BIANCA FERNANDES MIRRA METABOLISMO ENERGÉTICO DE POLIFOSFATOS … · 2019. 8. 15. · iii Mirra,...

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i PPG-PRODBIO - Programa de Pós-graduação em Produtos Bioativos e Biociências BIANCA FERNANDES MIRRA METABOLISMO ENERGÉTICO DE POLIFOSFATOS MITOCONDRIAIS E SUA RELAÇÃO COM O ESTRESSE OXIDATIVO EM Tribolium castaneum. Macaé RJ 2017

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    PPG-PRODBIO - Programa de Pós-graduação em Produtos Bioativos e Biociências

    BIANCA FERNANDES MIRRA

    METABOLISMO ENERGÉTICO DE POLIFOSFATOS MITOCONDRIAIS E SUA

    RELAÇÃO COM O ESTRESSE OXIDATIVO EM Tribolium castaneum.

    Macaé – RJ

    2017

  • ii

    METABOLISMO ENERGÉTICO DE POLIFOSFATOS MITOCONDRIAIS E

    SUA RELAÇÃO COM O ESTRESSE OXIDATIVO EM Tribolium castaneum.

    BIANCA FERNANDES MIRRA

    Dissertação apresentada a Universidade

    Federal do Rio de Janeiro como parte das

    exigências para obtenção do título de Mestre

    em Produtos Bioativos e Biociências.

    ORIENTADOR: Drº. ELDO CAMPOS

    CO-ORIENTADOR: Drº. RODRIGO NUNES DA FONSECA

    Macaé – RJ

    2017

  • iii

    Mirra, Bianca Fernandes.

    Metabolismo energético de Polifosfatos mitocondriais e sua relação com o

    estresse oxidativo em Tribolium castaneum/__f.

    Dissertação de Mestrado em Produtos Bioativos e Biociências apresentada

    a Universidade Federal do Rio de Janeiro, campus Macaé, Professor Aloísio

    Teixeira.

    Orientador: Eldo Campos

    1. Metabolismo de polifosfatos 2. Bioquímica 3. Estresse oxidativo

    Co-orientador: Rodrigo Nunes da Fonseca

    1. Biologia molecular 2. Biologia Evolutiva do Desenvolvimento

  • iv

    METABOLISMO ENERGÉTICO DE POLIFOSFATOS MITOCONDRIAIS E SUA

    RELAÇÃO COM O ESTRESSE OXIDATIVO EM Tribolium castaneum.

    BIANCA FERNANDES MIRRA

    Dissertação de Mestrado apresentada ao

    Programa de Pós-Graduação em Produtos

    Bioativos e Biociências da Universidade

    Federal do Rio de Janeiro, campus Macaé,

    Professor Aloísio Teixeira, como parte dos

    requisitos para a obtenção do título de

    Mestre.

    Apresentada em 10/11/2017.

    COMISSÃO EXAMINADORA:

    ________________________________________________________

    Profª.Drª. Magdalena Rennó

    Titular interno (UFRJ/Macaé)

    ________________________________________________________

    Profº.Drª. José Roberto da Silva

    Titular interno (UFRJ/Macaé)

    ________________________________________________________

    Profª.Drª. Flávia Borges Mury

    Titular externo (UFRJ/Macaé)

    ________________________________________________________

    Prof. Drº. Rodrigo Nunes da Fonseca – LICM / UFRJ - Campus Macaé

    (Co-orientador)

    _________________________________________________________

    Prof. Drº. Eldo Campos – LIBHM / UFRJ – Campus Macaé

    (Orientador)

    Macaé – RJ

    2017

  • v

    “Dedico aos meus filhos Pedro e Pietra para nunca esquecerem que todo esforço é

    recompensado...”

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    AGRADECIMENTOS:

    À Deus, por tudo.

    Aos meus filhos, que mesmo sem compreender bem, me apoiaram e reconheceram

    meus esforços com os estudos.

    À minha mãe, por parar a sua vida para me ajudar quando eu mais precisei cuidando

    dos meus filhos para que eu pudesse me dedicar aos estudos.

    Ao meu pai, por se preocupar comigo.

    Aos meus irmãos, pela admiração em lutar pelos meus objetivos.

    Aos meus amigos, pela força.

    À querida Ana Maria Barzani Ávila, que me direcionou ao universo do mestrado

    acreditando que eu seria capaz.

    Ao querido João Batista Orozimbo que sempre foi um grande incentivador do meu

    crescimento acadêmico me apoiando e demonstrando grande admiração por minha

    determinação.

    Ao querido Jovenito Tavares pela admiração perceptível e incentivo ao meu

    crescimento acadêmico.

    À querida Lorena Guimarães Rosa pelo auxílio em língua inglesa sempre me apoiando

    e auxiliando quando precisei.

    Ao querido Eduardo Ivanissevich da Costa pelo auxílio em toda formatação da minha

    dissertação.

    Ao meu professor orientador Eldo Campos, pelos ensinamentos científicos, por

    acreditar no meu potencial, pela paciência e atenção sempre que precisei. Agradeço

    imensamente pela oportunidade de ver meu sonho se tornar realidade pois sem seu

    auxílio eu não teria conseguido.

    Ao meu professor co-orientador Rodrigo Nunes da Fonseca, pela disponibilidade em

    ajudar sempre.

  • vii

    Ao professor José Roberto da Silva, pelo dom de ensinar, pelo incentivo e pela grande

    capacidade de mostrar que tudo dará certo.

    Aos meus queridos amigos de laboratório George Domingues, Keity Jaqueline Vilela,

    e Bianca Curitiba pela parceria e força em todos, absolutamente todos os momentos

    no decorrer do mestrado.

    A todos os alunos e funcionários do LIBHM e do NUPEM, em especial a Danielle

    Fraga, Otassano Panetto, Carina Oliveira, Lina Lane Ferreira, que se tornaram

    grandes amigos. Muito obrigada pela parceria no dia a dia.

    Ao técnico José de Souza Lima Júnior pela ajuda para o bom andamento na execução

    dos experimentos.

    Aos colegas de biotério pelo auxílio na manutenção da colônia.

    Aos professores que aceitaram fazer parte das minhas bancas de acompanhamento

    Magdalena Rennó e José Roberto da Silva colaborando grandemente para meu

    crescimento acadêmico.

    À professora Magdalena Rennó que aceitou revisar minha dissertação.

    Aos professores que aceitaram fazer parte da minha banca de defesa de mestrado

    Magdalena Rennó, Cíntia Monteiro, Flávia Mury, Leonardo Abreu e José Roberto.

    À coordenação de pós-graduação em Produtos Bioativos e Biociências, pelo apoio ao

    curso.

    Às agências de fomento, CAPES, CNPq, e em especial a FAPERJ, pelo financiamento

    para este projeto.

    Obrigada a todos que contribuíram de alguma forma para a realização deste trabalho.

  • viii

    “Graças a Deus, por seu dom indescritível”.

    2 Coríntios 9:15

    https://www.bibliaon.com/versiculo/2_corintios_9_15/

  • ix

    RESUMO:

    O besouro Tribolium castaneum surgiu como um interessante modelo de

    estudo relacionado ao desenvolvimento dos artrópodes para investigar questões

    biológicas básicas. Polifosfatos inorgânicos são polímeros lineares de ortofosfato

    cujos resíduos de fosfato estão unidos por ligações fosfoanidrídicas

    termodinamicamente equivalentes a Adenosina trifosfato (ATP), que quando

    hidrolisadas, geram energia. As exopolifosfatases (PPX) são consideradas enzimas

    regulatórias centrais no metabolismo de PoliP onde atua hidrolisando a cadeia de

    PoliP, liberando moléculas de fosfato inorgânico (Pi). As ATPases ou

    adenosinatrifosfatases constituem uma classe de enzimas que catalisam a

    decomposição do ATP em ADP e um íon de fosfato livre. Nosso trabalho investigou a

    enzima Exopolifosfatase mitocondrial (mitoPPX), mostrando que sua atividade é

    regulada durante a respiração mitocondrial na presença de ADP + Piruvato. Como

    inibidor da cadeia respiratória utilizamos KCN, que foi capaz de inibir a atividade da

    mitoPPX durante a respiração mitocondrial, resultado antagonicamente observado

    quando o gene da pirofosfatase foi silenciado por RNAi. FCCP como desacoplador da

    cadeia respiratória estimulou a atividade da mitoPPX, efeito não observado quando o

    gene da pirofosfatase foi silenciado por RNAi. PoliP3 ativou a atividade da F1Fo-

    ATPase durante a respiração mitocondrial e também com o gene da pirofosfatase

    silenciado por RNAi, já PoliP15 não foi capaz de estimular a atividade da F1Fo-ATPase

    tanto com silenciamento quanto sem. Tanto a razão ATP/ADP quanto a razão

    NADH/NAD+ influenciaram a atividade da mitoPPX onde quanto maior a concentração

    de ATP em relação a ADP e NADH em relação a NAD+, menor foi a atividade.

    Analisamos também a influência da Acetil-CoA, mostrando que quanto maior a

    concentração, menor a atividade da mitoPPX, resultando completamente distinto

    quando avaliamos a influência da Glicose 6-P, que ativou a mitoPPX. Nossos

    resultados evidenciaram que a catalase provavelmente é a principal enzima

    antioxidante atuando na prevenção de espécies reativas de oxigênio no metabolismo

    energético do Tribolium castaneum garantindo assim novas perspectivas na área da

    bioenergética mitocondrial e do metabolismo de polifosfatos em artrópodes.

    Palavras-chave: mitocôndria, polifosfatos, espécies reativas de oxigênio, Tribolium

    castaneum.

  • x

    ABSTRACT:

    The beetle Tribolium castaneum emerged as an interesting study model related to

    the development of arthropods to investigate basic biological issues. Inorganic

    polyphosphates are linear orthophosphate polymers whose phosphate residues are

    linked by phosphoanhydride bonds thermodynamically equivalent to Adenosine

    triphosphate (ATP), which when hydrolyzed, generate energy. Exopolyphosphatases

    (PPX) are considered central regulatory enzymes in the metabolism of PolyP where it

    acts by hydrolyzing the PolyP chain, releasing inorganic phosphate (Pi) molecules.

    ATPases or adenosinetriphosphatase are a class of enzymes that catalyze the

    decomposition of ATP into ADP and a free phosphate ion. Our work investigated the

    enzyme mitochondrial exopolyphosphatase (mitoPPX), showing that its activity is

    regulated during mitochondrial respiration in the presence of ADP + pyruvate. As a

    respiratory chain inhibitor we used KCN, which was able to inhibit mitoPPX activity

    during mitochondrial respiration, a result that was antagonistically observed when the

    pyrophosphatase gene was silenced by RNAi. FCCP as a disruptor of the respiratory

    chain stimulated the activity of the mitoPPX, an effect not observed when the

    pyrophosphatase gene was silenced by RNAi. PolyP3 activated the F1Fo-ATPase

    activity during mitochondrial respiration and also with the silenced pyrophosphatase

    gene, since PolyP15 was not able to stimulate F1Fo-ATPase activity with either

    silencing or without. Both the ATP / ADP ratio and the NADH / NAD + ratio influenced

    the activity of the mitoPPX where the higher the ATP concentration in relation to ADP

    and NADH in relation to NAD +, the lower the activity. We also analyzed the influence

    of Acetyl-CoA, showing that the higher the concentration, the lower the activity of the

    mitoPPX, resulting completely different when we evaluated the influence of Glucose 6-

    P, which activated mitoPPX. Our results showed that catalase is probably the main

    antioxidant enzyme acting in the prevention of reactive oxygen species in the energy

    metabolism of Tribolium castaneum, thus ensuring new perspectives in the area of

    mitochondrial bioenergetics and polyphosphate metabolism in arthropods.

    Keywords: mitochondria, polyphosphates, reactive oxygen species, Tribolium

    castaneum.

  • xi

    LISTA DE ILUSTRAÇÕES:

    Figura 1. Depósito de armazenamento de grãos infestado por insetos-praga........3

    Figura 2. Besouro Tribolium castaneum adulto.......................................................4

    Figura 3. Fases de desenvolvimento do besouro Tribolium castaneum..................5

    Figura 4. Fotomicrografia eletrônica da mitocôndria................................................6

    Figura 5. Organização ultraestrutural da mitocôndria..............................................7

    Figura 6. Cadeia transportadora de elétrons acoplada ao transporte de prótons....7

    Figura 7. Estrutura do Polifosfato linear...................................................................8

    Figura 8. Atividade da Exopolifosfatase (PPX) durante a respiração mitocondrial

    em besouros adultos...............................................................................................30

    Figura 9. Atividade da Exopolifosfatase (PPX) durante a respiração mitocondrial

    com o gene da pirofosfatase silenciado por RNAi em besouros adultos................31

    Figura 10. Atividade da F1Fo-ATPase no metabolismo mitocondrial utilizando

    PoliP3 ......................................................................................................................32

    Figura 11. Atividade da F1Fo-ATPase no metabolismo mitocondrial utilizando

    PoliP3 com o gene da pirofosfatase silenciado por RNAi.......................................33

    Figura 12. Atividade da F1Fo-ATPase no metabolismo mitocondrial utlizando

    PoliP15....................................................................................................................34

    Figura 13. Atividade da F1Fo-ATPase no metabolismo mitocondrial utilizando

    PoliP15 com o gene da pirofosfatase silenciado por RNAi.....................................35

    Figura 14. Influência do ATP/ADP na atividade Exopolifosfatásica (PPX)

    mitocondrial.............................................................................................................36

    Figura 15. Influência do NADH/NAD+ na atividade Exopolifosfatásica (PPX)

    mitocondrial.............................................................................................................37

    Figura 16. Influência da Acetil-CoA na atividade Exopolifosfatásica (PPX)

    mitocondrial.............................................................................................................38

    Figura 17. Influência da Glicose 6-fosfato na atividade Exopolifosfatásica (PPX)

    mitocondrial.............................................................................................................39

    Figura 18. Atividade da enzima Catalase no metabolismo mitocondrial utilizando

    PoliP3......................................................................................................................40

  • xii

    Figura 19. Atividade da enzima Catalase no metabolismo mitocondrial utilizando

    PoliP15....................................................................................................................41

    Figura 20. Atividade da enzima Glutationa Redutase no metabolismo mitocondrial

    utilizando PoliP3......................................................................................................42

    Figura 21. Atividade da enzima Glutationa Redutase no metabolismo mitocondrial

    utilizando PoliP15....................................................................................................43

    Figura 22. Atividade da enzima Superóxido Dismutase no metabolismo mitocon-

    drial utilizando PoliP3..............................................................................................44

    Figura 23. Atividade da enzima Superóxido Dismutase no metabolismo mitocon-

    drial utilizando PoliP15............................................................................................45

  • xiii

    LISTA DE TABELAS:

    Tabela 1. Ocorrência de Polifosfato (PoliP) nas diversas células e tecidos..............10

    Tabela 1. Classificação de Exopolifosfatase em Saccharomyces cerevisiae............12

  • xiv

    LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS:

    Δψm - Mitochondrial membrane potential

    µg – Micrograma

    µL – Microlitro

    µM – Micromolar

    Abs - Absorbância

    ADP – Adenosina difosfato

    ANOVA – Análise sobre variância

    ATPase – Adenosinatrifosfatase

    CAT - Catalase

    CoA – Coenzima A

    DNA – Ácido Desoxirribonucleico

    dsRNA – RNA dupla fita

    ERO – Espécies Reativas de Oxigênio

    FAD - Flavina-adenina-dinucleotideo

    FADH2 – Flavina-adenina-dinucleotideo reduzida

    FCCP - Carbonil-cianuro-p-trifluorometoxifenilhidrazona

    GR – Glutationa redutase

    KCN – Cianeto de potássio

    mitoCAT – Catalase mitocondrial

    mitoGR – Glutationa redutase mitocondrial

    mitoPPX – Exopolifosfatase mitocondrial

    mitoSOD – Superóxido dismutase mitocondrial

    mTOR - Mammalian Target of Rapamycin

    NAD+ - Nicotinamida-adenina-dinucleotideo

    NADH - Nicotinamida-adenina-dinucleotideo reduzida

    Pi – Fosfato inorgânico

  • xv

    PoliP – Polifosfato inorgânico

    PPase - Pirofosfatase

    PPi – Pirofosfato inorgânico

    PPX – Exopolifosfatase

    pH – Potencial hidrogeniônico

    RNAi – RNA de interferência

    SOD – Superóxido dismutase

    TCA - Cycle of Tricarboxylic Acids (Ciclo dos Ácidos Tricarboxílicos)

  • xvi

    SUMÁRIO:

    RESUMO............................................................................................................ ix

    ABSTRACT ......................................................................................................... x

    1.INTRODUÇÃO ................................................................................................ 1

    1.1. Danos causados por insetos-praga ............................................................. 1

    1.2. O besouro Tribolium castaneum como modelo de estudo .......................... 2

    1.3. Mitocôndria....................................................................................................5

    1.4. Espécies reativas de oxigênio (ERO’s) e enzimas antioxidantes.... .............9

    1.5. Polifosfatos inorgânicos...............................................................................10

    1.5.1. Polifosfato - Uma importante biomolécula ............................................. 8

    1.5.2. Localização celular de polifosfatos..........................................................9

    1.5.3. Principais enzimas no metabolismo de polifosfatos .............................. 9

    2.JUSTIFICATIVA ............................................................................................ 22

    3.OBJETIVO GERAL ....................................................................................... 23

    3.1. Objetivos específicos ................................................................................ 23

    4.METODOLOGIA ........................................................................................... 24

    4.1. Animais ...................................................................................................... 24

    4.2. Isolamento da fração mitocondrial ............................................................. 24

    4.3. Preparo da suspensão de mitocôndrias rompidas para determinação de

    atividades enzimáticas mitocondriais ............................................................... 25

    4.4. Quantificação de fosfato inorgânico (Pi) solúvel ........................................ 25

    4.5. Atividade da mitoPPX durante a respiração mitocondrial .......................... 25

    4.6. Atividade da F1Fo-ATPase durante a respiração mitocondrial....................26

    4.7. Silenciamento gênico da pirofosfatase por dsRNA ................................... 26

    4.8. Atividade da enzima antioxidante Catalase mitocondrial .......................... 27

    4.9. Atividade da enzima antioxidante Glutationa redutase mitocondrial ......... 27

    4.10. Atividade da enzima antioxidante Superóxido dismutase ....................... 27

  • xvii

    4.11. Análises estatísticas ................................................................................ 28

    5.RESULTADOS .............................................................................................. 29

    5.1. Atividade da Exopolifosfatase (PPX) durante a respiração mitocondrial em

    besouros adultos .............................................................................................. 29

    5.2. Atividade da Exopolifosfatase (PPX) durante a respiração mitocondrial com

    o gene da pirofosfatase silenciado por RNAi em besouros adultos ................. 30

    5.3. Atividade da F1Fo-ATPase no metabolismo mitocondrial utilizando PoliP3

    ............................................................................................................................31

    5.4. Atividade da F1Fo-ATPase no metabolismo mitocondrial utilizando PoliP3

    com o gene da pirofosfatase silenciado por RNAi ............................................ 32

    5.5. Atividade da F1Fo-ATPase no metabolismo mitocondrial utilizando

    PoliP15 ............................................................................................................. 33

    5.6. Atividade da F1Fo-ATPase no metabolismo mitocondrial utilizando PoliP15

    com o gene da pirofosfatase silenciado por RNAi ............................................ 34

    5.7. Influência do ATP/ADP na atividade Exopolifosfatásica (PPX) mitocon-

    drial .................................................................................................................. 35

    5.8. Influência do NADH/NAD+ na atividade Exopolifosfatásica (PPX) mitocon-

    drial .................................................................................................................. 36

    5.9. Influência da Acetil-CoA na atividade Exopolifosfatásica (PPX) mitocon-

    drial .................................................................................................................. 37

    5.10. Influência da Glicose 6-fosfato na atividade Exopolifosfatásica (PPX)

    mitocondrial ...................................................................................................... 38

    5.11. Atividade da enzima Catalase no metabolismo mitocondrial utilizando

    PoliP3................................................................................................................ 39

    5.12. Atividade da enzima Catalase no metabolismo mitocondrial utilizando

    PoliP15 .............................................................................................................. 41

    5.13. Atividade da enzima Glutationa Redutase no metabolismo mitocondrial

    utilizando PoliP3 ............................................................................................... 42

  • xviii

    5.14. Atividade da enzima Glutationa Redutase no metabolismo mitocondrial

    utilizando PoliP15 .............................................................................................. 43

    5.15. Atividade da enzima Superóxido dismutase no metabolismo mitocondrial

    utilizando PoliP3 ............................................................................................... 43

    5.16. Atividade da enzima Superóxido dismutase no metabolismo mitocondrial

    utilizando PoliP15 .............................................................................................. 44

    6.DISCUSSÃO ................................................................................................. 46

    7.CONCLUSÕES ............................................................................................. 59

    8.REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................. 60

  • 1

    1. INTRODUÇÃO:

    1.1. Danos causados por insetos-praga:

    Estudos mostram que os danos causados por insetos-praga em grãos

    armazenados são imensuráveis e podem causar prejuízos anuais que chegam a US$

    77 bilhões, em todo o planeta. Perdas de culturas devido a pragas e doenças são uma

    grande ameaça para os rendimentos das famílias rurais e para a segurança alimentar

    em todo o mundo (SAVARY e WILLOCQUET, 2014; AVELINO, et al. 2015). Para

    alguns autores, a perda de colheitas e a redução do rendimento da cultura definida

    tanto em quantidade quanto em qualidade pode ocorrer no campo (pré-colheita) ou

    no armazenamento (pós-colheita) devido a fatores bióticos ou abióticos (OERKE,

    2006; SAVARY, et al. 2006). Para outros, a perda de culturas também inclui a

    diminuição do valor e dos retornos financeiros da safra (NUTTER, et al. 1993).

    Os insetos são também responsáveis por propagar doenças entre seres

    humanos e animais e causar danos que vão desde a aniquilação de colheitas e

    reservas até a devastação de florestas, alterando ecossistemas inteiros e tornando-

    os mais frágeis. Um fato ainda mais preocupante é que, em geral insetos praga de

    grãos armazenados consomem mais de 40% da produção agrícola, o suficiente para

    alimentar um milhão de seres humanos (COURCHAMP, 2016).

    A comunidade de insetos no agroecossistema de grãos armazenados consiste

    em várias categorias de espécies, como colonizadores primários e secundários,

    alimentadores de fungos, predadores e parasitóides (WHITE, 1995). Estas espécies

    coexistem e infestam o produto em várias densidades populacionais (ARBOGAST e

    THRONE, 1997; ATHANASSIOU, et al. 2005). Assim, em contraste com pragas de

    campo onde as medidas de controle de pragas muitas das vezes podem ser

    direcionadas para o controle de uma espécie de praga principal, as medidas de

    controle de pragas para produtos armazenados duráveis precisam ser selecionadas

    para controlar as múltiplas espécies que coexistem nestas mercadorias

    (ATHANASSIOU, et al. 2014).

    Durante as duas últimas décadas, apenas alguns estudos relacionaram a

    coexistência de múltiplas espécies e sua possível incorporação em práticas de

    manejo. NANSEN, et al. 2009, examinando grandes conjuntos de dados de amostras

    de silos, (benfeitoria destinada ao armazenamento de produtos agrícolas, geralmente

  • 2

    depositados no seu interior sem estarem ensacados - SOARES et al, 2000) em

    Kansas, relataram que o número de besouros de farinha Tribolium castaneum

    aumentou com o aumento da presença da broca menor de grãos, Rhyzopertha

    dominica na mesma unidade de amostragem, mas o número destas duas espécies

    estava negativamente correlacionado com a presença do besouro de grão oxidado,

    Cryptolestes ferrugineus. Nosso estudo se baseia no metabolismo energético

    mitocondrial do besouro de farinha vermelho Tribolium castaneum, inseto praga de

    grãos secundário.

    1.2. O besouro Tribolium castaneum como modelo de estudo:

    O conhecimento do desenvolvimento de artrópodes vetores de doenças e

    pragas agrícolas é condição fundamental para estratégias eficazes de controle

    populacional. Estudos sobre o metabolismo de artrópodes são na maior parte restritos

    ao inseto-modelo Drosophila melanogaster, que possui várias características

    peculiares ausentes em grupos filogeneticamente mais basais, como por exemplo, o

    besouro Tribolium castaneum, além de outros quelicerados de importância médico-

    sanitária (LYNCH, et al. 2009).

    Coletivamente conhecidos como besouro vermelho de farinha, várias espécies

    de Tribolium e Tenebrio, que pertencem à família Tenebrionidae (escaravelhos pretos)

    da ordem Coleoptera, são pragas de grãos armazenados, incluindo milho, farinha e

    outros produtos à base de cereais (HUNT, et al. 2007) (Figura 1).

  • 3

    Figura 1. Depósito de armazenamento de grãos infestado por insetos-praga.

    Fonte: http://brisado.1apps.com/madagascar/bichoamendoim01.jpg

    Os besouros (Coleoptera) são a ordem com a maior riqueza em espécie dentre

    os eucariotos, com mais de 350 mil espécies descritas (DALY, 1998). O T. castaneum

    (Figura 2) é o único membro da família que apresenta seu genoma sequenciado e

    disponível publicamente (RICHARDS, et al. 2008) e é considerado o segundo modelo

    de estudo nesta área, tendo a Drosophila melanogaster em primeiro lugar, e, além

    disso, possui interesse econômico por ser uma das principais pragas de grãos

    armazenados no Brasil (BURCHER, et al. 2002).

    Figura 2. Besouro Tribolium castaneum.

    Fonte:http://2.bp.blogspot.com/FDSYPQ0ofOk/UOiriTCdNoI/AAAAAAAAAjE/Ff8nSMs73a4/s

    1600/tribolium.castaneum.jpg

    Segundo LAZZARI e LAZZARI (2009), T. castaneum tem preferência por

    farinhas e farelos, mas pode atacar grande variedade de grãos de cereais e rações

    animais, especialmente quando estes produtos estiverem com elevado conteúdo de

    umidade e/ou quando deterioram pela presença de fungos. Em laboratório,

    populações do besouro T. castaneum são mantidas em estufa com farinha de trigo

    integral específica não necessitando de suprimento de água.

    As fases de desenvolvimento do besouro Tribolium castaneum envolvem ovo,

    larva, pupa e adulto (Figura 3). Em relação aos ovos de T. castaneum, estes são

  • 4

    pequenos medindo aproximadamente 0,6x0,3 mm de comprimento, claros e

    recobertos por substância viscosa, postos aleatoriamente, sendo que o período de

    incubação é de sete dias. Cada fêmea pode ovipositar até 450 ovos, sob condições

    ótimas para o desenvolvimento da espécie que são: 32ºC e 70% de umidade relativa

    (PUZZI, 1977). Já para BOOTH, et al (1990, apud ELIAS, et al. 2008), a duração de

    uma geração pode ser inferior a 20 dias, em condições favoráveis. O ciclo de vida de

    T. castaneum é de 30 a 40 dias em condições ótimas de temperatura a 35 ºC e

    umidade relativa a 70% (BERNARDO, 2006). A oviposição é efetuada fora dos grãos

    e em média de duas a três vezes ao dia em sacarias, fendas ou alimentos (BELCHOL

    e TEIXEIRA, 2007). De acordo com GALLO et al (2002) as larvas são branco-

    amareladas, cilíndricas, medindo 7mm de comprimento. As pupas estão localizadas

    na parte superficial do local atacado, sendo que a espécie T. castaneum possui um

    período pupal de 7 a 8 dias. CORRÊA (2008) e ELIAS, et al (2008) descrevem que na

    fase adulta pode atingir de 3 a 4 mm de comprimento, possuindo coloração marrom

    avermelhada, considerado uma praga secundária.

    Figura 3. Fases de desenvolvimento do besouro Tribolium castaneum.

    Fonte: https://www.researchgate.net/figure/262436999_fig1_Figura-1-Ciclo-de-vida-del-T-

    castaneum-Al-igual-que-otros-insectos-T-castaneum-posee

    O sucesso adaptativo dos insetos é notável ocupando virtualmente todos os

    ambientes do planeta, e isso só é possível pela grande diversidade de características

    como: locomoção, alimentação e reprodução. Essa adaptação é intrigante, nos

    levando a investigar melhor o metabolismo energético mitocondrial do inseto Tribolium

  • 5

    castaneum. Estudos anteriores já demonstraram que os polifosfatos encontram-se em

    3 compartimentos celulares diferentes (mitocôndria, citoplasma e núcleo) os

    polifosfatos apresentam funções distintas nestes compartimentos (CARVALHO et al,

    2014). Isso nos leva a conhecer melhor sobre a mitocôndria, organela relacionada ao

    metabolismo energético e sua relação com polifosfatos mitocondriais.

    1.3. Mitocôndria:

    A mitocôndria é uma organela de alta complexidade e extremamente

    necessária para a respiração celular. Ela é responsável por realizar um conjunto de

    reações químicas através das quais a célula obtém energia para suprir suas

    necessidades vitais. Foi descoberta em meados do século XIX, e, durante décadas

    sua existência foi então questionada por alguns citologistas. Somente em 1890 foi

    demonstrada de modo incontestável a presença de mitocôndrias no citoplasma das

    células, sendo descrita por ALTMANN, em 1894, que sugeriu a sua relação com a

    oxidação celular. (Figura 4).

    Figura 4. Fotomicrografia eletrônica de mitocôndria.

    Fonte: http://cientistaonline.wordpress.com/2008/03/01/organelas-i/

    Somente em 1946 a mitocôndria finalmente foi reconhecida como a principal

    região celular responsável pelo metabolismo energético. Posteriormente, através de

    estudos na década de 50 foram sendo descobertas as principais etapas do

    metabolismo energético. Tais etapas foram estudadas e desvendadas por um grupo

    de pesquisadores atualmente conhecidos, como Warbug, Keilin, Krebs, Kalckar,

    Belister e Lehninger (SOUZA, 2005). A mitocôndria possui o seu próprio DNA, que é

    http://cientistaonline.wordpress.com/2008/03/01/organelas-i/

  • 6

    distinto do DNA nuclear. Apesar da presença do DNA mitocondrial, a organela realiza

    funções dirigidas pelo DNA nuclear, como replicação, transcrição, tradução e reparo.

    E é também através de alguns genes nucleares que a mitocôndria se divide e se

    prolifera durante o seu desenvolvimento (SOUZA, 2005).

    A mitocôndria está presente na maioria dos eucariontes, exceto num grupo de

    protistas chamado Archezoa, apesar da análise genômica destes organismos indicar

    que podem ter perdido as mitocôndrias ao longo da evolução. Nas células humanas,

    a mitocôndria possui funções essenciais como: produção de energia para as

    atividades do organismo, atuação na morte celular por apoptose, produção de calor e

    contribuição genética a partir do DNA mitocondrial. MARIN-GARCIA e AKHMEDOV,

    2016, relatam que quando a estrutura mitocondrial está danificada, a disfunção celular

    relacionada à mitocôndria, leva à diminuição da produção de ATP, e o fornecimento

    de energia insuficiente promove a apoptose das células do miocárdio, por exemplo.

    As células em geral possuem um número variado de mitocôndrias. Algumas

    contêm até 10.000 mitocôndrias, tais como as células do músculo estriado e outras

    não contém nenhuma mitocôndria, tais como os eritrócitos (hemácias). No organismo

    humano, há uma média de 500 a 2.000 mitocôndrias por célula (SOUZA, 2005). A

    estrutura de uma mi-tocôndria consiste em duas membranas altamente

    especializadas, separadas por um espaço intermembranal revestindo o espaço

    interno da matriz. (ALBERTS, et al. 2004) (Figura 5).

    Figura 5. Organização ultraestrutural de mitocôndria. Adaptado de Lehninger; Nelson;

    Cox, (2004). Formada por estruturas complexas, com duas membranas altamente

    especializadas, uma externa e outra interna. A membrana interna apresenta numerosas

    dobras, como cristas que aumentam grandemente a sua superfície total. Na matriz estão

  • 7

    presentes proteínas que formam o complexo enzimático chamado ATP sintase, responsável

    por produzir ATP. O espaço intermembranoso e o espaço interno da matriz onde estão

    presentes o DNA mitocondrial, os ribossomos mitocondriais, os RNAs e várias enzimas.

    Células vivas dependem de um sistema complexo, regulado de maneira

    intrincada, de reações químicas que produzem e utilizam energia, chamado

    metabolismo, que consiste em dois processos contrastantes, catabolismo e

    anabolismo, que juntos constituem as alterações químicas que convertem alimentos

    em formas utilizáveis de energia e em moléculas biológicas complexas. Reações

    catabólicas são geralmente exergônicas, com a energia liberada geralmente

    capturada na formação de ATP.

    Durante as reações de oxidação de ácidos graxos e do ciclo dos ácidos

    tricarboxílicos (TCA), equivalentes de redução derivados da oxidação de substratos

    são transferidos de NAD+ e FAD (formando NADH e FADH2), que são oxidados pela

    cadeia de transporte de elétrons, um sistema de transportadores de elétrons

    localizado na membrana interna da mitocôndria. Em presença de O2, a cadeia de

    transferência de elétrons converte equivalentes de redução em energia utilizável,

    como o ATP, por fosforilação oxidativa. A cadeia respiratória possui ainda dois

    transportadores de elétrons, ubiquinona e citocromo c. Estes constituintes bem como

    o complexo V, ATP sintase, formam o sistema de fosforilação oxidativa (OXPHOS),

    que fornece o ATP necessário à célula.

    A função global da cadeia respiratória é a oxidação de nicotinamida-adenina-

    dinucleotideo reduzida (NADH) e flavina-adenina dinucleotideo reduzida (FADH2),

    provenientes de outras vias metabólicas, bem como o transporte de equivalentes

    reduzidos ao longo de uma série de transportadores para o aceptor final, o oxigênio

    (LEHNINGER e NELSON e COX, 2004).

    O fluxo de prótons leva à condensação do ADP e de fosfato inorgânico em ATP

    (SARASTE, 1990ª,b; WALLACE, 1999a,b). A ATP sintase é uma enzima

    funcionalmente reversível que pode catalisar tanto a síntese quanto a hidrólise de ATP

    (SARASTE, 1990ª,b) como podemos observar na Figura 6 analisando a cadeia de

    transporte de elétrons.

  • 8

    Figura 6. Cadeia transportadora de elétrons acoplada ao transporte de prótons.

    Fonte: HARVEY e FERRIER (2009).

    O gradiente eletroquímico, assim formado pela cadeia transportadora de

    elétrons fornece a energia potencial que é usada para direcionar síntese de ATP pela

    ATP sintase. Em nossos experimentos utilizamos o cianeto de potássio (KCN) que

    inibe o Complexo IV na etapa da citocromo c oxidase responsável por catalisar a etapa

    final da cadeia transportadora de elétrons impedindo a transferência de elétrons para

    O2. Assim, a inibição do transporte mitocondrial de elétrons resulta em prejuízo da

    função geradora de energia da fosforilação oxidativa. Respiração mitocondrial e

    produção de energia cessam, e morte celular ocorre rapidamente pois a síntese de

    ATP e o fluxo de elétrons estão fortemente acoplados. O acoplamento entre transporte

    de elétrons e síntese de ATP pode ser desfeito por certas condições e reagentes

    químicos.

    1.4. Espécies reativas de oxigênio (ERO’s) e enzimas antioxidantes:

    Sendo o oxigênio vital para as atividades celulares, ele é utilizado como aceptor

    final de elétrons pelos organismos aeróbicos permitindo elevada produção de energia

    na respiração em consequência de seu alto potencial eletroquímico. Entretanto,

    devido à sua configuração eletrônica, o oxigênio pode sofrer reduções parciais e levar

    à formação de radicais livres, de forma que as Espécies Reativas de Oxigênio (ERO’s)

  • 9

    estão constantemente presentes nas células eucarióticas. A principal via de

    metabolismo do oxigênio no organismo envolve a sua completa redução em água,

    incorporando quatro elétrons ao final da cadeia de transporte de elétrons no interior

    da mitocôndria. Uma pequena quantidade do oxigênio consumido (2 a 5%) é então

    reduzido produzindo uma variedade de substâncias químicas altamente reativas,

    denominadas espécies reativas do oxigênio (HALLIWELL e GUTTERIDGE, 1999;

    DAMASCENO, et al. 2002).

    As ERO’s podem provocar injúria tecidual (KINNULA, et al. 1995) e em altas

    concentrações danificar organelas celulares, ácidos nucleicos, lipídeos e proteínas

    (VALKO, et al. 2007).

    Os principais componentes geradores de ERO’s da cadeia respiratória são os

    complexos I e III, sendo que a produção de radicais livres aumenta no caso de um

    bloqueio na transferência de elétrons (NICHOLLS e BUDD, 2000; SIPOS e TRETTER

    E ADAM-VIZI, 2003a,b). Pode-se citar a produção de superóxido (O2•-) e a de peróxido

    de hidrogênio (H2O2) como os principais agentes causadores do estresse oxidativo na

    célula. Para contrabalancear a produção de espécies reativas, a mitocôndria possui

    sistemas de defesa antioxidantes, como as enzimas manganês superóxido dismutase

    (Mn-SOD; EC 1.15.1.1) que possui afinidade por radicais ânion superóxido (O2-) e é

    capaz de convertê-los inicialmente a peróxido de hidrogênio (H2O2) e oxigênio (O2) na

    presença do H+, catalase (CAT, oxidoredutase; EC1.11.1.6) que catalisa a

    degradação de duas moléculas de peróxido de hidrogênio (H2O2) em água (H2O) e

    oxigênio (O2), peroxiredoxinas, o sistema glutationa peroxidase/glutationa redutase, a

    glutationa reduzida (GSH) na presença de um agente oxidante é oxidada a GSSG e,

    novamente reduzida pela ação da glutationa redutase (GR; EC 1.6.4.2) na presença

    de NADPH recuperando assim a GSH (FELTON e SUMMERS, 1995; OKADO-

    MATSUMOTO e FRIDOVICH, 2001a,b,; DRÖGE, 2002a,b,c; SWITALA e LOEWEN,

    2002; FERNANDEZ-CHECA, 2003; JAMES, et al. 2004; KOJO, 2004; VALKO, et al.

    2006, 2007; LU, 2009). Se houver ao longo da cadeia respiratória redução do oxigênio

    com número menor de elétrons, haverá produção de ERO’s, como o superóxido (O2+

    e-→O2-), o peróxido de hidrogênio (O+ e-+ 2H+→H2O2) e a hidroxila (H2O2+ e-→OH

    + OH) (DAMASCENO, et al. 2002; ANDRADE JUNIOR, et al. 2005).

  • 10

    Sabe-se ainda que a taxa de produção de ERO’s é inversamente proporcional

    à disponibilidade de ADP intramitocondrial (KORSHUNOV e SKULACHEV e

    STARKOV, 1997; CADENAS e DAVIES, 2000). O desequilíbrio entre ERO e níveis

    antioxidantes leva a danos celulares e problemas de saúde (STEER, et al. 2002).

    A partir de um balanço entre as defesas antioxidantes e os efeitos tóxicos das

    EROs às biomoléculas, os seres vivos conseguem manter o metabolismo e o

    funcionamento celular em equilibrio. Porém, em situações específicas, este panorama

    pode ser comprometido através do excesso de produção de EROs, falha das defesas

    antioxidantes ou ambos, gerando estresse oxidativo. Nas últimas duas décadas tem

    havido uma mudança fundamental no conceito sobre o papel de EROS na fisiologia

    celular, não sendo unicamente tóxico, especialmente o H2O2 foi reconhecido como

    essencial para sobrevivência celular devido a sua função reguladora de uma ampla

    gama de eventos, incluindo a regulação gênica, a sinalização celular,

    ativação/desativação de proteínas, diferenciação celular e apoptose, entre outros

    (BRANDES SCHMITT, et al. 2009; KLOMSIRI, et al. 2011; GANDHI e ABRAMOV,

    2012; SOHAL e ORR, 2012). O excesso de produção de ERO’s recentemente tem

    efeitos seletivos nas células-tronco e na sua progênie em várias outras configurações,

    incluindo linhagens de células neurais e de sangue, geralmente, mas nem sempre,

    oposição à manutenção de células-tronco (KOBAYASHI e SUDA, 2011).

    Evidências atuais sugerem que a insuficiência mitocondrial e o estresse

    oxidativo atuam como atores centrais na patogênese de formas esporádicas e

    genéticas da doença de Parkinson (NICKLAS, et al. 1987; SANTOS e CARDOSO,

    2012).

    O conhecimento dos mecanismos de formação e de regulação dos níveis de

    ERO’s in vivo são de fundamental importância para a compreensão de eventos

    celulares relacionados ao controle da sobrevivência, da morte e da proliferação celular

    e possibilita a geração de outros conhecimentos que podem interferir na modulação

    de tais processos, a fim de compreender melhor alguns sistemas biológicos e suas

    atividades celulares. Estudos relacionados ao metabolismo mitocondrial do besouro

    Tribolium castaneum e a compreensão do envolvimento dos polifosfatos na prevenção

    à formação de EROS’s contribuem para esclarecer a relação dos polifosfatos com

    mecanismos bioenergéticos mitocondriais e eventos antioxidantes na biologia dos

    artrópodes.

  • 11

    1.5. Polifosfatos inorgânicos:

    1.5.1. Polifosfato – Uma importante biomolécula:

    Pouco se sabe sobre a síntese ou metabolismo de PoliP em organismos

    eucariontes. A levedura Saccharomyces cerevisiae é o único modelo eucariótico em

    que a fisiologia do PoliP foi devidamente caracterizada por uma abordagem genética.

    PoliP também foi documentado na ameba Dictyostelium discoideum. Sua

    presença em amebas foi reconhecida pela primeira vez por extração bioquímica no

    início da década de 1970 (GEZELIUS, 1974). Além da levedura, a ameba é o único

    outro eucarionte onde a enzimologia da síntese de PoliP havia sido estudada. A

    primeira evidência da presença de polifosfatos (PoliP) em células de mamífero data

    da década de 70 (GABEL e THOMAS, 1971). No entanto, PoliP também está presente

    em archaea (ORELL, et al. 2012), eucariontes (LANDER, 2013) e células humanas

    (RUIZ, et al. 2004). Independentemente da sua origem, o polifosfato inorgânico está

    presente nos organismos vivos e precisa ser ainda mais estudado afim de elucidar

    questões relacionadas à bioquímica desse polímero.

    Por ser um composto energético e estruturalmente mais simples que o ATP, o

    PoliP é considerado um precursor do ATP na evolução bioquímica (HAROLD, 1966;

    KULAEV, et al. 1999). A função do polifosfato como reserva de Pi é bem caracterizada

    em procariontes e também em eucariontes inferiores (KULAEV, 1975; KULAEV e

    VAGABOV, 1983; KORNBERG, 1995). O fosfato inorgânico é, portanto, essencial

    para todos os organismos, sendo requerido para vários processos metabólicos, tais

    como: biossíntese de ácidos nucléicos e fosfolipídeos, metabolismo energético e

    transdução de sinal. Sendo assim, os organismos precisaram desenvolver um

    eficiente mecanismo regulatório para a sua aquisição, reserva e utilização. Uma

    importante conquista dos últimos anos foi a descoberta de conjuntos não-idênticos de

    enzimas do metabolismo de polifosfatos em diferentes organelas das células

    eucarióticas obtidos, principalmente, em levedura (KULAEV e KULAKOVSKAYA,

    2000; LICHKO, et al. 2003). A importância de se manter um nível baixo e constante

    de Pi nas células é relevante por diversos motivos, como: a concentração de Pi ser

    conhecidamente um importante fator de controle de processos bioquímicos; a

    acumulação de quantidades significantes de Pi em células poder resultar em uma

    mudança considerável da sua pressão osmótica e no seu pH; além do Pi livre em altas

  • 12

    concentrações ser tóxico para as células (SMIRNOV, et al. 2002a, b; KULAEV, et al.

    2004).

    Enzimas chave do metabolismo energético são amplamente conservadas entre

    as espécies, mas estas podem apresentar peculiaridades. Tais enzimas e o polifosfato

    são moléculas de essencial importância em inúmeros eventos e fenômenos celulares.

    Dessa forma, estudos direcionados para a identificação, localização e mapeamento

    dessas moléculas permitirão um maior entendimento sobre inúmeros eventos

    biológicos, não apenas ao nível ultraestrutural, bem como, ao nível bioquímico e

    fisiológico (KULAEV, et al. 2004). Dessa forma, este trabalho vem investigar

    peculiaridades importantes no metabolismo de polifosfatos do besouro Tribolium

    castaneum, que vem sendo estabelecido como um eficiente e poderoso modelo de

    estudos (BENTON e PAVLOPOULOS, 2014). A vasta ocorrência de polifosfatos e sua

    multifuncionalidade indicam que muitas importantes funções em distintos organismos

    ainda estão por serem descobertas possibilitando a ampliação do conhecimento da

    bio-energética celular e mitocondrial.

    O Polifosfato (Poli P) é um polímero linear formado por resíduos de ortofosfato

    ou fósforo inorgânico, unidos por ligações fosfoanidrídicas, termodinamicamente

    equivalentes ao fosfato de alta energia do Trifosfato de Adenosina (ATP), que formam

    estruturas não ramificadas quando hidrolisadas, gerando energia (HAROLD, 1966)

    (Figura 7). Análises demonstraram que a ligação P-O-P de polifosfatos quando

    hidrolisada libera energia equivalente à quantidade de energia liberada na hidrólise do

    grupo fosfato terminal do ATP, aproximadamente 10 Kcal/mol (KULAEV, et al. 2004).

    O valor do grau de polimerização (n) para o resíduo PO3- pode variar entre 2 e 300,

    quando obtidos de forma sintética (VAN WAZER e CALLIS, 1955; VAN WAZER, 1958)

    ou ainda na natureza podem ser encontrados polifosfatos cujo n pode chegar a 106

    (KULAEV, et al. 2000; KULAEV e KULAKOVSKAYA, 2000), ou seja, n pode variar de

    poucos a várias centenas, dependendo da origem, localização celular e do estado

    metabólico (RAO, et al. 2009).

  • 13

    Figura 7. Estrutura do polifosfato linear onde M pode ser um H+ ou um cátion metálico

    Fonte: KULAEV, et al. 2004.

    Polifosfatos inorgânicos foram identificados no século passado. Em seu

    primeiro relato há mais de 100 anos, LIEBERMAN (1888) encontrou polímeros de

    polifosfatos de cadeia longa em leveduras, chamados de metafosfatos e,

    posteriormente foram identificados como grânulos metacromáticos em

    microrganismos primitivos (KORNBERG, 1999).

    Dentre suas diversas funções, polifosfatos e as enzimas de seu metabolismo

    estão diretamente ligados a processos patogênicos causados por bactérias (RAO et

    al., 2009), protozoários (KULAEV e VAGABOV, 1983) e outros microrganismos, sendo

    provado que estes compostos ocorrem em representantes de todos os reinos de

    organismos vivos, incluindo os animais superiores. Dessa forma, tornou-se notório

    que polifosfatos são necessários para a maioria dos seres vivos, em diferentes

    estágios de evolução (HAROLD, 1966). As funções dos polifosfatos na mitocôndria

    estão associadas com a fosforilação oxidativa e com a síntese de ATP (ABRAMOV,

    et al. 2007; KULAKOVSKAYA, et al. 2010). Já foi estabelecido também que PoliP

    serve como reserva de fosfato inorgânico para o metabolismo celular e crescimento

    (KULAEV, et al. 2004; LEMERCIER, et al. 2004), especialmente em procariotos e

    eucariotos inferiores, além de contribuir para reserva de energia (BEAUVOIT, et al.

    1991; KULAEV, et al. 1999).

    Inicialmente, os polifosfatos foram considerados como “fóssil molecular” ou

    somente como reserva de fósforo e de energia para a sobrevivência de organismos

    em condições severas. Evolutivamente, alguns autores sugerem que os polifosfatos

    tenham tido origem abiótica (WEST e PONNAMPERUMA, 1970; YAMAGATA, et al.

    1991). A vasta ocorrência e multifuncionalidade do polifosfatos inorgânicos indicam

    que muitas importantes funções em distintos organismos ainda estão por serem

    descobertas possibilitando, neste caso, a ampliação do conhecimento da bio-

    energética celular e do metabolismo energético em artrópodes.

    Diante de inúmeras evidências de pesquisas mostrando o papel dos PoliP, o

    conhecimento deste polímero e de suas enzimas no metabolismo energético do

    Tribolium castaneum se mostra ainda mais relevante. Este estudo, portanto, trata da

    hipótese de polifosfatos de diferentes tamanhos estarem simultaneamente envolvidos

  • 14

    no suporte energético do T. castaneum e atuando na prevenção a danos oxidativos

    durante o seu desenvolvimento, abrindo novas perspectivas para esta área do

    conhecimento da bioenergética mitocondrial em artrópodes.

    1.5.2. Localização celular de Polifosfatos:

    PoliP são biopolímeros multifuncionais, com localizações em diferentes

    compartimentos (Tabela 1) e múltiplas funções nas células vivas, as quais foram

    mudando e sofrendo adaptações durante o processo de evolução, desde procariotos

    a eucariotos inferiores e superiores (KULAEV, et al. 1999). Para os procariotos, as

    principais funções de PoliP estão relacionadas à reserva de fosfato e fonte de energia,

    enquanto que nos eucariotos predominam as funções reguladoras. Com isso, há

    diferenças marcantes entre os grupos de organismos com relação às enzimas do

    metabolismo do polifosfato (KULAEV e KULAKOVSKAYA, 2000; KULAEV, et al.

    2000).

    Tabela 1. Ocorrência de Polifosfato (PoliP) nas diversas células e tecidos

    Fonte: KORNBERG, et al. (1999). Os níveis de PoliP variam dependendo do estado

    metabólico da célula. Os valores dessa tabela foram obtidos sob condições metabólicas e são

    úteis somente para ilustração.

  • 15

    1.5.3. Principais enzimas no metabolismo de Polifosfatos:

    As exopolifosfatases (PPX) são consideradas as enzimas regulatórias centrais

    do metabolismo de PoliP (KULAEV, et al. 2000) e foram identificadas principalmente

    em diferentes organelas de levedura, como mostra a Tabela 2. A isoforma de PPX

    encontrada no compartimento nuclear tem sido relacionada com a regulação gênica,

    e no compartimento mitocondrial com a bio-energética celular (KULAEV e

    KULAKOVSKAYA, 2000; LICHKO, et al. 2003).

    Tabela 2. Classificação de Exopolifosfatase em S. cerevisiae

    Fonte: LICHKO et al (2003).

    Esta enzima está presente em procariotos e eucariotos, onde atua hidrolisando

    a cadeia de PoliP desde sua extremidade para o interior, liberando moléculas de

    fosfato inorgânico (Pi) (KULAEV, et al. 2004; UGOCHUKWU, et al. 2007).

    As enzimas do metabolismo de PoliP são bastante estudadas em bactérias e

    leveduras. Em Sacaromyces cerevisae, a exopolifosfatase (PPX, EC 3.6.1.11),

    apresenta 4 isoformas. O subfracionamento mitocondrial de S. cerevisiae revelou que

    tanto a preparação de membrana quanto a de fração solúvel possuem atividade de

    exopolifosfatase em igual proporção (LICHKO, et al. 1998). CAMPOS, et al (2007),

    descreveram a atividade de exopoliposfatases mitocondriais moduladas pela

    demanda de fosfato em embriões do carrapato Rhipicephalus (Boophilus) microplus.

    Em 2008, CAMPOS, et al., também demonstraram a presença de isoformas de PPX

    no núcleo e na mitocôndria com distinta dependência de metais, sensibilidade de

  • 16

    inativação e ativação. Já em 2011, o mesmo grupo relatou uma exopoliposfatase de

    membrana mitocondrial sendo modulada e desempenhando uma função no

    metabolismo energético de embriões de Rhipicephalus (Boophilus) microplus.

    Diferentes grupos de enzimas participam do metabolismo de PoliP, levando a

    manutenção de um equilíbrio dinâmico entre síntese e degradação, de forma que

    qualquer interferência nesse balanço pode resultar em um acúmulo ou mesmo na

    degradação total deste poliânion pela célula (BROWN e KORNBERG, 2008).

    Os polifosfatos inorgânicos podem ser divididos em dois grupos: pirofosfatos

    (PPi) e polifosfatos (PoliP) de alto peso molecular.

    Os Pirofosfatos foram descobertos pela primeira vez em tecidos de animais

    (KAY, 1928) sendo sugeridose como antecessores da ATP e como alternativa para

    fornecer energia para algumas células (PEREZ-CASTIÑEIRA, et al. 2001). A

    pirofosfatase inorgânica (PPase) é uma hidrolase dependente de metal, que catalisa

    a hidrólise de moléculas de pirofosfato (PPi) produzindo ortofosfato (Pi) (MACHADO

    e NOME, 1999). Sendo assim, PPases catalisam a reação de transferência de fosfato

    mais simples possível, a hidrólise do pirofosfato simétrico (PPi) em duas moléculas de

    fosfato inorgânico (Pi) (TOMMI, et al. 2013), numa reação altamente exergônica, ou

    seja, com grande liberação de energia.

    As PPases atuam controlando as concentrações de PPi intracelular, além de

    balancear termodinamicamente reações de síntese de DNA, RNA, hormônios e

    proteínas, reações biossinteticamente desfavoráveis (KORNBERG, 1962).

    Acreditava-se que apesar da similaridade entre as enzimas, as afinidades por

    seus substratos eram bem distintas, sendo que a exopolifosfatase parecia não

    hidrolisar pirofosfatos e a pirofosfatase parecia ter apenas uma pequena atividade

    para polifosfatos (LORENZ, et al. 1994; PARFENYEV, et al. 2001). Os pirofosfatos,

    bem como as enzimas relacionadas ao seu metabolismo vêm sendo desde então

    criteriosamente estudados (KULAEV, et al. 2004). Pirofosfatases solúveis sãos

    essenciais para reações metabólicas de bactérias e leveduras CHEN, et al (1990) e

    LUNDIN, et al (1991). Entretanto, pesquisas recentes têm demonstrado uma possível

    atuação da pirofosfatase no metabolismo de polifosfatos (COSTA, 2013). CARVALHO

    et al., (2015), descreveram uma pirofosfatase solúvel sendo essencial para a

  • 17

    oogênese e necessária para o metabolismo de polifosfatos no besouro (Tribolium

    castaneum).

    As ATPases ou adenosinotrifosfatases constituem uma classe de enzimas que

    catalisam a decomposição do trifosfato de adenosina (ATP) em adenosina difosfato

    (ADP) e um íon de fosfato livre (GEIDER e HOFMANN-BERLING, 1981; KIELLEY,

    1961; MARTIN e SENIOR, 1980; NJUS, et al. 1981; RILEY e PETERS, 1981; TJIAN,

    1981). A ATP sintase é uma enzima funcionalmente reversível que pode catalisar

    tanto a síntese quanto a hidrólise de ATP (SARASTE, 1990ª,b) e emprega um

    mecanismo rotativo intrigante para a geração de ATP de ADP e Pi, usando energia

    armazenada em um gradiente de prótons transmembranar. O fluxo de prótons leva à

    condensação do ADP e de fosfato inorgânico em ATP (SARASTE, 1990a,b;

    WALLACE, 1999a,b). É composta por dois componentes separáveis: F1 (fator 1) e Fo

    (fator que confere sensibilidade à oligomicina) funcionando como motor molecular

    reversível composto por duas partes: uma turbina de prótons (dentro de Fo) e uma

    máquina molecular (F1) que usa energia rotacional para formar ATP a partir de ADP

    e fosfato.

    MICHELANGELO, 2008, relata que quando a respiração mitocondrial é

    comprometida, a F1Fo-ATPsintase investe e consome ATP, servindo para manter o

    potencial da membrana mitocondrial (Δψm).

  • 18

    2. JUSTIFICATIVA:

    O estudo do metabolismo de polifosfatos em Tribolium castaneum é estratégico

    para ampliar o conhecimento da bioenergética mitocondrial em artrópodes, indivíduos

    que são desenvolvidos em um sistema fechado, quase autossuficiente, como é o caso

    dos artrópodes, répteis e aves – onde a quantidade de energia e nutrientes é limitada

    e possuem seu metabolismo energético fortemente regulado (ROMBOUGH, 2011). A

    possível confirmação da hipótese do envolvimento de polifosfatos na prevenção da

    formação de espécies reativas de oxigênio seria de grande significância não somente

    para o campo de estudo dos polifosfatos, mas para a bioenergética mitocondrial em

    geral, abrindo novas perspectivas para esta área do conhecimento, podendo inclusive

    ser uma alternativa para controle, tal qual já é feito atualmente para microorganismos.

    Existe um crescente interesse na pesquisa de funções e características de

    polifosfatos em eucariontes superiores (KULAEV, et al. 1999, 2000; PAVLOV, et al.

    2010). Nosso estudo permitirá conhecer e analisar o possível papel dos polifosfatos

    mitocondriais no suporte energético do Tribolium castaneum bem como a prevenção

    a Espécies Reativas de Oxigênio através de algumas das enzimas antioxidantes

    presentes no metabolismo desse artrópode.

  • 19

    3. OBJETIVO GERAL:

    Conhecer o metabolismo mitocondrial dos polifosfatos e sua possível relação

    com o suporte energético e no combate às espécies reativas de oxigênio do besouro

    adulto Tribolium castaneum.

    3.1. Objetivos Específicos:

    Analisar o possível papel dos polifosfatos mitocondriais no suporte energético

    do besouro Tribolium castaneum:

    • Determinar a atividade da exopolifosfatase durante a respiração mitocondrial;

    • Analisar a possível influência do ADP/ATP, NAD+/NADH, Glicose 6-fosfato e

    Acetil-CoA nas atividades exopolifosfatásicas mitocondriais;

    • Determinar se a exopolifosfatase mitocondrial é estimulada pelo gradiente de

    prótons e/ou fluxo de elétrons;

    • Determinar a influência dos polifosfatos na atividade da F1Fo-ATPase.

    Analisar a relação entre os metabolismos de pirofosfatos e polifosfatos e sua

    possível relação com a atividade mitocondrial:

    • Determinar a atividade da exopolifosfatase durante a respiração mitocondrial

    em besouros silenciados para o gene da pirofosfatase;

    • Determinar a influência dos polifosfatos na atividade da F1Fo-ATPase em

    besouros silenciados para o gene da pirofosfatase.

    Determinar os efeitos do polifosfato de cadeia curta e longa sobre as atividades

    das enzimas antioxidantes: Catalase, Glutationa redutase, Superóxido

    dismutase.

  • 20

    4. METODOLOGIA:

    4.1. Animais:

    Besouros da espécie Tribolium castaneum em todas as suas fases de vida

    foram cultivados em colônias e mantidos no Laboratório Integrado de Bioquímica

    Hatsaburo Masuda (LIBHM) em estufa a temperatura de 30°C. Para alimentação e

    manutenção de todos os ciclos de vida dos besouros os mesmos foram mantidos em

    farinha de trigo estéril. As colônias foram mantidas em caixas plásticas de

    aproximadamente 15x15 cm, segregadas por fases do ciclo de vida – ovo, larva, pupa

    e adulto – sendo estes últimos separados por tempo de vida, em meses. Para o

    processo de esterilização, a farinha é mantida no freezer a -20°C durante 24h e então

    é colocada em estufa a 50°C por outras 24h. Antes de ser adicionada às colônias, a

    farinha é peneirada em malhas de 710 μM, sendo esta farinha trocada semanalmente,

    juntamente com a troca das caixas plásticas por outras limpas. A farinha retirada das

    colônias, bem como os animais mortos são descartados. Pupas foram segregadas por

    gênero, diferenciação facilmente identificada por análise morfológica, e

    acondicionadas a fim de que as fêmeas adultas recebessem a injeção de dsRNA para

    pirofosfatase.

    4.2. Isolamento da fração mitocondrial:

    Foram utilizados 500 mg de besouros adultos que foram macerados e

    homogeneizados em 3 mL de tampão de isolamento Tris-HCl 50 mM, pH 7,2 contendo

    sacarose 0,5 M, MgCl2 20 mM, inibidores de protease como a leupeptina 10 μM e a

    pepstatina 1 μM, EGTA 10 mM e albumina livre de ácidos graxos 1%. O homogenato

    foi mantido a 4 °C e após centrifugado a 200 x g por 5 minutos a 4°C, o precipitado foi

    descartado e o sobrenadante formado adicionado em novo tubo e centrifugado a 2000

    x g por 10 minutos a 4° C. Após esta segunda centrifugação, o precipitado foi

    descartado e o sobrenadante formado adicionado em novo tubo e então foi novamente

    centrifugado a 8000 x g por 15 minutos a 4° C. Nesta etapa, o sobrenadante formado

    foi descartado e o precipitado contendo a porção mitocondrial foi reservado e utilizado.

    (CAMPOS, et al. 2007).

    file:///C:/Users/Bianca/Documents/Tese%20Mestrado.docx%23_ENREF_5

  • 21

    4.3. Preparo da suspensão de mitocôndrias rompidas para determinação de

    atividades enzimáticas mitocondriais:

    Para determinar o perfil de atividade enzimática e os efeitos do polifosfato de

    cadeia curta (Poli P3) e de cadeia longa (Poli P15) as mitocôndrias foram isoladas e

    congeladas em nitrogênio líquido até o momento do seu uso. Para as enzimas

    catalase, glutationa redutase e superóxido dismutase as amostras mitocondriais foram

    rompidas por sonicação ultrasônica usando o equipamento UNIQUE modelo DES500

    (todas as amostras mitocondriais foram mantidas em gelo e sonicadas por 3 vezes

    usando a potência máxima durante 30 segundos com intervalo de 1 minuto) e

    mantidas em banho de gelo durante o tempo dos ensaios. A partir dos maiores níveis

    de atividade de cada enzima foram avaliadas a influência dos polifosfatos nas

    concentrações de 5, 10 e 20 µM. Todas as atividades foram determinadas

    espectrofotometricamente utilizando o espectrofotômetro Shimadzu UV.

    4.4. Quantificação de fosfato inorgânico (Pi) liberado:

    O fosfato inorgânico foi quantificado nas amostras das frações mitocondriais.

    50 μL das amostras das frações mitocondriais obtidas conforme item 4.2 foram

    acrescidas do mesmo volume de tampão Tris-HCl 50 mM, pH 7,2 contendo sacarose

    0,5 M, MgCl2 20 mM. O Pi solúvel foi quantificado espectrofotometricamente

    adicionando-se molibdato de amônio 0,5%, ácido sulfúrico 0,35 M, SDS 0,5 M e ácido

    ascórbico 10% de acordo com o método de FISKE e SUBBAROW (1925). A

    absorbância foi medida a 750 nm.

    4.5. Atividade da mitoPPX durante a respiração mitocondrial:

    A atividade exopolifosfatásica foi avaliada de acordo com CAMPOS e

    colaboradores (2007). O ortofosfato liberado da reação foi quantificado de acordo

    com FISKE e SUBBAROW (1927). Para avaliar o envolvimento dos polifosfatos com

    a demanda energética, foi visto a influência de quantidades fisiológicas de ATP/ADP,

    NADH/NAD+, Glicose 6-fosfato e Acetil-CoA na atividade exopolifosfatásica

    mitocondrial. Para avaliar se o gradiente de prótons ou o fluxo de elétrons também

    participa da regulação da exopolifosfatase mitocondrial foi analisada a atividade

    durante a respiração mitocondrial utilizando piruvato e ADP como substratos oxidáveis

    a 280C em 150 μL de meio de incubação com 0,5 mg de mitocôndria considerando a

    file:///C:/Users/Bianca/Documents/Tese%20Mestrado.docx%23_ENREF_6

  • 22

    quantidade de proteínas em mg/mL. O meio de reação contém PoliP3 ou 15, EGTA 1

    mM, MgCl2 5 mM, piruvato 3 mM e ADP 0,2 mM em Tris-HCl 50 mM com pH 7,4. Foi

    usado KCN 5 mM como inibidor da cadeia respiratória e FCCP como desacoplador

    (PESTOV, et al. 2004). O Pi formado durante a reação foi determinado

    espectrofotometricamente adicionando molibdato de amônio 0,5 %, ácido sulfúrico

    0,35 M, SDS 0,5 M e ácido ascórbico 10 %. A absorbância foi medida a 750 nm após

    15 minutos de incubação. Foi definido como 1 unidade de atividade enzimática a

    quantidade de enzima capaz de liberar 1 μmol de Pi por minuto.

    4.6. Atividade da F1Fo-ATPase durante a respiração mitocondrial:

    A atividade da F1Fo-ATPase foi determinada espectrofotometricamente de

    acordo com LI e NEUFELD (2001). O ensaio foi realizado a 30º C em uma reação

    contendo Tris-HCl 100 mM, pH 8,0, MgSO4 2 mM, KCl 100 mM e ATP 2 mM. Foi

    definido como 1 unidade de atividade enzimática a quantidade de enzima capaz de

    liberar 1 µmol de Pi por minuto.

    4.7. Silenciamento gênico da pirofosfatase por dsRNA:

    O RNA dupla fita (dsRNA) foi produzido in vitro utilizando o kit Megascript T7

    (Ambion Cat. No. AM1333M). A sequência molde para transcrição in vitro do gene da

    pirofosfatase foi amplificada a partir do cDNA contendo adaptadores para primers com

    sequências promotoras para T7 RNA polimerase. De acordo com a metodologia

    publicada, RNAi parental foi realizado injetando-se a fêmea adulta (VAN DER ZEE, et

    al. 2006). Para este procedimento, fêmeas sexualmente maduras do besouro foram

    colocadas em placas de Petri sobre o gelo e resfriadas por 10 minutos para ficarem

    anestesiadas. Usando-se uma pinça, o tórax do animal foi pressionado até que o

    abdômen e genitália fossem expostos, possibilitando que o dsRNA do gene da

    pirofosfatase fosse injetado na lateral do abdômen em uma concentração de 1 μg/μL.

    Besouros adultos foram submetidos aos processos de fracionamento celular e usados

    para análises de atividades enzimáticas, quantificação de proteínas e quantificação

    de PoliP.

    4.8. Atividade da enzima antioxidante Catalase mitocondrial:

    A catalase é uma proteína que catalisa a decomposição de peróxido de

    hidrogênio a oxigênio e água. Sua atividade é determinada pela velocidade de

    file:///C:/Users/Bianca/Documents/Tese%20Mestrado.docx%23_ENREF_19

  • 23

    consumo de H2O2 nos primeiros 5 minutos de reação a 240 nm. Cada reação terá a

    fração mitocondrial com 30 μg de proteína incubada em meio 50 mM, Tris-HCl, pH 7,4

    contendo MgCl2 20 mM a 37 °C por 10 minutos e como substrato iniciador utiliza-se

    3,6 % de H2O2 em volume final de 1 mL (SANTIAGO, et al. 2008).

    4.9. Atividade da enzima antioxidante Glutationa Redutase Mitocondrial:

    Ao utilizar o seu substrato a glutationa oxidase (GSSG), a enzima mitoGR

    consome NADPH, o processo que consome NADPH é determinado a 340 nm. A

    velocidade de consumo de NADPH em condições de saturação expressa a atividade

    enzimática. Desta velocidade é descontada a reação basal de consumo de NADPH

    obtido pela leitura do ensaio enzimático sem a presença do substrato (GSSG). O

    ensaio enzimático é acompanhado durante 5 minutos no espectrofotômetro. A reação

    contém tampão fosfato de sódio 100 mM, pH 7,0, EDTA 1mM, 1 mM, NADPH 0,1 mM

    e 30 μg de proteína mitocondrial em volume final de 1 mL incubados a 37 °C por 10

    minutos e como substrato iniciador utiliza-se 1 mM GSSG (MIZUNO, 1984).

    4.10. Atividade da enzima antioxidante Superóxido dismutase:

    Determinada na fração mitocondrial em meio de reação contendo tampão

    fosfato de sódio pH 7,4 - 50 mM, 13 mM metionina, azul p-nitro tetrazólico (NBT) 75

    µM, ácido etilenodiaminotetraacético (EDTA) 100 mM, riboflavina 2 µM, 30 μg de

    proteína mitocondrial em volume final de 1 mL e este meio foi mantido protegido da

    exposição a luz (DEL LONGO, et al. 1993). A reação foi conduzida a 25°C numa

    câmara de reação sob a iluminação de uma lâmpada fluorescente de 15 W. A reação

    foi iniciada com a exposição da reação a lâmpada fluorescente por 10 minutos e

    interrompida com seu desligamento. A fotorredução do NBT resulta na formação do

    formazana azul que foi medido pelo incremento da absorbância a 560 nm

    (GIANNOPOLITIS e RIES, 1977), sendo subtraída de um “branco”, no qual a mistura

    de reação foi mantida no escuro por 10 minutos. A fotorredução total (100%) do NBT

    foi acompanhada e determinada a leitura a 560 nm utilizando um meio sem presença

    da amostra mitocondrial. Uma unidade de SOD foi definida como a quantidade de

    enzima necessária para inibir 50% a fotorredução do NBT (BEAUCHAMP e

    FRIDOVICH, 1971).

    file:///C:/Users/Bianca/Documents/Tese%20Mestrado.docx%23_ENREF_20file:///C:/Users/Bianca/Documents/Tese%20Mestrado.docx%23_ENREF_17

  • 24

    4.11. Análises Estatísticas:

    Os resultados foram apresentados como média ± desvio padrão de três

    experimentos independentes em triplicata. Para a análise estatística foi utilizado one

    way ANOVA seguido de pós teste de Tukey para comparações múltiplas através do

    programa GraphPad Prism 5.03. A significância foi estabelecida em p < 0,05 (*) e p <

    0,001 (**).

  • 25

    5. RESULTADOS:

    5.1.Atividade da Exopolifosfatase (PPX) durante a respiração mitocondrial em

    besouros adultos:

    Como experimento inicial, analisamos a atividade da enzima Exopolifosfatase

    mitocondrial (mitoPPX) em besouros adultos de Tribolium castaneum, onde foi

    avaliado o papel dessa enzima durante a respiração mitocondrial sendo o controle

    representando a atividade basal da mitoPPX, utilizando o PoliP3 (5 mM) como fonte

    de Pi. Com a adição de Piruvato (3 mM) e o aceptor de fosfato Adenosina Difosfato

    (ADP), (0,2 mM) a atividade da mitoPPX foi maior quando comparada ao controle,

    tendo como substrato o polifosfato de cadeia curta, PoliP3. Pode-se perceber que com

    adição de ADP e Piruvato ocorreu aumento da atividade de mitoPPX, indicando que

    esta enzima é estimulada durante o estado 3. Com o propósito de observar se haveria

    inibição da cadeia transportadora de elétrons, foi usado cianeto de potássio (KCN)

    como inibidor, onde verificamos que houve inibição da atividade enzimática. Já

    utilizando o FCCP como desacoplador da cadeia respiratória, houve um aumento em

    sua atividade sugerindo que a mitoPPX mitocondrial poderia ser modulada pelo fluxo

    de elétrons (Figura 8).

  • 26

    Atividade da mitoPPX:

    Figura 8. Análise da atividade da exopolifosfatase mitocondrial (mitoPPX) durante a

    respiração mitocondrial em T. castaneum adultos. Em amostras de mitocôndrias ativas

    com estímulo da respiração onde controle sem adição de Piruvato + ADP, KCN e FCCP

    avaliamos a atividade da mitoPPX basal. Com a adição de Piruvato (3 mM) + ADP (0,2 mM).

    KCN foi utilizado como inibidor da cadeia respiratória e FCCP como desacoplador. Como

    substrato da enzima foi utilizado PoliP3 (5 mM). Os dados expressam a média ± desvio padrão

    de 3 ensaios independentes em triplicata. A significância foi estabelecida em p < 0,05 (*) e p

    < 0,001 (**).

    5.2.Atividade da Exopolifosfatase (PPX) durante a respiração mitocondrial com

    o gene da pirofosfatase silenciado por RNAi em besouros adultos:

    Realizamos então o mesmo experimento, porém agora com silenciamento do

    gene da pirofosfatase através da técnica de RNA de interferência. Nesse experimento

    onde houve o silenciamento, a ativação da respiração mitocondrial por ADP e Piruvato

    não alterou a atividade da mitoPPX, bem como a adição de KCN e FCCP, indicando

    que o fluxo de elétrons também não foi capaz de regular atividade da mitoPPX,

  • 27

    (Figura 9). Esse resultado foi completamente distinto do que foi visto em besouros

    sem o silenciamento gênico, indicando que alterações no metabolismo de pirofosfatos

    afetam o metabolismo mitocondrial de polifosfatos em Tribolium castaneum.

    Atividade da mitoPPX:

    Figura 9. Análise da atividade da exopolifosfatase mitocondrial (mitoPPX) durante a

    respiração mitocondrial em T. castaneum adultos com o gene da pirofosfatase

    silenciado. Em amostras de mitocôndrias ativas com gene da Pirofosfatase silenciado onde

    controle sem adição de Piruvato + ADP, KCN e FCCP avaliamos a atividade da mitoPPX

    basal. Com a adição de Piruvato (3 mM) e ADP (0,2 mM). KCN foi utilizado como inibidor da

    cadeia respiratória e FCCP como desacoplador. Como substrato da enzima foi utilizado PoliP3

    (5 mM). Os dados expressam a média ± desvio padrão de 3 ensaios independentes em

    triplicata. A significância foi estabelecida em p < 0,05 (*) e p < 0,001 (**).

    5.3.Atividade da F1Fo-ATPase no metabolismo mitocondrial utilizando PoliP3:

    A ATP sintase é uma enzima funcionalmente reversível que pode catalisar tanto

    a síntese quanto a hidrólise de ATP (SARASTE, 1990ª,b). O fluxo de prótons leva à

  • 28

    condensação do ADP e de fosfato inorgânico em ATP (SARASTE, 1990ª,b;

    WALLACE, 1999a,b). Portanto, a detecção de Pi é útil para avaliar a taxa de produção

    de polifosfato inorgânico por ATPases e a atividade enzimática relacionada, um

    parâmetro extremamente importante no metabolismo energético celular. Na Figura

    10, analisamos a atividade da F1Fo-ATPase utilizando como substrato o polifosfato de

    cadeia curta, PoliP3 e observamos que a atividade da F1 Fo-ATPase foi estimulada por

    PoliP3.

    Atividade da F1Fo-ATPase:

    Con

    trol

    e M5

    M10

    M

    20

    0.0

    0.2

    0.4

    0.6

    0.8

    1.0

    **

    ***

    U / m

    g P

    TN

    Figura 10. Papel dos polifosfatos de cadeia curta na atividade da F1Fo-ATPase. As

    concentrações de PoliP3 utilizadas foram de 5 µM, 10 µM e 20 µM. Controle sem adição de

    polifosfato. Os dados expressam a média ± desvio padrão de 3 ensaios independentes em

    triplicata. Como substrato da enzima foi utilizado PoliP3 (5 mM). Os dados expressam a média

    ± desvio padrão de 3 ensaios independentes em triplicata. A significância foi estabelecida em

    p < 0,05 (*) e p < 0,001 (**).

  • 29

    5.4.Atividade da F1Fo-ATPase no metabolismo mitocondrial utilizando PoliP3

    com o gene da pirofosfatase silenciado por RNAi:

    Agora com o gene da pirofosfatase silenciado, verificamos a atividade da F1Fo-

    ATPase utilizando como substrato também o polifosfato de cadeia curta PoliP3, que

    assim como observado na figura 10, a atividade da F1Fo-ATPase também foi

    estimulada por PoliP3 (Figura 11) demonstrando resultado similar sem o

    silenciamento gênico.

    Atividade da F1Fo-ATPase:

    Figura 11. Papel dos polifosfatos de cadeia curta na atividade da F1Fo-ATPase com

    silenciamento gênico utilizando PoliP3. As concentrações de PoliP3 utilizadas foram de 5

    µM, 10 µM e 20 µM. Controle sem adição de polifosfato. Como substrato da enzima foi

    utilizado PoliP3 (5 mM). Os dados expressam a média ± desvio padrão de 3 ensaios

    independentes em triplicata. A significância foi estabelecida em p < 0,05 (*) e p < 0,001 (**).

  • 30

    5.5.Atividade da F1Fo-ATPase no metabolismo mitocondrial utilizando PoliP15:

    Quando analisamos a atividade da F1Fo-ATPase utilizando como substrato o

    polifosfato de cadeia curta (Figura 11) o PoliP3, observamos anteriormente que a

    atividade da F1Fo-ATPase foi estimulada por esse polifosfato, o que, antagonicamente

    aconteceu quando o substrato para analisar a atividade da F1Fo-ATPase foi o

    polifosfato de cadeia longa, o PoliP15, como demonstrado na Figura 12, cuja

    atividade foi pouco alterada não demonstrando ativação significativa.

    Atividade da F1Fo-ATPase:

    Figura 12. Papel dos polifosfatos de cadeia longa na atividade da F1Fo-ATPase

    utilizando PoliP15. As concentrações de PoliP15 utilizadas foram de 5 µM, 10 µM e 20 µM.

    Controle sem adição de polifosfato. Os dados expressam a média ± desvio padrão de 3

    ensaios independentes em triplicata. A significância foi estabelecida em p < 0,05 (*) e p <

    0,001 (**).

  • 31

    5.6.Atividade da F1Fo-ATPase no metabolismo mitocondrial utilizando PoliP15

    com o gene da pirofosfatase silenciado por RNAi:

    Já analisando a Figura 13, observamos que quando comparada a atividade da

    F1Fo-ATPase utilizando como substrato o polifosfato de cadeia longa PoliP15, a

    enzima não foi estimulada, ou seja, tanto na atividade da enzima sem o silenciamento

    gênico quanto na silenciada, com adição de polifosfato de cadeia longa não houve

    ativação enzimática da F1Fo-ATPase.

    Atividade da F1Fo-ATPase:

    Figura 13. Papel dos polifosfatos de cadeia longa na atividade da F1Fo-ATPase com

    silenciamento gênico. As concentrações de PoliP15 utilizadas foram de 5 µM, 10 µM e 20

    µM. Controle sem adição de polifosfato. Os dados expressam a média ± desvio padrão de 3

    ensaios independentes em triplicata. A significância foi estabelecida em p < 0,05 (*) e p <

    0,001 (**).

  • 32

    5.7.Influência do ATP/ADP na atividade Exopolifosfatásica (PPX) mitocondrial:

    Investigamos ainda a influência da Adenosina Trifosfato (ATP) e Adenosina

    Difosfato (ADP) na razão ATP/ADP na atividade da mitoPPX, onde utilizamos

    besouros adultos e como substrato enzimático, polifosfatos compostos por três

    moléculas de fosfato (PoliP3), a uma concentração adequada de 5 mM, determinada

    experimentalmente. Nas razões 1:50, 1:10, 1:5, 1:1, 5:1 e 10:1, utilizando-se como

    substrato da enzima o PoliP3, a atividade da mitoPPX apresentou diminuição

    significativa em relação ao controle conforme nota-se na Figura 14 quando a razão

    ATP/ADP aumentava.

    Atividade da mitoPPX:

    Figura 14. Influência do ATP/ADP na atividade da exopolifosfatase mitocondrial

    (mitoPPX) em T.castaneum adultos. Em amostras de mitocôndrias ativas com estímulo da

    respiração mitocondrial em besouros adultos, avaliamos a atividade da mitoPPX basal como

    mostrado no controle, com a adição de ATP (5 mM) e ADP (5 mM). Como substrato da enzima

    foi utilizado PoliP3 (5 mM). Os dados expressam a média ± desvio padrão de 3 ensaios

    independentes em triplicata. A significância foi estabelecida em p < 0,05 (*) e p < 0,001 (**).

  • 33

    5.8.Influência do NADH/NAD+ na atividade Exopolifosfatásica (PPX)

    mitocondrial:

    Também foi analisada a razão NADH/NAD+ na atividade da mitoPPX do

    besouro adulto, onde houve uma queda na atividade exopolifosfatásica mitocondrial

    nas razões 1:50, 1:10, 1:5, 1:1, 5:1 e 10:1, utilizando-se como substrato da enzima o

    PoliP3, como mostra a Figura 15, onde quanto maior a quantidade de NADH

    (reduzido) em relação a quantidade de NAD+ (oxidado), a atividade enzimática reduziu

    drasticamente quando a razão NADH/NAD+ aumentou.

    Atividade da mitoPPX:

    Figura 15. Influência do NADH/NAD+ na atividade da exopolifosfatase mitocondrial

    (mitoPPX) em T.castaneum adultos. Em amostras de mitocôndrias ativas com estímulo da

    respiração mitocondrial em besouros adultos, avaliamos a atividade da mitoPPX basal como

    mostrado no controle, com a adição de NADH (5 mM) e NAD+ (5 mM). Como substrato da

    enzima foi utilizado PoliP3 (5 mM). Os dados expressam a média ± desvio padrão de 3 ensaios

    independentes em triplicata. A significância foi estabelecida em p < 0,05 (*) e p < 0,001 (**).

  • 34

    5.9.Influência da AcetilCoA na atividade Exopolifosfatásica (PPX) mitocondrial:

    Analisamos também a possível influência da acetilcoenzima A (Acetil-CoA), que

    é um composto intermediário no metabolismo celular, constituído por um grupo acetil

    de dois carbonos, unidos de maneira covalente a coenzima A nas atividades

    exopolifosfatásicas mitocondriais. Observamos um aumento da atividade na

    concentração inicial quando comparada ao controle e posteriormente sua gradativa

    diminuição, indicando que a mitoPPX foi influenciada pela AcetilCoA dependendo da

    concentração utilizada. Para analisar a influência da AcetilCoA na atividade da

    mitoPPX, utilizamos três diferentes concentrações 30 µM, 60 µM e 300 µM onde

    PoliP3 foi o substrato enzimático (Figura 16).

    Atividade da mitoPPX:

    Figura 16. Influência do AcetilCoA na atividade da exopolifosfatase mitocondrial

    (mitoPPX) em T.castaneum adultos. Em amostras de mitocôndrias ativas com estímulo da

    respiração mitocondrial em besouros adultos, avaliamos a atividade da mitoPPX basal como

    mostrado no controle, com a adição de 30 µM, 60 µM e 300 µM de Acetil-CoA. Como

    substrato da enzima foi utilizado PoliP3 (5 mM). Os dados expressam a média ± desvio padrão

    de 3 ensaios independentes em triplicata. A significância foi estabelecida em p < 0,05 (*) e p

    < 0,001 (**).

  • 35

    5.10.Influência da Glicose 6-fosfato na atividade Exopolifosfatásica (PPX)

    mitocondrial:

    A Glicose 6-fosfato (G6P) é um composto muito comum nas células, sendo que

    a vasta maioria da glicose que entra na célula fica fosforilada desta forma.

    Investigamos então a influência da G6P no metabolismo de polifosfatos onde foi

    avaliada a atividade da mitoPPX com as três crescentes concentrações de G6P, 0,5

    mM, 1 mM e 2 mM, mostrando que os níveis de mitoPPX são maiores com o aumento

    da concentração de G6P relacionando-se com o controle. O aumento das

    concentrações de G6P ativou consideravelmente a ação da mitoPPX, conforme

    podemos observar na Figura 17.

    Segundo Da-Silva et al. (2004), a hexoquinase mitocondrial participa da

    prevenção da formação de EROs através da reciclagem do ADP. Em 2008,

    SANTIAGO, et al., sugeriu que a atividade da mitoHex complementa através de um

    mecanismo alternativo a atividade das enzimas antioxidantes clássicas contra o

    estresse oxidativo.

    Atividade da mitoPPX:

    Figura 17. Análise da atividade da exopolifosfatase mitocondrial (mitoPPX) na presença

    de Glicose 6-fosfato (G6P). Em amostras de mitocôndrias ativas com estímulo da respiração

    https://pt.wikipedia.org/wiki/C%C3%A9lula

  • 36

    mitocondrial em besouros adultos, avaliamos a atividade da mitoPPX basal como mostrado

    no controle, com a adição de 0,5 mM, 1 mM e 2 mM de G6P como modulador da reação.

    Como substrato da enzima foi utilizado PoliP3 (5 mM). Os dados expressam a média ± desvio

    padrão de 3 ensaios independentes em triplicata. A significância foi estabelecida em p < 0,05

    (*) e p < 0,001 (**).

    5.11.Atividade da enzima Catalase no metabolismo mitocondrial utilizando

    PoliP3:

    Avaliamos então a atividade das enzimas: catalase (mitoCAT), glutationa

    redutase (mitoGR) e a superóxido dismutase (mitoSOD) durante a fase adulta do

    besouro Tribolium castaneum e o papel dos polifosfatos de cadeia curta e longa sobre

    cada uma destas enzimas a fim de verificar o possível papel dos polifosfatos na

    prevenção da formação de espécies reativas de oxigênio (EROs) nos eventos

    mitocondriais as quais representam o sistema enzimático antioxidante do besouro

    Tribolium castaneum.

    Inicialmente, analisamos o papel dos polifosfatos sobre a enzima mitoCAT, que

    é produzida por quase todos os organismos vivos e catalisa a decomposição do

    peróxido de hidrogênio a oxigênio e água, verificando a atividade enzimática no

    metabolismo mitocondrial utilizando o PoliP3, onde de acordo com a figura 18, PoliP3

    conduziu um aumento sign