%

Fonte: Elaborada pelo autor.

Percebe-se aqui a divergência significante a 5% entre os pares cooperados e empresas

quanto à concentração da população em áreas metropolitanas. Importante destacar que esses dois

públicos estão nos extremos. Enquanto cooperados estão distantes das áreas metropolitanas, as

empresas multinacionais estão instaladas justamente nessas áreas. Essa preocupação dos

cooperados pode ser explicada pelo êxodo rural, embora Oliveira (2007) entenda que a agricultura

familiar é uma das principais responsáveis pela manutenção do agricultor no campo e, por

conseguinte, pela diminuição do êxodo rural. Mas quando há deslocamento de pessoas da zona

rural para a urbana, isso impacta diretamente os cooperados e a cooperativa, muito pela

preocupação com o processo sucessório das propriedades rurais e também pela mão de obra

qualificada em cidades do interior, como as que compõem a região de atuação da cooperativa.

Page 57: A SUSTENTABILIDADE NA CAFEICULTURA: um estudo sobre a ...

53

Para Sachs (2002), os processos de colonização devem ser controlados. Embora não tenha

apresentado divergência significante, essa questão também não apresentou convergência alta,

tendo parte concordado e parte adotado uma postura neutra.

Percebe-se aqui uma grande preocupação quanto ao êxodo rural, sobretudo pelos

cooperados. É comum hoje uma grande dificuldade de manter os jovens nas propriedades. Nas

regiões em que a Coocafé atua, tem-se buscado reverter esse quadro através de projetos com

crianças, jovens e escolas. Esses trabalhos são valorizados pelos cooperados, uma vez que muitos

de seus filhos estiveram ou estão envolvidos nesses projetos.

Existe uma concentração em determinadas regiões, seja nos grandes centros como

também nas comunidades. Em regiões mais propensas para a produção de cafés de qualidade, em

que clima e altitude contribuem diretamente, a procura por propriedades é maior, e,

consequentemente, há maior concentração. Isso explica o fato de cooperados e alta gestão da

Coocafé estarem preocupados com tal questão. As empresas também se preocupam, muito em

função da procura por empregos em grandes centros.

Por fim, a última dimensão a ser investigada é a cultural. Em tal dimensão, todas as

perguntas são aceitas, isto é, apresentam a mesma distribuição (Tabela 10).

Tabela 10 - Dimensão Cultural

Itens Significância

Ao se estabelecer em uma região, a empresa deve propor soluções adaptadas para aquele

ecossistema. 0,324

Práticas de incentivo à pluralidade cultural. 0,429

Respeito à formação cultural comunitária. 0,755

Realização e apoio a eventos que valorizem a cultura local. 0,809

*** significante a 1%; ** significante a 5%; * significante a 10%

Fonte: Elaborada pelo autor.

A dimensão cultural apresentou maior alinhamento entre as partes. Essa dimensão deve

ser bastante considerada, sobretudo pelo fenômeno causado pela globalização, em que há uma

tendência de se estabelecerem padrões culturais universais. O respeito à formação cultural

comunitária, conceito defendido por Sachs (2012), é também uma preocupação dos públicos

pesquisados. Crescer, muitas vezes, significa ampliar sua área de atuação, como no caso da

cooperativa estudada, por exemplo, que saiu de quatro unidades comerciais, em 2009, para 13,

em 2019. Ou seja, ampliou consideravelmente sua área de atuação, atuando hoje em cerca de 60

cidades que possuem culturas diferentes. Também ficou entendido que a pluralidade cultural traz

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54

benefícios quanto à ampliação de debates e também novos pensamentos nas empresas. A cultura

ainda é vertente de projetos e ações realizadas pelas instituições, inclusive dentre os inúmeros

projetos que a Coocafé realiza ou apoia, muitos deles voltados para o incentivo à cultura local,

como Coocafest, Concurso Sabores do Café, Concurso Cultural Jingle Coocafé, Festas Regionais,

dentre outros.

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55

5 CONCLUSÃO

5.1 Considerações iniciais

A conclusão está dividida em duas partes. No primeiro momento são apresentados os

principais resultados obtidos com esta pesquisa. Na sequência, são discutidas as contribuições

para a teoria, contribuições práticas e limitações.

5.2 Principais resultados

Através do estudo, é possível identificar divergências na avaliação da sustentabilidade

pelos players que atuam na cafeicultura. Foram pesquisados os grupos cooperados do conselho

consultivo, alta gestão da cooperativa e empresas multinacionais que atuam na cafeicultura. Cabe

ressaltar que dentre as 5 dimensões avaliadas – Econômica, Social, Ambiental/Ecológica,

Geográfica e Cultural –, por meio de perguntas específicas para cada uma deles, ficou evidente

uma certa preocupação com o desenvolvimento sustentável por todos os públicos, uma vez que

as médias das respostas quase sempre estiveram acima de 4, em uma escala de 1 a 5. Quanto às

divergências, a maior entre os grupos cooperados e empresas, significante a 5%, ficou na

dimensão geográfica, com a pergunta relacionada às ameaças causadas pela concentração da

população em áreas metropolitanas. Esse mesmo par (cooperados e empresas) apresentou outra

divergência, porém significante a 10%, na dimensão econômica, quanto à avaliação de que

alguma perda de recursos é inevitável, mas isso pode ser compensado pelo aumento de capital.

Na dimentão ambiental/ecológica, houve divergência significante a 10% entre alta gestão e

empresas no que diz respeito à adequação de produtos e processos às especificações ecológicas.

Esse mesmo par, alta gestão e empresas, apresentou outras duas divergências. A primeira,

significante a 5%, está na dimensão social e refere-se à avaliação de que o modelo cooperativista

é uma das principais estratégias para o enfrentamento de uma economia por natureza excludente,

identificada como a globalização. Os resultados apresentam, em grande parte dos momentos,

alinhamento dos públicos pesquisados quanto à sustentabilidade em geral.

É possível identificar ainda um amadurecimento por parte do setor cooperativista quanto

à interpretação da sustentabilidade. O único par que não apresentou divergências foi alta gestão

da cooperativa e cooperados, o que significa um alinhamento entre cooperativa e cooperados,

fruto dos trabalhos e da estratégia adotada pela Coocafé. Empreendimentos cooperativos têm se

Page 60: A SUSTENTABILIDADE NA CAFEICULTURA: um estudo sobre a ...

56

destacado no mercado, o que traz uma nova visão, considerada por autores como mais mercantil.

Wang et al. (2012) definem que

essas novas taxonomias cooperativas, entendidas também como modelos de negócios, aparentemente

sobrepujaram muito mais as variáveis econômicas do que variáveis políticas e/ou sociais. A perspectiva

adotada é que a vitalidade econômica do negócio cooperativo, entendida principalmente por seus níveis de

competitividade, propiciaria ao empreendimento condições de garantir seu papel social, apregoado pela

doutrina cooperativista.

Tal definição pode ser percebida, por exemplo, quando a alta gestão da cooperativa

entende a dimensão econômica como a que merece menor peso. Pela própria atuação da Coocafé,

na qual grande parte dos resultados (sobras) são destinados a investimentos em projetos que visam

beneficiar o coletivo, percebe-se uma maior valorização da cooperativa para aspectos além do

econômico. Assim sendo, os resultados deste estudo comprovam isso, uma vez que é possível

perceber que o corpo diretivo e executivo da Coocafé tem valorizado aspectos relacionados a

questões culturais, geográficas e ambientais. Isso é reflexo do forte crescimento ao qual a

cooperativa foi submetida, evoluindo não só em questões relacionadas à gestão como também a

questões ligadas ao relacionamento com os cooperados e a comunidade, comprovados pelas

premiações conquistadas pela cooperativa: Prêmio Somos Coop, o principal do cooperativismo

brasileiro, nas categorias Comunicação e Difusão do Cooperativismo (2016) e Prêmio Excelência

em Gestão (2017 e 2019), ambos bienais com realização do Sistema OCB-SESCOOP Nacional,

sendo o último com correalização da Fundação Nacional da Qualidade (FNQ).

Já para os cooperados, as dimensões geográfica e econômica ainda são as de maior peso.

Isso vai, de certa forma, ao encontro ao que defendem Puusa, Mönkkönen and Varis (2013),

quando os autores “percebem que as cooperativas têm invariavelmente assimilado tendências

capitalistas”. A visão dos cooperados está alinhada ainda com Enke (1945) e Bialoskorski Neto

(2008), que definem o cooperativismo como um empreendimento “cujo caráter econômico

deveria ser o norte principal”. Essa visão econômica faz parte do segmento cooperativista e pode

ser vista até como uma evolução e uma oportunidade, pois, através do econômico, é possível

realizar o social. Conforme percebido por Centner (1988), Michels (2000) e Planas e Valls-

Junyent (2011): “o empreendimento cooperativo, a partir dos cenários traçados por essa

perspectiva epistemológica, estaria em um contexto que funcionaria aparentemente como um

pêndulo, ora defendido como um negócio a enfatizar o aspecto social”. Mas essa dicotomia entre

o econômico e o social não é recente; Hogeland (2006) externa que a disputa entre o caráter social

e o econômico tem raízes na própria história de surgimento do movimento cooperativo.

Page 61: A SUSTENTABILIDADE NA CAFEICULTURA: um estudo sobre a ...

57

Quanto às empresas pesquisadas, elas entendem que a sustentabilidade possui relação

direta com os resultados financeiros. Ao se avaliarem as questões, o maior peso dado foi quanto

a conciliar conservação da natureza e desenvolvimento. E como menor avaliação nas questões,

estabeleceu-se a abrangência dos ganhos para grande parte da sociedade. No que diz respeito à

avaliação das dimensões, os representantes das multinacionais classificaram os aspectos culturais,

geográficos e sociais como mais relevantes.

No contexto geral, percebe-se uma preocupação com o futuro no que diz respeito à

qualidade de vida das novas gerações, quesito com maior nota quando relacionado à preocupação

com o êxodo rural, o que compromete o futuro das propriedades agrícolas. Também cabe destacar

o aspecto que diz respeito a alinhar conservação da natureza e desenvolvimento, avaliado por

todos com nota superior a 4,5. Esses resultados comprovam que os grupos estão preocupados e

alinhados com a sustentabilidade em sua essência, já destacada por Brundtland citado por Scharf

(2004, p.19): “Sustentabilidade é a forma como as atuais gerações satisfazem as suas necessidades

sem, no entanto, comprometer a capacidade de gerações futuras satisfazerem as suas próprias

necessidades”.

Percebe-se ainda que existem dúvidas no que diz respeito a ganhos com certificação,

tendo uma avaliação baixa por parte da gestão da cooperativa; abrangência da sociedade, com

avaliação mais baixa pelas empresas, indicadores de combate à poluição, tendo uma maior

preocupação por parte do grupo gestor da cooperativa; concentração em áreas metropolitanas,

sendo um tema de menor preocupação das empresas; e a disposição do consumidor final em pagar

mais por cafés com apelo sustentável – esse aspecto apresentou maior pontuação pelos

cooperados com distorções pelas empresas e pela cooperativa.

Após análise das respostas, é possível afirmar que os resultados responderam à questão

central do estudo, pois foram identificadas as divergências na avaliação da sustentabilidade pelos

players que atuam na cafeicultura. Através das pesquisas realizadas no referencial teórico,

percebe-se a evolução do tema sustentabilidade e como ele está diretamente relacionado ao

cooperativismo e à agricultura familiar. Também foi possível comparar os principais pontos de

convergência e divergência quanto às avaliações de cada público.

Por fim, serão estabelecidas diretrizes de trabalho para cada público, a partir dos

resultados obtidos no estudo.

Page 62: A SUSTENTABILIDADE NA CAFEICULTURA: um estudo sobre a ...

58

5.3 Contribuições para a teoria, contribuições práticas e limitações

O estudo constatou o quanto é importante haver um alinhamento quanto à sustentabilidade

entre as partes interessadas de uma empresa, sobretudo quando se trata de uma cooperativa, diante

dos diferenciais desse negócio. Como ressaltam Levi and Davis (2008), há uma considerável

despersonificação no âmbito do negócio cooperativo, o que invariavelmente torna o processo de

gestão extremamente complexo.

Ainda no que diz respeito às inúmeras abordagens e aos pontos divergentes encontrados

nos resultados, é importante que a empresa defina de forma clara como pretende tratar a

sustentabilidade, como defendem van Marrewijk and Werre (2003): cada organização deveria

escolher sua específica ambição e abordagem com respeito à sua sustentabilidade, de maneira

que os objetivos e os intentos organizacionais sejam unidos aos processos de planejamento

estratégico, por meio de decisões que apresentem respostas apropriadas para as circunstâncias

que circundam o contexto sobre o qual a gestão organizacional acontece.

Pelos resultados obtidos, torna-se necessário haver um alinhamento junto ao corpo

diretivo e executivo da cooperativa quanto à sustentabilidade, estabelecendo um paralelo entre

conceitos e ações já desenvolvidas pela Coocafé em cada dimensão. Também há urgência quanto

ao estabelecimento de indicadores voltados para a sustentabilidade. Quanto aos cooperados, é

importante que se mantenham os projetos e as ações e que se definam parâmetros, a partir dos

resultados, para o desenvolvimento ou apoio aos novos. Quanto às empresas, é importante uma

maior divulgação no que diz respeito ao cooperativismo e também à realização de convites para

que elas possam apoiar e participar mais dos projetos realizados pela cooperativa.

O questionário pode ainda ser utilizado por outras empresas, sobretudo do segmento

cooperativista, que queiram avaliar como suas partes interessadas avaliam a sustentabilidade.

O estudo limitou-se a uma cooperativa com públicos que estão relacionados a ela.

Quanto aos cooperados, foi estabelecido um grupo com maior facilidade de acesso, tendo em

vista a grande abrangência da Coocafé.

O pesquisador, embora tenha se colocado à disposição para esclarecimento de dúvidas,

não foi acionado pelas empresas.

Os resultados foram analisados apenas por grupos, não sendo avaliados pontos de

convergência e de divergência dentro do mesmo público.

Assim, trabalhos futuros podem ser estendidos ao consumidor final e a mais

cooperativas, usando-se comparativos regionais com análises, inclusive, dentro do próprio

grupo. Podem-se também abordar aspectos relacionados a inovações tecnológicas, sobretudo

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na agricultura, como Rockström et al. (2015) destacaram: “propomos que o mundo viva dentro

dos limites planetários através da implantação de novas tecnologias sustentáveis e novas regras

globais”.

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