Bíblia - A Oração de Jesus Em Lucas - Rogério Viana

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  • 7/25/2019 Bblia - A Orao de Jesus Em Lucas - Rogrio Viana

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    BBLIAProfessor: Pe. Dr. AlexandreAluno: Rogrio VianaTrabalho: A Orao de Jesus em LucasData: 08/10/2014

    Introduo

    Este trabalho visa abordar alguns aspectos da orao no Evangelho de So Lucas.A proposta no fazer um tratado, mas apresentar de forma bem sinttica, mascompreensvel como era a orao pessoal de Jesus, onde Jesus orava e asconsequncias desta postura de Jesus, que ao ser visto foi interpelado pelo discpulo:ensina-nos orar.

    Todo mestre ensinava seus discpulos a orar, por isso, este versculo mostra umachave de entendimento que Jesus era um modelo a ser seguido.

    Evangelho de Lucas1

    O nome Lucas atribudo por uma tradio da qual a mais antiga testemunha Irineu, no fim do sculo II e que depois, muitos encontraram confirmao para estaidentidade.2 Diz-se a tradio (Prlogo Antimarcionita) que ele nascera em Antioquia,discpulo dos apstolos (depois de Paulo), escreveu em Acaia para os convertidos dopaganismo, escrevera mais tarde os Atos dos Apstolos, foi celibatrio e morreu aos 84anos na Bocia.3

    O terceiro evangelho (Lc) foi escrito por Lucas, que escreveu tambm os Atos dos

    Apstolos e foi companheiro de Paulo. Lucas escreve seu Evangelho mais ou menos nomesmo tempo de Mateus, apesar de ter tido outro foco escrevendo para as Igrejasfundadas por Paulo (com Silas, Timteo, Tito) no mundo de cultura grega (helenista). Eleredigiu uma histria e, embora no sendo testemunha ocular dos fatos, investigou ostestemunhos antigos e comps o seu Evangelho em boa ordem.

    O Evangelho de Lucas uma obra autnoma e altamente original, contendo muitascoisas que no se encontra nos outros evangelhos.

    No material evanglico com base em um clculo aproximativo, pode-se estabeleceresta distribuio de versculos prprios de cada evangelho: Marcos com total de 661versculos, Mateus um total de 1068 e Lucas sobre um total de 1150 versculos.4

    A sua preocupao primordial proclamar a histria de Jesus enquanto histria da

    salvao.5O livro compe uma introduo, a pregao de Jesus na Galileia, a sua subidaa Jerusalm, o cumprimento de sua misso nesta cidade, pela Paixo e Ressurreio,alm de ser o nico a iniciar com um prlogo, dirigido a Tefilo (desconhecido).

    Lucas insiste sobre converso inicial (5,32; 7,36-50; 13,1-5; 15,14-32; 19,1-10;23,39-43), sobre a f (1,20.45; 7,50; 8,12-13; 17, 5-6; 18,8; 22,32; 24,25), sobre a orao(11,1-13; 18,1-8; 21,36; 22,40.46) tema deste trabalho, e, o exemplo de Jesus (3,21; 5,16,6,12; 9,18.28-29)

    1Bblia da CNBB, p. 1267-1268.2Bblia TEB, Introduo ao Evangelho de Lucas, p. 1261.3Rafael Aguirre Monasterio, Antonio Rodrguez Carmona. Evangelhos Sinticos e Atos dos Apstolos, p.332.4Guiseppe Barbaglio, Rinaldo Fabris, Bruno Maggioni, Os Evangelhos I, So Paulo, 1990, p. 22.5Bblia TEB, Introduo ao Evangelho de Lucas, p. 1260.

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    A Orao

    Como o foco deste trabalho a orao, iniciamos aqui uma pequena reflexo.A orao o ato de f por excelncia e sem a f a orao no tem sentido. No h

    f, nem reconhecimento de Deus sem sua graa que nos rodea por todas as partes. Aorao ocupa um lugar muito importante na bblia; no Antigo Testamento (salmos, nos

    livros histricos; Samuel, por exemplo) assim como tambm no Novo Testamentosobretudo nos Evangelhos, que nos diz que Jesus rezou e transmite algumas de suasoraes, assim como seu ensinamento a este respeito, pois quando fala de oraoobviamente est falando de sua prpria experincia.6

    Lucas o evangelista da "Orao", o que fala com maior frequncia de que Jesusorava e deu instrues a seus discpulos sobre a reta maneira de orar. Podemos percebernestas passagens como se d esta realidade, mas com nfase maior no Evangelho: Lc4,15; Lc 5,25s; Lc 6,11; Lc 7,16; Lc 8,25.37; Lc 9,43; Lc 13,17; Lc 17,15; Lc 18,43; Lc19,37; cf. tambm Lc 1,65; Lc 2,9.20.47; Lc 23,48 e At 2,7.12.43; At 3,10; At 5,5.11, etc.7

    A narrativa do evangelho de Lufas comea num clima de orao. Zacarias entrouno Santurio do Senhor para oferecer incenso; enquanto isto, toda a assembleia do povo

    estava fora, em orao (Lc 1,10). E termina com uma orao de louvor dos discpulos, noltimo versculo do evangelho: Estavam continuamente no templo, louvando a Deus (Lc24,53)8

    A orao Pessoal de Jesus

    Augustin George diz que querer falar da orao de Jesus uma pretensobastante desmesurada. A orao, incluindo a nossa, essencialmente secreta,misteriosa; jamais poderemos dar um juzo sobre a orao dos demais, nem sobre a

    nossa.Em efeito, a orao algo muito distinto dos gestos ou palavras que podemacompanha-la ou expressa-la: por ser ato essencial da f, transcende sempre s frmulasque a expressam: nunca pode ser reduzida s palavras pronunciadas, e muitas vezesnossa melhor orao aquela em que faltam as palavras.Se toda orao est fora de nosso alcance, como podemos pretender falar da orao deJesus?9

    No subttulo anterior toquei no ponto sobre a orao e citei a estrutura na viso deSCHMID10, agora quero fazer ponte a partir dos tpicos de Augustin Georgeapresentando a orao pessoal de Jesus:1) O Batismo de Jesus (Lc 3,21); 2) Orao na pregao (Lc 5,16); 3) Orao na eleio

    dos apstolos (Lc 6,12); 4) Orao antes exigir aos discpulos uma opo radical (Lc9,18); 5) Durante a Transfigurao (Lc 9,28-29); 6) Entrar na Relao Filial de Jesus (Lc11,1); 7) No Getsmani (Lc 22,39-46).

    Assim como apresenta tambm As Oraes de Jesus:

    6Augustin George, El Evangelio Segn san Lucas, Cuadernos Bblicos 3, p. 42. [t. n.]7Josef Schmid, El Evangelio Segun San Lucas, p. 34. [t. n.]8Duarte, Luiz Miguel, ssp, Guia para ler o Evangelho de Lucas, Paulus, So Paulo, livreto de cortesia, 2103,p.239Augustin George, El Evangelio Segn san Lucas, Cuadernos Bblicos 3, p. 42. [t. n.]10 Este autor na pgina 34, na 7 nota apresentou uma pequena estrutura de versculos a respeito daorao, mas achei por bem pegar uma outra, do autor seguinte, o Augustin George para elucidar melhor porestar mais completa sua viso sobre a orao pessoal de Jesus.

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    1) Louvor pela realizao da misso (Lc 10,21); 2) A Orao em favor de Pedro tentado(Lc 22,31-32); 3) Orao no Monte das Oliveiras (Lc 22,39-46); 4) Orao na Cruz (Lc23,46); 5) A Orao de Perdo (Lc 23,34).

    Concluindo este subttulo, estas so as duas estruturas de orao de Jesus; umacomo realidade da orao pessoal de Jesus (momentos) e a outra como as Oraes deJesus (estrutura). Ele no somente reza, mas garante a eficcia da orao: (Lc 11,9-10;

    11,13), ensinando-a aos discpulos.

    Orao dos Discpulos ou Orao do Pai Nosso Lc 11,1-4

    O centro da orao em Lucas com certeza o Pai Nosso. Por isso, apresentoagora a viso da Bblia do Peregrino versculo a versculo para compreenso destapassagem bblica.

    Mt 11,1: A orao responde palavra escutada. E agora as duas coisas se fundemporque os discpulos escutam como se deve orar. Orar atividade integrante de toda a

    vida religiosa e pode ser mais importante que os sacrifcios: Todos os povos chamarominha casa de Orao (Is 56,7).

    Mt 11,2-4: Jesus responde ao pedido, propondo uma orao muito breve, inclusivemais breve (e talvez mais prxima do texto original).

    Mt 11,2: a invocao Pai orienta o resto. Substitui as do AT, Yhwh = Senhor, oumeu Deus. O indivduo no chama a Deus de Pai, exceto o rei (Sl 89,27). Sejarespeitada a tua santidade, no seja profanado o nome santo, especialmente diante dospagos. Venha o teu reinado responde em forma de pedido ao anncio da boa nova; queDeus seja efetivamente quem rege a histria dos homens (cf Sl 82,8; 98). Pede-se porque um processo: chegou em Jesus e est para chegar em ns.

    Mt 11,3: duvidoso o significado do adjetivo do po: se cotidiano, refere-se nossa vida aqui (cf. Sl 136,25); como a vida, tambm o sustento dom de Deus. Se opo do amanh, refere-se ao escatolgico, o que alimenta a vida eterna na casa do Pai. possvel que o autor queira abranger tudo.

    Mt 11,4: Sobre o perdo: Perdoa a ofensa a teu prximo, e te perdoaro ospecados quando pedires (Eclo 28,2; Lc 6,37). O perdo dom excelso. Sobre a prova:Eclo 2,1; 33,1; Sb 3,5).

    Tbua Sintica da Orao do Pai Nosso em Mateus e Lucas

    Quero mostrar a estrutura do Evangelho em Lucas11

    e seu paralelo no Evangelho deMateus no quadro sintico comparando as diferenas das duas passagens.

    Mateus 6, 9-13 Lucas 11, 1-49Portanto, orai desta maneira:

    Pai nosso que ests nos cus, Santificado seja oteu Nome,

    10

    venha o teu Reino, seja feita a tua vontade naterra, como no cu.

    1Estando em certo lugar, orando, ao terminar, um deseus discpulos pediu-lhe: Senhor, ensina-nos aorar, como Joo ensinou a seus discpulos.2Respondeu-lhes Quando orardes, dizei:

    Pai, santificado seja o teu Nome;

    venha o teu Reino;

    11Utilizei a Traduo da Bblia de Jerusalm para este quadro sintico.

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    11O po nosso de cada dia d-nos hoje.

    12E perdoa-nos as nossas dvidas como tambmns perdoamos aos nossos devedores.

    13E no nos submetas tentao, mas livra-nos do

    Maligno.

    3O po nosso cotidiano d-nos a cada dia;

    4perdoa-nos os nossos pecados, pois tambm nsperdoamos aos nossos devedores;

    e no nos deixes cair na tentao.

    A primeira diferena que podemos notar que no Evangelho de Mateus contmsete peties12, o de Lucas somente cinco peties.13Esse nmero (sete) da predileode Mateus: duas vezes sete geraes na genealogia (Mt 1,17); sete bem-aventuranas(Mt 5,3ss); sete parbolas (Mt 13,3ss); dever de perdoar no sete, mas setenta e setevezes (Mt 18,22); sete maldies dos fariseus (Mt 23,13ss). Talvez tenha sido com oobjetivo de conseguir sete peties que Mateus acrescentou ao texto bsico (Lc 11,2-4) aterceira (Mt 7,21; 21,31; 26,42) e a stima (cf. o Maligno Mt 13,19.38) ou do mal.14

    A segunda diferena notria so os detalhes em Lucas. Ele apresenta lugar,

    situao, quem pediu (discpulo), e, o pedido (ensina-nos a orar) e somente depoisele d a ordem de como deve ser a orao. J Mateus j apresenta a orientao direta deJesus orai desta maneira.

    Um terceiro detalhe o contexto no qual os evangelistas inserem a orao do PaiNosso. Mateus insere no meio do Sermo da Montanha enquanto Lucas inclui nestasesso do caminho de Jesus para Jerusalm.15

    No final do versculo 4: e no nos deixes cair na tentao, nas duas passagens atraduo equvoca. Deus nos submete prova, mas ele no tenta ningum (cf. Tg 1,12;1Cor 10,13). O sentido permissivo do verbo aramaico, usado por Jesus, deixar entrar eno fazer entrar, no foi traduzido pelo grego e pela Vulgata. Desde os primeirossculos, trocavam Ne nos inducas por Ne nos patiaris induci. Ns pedimos a Deus

    livrar-nos do Tentador, e pedimos para no entrar em tentao (cf. Mt 26,41p), isto , naapostasia.16

    Orao nos Atos dos Apstolos

    Fao aqui uma meno rpida aos Atos dos Apstolos no que diz respeito orao. Aesta espera necessria antes de dar continuidade ao anncio da misso que Jesuscomeou e deixou para os seus continuarem. "O grupo dos apstolos e outros seguidoresdepois da ascenso voltam a Jerusalm e aguardam a promessa do Pai em orao. Ogrupo dos Onze, junto com algumas mulheres e os irmos de Jesus. Todos eram

    perseverantes na orao. (cf. At 1,12-14)" Eles ainda no podiam sair de Jerusalm paracumprir a misso que o Senhor lhes confiou segundo o incio do livro dos Atos dosApstolos No vos afasteis de Jerusalm, mas esperai a realizao da promessa do Pai,da qual me ouvistes falar, quando eu disse: Joo batizou com gua; vs, porm, dentrode poucos dias sereis batizados com o Esprito Santo. (At 1,4b-5) para dar continuidade misso: Mas recebereis o poder do Esprito Santo que vir sobre vs, para serdes

    12As duas peties acrescentadas por Mateus esto sublinhadas.13Bblia de Jerusalm, Evangelho de Lucas, p. 1808.14Ibid. p. 1713.15Bblia Ave Maria Estudos, p. 1646.16Ibid, p. 1809.

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    minhas testemunhas em Jerusalm, por toda a Judia e Samaria, e at os confins daterra. (At 1,8)17

    Concluso

    Sabemos que o que nos faz entrar em intimidade com o Pai atravs de Jesus econhecer sua vontade. Com este trabalho procurei elucidar de forma simples, masprofunda, tocando os versculos que clarearam esta dimenso da vida de Jesus e seusdiscpulos e hoje a ns que continuamos sua misso de anunciar a Boa Nova.

    Referncias

    A Bblia TEB, com o Antigo Testamento e o Novo Testamento traduzidos dos textosoriginais hebraico e grego com introdues, notas essenciais e glossrio, nova ediorevista e corrigida, Edies Loyola, So Paulo; Paulinas, So Paulo, 1995.

    Bblia de Jerusalm, Nova edio, revista e ampliada, 5 Impresso, Paulus, So Paulo,2008.

    Bblia Sagrada, Traduo da CNBB, com introdues e notas, 12 Reedio, EdiesCNBB, Braslia; Editora Cano Nova, So Paulo, 2012.

    Bblia Sagrada Ave Maria, Edio de estudos, revisada e atualizada com o novo acordoortogrfico, 3 ed., Edio Claretiana, So Paulo, 2012.

    DUARTE, Luiz Miguel, ssp, Guia para ler o Evangelho de Lucas, Paulus, So Paulo,Cortesia Editora Paulus, 2103.

    GEORGE, Augustin, El evangelio segn san Lucas, Cuadernos Bblicos 3, 8 Ed.,Editorial Verbo Divino, Navarra, 1987.

    SCHKEL, Lus Alonso, Bblia do Peregrino, Paulus, So Paulo, 2002.

    MONASTERIO, Rafael Aguirre, CARMONA, Antonio Rodrguez. Evangelios Sintipticos yHechos de los Apstoles, Intoducin al estudio de la bblia, Dimenso Teolgica, Origem

    e finalidade da obra. Editorial Verbo Divino, Navarra, 1992. (PDF)

    BARBAGLIO Guiseppe, FABRIS Rinaldo, MAGGIONI Bruno, Os Evangelhos (I), Loyola,So Paulo, 1990.

    SCHMID Josef, El Evangelio Segun San Lucas, Biblioteca Herder, Seccin de SagradaEscritura, Vol 94, Editorial Herder, Barcelona, 1968. Em espanhol, traduo nossa.

    17Estes dois ltimos versculos usei a verso da bblia CNBB.