A SUSTENTABILIDADE NA CAFEICULTURA: um estudo sobre a ...
Transcript of A SUSTENTABILIDADE NA CAFEICULTURA: um estudo sobre a ...
FUNDAÇÃO DOM CABRAL
Programa de Mestrado Profissional em Administração - MPA
Luiz Gustavo Leite Souza
A SUSTENTABILIDADE NA CAFEICULTURA:
um estudo sobre a relação de uma cooperativa de cafeicultores com o mercado
Nova Lima
2019
Luiz Gustavo Leite Souza
A SUSTENTABILIDADE NA CAFEICULTURA:
um estudo sobre a relação de uma cooperativa de cafeicultores com o mercado
Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado
Profissional em Administração (MPA) da Fundação
Dom Cabral como requisito parcial à obtenção do
título de Mestre em Administração.
Área de concentração: Sustentabilidade
Linha de Pesquisa: Estratégia
Orientador: Prof. Dr. Hugo Ferreira Braga
Tadeu
Nova Lima
2019
AGRADECIMENTOS
Reconhecer quem me apoiou nesta jornada é muito importante. Porém, este espaço
torna-se pequeno, pois só consegui chegar até aqui graças a muitas pessoas, desde o dia em que
decidi fazer um mestrado na Fundação Dom Cabral, após me tornar gestor PAEX e participar
de um treinamento com a Profª. Dra. Rosileia Milagres, no Espírito Santo (ES). Isso só foi
possível pelo apoio que tive da cooperativa na qual trabalho, que me despertou e me fez
entender que uma empresa deve ir muito além do campo financeiro. Então, agradeço a todos da
Coocafé.
Também devo um agradecimento especial à DVF, associada da FDC, que levou a
Fundação a várias pequenas e médias cooperativas agropecuárias do ES e a nós de Minas
Gerais, que temos dois corações. Pelas reuniões com o Grupo de Desenvolvimento Estratégico,
percebi a oportunidade de trabalhar melhor esse conceito de sustentabilidade, então devo um
agradecimento especial a cada colega de trabalho, em especial ao superintendente
Administrativo Financeiro Luciano Fonseca, ao presidente Fernando Cerqueira e ao diretor de
Comercialização e Produção Pedro Araujo.
Aprendi muito com cada professor e com todos os colegas do Mestrado Profissional em
Administração (MPA). Também devo um agradecimento aos meus colegas professores e alunos
do Unifacig, onde tenho o prazer de estar desde 2012. Ainda no campo acadêmico, é mais do
que necessário reconhecer o papel fundamental que meu orientador, Prof. Dr. Hugo Tadeu,
desempenhou, seja nas cobranças para cumprir os prazos, seja nos direcionamentos. Agradeço
ainda aos docentes da banca, Prof. Dr. Jersone Tasso Moreira Silva e Prof. Dr. Rodrigo Baroni
de Carvalho, que tiveram papel crucial no desenvolvimento deste estudo.
Dedico este trabalho a cada família cafeicultora e também à minha família, que tornou
possível este sonho e que sempre esteve comigo em todos os momentos, sobretudo meus pais,
Sebastião Luiz de Souza e Maria do Carmo Leite Souza, e minha irmã, Larissa Leite Souza.
Espero, sinceramente, que todos os citados direta e indiretamente – e também os demais
que em algum momento contribuíram para que este estudo fosse realizado – entendam que estão
fazendo parte de vários sonhos, pois a intenção com este trabalho vai além da titulação. Talvez
de forma pretensiosa, mas com a melhor das intenções, sempre entendi que vale a pena investir
na comunidade. Esse deveria ser o lema de qualquer empreendimento. Portanto, se este trabalho
contribuir para a melhoria da qualidade de vida de, pelo menos, uma comunidade, o objetivo
maior foi atingido.
Saudações cooperativistas!
RESUMO
Este estudo teve como objetivo identificar divergências na avaliação da sustentabilidade pelos
players que atuam na cafeicultura. A dissertação está dividida em cinco capítulos: no primeiro,
o tema sustentabilidade é apresentado; no segundo, é feita a relação do tema à agricultura e ao
cooperativismo. No terceiro capítulo, apresentam-se a metodologia utilizada bem como a
justificativa de sua escolha. Detalham-se ainda os objetivos, os procedimentos e instrumento
para a coleta de dados e as fases da pesquisa. Para atingimento dos objetivos, foi realizado um
estudo de caso em uma cooperativa da agricultura familiar, na qual se identificaram as
principais partes interessadas, suas ações e o contexto no qual a cooperativa está inserida. A
partir desse momento, foi feita a coleta de dados através da aplicação de um questionário on-
line (e-survey) junto aos seguintes públicos: alta gestão, formado por conselho de
administração, diretoria, superintendência e executivos responsáveis pelo planejamento
estratégico; cooperados, representados pelo conselho consultivo; e empresas multinacionais
que possuem relações comerciais e institucionais com a cooperativa. O questionário usou como
base as cinco principais dimensões da sustentabilidade, estabelecidas por Ignacy Sachs,
considerado precursor do Desenvolvimento Sustentável: econômica, social,
ecológica/ambiental, espacial/geográfica e cultural. O capítulo quatro traz a descrição dos dados
obtidos no estudo. É realizada uma análise estatística, e, ao confrontar os resultados de cada
grupo, foi possível identificar pontos de convergência e divergência quanto às avaliações.
Houve divergências entre cooperados do conselho consultivo e empresas nas dimensões
econômica e geográfica; e alta gestão da cooperativa e empresas nas dimensões social e
ecológica. No quinto capítulo, apresentam-se as conclusões deste trabalho, além do
detalhamento das suas implicações gerais, suas limitações e as sugestões para pesquisas
posteriores.
Palavras-chave: Sustentabilidade. Agricultura familiar. Cooperativismo. Certificações.
Indicadores de Sustentabilidade.
ABSTRACT
The objective of this study was to identify divergences in the sustainability assessment by
coffee players. The dissertation is divided into five chapters. Firstly, the theme sustainability is
presented, and then the theme is related to agriculture and cooperativism. The following is the
methodology used as well as the justification of its choice. It also details the objectives,
procedures and instrument for data collection and the research phases. To achieve the
objectives, a case study was conducted in a family farming cooperative, in which the main
stakeholders, their actions and the context in which the cooperative is inserted were identified.
From then on, data were collected through the application of an online survey (e-survey) to the
following audiences: senior management, consisting of the board of directors, the board of
directors, the superintendency and executives responsible for strategic planning; members,
represented by the advisory board; and multinational companies that have commercial and
institutional relations with the cooperative. The questionnaire was based on the five main
dimensions of sustainability established by Ignacy Sachs, considered a precursor to sustainable
development: economic, social, ecological / environmental, spatial / geographical and cultural.
The following chapter gives a description of the data obtained in the study. A statistical analysis
is performed, and by comparing the results of each group, it was possible to identify points of
convergence and divergence regarding the evaluations. There were disagreements between
Advisory Board Members and Companies in the economic and geographical dimensions; and
Senior Management of the Cooperative and Companies in the social and ecological dimensions.
The fifth chapter presents the conclusions of this paper, as well as the details of its general
implications, limitations and suggestions for further research.
Keywords: Sustainability. Family farming. Cooperativism. Certifications Sustainability
Indicators.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 – Mapa Estratégico da Cooperativa ...................................................................... 16
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1 - População ............................................................................................................. 40
Gráfico 2 - Amostra ................................................................................................................ 44
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 - Visão, Missão e Valores ...................................................................................... 15
Quadro 2 - Desenvolvimento Sustentável - Componentes e objetivos de cada um dos
cinco pilares do Ecodesenvolvimento .................................................................................... 18
Quadro 3 - Resumo dos marcos, perspectiva histórica e cronológica ............................... 20
Quadro 4 – Atributos do produto ......................................................................................... 23
Quadro 5 – Constructos, perguntas, autores ....................................................................... 36
Quadro 6 – Caracterização da pesquisa ............................................................................... 42
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - Alfa de Cronbach das dimensões ........................................................................ 45
Tabela 2 - Dimensão Econômica ........................................................................................... 46
Tabela 3 - Teste Bonferroni – “Alguma perda de recursos é inevitável, mas isso
pode ser compensado pelo aumento de capital” .................................................................. 47
Tabela 4 - Dimensão Social .................................................................................................... 48
Tabela 5 - Teste Bonferroni – “O modelo cooperativista como uma das principais
estratégias para o enfrentamento de uma economia por natureza excludente,
identificada como a globalização” ......................................................................................... 49
Tabela 6 - Dimensão Ecológica .............................................................................................. 50
Tabela 7 - Teste Bonferroni – “Adequação de produtos e processos às especificações
ecológicas” ............................................................................................................................... 51
Tabela 8 - Dimensão Geográfica ........................................................................................... 52
Tabela 9 - Teste Bonferroni – “Concentração da população em áreas
metropolitanas é uma ameaça” ............................................................................................. 52
Tabela 10 - Dimensão Cultural ............................................................................................. 53
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
3P People, Planet e Profit
ACI Aliança Cooperativa Internacional
CCI Câmara de Comércio Internacional
COOCAFÉ Cooperativa dos Cafeicultores da Região de Lajinha Ltda.
COOPCEL Cooperativa Cultural e Educacional da Região de Lajinha Ltda.
EF Ecological Footprint
ESI Environmental Sustainability Index
FDC Fundação Dom Cabral
FLO Fair Trade Labelling
FTSE4 Good Footsie for Good
FNQ Fundação Nacional da Qualidade
GDE Grupo de Desenvolvimento Estratégico
GRI Global Reporting Initiative
ICO-2 Índice Carbono Eficiente
IDH Índice de Desenvolvimento Humano
IGC Índice de Ações com Governança Corporativa Diferenciada
IGCT Índice de Ações com Governança Corporativa Diferenciada Trade
ITAG Índice de Ações com Tag Along Diferenciado
ONGs Organizações Não Governamentais
ONU Organização das Nações Unidas
PAEX Programa Parceiros para a Excelência
PNUD Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento Humano
PPL Pessoas, Planeta e Lucro
PRONAF Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar
SCOOB CREDICAF Cooperativa de Crédito do Leste de Minas Ltda.
TBL Triple Bottom Line
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 11
1.1 Considerações iniciais ...................................................................................................... 11
1.2 Problema da pesquisa ....................................................................................................... 13
1.3 Justificativa ....................................................................................................................... 14
1.4 Objetivo geral do trabalho ............................................................................................... 16
1.5 Objetivos específicos ......................................................................................................... 16
2 REFERENCIAL TEÓRICO .............................................................................................. 17
2.1 Considerações iniciais ...................................................................................................... 17
2.2 Sustentabilidade ................................................................................................................ 17
2.3 Agricultura familiar e cooperativismo ........................................................................... 23
2.4 Certificações e sustentabilidade ...................................................................................... 27
2.5 Indicadores ........................................................................................................................ 29
2.6 Considerações finais ......................................................................................................... 32
3 METODOLOGIA ................................................................................................................ 34
3.1 Caracterização da pesquisa ............................................................................................. 34
3.1.1 Abordagem ...................................................................................................................... 34
3.1.2 Objetivos .......................................................................................................................... 35
3.1.3 Procedimentos ................................................................................................................. 35
3.1.4 Instrumento de coleta de dados ...................................................................................... 36
3.1.5 Universo da Amostra ...................................................................................................... 39
3.1.6 Fases da pesquisa ........................................................................................................... 41
3.1.7 Síntese da metodologia da pesquisa ............................................................................... 41
4 ANÁLISE DE DADOS ........................................................................................................ 43
4.1 Análise descritiva .............................................................................................................. 43
4.2 Análise de consistência interna e de conteúdo ............................................................... 44
4.3 Análise não paramétrica .................................................................................................. 45
5 CONCLUSÃO ...................................................................................................................... 55
5.1 Considerações iniciais ...................................................................................................... 55
5.2 Principais resultados ........................................................................................................ 55
5.3 Contribuições para a teoria, contribuições práticas e limitações ................................. 58
REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 60
APÊNDICE A – Questionário aplicado ................................................................................ 69
11
1 INTRODUÇÃO
Este capítulo contextualiza o tema e apresenta o problema da pesquisa, as justificativas
para a escolha do tema e os objetivos geral e específicos desta dissertação de forma concisa,
objetivando deixar clara cada uma dessas partes.
1.1 Considerações iniciais
O estudo foi motivado, inicialmente, pela relevância, cada vez maior, que o tema
sustentabilidade adquire, sobretudo no mundo corporativo. De acordo com Dyllick and
Hockerts (2002), a sustentabilidade tornou-se o mantra do século XXI por agregar promessas
de evolução social em um mundo mais justo e mais rico, dentro do qual o meio ambiente e as
conquistas culturais deveriam ser preservadas para as gerações futuras.
Embora o tema tenha ganhado força a partir do século XXI, alguns estudos já apontavam
uma tendência quanto às exigências junto às empresas. Drucker (1946) observou que, sob
qualquer circunstância, o ser humano está se movendo no sentido de exigir que nossas
instituições tomem responsabilidade além de seu desempenho próprio. Ressalta-se que o
conceito de Ecodesenvolvimento foi introduzido por Maurice Strong, Secretário da
Conferência de Estocolmo (Raynaut & Zanoni, 1993), e foi largamente difundido por Ingacy
Sachs, a partir de 1974 (Godard, 1991).
Mas o tema ganhou dimensões globais quando a Organização das Nações Unidas
(ONU) criou uma comissão para realizar um estudo dos problemas globais de ambiente e
desenvolvimento. Em 1987, sob a coordenação da primeira ministra da Noruega, Gro Harlem
Brundtland, essa comissão publicou o Relatório Brundtland "Our Commom Future" (Nosso
Futuro Comum), no qual então apareceu a definição: "sustentável é o desenvolvimento que
satisfaz as necessidades presentes, sem comprometer a capacidade das gerações futuras de
suprir suas próprias necessidades". Essa dinâmica empresarial passou a atingir, de fato, as
instituições nos anos 90, quando John Elkington, cofundador da organização não
governamental internacional SustainAbility, criou o conceito do tripé da sustentabilidade,
conhecido como triple bottom line: people, planet, profit – pessoas, planeta e lucro (Elkington,
1998).
Robinson (2000) observa que, com o advento do paradigma do desenvolvimento
sustentável no início dos anos 1980, as organizações começaram a aprimorar suas visões
puramente econômicas por meio de ajustes estratégicos que se relacionariam com as pressões
12
ambientais e as transformações sociais cada vez mais constantes. Para Jamali (2006), os anos
1990 testemunharam uma nova modificação paradigmática inspirada pela apreciação social
sobre o fato de as empresas optarem por – em vez de realizarem uma simples gestão ambiental
técnica – assumir a responsabilidade de desenvolverem métodos de gestão comprovadamente
sustentáveis.
Cabe ressaltar ainda que o tema possui uma forte ligação com a agricultura.
Ruscheninsky (2004) reforça que a sustentabilidade é um termo que tem origem na agricultura,
sendo uma palavra dinâmica, que visa manter a capacidade de reposição de uma população,
isto é, manter sua biodiversidade sem perdas para o funcionamento do ecossistema – a longo
prazo – para possibilitar sua sobrevivência e continuidade como espécie. Para Altiere (1983),
sustentabilidade agrícola é a capacidade de um agroecossistema de manter a produção através
do tempo na presença de repetidas restrições ecológicas e pressões socioeconômicas.
Quando se trata do setor cooperativista, a sustentabilidade torna-se ainda mais relevante,
pois uma cooperativa é uma sociedade de pessoas. Assim sendo, este estudo terá como base
uma cooperativa de cafeicultores que trabalham em regime de agricultura familiar. Com o
dinamismo do mercado e a concorrência cada vez mais acirrada, é importante identificar a
interpretação do tema e suas possíveis contribuições para a atuação dessa cooperativa no
mercado, uma vez que, mesmo com a evolução dos conceitos ao longo dos anos, o tema
sustentabilidade ainda gera inúmeros debates. Alguns autores, como Montaño (2002) e Cabette
(2004), acham o desenvolvimento sustentável algo utópico, não acreditando nem mesmo no seu
significado. Já outros, como Cavalcanti (2003), Bruseke (2003), Leonardi (2003), Vecchiati
(2004) e Leff (2006) não visualizam esse novo modelo de desenvolvimento com as propostas
éticas e econômicas da sociedade atual, crendo que isso será difícil, não impossível.
De qualquer forma, o assunto tem entrado na pauta das empresas e vem evoluindo ao
longo dos anos. A pesquisa "Estágios da Sustentabilidade Corporativa no Brasil” (Spitzeck,
Qazi, Bachetti, & Borges, 2016), realizada pelo Núcleo de Sustentabilidade da Fundação Dom
Cabral, apresenta cinco estágios para o assunto: Elementar, Engajado, Inovador, Integrado e
Transformador. Para cada estágio, há diferentes comportamentos empresariais. Neste estudo,
após pesquisar 465 empresas, conclui-se:
O tema entrou na agenda dos Conselhos de Administração, representado pelo aumento de 4% em
2012 para 63% em 2016, e são lideradas pelos CEO´s, tendo o engajamento evoluído de 51% em
2014 para 78% em 2016. Em comparação às pesquisas anteriores, o estágio da liderança melhorou de
engajado a inovador. Parte dessa mudança vem de um novo entendimento, para 85% dos respondentes, de
que a sustentabilidade traz uma contribuição concreta para o resultado líquido da empresa.
13
Assim como as empresas passam por transformações, o consumidor também vem
mudando. A população mundial cresceu e com ela uma ética de consumo, além de as
transformações ambientais induzidas pelo homem ocorrerem numa escala maior e mais severa
de ordem material, espiritual ou estética jamais vista na história da humanidade (Harvey, 2004).
Essa preocupação para além dos aspectos econômicos sempre fez parte do contexto
cooperativista, como afirma Rios (2006): o mais importante do cooperativismo não está
atrelado a ganhos econômicos e sim aos ganhos sociais.
Para fazer o link entre a sustentabilidade, o cooperativismo e a agricultura familiar, este
estudo terá como base a Cooperativa dos Cafeicultores da Região de Lajinha Ltda. (Coocafé),
fundada em 1979, composta hoje por cerca de 9.500 cooperados, dos quais 95% trabalham em
regime de agricultura familiar. A cooperativa atua em 60 municípios, das Matas de Minas e
Montanhas do Espírito Santo, que dependem quase que exclusivamente da cultura do café. A
preocupação com a sustentabilidade sempre esteve presente na história da cooperativa, mesmo
que sem uma metodologia e planejamento a longo prazo. Por exemplo, a Coocafé criou, em
1988, a Cooperativa de Crédito do Leste de Minas Ltda. (Sicoob Credicaf), contribuindo
diretamente com a assistência financeira aos seus cooperados. Também preocupada com o
futuro e com a precoce evasão das crianças que procuravam um estudo de qualidade em cidades
distantes, a Coocafé fundou também, em 1998, a Cooperativa Cultural e Educacional da Região
de Lajinha Ltda. (Coopcel). Ao longo dos anos, a cooperativa se desenvolveu
consideravelmente, saindo de R$ 60 milhões de faturamento, em 2005, para R$ 530 milhões
em 2018, aumentando de forma significante número de colaboradores, geração de renda e de
partes interessadas, com uma filosofia pautada no relacionamento com os cooperados e com a
comunidade, Ainda hoje, a Coocafé, através de ações próprias e de parcerias com diversas
instituições, realiza dezenas de projetos e ações de sustentabilidade, impactando milhares de
pessoas de centenas de comunidades anualmente.
1.2 Problema da pesquisa
Esse debate acerca da sustentabilidade não gerou consenso no ambiente corporativo, até
pela amplitude do tema. Redclift (1987) e Goodman e Redcliff (1991) observam que o conceito
de agricultura sustentável abrange um amplo leque de visões, refletindo o conflito de interesses
existentes na sociedade. Congrega desde uma maioria, que vê a possibilidade de uma simples
adequação do atual sistema de produção, até aqueles que veem a possibilidade de promover
mudanças estruturais – incluindo os aspectos sociais, econômicos e ambientais – em todo o
14
sistema. De acordo com van Marrewijk and Werre (2003), cada organização deveria escolher
sua específica ambição e abordagem com respeito à sua sustentabilidade, de maneira que os
objetivos e os intentos organizacionais sejam unidos aos processos de planejamento estratégico,
por meio de decisões que apresentem respostas apropriadas para as circunstâncias que
circundam o contexto sobre o qual a gestão organizacional acontece. Olde et al. ((2016)
destacam a falta de consenso entre os especialistas sobre a melhor forma de medir a
sustentabilidade agrícola.
Diante disso, a questão que esta pesquisa pretende identificar é: Há divergências na
avaliação da sustentabilidade pelos players que atuam na cafeicultura?
1.3 Justificativa
Em decorrência dessa nova dinâmica, o ambiente corporativo tem sido impactado nos
mais diversos níveis e setores. Para Rockström, Sachs, Öhman and Schmidt-Traub (2013), o
desafio político é criar uma nova estrutura global – tanto na forma de metas globais como regras
– para evitar uma disputa de todos contra todos. Isto implicará não apenas a formulação de
metas de desenvolvimento sustentável, mas também regras de ação nos tratados e acordos
ambientais, comerciais e tecnológicos. E, como observado, parte dessas regras envolverá a nova
responsabilidade das empresas multinacionais, as principais impulsionadoras da economia
mundial hoje.
Dessa forma, a mudança acaba interferindo também na estratégia da empresa, fazendo
com que conceitos como ética e responsabilidade social sejam fundamentais até mesmo para a
própria viabilidade empresarial.
(...) A crescente atenção à ética e à responsabilidade social corporativa, bem como a ideia de que as
organizações do terceiro milênio precisam ser socialmente responsáveis se quiserem sobreviver no meio
à competição cada vez mais acirrada, fazem parte desses processos profundos de mudança. (...) A
preocupação com a responsabilidade social tornou-se um diferencial fundamental para tornar as
organizações mais produtivas e garantir o respeito do público e, enfim, sua própria viabilidade (Ashley,
2005, p.7).
No momento em que se correlaciona o tema sustentabilidade com uma cooperativa de
cafeicultores localizada em uma região montanhosa, formada por agricultores familiares, torna-
se relevante compreender como as partes interessadas interpretam a sustentabilidade. Dessa
forma, é de suma importância que o estudo analise tanto o lado empresarial, dos executivos e
diretores, quanto o ponto de vista de cooperados e representantes de empresas multinacionais,
que adquirem os cafés produzidos pelos cooperados através da cooperativa.
15
O desenvolvimento sustentável está na essência da cooperativa, que tem, inclusive, em
sua missão “oferecer soluções integradas aos seus cooperados”. Nesse contexto, a cooperativa
oferece o que seu cooperado precisa em todas as fases, desde orientação técnica para o manejo
na lavoura, passando pelos insumos e armazenamento do café, às opções de comercialização
da produção. Esse posicionamento estratégico torna-se uma vantagem sustentável da
cooperativa, que, de certa forma, acaba dificultando para a concorrência.
É possível perceber a relação da sustentabilidade com a ideologia da cooperativa,
traduzida há mais de 10 anos através da declaração de Visão, Missão e Valores (Quadro 1).
Propostas como qualidade de vida, preocupações com o meio ambiente e com a família,
desenvolvimento da comunidade já estavam expressas nessa declaração.
Quadro 1 - Visão, Missão e Valores
Visão Coocafé • Ser reconhecida como uma cooperativa inovadora, comprometida
com o desenvolvimento e líder regional na oferta de bens e serviços
de excelência.
Missão Coocafé
• Oferecer ao associado, dentro dos princípios cooperativistas,
soluções integradas aos seus negócios, por meio de bens e serviços
de excelência, visando à melhoria da qualidade de vida da sua
família, da comunidade e do meio ambiente.
Valores Coocafé • Respeito, ética, transparência e comprometimento.
Fonte: Elaborado pelo autor.
Desde 2015, a cooperativa passou a fazer parte do programa Parceiros para a Excelência
(PAEX) da Fundação Dom Cabral, com foco no desenvolvimento de médias empresas. Com
este trabalho, houve uma revisitação da ideologia e elaboração de um Mapa Estratégico como
orientadores para a cooperativa. Como uma das etapas, estabeleceu-se como Negócio e
Proposta de Valor da Coocafé: “Garantir sustentabilidade à cooperativa, ao cooperado e à
comunidade”.
No Mapa Estratégico (Figura 1), elaborado no segundo semestre de 2015 e, desde então,
revisitado anualmente, percebe-se que a sustentabilidade está em destaque tanto no Negócio
quanto na Proposta de Valor da Coocafé: “Garantir sustentabilidade à cooperativa, do
cooperado e à comunidade”. Durante a elaboração da primeira versão do Mapa, foi definido
ainda pelo Grupo de Desenvolvimento Estratégico (GDE) o acréscimo da perspectiva
socioambiental, que tem como objetivo estratégico avançar na Dimensão Sustentabilidade.
16
Figura 1 – Mapa Estratégico da Cooperativa
Fonte: Elaborada pelo autor.
1.4 Objetivo geral do trabalho
O objetivo principal deste estudo é identificar se há divergências na avaliação da
sustentabilidade pelos players que atuam na cafeicultura.
1.5 Objetivos específicos
São objetivos específicos:
• avaliar a percepção da sustentabilidade em uma amostra composta pela alta gestão de
uma cooperativa, cooperados e representantes de multinacionais do setor cafeeiro;
• identificar a relevância dada pelos públicos às dimensões da sustentabilidade;
• comparar pontos de convergência e divergência pelos públicos pesquisados quanto ao
tema;
• direcionar possíveis ações para cada público pesquisado.
17
2 REFERENCIAL TEÓRICO
2.1 Considerações iniciais
Este referencial teórico apresenta o tema sustentabilidade e como este vem se
desenvolvendo sob diversos aspectos. Também é possível compreender como o assunto se
correlaciona com a cafeicultura e com o cooperativismo. Destacam-se ainda os benefícios
gerados pela adoção de estratégias relacionadas à temática e os principais desafios que dizem
respeito à criação e à compreensão de indicadores de sustentabilidade.
Para facilitar a leitura, o referencial está organizado da seguinte maneira: a primeira
parte trata do conceito sustentabilidade; a segunda relaciona o tema ao assunto agricultura e
cooperativismo; na sequência, o enfoque será dados às certificações e benefícios; e, por
derradeiro, os indicadores de sustentabilidade fecham o referencial.
2.2 Sustentabilidade
Kuhlman and Farrington (2010) destacam que a palavra Nachhaltigkeit (termo alemão
para sustentabilidade) foi usada pela primeira vez com esse significado em 1713. Também é
lembrado que a escassez de recursos é uma preocupação central para estudos com prognósticos
mais pessimistas. Um exemplo famoso é o trabalho de Thomas Malthus, que publicou sua teoria
sobre a fome em massa iminente (devido à incapacidade de terras agrícolas disponíveis para
alimentar uma população em expansão), em 1798. No entanto, o termo sustentabilidade tornou-
se popular a partir do Relatório Brundtland, de 1987.
A sustentabilidade, de acordo com Sachs (1990), constitui-se um conceito dinâmico que
leva em conta as necessidades crescentes das populações num contexto internacional em
constante expansão. Para o autor, a sustentabilidade tem como base cinco dimensões principais,
que são a sustentabilidade social, a econômica, a ecológica, a geográfica e a cultural (Quadro
2). A sustentabilidade social está vinculada a uma melhor distribuição de renda com redução
das diferenças sociais. Já a sustentabilidade econômica está vinculada ao fluxo constante de
inversões públicas e privadas, além da destinação e administração correta dos recursos naturais.
A sustentabilidade ecológica está vinculada ao uso efetivo dos recursos existentes nos diversos
ecossistemas e, como um dos resultados, mínima deterioração ambiental. Já a sustentabilidade
geográfica está ligada a uma espacialização rural-urbana mais equilibrada. A sustentabilidade
18
cultural, por sua vez, procura a realização de mudanças em harmonia com a continuidade
cultural vigente.
Cada dimensão da sustentabilidade evidenciada por Sachs (1990) tem seus componentes
principais e seus objetivos, como pode ser observado no Quadro 2.
Quadro 2 - Desenvolvimento Sustentável - Componentes e objetivos de cada um dos cinco pilares do
Ecodesenvolvimento
DIMENSÃO COMPONENTES PRINCIPAIS OBJETIVOS
SUSTENTABILIDADE
SOCIAL
• Criação de postos de trabalho que
permitam renda individual adequada a
melhor condição de vida e a melhor
qualificação profissional
• Produção de bens dirigida
prioritariamente às necessidades básicas
sociais
Redução das
desigualdades sociais
SUSTENTABILIDADE
ECONÔMICA
• Fluxo permanente de investimentos
públicos e privados (estes últimos com
especial destaque para o
cooperativismo)
• Manejo eficiente dos recursos
• Absorção pela empresa dos custos
ambientais
• Endogeneização: contar com suas
próprias forças
Aumento da
produção e da
riqueza social, sem
dependência externa
SUSTENTABILIDADE
ECOLÓGICA
• Produzir respeitando os ciclos
ecológicos dos ecossistemas
• Prudência no uso de recursos não
renováveis
• Prioridade à produção de biomassa e à
indutrialização de insumos naturais
renováveis
• Redução da intensidade energética e
conservação de energia
• Tecnologias e processos produtivos de
baixo índice de resíduos
• Cuidados ambientais
Qualidade do meio
ambiente e
preservação das
fontes de recursos
energétivos e
naturais para
próximas gerações
SUSTENTABILIDADE
ESPECIAL OU
GEOGRÁFICA
• Produzir respeitando os ciclos
ecológicos dos ecossistemas
• Descentralização espacial (de atividade,
de população)
• Desconcentração - democratização local
e regional do poder
• Relação cidade-campo equilibrada
Evitar excesso de
aglomerações
SUSTENTABILIDADE
CULTURAL
• Soluções adaptadas a cada ecossistema
• Respeito à formação comunitária
Evitar conflitos
culturais com
potencial regressivo Fonte: Adaptado de Montibeller Filho (1993).
19
Em 2002, esse mesmo autor acrescentou mais quatro dimensões de sustentabilidade:
ambiental, territorial (em lugar de geográfica), política nacional e política internacional. A
sustentabilidade ambiental permitiria que ecossistemas naturais realizassem autodepuração. Já
a territorial visa à eliminação de disparidades inter-regionais, à destinação igualitária de
investimentos públicos e à conservação da biodiversidade pelo ecodesenvolvimento. A
sustentabilidade no âmbito das políticas nacionais, por sua vez, passaria por um nível razoável
de coesão social, democracia e capacidade institucional do Estado em implantar um projeto
nacional. Em relação às políticas internacionais, a sustentabilidade passaria pela garantia de paz
assegurada pelo fortalecimento da ONU, controle do sistema financeiro internacional,
verdadeira cooperação científica e diminuição das disparidades sociais entre os hemisférios
norte-sul (Sachs, 2002).
Para a Global Footprint Network (2006), sustentabilidade é uma ideia simples, baseada na
quantificação das taxas de produção e consumo de recursos naturais. Em um mundo sustentável,
a pressão da sociedade sobre a natureza deve estar dentro dos limites desta em responder de
modo equilibrado a essa pressão. Assim, quando as demandas da humanidade por recursos
ecológicos excedem a capacidade da natureza em fornecê-los, surge o denominado excesso
ecológico.
Atualmente, um dos conceitos mais praticados e disseminados diz respeito ao Triple
Bottom Line. De acordo com Oliveira, Medeiros, Terra e Quelhas (2012), o conceito do Triple
Bottom Line surgiu a partir do estudo realizado por Elkington (1998). A sigla em inglês é
conhecida por 3 P (People, Planet e Profit), em português seria PPL (Pessoas, Planeta e Lucro).
Em análise separadamente de cada conceito, tem-se: Econômico, com o propósito de criação
de empreendimentos viáveis, atraentes para os investidores; Ambiental, com o objetivo de
analisar a interação dos processos com o meio ambiente sem prejudicá-lo, e Social, que se
preocupa com a implantação de ações justas para colaboradores, parceiros e sociedade em geral.
Alguns desdobramentos, além de interpretações, do tema são divulgados
constantemente, como o que separa a sustentabilidade fraca da sustentabilidade forte. Kuhlman
and Farrington (2010) destacam a visão polêmica e as provocações do cientista político Robert
Gibson, no que diz respeito às distinções entre desenvolvimento econômico e social, uma vez
que “ganhos materiais não são medidas suficientes ou preservadores do bem-estar humano”.
Nesse contexto, os autores destacam que a questão é: “quanto de nossos recursos naturais
podemos sacrificar? Mais precisamente, devemos colocar duas questões: que recursos devemos
preservar a todo custo, e até que ponto? E, para aqueles que podem ser substituídos pelo capital,
20
quanto capital deve ser criado para compensar a perda de quanto em termos de recursos
naturais?”
A sustentabilidade, então, é uma questão de quais recursos – naturais, qualidade do meio
ambiente, e capital – nós legamos às gerações vindouras. Como vimos, alguma perda de
recursos naturais é inevitável, mas isso pode ser compensado pelo aumento de capital, pelo
menos na opinião de Solow (1997). Dessa forma, entende-se que, para cada questão ambiental,
pode haver argumentos sobre a substituibilidade, caso seja possível a substituição, por exemplo,
um combustível fóssil trata-se de uma fraca sustentabilidade. Caso não seja possível substituir
como uma espécie em extinção, trata-se de uma forte sustentabilidade. Os autores chamam
atenção, na própria conclusão, sobre a dificuldade de se “medir” a sustentabilidade e que,
embora exista um grande corpo teórico sobre o tema, ainda há a necessidade de se esclarecer e
alinhar conceitos. No Quadro 3, encontra-se o resumo dos marcos, perspectiva histórica e
cronológica.
Apesar dos desafios destacados quanto à medição e ao alinhamento de conceitos, a partir
de 1972, foram inúmeros os acontecimentos importantes relacionados à sustentabilidade, o que
contribuiu para uma maior popularidade do tema. Os principais marcos podem ser observados
cronologicamente no Quadro 3.
Quadro 3 - Resumo dos marcos, perspectiva histórica e cronológica
ANO PERSPECTIVAS
1972
Publicação do Relatório do Clube de Roma (The Limits to Growth) sobre riscos globais
dos efeitos da poluição e do esgotamento das fontes de recursos naturais. Conferência
das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento e Meio Ambiente Humano, em
Estocolmo, Suécia, com a participação de 113 países, O conceito de
Ecodesenvolvimento foi apresentado por Ignacy Sachs, considerado precursor do
Desenvolvimento Sustentável.
1975 Elaboração do Segundo Plano Nacional de Desenvolvimento (PND-1975/79), que
definiu prioridades para o controle da poluição industrial.
1980 Em 1980, surge a noção de Ecologia profunda, que coloca o homem como o
componente de sistema ambiental complexo, holístico e unificado.
1983
A ONU criou a Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, que
desenvolveu o paradigma de desenvolvimento sustentável, cujo relatório (Our Common
Future) propunha limitação do crescimento populacional, garantia de alimentação,
preservação da biodiversidade e ecossistemas, diminuição do consumo de energia e
desenvolvimento de tecnologias de fontes energéticas renováveis, aumento da
produção industrial à base de tecnologias adaptadas ecologicamente, controle da
urbanização e integração campo e cidades menores e a satisfação das necessidades
básicas.
(continua)
21
(conclusão)
ANO PERSPECTIVAS
1991
A Câmara de Comércio Internacional (CCI) aprovou a "Diretrizes Ambientais para a
Indústria Mundial", definindo 16 compromissos de gestão ambiental a serem
assumidos pelas empresas, conferindo à indústria responsabilidades econômicas e
sociais nas ações que interferem com o meio ambiente. Essas diretrizes foram acatadas
no Brasil pelo Comitê Nacional da Câmara de Comércio Internacional, tendo-se criado
a Fundação Brasileira para o Desenvolvimento Sustentável.
1992
Realizou-se no Rio de janeiro a ECO-92 (a Conferência das Nações Unidas para o
Meio Ambiente e o Desenvolvimento), na qual foram elaboradas a Carta da Terra
(Declaração do Rio) e a Agenda 21, que reflete o consenso global e o compromisso
político objetivando o desenvolvimento e o compromisso ambiental.
1997
Discutido e negociado em Quioto, no Japão, o Protocolo propõe um calendário pelo
qual os países-membros teriam obrigação de reduzir a emissão de gases do efeito
estufa. Em novembro de 2009, 187 países haviam aderido ao Protocolo.
1999
John Elkington concebeu o Triple Bottom Line (TBL) para ajudar empresas a
entrelaçarem os componentes do desenvolvimento sustentável: prosperidade
econômica, justiça social e proteção ao meio ambiente em suas operações.
2002 Aconteceu, em Johanesburgo, a conferência mundial denominada Rio + dez, onde se
instituiu a iniciativa “Business Action For Sustainable Development”.
2006
O documentário “Uma verdade inconveniente” de Davis Guggenheim (sobre a
militância política de Al Gore a quem rendeu o Nobel da Paz em 2007 e dois Oscar)
cuja mensagem principal (become carbon neutral) se coloca como um novo paradigma
planetário.
2009 Realiza-se em Copenhagen a 15ª Conferência do Clima (COP 15) das Nações Unidas,
evento que reuniu 25 Chefes de Estado.
Fonte: Maria de Lourdes Bacha, Jorgina Santos e Angela Schaun. Adaptado de Zozzoli (2008), Oliveira
Filho (2004), Paula (2008) e Kato (2008).
Giovannucci and Ponte (2005) apresentam algo mais prático, examinando a nova
configuração do mercado através do estudo de caso de iniciativas de sustentabilidade no setor
cafeeiro. Há uma análise sobre normas e padrões governamentais e privados. Segundo os
autores, “normas voluntárias podem ser introduzidas como resposta aos pedidos dos
consumidores, ou como resultado de iniciativas lideradas por Organizações Não
Governamentais (ONGs) ou associações industriais”. Os autores analisam questões
relacionadas aos padrões de sustentabilidade na indústria do café, buscando identificar:
"Eficácia na comunicação e na criação de novos mercados; se incorporam elementos de
interesses coletivos e privados; se é realmente entregue conteúdo sustentável aos seus
beneficiários; e qual é o papel de política pública para lidar com suas deficiências”.
22
Iniciativas voltadas para certificações também são analisadas pelos autores. Por meio
delas, percebe-se que o consumidor final médio nem sempre é impactado por comunicação
relacionada à sustentabilidade, tendo em vista que decide pela compra em supermercados em
alguns segundos e não está disposto a trocar uma marca familiar e pagar mais caro por outra
apenas devido ao "apelo sustentável”. Outra observação:
Iniciativas cafeeiras sustentáveis têm sistemas limitados de monitoramento e avaliação. Muitas vezes,
eles não conseguem documentar de forma consistente e precisa os níveis e a distribuição de benefícios
que se acumulam aos vários atores da cadeia de valor. As mensagens para os consumidores sobre as suas
realizações não são claras. (Giovannucci & Ponte, 2005).
Observa-se, ainda, que, "às vezes, não é esclarecido exatamente quem recebe os
benefícios mais concretos – como remuneração ou prêmios de preço. Esses benefícios podem
ser perdidos ou diluídos ao longo da cadeia de valor, ou entre a administração e os membros de
uma cooperativa” (Giovannucci & Ponte, 2005). Dessa forma, segundo os autores, entende-se
que "os benefícios são subutilizados para fomentar relacionamentos com compradores e para
estimular potenciais parcerias comerciais”. Cabe destacar que, mesmo diante dessas
dificuldades, existe um número crescente de empresas do café adotando padrões
de sustentabilidade.
Giovannucci and Ponte (2005) concluem que:
para que as normas funcionem para os produtores de países em desenvolvimento, quatro fatores devem
ser assegurados: (1) transparência e clareza dos padrões e seus requisitos; (2) participação efetiva de
produtores de países em desenvolvimento em decisões sobre os procedimentos e monitoramento dos
padrões; (3) acesso razoável; (4) compensação pelos esforços exigidos dos produtores para atender e
monitorar padrões.
No que diz respeito ao direcionamento de comunicação para a sustentabilidade, em uma
análise sobre a Cadeia de Valor, observa-se a importância de se focar nos atributos do produto
(Quadro 4), que podem ser classificados dependendo da facilidade com que podem ser medidos
(Jensen, 2002; Reardon, Codron, Busch, & Harris, 2001).
Atributos de pesquisa são aqueles que podem ser verificados na hora da transação (a cor
de um grão de café). Atributos de experiência podem ser avaliados somente após a transação
ocorrer (o gosto do café). Atributos de credibilidade não podem ser objetivamente verificados
através da análise das características físicas do produto e são baseados em confiança.
23
Quadro 4 – Atributos do produto
ATRIBUTOS VERIFICAÇÃO
Atributos de pesquisa Podem ser verificados na hora da transação (a cor de um grão
de café)
Atributos de experiência Podem ser avaliados somente após a transação ocorreur (o
gosto do café)
Atributos de credibilidade
Não podem ser objetivamente verificados através da análise
das características físicas do produto e são baseados em
confiança
Fonte: Adaptado de Jensen (2002) e Reardon et al. (2001).
Esses atributos podem pertencer ao produto em si (aspecto do café, sabor, limpeza,
ausência de manchas) ou aos métodos de produção e processamento, que incluem aspectos
relacionados à autenticidade de origem (denominação geográfica), segurança (resíduos de
pesticida, níveis de toxinas) e condições ambientais e socioeconômicas (orgânico, comércio
justo, cafés cultivados).
Quando se trata de países em desenvolvimento, o café tem um peso muito grande.
Stefano Ponte (2004) destaca esse aspecto:
A análise da cadeia de comercialização do café é particularmente importante na compreensão da
economia por várias razões. Primeiro, mais de 90% da produção de café ocorre em países em
desenvolvimento, enquanto o consumo ocorre principalmente nas economias industrializadas. Esta
produção-padrão de consumo fornece insights sobre as relações Norte-Sul. Em segundo lugar, para a
maioria do mundo pós-Segunda Guerra Mundial, o café tem sido a segunda commodity mais valiosa,
depois do petróleo. Terceiro, tentativas de controlar o comércio internacional de café têm sido realizadas
desde o início do século 20, fazendo do café uma das primeiras commodities “regulamentadas”. Em
quarto lugar, um número de países em desenvolvimento, mesmo aqueles com uma baixa participação no
mercado global de exportação, dependem do café para uma alta proporção de suas exportações. O café é
uma fonte de sustento para milhões de pequenos agricultores e trabalhadores rurais em todo o mundo.
Quinto, os governos dos países produtores historicamente trataram o café como um bem “estratégico”.
2.3 Agricultura familiar e cooperativismo
A sustentabilidade está diretamente relacionada à agricultura, tendo inclusive autores
que defendem que o termo tem origem nesse segmento (agricultura). Há também uma forte
ligação do tema ao cooperativismo pela doutrina e princípios desse modelo de negócio. Pelo
fato de o estudo ser feito em uma cooperativa da agricultura familiar, torna-se fundamental
destacar parte do referencial para esta pesquisa.
Nos anos de 1960, a modernização agrícola afetou bastante a exploração familiar que,
em grande parte, foi excluída de tal processo. O Estado direcionou suas políticas públicas,
24
representadas, sobretudo, pelas políticas de crédito, pesquisa agropecuária e extensão rural para
a grande produção em favor dos agricultores patronais, fator que foi fundamental na
consolidação desse modelo modernizante. A agricultura familiar, por sua vez, enfrentou e ainda
enfrenta dificuldades de acesso às tecnologias e ao capital, diminuindo sua capacidade de
influenciar as decisões públicas, marginalizando-se no aspecto socioeconômico (Guanziroli,
2001). A denominação agricultura familiar é recente na literatura e nos trabalhos científicos
brasileiros. Já foi designada “agricultura camponesa”, “pequena produção”, entre outros
termos, adquirindo força e notoriedade nos anos 1990 pela ação de movimentos sociais
organizados e a partir da criação do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura
Familiar (PRONAF), em 1996, quando passou a ser reconhecida de fato e de direito pelo Estado
(Schneider, 2003). Segundo Oliveira (2007), a agricultura familiar é uma das principais
responsáveis pela manutenção do agricultor no campo e, por conseguinte, da diminuição do
êxodo rural, justamente por sua maior capacidade gerencial, pela sua flexibilidade e, sobretudo,
por sua maior aptidão para a diversificação das culturas. O conceito de agricultura sustentável
vai ainda além, como identificam Singh and Deewan (2019). Para os autores, há muitos
benefícios da agricultura sustentável e, em geral, eles podem ser divididos em benefícios à
saúde humana e benefícios ambientais. Horrigan, Lawrence and Walker (2002) definem que os
sistemas agrícolas sustentáveis baseiam-se em fazendas relativamente pequenas e lucrativas.
Nesse contexto, tem havido uma necessidade cada vez maior de utilização de máquinas,
seja nas grandes ou nas pequenas propriedades. Embora a mecanização na agricultura seja uma
realidade, nem sempre tal fenômeno foi bem absorvido pelo produtor rural. Paiva (1968)
chamava atenção para decisões do produtor de não absorver tecnologias em virtude de o setor
não agrícola apresentar dinamismo insuficiente para gerar demanda ou oferecer fatores a preços
menores, o que ficou conhecido como mecanismo de "autocontrole", que geraria uma dualidade
tecnológica. O mesmo autor afirma ainda que apenas seriam protagonistas de uma agenda de
modernização da agricultura brasileira aqueles que pudessem avaliar as vantagens da adoção
do progresso técnico diante de preços comparativos dos fatores de produção, influenciados pelo
crescimento do setor não agrícola. Alves (1981) enfatiza a pobreza e a desocupação na
agricultura como originadas da ruptura de um suposto pacto existente entre empregador e
empregado. Além disso, chega a afirmar que a mecanização da agricultura teria sido
consequência e não causa do processo migratório rural-urbano.
O modelo de negócio cooperativo se torna ainda mais relevante diante desse cenário. O
cooperativismo é um modelo de economia solidária, que procura maximizar o predomínio do
fator trabalho sobre o fator capital, que pode ser composto por associados, produtores
25
autônomos ou produtores que formam unidades produtivas comuns (Oliveira 2007).
Cooperativismo vem de cooperativa, que, por sua vez, originou-se do termo cooperação, que
“etimologicamente, vem do verbo latino cooperari, de cum e operari, produzir junto, produzir
em conjunto” (Cavalcanti, 2006, p. 11). Cavalcanti (2006) esclarece, ainda, que o
cooperativismo é uma doutrina econômica estruturada para a geração de riquezas por meio do
livre associativismo entre pessoas que, espontaneamente, concordam em criar uma cooperativa,
unidas pelos mesmos ideais e tendo os mesmos objetivos. Segundo Pires e Silva (2004), a
cooperação é uma das principais estratégias para o enfrentamento de uma economia por
natureza excludente, identificada como a globalização. Daí a necessidade de criação de
associações diversas, especialmente cooperativas e empresas da economia solidária, como um
canal importante de organização do produtor e da produção, geração de trabalho e renda,
agregação de valor e comercialização da produção.
Stahl e Schneider (2013) identificam como e por que surgiram as cooperativas.
Segundo eles:
As organizações cooperativas foram criadas por representantes da classe operária no início da deflagração
da revolução industrial capitalista. Então, a classe trabalhadora estava submetida à ganância incontrolável
de empreendedores industriais da época, que os mantinham em 12 a 14 horas contínuas de trabalho diário,
com salários de fome, em condições precárias de saúde e de segurança laboral, sem legislação trabalhista,
previdenciária e nem sindical que os protegesse.
Os autores observam ainda que, nesse contexto, surgem os operários de Rochdale, que
criam uma cooperativa de consumo autônoma, solidária, integralmente sob o seu controle, a ser
gerida democraticamente na base de “uma pessoa, um voto”, algo então inusitado no cenário
econômico, social e político europeu, tanto no processo produtivo quanto na distribuição dos
excedentes gerados.
Com o passar do anos, as cooperativas passam a ocupar um papel cada vez mais
importante no que diz respeito a desenvolvimento e inclusão. Stahl e Schneider (2013) também
fazem uma correlação entre as cooperativas e o que se propõe como desenvolvimento pela
ONU. Ignacy Sachs (2007), em consonância com os postulados éticos propostos pelo Programa
das Nações Unidas para o Desenvolvimento Humano (PNUD) em seus relatórios sobre o tema,
cita três atributos básicos: desenvolvimento das pessoas, aumentando suas oportunidades,
capacidades, potencialidades e direito de escolha; desenvolvimento para as pessoas, garantindo
que seus resultados sejam apropriados equitativamente pela população; e desenvolvimento
pelas pessoas, empoderando-as, isto é, alargando a parcela de poder dos indivíduos e
26
comunidades humanas durante sua participação ativa na definição do processo de
desenvolvimento do qual são sujeitos e beneficiários.
Um grande desafio para as cooperativas diz respeito ao aspecto governança:
Os agricultores são donos, através do investimento na cooperativa e, assim, tornando-se membros e daí
os donos dos ativos da cooperativa. Com isso, os agricultores também ganham o direito único participar
da governança da cooperativa elegendo diretores, bem como ganhando direitos. (Craig, 1993; Hansmann,
1996; Hogeland, 2006; Nourse, 1922).
A cadeia de suprimentos provavelmente enfrentará membros com valores cada vez mais
individualistas da mudança de valor social descrita (Pettersson & Esmer, 2008) e (World Values
Inquérito, WVS, 2014). Hakelius and Hansson (2016) observam que a literatura sobre
governança de cooperativas é extensa (Barbaud-Didier, Henninger, & El Akremi, 2012;
Bijman, Hendrikse, & van Oijen, 2013; Bijman, Hanish, & van der Sangen, 2014; Chadd &
Iliopoulos, 2013, Liang & Hendrikse, 2013; Osterberg & Nilsson, 2009). Inclui aspectos como
ação coletiva, processos decisórios cooperativos, interesses conflitantes dos membros, interesse
dos membros em participar no governo da cooperativa, características dos diretores, papéis e
responsabilidades, confiança, compromisso e satisfação entre os membros.
Outro aspecto relevante nas cooperativas é o grande número e a importância das partes
interessadas. Essa teoria entende as empresas como parte de um sistema social mais amplo,
quais atividades comerciais afetam e são afetadas por outros grupos de stakeholders dentro da
sociedade (Deegan 2002; Freeman 1983). Adicionalmente, Freeman (1983) classificou o
desenvolvimento do conceito de stakeholder em um planejamento corporativo e política de
negócios modelo e um modelo de sustentabilidade da gestão de stakeholders. Nesse sentido, o
reconhecimento da parte interessada requer não apenas a capacidade de atender a suas
necessidades, mas também a uma política de informação que permita visualizar a suposição de
compromissos (Archel 2003).
A literatura de sustentabilidade sobre cooperativas desenvolveu-se significativamente
nos últimos anos e lida com uma ampla gama de tópicos. Portanto, existe um “discurso
cooperativo” voltado para a sustentabilidade, com características especiais ligadas a fatores
históricos, sociais, econômicos e fatos políticos (Carrasco, 2007; Vargas & Vaca, 2005).
A sustentabilidade representa parte integrante dos valores cooperativos (Belhouari,
Buendía, Lapointe, & Tremblay, 2005). Desde a criação da primeira cooperativa de consumo
em Rochdale, na Inglaterra, em 1844, houve a necessidade da criação de normas e/ou regras
que garantissem o funcionamento desse novo tipo de associação. Essas normas, conhecidas
27
como valores cooperativos, sofreram algumas alterações ao longo dos anos. Esses princípios
cooperativos sustentados pela Aliança Cooperativa Internacional (ACI) derivam das ideias
formuladas e instituídas como os Princípios de Rochdale (Benato, 1994). As ideias adotadas
em Rochdale estavam pautadas numa busca social, na qual o homem é o elemento fundamental
da cooperação, prezando pela igualdade, democracia, solidariedade e liberdade (Benato, 1994).
Esses sete princípios sofreram algumas alterações desde 1844, em Rochdale, até 1995, em
Manchester. Os princípios conhecidos como universais do cooperativismo eram, de acordo com
Cançado, Silva Júnior e Pereira (2007, p. 57):
1. Adesão voluntária e livre.
2. Gestão democrática.
3. Participação econômica dos membros.
4. Autonomia e independência.
5. Educação e informação.
6. Intercooperação.
7. Interesse pela comunidade.
2.4 Certificações e sustentabilidade
Quando se trata de sustentabilidade na cafeicultura, um fenômeno diretamente
relacionado são as certificações. O número de certificações na cafeicultura vem evoluindo
consideravelmente, e essas certificações sempre possuem um apelo voltado para a
sustentabilidade.
Segundo Potts, Voora, Lynch, and Mammadova (2014), as vendas de cafés certificados
têm crescido muito desde 2000, em um crescente mercado para cafés sustentáveis, nos quais se
destacam o Brasil e o Vietnã como os maiores produtores de cafés sustentáveis na safra
2011/2012. Outro fator que deve ser considerado está relacionado à imagem transmitida através
de uma certificação. Barra (2006) aponta que a certificação é um mecanismo sinalizador da
qualidade que favorece a redução dos custos de transação e tem sido um vetor fundamental na
promoção do desenvolvimento de melhores práticas de produção e venda de café no Brasil.
A principal certificação na cafeicultura é o Fairtrade (Comércio Justo). O moderno
movimento do Comércio Justo começou no início dos anos 80, quando um padre holandês
divulgou que os produtores de café mexicano das montanhas eram incapazes de receber um
preço que lhes assegurasse um padrão digno (Modelo, 2014). O comércio justo surgiu para
28
resolver as inadequações de mercado em fornecer oportunidades de comércio que aliviam as
várias questões sociais ligadas à pobreza (Haight, 2011).
Para coordenar atividades e elaborar orientações gerais sobre certificações, foram
criadas organizações guarda-chuva, a mais importante delas é a Fair Trade Labelling (FLO). A
FLO monitora os produtores e comerciantes e desclassifica aqueles que não conseguem padrões
exigidos. Em relação ao café, um grupo de produtores (cooperativa, associação de agricultores)
pode ser registrado na FLO se: (1) seus membros são pequenos proprietários; e (2) o grupo é
democraticamente administrado e politicamente independente. A primeira condição é
rigorosamente aplicada pela FLO. O histórico em relação à segunda condição pode ser
questionado em alguns países onde o comércio justo compra café de cooperativas anteriormente
controladas pelo Estado, cuja independência política é duvidosa (Ponte, 2004).
Hoje, os produtos certificados trazem os selos nos próprios rótulos, que têm transmitido
uma imagem positiva aos consumidores. Esses rótulos são familiares e, geralmente, disponíveis
nos EUA, no Canadá (Givens & Jannasch, 1999; Rice & McLean, 1999; Giovannucci, 2001;
Dimitri & Greene, 2002 ), no Japão e em vários países europeus (Giovannucci & Koekoek,
2003). Em muitos desses países, eles emergiram de pequenos nichos de mercados para entrar
nos principais canais de distribuição. No entanto, pesquisas recentes da indústria em larga
escala em 14 importantes mercados sugerem que características específicas das certificações
são confusas para a indústria do café – e especialmente para os consumidores (Giovannucci,
2001; Giovannucci & Koekoek, 2003; Consumers International, 2004).
Sefano Ponte (2004) observa que cafés sustentáveis fornecem retornos positivos para os
operadores do país do consumidor. Eles remuneram um prêmio médio de US$ 1,30/kg para
orgânicos e US$ 1,36/kg para Fairtrade. Esses são prêmios médios pagos por vários operadores
aos seus fornecedores, mas não significa necessariamente que são transferidos para os
produtores em sua totalidade. A pesquisa também sugere que “sustentabilidade” e “qualidade”
não podem ser mantidas isoladamente. O fator mais importante em fazer café sustentável que é
valorizado para as empresas diz respeito à “qualidade especial do sabor” (indicado em quase
92% dos casos), seguido de ética pessoal e crenças sobre comércio justo e meio ambiente.
Curiosamente, cafés sustentáveis não parecem ser orientados para o cliente. A demanda do
cliente foi classificada como importante fator apenas em 50,9% das respostas (Ponte, 2004).
Um estudo mais recente cobrindo 11 países europeus e o Japão (Giovannucci & Koekoek, 2003)
estima que o volume de “café sustentável” nesses países, em 2001, foi de 21.266 toneladas, o
equivalente a 1,1% do volume total de café consumido. Essa é uma estimativa muito maior que
a fornecida para o mercado global de cafés certificados em 2000: 16.634 toneladas
29
(Giovannucci, 2001). O crescimento médio anual estimado de café sustentável para o período
1999-2004 nesses países é de cerca de 10% (Giovannucci & Koekoek, 2003).
Hajjar, Newton, Adsheadd, Bogaerts, Maguire-Rajpaul and Pinto (2019) destacam
ainda o fato de que a
cadeia do café é relativamente curta e simples. Envolve relativamente poucos estágios, locais e atores e é
relativamente fácil de ser rastreada. Em muitos casos, a produção e o comércio são organizados por
cooperativas. Se o mercado de exportação exige a certificação do café, as cooperativas podem ajudar os
agricultores na obtenção da certificação.
2.5 Indicadores
Um dos grandes desafios quando se trata de sustentabilidade é conseguir mensurá-la, ou
seja, medir a sustentabilidade. Mas a partir da evolução e do maior esclarecimento do tema,
têm-se buscado iniciativas para a criação de indicadores voltados para esse fim.
Originados do latim (indicare), os indicadores são utilizados há bastante tempo para
comunicar tendências. Desse modo, os indicadores de sustentabilidade comunicam o progresso
em direção a uma meta de forma simples e objetiva o suficiente para retratarem o mais próximo
da realidade, mas dando ênfase aos fenômenos que tenham ligações entre a ação humana e suas
consequências, isso porque têm a capacidade de abordar diferentes segmentos: social, ambiental
e econômico, de forma conjunta (Bellen, 2005; Kieckhofer, 2005).
Um índice de sustentabilidade deve inicialmente referir-se aos elementos relativos da
sustentabilidade de um sistema (Camino & Müller, 1993) e à explicitação de seus objetivos,
sua base conceitual e seu público usuário (Romeiro, 2004).
Uma das mais importantes contribuições ao uso de indicadores de sustentabilidade foi
dada por Rees (1992) com o desenvolvimento de um índice denominado Pegada Ecológica ou
EF (do inglês Ecological Footprint). A metodologia original consistiu em construir uma matriz
de consumo/uso de terra, considerando cinco categorias principais do consumo (alimento,
moradia, transporte, bens de consumo e serviços) e seis categorias principais do uso da terra. O
objetivo desse índice é calcular a área de terra necessária para a produção e a manutenção de
bens e serviços consumidos por uma determinada comunidade (Wackernagel & Rees, 1996).
Outro índice considerado de grande importância na discussão sobre sustentabilidade de
países é o Índice de Sustentabilidade Ambiental (ESI), do inglês Environmental Sustainability
Index (Samuel-Johnson & Esty, 2000). Esse índice, quando proposto, rapidamente originou
importantes discussões e controvérsias em escala acadêmica e política nos países do mundo
30
inteiro, principalmente porque alguns países como Estados Unidos e Dinamarca, que possuem
uma comprovada participação na poluição do planeta, aparecem com valores muito bons. A
comunidade científica considera o EF e o ESI como os de maior impacto na avaliação da
sustentabilidade de países, isto é, esses índices estão gerando grandes discussões no mundo
todo.
Um dos aspectos críticos de um índice de sustentabilidade é a metodologia adotada,
tanto para sua determinação quanto para sua leitura e interpretação. Independentemente da
escolha, a metodologia deve ser clara e transparente, não deixando dúvidas sobre quais
princípios estão na base do processo. Outro aspecto determinante em uma avaliação ambiental
de um sistema é que não existe a possibilidade de determinar sua sustentabilidade considerando
apenas um indicador ou indicadores que se refiram a somente um aspecto do sistema. A
sustentabilidade é determinada por um conjunto de fatores (econômicos, sociais e ambientais),
e todos devem ser contemplados no cálculo do índice de sustentabilidade através dos
correspondentes indicadores (Bouni, 1996), tal como ocorreu com o Índice de
Desenvolvimento Humano (IDH) (UNDP, 2005).
Segundo Dixon and Clifford (2007), as organizações sustentáveis, particularmente na
divulgação dos relatórios oficiais, buscam demonstrar a aplicabilidade dos valores do Triple
Bottom Line mantendo um consenso entre as decisões da equipe de gestão com os objetivos
sustentáveis. Para tanto, investem nas competências essenciais de empregabilidade e na
formação de pessoas, garantindo a viabilidade econômica empresarial.
Apresentam-se, a seguir, os valores do Triple Bottom Line:
Ambiental: Tinoco e Kraemer (2011) defendem que o gerenciamento ambiental deve
ser um fator estratégico para análise da alta administração das organizações, incluindo outras
atividades que devem ser administradas, como manter a conformidade com as leis ambientais,
implantar programas de prevenção à poluição, adequar produtos e processos industriais às
especificações ecológicas, entre outros.
Social: segundo Aligleri (2011), sociedade sustentável é uma coletividade humana que
busca desenvolver-se, realizando a integração do bem-estar com respeito à capacidade de
organização e renovação dos ecossistemas, garantindo qualidade de vida para a geração atual e
assegurando a continuidade das próximas gerações.
Econômico: trata-se do resultado econômico positivo, ou seja, proporcionar meios de
manter a continuidade do bom desempenho organizacional, considerando os pilares sociais e
ambientais (Rocha, 2012).
31
Conforme Ciofi (2010), em 1999, a Bolsa de Nova York criou o índice Dow Jones
Sustainability, agrupando as empresas mais sustentáveis com ações negociadas em bolsa.
Seguindo o mesmo exemplo, mais países criaram outros índices com a mesma finalidade: o
JSE de Johanesburgo, na África do Sul, em 2003, e FTSE4 Good (Footsie for Good), em
Londres, na Inglaterra, no ano de 2011.
A BM&FBOVESPA elaborou diversos índices, como: Índice Carbono Eficiente (ICO-
2), Índice de Ações com Governança Corporativa Diferenciada (IGC), Índice de Ações com
Governança Corporativa Diferenciada Trade (IGCT), Índice de Ações com Tag Along
Diferenciado (ITAG) e o Índice Ibovespa, estes com a finalidade de mensurar o desempenho
de empresas que adotam práticas de Sustentabilidade, Governança Corporativa e
Responsabilidade Social e analisar o retorno financeiro das empresas que adotam tais práticas
separadamente do retorno das que representam o mercado de maneira global (Milani, Righi,
Ceretta, & Dias, 2012).
O Balanço Social representa a compilação de informações, indicadores e ações
realizadas pelas organizações no desempenho de sua função social, tendo por finalidade servir
de instrumento de diálogo com todos os públicos com os quais a empresa se relaciona.
Segundo Tinoco (2010), a inclusão das questões econômicas, ambientais e de cidadania
às sociais ampliou o escopo do Balanço Social, denominando-o Relatório de Sustentabilidade,
compreendendo as atividades executadas pelas organizações, o balanço das pessoas, a
demonstração do valor adicionado, o balanço ecológico e a responsabilidade social.
Segundo Carreira e Palma (2012), a Global Reporting Initiative (GRI) é uma
organização sem fins lucrativos, localizada na Holanda, que tem procurado disponibilizar
linhas orientadoras e matrizes de indicadores que permitem a todas as organizações estruturar
o seu relato de sustentabilidade em termos de conteúdo e abrangência.
Os relatórios de sustentabilidade são estruturados por indicadores essenciais e
adicionais, subdivididos na categoria econômica, ambiental e social, o último composto pelas
seguintes subcategorias: práticas trabalhistas, direitos humanos, sociedade e responsabilidade
pelo produto (Global Reporting Initiative, 2013).
Pinto e Ribeiro (2004) destacam como crítica ao GRI o viés favorável, destacando
aspectos positivos em detrimento dos negativos ou utilizando o relatório de sustentabilidade
como ferramenta de marketing. Nesse contexto, Perez (2008) defende que é fundamental
verificar a confiabilidade nos dados e informações de um relatório e avaliar se a empresa está
incluindo as questões relevantes. A avaliação independente é um meio-chave para assegurar a
necessária garantia para os investidores a partir das informações contidas nos relatórios de
32
sustentabilidade; as informações devem ser adequadas, confiáveis, demonstrando clareza e
equilíbrio e atendendo às exigências dos stakeholders em termos de conteúdo e qualidade.
(Bureau Veritas, 2013).
No que diz respeito às dimensões da sustentabilidade, não há consenso quantitativo para
as propostas de indicadores, mas há percepção quanto à qualidade multidimensional da
sustentabilidade. Alguns atores identificam cinco dimensões de sustentabilidade: social,
econômica, ecológica, geográfica e cultural (Sachs, 1997 apud van Bellen, 2005); outros
apontam para as dimensões sociais, ecológicas e econômicas e as interações entre elas
(Gallopín, 2003; Guimarães, 1998; van Bellen, 2005). De todo modo, é consensual a ideia de
que indicadores que ficam restritos a apenas uma dimensão não refletem a sustentabilidade de
uma região.
Cabe ressaltar que
se houver discrepâncias significativas nas atitudes dos proprietários em relação a como a organização está
operando e a forma como eles gostariam que operasse, a organização dedica um importante tempo com
reorganização ou, em alguns casos, com os proprietários desinvestindo na organização. (Hadani,
Goranova, & Khan, 2011; Ng, Sibilkov, Wang, & Zaiats, 2011).
Portanto, é de suma importância que as organizações mapeiem esses entendimentos dos
proprietários.
2.6 Considerações finais
Após análise do referencial teórico, percebe-se a relevância do tema sustentabilidade e
sua evolução ao longo dos anos. É possível identificar ainda que o assunto tem uma relação
direta com a agricultura, sendo defendido por autores que a própria sustentabilidade tem origem
no segmento agrícola, devido à utilização de recursos naturais pelo setor e também pela
ocupação geográfica. O cooperativismo também possui em sua essência uma preocupação para
além dos lucros, ou seja, com toda a comunidade, desde a criação dessa doutrina cooperativista.
Através dos princípios cooperativistas, fica evidenciada a preocupação com as pessoas e o
interesse pela comunidade, sendo esse o último princípio.
Quando se trata de percepção de ganhos e de tangibilizar a sustentabilidade, por meio
do crescimento das certificações com apelo socioambiental, ressalta-se que algumas, como
Faitrade, pagam acréscimo pelos preços de café de acordo com o atingimento de metas e
33
cumprimento das normas. Uma vez esclarecidos conceitos, existe dificuldade de mensurar a
sustentabilidade, por isso a necessidade de se pesquisarem indicadores voltados para o tema.
Assim, ao se fazer esta estrutura do referencial, pretendeu-se guiar o leitor por meio de
uma lógica sequencial, na qual se buscou que ele primeiramente entendesse do que se trata o
tema; nesse contexto, é possível identificar diferentes visões e percepções e alguns
questionamentos. Logo após, o tema foi desdobrado para a agricultura familiar e
cooperativismo, segmentos que possuem forte ligação com o desenvolvimento sustentável. Por
fim, o objetivo foi apresentar ao leitor possibilidades de tangibilização e de ganhos diretos,
através de certificações e do estabelecimento de indicadores voltados para a sustentabilidade.
Para tanto, objetivando buscar na literatura trabalhos sobre essa temática, foram
realizadas buscas na web nas seguintes bases científicas: Academic Databases for Colleges na
Universities – EBSCO (www.ebscohost.com), Scientific Electronic Library Online – SciELO
(www.scielo.br), Revista de Economia e Sociologia Rural – RESR
(https://www.revistasober.org) e Google Scholar (https://scholar.google.com/).
34
3 METODOLOGIA
Este capítulo apresenta a metodologia adotada com detalhamento de abordagem,
objetivos, procedimento, coleta de dados, universo da amostra, fases da pesquisa e síntese da
metodologia com o intuito de deixar claros todos os passos realizados na confecção desta
pesquisa. Ressalta-se que a metodologia relaciona-se à forma e ao tipo de pesquisa realizada.
3.1 Caracterização da pesquisa
Metodologia de pesquisa é um conjunto de atividades sistemáticas visando atingir um
determinado objetivo (Fachin, 2001; Sekaran, 1984). Marconi e Lakatos (2005) afirmam que a
atividade científica tem como finalidade obter a verdade, comprovando hipóteses, observando
a realidade e a teoria científica, a fim de explicar tal realidade.
Assim, em função disso, a presente pesquisa busca identificar como players que atuam
na cafeicultura avaliam a sustentabilidade. A seguir, será apresentado como o estudo pode ser
caracterizado.
3.1.1 Abordagem
Este trabalho pode ser classificado como uma abordagem quantitativa. Para Creswell
(2010), a pesquisa quantitativa é um meio para testar teorias objetivas, examinando relações
entre as variáveis, as quais, por sua vez, podem ser medidas tipicamente por instrumentos, para
que os dados numéricos possam ser analisados por procedimentos estatísticos. O relatório final
escrito tem uma estrutura fixa, a qual consiste em introdução, literatura e teoria, método,
resultados e discussão.
A pesquisa quantitativa significa transformar opiniões e informações em números, para
possibilitar a classificação e análise, fundamentado em que tudo pode ser quantificável (Silva
& Menezes, 2001).
No estudo, optou-se pela realização de uma pesquisa survey com players que atuam na
cafeicultura. Através desta pesquisa, foi possível obter e mensurar informações relacionadas a
opiniões, preferências e atitudes do público pesquisado.
35
3.1.2 Objetivos
No que diz respeito aos objetivos, pode-se classificar este trabalho como uma Pesquisa
Descritiva, uma vez que visa entender as características da população. Segundo Vergara (2014),
a pesquisa descritiva expõe características de determinada população ou de determinado
fenômeno, podendo também estabelecer correlações entre variáveis e definir sua natureza.
Para identificar divergências na avaliação da sustentabilidade pelos players que atuam
na cafeicultura, foram realizadas pesquisas com cooperados da Coocafé, representados pelo
conselho consultivo; alta gestão, representada por todos os conselheiros administrativos,
diretoria e superintendências também da Coocafé; e empresas multinacionais compradoras dos
cafés.
A partir da aplicação dos questionários, os resultados de cada grupo foram confrontados,
permitindo a identificação de pontos de convergência e divergência no que diz respeito à
avaliação dos players quanto à sustentabilidade.
3.1.3 Procedimentos
Quanto aos procedimentos, o estudo foi realizado através de um levantamento de corte
transversal autoadministrado on-line, coletado em um momento do tempo. Malhotra (2006)
define ainda um levantamento transversal como aquele que envolve a coleta dos dados apenas
uma vez.
A coleta de dados pode também envolver a criação de um levantamento baseado na web
ou na internet administrado on-line (Nesbary, 2000; Sue & Ritter, 2007). Os levantamentos, de
acordo com Hair Jr., Joseph, Babin, Money e Samoel (2005), podem ocorrer em duas amplas
categorias: entrevistas (pessoalmente, por computador ou por telefone) ou administração de
questionários para que o próprio respondente responda (por meio eletrônico ou correio). Dessa
forma, o mesmo questionário foi enviado via e-mail aos cooperados, alta gestão e clientes de
café; porém, foi criado um grupo específico de análise para cada público, sendo necessárias,
inclusive, algumas abordagens pessoais e via telefone, no intuito de estimular a participação e
esclarecer possíveis dúvidas.
36
3.1.4 Instrumento de coleta de dados
O questionário usou como base fundamental os estudos desenvolvidos por Ignacy
Sachs, considerado precursor do Desenvolvimento Sustentável e ainda hoje um dos autores mais
renomados no tema, com 15.600 citações no Google Scholar. Foi elaborado um questionário
(Apêndice A) com base nas cinco dimesões da sustentabilidade e, para cada dimensão, foram
identificados os principais constructos, autores e leituras orientadoras.
Na dimensão Econômica, utilizaram-se os seguintes autores e empresa: Giovannucci
and Ponte (2005); Sachs (2002) e Núcleo de Sustentabilidade da Fundação Dom Cabral (2016).
Quanto ao Social, foram selecionados os seguintes autores como base para o questionário:
Sachs (2002); Pires e Silva (2004); Aligleri (2011); Cavalcanti (2006) e Oliveira (2007). Para
a Ecológica, os autores Sachs (2002) e Tinoco e Kraemer (2011) foram usados como base. A
Geográfica teve Sachs (2002) como base. Já para a dimensão Cultural, foram utilizados os
autores Sachs (2002), Touraine (1988) e Archel (2003).
Constructos, autores, leituras orientadoras e perguntas estão descritos e referenciados
no Quadro 5.
Quadro 5 – Constructos, perguntas, autores
CONSTRUCTOS PERGUNTAS
GRAU DE
IMPORTÂNCIA /
CONCORDÂNCIA*
AUTORES
E
C
O
N
Ô
M
I
C
O
Contribuição da
sustentabilidade
para o resultado
líquido de uma
empresa /
propriedade rural.
A eficiência
econômica baseia-
se em uma
"alocação e gestão
mais eficientes dos
recursos e por um
fluxo regular do
investimento
público e privado.
Alta
sustentabilidade e
baixa
sustentabilidade.
1. Relação entre sustentabilidade e o
resultado líquido de uma empresa. O1 O2 O3 O4 O5
Giovannucci
and Ponte
(2005); Sachs
(2002); Núcleo
de
Sustentabilidade
da Fundação
Dom Cabral
(2016)
2. Disposição do consumidor final
médio para trocar uma marca de café
familiar e pagar mais caro por uma
com apelo sustentável.
O1 O2 O3 O4 O5
3. Destinar parte do resultado
financeiro da empresa para ações
relacionadas à sustentabilidade.
O1 O2 O3 O4 O5
4. A eficiência econômica deve ser
medida sobretudo em critérios
macrossociais, ou seja, quando se
abrange grande parte da sociedade.
O1 O2 O3 O4 O5
5. Alguma perda de recursos é
inevitável, mas isso pode ser
compensado pelo aumento de capital.
O1 O2 O3 O4 O5
6. A certificação é um mecanismo
sinalizador da qualidade que
favorece a redução dos custos e tem
sido fundamental na promoção do
desenvolvimento de melhores
práticas de produção e venda de café
no Brasil.
O1 O2 O3 O4 O5
(continua)
37
(continuação)
CONSTRUCTOS PERGUNTAS
GRAU DE
IMPORTÂNCIA /
CONCORDÂNCIA*
AUTORES
S
O
C
I
A
L
Garantia de
qualidade de vida
para a geração atual
assegurando a
continuidade das
próximas gerações.
Cooperativismo é
um modelo de
economia solidária
que procura
maximizar o
predomínio do fator
trabalho sobre o
fator capital.
1. Preocupação das empresas quanto
à qualidade de vida para a geração
atual e a continuidade das próximas
gerações.
O1 O2 O3 O4 O5
Sachs (2002);
Pires e Silva
(2004); Aligleri
(2011);
Cavalcanti
(2006); Oliveira
(2007)
2. O modelo cooperativista como
uma das principais estratégias para o
enfrentamento de uma economia por
natureza excludente, identificada
como a globalização.
O1 O2 O3 O4 O5
3. O processo deve se dar de tal
maneira que reduza substancialmente
as diferenças sociais.
O1 O2 O3 O4 O5
4. A empresa deve ter práticas e
metas voltadas para a redução da
desigualdade social.
O1 O2 O3 O4 O5
5. Investimento das empresas em
projetos com a comunidade. O1 O2 O3 O4 O5
6. Incentivo das empresas a trabalhos
voluntários dos colaboradores. O1 O2 O3 O4 O5
7. Apoio das empresas a práticas de
equilíbrio da vida profissional com a
vida pessoal para todos os
colaboradores.
O1 O2 O3 O4 O5
E
C
O
L
Ó
G
I
C
O
Gerenciamento
ambiental deve ser
um fator estratégico
para análise da alta
administração.
1. Adequação de produtos e
processos às especificações
ecológicas.
O1 O2 O3 O4 O5
Sachs (2002);
Tinoco e
Kraemer (2011)
2. Manter conformidade com as leis é
sustentabilidade ambiental. O1 O2 O3 O4 O5
3. Projetos e ações de combate à
poluição com indicadores e metas. O1 O2 O3 O4 O5
4. Integração entre conservação da
natureza e desenvolvimento. O1 O2 O3 O4 O5
G
E
O
G
R
Á
F
I
C
O
Pressupõe evitar a
concentração
geográfica
exagerada de
populações,
atividades e de
poder. Busca uma
relação equilibrada
cidade/campo.
1. Concentração da população em
áreas metropolitanas é uma ameaça. O1 O2 O3 O4 O5
Sachs (2002)
2. Controle nos processos de
colonização. O1 O2 O3 O4 O5
3. Empresas devem possuir práticas
para evitar o êxodo rural. O1 O2 O3 O4 O5
4. Concentração geográfica
exagerada de populações e atividades
é uma preocupação.
O1 O2 O3 O4 O5
(continua)
38
(conclusão)
CONSTRUCTOS PERGUNTAS
GRAU DE
IMPORTÂNCIA /
CONCORDÂNCIA*
AUTORES
C
U
L
T
U
R
A
L
Além da necessidade
de se traduzir o
conceito normativo de
desenvolvimento
sustentável numa
pluralidade de soluções
locais, adaptadas a
cada ecossistema, a
cada cultura e,
inclusive, soluções
sistêmicas de âmbito
local, utilizando-se o
ecossistema como um
paradigma dos sistemas
de produção elaborados
pelo homem.
1. Respeito à formação cultural
comunitária. O1 O2 O3 O4 O5
Sachs (2002);
Touraine
(1988); Archel
(2003)
2. Ao se estabelecer em uma
região, a empresa deve propor
soluções adaptadas para aquele
ecossistema.
O1 O2 O3 O4 O5
3. Práticas de incentivo à
pluralidade cultural. O1 O2 O3 O4 O5
4. Realização e apoio a eventos
que valorizem a cultura local. O1 O2 O3 O4 O5
* O1 – Pouco importante / Discordo totalmente
O2 – Ligeiramente importante / Discordo
O3 – Moderadamente importante / Não concordo nem discordo
O4 – Muito importante / Concordo
O5 – Extremamente importante / Concordo totalmente
Fonte: Elaborado pelo autor.
Com o objetivo de facilitar a análise e, consequentemente, a importância dada a cada
pilar da sustentabilidade, o questionário foi subdividido por perguntas sequenciais relacionadas
a cada tema: econômico, social, ambiental, geográfico e cultural.
As perguntas foram estruturadas em formato de escala do tipo Likert de 5 pontos. Trata-
se de uma escala em que os participantes registram sua concordância extrema ou discordância
extrema aos itens propostos (Gil, 2010). Para Malhotra (2001), a principal vantagem de utilizar
essa escala é a fácil construção e aplicabilidade, além de os participantes do estudo entenderem
rapidamente como utilizá-la. As respostas variam em torno das possibilidades a seguir:
1. Discordo totalmente / Pouco importante.
2. Discordo parcialmente / Ligeiramente importante.
3. Não concordo e nem discordo / Moderadamente importante.
4. Concordo parcialmente / Muito importante.
5. Concordo totalmente / Extremamente importante.
Após a elaboração do questionário, ele foi enviado para avaliação, sendo aplicada a
validação de face e conteúdo junto ao orientador desta dissertação. Foram solicitados alguns
39
ajustes no questionário, no sentido de deixá-lo mais objetivo, após os quais foi realizada a coleta
de dados, no período entre junho e julho de 2019, pela modalidade on-line.
Para a realização da coleta de dados, foi utilizada a ferramenta Survey Monkey, que
possibilita a geração de dados em estatísticas descritivas ou informações em gráficos. Embora
o questionário tenha sido enviado via e-mail, a abordagem pessoal precisou ser diferente junto
a cada público. Com a alta gestão, foi realizada uma reunião com todos os membros, na qual o
pesquisador explicou brevemente a importância da pesquisa para a cooperativa. Com os
cooperados do conselho consultivo, foram necessárias abordagem individual, em determinados
casos, e abordagens coletivas, via reunião, e também em grupos de redes sociais, no sentido de
engajá-los quanto à participação e esclarecimento de dúvidas. Já com os clientes de café, devido
à quantidade de e-mails que o público recebe diariamente, o pesquisador precisou entrar em
contato via telefone com os entrevistados e explicar brevemente a pesquisa, mesmo constando
no corpo do e-mail informações relacionadas ao tema, ao objetivo e ao trabalho.
3.1.5 Universo da Amostra
Assim, foi aplicado um questionário (e-survey) aos seguintes públicos:
Alta gestão da cooperativa: 17 pessoas, sendo 3 diretores executivos (presidente,
produção e administrativo-financeiro), 3 conselheiros administrativos vogais, 2
superintendentes (administrativo-financeiro e técnico-comercial) e 9 executivos, membros do
Grupo de Desenvolvimento Estratégico.
Cooperados do conselho consultivo: 16 pessoas selecionadas pelo nível de participação
em reuniões trimestrais e maior acesso à internet. O conselho consultivo foi criado em 2012 e
é composto por líderes representantes das principais comunidades em que a cooperativa atua.
Esses cooperados estão divididos geograficamente, de forma que possam representar todo o
quadro social da cooperativa. Para cada 1.000 cooperados de uma unidade comercial, há um
representante no conselho consultivo. De forma planejada, esses líderes participam de reuniões
que ocorrem quatro vezes por ano. Nas reuniões, eles expressam suas sugestões, reclamações e
elogios. A cada biênio, o conselho é renovado ou acrescido, de acordo com a quantidade e a
qualidade das participações nas reuniões.
Empresas ligadas à cooperativa: multinacionais, que atuam na cafeicultura e possuem
parcerias com a cooperativa: 19, sendo 15 empresas que fazem negócio, 2 corretoras e 2
parceiros institucionais.
A população que abrangeu o questionário encontra-se no Gráfico 1.
40
Gráfico 1 - População
Fonte: Elaborado pelo autor.
Ressalta-se que, para se obter um nível de confiança de 95%, a amostra necessitou ser de,
pelo menos, 37 respondentes.
Como os elementos da população têm probabilidade conhecida, trata-se de uma
amostragem probabilística. Técnicas de Estatística Indutiva pressupõem que as amostras sejam
probabilísticas, mas nem sempre é possível conseguir isso. A amostra foi intencional e por
conveniência. As amostras intencionais compreendem os diversos casos em que “o pesquisador
deliberadamente escolhe certos elementos para pertencer à amostra, por julgar tais elementos bem
representativos da população” (Costa Neto, 1977, p. 45). A intencionalidade torna uma pesquisa
mais rica em termos qualitativos.
Em amostras por conveniência, elementos são incluídos na amostra sem probabilidades
previamente especificadas ou conhecidas (Anderson, Sweeney, & Williams, 2007), ou seja, a
seleção dos elementos da amostra é feita entre os indivíduos que estão mais acessíveis a
participarem do estudo e que sejam capazes de fornecer as informações requeridas (Costa Neto,
1977).
17; 33%
16; 31%
19; 36%
População
Alta Gestão Cooperados Empresas
41
3.1.6 Fases da pesquisa
Para a execução da presente pesquisa, foram adotadas as fases a seguir.
Primeira fase:
• Preliminarmente, foi realizada uma ampla revisão bibliográfica, no intuito de identificar
os principais conceitos e evolução da sustentabilidade ao longo dos anos e sua relação
com cooperativismo, agricultura familiar, certificações com apelo ambiental e
indicadores voltados para a sustentabilidade.
• Na sequência, foi realizada uma revisão de conteúdo, através de consultas em base
científica, em que foram delimitadas as cinco dimensões da sustentabilidade.
Segunda fase:
• Elaboração do questionário com base nas cinco dimensões.
• Após a elaboração do questionário, este foi enviado para avaliação, sendo aplicada a
validação de face e de conteúdo juntamente com o orientador da dissertação.
• Foram solicitados alguns ajustes no questionário, no sentido de deixá-lo mais objetivo.
• Após os ajustes, foi realizado um pré-teste do questionário.
Terceira fase:
• Coleta de dados, no período entre junho e julho de 2019, pela modalidade on-line.
• Tabulação das respostas.
• Análise dos dados coletados.
3.1.7 Síntese da metodologia da pesquisa
Este capítulo apresentou a caracterização da pesquisa bem como os aspectos
metodológicos, conforme pode ser observado no Quadro 6.
42
Quadro 6 – Caracterização da pesquisa
DESENHO DA
PESQUISA CARACTERÍSTICAS
Abordagem Quantitativa
Objetivos Descritiva
Corte Temporal Transversal
Procedimento Questionário
Coleta de Dados Internet (e-mail)
Universo da Amostra /
Sujeito
Alta gestão da cooperativa; cooperados do conselho consultivo;
empresas multinacionais da cafeicultura ligadas à cooperativa
Técnica de Amostragem Probabilística
Tamanho da Amostra
A pesquisa foi realizada com 37 players que atuam na cafeicultura,
sendo 13 cooperados(as) do conselho consultivo da cooperativa; 11
pessoas ligadas à alta gestão da cooperativa, entre diretores,
conselheiros administrativos e membros do Grupo de
Desenvolvimento Estratégico; 13 empresas multinacionais que
atuam na cafeicultura
Fonte: Elaborado pelo autor.
43
4 ANÁLISE DE DADOS
4.1 Análise descritiva
Grande parte do público é formada por homens (75%) com idade entre 41 e 50 anos
(43%). Esse perfil corresponde à cafeicultura e até mesmo ao público da cooperativa, que possui
perfil similar, com a maior parte dos cooperados formada por homens entre 41 e 50 anos. Quando
analisados separadamente, a alta gestão da cooperativa é 90% masculina, já o conselho consultivo
é 33% feminino, os clientes de café são 30% femininos.
Embora o questionário tenha sido enviado para 52 pessoas, a pesquisa foi realizada com
37 players que atuam na cafeicultura, conforme pode ser percebido no Gráfico 2, sendo 13
cooperados(as) do conselho consultivo da cooperativa; 11 pessoas ligadas à alta gestão da
cooperativa, entre diretores, conselheiros administrativos e membros do Grupo de
Desenvolvimento Estratégico e 13 empresas multinacionais que atuam na cafeicultura. Com os
cooperados, foram necessárias abordagens individuais, via mensagens, e coletivas, através de
reuniões. Destaca-se aqui o baixo acesso a e-mails por parte desse público, tendo havido,
inclusive, orientação para a criação de endereços eletrônicos. No que diz respeito às empresas
multinacionais, pelo fato de receberem muitos e-mails, foi necessária a abordagem individual
com cada uma delas no intuito de explicar brevemente o trabalho. Já com a alta gestão da
cooperativa, foram realizadas majoritariamente abordagens coletivas em reuniões do grupo de
desenvolvimento estratégico. A maior dificuldade aqui foi com relação ao Conselho de
Administração, que se reúne mensalmente, portanto, houve a necessidade de, em alguns casos,
entrar em contato diretamente com o conselheiro.
44
Gráfico 2 - Amostra
Fonte: Elaborado pelo autor.
4.2 Análise de consistência interna e de conteúdo
O primeiro passo da análise estatística foi a verificação do conteúdo. Apesar de a validade
de conteúdo fazer parte da análise de consistência interna, ela foi observada na elaboração da
survey como apontado por Haynes et al. (1995). A primeira parte do questionário envolveu a
identificação dos grupos estudados (alta gestão da cooperativa, cooperados, conselho consultivo
e empresas clientes de café) assim como perguntas básicas sobre os respondentes. Já na segunda
parte do questionário, questionou-se sobre a prática de sustentabilidade como apontado no
Quadro 5, considerando questões na escala Likert. Outros aspectos facilitam a conversão para a
validade de conteúdo como rápidas explicações sobre o preenchimento do questionário aos
respondentes.
O segundo passo da análise estatística foi verificar a confiabilidade dos itens da survey e
dos respondentes com a aplicação do alfa de Cronbach (Cronbach, 1951). Para tal finalidade
utilizou-se o IBM SPSS versão 23. O alfa de Cronbach é uma das ferramentas mais difundidas
na realização de pesquisas, pois leva em consideração a variância atribuída aos sujeitos e a
variância atribuída à interação entre sujeitos e itens da pesquisa (Almeida, Santos, & Costa, 2010).
Valores do coeficiente variam entre 0 e 1,0; quanto mais próximo de 1,0, maior a cosistência
interna. Como referência, valores de alta consistência interna estão normalmente entre 0,70 a
11; 30%
13; 35%
13; 35%
Amostra
Alta Gestão Cooperados Empresas
45
0,90; porém, podem-se aceitar valores próximos de 0,60 (Hair et al., 2006), o que indica uma
consistência moderada ou baixa. A Tabela 1 mostra o resultado do teste para as cinco dimensões
em investigação nesta pesquisa. Percebe-se que três dimensões apresentam uma consistência alta
(0,70) e duas dimensões um valor moderado e baixo (<0,60). Tal fato pode ser explicado pelo
baixo número de respondentes. Salienta-se que não é possível aumentar o número de
representantes pelo foco desta pesquisa ser somente os grupos cooperativa, alta gestão e empresa
da região.
Tabela 1 - Alfa de Cronbach das dimensões
Dimensões Número de itens Alfa de Cronbach
Cultural 4 0,807
Ecológico 4 0,781
Social 7 0,701
Econômico 6 0,562
Geográfico 4 0,461
Fonte: Elaborada pelo autor.
4.3 Análise não paramétrica
A estatística não paramétrica representa um conjunto de ferramentas de uso mais
apropriado em pesquisas em que não se conhecem bem a distribuição e os parâmetros da amostra.
Utilizou-se o teste Kruskal and Wallis (1952), equivalente ao teste ANOVA da estatística
paramétrica. Ele não requer a suposição de que a população esteja distribuída em forma de curva-
normal e se utiliza de ordenação (ranking) das observações (Levin & Rubin, 2004). O teste
Kruskal-Wallis é utilizado quando se pretende avaliar se várias amostras têm a mesma
distribuição, ou seja, a hipótese nula é quando os grupos possuem a mesma distribuição, e a
hipótese alternativa é quando os grupos não possuem a mesma distribuição. A estatística do teste
é qui-quadrado com k-1 graus de liberdade. Esse teste foi escolhido por ser apropriado para
comparar as distribuições de duas ou mais variáveis pelos mesmos ordinais observados em duas
ou mais amostras independentes (Marôco, 2011, p.317).
Portanto, tal teste fornece uma forma de se verificar se há diferenças na percepção dos
grupos (cooperados do conselho consultivo, alta gestão e empresas) sobre os constructos. Em
resumo, testamos:
H0: os grupos têm a mesma distribuição de valores.
46
H1: os grupos não têm a mesma distribuição de valores.
A Tabela 2 apresenta o resultado do teste, sendo que a hipótese nula é se os grupos
possuem a mesma distribução. Para se encontrarem diferenças estatísticas significantes, a
significância deve ser menor que o p-value, por exemplo de 5% ( p-value ≤ 0,05).
Tabela 2 - Dimensão Econômica
Itens Significância
Alguma perda de recursos é inevitável, mas isso pode ser compensado pelo aumento de
capital. 0,091*
A certificação é um mecanismo sinalizador da qualidade que favorece a redução dos custos e
tem sido fundamental na promoção do desenvolvimento de melhores práticas de produção e
venda de café no Brasil.
0,304
Disposição do consumidor final médio para trocar uma marca de café familiar e pagar mais
caro por uma com apelo sustentável. 0,396
A eficiência econômica deve ser medida sobretudo em critérios macrossociais, ou seja,
quando se abrange grande parte da sociedade. 0,430
Relação entre sustentabilidade e o resultado líquido de uma empresa. 0,589
Destinar parte do resultado financeiro da empresa para ações relacionadas à sustentabilidade. 0,751
*** significante a 1%; ** significante a 5%; * significante a 10%
Fonte: Elaborada pelo autor.
Nesse caso, percebe-se que não há diferença considerável entre os grupos, pois não foi
possível rejeitar a hipótese nula em um nível 5% de significância. Isto é, as respostas dos
respondentes, considerando os três grupos (alta gestão, cooperados e empresas), possuem a
mesma percepção sobre a dimensão econômica. Tal resultado está alinhado aos resultados da
pesquisa "Estágios da Sustentabilidade Corporativa no Brasil 2016", realizada pelo Núcleo de
Sustentabilidade da Fundação Dom Cabral. Conforme 85% dos respondentes, a sustentabilidade
traz uma contribuição concreta para o resultado líquido da empresa.
Porém, caso seja considerado um nível 10% de significância, a pergunta “Alguma perda
de recursos é inevitável, mas isso pode ser compensado pelo aumento de capital” demonstraria
uma divergência na respostas dos grupos. Por isso, foi realizado o teste Bonferroni para descobrir
qual par dos três grupos indica uma divergência (Tabela 3). O teste pode ser usado para dados
balanceados ou não e utiliza a comparação dos pares para investigar as diferenças. Assim, a ideia
básica é aplicar um teste nos grupos independentes (cooperados, empresas e altas gestão) para
descobrirmos em qual par há desiguldade.
47
Tabela 3 - Teste Bonferroni – “Alguma perda de recursos é inevitável, mas isso pode ser compensado pelo
aumento de capital”
(I) Grupo Diferença média
(I-J)
Erro-
Padrão Sig.
Intervalo de Confiança
95%
Limite
inferior
Limite
superior
Alta Gestão
Cooperados -,280 ,414 1,000 -1,32 ,76
Empresas ,713 ,406 ,264 -,31 1,74
Cooperados
Alta Gestão ,280 ,414 1,000 -,76 1,32
Empresas ,994 ,397 ,052* -,01 1,99
Empresas
Alta Gestão -,713 ,406 ,264 -1,74 ,31
Cooperados -,994 ,397 ,052* -1,99 ,01
*** significante a 1%; ** significante a 5%; * significante a 10%
Fonte: Elaborada pelo autor.
Pelo resultado do teste Bonferroni, o par “Cooperados” e “Empresas” mostra uma
divergência, pois apresenta um p-value de 0,052. A pergunta está relacionada à visão polêmica e
às provocações do cientista político Robert Gibson citado por Kuhlman and Farrington (2015),
que divide a sustentabilidade entre forte e fraca. Embora os respondentes em geral não concordem
que o aumento de capital possa compensar perdas de recursos naturais, houve divergência
significante a 10% entre os grupos cooperados do conselho consultivo e Empresas Multinacionais
Clientes de Café. Cabem aqui duas observações: a primeira diz respeito à cadeia comercial do
café, em que os produtores rurais, que estão na primeira parte dessa cadeia, têm um alto custo de
produção, sobretudo os que trabalham em regiões montanhosas, onde não há mecanização. Esse
alto custo possibilita menores ganhos financeiros, o que influencia diretamente na avaliação dos
produtores rurais quanto ao aumento de capital. Outro fator que deve ser levado em conta é o fato
de que os cooperados lidam diariamente, em suas atividades, com recursos naturais, enquanto as
empresas, de certa forma, estão mais distantes da terra.
Destaca-se ainda o fato de que nas demais questões existe uma consonância do público
pesquisado quanto às perguntas da dimensão econômica. Quando questionados se o consumidor
final médio está disposto a trocar uma marca de café familiar pagando mais por uma com apelo
sustentável, ainda há uma certa descrença. Giovannucci and Ponte (2005) já apontavam em seu
estudo que o consumidor final normalmente tem pouco tempo para escolher uma marca de café,
e critérios como conhecimento e lembrança acabam sendo mais relevantes. Para os autores, o
consumidor final médio nem sempre é impactado por comunicação relacionada à
48
sustentabilidade, tendo em vista que decide pela compra em supermercados em alguns segundos
e não está disposto a trocar uma marca familiar e pagar mais caro por outra apenas devido ao
"apelo sustentável”.
Quanto às avaliações dos ganhos originados pelas certificações, embora não tenha
ocorrido uma divergência considerável, a convergência também não foi relevante. As
certificações na cafeicultura foram criadas para garantir a procedência dos produtos e também
gerar benefícios para as partes. A maioria dessas certificações possui apelo sustentável, embora
o fator mais determinante ainda seja a qualidade do café. Barra (2006) defende que a certificação
reduz custos de transição entre as empresas, pois é um sinalizador de qualidade. Por outro lado,
há uma série de itens exigidos pelas certificações, aos quais as empresas certificadas devem se
adequar. No caso da Coocafé, ela possui a certificação Fairtrade desde 2005. A cooperativa teve
que passar por uma verdadeira transformação, que envolve investimentos em recursos humanos
(consultores técnicos), financeiros e também tempo. Nem sempre os benefícios são percebidos,
pois uma pequena parte dos cafés são exportados via certificação.
A maior consonância nas percepções está relacionada à destinação de parte do resultado
financeiro para a sustentabilidade. No caso da cooperativa, isso também está traduzido na prática,
pois, em análise recente, identificou-se que, nos últimos três anos, o percentual do orçamento da
gerência onde estão alocados recursos para ações relacionadas à sustentabilidade tem evoluído,
saindo de 6%, em 2017, para 9%, em 2019, do orçamento da gerência responsável.
A próxima dimensão a ser investigada é a social. A Tabela 4 apresenta o resultado do teste
Kruskal-Wallis.
Tabela 4 - Dimensão Social
Itens Significância
O modelo cooperativista como uma das principais estratégias para o enfrentamento de uma
economia por natureza excludente, identificada como a globalização. 0,051*
A empresa deve ter práticas e metas voltadas para a redução da desigualdade social. 0,265
Preocupação das empresas quanto à qualidade de vida para a geração atual e a continuidade
das próximas gerações. 0,505
Apoio das empresas a práticas de equilíbrio da vida profissional com a vida pessoal para
todos os colaboradores. 0,577
O processo deve se dar de tal maneira que reduza substancialmente as diferenças sociais. 0,615
Incentivo das empresas a trabalhos voluntários dos colaboradores. 0,742
Investimento das empresas em projetos com a comunidade. 0,974
*** significante a 1%; ** significante a 5%; * significante a 10%
Fonte: Elaborada pelo autor.
49
A dimensão social não apresentou diferenças considerando um nível de significância de
5% como usualmente utilizado na literatura, porém, se fosse considerado 10%, observa-se que a
pergunta “O modelo cooperativista como uma das principais estratégias para o enfrentamento de
uma economia por natureza excludente, identificada como a globalização” apresentaria
diferenças nas opiniões dos grupos. Aplicando o teste Bonferroni, percebe-se que o par que
apresenta uma diferença é “alta gestão” e “empresas” (Tabela 5).
Tabela 5 - Teste Bonferroni – “O modelo cooperativista como uma das principais estratégias para o
enfrentamento de uma economia por natureza excludente, identificada como a globalização”
(I) Grupo Diferença média
(I-J)
Erro-
Padrão Sig.
Intervalo de Confiança
95%
Limite
inferior
Limite
superior
Alta Gestão
Cooperados ,386 ,295 ,598 -,36 1,13
Empresas ,790* ,290 ,030** ,06 1,52
Cooperados Alta Gestão -,386 ,295 ,598 -1,13 ,36
Empresas ,404 ,283 ,489 -,31 1,12
Empresas
Alta Gestão -,790* ,290 ,030** -1,52 -,06
Cooperados -,404 ,283 ,489 -1,12 ,31
*** significante a 1%; ** significante a 5%; * significante a 10%
Fonte: Elaborada pelo autor.
Para Pires e Silva (2004), o cooperativismo é uma das alternativas à globalização, pois o
sistema é mais inclusivo. Percebe-se divergência significante a 5% entre os grupos alta gestão e
empresas. Os grupos cooperados do conselho consultivo e a alta gestão da cooperativa são
formados por pessoas que vivem o sistema cooperativista há bastante tempo. Esse modelo vem
se desenvolvendo com maior intensidade comercial e visão empresarial nos últimos anos. Essa
divergência apontada no teste indica que as empresas mercantis não pertencentes ao sistema
cooperativista, embora tenham relação comercial e/ou institucional, ainda não percebem o
cooperativismo como um sistema mais inclusivo.
Todos os públicos demonstram uma preocupação quanto à qualidade de vida para as
próximas gerações. Os cooperados estão atentos quanto a esse quesito. Isso se explica pela grande
preocupação que há hoje na agricultura quanto aos processos de sucessão na agricultura familiar.
Ainda nessa linha, tanto a cooperativa quanto as empresas pesquisadas têm desenvolvido projetos
nessa ordem, como núcleos de jovens, trabalhos em escolas da rede pública, dentre outros.
50
Também há convergência quanto à redução das diferenças sociais. Todos concordam com
o princípio da equidade entre grupos sociais, que consta no Relatório Brundtland (1987).
Incentivar a participação em trabalhos voluntários tem sido uma prática cada vez mais
comum nas empresas, como aponta a pesquisa de Oliveira (2008). No consolidado, houve
considerável convergência nesse quesito. Cabe ressaltar que, muitas vezes, essas práticas não são
muito divulgadas, o que influencia na percepção dos cooperados.
Na dimensão social, a maior convergência está relacionada ao investimento em projetos
com a comunidade. A alta valorização pelos cooperados pode ser explicada também pelo fato de
a cooperativa realizar ou apoiar, constantemente, inúmeros projetos com as comunidades.
Anualmente são cerca de 70 projetos apoiados pela Coocafé através de sua política de patrocínios
e doações.
Na dimensão ecológica, observa-se que a pergunta “Adequação de produtos e processos
às especificações ecológicas” apresenta diferença entre os grupos a um nível de significância de
10% (Tabela 6).
Tabela 6 - Dimensão Ecológica
Itens Significância
Adequação de produtos e processos às especificações ecológicas. 0,058*
Integração entre conservação da natureza e desenvolvimento. 0,120
Projetos e ações de combate à poluição com indicadores e metas. 0,192
Manter conformidade com as leis é sustentabilidade ambiental. 0,793
*** significante a 1%; ** significante a 5%; * significante a 10%
Fonte: Elaborada pelo autor.
Para identificar o par em que pode haver diferença, foi procedido o teste Bonferroni e
identificado que o par é “alta gestão” e “empresas”, conforme Tabela 7.
51
Tabela 7 - Teste Bonferroni – “Adequação de produtos e processos às especificações ecológicas”
(I) Grupo Diferença média
(I-J)
Erro-
Padrão Sig.
Intervalo de Confiança
95%
Limite
inferior
Limite
superior
Alta Gestão Cooperados -,348 ,313 ,820 -1,14 ,44
Empresas -,720 ,307 ,075* -1,49 ,05
Cooperados Alta Gestão ,348 ,313 ,820 -,44 1,14
Empresas -,372 ,300 ,672 -1,13 ,38
Empresas Alta Gestão ,720 ,307 ,075* -,05 1,49
Cooperados ,372 ,300 ,672 -,38 1,13
*** significante a 1%; ** significante a 5%; * significante a 10%
Fonte: Elaborada pelo autor.
Mais uma vez, houve uma divergência significante a 10% entre a alta gestão da
cooperativa e empresas clientes de café. Cabe ressaltar que a maior parte da receita da Coocafé
não é oriunda de produtos com marca própria, e sim da revenda de insumos agrícolas e da
comercialização de cafés em grão cru. Já as empresas normalmente industrializam esses cafés e
os disponibilizam para o consumidor final, o que tem valorizado o apelo sustentável. Para Tinoco
e Kraemer (2011), as empresas devem adequar produtos e processos de acordo com as
especificações ecológicas. Esse conceito também está alinhado aos estudos realizados por Givens
and Jannasch (1999), Rice and McLean (1999), Giovannucci (2001), Dimitri and Greene, (2002).
Identifica-se que, hoje, os produtos certificados têm os selos nos próprios rótulos, transmitindo
uma imagem positiva aos consumidores.
Crescer sem comprometer a natureza é um grande desafio para as empresas. E essa
preocupação está aqui retratada por todos os públicos que concordam com a afirmação.
A poluição é uma preocupação mundial, que é retratada através dos resultados. Os dados
consolidados demonstram que o público considera essa preocupação como muito ou
extremamente importante. No entanto, para ele, é importante que se estabeleçam indicadores de
combate à poluição, iniciativa ainda não desenvolvida pela Coocafé.
Estar em conformidade com as leis tem exigido cada vez mais tanto das empresas quanto
dos cooperados. E há autores que defendem que manter essa conformidade pode ser considerada
sustentabilidade ambiental. Esse quesito apresentou a maior convergência entre os públicos na
dimensão ecológica.
Em relação à dimensão geográfica, apresentamos o resultado do teste Kruskal-Wallis na
Tabela 8.
52
Tabela 8 - Dimensão Geográfica
Itens Significância
Concentração da população em áreas metropolitanas é uma ameaça. 0,031**
Controle nos processos de colonização. 0,783
Empresas devem possuir práticas para evitar o êxodo rural. 0,819
Concentração geográfica exagerada de populações e atividades é uma preocupação. 0,823
*** significante a 1%; ** significante a 5%; * significante a 10%
Fonte: Elaborada pelo autor.
A única pergunta que apresentou divergência significante está relacionada à
“Concentração da população em áreas metropolitanas é uma ameaça.” Assim, realizamos o teste
Bonferroni (Tabela 9).
Tabela 9 - Teste Bonferroni – “Concentração da população em áreas metropolitanas é uma ameaça”
(I) Grupo Diferença média
(I-J)
Erro-
Padrão Sig.
Intervalo de Confiança
95%
Limite
inferior
Limite
superior
Alta Gestão Cooperados -,424 ,406 ,912 -1,45 ,60
Empresas ,755 ,399 ,201 -,25 1,76
Cooperados Alta Gestão ,424 ,406 ,912 -,60 1,45
Empresas 1,179* ,390 ,014** ,20 2,16
Empresas Alta Gestão -,755 ,399 ,201 -1,76 ,25
Cooperados -1,179* ,390 ,014** -2,16 -,20
*** significante a 1%; ** significante a 5%; * significante a 10%
Fonte: Elaborada pelo autor.
Percebe-se aqui a divergência significante a 5% entre os pares cooperados e empresas
quanto à concentração da população em áreas metropolitanas. Importante destacar que esses dois
públicos estão nos extremos. Enquanto cooperados estão distantes das áreas metropolitanas, as
empresas multinacionais estão instaladas justamente nessas áreas. Essa preocupação dos
cooperados pode ser explicada pelo êxodo rural, embora Oliveira (2007) entenda que a agricultura
familiar é uma das principais responsáveis pela manutenção do agricultor no campo e, por
conseguinte, pela diminuição do êxodo rural. Mas quando há deslocamento de pessoas da zona
rural para a urbana, isso impacta diretamente os cooperados e a cooperativa, muito pela
preocupação com o processo sucessório das propriedades rurais e também pela mão de obra
qualificada em cidades do interior, como as que compõem a região de atuação da cooperativa.
53
Para Sachs (2002), os processos de colonização devem ser controlados. Embora não tenha
apresentado divergência significante, essa questão também não apresentou convergência alta,
tendo parte concordado e parte adotado uma postura neutra.
Percebe-se aqui uma grande preocupação quanto ao êxodo rural, sobretudo pelos
cooperados. É comum hoje uma grande dificuldade de manter os jovens nas propriedades. Nas
regiões em que a Coocafé atua, tem-se buscado reverter esse quadro através de projetos com
crianças, jovens e escolas. Esses trabalhos são valorizados pelos cooperados, uma vez que muitos
de seus filhos estiveram ou estão envolvidos nesses projetos.
Existe uma concentração em determinadas regiões, seja nos grandes centros como
também nas comunidades. Em regiões mais propensas para a produção de cafés de qualidade, em
que clima e altitude contribuem diretamente, a procura por propriedades é maior, e,
consequentemente, há maior concentração. Isso explica o fato de cooperados e alta gestão da
Coocafé estarem preocupados com tal questão. As empresas também se preocupam, muito em
função da procura por empregos em grandes centros.
Por fim, a última dimensão a ser investigada é a cultural. Em tal dimensão, todas as
perguntas são aceitas, isto é, apresentam a mesma distribuição (Tabela 10).
Tabela 10 - Dimensão Cultural
Itens Significância
Ao se estabelecer em uma região, a empresa deve propor soluções adaptadas para aquele
ecossistema. 0,324
Práticas de incentivo à pluralidade cultural. 0,429
Respeito à formação cultural comunitária. 0,755
Realização e apoio a eventos que valorizem a cultura local. 0,809
*** significante a 1%; ** significante a 5%; * significante a 10%
Fonte: Elaborada pelo autor.
A dimensão cultural apresentou maior alinhamento entre as partes. Essa dimensão deve
ser bastante considerada, sobretudo pelo fenômeno causado pela globalização, em que há uma
tendência de se estabelecerem padrões culturais universais. O respeito à formação cultural
comunitária, conceito defendido por Sachs (2012), é também uma preocupação dos públicos
pesquisados. Crescer, muitas vezes, significa ampliar sua área de atuação, como no caso da
cooperativa estudada, por exemplo, que saiu de quatro unidades comerciais, em 2009, para 13,
em 2019. Ou seja, ampliou consideravelmente sua área de atuação, atuando hoje em cerca de 60
cidades que possuem culturas diferentes. Também ficou entendido que a pluralidade cultural traz
54
benefícios quanto à ampliação de debates e também novos pensamentos nas empresas. A cultura
ainda é vertente de projetos e ações realizadas pelas instituições, inclusive dentre os inúmeros
projetos que a Coocafé realiza ou apoia, muitos deles voltados para o incentivo à cultura local,
como Coocafest, Concurso Sabores do Café, Concurso Cultural Jingle Coocafé, Festas Regionais,
dentre outros.
55
5 CONCLUSÃO
5.1 Considerações iniciais
A conclusão está dividida em duas partes. No primeiro momento são apresentados os
principais resultados obtidos com esta pesquisa. Na sequência, são discutidas as contribuições
para a teoria, contribuições práticas e limitações.
5.2 Principais resultados
Através do estudo, é possível identificar divergências na avaliação da sustentabilidade
pelos players que atuam na cafeicultura. Foram pesquisados os grupos cooperados do conselho
consultivo, alta gestão da cooperativa e empresas multinacionais que atuam na cafeicultura. Cabe
ressaltar que dentre as 5 dimensões avaliadas – Econômica, Social, Ambiental/Ecológica,
Geográfica e Cultural –, por meio de perguntas específicas para cada uma deles, ficou evidente
uma certa preocupação com o desenvolvimento sustentável por todos os públicos, uma vez que
as médias das respostas quase sempre estiveram acima de 4, em uma escala de 1 a 5. Quanto às
divergências, a maior entre os grupos cooperados e empresas, significante a 5%, ficou na
dimensão geográfica, com a pergunta relacionada às ameaças causadas pela concentração da
população em áreas metropolitanas. Esse mesmo par (cooperados e empresas) apresentou outra
divergência, porém significante a 10%, na dimensão econômica, quanto à avaliação de que
alguma perda de recursos é inevitável, mas isso pode ser compensado pelo aumento de capital.
Na dimentão ambiental/ecológica, houve divergência significante a 10% entre alta gestão e
empresas no que diz respeito à adequação de produtos e processos às especificações ecológicas.
Esse mesmo par, alta gestão e empresas, apresentou outras duas divergências. A primeira,
significante a 5%, está na dimensão social e refere-se à avaliação de que o modelo cooperativista
é uma das principais estratégias para o enfrentamento de uma economia por natureza excludente,
identificada como a globalização. Os resultados apresentam, em grande parte dos momentos,
alinhamento dos públicos pesquisados quanto à sustentabilidade em geral.
É possível identificar ainda um amadurecimento por parte do setor cooperativista quanto
à interpretação da sustentabilidade. O único par que não apresentou divergências foi alta gestão
da cooperativa e cooperados, o que significa um alinhamento entre cooperativa e cooperados,
fruto dos trabalhos e da estratégia adotada pela Coocafé. Empreendimentos cooperativos têm se
56
destacado no mercado, o que traz uma nova visão, considerada por autores como mais mercantil.
Wang et al. (2012) definem que
essas novas taxonomias cooperativas, entendidas também como modelos de negócios, aparentemente
sobrepujaram muito mais as variáveis econômicas do que variáveis políticas e/ou sociais. A perspectiva
adotada é que a vitalidade econômica do negócio cooperativo, entendida principalmente por seus níveis de
competitividade, propiciaria ao empreendimento condições de garantir seu papel social, apregoado pela
doutrina cooperativista.
Tal definição pode ser percebida, por exemplo, quando a alta gestão da cooperativa
entende a dimensão econômica como a que merece menor peso. Pela própria atuação da Coocafé,
na qual grande parte dos resultados (sobras) são destinados a investimentos em projetos que visam
beneficiar o coletivo, percebe-se uma maior valorização da cooperativa para aspectos além do
econômico. Assim sendo, os resultados deste estudo comprovam isso, uma vez que é possível
perceber que o corpo diretivo e executivo da Coocafé tem valorizado aspectos relacionados a
questões culturais, geográficas e ambientais. Isso é reflexo do forte crescimento ao qual a
cooperativa foi submetida, evoluindo não só em questões relacionadas à gestão como também a
questões ligadas ao relacionamento com os cooperados e a comunidade, comprovados pelas
premiações conquistadas pela cooperativa: Prêmio Somos Coop, o principal do cooperativismo
brasileiro, nas categorias Comunicação e Difusão do Cooperativismo (2016) e Prêmio Excelência
em Gestão (2017 e 2019), ambos bienais com realização do Sistema OCB-SESCOOP Nacional,
sendo o último com correalização da Fundação Nacional da Qualidade (FNQ).
Já para os cooperados, as dimensões geográfica e econômica ainda são as de maior peso.
Isso vai, de certa forma, ao encontro ao que defendem Puusa, Mönkkönen and Varis (2013),
quando os autores “percebem que as cooperativas têm invariavelmente assimilado tendências
capitalistas”. A visão dos cooperados está alinhada ainda com Enke (1945) e Bialoskorski Neto
(2008), que definem o cooperativismo como um empreendimento “cujo caráter econômico
deveria ser o norte principal”. Essa visão econômica faz parte do segmento cooperativista e pode
ser vista até como uma evolução e uma oportunidade, pois, através do econômico, é possível
realizar o social. Conforme percebido por Centner (1988), Michels (2000) e Planas e Valls-
Junyent (2011): “o empreendimento cooperativo, a partir dos cenários traçados por essa
perspectiva epistemológica, estaria em um contexto que funcionaria aparentemente como um
pêndulo, ora defendido como um negócio a enfatizar o aspecto social”. Mas essa dicotomia entre
o econômico e o social não é recente; Hogeland (2006) externa que a disputa entre o caráter social
e o econômico tem raízes na própria história de surgimento do movimento cooperativo.
57
Quanto às empresas pesquisadas, elas entendem que a sustentabilidade possui relação
direta com os resultados financeiros. Ao se avaliarem as questões, o maior peso dado foi quanto
a conciliar conservação da natureza e desenvolvimento. E como menor avaliação nas questões,
estabeleceu-se a abrangência dos ganhos para grande parte da sociedade. No que diz respeito à
avaliação das dimensões, os representantes das multinacionais classificaram os aspectos culturais,
geográficos e sociais como mais relevantes.
No contexto geral, percebe-se uma preocupação com o futuro no que diz respeito à
qualidade de vida das novas gerações, quesito com maior nota quando relacionado à preocupação
com o êxodo rural, o que compromete o futuro das propriedades agrícolas. Também cabe destacar
o aspecto que diz respeito a alinhar conservação da natureza e desenvolvimento, avaliado por
todos com nota superior a 4,5. Esses resultados comprovam que os grupos estão preocupados e
alinhados com a sustentabilidade em sua essência, já destacada por Brundtland citado por Scharf
(2004, p.19): “Sustentabilidade é a forma como as atuais gerações satisfazem as suas necessidades
sem, no entanto, comprometer a capacidade de gerações futuras satisfazerem as suas próprias
necessidades”.
Percebe-se ainda que existem dúvidas no que diz respeito a ganhos com certificação,
tendo uma avaliação baixa por parte da gestão da cooperativa; abrangência da sociedade, com
avaliação mais baixa pelas empresas, indicadores de combate à poluição, tendo uma maior
preocupação por parte do grupo gestor da cooperativa; concentração em áreas metropolitanas,
sendo um tema de menor preocupação das empresas; e a disposição do consumidor final em pagar
mais por cafés com apelo sustentável – esse aspecto apresentou maior pontuação pelos
cooperados com distorções pelas empresas e pela cooperativa.
Após análise das respostas, é possível afirmar que os resultados responderam à questão
central do estudo, pois foram identificadas as divergências na avaliação da sustentabilidade pelos
players que atuam na cafeicultura. Através das pesquisas realizadas no referencial teórico,
percebe-se a evolução do tema sustentabilidade e como ele está diretamente relacionado ao
cooperativismo e à agricultura familiar. Também foi possível comparar os principais pontos de
convergência e divergência quanto às avaliações de cada público.
Por fim, serão estabelecidas diretrizes de trabalho para cada público, a partir dos
resultados obtidos no estudo.
58
5.3 Contribuições para a teoria, contribuições práticas e limitações
O estudo constatou o quanto é importante haver um alinhamento quanto à sustentabilidade
entre as partes interessadas de uma empresa, sobretudo quando se trata de uma cooperativa, diante
dos diferenciais desse negócio. Como ressaltam Levi and Davis (2008), há uma considerável
despersonificação no âmbito do negócio cooperativo, o que invariavelmente torna o processo de
gestão extremamente complexo.
Ainda no que diz respeito às inúmeras abordagens e aos pontos divergentes encontrados
nos resultados, é importante que a empresa defina de forma clara como pretende tratar a
sustentabilidade, como defendem van Marrewijk and Werre (2003): cada organização deveria
escolher sua específica ambição e abordagem com respeito à sua sustentabilidade, de maneira
que os objetivos e os intentos organizacionais sejam unidos aos processos de planejamento
estratégico, por meio de decisões que apresentem respostas apropriadas para as circunstâncias
que circundam o contexto sobre o qual a gestão organizacional acontece.
Pelos resultados obtidos, torna-se necessário haver um alinhamento junto ao corpo
diretivo e executivo da cooperativa quanto à sustentabilidade, estabelecendo um paralelo entre
conceitos e ações já desenvolvidas pela Coocafé em cada dimensão. Também há urgência quanto
ao estabelecimento de indicadores voltados para a sustentabilidade. Quanto aos cooperados, é
importante que se mantenham os projetos e as ações e que se definam parâmetros, a partir dos
resultados, para o desenvolvimento ou apoio aos novos. Quanto às empresas, é importante uma
maior divulgação no que diz respeito ao cooperativismo e também à realização de convites para
que elas possam apoiar e participar mais dos projetos realizados pela cooperativa.
O questionário pode ainda ser utilizado por outras empresas, sobretudo do segmento
cooperativista, que queiram avaliar como suas partes interessadas avaliam a sustentabilidade.
O estudo limitou-se a uma cooperativa com públicos que estão relacionados a ela.
Quanto aos cooperados, foi estabelecido um grupo com maior facilidade de acesso, tendo em
vista a grande abrangência da Coocafé.
O pesquisador, embora tenha se colocado à disposição para esclarecimento de dúvidas,
não foi acionado pelas empresas.
Os resultados foram analisados apenas por grupos, não sendo avaliados pontos de
convergência e de divergência dentro do mesmo público.
Assim, trabalhos futuros podem ser estendidos ao consumidor final e a mais
cooperativas, usando-se comparativos regionais com análises, inclusive, dentro do próprio
grupo. Podem-se também abordar aspectos relacionados a inovações tecnológicas, sobretudo
59
na agricultura, como Rockström et al. (2015) destacaram: “propomos que o mundo viva dentro
dos limites planetários através da implantação de novas tecnologias sustentáveis e novas regras
globais”.
60
REFERÊNCIAS
Ackoff, R. L. (1974) Planejamento empresarial. Rio de Janeiro: Livros Técnicos e
Científicos.
Aligleri, L. M. (2011). A adoção de ferramentas de Gestão para a Sustentabilidade e a sua
Relação com os princípios ecológicos nas empresas. Tese de doutorado em Administração.
Universidade de São Paulo, São Paulo, SP, Brasil.
Almeida, D., Santos, M.A.R. & Costa, A.F.B. (2010) Aplicação do coeficiente alfa de
Cronbach nos resultados de um questionário para avaliação de desempenho da saúde
pública. In: Encontro Nacional de Engenharia de Produção, 30. São Carlos.
Alves, E. R. (1981). As Mudanças tecnológica da agricultura brasileira, Documentos, 10.
Brasília: Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, Embrapa.
Anderson, D. R., Sweeney, D. J., & Williams, T. A. (2007). Estatística aplicada à
administração e economia (2a ed.) São Paulo: Cengage Learning.
Archel P. (2003). La divulgacion de la informacion social y medioambiental de la gran
empresa española en el perıodo 1994–1998: situacion actual y perspectivas. Revista
Española de Financiacion y Contabilidad, 117. pp.571–601.
Ashley, P. A. (2005). A Ética e a Responsabilidade Social nos Negócios. São Paulo: Saraiva.
Barbaud-Didier,V., Henninger, M.C., & El Akremi, A. (2012).The relation ship bet ween
members trust and participation in the governance of cooperatives. The role of
organizational commitment. International Food and Agribusiness Management Review,
15(1). pp.1-24.
Barra, G. M. J. (2006). O suporte das associações de interesse privado em canais de
distribuição de produtos diferenciados: um estudo de caso no mercado de cafés especiais.
132 p. Dissertação (Mestrado em Administração). Universidade Federal de Lavras, Lavras.
Belhouari, A., Buendía, M. I., Lapointe, M. J., & Tremblay, B. (2005). Responsabilidad
Social de las Empresas: ¿Un Nuevo Valor para las Cooperativas?, CIRIEC-España, Revista
de Economıa Publica, Social y Cooperativa, 53. pp. 191-208.
Bellen, H. M. van. (2005). Indicadores de sustentabilidade: uma análise comparativa. Rio de
Janeiro: Editora FGV.
Benato, J. V. A. (1994). O ABC do cooperativismo. São Paulo: ICA-OCESP. 131p.
Bijman, J., Hanish, M., & van der Sangen, G. (2014). Shifting control? The change sof
internal governance inagricultural cooperatives in the EU. Annals of Public and
Cooperative Economics, 85(4). pp. 641-661.
Bijman, J., Hendrikse, G., & van Oijen, A. (2013). Accomodating two worlds in one
organisation: Changing board models in agricultural cooperatives. Managerial and
Decision Economics, 34. pp. 204-217.
61
Bouni, C. (1996). Indicateurs de développement durable: l’enjeu d’organiser une information
hétérogène pour préparer une décision multicritère. In: Colloque International, Abbay de
Fontevraud - Indicateurs de Développemente Durable, Paris. Livro de Trabalhos. Paris:
Application des Sciences de l’Action (AScA). 14p.
Bureau Veritas. (2013). Institucional. Recuperado a partir de
<http://www.bureauveritas.com.br>.
Camino, R. & Müller, S. (1993). Sostenibilidad de la agricultura y los recursos naturales:
bases para establecer indicadores. Série Documentos de programas IICA, 38. San José,
CR: Inter-American Institute for Cooperation on Agriculture (IICA). 134p.
Cançado, A. C., Silva Júnior, J. T., & Pereira J.R. (2007). Economia solidária,
cooperativismo e autogestão: as Experiências de Palmas/TO. Palmas: UFT, 320 p.
Carrasco I. (2007). Corporate social responsibility, values, and cooperation. Interna- tional
Advances in Economic Research, 13(4). pp. 454-60.
Carreira, F. A. & Palma, C. M. (2012). Análise Comparativa dos Relatórios de
Sustentabilidade das Empresas Brasileiras, Espanholas, Portuguesas e Andorra. Revista
Universo Contábil, Blumenau, 8(4). pp. 140-166, out/dez.
Cavalcanti, M. (Org.) (2006). Gestão Social, estratégias e parcerias – redescobrindo a
essência da administração brasileira de comunidades para o terceiro setor. São Paulo:
Saraiva, 321p.
Centner, T. J. (1988).The role of cooperatives in agriculture: Historic remnant or viable
membership organization? Journal of Agricultural Cooperation, 3. pp. 94-106.
Chaddad, F. & Iliopoulos, C. (2013). Control rights, governance, and the costs of ownership
in agricultural cooperatives. Agribusiness, 29(1). pp.3-22.
Ciofi, J. L. (2010). Uma investigação do nível de sustentabilidade das companhias de papel e
celulose e a influência das informações financeiras sobre a qualidade da divulgação
socioambiental. Dissertação de Mestrado em Controladoria e Contabilidade. Universidade
de São Paulo, São Paulo, SP, Brasil.
Consumers International (2004). Green Food Claims. London. Retrieved from
<https://www.consumersinternational.org/news-
resources/publications/searchdocument.asp?PubID=382®ionid=135&langid=1>
Costa Neto, P. L. O. (1977). Estatística. São Paulo: Edgard Blücher. 264 p.
Craig, J.G. (1993). The Nature of Cooperation. New York: Black Rose Books.
Creswell, J. W. (2010). Projeto de Pesquisa: métodos qualitativo, quantitativo e misto. (3a.
ed.). Porto Alegre: Artmed. 296p.
Cronbach, L.J. (1951). Coefficient Alpha and the Internal Structure of Tests. Psycometrika,
16(3). pp.297-334.
62
Deegan, C. (2002). Introduction: the legitimising effect of social and environmental
disclosures–a theoretical foundation. Accounting, Auditing and Accountability Journal,
15(3). pp. 282-311.
Dimitri, C. & Greene, C. (2002). Recent Growth Patters in the US Organic Foods Market.
Agriculture Information Bulletin no. 777. USDA Economic Research Service, Washington,
DC.
Dixon, S. E. A., & Clifford, A. (2007). Ecopreneurship – a new approach to managing the
triple bottom line. Journal Of Organizational Change Management, 20(3). pp. 326-345.
Drucker, P. F. (1946). Concept of the Corporation. New York: The John Day Company.
Dyllick, T. & Hockerts, K. (2002). Beyond the business case for corporate sustainability.
Business Strategy and the Environment, New York,11(2). pp. 130-141.
Elkington, J. (1998). Cannibals with forks: The triple bottom line of sustainability. Gabriola
Island: New Society Publishers.
Olde, E. M., Moller, H., Marchand F., McDowell R. W., MacLeod, C. J., Sautier (...), &
Manhire, J. (2016). When experts disagree: the need to rethink indicator selection for
assessing sustainability of agriculture. Springer Science+Business Media Dordrecht.
Fachin, O. (2001). Fundamentos da Metodologia. São Paulo: Editora Saraiva.
Freeman R. (1983). Strategic management: a stakeholder approach. Advances in Strategic
Management. pp. 31-60.
Gallopín, G. (2003). A systems approach to sustainability and sustainable development.
Medio Ambiente y Desarrollo, 64. Santiago de Chile: Cepal.
Gil, A. C. (2010). Como elaborar projetos de pesquisa (5a. ed.) São Paulo: Atlas.
Giovannucci, D. & Koekoek, K. J. (2003). The State of Sustainable Coffee: A Study of Twelve
Major Markets. International Coffee Organization and International Institute for
Sustainable Development, London and Winnipeg.
Giovannucci, D. & Ponte, S. (2005). Standards as a new form of social contract?
Sustainability initiatives in the coffee industry. Food Policy, 30(3). pp.284-301.
Giovannucci, D. (2001). Sustainable Coffee Survey of the North American Specialty Coffee
Industry. Long Beach, CA: Specialty Coffee Association of America.
Givens, H. & Jannasch, R. (1999). The growth of the organic movement in North America.
Ecology and Farming. Tholey-Theley 21-8-9. IFOAM, Germany.
Global Footprint Network. Ecological Footprint: Overview. (2007). Retrieved from
<http://www. footprintnetwork.org/>. Acesso em: 12 nov. 2006.
Global Reporting Initiative. (2013). GRI Institucional. Recuperado a partir de
<https://www.globalreporting.org>.
63
Glomb, T. M., Bhave, D. P., Miner, A. G., & Wall, M. (2011). Doing good, feeling good:
examining the role of organizational citizenship behaviors in changing mood.
Pers.Psychol. 64. pp.191-223.doi:10.1111/j.1744-6570.2010.01206.x
Godard, O. (1991). Environnement Soutenabie et Développement Durable: Le modèle néo-
classique en question. Paris: Environnement et societé 91- CIRED.
Goodman, D. & Redclift, M. (1991). Refashioning nature, food, ecology and culture. London:
Routledge.
Guanziroli, C. E. (2011). Perfil da agricultura familiar no Brasil: dossiê estatístico. Brasília:
INCRA/FAO. Recuperado a partir de <www.incra.gov.br>.
Guimarães, R. P. (1998). Aterrizando una Cometa: indicadores territoriales de
sustentabilidad. Investigación, Documento 18/98, LC/IP/G.120. Santiago do Chile:
Cepal/Ilpes.
Hadani, M., Goranova, M., & Khan, R. (2011). Institutional investors, shareholder activism,
and earnings management. Journal of Business Research 64(12). pp. 1352-1360.
Haight, C. (2011). The problem with fair trade coffee. Stanford Social Innovation Review
9(3). pp. 74-79.
Hair, Jr., Joseph F., Babin, B., Money, A. H., & Samouel, P. (2005). Fundamentos de
Métodos de Pesquisa em Administração. Porto Alegre: Bookman.
Hair, J., Black, W., Babin, B., Anderson, R., & Tatham, R. (2006). Multivariate Data
Analysis (6th ed.). New Jersey: Pearson Educational, Inc.
Hajjar, R., Newton, P., Adsheadd, D., Bogaerts, M., Maguire-Rajpaul, V.A., Pinto, L.F.G.
(...), & Agrawala A. (2019). Scaling up sustainability in commodity agriculture:
Transferability of governance mechanisms across the coffee and cattle sectors in Brazil.
Journal of Cleaner Production.
Hakelius, K. & Hansson, H. (2016). Measuring Changes in Farmers. Attitudes to Agricultural
Cooperatives: Evidence from Swedish Agriculture 1993–2013. Agribusiness, John Wiley &
Sons, Ltd. 32(4). pp.531-546, November.
Hansmann, H. (1996). The Ownership of Enterprise. Cambridge, M A: The Belknap Press of
Harvard University Press.
Harvey, D. (2004). Espaços de esperanças. São Paulo: Edições Loyola.
Hogeland, J.A. (2006). The economic culture of U.S. agricultural cooperatives. Culture &
Agriculture, 28(2). pp. 67-79.
Horrigan, L., Lawrence, R.S., & Walker, P. (2002). How sustainable agriculture can address
the environmental and human health harms of industrial agriculture. Environmental Health
Perspectives 110. pp. 445-456.
64
Jensen, M.F. (2002). African Exports and the Organisational Challenges Arising from Food
Safety Requirements: What Can Be Expected from Changes in EU Food Safety Policies?
mimeo, Copenhagen: KVL.
Kato, C. A. (2008). Arquitetura e sustentabilidade: projetar com ciência da energia.
Dissertação de mestrado. Arquitetura e Urbanismo. Universidade Presbiteriana Mackenzie.
Kieckhofer, A. M. (2005). Promoção do desenvolvimento integrado e sustentável de
municípios. Florianópolis. 222 f. Tese (doutorado) - Universidade Federal de Santa
Catarina (UFSC), Centro Tecnológico (CTC), Programa de Pós-Graduação em Engenharia
de Produção (PPGEP).
Kuhlman, T. & Farrington, J. (2010). What is sustainability? Sustainability, 2. pp.436-448.
Kruskal, W.H. & Wallis, W.A. (1952). Use of Ranks in One-Criterion Variance Analysis.
Journal of the American Statistical Association, 47. pp.583-621.
Levi, Y. & Davis, P. (2008). Cooperatives as the “enfants terrible” of economics: Some
implications for the social economy. The Journal of Socio-Economics, 37. pp. 178-188.
Levin, R. I. & Rubin, D. S. (2004). Estatística para administración y economía. Pearson
Educación.
Liang, Q. & Hendrikse, G. (2013). Cooperative CEO identity and efficient governance:
Member or outside CEO? Agribusiness, 29(1). pp. 23-38.
Malhotra, N. K. (2001). Pesquisa de Marketing: uma Orientação Aplicada (3a.ed.) Porto
Alegre.
Marconi, M. D. A. & Lakatos, E. M. (2005). Fundamentos de Metodologia Científica (6a.
ed.). São Paulo: Atlas. 317p.
Marôco, J. (2011). Análise Estatística com o SPSS Statistics (5a ed.). Lisboa. Report Number.
Martínez-Cañas, R., Ruiz-Palomino, P., Linuesa-Langreo, J., & Blázquez-Resino, J. J. (2016).
Consumer participation in co-creation: an enlightening model of causes and effects based
on ethical values and transcendent motives. Psychol.7:793.doi:10.3389/fpsyg.2016.00793.
Michels, V. (2000). Uma contribuição à analise dos princípios de administração financeira
aplicados a sociedades cooperativas de produção agrícola. Tese (Doutorado em
Contabilidade). Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade
de São Paulo, São Paulo. 166 f.
Milani, B., Righi, M. B., Ceretta, P. S., & Dias. V. V. (2012). Práticas de Sustentabilidade,
Governança Corporativa e Responsabilidade Social afetam o risco e retorno dos
investimentos? Revista de Administração da UFSM, Santa Maria (5a ed. Especial). pp.
667-682.
Modelo, M. (2014). The paradox of fair trade. Retrieved from <http://
www.ssireview.org/articles/entry/the_paradox_of_ fair_trade>.
Nesbary, D. K. (2000). Survey research and the world wide web. Boston: Allyn & Bacon.
65
Ng, L., Sibilkov, V., Wang, Q., & Zaiats, N. (2011). Does shareholder approval requirement
of equity compensation plans matter? Journal of Corporate Finance, 17(5). pp.1510-1530.
Nourse, E.G. (1922). The economic philosophy of cooperation. The American Economic
Review, 12(4). pp. 577–597.
Oliveira Filho, J. E. (2004). Gestão ambiental e sustentabilidade: um novo paradigma eco-
econômico para as organizações modernas, Domus On Line: Ver. Teor. Pol., Soc. Cidade.
Salvador, (1)1. pp. 92-113. jan.,/jun., 2004. Recuperado a partir de
<http://www.fbb.br/downloads/domus_jaime.pdf>. Acesso em: 16 jan. 2010.
Oliveira, D. P. R. (2007). Planejamento Estratégico: conceitos, metodologia e práticas (23a
ed.) São Paulo: Atlas.
Oliveira, L. R., Medeiros, R. M., Terra, P. B., & Quelhas, O. L. G. (2012). Sustentabilidade:
da evolução dos conceitos à implementação como estratégia nas organizações. Produção,
Niterói, 22(1). pp.70-82.
Osterberg, P., & Nilsson, J. (2009). Members perception of their participation in the
governance of cooperatives: The key to trust and commitment in agricultural cooperatives.
Agribusiness, 25(2). pp. 181-197.
Paiva, R. M. (1968). O mecanismo de autocontrole no processo de expansão de melhoria
técnica da agricultura. Revista Brasileira de Economia, Rio de Janeiro, (22)3. pp. 5-68.
Paula, T.C.T. (2008). De Plenderleith a Al Gore. O ideário vigente na conservação de bens
culturais móveis no século XXI. Anais do Museu Paulista: História e Cultura Material.
SciELO Brasil. An. mus. paul. 16(2). São Paulo. Recuperado a partir de
<http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S010147142008000200008&script=sci_arttext&tlng
=en>. Acesso em: 20 jan. 2010.
Perez, F. (2008). A evolução dos Relatórios de Sustentabilidade no Setor de Mineração.
Dissertação de mestrado em Engenharia. Escola Politécnica da Universidade de São Paulo,
São Paulo, SP. Brasil.
Pettersson, T. & Esmer, Y.R. (2008). Changing Values, persisting cultures: Case studies in
value change. Brill.
Pinto, A. L. & Ribeiro, M. S. (2004). Balanço Social: avaliação de informações fornecidas
por empesas industriais situadas no estado de Santa Catarina. Revista Contabilidade &
Finanças, São Paulo, 15(36), set-dez. pp.21-34.
Pires, M.L.L. & Silva, E.S. (2004). Cenários e tendências do cooperativismo brasileiro.
Recife, Bagaço. 99 p.
Planas, J. & Valls-Junyent, F. (2011). ¿Por qué fracasaban las cooperativas agrícolas? Uma
respuesta a partir del análisis de um núcleo de la Cataluña rabassaire. Investigaciones de
Historia Económica, 7. pp. 310-321.
Ponte, S. (2004). Standards and Sustainability in the Coffee Sector. Winnipeg, Canada:
International Institute for Sustainable Development.
66
Potts, J., Voora, V., Lynch, M., & Mammadova, A. (2014). The state of sustainability
initiatives review: standards and the green economy. London: International Institute for
Sustainable Development, 254p.
Potts, J., Voora, V., Lynch, M., & Mammadova, A. (2017). Standards and Biodiversity. State
of Sustainability Initiatives Standard an Biodiversity - Thematic Review. International
Institute for Sustainable Development (IISD).
Puusa, A., Mönkkönen, K., & Varis, A. (2013). Mission lost? Dilemmatic dual nature of co-
operatives. Journal of Co-operative Organization and Management, 1. pp. 6-14.
Raynaut, C. & Zanoni, M. (1993). La Construction de l'interdiciplinarité en Formation
integrée de l'environnement et du Développement. Paris: Unesco (Document préparé pour
Ia Réunion sur les Modalités de travail de Chaires Unesco du Développement Durable.
Curitiba, 1(4) juillát 93. (mimeo).
Reardon, T., Codron, J.M., Busch, L., Bingen, J., & C. Harris (2001). Global Change in
Agrifood Grades and Standards: Agribusiness Strategic Responses in Developing
Countries. International Food and Agribusiness Management. 2(3). pp. 421-435.
Redclift, M. (1987). Sustainable development: exploting the contradictions. London:
Methuem.
Rees, W. (1992). Ecological footprints and appropriated carrying capacity: what urban
economies leaves out. Environment and Urbanization. 4(2), pp. 121-130.
Rice, P.D. & J. McLean. (1999). Sustainable Coffee at the Crossroads. Consumer’s Choice
Council.
Rios, G. S. (2006). Cooperação e tipos de cooperativismo no Brasil. Anais do I Encontro da
Rede de Estudos Rurais. Niterói: Rede de Estudos Rurais.
Rocha, T. A. C. (2012). Análise do Relatório GRI enquanto ferramenta para mensuração da
Sustentabilidade Empresarial. Dissertação de mestrado em Administração. Universidade
de São Paulo, Ribeirão Preto, SP, Brasil.
Rockström, J., Sachs, J.D., Öhman, M.C., & Schmidt-Traub, G. (2013). Sustainable
Development and Planetary Boundaries. Background Paper for the High-level Panel of
Eminent Persons on the Post-2015. Development Agenda.
Romeiro, A. R. (Org.). (2004). Avaliação e Contabilização de Impactos Ambientais.
Campinas (Brasil): Editora Unicamp. 400p.
Sachs, I. (1990). Desarrollo sustentable, bio-industrialización descentralizada y nuevas
configuraciones ruralurbanas. Los casos de India y Brasil. Pensamiento Iberoamericano,
Madrid, 46. pp. 235-256.
Sachs, I. (2002). Desenvolvimento sustentável, bioindustrialização descentralizada e novas
configurações rural-urbanas: os casos da Índia e do Brasil. In: Vieira, P. F. & Weber, J.
(Orgs.). Gestão de Recursos Naturais Renováveis e Desenvolvimento – novos desafios para
a pesquisa ambiental. (3a ed.) São Paulo: Cortez.
67
Sachs, I. (2007). Caminhos para o desenvolvimento sustentável. (4a ed.). Rio de Janeiro:
Garamond, 95p.
Samuel-Johnson, K. & Esty, D. C. (2000). Pilot Environmental Sustainability Index Report.
Davos (Switzerland). World Economic Forum: Annual Meeting. 41 p. Retrieved from
<http://sedac. ciesin.org/es/esi/ESI_00.pdf>. Acesso em: 12 nov. 2007.
Scharf, R. (2004). Manual de Negócios Sustentáveis. São Paulo: Amigos da Terra.
Sekaran, U. M. (1984). Research methods for managers: a skill building approach. John
Wiley e Sons, Inc., 605 Third Ave., New York, NY 10158, USA. 352p.
Silva, E. L. & Menezes, E. M. (2001). Metodologia da pesquisa e elaboração de dissertação
(3a ed. rev. atual). Florianópolis: Laboratório de Ensino a Distância da UFSC. 121p.
Singh, V. & Deewan, S. (2019). Impact of Corporate Social Responsibility in Sustainable
Agriculture. Productivity. 59(4). pp. 394-412. 19p.
Solow, R.M. (1997). Reply-georgescu-roegen versus solow/stiglitz. Ecol. Econ. 22. pp.267-
268.
Spitzeck, H. H., Qazi, D. C., Bachetti, J. G., & Borges, L. (2016). Estágios da
Sustentabilidade Corporativa no Brasil. Núcleo de Sustentabilidade. Nova Lima:
Fundação Dom Cabral. FDC.
Stahl, R. L. & Schneider, J. O. (2013). As interfaces entre cooperativismo e economia
solidária. Ciências Sociais Unisinos, São Leopoldo. 49(2). pp. 197-206.
Sue, V. M. & Ritter, L. A. (2007). Conducting online surveys. Thousand Oaks, CA: Sage.
Tinoco, J. E. P. (2010). Balanço Social e o Relatório de Sustentabilidade. São Paulo: Atlas.
Tinoco, J. E. P. E. & Kraemer, M. E. P. (2011). Contabilidade e Gestão Ambiental (3a ed.).
São Paulo: Atlas. p. 248.
UNDP. Human Development Report (2005). Washington, USA: United Nations
Development Programme (UNDP), 2005. 388 p. Retrieved from
<http://hdr.undp.org/en/reports/global/hdr2005/ Acesso em: 06 nov. 2007.
van Bellen, H. M. (2005). Indicadores de sustentabilidade: uma análise comparativa. Rio de
Janeiro: Editora FGV.
van Marrewijk, M. & Werre, M. (2003). Multiple levels of corporate sustainability. Journal of
Business Ethics, New York. 44. pp. 107-119.
Vargas, S. A. & Vaca A. R. M. (2005). Cooperativa y cooperativismo: vinculos y
potencialidades. CIRIEC-España, Revista de Economia Publica, Social y Cooperativa. 53.
pp. 241-260.
Vergara, S. C. (2014). Projetos e Relatórios de Pesquisa em Administração. São Paulo - SP:
Editora Atlas.
68
Wackernagel, M. & Rees, W. (1996). Ecological Footprint method. Gabriola Island: New
Society Publishers.
Wang, X. et al. (2012). The Empirical Study on Operating Efficiency of Agricultural
Cooperatives in Langao. International Journal of Business and Management. (7)17. pp. 60-
69.
World Values Survey - WVS (2014). Retrieved from <www.worldvaluessurvey.org>
Zozzoli, J. C. J. (2008). Marca e comunicação ambiental. In: Anais XXXI Congresso
Brasileiro de Ciências da Comunicação - Intercom: Natal/RN.
69
APÊNDICE A – Questionário aplicado
70
71
72
73
74
75