bi4all Corporate Governance
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Auditoria Interna Outubro/Dezembro 2009 Nº 36
Artigos
Ultimamente todos temos verificado que algumas
das empresas portuguesas onde supostamente
funcionariam excelentes modelos de gestão, foram
as primeiras a acusar problemas aos primeiros
sinais de crise. Como é possível que, entidades
onde os deveres e responsabilidades dos
Conselhos de Administração estejam definidos
segundo as melhores práticas do “Governo das
Sociedades”, sejam estas entidades as primeiras a
entrar em colapso financeiro? Tanto mais quando
esse colapso tem origem na falta de liquidez ou
através de fraudes detectadas ao nível da
administração?
Na minha perspectiva, a problemática da gestão
actual das empresas passa pela ausência de uma
relação directa entre as várias componentes do
Modelo Unificado do Corporate Governance. (ver
figura seguinte)
Figª1 – Modelo Unificado do Corporate Governance
A Gestão da Performance de uma organização é o
último elo do Modelo Unificado do Corporate
Governance.
José Oliveira
Director Geral
Os deveres e responsabilidades dos Conselhos de Administração estejam
definidos segundo as melhores práticas do “Governo das Sociedades”.
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Auditoria Interna Outubro/Dezembro 2009 Nº 36
1. Organização e Processos
A primeira componente do Corporate Governance
passa por uma organização sustentada em
processos perfeitamente descritos e com todas as
ocorrências perfeitamente identificadas.
As empresas multinacionais com fábricas ou linhas
de montagem em Portugal, conhecem
perfeitamente esta realidade pois só podem
optimizar e potenciar a sua actividade, pelo
detalhe e visão global, considerando todos os
custos, proveitos e tempos necessários à
realização das respectivas tarefas. No entanto o
nosso tecido empresarial está ainda longe dessa
realidade. Se existem referências em Portugal
nesta área, essas referências são inferiores aquilo
que se verifica na maioria das organizações por
onde já passei e tive oportunidade de fazer a sua
análise.
O principal motivo é desconhecimento destas
matérias ou nalgumas situações, o custo de
transformar uma empresa numa organização
orientada a processos, ser alto demais para a
realidade portuguesa.
Ora, isto será verdade se analisarmos o retorno do
investimento a curto prazo. No entanto, a médio e
longo prazo, a vantagem competitiva de uma
organização orientada a processos é, em todos os
aspectos, enorme, pois ganham um maior trunfo
que é o facto de obter informação ao detalhe, de
uma forma integrada e em tempo real, sabendo
exactamente os custos e importância que cada
processo ou linha de produção representa para a
empresa.
fig. 2 – Processos de negócios
A g e n te V e n d e d o r T e so u ra ria e C o b ra n ç a s
M e io d e
P a g a m e n to
M e io d e
P a g a m e n to
E la b o ra ç ã o
R e la ç ã o
P a g a m e n to s
R e la ç ã o
P a g a m e n to s
E la b o ra ç ã o
R e la ç ã o
P a g a m e n to s
R e la ç ã o
P a g a m e n to s
D e p ó s ito
E n v io d a re la ç ã o d e
V a lo re s ju s tif ic a t iv o d e
D e p ó s ito e D o c C lie n te
S im
D e p ó s ito
N ã o
E n v io d a R e la ç ã o
V a lo re s , M e io s
P a g a m e n to e D o c
C lie n te
J u s t if ica tiv o
D e p ó s ito
C o n ta b iliz a ç ã o
P ro v is ó r ia
D iá r io
R e la ç ã o
P a g a m e n to s
D iá r io
A n á lis e
M o n ta n te s
re c e b id o s
D o c u m e n ta ç ã o
C lie n te
F o rn e c e d o r?E n c o n tro d e
C o n ta sS im
In fo rm a ç ã o
V a lid a d a
A p lic a ç ã o
D e s c o n to s d e
P a g a m e n to
N ã o
A p lic a ç ã o
C o n d iç õ e s
E sp e c ific a s
L iq u id a ç ã o
(D é b ito e C ré d ito )
C o n ta b iliz a ç ã o
F in a l
A rq u ivo
P ro c e s s o
R e c e b im e n to
D iá r io s
In fo rm a ç ã o
E sp e c ific a
R e la ç ã o
V a lo re s
D
V a lid a ç ã o d a s
c o n d iç õ e s d e V e n d a
p e lo R e s p o n sá v e l
D e m o n s tra ç õ e s
F in a n c e ira s
A Gestão da Performance de uma organização é o último elo do Modelo Unificado do Corporate Governance 8
Auditoria Interna Outubro/Dezembro 2009 Nº 36
Modelos de Governação
O próximo passo após a Organização e Processos
são os Modelos de Governação. Dentro desta
componente integra!se a definição de standards
em termos contabilísticos, informáticos, sistemas
de suporte à decisão e finalmente modelos de
governação (Modelo Continental e Japonês,
Modelo Latino, Anglo Saxónico e Dualista).
Por exemplo, verificamos muitas vezes que, em
grupos ou organizações de múltiplas empresas, em
termos contabilísticos não estão criadas standards
que simplifiquem a vida dos responsáveis pela
consolidação legal e financeira das contas. No final
essas organizações perdem muito tempo a
preparar a consolidação das mesmas, correndo o
risco de os dados já estarem a desactualizados
aquando da sua entrega. Em tempos conturbados
como os actuais, onde a rapidez de análise do
negócio leva a que a tomada de decisões tenha de
ser mais rápida e com maior assertividade, as
empresas que não têm essa componente bem
montada, perdem claramente em relação às
outras.
Se isto é verdade em termos de standards
contabilísticos, os sistemas de informação também
não ficam atrás, pois uma boa integração e
optimização dos sistemas leva a uma redução, que
pode levar a um decréscimo nos custos de
manutenção superiores a 60% (Sistemas, Pessoas,
energia, consumíveis, etc.).
Já em relação aos sistemas de suporte à decisão,
hoje em dia a maioria dos ERPs do mercado já
trazem uma componente de Business intelligence
Integrado. No entanto, há que ter em conta que
esses sistemas apesar de virem já pré!definidos,
não são exactamente “out of the box” tendo de ser
preparados para responder às especificidades de
cada negócio. Também encontramos no mercado
Business Intelligence, os chamados Sistemas
Independentes com “pacotes analíticos” (cubos
financeiros, cubos de recursos humanos,
comerciais, entre outros). Esses pacotes vêm
preparados para responder analiticamente, ou
seja, por sectores das organizações respondendo
transversalmente às principais necessidades do
negócio. No entanto a experiência diz!me que não
existem milagres e que na maioria das vezes o
custo de optimização dos sistemas integrados é
mais elevado do que pegar num sistema
independente e construir todo o sistema Business
Intelligence “sem vícios” e completamente
orientados às especificidades das organizações.
Além disso, temos de considerar que todas as
empresas são diferentes umas das outras. Ou seja,
um sistema de BI que sirva uma entidade, não irá
servir para outra entidade, já que a problemática
da origem dos dados, o objecto de negócio, a visão
do decisor e, finalmente até a própria cultura da
organização, leva a que isso não seja transparente.
Em relação aos modelos de governação tem sido
desenvolvido muito trabalho nesta componente do
Governance. No entanto o que se verifica, e já se
sabia, é que não basta criar um modelo de
organização da administração em termos de
responsabilidades e deveres, mas é preciso
também alinhar esses princípios com todo o
Modelo Unificado do Corporate Governance.
O que acontece é que, na maioria das vezes, se dá
demasiada ênfase a esta componente do
Governance descurando muitas vezes todas as
outras relações entre o modelo (fig.1). Resultado
prático, um fraco negócio, não sustentando, com
falhas de estrutura e com maior apetência para
desvios.
A Gestão da Performance de uma organização é o último elo do Modelo Unificado do Corporate Governance 9
Auditoria Interna Outubro/Dezembro 2009 Nº 36
Existe no entanto uma corrente que separa a
gestão do risco dos modelos de governação, o que
nos remete para o próximo passo.
2. Gestão do Risco e Controlo Interno
Acredito sinceramente que esta crise virá provar
que um bom modelo de Governação terá de ter
obrigatoriamente todas as componentes de
monitorização activas e bem presentes nas
organizações. Um bom controlo interno permitirá
uma melhor gestão do risco.
Dentro desta componente, temos obviamente de
considerar o tema da avaliação dos líderes das
organizações na sua componente prática, tema tão
bem abordado em “The Leadership Scorecard”, de
Jack Philips e Lynn Schmidt, e fundamental na
visão holística de todo este processo. Ou seja,
criaram uma metodologia onde se avalia os líderes
de acordo com o retorno do investimento que é
feito na sua pessoa, bem como o seu
desenvolvimento dentro da organização
(liderança) e o respectivo contributo para a
organização.
As empresas cotadas na Bolsa dos Estados Unidos
têm de estar em conformidade com as SOX. No
entanto, saindo dos Estados Unidos pela Europa
fora, e descendo a empresas locais não cotadas na
Bolsa ou outras que devido a estratégia não
consideram esta matéria relevante, não
encontramos na sua maioria qualquer tipo de
sistemas monitorização do risco. Como tal, mais
desprotegidas em relação as práticas de gestão e
de operações.
Começa a haver interesse nesta matéria por parte
dos líderes das organizações, mas do interesse à
sua implementação, ainda pouco se fez em
Portugal.
A Gestão da Performance de uma organização é o último elo do Modelo Unificado do Corporate Governance 10
Auditoria Interna Outubro/Dezembro 2009 Nº 36
Acredito que a conjuntura actual comece a dar
frutos em relação a estas matérias e que aos
poucos as organizações percepcionem a
importância destas componentes para uma boa
gestão e comecem a implementar sistemas de
monitorização dos riscos financeiros e processuais
eficazes no combate à fraude e às ineficiências.
fig. 3 Controlo Interno ! COSO
Tudo isto deverá ser monitorizado e avaliado, ou
seja, Risk Management e controlo interno.
3. Performance Management
Finalmente temos o último elo de ligação do
modelo, o módulo de Performance Management.
O módulo de performance Management surge
somente no final e, na minha opinião só pode ser
implementado numa organização após esta ter
passado pelos 3 passos anteriores: Processos
perfeitamente definidos e alinhados, os Modelos
de Governação em conformidade com as boas
práticas, e a componente de Risco e Controlo
interno activa e em monitorização constante.
Após isso, o passo na evolução da excelência é a
monitorização integrada das 3 componentes e a
sua evolução em termos de capacidade de reduzir
os custos e, por consequência, aumentar os lucros
da organização.
Existem várias ferramentas de monitorização da
Gestão da Performance. Uma das mais utilizadas é
o famoso Balanced Scorecard (BSC) de Kaplan e
Norton.
O modelo das quatro perspectivas do BSC
descreve como uma unidade de negócio cria valor
para os accionistas, por via de um melhor
relacionamento com o cliente e impulsionado pela
excelência nos processos internos.
Os processos são aprimorados continuamente
mediante o alinhamento das pessoas, sistemas e
culturas.
A Gestão da Performance de uma organização é o último elo do Modelo Unificado do Corporate Governance 11
Auditoria Interna Outubro/Dezembro 2009 Nº 36
Um exemplo deste alinhamento e de boas
práticas na implementação de sistemas de gestão
da performance sustentado no Balanced
Scorecard, temos o modelo implementado pela
Dr.ª Mónica Monteiro na Lipor.
A Lipor, empresa de resíduos do norte, conseguiu
construir um sistema com o qual monitoriza não
só o negócio, como faz o alinhamento de toda a
organização com a estratégia da empresa.
Fig. 4 Mapa estratégico da Lipor.
Conclusão
Em conclusão, podemos afirmar que neste mundo
cada vez mais competitivo, só irá sobreviver quem
se destacar pela positiva, inovar o suficiente
antecipando as tendências de mercado,
monitorizando toda a componente nervosa da
organização, avaliando em tempo real o seu
“state of the art” seja a nível processual,
financeiro ou de negócio, permitindo uma
actuação mais proactiva do que reactiva, com
todos os benefícios da excelência de actuação e
imagem da empresa.
o
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