Biodanza: Instrumento de Transformação Social | Por Anna Rosaura Trancoso e Luciana Pinto Oliveira

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Sistema Rolando Toro ASSOCIAÇÃO ESCOLA DE BIODANZA ROLANDO TORO DO RIO DE JANEIRO BIODANZA: INSTRUMENTO DE TRANSFORMAÇÃO SOCIAL Por Anna Rosaura Trancoso Luciana Pinto Oliveira Monografia apresentada à Associação Escola de Biodanza Rolando Toro do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos para a obtenção do título de Facilitador em Biodanza. Orientadora: Gladys Trindade de Araújo Didata em Biodanza International Biocentric Foundation Reg. RJ nº 9719 Outubro 2003

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Sistema Rolando Toro

ASSOCIAÇÃO ESCOLA DE BIODANZA

ROLANDO TORO DO RIO DE JANEIRO

BIODANZA:

INSTRUMENTO DE TRANSFORMAÇÃO SOCIAL

Por

Anna Rosaura Trancoso

Luciana Pinto Oliveira

Monografia apresentada à Associação Escola de Biodanza Rolando Toro do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos para a obtenção do título de Facilitador em Biodanza.

Orientadora: Gladys Trindade de Araújo Didata em Biodanza – International Biocentric Foundation Reg. RJ nº 9719

Outubro 2003

“É ativação dos núcleos inatos de vinculação, o que

permite uma modificação social em profundidade.”

Rolando Toro

DEDICATÓRIA

Dedico ao Jorge Crespo, meu companheiro

aprendiz do amor, que me possibilita, a cada dia,

pacientemente, a superação do medo e a renovação

da coragem de amar.

Anna Rosaura Trancoso

Dedico ao Luciano Ramos a descoberta do amor e

sua atemporalidade, nas voltas que o mundo dá.

Luciana Pinto Oliveira

AGRADECIMENTOS

Ao nosso querido e amado facilitador Antonio Sarpe pelo seu carinho, crença,

confiança em toda nossa trajetória e grande educador do amor;

A nossa querida amiga Maria Adela por sua presença firme e afetiva auxiliando

na condução de nossa formação como facilitadoras.

A nossa querida orientadora Gladys Trindade de Araújo, por sua afetuosa

dedicação que muito nos motivou e facilitou todo o processo de criação e

execução desta monografia.

Aos nossos amigos, que nos acompanham em nosso crescimento e

transformação.

A nossas mães, professoras das primeiras lições do amor, Anna Luiza

Trancoso e Sylvia Maria Pinto Oliveira (in Memoriam).

Aos nossos pais, incentivadores e amigos. Gualter Do Coutto Oliveira, José

Trancoso (in memoriam) e Gianni Fulchignoni (in memriam).

Aos nossos familiares, pelo apoio recebido.

Aos nossos alunos com sua entrega e disponibilidade nos ensinando a facilitar.

À amiga e parceira Denizis Trindade, que muito nos incentivou.

Às instituições: Ação Comunitária do Brasil do Rio de Janeiro; Espaço de

Construção da Cultura – Ação da Cidadania; Pequena Cruzada Santa

Terezinha; Se Essa Rua Fosse Minha.

APRESENTAÇÃO

Este estudo foi motivado pela percepção das autoras, no sentido de que

a base de sua experiência profissional tem um aspecto em comum, que diz

respeito à ação social.

Em parceria, têm as duas profissionais realizado atividades

pedagógicas, utilizando a Biodanza como instrumento de transformação social,

de modo geral. Nos casos específicos abordados nesta monografia, sua

experiência tem indicado o grande impacto causado pela Biodanza, junto

àquelas pessoas consideradas “excluídas” da sociedade, dando às mesmas, a

oportunidade de sentir outra dimensão da vida. Com toda ênfase, é nisso que

as profissionais acreditam.

O estudo está estruturado em quatro capítulos. Capitulo 1 diz respeito à

Introdução, onde estão incluídos o problema que desencadeou o estudo

(utilizando-se perguntas), seu objetivo, sua delimitação, relevância, bem como

a definição dos termos no mesmo aplicados.

O Capitulo 2 apresenta a vinculação da Educação com a

Responsabilidade Social, o novo paradigma do Principio Biocêntrico e o seu

subproduto – a Biodanza. Nesse mesmo capitulo estende-se sua vinculação à

Ação Social e à Estética.

No Capitulo 3 relata-se as experiências das autoras, os passos

metodológicos utilizados, bem como os resultados alcançados.

O Capitulo 4 é dedicado às conclusões do estudo e à apresentação de

sugestões para pesquisas posteriores.

RESUMO

O escopo deste estudo foi o de relatar experiências realizadas pelas

autoras, em, Organizações Não Governamentais (ONGs) sediadas no Rio de

Janeiro, e que congregam pessoas oriundas de seguimentos dos menos

favorecidos pela sociedade.

Durante as atividades pedagógicas, buscou-se utilizar a metodologia do

sistema Biodanza, não só pelo seu poder de integração, como também pela

sua característica de facilitador de um processo de transformação social.

No momento em que se deseja transformar uma realidade, o caminho

mais adequado é o estar junto daquele que está à margem, e que melhor

poderá ajudar a perceber a relatividade, o novo e o desconhecido das coisas.

Assim, em tal aspecto consistiu o trabalho: aplicação da Biodanza junto às

crianças, jovens, adultos (bem como os educadores), que fazem parte daquele

contexto.

Ao se mostrar as contradições da realidade, é na margem que está

possibilidade de compreender o centro, pois, que é nas periferias do mundo

que se gestam as grandes transformações. Vale dizer: são as diferenças que

dão completude e compreensão global da vida.

As reflexões das autoras baseadas nas experiências relatadas, nos

argumentos dos cientistas sociais então citados e ainda, nos resultados

alcançados, levaram à conclusão de que se pode contribuir com a pratica da

Biodanza junto a um publico em situação de risco pessoal e social, levando-os

a sentir uma outra dimensão da vida.

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO.............................................................................. 01

1.1 Objetivo............................................................................ 04

1.2 Delimitação do Estudo..................................................... 04

1.3 Relevância do Estudo...................................................... 04

1.4 Definição dos Termos...................................................... 05

2 REFERENCIAL TEÓRICO........................................................... 07

2.1 A Educação e a Responsabilidade Social....................... 07

2.2 A Criatividade e o Potencial Transformador.................... 13

2.3 Principio Biocêntrico........................................................ 18

2.4 Biodanza e Ação Social................................................... 19

2.4.1 Modelo Teórico..................................................... 21

2.5 Biodanza, uma Reaprendizagem Estética....................... 24

2.5.1 Relação entre a Estética e a Biodanza................. 25

3 METODOLOGIA........................................................................... 32

3.1 História Pessoal e Metodologia....................................... 32

3.2 Relato da Experiência das Autoras................................. 34

3.2.1 Ação Comunitária do Brasil/RJ............................. 34

3.2.2 Se Essa Rua Fosse Minha.................................... 42

3.2.3 Espaço de Construção da Cultural – Ação Cidadania...............................................................

43

3.2.4 Pequena Cruzada Santa Teresinha...................... 48

3.3 Resultados Alcançados................................................... 50

4 CONCLUSÕES E SUGESTÕES.................................................. 53

5 BIBLIOGRAFIA............................................................................ 56

ANEXO:

A – Carta da Terra

B – Projeto Biodanza para Crianças

C – Ficha técnica da Peça “Menino No Meio da Rua

D – Programa – Encontro de Educadores

E – Desenhos

F – Fotos

G – Relatos

1 – INTRODUÇÃO

Vive-se numa fase de traição à vida , uma desaculturação onde o

homem se perdeu de sua humanidade. O mundo está contaminado por guerras

e todas as gamas de patologias. A maior ameaça que a Terra vive é a do

“asteróide” homo sapiens e demens, que, da mesma forma que foi capaz de

criar o amor, também inventou uma forma de destruí-lo e acabar com a única

cura possível do planeta. A tal respeito, busca-se como referencial Boff, que se

manifesta.

“Mas o após o neolítico irrompeu um meteoro

rasante, perigoso e ameaçador: o ser humano, o

homo sapiens e sapiens. Com sua tecnologia,

especialmente hoje altamente energívora, acelera o

processo de exterminação a níveis quase

incontroláveis. Será possível evitar o colapso

ecológico? Eis o desafio ético e político que se nos

antolha. Podemos contornar a ameaça com

sabedoria, auto correção, com veneração e com

compaixão”.(1)

(1) Boff, L. O Despertar da Águia – O Ddia-bólico e o Sim-bólico na Construção da Realidade. Petrópolis:16º Ed. Editora Vozes,2001

2

A Biodanza, como sistema de integração, propõe uma forte conexão a

nível individual, com o outro e com o universo. E o que é uma integração

cósmica senão cada um destes aspectos cada vez mais fortalecidos?

Biodanza não está centrada no indivíduo, mas na comunidade e é

primordialmente um sistema de mudança social.

Biodanza trabalha com vivências e não com a elaboração cognitivo-

verbal. Seu ponto de partida é a vivência, porém não exclui o mundo das

operações concretas, do pensamento simbólico e tampouco as funções

viscerais e os automatismo.

A origem filosófica de simbólico e diabólico é grega. Sim-bólico significa

lançar as coisas de tal forma que permaneçam juntas. Originalmente o conceito

de símbolo (symbolos) vem de dois amigos que deveriam se separar por

circunstâncias da vida. Pegaram, então um pedaço de telha e quebraram em

duas partes. Cada um levou um caco para que num futuro, mesmo que

distante, se voltassem a se encontrar, as partes deveriam unir-se perfeitamente

em sinal que a amizade não teria se desgastado.

Sim-bólico então, é o que re-une, congrega e faz convergir forças num

único feixe. Ao contrário, dia-bólico é o que desagrega, desconcerta, desune,

separa e opõe.

A realidade, no entanto é sim-bólica e dia-bólica. O próprio universo

surgiu de um “big bang” primordial, do próprio caos, que promoveu formas sim-

bólicas para sua evolução.

Nós, humanos, somos sim-bólicos, e dia-bólicos e é na aceitação disso

que se torna possível uma evolução de fato.

3

Retornando a Boff:

“Toda a nossa cultura , à deriva do iluminismo,

exalta o homo sapiens, o homem inteligente e sábio.

Duplicou-lhe até a qualificação sapiens sapiens,

sábio-sábio. Magnífica sua atitude conquistadora do

mundo, desvendadora dos mecanismos da natureza

interpretadora dos sentidos da história. Reconhece

no ser humano sapiens sapiens uma dignidade

inviolável.

Curiosamente, os mesmos que afirmam tais

excelências do ser humano na Europa,

especialmente a partir da revolução francesa (1789),

as negavam em outros lugares: escravizavam a

África, assujeitavam a América Latina, invadiam a

Ásia. Por onde passavam deixavam rastros de

devastação e de pilhagem de riquezas materiais e

culturais. Mostravam no ser humano o lado de

demência, de lobo voraz e de satã da Terra. É o

homo demens demens.“.(2)

De acordo com este pensamento e a proposta de Ação Social da

Biodanza indicada por Rolando Toro, algumas questões podem ser formuladas:

Até que ponto de fato a Biodanza pode ser um instrumento

eficaz de transformação social?

Qual a correlação entre a pratica da Biodanza pelas pessoas

“excluídas” e a possibilidade de sua inclusão no contexto

social?

A busca de resposta a tais perguntas, é que norteará o desenvolvimento

deste estudo.

(2) Boff, L. op .cit

4

1.1 OBJETIVO

Relatar experiências realizadas utilizando-se a Biodanza, como

instrumento eficaz para promover transformação a nível individual e social.

1.2 DELIMITAÇÃO DO ESTUDO

O estudo apresenta as experiências das autoras em instituições não

governamentais, utilizando a Biodanza como Sistema de Integração.

Ficou, o mesmo então, restrito ao público de crianças, jovens e adultos

que fazem parte das seguintes instituições, nos respectivos períodos:

AÇÃO COMUNITÁRIA DO BRASIL / RIO DE JANEIRO (ACB/RJ) – a

partir de agosto de 2002.

SE ESSA RUA FOSSE MINHA – de outubro de 2001 a fevereiro de

2002.

ESPAÇO DE CONSTRUÇÃO DA CULTURA – AÇÃO DA

CIDADANIA – a partir de fevereiro de 2000.

PEQUENA CRUZADA SANTA TERESINHA – de fevereiro de 2002 a

junho de maio de 2003.

1.3 RELEVÂNCIA DO ESTUDO

Segundo Rolando Toro, o objetivo essencial da Biodanza é estimular a

afetividade no ser humano, desde os primeiros anos de vida, mediante sua

aplicação no campo da educação.

5

A Biodanza propõe uma integração afetiva-motora que restabeleça a

unidade perdida entre percepção, motricidade, afetividade e funções viscerais.

A afetividade é o núcleo integrador que influi sobre as centros reguladores

límbico-hipotalâmicos.

A qualidade de vida do ser humano hoje obteve melhorias com os

avanços tecnológicos, mas por outro lado, o aspecto afetivo sofre de aridez e

esterilidade na qual o grande ausente, é o amor.

As organizações não governamentais são, em grande parte, instituições

de ensino não formal e reúnem um público alvo que sofre diretamente diversos

tipos de violência, desde a familiar até a falta de cidadania.

Então, um estudo que dê tratamento especial à questão da afetividade

coletiva, buscando-se transformar as patologias sociais em transvaloração

cultural dentro de um processo de reculturação, certamente contribuirá para

uma melhor qualidade de vida dos habitantes das comunidades como um todo.

1.4 DEFINIÇÃO DOS TERMOS

Biodanza – sistema de integração do indivíduo com ele, com o outro e com

o universo realizado através da música, emoção e movimento.

Ecofatores – fatores ambientais que determinam a expressão do potencial

genético, podendo ser positivo ou negativo.

Vivência – Instante vivido com sensação e emoção.

Feedback – retorno de informação, propiciando um dialogo.

Esteta – do grego aisthestes, aquele que sente:

1- Pessoa que adota uma atitude exclusiva e requintada com relação a arte

e à vida, colocando os valores estéticos acima de todos os outros.

6

2- Pessoa versada em estética.

Estética – Percepção e compreensão do mundo através dos sentidos.

Empatia – Capacidade de aprofundamento e compreensão de uma

experiência a ponto de se poder revivê-la com toda intensidade de

sensações e emoções quando algum indício da mesma se manifesta

mesmo que parcial ou virtualmente.

Sinestesia – Capacidade humana de perceber estímulos dirigidos a um

sentido através do outro. Sensação secundária de um sentido através da

estimulação do outro. Ex: o som da cor / o gosto de uma emoção.

SIM (SYM) – Origem grega, significa fusão; união; associação.

DIA – Origem grega, significa divisão; dissociação; separação.

SÍMBOLO (SYMBALON) – Origem da Grécia antiga, é um patacão partido

irregularmente dado a dois que compartilhavam qualquer tipo de bem

comum, como símbolo ou representação da sociedade.

7

2 – REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 A EDUCAÇÃO E A RESPONSABILIDADE SOCIAL

Uma verdadeira prática educativa deve ser transformadora, uma

pedagogia fundada na ética, no respeito à dignidade e à própria autonomia do

educando. De nada adianta o discurso competente se a ação pedagógica for

impermeável a mudanças. A educação é ética enquanto prática

especificamente humana.

Três problemas suscitam a urgência de uma ética mundial: a crise

social, a crise do sistema de trabalho e a crise ecológica, todas de dimensões

planetárias. A crise social com a injusta acumulação de riquezas; a do trabalho

com a automatização da produção tornando os trabalhadores descartáveis e,

conseqüentemente, formando um exército de excluídos; e a crise ecológica

com o princípio de autodestruição que acabamos por construir e colocar em

risco o sistema planetário. É de extrema urgência a instauração de um novo

princípio: o de co-responsabilidade por nossa existência como espécie e como

planeta.

Sejam pobres, ricos, negros, amarelos, brancos, velhos, jovens, nada

disso mais importa, todos são seres humanos e urge a real necessidade de

união em prol da responsabilidade social planetária. A educação

verdadeiramente humana, carregada de consciência, emoção e comoção pela

8

fragilidade do momento atual em que se vive é a única forma de, se não se

salvar o planeta, ao menos aprender algo para se deixar nas memórias

celulares, ancestrais, inconscientes, no mar de um novo caos para ganhar uma

nova ordem em futuras civilizações.

O mundo, e seus líderes conectados com a paz, o amor e a saúde

planetária já se movimentam no sentido de elaboração de um termo de

responsabilidade, assim como a Declaração Universal dos Direitos Humanos

das Nações Unidas. Em 1992, por ocasião da Cúpula da Terra, realizada no

Rio de Janeiro foi proposta uma Carta da Terra que havia sido discutida em

âmbito mundial por organizações não governamentais, por grupos

comprometidos e científicos, bem como por governos nacionais.

Hoje, a Carta da Terra já foi revista diversas vezes por grupos

pacificadores e a versão mais recente é encontrada no Anexo A

Segundo Leonardo Boff:

“O mérito principal da Carta é colocar como eixo

articulador a categoria da inter-retro-relação de tudo

com tudo. Isso lhe permite sustentar o destino

comum da Terra e da humanidade e reafirmar a

convicçào de que formamos uma grande

comunidade terrenal e cósmica. As perspectivas

desenvolvidas pelas ciências da Terra, pela nova

cosmologia, pela física quântica, pela biologia

contemporânea e os pontos mais seguros do

paradigma holístico da ecologia subjazem ao texto

da Carta.” (3)

(3) Boff, L. Ethos Mundial: Um Consenso Mínimo Entre os Humanos. Brasília. Editora Letraviva, 2000.

9

Ensinar não é transferir conhecimento, mas criar possibilidades para sua

produção ou a sua construção. É tarefa do educador crítico propiciar condições

para que os educandos se assumam uns perante os outros. Assumir-se como

ser social e histórico, pensante, transformador, criador, capaz de toda gama de

sentimentos. Assumir-se não significa excluir, é a “outredade” do “não eu”, ou

do “tu”, que nos faz assumir a radicalidade do nosso “eu”.

É a tomada de consciência de que são seres inacabados e à medida

que se vão formando, realiza-se história e toda sua conseqüência, positiva ou

negativa, para o mundo, o que torna responsáveis e éticos. Ou, pelo menos,

conscientes da necessidade da responsabilidade e ética perante o mundo.

De acordo com Paulo Freire:

“Gosto de ser gente porque, como tal, percebo afinal

que a construção de minha presença no mundo, que

não se faz no isolamento, isenta da influência das

forças sociais, que não se compreende fora da

tensão entre o que herdo geneticamente e o que

herdo social, cultural e historicamente, tem muito a

ver comigo mesmo.” (4)

Um comprometimento ético requer, estando no mundo, um saber-se

nele e uma capacidade de se distanciar para admirá-lo, objetivá-lo e

transformá-lo:

Comprometer-se é ser e estar sendo em seu tempo, fazendo a história.

A capacidade de transcender e distinguir órbitas distintas de si mesmo faz do

ser humano capaz de relacionar-se. O animal não é um ser de relações, mas

de contatos. Está no mundo e não com o mundo. As relações humanas se dão

no mundo, com o mundo e pelo mundo

(4) Freire, P. Pedagogia da Autonomia: Saberes Necessários à Prática Educativa. São Paul. Ed. Paz e

Terra, 2000. .

10

Assim explica Maturana:

Nossa vida não se dá exclusivamente em nosso

mero ser animal com uma identidade zoológica

assinalada ao dizer que somos homo sapiens, mas

se dá no modo como vivemos nossas relações,

como esta classe particular de animais que somos ,

ao realizar nosso viver como seres humanos” (5)

Vive-se uma história de diversificação de modos de vida. Já foram

encontrados fósseis de nossos ancestrais de mais de três milhões de anos

atrás, que revelam que somos animais coletores e não caçadores nem

carnívoros. Humberto Maturana compara muito bem com nossa atualidade

quando observa o êxito dos supermercados, onde olhamos e pegamos os

alimentos. Recolher, olhar, pegar, deixar, levar são características do agricultor

coletor. Fósseis revelam também que famílias, ou grupos, viviam juntos, pois

assim foram encontrados inclusive com crianças.

Maturana acredita que nossos antecessores compartilhavam o alimento

e ainda o fazem. Recorda de situações em que a criança tira a comida de sua

boca e passa para a mãe ou o irmãozinho instintivamente e é reprimida pela

mãe. Só que há três milhões de anos não existiam as bactérias e a repressão

não era necessária. Há culturas em que os velhos, sem dentes ou crianças são

alimentados de boca à boca. Talvez deste compartilhar alimentos tenha surgido

o beijo na boca.

Outra constatação linda é a da mão. Mesmo há três milhões de anos a

mão é um órgão de carícia, se adapta a qualquer superfície do corpo do outro e

do próprio. E os efeitos fisiológicos da carícia suprimem a dor e induzem o bem

estar.

(5) Maturana, H. texto Modo de Vida e Cultura)

11

Busca-se como referencial Maturana, quando diz:

“Não há dúvida que a mão é um órgão manipulativo,

mas a história evolutiva, que dá origem ao humano,

em minha opinião, não tem há ver permanentemente

com o uso de ferramentas, mas sim com a

sensualidade, a ternura, a colaboração e a carícia”.

(6)

Coletores, compartilhantes e sensuais, os humanos surgem com a

linguagem. A linguagem é um modo de viver em coordenações de

coordenações de condutas consensuais.

A linguagem propicia uma evolução, um passar de geração para

geração. Nós, autoras, ousaríamos dizer: propicia a educação. Isto nos faz

concluir que o ser humano surge com a educação. E mais, se Maturana admite

o surgimento do ser humano há três milhões de anos e a sociedade ocidental

há apenas oito mil anos, quando falamos de memória celular, biológica,

emocional, estamos nos referindo a este ser integral. A humanidade da qual

nos perdemos e desejamos recuperar é muito maior temporalmente que essa

que instaurou o princípio antivida. O humano, a linguagem, a educação à que

buscamos não está tão distante assim considerando toda nossa existência.

Isso nos faz otimistas e confiantes de que estamos fazendo algo efetivamente

por isto. E só através da crença de que é possível recuperar o amor é que

alguém deveria se dizer e se fazer educador.

(6) Matruna, H.. Op cit.

12

Segundo Maturana somos filho do amor:

“Na história evolutiva que nos constitui como seres

humanos, nós surgimos como filhos do amor. Isto não

tem a ver com o bem ou o mal, tem a ver com a

emoção que constitui a possibilidade da convivência na

qual surgiu a linguagem e tornou possível as

transformações evolutivas que ocorreram de modo que

agora somos o que somos. O amor não é peculiar aos

seres humanos, é próprio de todos os animais que

vivem em intimidade. O que ocorre é que o amor tem

um caráter especial para os seres humanos porque

tornou possível a convivência na qual surgiu a

linguagem que, como modo de convivência, configurou

nosso ser humano.” (7)

Nossas instituições educacionais estão bem afastadas dessa questão do

amor, preocupadas em repassar “saberes” e “conhecimentos”, datas e regras.

Não nos cabe, aqui, julgar ou criticar tais “ensinamentos”, mas questionar a

reeducação do amor.

Os sistemas educacionais estão infiltrados por um vasto processo de

traição à vida. Não é terminando, quebrando, com tudo que será viável uma

autêntica renovação, afinal estas instituições já são concentração de

comunidades reunidas em torno do saber. Mas algo há que ser reaprendido e

isto já começa a ser aceito por diversas matrizes mais sensíveis. E

reaprendizagem é um verbo que se consolida em comunhão, em grupo. Ainda

mais quando o reaprendizado é do amar.

(7) Matruna, H.. Op cit.

13

A Biodanza propõe uma Integração Biocêntrica que nada mais é do que

o compromisso com a vida e uma reeducação a nível orgânico. Através de

vivências realizadas com a música, emoção e movimento e, principalmente,

seres humanos. É possível uma renovação orgânica para que, então,

possamos renovar organicamente também o planeta. É uma pedrinha jogada

num imenso lago. Seu movimento de expansão é capaz de torná-lo um oceano

com múltiplas correntes temperaturas, repulsos e impulsos. Um oceano vivo de

renovação e “reeducação”.

Rolando propõe que a Biodanza seja adotada em sistemas

convencionais de ensino e em todo e qualquer tipo de movimento social de

determinados setores de exclusão.

Incorporadas e impregnadas pelo oceano da renovação as autoras vem

se dedicando cada vez mais, felizes por sua contribuição à manutenção da vida

deste grande mar trazendo movimento e pulsação entre erros e acertos, entre

“vais” e “vens”.

2.2 CRIATIVIDADE E O POTENCIAL TRANSFORMADOR

“A coragem não é a ausência de desespero, mas a

capacidade de seguir em frente, apesar do

desespero”. (8)

Acredita-se que Biodanza e ação social é transformação social. A

criatividade é uma extensão do processo de viver. A função criativa é o impulso

inato para expressar nossa superabundância de potenciais.

Todas as pessoas possuem essa riqueza interior, o artista é apenas

aquele que tem coragem de expressar seu potenciais.

(8) May, R. A Coragem de Criar.Rio de Janeiro.Editora Nova Fronteira. 1975

14

Nossa civilização vem reprimindo a função natural da criatividade

obstruindo o impulso criativo e, conseqüentemente acarretando em graves

disfunções. A mecanização é um dos efeitos provocados por tal repressão, no

qual o indivíduo se move a partir de padrões impostos repetindo seqüências de

movimentos sem sentido. A mecanização é um atentado à função global de

viver, provocando uma descompensação e impedindo o fluxo organizador do

sistema vivente. Isso tudo acarreta na diminuição da qualidade de vida.

A raiz da palavra coragem vem de “coer”, que significa coração em

francês. O coração é o órgão gerador da vida e a coragem geradora de nossas

realizações e transformações.

Rollo May afirma:

“A coragem é necessária para que o homem possa

ser e vir a ser. Para que o eu seja é preciso afirmá-lo

e comprometer-se”. (9)

A sociedade ocidental desenvolveu a coragem bélica, a coragem de

mandar, de ser impor através da força e autoridade. O mundo carece de uma

coragem corporal, cultivando a sensibilidade e a capacidade de “ouvir” com

todos nossos sentidos para entrar em empatia com o outro. Carecemos de uma

coragem para o encontro.

Junto com a coragem corporal surge uma coragem moral, pois

percebendo, entramos em estado de compaixão. E, se nos permitimos o

conhecimento das injustiças, do sofrimento alheio, já estamos automaticamente

comprometidos em fazer algo a respeito.

(9) May, R. Op. Cit.

15

Conhecer o mal e não fazer nada, não se envolver, é covardia. Por isso,

talvez, a humanidade esteja encontrando na alienação uma forma de anestesia

(não perceber). Bloquear nossa percepção é uma forma de quebrar o elo de

empatia com o outro, de estar apático, e enfraquecer a teia da corrente

humana.

Nos estruturamos no encontro, na relação, e o crescente não

envolvimento está nos desestruturando cada vez mais. É aí que entra a

coragem social, que requer uma intimidade simultânea nos vários níveis da

personalidade. Só assim é possível vencer a alienação do indivíduo.

Paulo Freire diz:

“Não haveria criatividade sem a curiosidade que nos

move e que nos põe pacientemente impacientes

diante do mundo que não fizemos, acrescentando a

ele algo que fizemos”. (10)

A criatividade é um caminho do caos à ordem, uma renovação da

realidade. Ao longo da história vem associada a problemas psicológicos.

Grandes artistas enlouqueceram, como Van Gogh; tornaram-se alcoólatras,

como Põe e assim por diante.

É o que menciona Rollo May:

“Evidentemente, criatividade e originalidade

associam-se a pessoas que não se adaptam à

cultura em que vivem. Mas isso não significa

necessariamente que seja um produto da neurose”.

(11)

(10) Freire, P. op cit. (11) May. R. op cit.

16

Todos nós nascemos com potencial para criar, é um instinto de

sobrevivência: o instinto exploratório. Assim que nascemos começamos a

exploração do nosso próprio corpo, do universo a nossa volta, enfim, quanto

mais estímulos recebemos mais exercitamos e fortalecemos nosso potencial

criativo. Os ecofatores positivos e a necessidade nos fazem artistas e criadores

de nossa própria existência.

Acontece, no entanto, que nossa cultura capitalista oferece cada vez

mais tudo pronto. Em alguns casos já não se tem o trabalho nem mesmo de

pensar, é só aceitar passivamente os fatos e ir passando pela vida até que ela

se acabe e, então, nos damos conta de que não fizemos nada que

pudéssemos deixar de herança histórica, emocional ou afetiva além de pagar

as contas e dar continuidade ao sistema que assim pode se estabilizar.

O aprimoramento da percepção e sensibilidade nos propicia encontros e

um desenvolvimento de nossa afetividade. Afeto! Este, em nossa opinião, é o

sentimento que irá nos reconectar com nosso potencial criativo à medida em

que, em primeiro lugar podemos perceber a realidade; depois não a aceitamos

mais cruel, violenta e injusta. Transformar a realidade é questão de

sobrevivência, e a Biodanza é um exercício, uma “musculação” de potenciais

através de vivência mobilizadoras.

Assumirmos e exercitarmos nossos potenciais, a cada dia, por um

mundo melhor já não é questão de escolha, é responsabilidade e compromisso

pela saúde planetária.

Com a tecnologia e o conseqüente desemprego, o homem vai deixando

de produzir e enveredando num ócio profundo. Doenças, discussões,

alcoolismo, suicídio, revolta, impotência, estresse são característicos dos

grandes centros e aumentam a cada dia. Um grande desafio da humanidade é

transmutar, transformar o ócio em ação.

17

Retorna-se a Boff, para referendar nossa percepção:

“Como fazer com que o ócio seja criativo, realizador

das virtualidades humanas? Libertado do regime

assalariado a que foi submetido pela sociedade

produtivista moderna, especialmente capitalista, o

trabalho voltará à sua natureza original: a atividade

criadora do ser humano, a ação plasmadora do real,

o demiurgo que transportará os sonhos e as

virtualidades presentes nos seres humanos em

práticas surpreendentes e em obras expressivas do

que seja e do que pode ser a criatividade humana.

Estamos preparados para esse salto de qualidade

rumo à plena expressão humana?”. (12)

Um vez que recordamos de nossa humanidade latente e acordamos

nossos potenciais adormecidos percebemos que criar não é nenhum “bicho de

sete cabeças”, ao contrário é simples, natural, acontece, nasce.

A poética do encontro humano é justamente este autoparir-se com ética

ao encontrar o outro.

Reforça-se esta idéia, através de Rolando Toro, quando diz:

“A proposta da Biodanza consiste em permitir a

expressão dos impulsos criadores naturais. A

criação é, assim como uma função sexual ou a de

autotranscendência, uma extensão do processo de

vida”. (13)

(12) Boff, L. op cit

(13) Toro, R. Bioadanza. São Paulo. Editora Olavobrás/EPB, 2002.

18

2.3 PRINCIPIO BIOCÊNTRICO

O Principio Biocêntrico, conceito proposto por Rolando Toro, concentra

seu interesse no Universo como sistema vivente. Não são apenas os animais,

as plantas ou o homem o reino da vida. Tudo o que existe, formam parte de um

“organismo" biológico.

Rolando Toro, afirma que:

“O Princípio Biocêntrico é, portanto, um ponto de

partida para estruturar as novas percepções e as

novas ciências do futuro. (...) Através do Princípio

Biocêntrico alcançamos finalmente os movimentos

originais e as primordiais percepções de vinculação

da vida com a vida. (...) Nossas vidas surgem da

sabedoria milenar do grande pulsador da vida, do

útero cósmico, que se nutre e espira nas e no amor

dos elementos. Na luz da origem, no buraco vazio e

paradisíaco da realidade, nós buscamos nos aos

outros. " (14)

O Princípio Biocêntrico, portanto, surge de uma proposta anterior à

cultura e se nutre da sabedoria biocósmica que gera os processos viventes.

(14) Toro, R. op. cit..

19

2.4 BIODANZA E AÇÃO SOCIAL

Qual a contribuição da Biodanza para a transformação social?

O maior objetivo da Biodanza é eliminar as “enfermidades da

civilização”. E para isto é necessário a ativação dos núcleos inatos de

vinculação, fomentando um sentimento de fraternidade e não de uma ideologia

humanista. A ideologia é tão alienante quanto qualquer outro sistema fechado,

controlador e limitador. As transformações políticas baseadas em lutas são

mudanças externas que não envolve um grande grupo de pessoas, se não nas

conseqüências, em geral, catastróficas. Para se realizar uma modificação

social é indispensável ativar nosso potencial adormecido de nos vincularmos à

própria espécie.

A vinculação inter-humana é uma vinculação biocósmica e totalmente

assolada pelo “desenvolvimento” histórico – cultural. A patologia de nossa

cultura invade nossos lares pelos meios de comunicação, agride nossa

capacidade auditiva nas ruas dos grandes centros, polui e limita nossa visão à

mensagens adoecidas, violentas e autoritária. Estamos falando de uma

população que já tem seus desejos, necessidades, tensões e alívios pensados,

fabricados e introjetados pela mídia ou sistema: nós.

Esta cultura, estruturada sobre um sistema de poder se caracteriza por

uma “sociedade agonística”: modo de agrupamento zoológico baseado no

medo provocado pela emergência do macho mais forte, sedimentando-se o

grupo em torno de papéis e hierarquias de poder. A oposição seria uma

“sociedade hedonística”, onde a tensão entre os indivíduos é diminuída pelo

contato: beijos, carícias e abraços.

A contribuição que a Biodanza oferece nessa sociedade enferma é a

diminuição da forma agonística de ser à medida que vai, progressivamente se

20

transformando em Hedonística com a ativação dos núcleos de vinculação

através do contato, da carícia, e do brincar juntos.

Rolando Toro afirma:

“A transformação social, por tanto, vista a partir da

Biodanza, compreendería, por uma parte, na

ativação hipotalâmica de vivências de contato e

afetividade e, por outra, na demolição dos tabus

sexuais, políticos, religiosos e psiquiátricos”. (15)

O Princípio Biocêntrico é fundado em leis universais que conservam e

permitem a evolução da vida. Com o objetivo de eliminar as enfermidades da

civilização ele se distingue desta cultura de traição à vida e assim propõe e

viabiliza uma real e progressiva ação social que vem sendo incorporada a partir

de mim, de você, dele e assim sucessivamente.

Rolando propõe um programa de mudança social resumido nos

seguintes pontos:

1. “Introduzir no nosso estilo de vida agonísta, elementos de

contato que estabeleçam os núcleos inatos de vinculação.

2. Demolição dos tabus sexuais, políticos, religiosos e

psiquiátricos.

3. Revinculação vitalizadora com a natureza e participação na

defesa ecológica.

4. Estimular a criação de voluntários para fazer cursos de

Biodanza para crianças, anciãos, doentes psiquiátricos e

pessoas com transtornos motores.

(15) Toro, R. op. Cit.

21

5. Ajuda ativa a minorias etnográficas, aos grandes setores

sociais, vítimas de exploração e aos grupos marginalizados e

discriminados.

6. Defesa decidida dos direitos humanos.

7. Unificação de todas as forças econômicas, sociais, políticas e

científicas em torno da proteção da vida.

8. Introduzir a Educação Biocêntrica como Mediação nos

Programas de Ensino nas Escolas tradicionais, com o objetivo

de reeducar a Afetividade e estimular a Criatividade das

crianças.“.

Não há como atingir uma real transformação social distante da autêntica

percepção do mundo. Uma das maiores enfermidades da civilização atual é a

anestesia – a não percepção sensorial – o que torna o ser humano facilmente

manipulável. É indispensável e urgente o exercício de praticas que facilitem a

retomada de uma capacidade estética por parte do indivíduo, e, neste presente

trabalho, é sugerida a Biodanza como tal.

2.4.1 MODELO TEÓRICO

A prática da Biodanza não seria validada se não tivesse como suporte,

uma teoria que justificasse a sua existência.

Assim, julga-se oportuno falar do Modelo Teórico de Biodanza elaborado

por Toro.

22

Tal Modelo Teórico:

Extraído da apostila Definição e Modelo Teórico para formação docente de Rolando Toro

23

DESCRIÇÃO DO MODELO TEÓRICO DE BIODANZA (1998)

1. “O Modelo Teórico de Biodanza é descrito dentro de um contexto

cósmico. Não pode ser concebido um modelo da vida humana, isolado

do processo de gênese da vida e de sua evolução filogenética e

ontogenética. Este é um modelo do ”Homem Cósmico “.

2. As condições iniciais da gênese da vida são produzidas por fatores de

regulação cósmica, sem os quais a existência de seres vivos é

impossível (componentes químicos específicos, temperatura, pressão,

gravidade, longitude de ondas de luz atmosféricas, umidade, etc.)

3. O universo apresenta regularidades que atuam no "caos". A organização

das estruturas vivas primitivas gera condições nas quais o acaso oferece

baixas possibilidades de criar e estruturar formas vivas.

4. Quando estão criadas as "condições iniciais de vida" capazes de auto-

organização e duplicação (nas zonas dissipativas), as mutações

produzem a diversidade e a variabilidade das formas vivas através de

milênios. Posteriormente, a árvore filogenética se desprende do ramo

dos hominídeos.

5. A fecundação do ser humano durante a união dos gametas femininos e

masculinos, dá origem à identidade e ao processo ontogenético.

6. O ADN é o potencial humano individual que se expressa em cinco

conjuntos, que se manifestam mediante cinco "linhas de vivência" que se

potencializam reciprocamente.

7. A manifestação dos potenciais é pulsante entre dois estados biológicos:

"consciência de si e do mundo" e "fusão com o todo" (regressão).

24

8. A ontogênese progride através de processos de maduração e

diferenciação, de complexidade crescente e dá saltos evolutivos

chamados Transtase, através dos quais se realiza a integração

existencial.

9. No processo integrativo intervem o inconsciente pessoal (memória do

indivíduo), o inconsciente coletivo (memória da espécie) e o inconsciente

vital (memória cósmica).

10. O DNA permite a auto-organização e regula os sistemas de integração

intra-orgânica (sistema nervoso, sistema endócrino sistema

imunológico).”

2.5 BIODANZA, UMA REAPRENDIZAGEM ESTÉTICA

Falar de ação social e propor uma política de transgressão dos valores

antivida, é falar de estética – da forma de perceber e consequentemente de

atuar no mundo.

Entendemos Estética como uma disciplina viva, que se encontra em

constantes transformações acompanhando o desenvolvimento dos modos de

apropriação humana do mundo. Consideramos a Biodanza uma atividade

educativa que propõe um modo de apropriação da realidade o mais original e

humano possível.

Para Vasquez:

“A estética é a ciência de um modo de apropriação

da realidade, vinculado a outros modos de

apropriação humana do mundo e com as condições

históricas, sociais e culturais em que ocorre”. (16)

(16) Vasquez, A. S. op. Cit.

25

2.5.1 – RELAÇÃO ENTRE A ESTÉTICA E A BIODANZA

É característico de nossa civilização, de violência e medo, a defesa e

proteção constantes em forma de couraças chegando a afetar a postura e

desenvoltura do individuo.

Tais couraças, quando em exagero, vão diminuindo a sensibilidade e

nossa cultura vai se estigmatizando como anestésica – cultura do não sentir.

A Biodanza é uma prática que possibilita o desenvolvimento do potencial

que o ser humano tem para perceber o mundo através de todos os seus

sentidos, integrando-o e facilitando a recuperação do que é seu.

A estética compreende o sentido de percepção, sensação, sentidos,

compreensão, memorização e racionalização de uma experiência do homem

com relação a qualquer situação ou elemento do seu entorno.

Estas palavras foram sendo deturpadas obviamente por razões políticas

de concentração de poder. Hoje, ao contrário do sentido original, entendemos

por estética, um conjunto de regras que organiza a percepção humana,

instaurando uma espécie de ditadura do gosto, das formas, do físico e até de

se vestir.

O sentido original percebemos ainda na forma negativa: anestesia, ou

seja, o não sentir.

A educação sinestética é constantemente simbólica associando idéias;

integrando; fusionando; unindo ao contrário da educação formal que

compartimenta; desintegra sendo, portando, diabólica.

26

A educação atual formal ainda acredita na transmissão de conceitos que

não foram experienciados ainda que empaticamente. A essa transferência de

conceitos não estesiados (vivenciados) a psicologia chama de preconceito.

A educação sinestética realiza ações integradas e integradoras

desconstruindo sistematicamente as barreiras artificiais entre as chamadas

áreas de conhecimento limitadas e limitadoras do verdadeiro conhecimento que

é único, integral, sinestético e indivisível.

Para a educadora Rê Fernandes:

“A intuição, a necessidade real, a curiosidade, a

vontade de saber, o prazer de viver associado com a

capacidade de sentir, emocionar-se, compreender,

memorizar, o espírito de pesquisa e a busca

incessante do conhecimento, concorrem para fazer

da ação sinestética uma atividade inesgotável,

estimulante e prazerosa, mesmo que difícil até

mesmo encantadora como pode ser a vida em todas

as suas manifestações." (17)

Biodanza, segundo Rolando Toro, seu criador, é uma reaprendizagem

das funções originárias de vida. Logo, é uma atividade educativa na qual

recuperamos potenciais, dentre os quais “estesiarmos” a vida, ou seja,

percebermos, com todos os nossos sentidos, cada estímulo que o mundo nos

oferece. Assim, Biodanza é uma atividade educativa sinestética e é neste

aspecto que nos orientamos na elaboração de nosso trabalho social,

acreditando que recuperar o sentido puro da estética, é reaprender

originariamente a viver.

(17) Fernades, R. A educação Sinestética e Sua Contribuição para a Mudança de Rumos da Educação Atual. Rio de Janeiro. 1996.

27

Só através da sensibilização da humanidade será possível realizar uma

pratica transformadora. Portanto, a capacidade de “esteticar” o mundo está

integralmente vinculada com o presente trabalho, uma vez que a Biodanza

desenvolve e amplia tal potencial: a percepção.

Ao mesmo tempo em que é afastado o potencial humano para estesiar o

mundo, a definição do termo “estética” vem se transformando ao longo dos

anos.

Vazquez propõe nova definição da estética ao explicar que a esta cabe

realizar uma abordagem particular do mundo específico de relações humanas

com a realidade e, portanto, um tipo de objetos, processos e atos humanos.

A disciplina Estética, como saber autônomo e sistemático tem apenas

dois século e meio de existência, considerando como certidão de nascimento a

publicação da Aesthetica de Baumgarten nos anos 1750-1758.

A definição mais venerável da Estética filosófica é a que coloca o belo

no centro da reflexão. Ao definir a Estética como filosofia ou ciência do belo a

dificuldade consiste exatamente em definir o belo.

Para Platão, o belo é o belo em si, perfeito, absoluto e atemporal. A tese

platônica da beleza em si, ideal e supra-sensível, graças a qual as coisas

empíricas, sensíveis, são belas. Aristóteles contrapõe a tese do belo em coisas

empíricas, mas, seguindo seu mestre, reconhecem entre os componentes reais

da beleza a proporção das partes. A esses componentes agrega os de simetria

e extensão e, em relação a eles, os de ordem e limite.

A teoria geral da beleza deriva de Platão e Aristóteles, estendendo-se

até o século XVIII com o princípio do belo como qualidade das coisas, da

realidade (ideal ou empírica), independente da relação que os homens têm

elas.

28

A partir de então, a determinação do eixo da reflexão estética se desloca

do objeto para o sujeito. O inglês Hutcheson afirma que a beleza é uma

percepção da mente, e não uma qualidade das coisas, e Hume completa

dizendo que a beleza só existe na mente de quem a contempla. Posteriormente

encontra-se o elemento subjetivo do belo como atributo da “Natureza Humana”

na Estética da Ilustração, ou como produto da consciência humana, seja no

sentido idealista transcendental de Kant, seja no psicologista dos teóricos

alemães Einfühlung (“empatia” ou “projeção sentimental”). As posições

objetivistas ou subjetivistas povoam a história do pensamento estético.

Em sentido ideal ou real, objetivo ou subjetivo, à margem do homem ou

sua relação com a realidade, o belo ainda está no centro das reflexões

estéticas. E a Estética que estuda esses objetos e atitudes em relações a eles,

se define como ciência do belo.

Essa definição, no entanto apresenta dificuldades, derivadas justamente

da posição central ocupada pelo belo. Não resta espaço para o que não é belo,

que além do feio, é o grotesco, o trágico, o cômico, o monstruoso, o gracioso,

etc. Ou seja, tudo o que, mesmo não sendo considerado belo não deixa de ser

estético.

Nem todo estético é belo. A esfera do estético é mais ampla que a do

belo que, por sua vez, na arte, não pode se restringir à visão classicista,

embora esta tenha dominado no Ocidente durante mais de vinte séculos.

Assim, o belo não pode assumir o conceito central na definição da Estética, já

que esta ficaria limitada ao excluir de seu objeto de estudo o estético não-belo;

ou insuficiente ao considerar o belo como única forma histórica de arte: o

clássico.

A época da arte contemporânea amplia o conceito de belo contrapondo

ao modelo clássico (ex: “O Grito” de Edward Munch – deformação humana

demonstrando terror). E, mais ainda, decidem matar a beleza na arte. Como diz

o poeta Apollinaire, “a beleza, esse monstro, não é eterna”.

29

É neste momento que a Estética não pode mais se definir como ciência

do belo. Se na história real a arte é a do não-belo, outros valores estéticos

desalojam o do belo como objeto central em sua definição. A Estética se

transforma então na filosofia da arte.

O centro das reflexões estéticas passa da essência do belo para a arte

em si. Arte esta, que só ganhou sua autonomia a partir do renascimento,

quando foi atribuída ao universo estético. Ou seja, a arte só começa a ser

considerada por seu significado propriamente estético quando passa a ser

auto-suficiente, e não por serviços do céu ou da terra. Para que a arte fosse

reconhecida como uma atividade humana autônoma, foi preciso que se

reconhecesse no homem a capacidade criadora, que antes só era atribuída a

Deus. Isto se deu com o humanismo renascentista burguês, quando o artista

começou a distinguir-se do artesão.

Realçando a distinção da arte das atividades mecânicas ou servis,

Leonardo Da Vinci afirma que “a pintura é coisa mental”, ou seja, uma atividade

intelectual e não física.

Foi no ano de 1762 que a palavra arte apareceu no Dicionário da

Academia Francesa com significado diferente dos ofícios. E a arte à qual se dá

esse significado próprio é aquela associada à beleza. Por isso, ao fundar-se a

Academia Francesa de Belas Artes, se recorrerá justamente a esta expressão,

“belas”, para classificar as artes.

Exatamente em meados do século XVIII, com Baumgarten, nasce a

Estética como disciplina filosófica autônoma. Em concordância com isto, à

medida em que se eleva sua autonomia, a arte passa a ocupar o lugar central

nas digressões estéticas.

Embora para a Estética a arte seja um objeto de estudo fundamental,

não pode ser exclusivo. Por mais importante que seja para ela, é apenas uma

forma do comportamento estético do homem. A importância que a arte alcança

30

na relação estética do homem com o mundo é um fenômeno histórico: surge e

se desenvolve no Ocidente a partir dos tempos modernos. Mas a relação

estética, como forma específica de apropriação da realidade pelo homem, não

se dá apenas na arte e na percepção de seus produtos, mas também na

contemplação da natureza, assim como no comportamento humano com

objetos práticos e utilitários.

A definição da Estética como filosofia da arte é, pois, duplamente

limitativa: restringe o campo do estético ao artístico e o da arte com outras

atividades humanas (moral, filosófica, política etc.), assim como a vinculação

de todo campo artístico com a sociedade em que ocorre e com as diversas

relações sociais que a condicionam.

O estético é o que pode suscitar uma percepção desinteressada; o

artístico compreende os valores diversos que se revelam na obra de arte,

compreendida, também, o valor estético. Essa distinção entre o estético e o

artístico, resulta em duas disciplinas independentes: a estética e a ciência da

arte. A ciência da arte pode considerar também a arte de diferentes épocas ou

povos, levando em conta seus valores não exatamente estéticos: religiosos,

morais, racionais ou sociais. A arte está, então, liberta de sua submissão à

beleza.

A ciência da arte considera a obra artística não só pelo seu lado estético,

mas como um todo que inclui valores extra-estéticos. No entanto, a ciência da

arte concebe o estético em definitivo como belo e esse conceito, por sua vez, é

definido à maneira clássica, com o qual se incorre no mesmo erro já

vivenciado.

A vinculação entre o estético e o artístico não exclui sua distinção, já que

o estético não se esgota na arte, ocorrendo também na natureza, nos objetos

técnicos e produtos utilitários. Por conseguinte a arte não se esgota no

estético, já que tem de contar com o que se incorpora a ela do extra-estético.

31

Adolfo Sánchez Vázquez, em seu livro “Convite à estética”, destaca,

baseado nas dificuldades das definições da Estética, a necessidade de

provocar uma nova definição que contenha alguns tópicos como:

A distinção do estético do artístico.

A idéia do estético, destacando em primeiro plano o seu significado

original de sensível (aisthésis) como componente essencial de tudo

que consideramos estético: objetos, percepções, valores etc. (Xavier

Rubert de Ventós atualmente chama de Teoria da Sensibilidade)

A Estética caracterizando um comportamento específico com a

realidade.

E propõe: “A ESTÉTICA É A CIÊNCIA DE UM MODO DE

APROPRIAÇÃO DA REALIDADE, VINCULADO A OUTROS MODOS DE

APROPRIAÇÃO HUMANA DO MUNDO E COM AS CONDIÇÕES

HISTÓRICAS, SOCIAIS E CULTURAIS EM QUE OCORRE”.

A Biodanza também é um modo de apropriação da realidade, permitindo

o “re-imprint” dos ecofatores negativos em “imprints” positivos e ampliando o

potencial, a medida em que incorporamos às vivências.

32

3 – METODOLOGIA

3.1 HISTORIA PESSOAL E METODOLOGIA

Inicialmente as autoras deste trabalho escolheram temas diferentes:

“estética” e “grupo”. Uma vez decidido que iriam realizar a monografia juntas,

começaram a questionar sobre os temas e os por quês: por que este tema? por

que fazem Biodanza? Porque escolhem Biodanza como estilo de vida, e não

somente como uma profissão, e por fim, o que os temas e estórias pessoais,

profissionais e processos na biodanza tinham em comum? Foi quando

exclamamos em uníssono: - AÇÃO SOCIAL!!! E só então se deram conta de

que a sua base de trabalho foi na ação social e que vem até hoje sendo

desenvolvida, mesmo sendo questionada com um certo preconceito e

estranhamento por parte das instituições onde os trabalhos são desenvolvidos.

O presente trabalho é calcado nas experiências das autoras e propõe

validar a Biodanza como um potente instrumento de transformação social.

Deixa como contribuição sugestões para posteriores profissionais que

almejarem utilizar o sistema de integração, criado por Rolado Toro, com

crianças, jovens e adultos oriundos de localidades caracterizadas pela pobreza,

violência, e exclusão social.

As autoras basearam, também, suas pesquisas em filósofos e

estudiosos de educação, ética, estética, relações, criatividade, religião, física e

biologia além do criador da Biodanza, é claro. Incluíram também toda prática

33

que, ao longo de quatro anos se fez em grupos de diversos níveis sociais,

idades e interesses.

A Biodanza sempre foi utilizada por Anna Rosaura e Luciana como

instrumento de inclusão social – entenda-se por isto, não restrição à raça, nível

econômico, deficiência física, ou outros aspectos. O que inclui a experiência

com seus grupos regulares, seminários, empresas, além das comunidades

ditas carentes, as quais serão citadas nos relato de trabalho que seguem nesta

monografia. Na verdade a inclusão é mais que social, é afetiva.

Em alguns momentos haverá necessidade de descrever todo o histórico

de determinado episódio a fim de situar o leitor no tempo, espaço e condição

existencial em questão.

Já é possível antecipar que para realizar este trabalho em contextos tão

diferentes e tão necessitados do exercício da ética humana foi necessária

muita fluidez e capacidade adaptativa.

Por exemplo, “biodanzar” ao som de rajadas de metralhadoras sob a

música parece dissociado, uma ilusão, mas fez a diferença para um grupo de

mães comunitárias que passariam por isso de uma forma ou de outra.

É como evidencia muito bem Paulo Freire nesta citação:

“Esta mudança de percepção, que se dá na

problemática de uma realidade concreta, no

entrechoque de suas contradições, implica um novo

enfrentamento do homem com sua realidade...

Homem que deve atuar, pensar, crescer transformar

e não adaptar-se fatalisticamente a uma realidade

desumanizante.” (18)

(18) Freire, P. Educação e Mudança. São Paulo. Editora Paz e Terra, 1999.

34

3.2 RELATO DE EXPERIÊNCIAS DAS AUTORAS

As autoras trabalharam com Biodanza em quatro organização não

governamentais distintas.

Nos itens a seguir a autora Anna Rosaura relata sua experiência na

Ação Comunitária do Brasil do Rio de Janeiro e no Se Essa Rua Fosse Minha,

e Luciana no Espaço de Construção da Cultural – Ação da Cidadania e na

Pequena Cruzada Santa Teresinha.

Durante a realização do trabalho foram encontradas várias dificuldades,

tais como:

A religião e a falta de permissão para dançar;

As noites mal dormidas pela guerra noturna que assolam as favelas

do Rio de Janeiro;

A impossibilidade de ir e vir em locais onde existem fronteiras

delimitas por traficantes.

A falta de limites, a agressividade, a perversidade e a intolerância por

parte de algumas crianças, em sala de aula.

3..2.1 AÇÃO COMUNITÁRIA DO BRASIL DO RIO DE JANEIRO (ACB/RJ)

A Ação Comunitária do Brasil do Rio de Janeiro (ACB/RJ) é uma

organização social, sem fins lucrativos que já beneficiou 150 mil pessoas. Tem

como missão promover e defender os direitos de cidadania de brasileiros

excluídos, visando seu crescimento pessoal e intelectual. E como objetivo,

desenvolver programas e projetos sócio educativos para crianças,

adolescentes, jovens e respectivos familiares. Conta com dois Centros de

Educação Comunitária próprios: na Vila do João (Complexo da Maré) e em

Cidade Alta (Cordovil), há mais de 30 anos.

35

A população que habita favelas e conjuntos habitacionais populares,

localizados nos grandes centros urbanos do Brasil é marcada pelo contexto da

violência e da exclusão social. Além das características naturais da pobreza,

como subnutrição e condições precárias de higiene, tem seu direito de ir e vir

cerceado e um nível de estresse elevado, musicado por rajadas de

metralhadoras, principalmente durante a noite, hora em que o indivíduo deve

repousar e, portanto, está mais vulnerável organicamente.

Na ACB / RJ Anna Rosaura coordena o Projeto Arte na Comunidade.

Este acontece desde 1995, e originou-se na crença de que a arte é um potente

instrumento de inserção social, a partir do momento em que viabiliza uma

cidadania ativa. Através da arte fortalecer a autoestima, pratica-se a autonomia

e coragem para definir o próprio caminho e exercitamos a criatividade plástica

como meio de atingir a criatividade existencial.

Anna Rosaura vem também trazendo a Biodanza para esta organização

não governamental gradativamente.

Foi convidada pela a instituição par dar aulas de pintura para jovens e

em dois meses estava coordenando o Projeto Arte na Comunidade com

dezesseis oficinas para crianças, jovens e adultos. Desejava iniciar grupos de

Biodanza, mas só em pensar em explicar o que é Biodanza, convencer de que

é um grande facilitador em trabalhos sociais e conquistar o espaço para tal, lhe

dava um cansaço... mas não desânimo. Estava com isto todo o tempo no

pensamento, até, com calma percebera e intuiu a forma de promover o

encontro entre ACB/RJ e a Biodanza.

Encontros de Capacitação da Equipe

No primeiro Encontro de Capacitação da Equipe de Vila do João

(Complexo da Maré) foi convidada para aplicar alguma dinâmica de

encerramento. Foi aí que introduziu, pela primeira vez, na ACB/RJ, a

Biodanza. O encontro reunia educadores, monitores, administradores,

36

pessoal de limpeza, coordenadores, a equipe que lá realiza um trabalho.

Através da Biodanza, o grupo vivenciou o que objetiva de fato no dia a

dia: entrar no ritmo, dar as mãos e caminhar juntos, construir,

emocionar-se, encontrarem-se com afeto, se olharem, e trocarem

sorrisos e abraços.

Trabalhou muito com o lúdico e com o afetivo. Não houve resistência

significativa por parte do grupo. Toda aquela novidade chegou de forma

muito divertida e quando perceberam, já estavam completamente

emocionados, envolvidos e mais vinculados entre si.

Desde o princípio do encontro, foi dito que se trabalharia com a

(Biodanza), falou-se do seu criador (Rolando Toro), do seu objetivo.

Todos foram deixados muito à vontade, para participar ou não, já que a

espontaneidade é uma das características das mais importantes do

trabalho com grupos.

Todos participaram, e saíram com os olhos brilhando, se abraçando,

cantando, dançando e querendo mais. Esta foi a maneira que se

encontrou de apresentar a Biodanza à entidade. Hoje, Biodanza faz

parte de todos os encontros de capacitação de equipe tanto da Vila do

João quanto de Cidade Alta e já está incorporada no programa educativo

do Projeto Arte na Comunidade da ACB/RJ, cujos trabalhos são

mencionados:

Biodanza para crianças

O mais importante do trabalho de Biodanza para crianças é aquele que

diz respeito à prevenção de distúrbios futuros emocionais.

Uma dificuldade foi encontrada na turma de Arte para crianças de 6 a 10

anos de idade, da Vila do João, que reúne crianças com características

comportamentais muito difíceis. Na mesma turma, de 15 alunos tinha-se

37

um grupo de sete alunos cuja única noção de limite que conheciam era a

surra. Faziam tudo para provocar a todos, sujavam tudo, tinham atitudes

dissimulados e acabavam motivando de forma negativa ao restante do

grupo, já que eram o centro das atenções. A forma encontrada para

enfrentar essa situação foi a inserção da atividade de Biodanza, que se

propõe a um processo terapêutico no qual a criança tem a possibilidade

de conhecer outras formas de limites através do respeito e do afeto.

Começaram a perceber que, para serem amados eles não precisam

mais provocar ninguém. A medida em que seu valor e auto-estima são

reforçados, eles vão se sentindo queridos pelo que são, sem a

necessidade de qualquer tipo de agressão.

Logo, passou-se a utilizar a prática da Biodanza também com as

crianças, entre de 6 a 10 anos, de Cidade Alta (Cordovil). Costuma-se

utilizar a arte junto com a Biodanza para crianças: desenho, trabalhando

a expressão individual e grupal, contornando o próprio corpo para

trabalhar limites; pintura, trabalhando fluidez, sensações e coragem para

criar; e às vezes incluindo objetos como bola, almofada. A autora fica

muito à vontade em utilizar qualquer coisa que possa auxiliar nos

objetivos da Biodanza e nem por isso se abandona a ortodoxia de uma

curva orgânica e base uma aula reparadora. Obviamente que, no

começo as curvas das aulas para crianças são um pouco diferentes,

menores e às vezes duplas (ativa, regride, ativa, regride, ativa), mas

mantendo sempre uma organicidade.

Particularidades:

1. Existe um menino, de dez anos de idade, que tem uma espécie de

paralisia infantil congênita. V. tem o pensamento perfeito, bem

concatenado e é super afetivo, mas tem problemas de coordenação

motora com as mãos voltadas para dentro, os braços sem

coordenação se voltam para trás chegando a não conseguir voltá-los

novamente para frente, fala com extrema dificuldade e anda meio

38

saltitante buscando sempre um equilíbrio ou apoio de alguém para

não cair. V. pinta, recorta, cola, escreve, tudo com os pés, e já está

na segunda série primária.

Esta profissional ficava relutando um pouco em inserir a Biodanza no

programa, para não correr o risco de expô-lo, excluí-lo ou trazer-lhe

mais uma dificuldade. Até que se resolveu conversar com ele, dizer-

lhe que as aulas começariam com Biodanza (uma atividade com

muita brincadeira e dança), mas que ele escolheria se queria

participar ou não. Ele abriu o maior sorriso e disse que sim.

V. participou da roda! De coelhinho na toca correndo! Caminhou!

Dançou! Pulou! Deitou! Dançou em pares! Escolheu! Convidou!

Fechou os olhos! Entregou-se! E sorriu muito gozando de intensa

felicidade!

Ali, só ali, entendeu-se que Biodanza é para quem quer, sem

restrições.

A autora também sorriu muito e gozou de intensa felicidade.

2. Outro caso específico de Biodanza com crianças, é que a hora do

“feedback” acaba sendo uma rodinha de novidades onde as crianças

exercitam a expressão através da fala e, principalmente, da escuta. E

então, em se tratando de Vila do João (complexo de favelas da

Maré), as crianças chegavam contando:

_”Tia eu tava vindo para cá e encontrei uma cabeça bem ali.”

_”Onde?”

_”Ali atrás tia, ainda deve estar lá.”

_”É sim, eu também vi!”

39

E assim contavam dos tiroteios da noite passada, da visita que

fizeram na casa dos avós, do policial que atirou no bandido debaixo

de sua janela, do passeio que fizeram com a escola, do capítulo de

ontem da novela, da bala que entrou em sua casa à noite quebrando

o vidro da janela... assim iam contando o seu universo.

E então a gente se levanta e faz a dança da vida.

A experiência desta autora com crianças, tanto na Biodanza como no

geral, é de que num primeiro momento vem a novidade, euforia e

disponibilidade de saber “o que é isto”. Logo depois vem a tentativa de

controlar e testar o educador querendo dizer como devem ser as aulas, quais

as brincadeiras que são possíveis de utilizar, a vontade de lhe ensinar vários

jogos e até músicas. Este pode ser um momento maravilhoso de troca, se o

educador está disponível, sensível e ao mesmo tempo tendo o controle

necessário e afetivo para condução de um grupo. O tempo todo também vêm

as revelações: as perversidades, as cooperações, as desestruturações, as

organizações, tudo vem à tona. Uma aula de Biodanza com crianças facilmente

e inevitavelmente revela um verdadeiro caos. Saber lidar com o caos é uma

faculdade que o facilitador deve desenvolver, procurar achar a ponta de um

novelo para desatar os nós, a ordem implícita, transmutar as “ferinhas” em

criadores em potencial. Criadores de uma forma e estilo próprios. Biodanza

para crianças não pode ter regras rígidas, deve, ter muito espaço ao devaneio

e possibilidade de viabilizá-los. Para quem está de fora deve parecer uma

“loucura”. Sim, talvez seja um espaço de não repressão à “loucura” e produtor

de muita criação.

Biodanza para jovens de 16 a 23 anos de idade:

O Projeto Arte na Comunidade tem a prática da multiplicação,

através de aulas dadas por monitores que são alunos mais antigos e

habilidosos para adolescentes, fase de espelhamento em seus

próprios “ídolos da comunidade”. Tem-se a prática de realizar

40

encontros de sensibilização com estes jovens para reflexão do que é

ser um educador e sempre se utiliza Biodanza.

O grupo de jovens é o único da ACB/RJ que apresenta um

pouco de resistência à Biodanza. Até se permitirem soltar, observam

muito uns aos outros. Têm medo de “pagar mico” (ser ridículo). Os

que freqüentam determinados tipos de religião sentem-se culpados,

traindo sua própria doutrina, não querem expor nem o “chulé” nem o

seu jeito peculiar de mover-se com prazer. Parecem evitar o próprio

prazer, e temer a expressão pessoal que vem como um “grito” de

reivindicação e revolta típicos da idade e já reprimidos por “eles”

próprios.

O modo que se encontra de aplicar Biodanza para os mesmos

é não deixando claro o que se está fazendo. Começando as aulas

com um clima mais sério, inserido no contexto do encontro que já se

está fazendo, seduzindo e envolvendo, não dando importância para

as resistências, mas respeitando muito, os deixando sempre à

vontade (à vivência proposta, participa quem quer). Teve-se a

oportunidade de falar baixinho para um Adventista do Sétimo Dia –

“não se preocupe, você não está dançando, está só se movendo no

ritmo da música” – e funcionou, a permissão foi dada e o sentimento

de culpa se esvaiu. De repente, um pouco mais demoradamente,

mas em profundidade, quando se percebe já estão todos no clima e o

resultado é extremamente enriquecedor.

A Biodanza é aplicada a este grupo em encontros

esporádicos. No entanto, o desejo de iniciar um grupo regular está

começando a brotar. E, percebe-se que esta é uma boa forma de se

iniciar um trabalho – a partir do desejo de uma matriz grupal.

41

Biodanza em Encontros de Capacitação de Equipe

Já citado esta etapa quando se falou como foi introduzida a Biodanza

na ACB/RJ. O que vale mencionar também é que, a cada encontro a

Biodanza vem sendo esperada, já está incorporada e acredita-se que

para tais encontros deve ter a periodicidade de dois em dois meses.

Não se ver a necessidade de se transformar em um grupo regular de

caráter terapêutico. A beleza destes encontros está na convivência

sem distinção de cargos ou procedência e no sentimento de união

que se faz com esta prática integradora. Todos ficam sempre com

um gostinho de “quero mais”, se sentindo valorizados, queridos e

“irmãos”.

Biodanza para grupo de mães

Há um grupo de mães que vai duas vezes por semana às aulas de

ginástica, na sede da Vila do João. Um dia foi anunciada uma

surpresa, ninguém sabia o que era. A surpresa era esta autora

levando uma aula de Biodanza. Isso aconteceu no primeiro semestre

de 2003, em que a Vila do João estava passando por uma fase de

violência exacerbada. Foi dada uma aula bem lúdica e as mulheres

riram muito. Saíram tão felizes e emocionadas, sentindo-se

premiadas por aquele momento. O grupo deveria ter umas vinte

pessoas. Na semana seguinte haviam umas seis mães, e assim

sucessivamente até que chegou a terem apenas três. Por problemas

pessoais resolveu-se não investir na construção dessa matriz grupal

naquele momento. No dia em que se foi despedir e deixar a sugestão

para mais tarde a formação de um grupo de Biodanza elas

expressaram desejo e necessidade.

42

3..2.2 SE ESSA RUA FOSSE MINHA

O “Se Essa Rua Fosse Minha” foi criado em 1991 por quatro ONGs:

FASE, IBASE, ISER, IDAC, para desenvolver atividades de arte educação com

crianças e adolescentes em situação de risco, na perspectiva de inclusão,

garantia de direitos e promoção social.

Atualmente o “Se Essa Rua Fosse Minha” apoia, divulga e desenvolve

ações educativas nas seguintes etapas: Abordagem de Rua, Centro de

Formação, Casa da Acolhida e Núcleos de Atividades Comunitárias.

Desde o início do projeto o circo teve um papel especial na abordagem

dos meninos e meninas e foi pioneiro na utilização da linguagem circense

dentro do conceito de Arte Educação servindo de modelo para o programa

“Cirque du Monde” (Cirque de Soleil e Jeunesse du Monde) que hoje apoiam

projetos semelhantes em Belo Horizonte, Recife, Cidade do México e Santiago

do Chile.

Em 2001, o “Se Essa Rua Fosse Minha” inaugurou uma oficina de

Teatro de Bonecos com o professor ator, bonequeiro e arte educador, Jorge

Crespo. A oficina era para um grupo de 18 meninas e 7 meninos entre 14 e 17

anos de idade. Todos em situação de extrema marginalidade. A maioria não

morava com a família, mas em abrigos ou na casa de alguém em favelas.

Alguns já foram meninos de rua, outros expulsos da favela por envolvimento

com o tráfico. Quase todas as meninas mães, algumas namoradas de bandidos

outras muito brigonas e arruaceiras.

Jorge não conseguia uma concentração nem uma continuidade na

realização de seu trabalho, foi aí que fez o convite para dar algumas aulas de

Biodanza.

Foi o maior desafio para esta autora, pois trabalhar com a Biodanza,

mexer com as emoções desses meninos em situação de desamparo é abrir

43

uma caixinha de surpresas. Por mais superficial que imaginava uma aula, só

dar as mãos numa roda e nos olhar já era profundamente mobilizador e

transformador. Uma vez se teve que interromper uma aula para evitar uma

briga física que se iniciava; outra vez, questionada no centro da roda de forma

desrespeitadora por uma “líder” perante o grupo. Teve-se que colocar limite

falando-lhe em tom grave, que estava as tratando com respeito e não admitiria

ser desrespeitada daquela forma e que se não estivesse satisfeita saísse e

quem mais quisesse também. No final ela se desculpou e se tornou uma

“aliada” no processo de realização do trabalho.

Só que emoções pessoais desta autora vinham à tona também e às

vezes era difícil lidar com tudo isto. O sentimento de revolta por permitirmos

que nossa cidade abrigue e produza tamanho desamparo; o sentimento de

responsabilidade pelo ser humano que está ao seu lado; tudo isto fica muito

mais forte quando se vivencia e se entra no verdadeiro estado de compaixão. E

isto só se aquieta um pouquinho na realização de um trabalho como a

Biodanza, o que me faz comprometer cada vez mais, como uma missão. Não é

possível saber meios de melhorar as relação entre as pessoas, exercitando e

até reensinando o amor, sem exercê-los.

No trabalho de Biodanza no “Se Essa Rua Fosse Minha” também foi

interessante o casamento Biodanza com o Teatro de Animação de Bonecos. A

depuração dos gestos, o contato com a emoção, a expressão singela e, sem

contar que a Biodanza é uma prática de animação também, só que de seres

humanos.

3..2.3 ESPAÇO DA CONSTRUÇÃO DA CULTURA – AÇÃO DA CIDADANIA

No Rio de Janeiro, reúne mais de 300 crianças e jovens trabalhando

com teatro, dança, reciclagem, música etc.

44

O Espaço de Construção da Cultura, iniciou suas atividades em outubro

de 1999, com o objetivo de educar através da arte e da cultura, fortalecendo a

auto-estima e a inserção social dos alunos. Assim que se abriu as portas, cerca

de 70 crianças e jovens começaram a participar das cinco oficinas oferecidas.

A maior parte desses meninos e meninas mora no Morro da Coroa, em Santa

Teresa (RJ), onde funciona o Espaço, e estavam em situação de risco social.

Hoje todos estão na escola – condição básica para fazer parte do grupo - e a

maioria segue no projeto, aprimorando seus conhecimentos.

Superando todas as expectativas, o projeto cresceu e o Espaço vem se

transformando em um ponto de união para as comunidades de baixa renda do

bairro e adjacências. Em 2001 se aumentou a oferta de vagas para 413,

divididas em 25 oficinas. Hoje, além dos 329 alunos que freqüentam os 21

cursos disponíveis, tem-se cerca de 50 crianças e jovens atuando no

espetáculo "Menino no Meio da Rua".

O Espaço da Construção em seu quadro de pessoal funciona com um

coordenador geral, cinco coordenadores e 24 professores responsáveis pelas

oficinas. Além disso, vários voluntários doam seu tempo disponível para tornar

este trabalho possível. O Espaço de Construção da Cultura da Ação da

Cidadania continua aberto à participação da comunidade, do artista e de todas

as pessoas que queiram ajudar este sonho se transformar em realidade.

GRUPO DE JOVENS

O trabalho com a Biodanza faz 3 anos em seu desenvolvimento, já

que foi iniciado em novembro de 1999 com a facilitadora Denizis

Trindade. Hoje fazendo 3 anos de trabalho desenvolvido. Existia

neste momento um bombardeio de atividades. Os meninos saiam de

uma aula para outra. Denizis perguntou: Qual seria o papel da

Biodanza, num lugar como este rico em criatividade?

45

Esta autora começou a atuar neste grupo junto com Denizis, em abril

de 2002.

A escolha então foi conduzido para a linha da afetividade: o

desenvolvendo da confiança, a entrega, criação do vínculo, ternura,

amor, buscando a integração de cada um consigo mesmo, com o

outro e com o local onde convivem. O objetivo principal foi de

trabalhar a autoestima, acoplado ao objetivo da instituição, que é

trabalhar a autoestima através da arte.

No decorrer deste processo trabalhou-se a Biodanza no teatro. Na

montagem de todo o projeto da peça Menino no Meio da Rua.

A Biodanza é uma grande ferramenta para o desenvolvimento da

identidade emocional, ajudando no processo de criação e

desenvolvimento artístico do aluno. Trata-se de um trabalho que é de

bastidores e requer continuidade para um melhor aproveitamento e

aprofundamento de cada um. Bem como a estimulação para uma

melhor convivência com todos.

A autora e Denizis deram aula para o elenco, com o objetivo de

integrar o grupo e fazer com que cada ator entrasse em contato com

a sua verdadeira emoção, aspecto fundamental para o ator.

O grupo regular foi se transformando ao longo do tempo. Inicialmente

era um grupo basicamente de jovens da comunidade e agora toda a

comunidade tem acesso a esse grupo.

Atualmente o grupo é formado por 24 pessoas com características

heterogêneas. O trabalho está sendo desenvolvido e baseado em

projetos de aula e temas, levando sempre em conta a situação do

grupo. A metodologia do mesmo está direcionada para o

desenvolvimento pessoal e artístico dos participantes.

46

Foi indicada uma equipe de psicólogos para fazerem parte dos

profissionais da instituição, viabilizando uma parceria enriquecedora

e potencializando o trabalho da Biodanza.

Esta autora fica muito feliz por ter facilitado o processo de

crescimento e desenvolvimento de cada aluno, hoje na nova

coordenação do Espaço de Construção e da Cultura- Ação da

Cidadania, como professores e coordenadores.

Foi realizada uma aula para toda a equipe da Ação da Cidadania,

com o objetivo de se abrir a reunião integrando o grupo, totalizando

40 pessoas. A experiência foi enriquecedora.

GRUPO DE CRIANÇAS DE 06 A 10 ANOS.

Esta autora foi convidada pela facilitadora Denizis Trindade a dar

aula de Biodanza para crianças no Espaço de Construção e

Cidadania, em Santa Teresa da ONG Ação Cidadania. A principio,

surgiu certa indecisão, foi então que convidou Anna Rosaura para se

fazer uma parceria, já que a mesma tinha experiência com crianças

em seus trabalhos como arte-educadora. O grupo foi formado por

crianças da comunidade de Santa Teresa, sendo muitos do Morro da

Corôa, com uma realidade dura para ser vivida por uma criança.

Trabalhou-se bastante. Inicialmente, partiu-se do brincar, resgatar o

lúdico perdido pela realidade em que vivem. Quando se brinca, está

se preparando para ser um adulto melhor. A criança brinca com

seriedade, não é necessário ser um adulto sério para brincar.

Muitos dos alunos chegavam tristes, agressivos, com medo de ser

tocado ou acarinhado, mas ao longo do desenvolvimento do trabalho

estes medos e receios foram sendo apaziguados. Observa-se a

transformação durante a aula quando seus olhos brilhavam e o os

47

sorrisos brotavam espontanêamente de seus lábios. Esta é, sem

sombra de dúvida, uma grande satisfação e gratificação em ver uma

criança desabrochando, sendo acarinhado e acarinhando, permitindo

um pouco de felicidade e segurança.

Em diversos momentos pode-se ter contato direto com os pais, e

estes vinham com suas angústias e preocupação em relação à

criança. Mais uma vez a Biodanza pode contribuir para a melhora na

relação dos pais e filhos e no próprio desenvolvimento psicomotor da

criança, deixando de lado aquelas aflições e dando espaço para o

contentamento no movimento e crescimento de seus filhos.

Foi observado que, além da mudança real vivida na convivência com

os pais e amigos, houve maior rendimento escolar e mais confiança

em si mesmo.

No decorrer destes anos, a autora passou a facilitar o grupo sozinha,

e depois passando novamente a compartilhar facilitação com Denizis

Trindade.

Hoje o grupo ampliou. Além do Morro da Corôa, tem-se alunos da

Casa Jimmy, Instituição para menores, cujos pais não podem mantê-

los. A afetividade destas crianças cresceu, duas destas conseguiram

uma família que as adotaram. Tem-se noticias de que estão muito

bem e felizes.

Atualmente conta-se com 15 crianças, sendo que algumas delas

estão juntas há 3 anos. Tem-se a oportunidade de observar o quanto

cada uma cresceu e mudou. É comum ouvir-se da equipe de

coordenação:

48

_ “Nossa! Como a P. está carinhosa.

_-“Olha o V. querendo Biodanza, este não participa mais, pois

cresceu e agora está entrando na adolescência.”

Muitos alunos experimentam as diferenças entre a sala de aula e sua

vida cotidiana, com dificuldades de estabelecer uma relação entre os

dois ambientes. “se por um lado, no seu dia-a-dia convivem com os

ecofatores negativos, ou seja, a agressão, a violência, a depressão,

por outro lado dentro de uma sessão de Biodanza são os mesmos

“bombardeados” de ecofatores positivos, como: Afetividade, alegria,

criatividade, entre outros.

Essa diferenciação em seu processo de crescimento em Biodanza

implica que o aluno busque forças justamente dessa diferença e se

transforme em um agente de saúde dentro do meio que vive,

ampliando assim, a dimensão de sua vida.

A mudança social não poderá ser só ideológica, como afirma

Rolando Toro, trata-se de ativar núcleos inatos, biológicos, instintivos

e emocionais do contato humano.

3..2.4 PEQUENA CRUZADA SANTA TERESINHA

É uma Instituição criada para receber meninas carentes em regime de

Internato e Semi-Internato. Faz o papel da família e lhes ensina o respeito, a

verdade, o bem-estar e o bem-querer; lhes dá proteção, ensinamento,

aconchego, alimento e carinho.

Tem como objetivo levar as alunas a passarem por um processo de

melhoria interior, situando-as na sociedade e dando-lhes a possibilidade de na

mesma atuar. Daí o convite para que se experimentasse a Biodanza no local.

Foi então convidada a parceira Denizis Trindade que por sua vez, estendeu o

49

convite para esta autora, que aceitou, com a intenção de abrir espaço para a

Biodanza e para novas facilitadoras que estavam se formando. Duas delas

vieram para observar as aulas, com o compromisso de assumirem os grupos

num período de seis meses. Ficou-se com as crianças de 1ª, 2ª, 3ª e 4ª séries.

Para a 5ª série, foi chamada outra equipe de facilitadoras.

Quando se chegou para a primeira aula, havia 40 meninas na sala. Eram

extremamente agressivas, hostis e sem limites. E , tinham elas uma grande

facilidade para se agredirem mutuamente, com palavras de ofensa. A gorda,

chamavam-na de “baleia”; a negra, de “cabelo bombril”; a magra, de “esqueleto

ambulante e assim por diante. Também se agrediam com chutes, beliscões e

puxões de cabelo.

Buscou-se pesquisar a história de cada uma e verificou-se que

realmente tinham motivo para assim agirem. A grande maioria havia sido

abandonada. Não conheciam o pai, e as que conheciam já tinham passado por

experiências desagradáveis, como espancamento em casa, violência sexual e

muitas até por cárcere privado, amarradas em casa, no pé da mesa, sem

comida e sem água. E fazendo suas necessidades ali mesmo.

A convivência entre as turmas era praticamente impossível, pois não se

misturavam e possuíam extrema rivalidade. Mesmo assim ficou-se com a 4ª

série, constituindo um só grupo. A 1ª e 2ª série formaram outro grupo. Nessa

turma, havia uma menina que havia sofrido abuso sexual, com 4 anos, mais de

uma vez, do padrasto. A mãe estava no Rio por ter fugido com a filha do

companheiro.

No início ela só chorava, se pendurava em nosso pescoço. Era a

carência em pessoa e chegava a ser inconveniente. Com o tempo foi

melhorando, passou a sorrir e a não perturbar. E todas foram acalmando e se

integraram em todas as vivências. Depois, a instituição mudou a atividade das

mesmas e ficou-se apenas com a 2ª, 3ª e com a 4ª série. A 1ª série estava

50

muito sobrecarregada e com muitas atividades, faltando espaço para

simplesmente brincarem.

Estes grupos foram um grande desafio, era muito difícil, pois não

queriam ouvir, tínha-se que dar limites, impor a presença para dar aula. Mesmo

assim conseguiu-se. Muitas melhoraram no rendimento escolar, a grande

maioria passou de ano, ficaram menos agressivas, passaram a se comunicar

colocando o que sentiam, ficaram mais concentradas e atentas e a

competitividade diminuiu consideravelmente. Mesmo com a proposta de se

ficar apenas seis meses, a dupla ficou um ano e meio, e por motivos

profissionais, se afastou da Pequena Cruzada. As facilitadoras que faziam

parte da equipe não quiseram assumir. Então, as meninas passaram para a

outra equipe que continuou com o trabalho de Biodanza.

O objetivo foi o de implantar a Biodanza nessa Instituição, o que foi

alcançado. O trabalho rendeu frutos, e hoje a Biodanza está implantada na

Pequena Cruzada.

3.3 RESULTADOS ALCANÇADOS

Durante o decorrer da prática da Biodanza com um público em situação

de risco pessoal e social, considerado excluído pela mídia, muitos resultados

foram sendo alcançados e ainda continuam, já que o trabalho não se esgotou,

mas ficou implantado em algumas das instituições por onde passaram as

autoras.

Os resultados devem servir de base e incentivo para futuras inserções

da Biodanza em contextos demarcados pela violência física e moral, já que

este processo terapêutico e integrador nasceu frente a um público

despedaçado emocionalmente, com a intenções de diluir patologias como o

preconceito e a exclusão social.

51

Foram abertos quatro espaços físicos que abrigam grupos de

diferentes faixas etárias, que já conhecem a Biodanza e desejam

dar continuidade ao processo de integração iniciado.

Houve uma integração com a Associação Escola de Biodanza

Rolando Toro do Rio de Janeiro possibilitando espaço para estágios.

A Biodanza foi divulgada em diversos níveis sociais.

Houve um aumento significativo no rendimento escolar das crianças

que vivenciaram a pratica da Biodanza.

Relacionamento afetivo entre pais e filhos se solidificou após

sessões em conjunto.

Os jovens tornaram-se mais participativos, incorporando sua

cidadania, com a autoestima elevada e a coragem para exporem

suas idéias ampliadas.

No trabalho artístico, foi evidenciada uma maior liberdade de

expressão e espontaneidade nas obras.

Percebeu-se um aumento da permissão, por parte das mulheres,

para desfrutarem do prazer do movimento, uma vez que, reprimidas

pela religião, algumas jamais tinham dançado.

Muitas risadas foram dadas e a memória de que se pode rir e ser

feliz foi ativada.

Na peça teatral “Menino no Meio da Rua”, montada pela Ação da

Cidadania, o elenco apresentou uma verdadeira mudança no palco,

com mais brilho, alegria, maior expressividade e autoestima

reforçada.

As equipes de trabalho que tiveram a oportunidade de vivenciar a

Biodanza, apresentou maior união e integração no decorrer do

trabalho.

52

Mais de 300 pessoas tiveram pelo menos uma vivência de vínculo

afetivo positivo, e isto está registrado em sua memória, e já está

sendo multiplicado pelos mesmos, à medida em que se relacionam

em sua comunidade.

53

4 – CONCLUSÕES E SUGESTÕES

A Biodanza nasceu em um momento do mundo pós-guerra, frente à

indivíduos dissociados, expostos a patologias comportamentais, para se opor a

uma cultura anti- vida instaurada em nossa sociedade ocidental. Vive-se em

um contexto de traição à vida onde a ética e valores humanos estão relegados

às estantes empoeiradas de uma elite intelectual.

Comunidades do Rio de Janeiro, de baixo poder aquisitivo, vivificam um

contexto de guerra constante. Rajadas de metralhadoras, granadas, torturas

físicas e emocionais, direito cerceado de ir e vir, dificuldade de acesso às

instituições educacionais, apego à práticas religiosas como esperança de

salvação, tudo isso expõe o indivíduo à exclusão social, ou seja, a uma das

mais grave patologias do ser humano: o não reconhecimento de seu

semelhante e a negação do mesmo.

Conclui-se, com o presente trabalho, que a Biodanza é um instrumento

eficaz de transformação social à medida em que é uma prática de

sensibilização do ser humano para os seus reais valor, direito e

responsabilidade. Integrar o indivíduo é municiá-lo com todo seu potencial para

que possa ser transformador e autor de sua própria história.

Distantes do afeto, da capacidade de sentir, ao ser humano só resta

aceitar passivamente, como “destino”, o que lhe é reservado. Consciente,

54

sensibilizado encorajado e empoderado o indivíduo é capaz de escolher seu

caminho, fazer e transformar.

A relação da prática da Biodanza pelas pessoas “excluídas” e a

possibilidade de inclusão no contexto social, portanto, se concentra na

sensibilização e empoderamento de seus potenciais para viver, sentir, criar,

amar e transmutar.

Duas fortes conclusões apareceram também no decorrer da busca do

respaldo intelectual:

Todo indivíduo que conhecer alguma forma de melhorar a

qualidade de vida de nossa civilização é responsável por isso e

deve exercê-la. Caso contrário está sendo omisso e

conseqüentemente respondendo pela destruição da vida.

O homo sapiens existe há três milhões de anos e nossa

civilização ocidental há apenas oito mil anos. Se depender de

memória para a recuperação da humanidade este dado traz uma

visão otimista.

Um trabalho de pesquisa não se esgota em si mesmo. Pelo contrário,

provoca outros trabalhos. Como subsídios para estudos futuros, algumas

sugestões são aqui indicadas:

Iniciar um trabalho de Biodanza onde já existe uma matriz grupal, ou

seja, núcleo mobilizador que caracteriza a formação de um grupo.

Realizar um grupo de Biodanza em capacitação de equipes de

trabalho em organizações não governamentais, com a periodicidade

de dois em dois meses.

55

Montar turmas de adolescentes onde existe o trabalho com crianças

para garantir a continuidade do mesmo.

Sempre que for aberto um espaço novo para a prática da Biodanza,

fazer uma parceria com a Associação Escola de Biodanza Rolando

Toro do Rio de Janeiro, garantindo assim, a continuidade com a

participação de estagiários.

Terminar os encontros de Biodanza deixando sempre um “gostinho

de quero mais”, ou seja, o desejo de continuidade.

Conhecer o histórico pessoal de cada aluno, afim de facilitar o

processo de seu desenvolvimento pessoal.

Especificamente no caso de crianças, realizar entrevistas com as

crianças e os pais, juntos e, também, separadamente quando

necessário.

Outras possibilidades de estudo certamente foram vislumbrados pelo

leitor. Provavelmente, elas despertaram no estudioso, o mesmo prazer que a

pesquisa então realizada causou às autoras desta monografia.

56

5 – BIBLIOGRAFIA

BOFF, Leonardo. Ethos Mundial – Um consenso mínimo entre os seres

humanos. Brasília: Editora Letraviva, 2000.

. O Despertar da Águia – O Dia-bólico e o Sim-bólico na

Construção da Realidade. Petrópolis. Editora Vozes: 2001.

FERNANDES, Maria Regina. Texto: A educação Sinestética e Sua

Contribuição para a Mudança de Rumos da Educação Atual.

FREIRE, Paulo. Educação e Mudança. São Paulo. Editora Paz e Terra: 1999.

Pedagogia da Autonomia – Saberes Necessários à

Pratica Educativa. São Paulo. Editora Paz e Terra: 2000.

HOLLANDA, Aurélio Buarque. Novo Dicionário Aurélio da Língua

Portuguesa. Editora Nova Fronteira: 1986.

LAROSA, Marco Antonio & AYRES, Fernando Arduini. Como Produzir uma

Monografia Passo a Passo... Siga o Mapa da Mina. Rio de Janeiro.

Editora WEAC: 2003.

MATURANA, Humberto. Texto: Modo de vida e Cultura.

57

MAY, Rollo. A Coragem de Criar. Rio de Janeiro. Editora Nova Fronteira:

1975.

TORO, Rolando. Biodanza – Integração Existencial e Desenvolvimento

Humano por Meio da Musica, do Movimento e da Expressão dos

Potenciais Genéticos. . São Paulo. Editora Olavobrás/EPB: 2002.

Biodanza e Ação Social – Curso de Formação Docente,

Santiago – Chile; 1999.

VÁZQUEZ, Adolfo Sánchez. Convite à Estética. Rio de Janeiro. Editora

Civilização Brasileira: 1999.

ZIMERMAN, David E. & OSORIO, Luiz Carlos e colaboradores. Como

Trabalhamos com Grupos. Porto Alegre. Editora Artmed: 1997.

ANEXOS

ANEXO A

A Carta da Terra

PREÂMBULO

Estamos diante de um momento crítico na história da Terra, numa época em que a humanidade deve escolher o seu futuro. À medida que o mundo torna se cada vez mais interdependente e frágil, o futuro enfrenta, ao mesmo tempo, grandes perigos e grandes promessas. Para seguir adiante, devemos reconhecer que, no meio da uma magnífica diversidade de culturas e formas de vida, somos uma família humana e uma comunidade terrestre com um destino comum. Devemos somar forças para gerar uma sociedade

sustentável global baseada no respeito pela natureza, nos direitos humanos universais, na justiça econômica e numa cultura da paz. Para chegar a este propósito, é imperativo que nós, os povos da Terra, declaremos nossa responsabilidade uns para com os outros, com a grande comunidade da vida, e com as futuras gerações.

Terra, Nosso Lar

A humanidade é parte de um vasto universo em evolução. A Terra, nosso lar, está viva com uma comunidade de vida única. As forças da natureza fazem da existência uma aventura exigente e incerta, mas a Terra providenciou as condições essenciais para a evolução da vida. A capacidade de recuperação da comunidade da vida e o bem-estar da humanidade dependem da preservação de uma biosfera saudável com todos seus sistemas ecológicos, uma rica variedade de plantas e animais, solos férteis, águas puras e ar limpo. O meio ambiente global com seus recursos finitos é uma preocupação comum de todas as pessoas. A proteção da vitalidade, diversidade e beleza da Terra é um dever sagrado.

A Situação Global

Os padrões dominantes de produção e consumo estão causando devastação ambiental, redução dos recursos e uma massiva extinção de espécies. Comunidades estão sendo arruinadas. Os benefícios do desenvolvimento não estão sendo divididos eqüitativamente e o fosso entre ricos e pobres está aumentando. A injustiça, a pobreza, a ignorância e os conflitos violentos têm

aumentado e são causa de grande sofrimento. O crescimento sem precedentes da população humana tem sobrecarregado os sistemas ecológico e social. As bases da segurança global estão ameaçadas. Essas tendências são perigosas, mas não inevitáveis.

Desafios Para o Futuro

A escolha é nossa: formar uma aliança global para cuidar da Terra e uns dos outros, ou arriscar a nossa destruição e a da diversidade da vida. São necessárias mudanças fundamentais dos nossos valores, instituições e modos de vida. Devemos entender que, quando as necessidades básicas forem atingidas, o desenvolvimento humano será primariamente voltado a ser mais, não a ter mais. Temos o conhecimento e a tecnologia necessários para abastecer a todos e reduzir nossos impactos ao meio ambiente. O surgimento de uma sociedade civil global está criando novas oportunidades para construir um mundo democrático e humano. Nossos desafios ambientais, econômicos, políticos, sociais e espirituais estão interligados, e juntos podemos forjar soluções includentes.

Responsabilidade Universal

Para realizar estas aspirações, devemos decidir viver com um sentido de

responsabilidade universal, identificando-nos com toda a comunidade terrestre bem

como com nossa comunidade local. Somos, ao mesmo tempo, cidadãos de nações

diferentes e de um mundo no qual a dimensão local e global estão ligadas. Cada um

compartilha da responsabilidade pelo presente e pelo futuro, pelo bem-estar da família

humana e de todo o mundo dos seres vivos. O espírito de solidariedade humana e de

parentesco com toda a vida é fortalecido quando vivemos com reverência o mistério da

existência, com gratidão pelo dom da vida, e com humildade considerando em relação

ao lugar que ocupa o ser humano na natureza.

Necessitamos com urgência de uma visão compartilhada de valores básicos para

proporcionar um fundamento ético à comunidade mundial emergente. Portanto, juntos

na esperança, afirmamos os seguintes princípios, todos interdependentes, visando um

modo de vida sustentável como critério comum, através dos quais a conduta de todos os

indivíduos, organizações, empresas, governos, e instituições transnacionais será guiada

e avaliada.

PRINCÍPIOS

I. RESPEITAR E CUIDAR DA COMUNIDADE DA VIDA

1. Respeitar a Terra e a vida em toda sua diversidade.

a. Reconhecer que todos os seres são interligados e cada forma de vida tem valor,

independentemente de sua utilidade para os seres humanos.

b. Afirmar a fé na dignidade inerente de todos os seres humanos e no potencial

intelectual, artístico, ético e espiritual da humanidade.

2. Cuidar da comunidade da vida com compreensão, compaixão e amor.

a. Aceitar que, com o direito de possuir, administrar e usar os recursos naturais vem o

dever de impedir o dano causado ao meio ambiente e de proteger os direitos das

pessoas.

b. Assumir que o aumento da liberdade, dos conhecimentos e do poder implica

responsabilidade na promoção do bem comum.

3. Construir sociedades democráticas que sejam justas, participativas, sustentáveis

e pacíficas.

a. Assegurar que as comunidades em todos níveis garantam os direitos humanos e as

liberdades fundamentais e proporcionem a cada um a oportunidade de realizar seu pleno

potencial.

b. Promover a justiça econômica e social, propiciando a todos a consecução de uma

subsistência significativa e segura, que seja ecologicamente responsável.

4. Garantir as dádivas e a beleza da Terra para as atuais e as futuras gerações.

a. Reconhecer que a liberdade de ação de cada geração é condicionada pelas

necessidades das gerações futuras.

b. Transmitir às futuras gerações valores, tradições e instituições que apóiem, a longo

prazo, a prosperidade das comunidades humanas e ecológicas da Terra.

Para poder cumprir estes quatro amplos compromissos, é necessário:

II. INTEGRIDADE ECOLÓGICA

5. Proteger e restaurar a integridade dos sistemas ecológicos da Terra, com

especial preocupação pela diversidade biológica e pelos processos naturais que

sustentam a vida.

a. Adotar planos e regulamentações de desenvolvimento sustentável em todos os níveis

que façam com que a conservação ambiental e a reabilitação sejam parte integral de

todas as iniciativas de desenvolvimento.

b. Estabelecer e proteger as reservas com uma natureza viável e da biosfera, incluindo

terras selvagens e áreas marinhas, para proteger os sistemas de sustento à vida da Terra,

manter a biodiversidade e preservar nossa herança natural.

c. Promover a recuperação de espécies e ecossistemas ameaçadas.

d. Controlar e erradicar organismos não-nativos ou modificados geneticamente que

causem dano às espécies nativas, ao meio ambiente, e prevenir a introdução desses

organismos daninhos.

e. Manejar o uso de recursos renováveis como água, solo, produtos florestais e vida

marinha de formas que não excedam as taxas de regeneração e que protejam a sanidade

dos ecossistemas.

f. Manejar a extração e o uso de recursos não-renováveis, como minerais e combustíveis

fósseis de forma que diminuam a exaustão e não causem dano ambiental grave.

6. Prevenir o dano ao ambiente como o melhor método de proteção ambiental e,

quando o conhecimento for limitado, assumir uma postura de precaução.

a. Orientar ações para evitar a possibilidade de sérios ou irreversíveis danos ambientais

mesmo quando a informação científica for incompleta ou não conclusiva.

b. Impor o ônus da prova àqueles que afirmarem que a atividade proposta não causará

dano significativo e fazer com que os grupos sejam responsabilizados pelo dano

ambiental.

c. Garantir que a decisão a ser tomada se oriente pelas consequências humanas globais,

cumulativas, de longo prazo, indiretas e de longo alcance.

d. Impedir a poluição de qualquer parte do meio ambiente e não permitir o aumento de

substâncias radioativas, tóxicas ou outras substâncias perigosas.

e. Evitar que atividades militares causem dano ao meio ambiente.

7. Adotar padrões de produção, consumo e reprodução que protejam as

capacidades regenerativas da Terra, os direitos humanos e o bem-estar

comunitário.

a. Reduzir, reutilizar e reciclar materiais usados nos sistemas de produção e consumo e

garantir que os resíduos possam ser assimilados pelos sistemas ecológicos.

b. Atuar com restrição e eficiência no uso de energia e recorrer cada vez mais aos

recursos energéticos renováveis, como a energia solar e do vento.

c. Promover o desenvolvimento, a adoção e a transferência eqüitativa de tecnologias

ambientais saudáveis.

d. Incluir totalmente os custos ambientais e sociais de bens e serviços no preço de venda

e habilitar os consumidores a identificar produtos que satisfaçam as mais altas normas

sociais e ambientais.

e. Garantir acesso universal a assistência de saúde que fomente a saúde reprodutiva e a

reprodução responsável.

f. Adotar estilos de vida que acentuem a qualidade de vida e subsistência material num

mundo finito.

8. Avançar o estudo da sustentabilidade ecológica e promover a troca aberta e a

ampla aplicação do conhecimento adquirido.

a. Apoiar a cooperação científica e técnica internacional relacionada à sustentabilidade,

com especial atenção às necessidades das nações em desenvolvimento.

b. Reconhecer e preservar os conhecimentos tradicionais e a sabedoria espiritual em

todas as culturas que contribuam para a proteção ambiental e o bem-estar humano.

c. Garantir que informações de vital importância para a saúde humana e para a proteção

ambiental, incluindo informação genética, estejam disponíveis ao domínio público.

III. JUSTIÇA SOCIAL E ECONÔMICA

9. Erradicar a pobreza como um imperativo ético, social e ambiental.

a .Garantir o direito à água potável, ao ar puro, à segurança alimentar, aos solos não-

contaminados, ao abrigo e saneamento seguro, distribuindo os recursos nacionais e

internacionais requeridos.

b. Prover cada ser humano de educação e recursos para assegurar uma subsistência

sustentável, e proporcionar seguro social e segurança coletiva a todos aqueles que não

são capazes de manter-se por conta própria.

c. Reconhecer os ignorados, proteger os vulneráveis, servir àqueles que sofrem, e

permitir-lhes desenvolver suas capacidades e alcançar suas aspirações.

10. Garantir que as atividades e instituições econômicas em todos os níveis

promovam o desenvolvimento humano de forma eqüitativa e sustentável.

a. Promover a distribuição eqüitativa da riqueza dentro das e entre as nações.

b. Incrementar os recursos intelectuais, financeiros, técnicos e sociais das nações em

desenvolvimento e isentá-las de dívidas internacionais onerosas.

c. Garantir que todas as transações comerciais apóiem o uso de recursos sustentáveis, a

proteção ambiental e normas trabalhistas progressistas.

d. Exigir que corporações multinacionais e organizações financeiras internacionais

atuem com transparência em benefício do bem comum e responsabilizá-las pelas

conseqüências de suas atividades.

11. Afirmar a igualdade e a eqüidade de gênero como pré-requisitos para o

desenvolvimento sustentável e assegurar o acesso universal à educação, assistência

desaúde e às oportunidades econômicas.

a. Assegurar os direitos humanos das mulheres e das meninas e acabar com toda

violência contra elas.

b. Promover a participação ativa das mulheres em todos os aspectos da vida econômica,

política, civil, social e cultural como parceiras plenas e paritárias, tomadoras de decisão,

líderes e beneficiárias.

c. Fortalecer as famílias e garantir a segurança e a educação amorosa de todos os

membros da família.

12. Defender, sem discriminação, os direitos de todas as pessoas a um ambiente

natural e social, capaz de assegurar a dignidade humana, a saúde corporal e o

bem-estar espiritual, concedendo especial atenção aos direitos dos povos indígenas

e minorias.

a. Eliminar a discriminação em todas suas formas, como as baseadas em raça, cor,

gênero, orientação sexual, religião, idioma e origem nacional, étnica ou social.

b. Afirmar o direito dos povos indígenas à sua espiritualidade, conhecimentos, terras e

recursos, assim como às suas práticas relacionadas a formas sustentáveis de vida.

c. Honrar e apoiar os jovens das nossas comunidades, habilitando-os a cumprir seu

papel essencial na criação de sociedades sustentáveis.

d. Proteger e restaurar lugares notáveis pelo significado cultural e espiritual.

IV.DEMOCRACIA, NÃO VIOLÊNCIA E PAZ

13. Fortalecer as instituições democráticas em todos os níveis e proporcionar-lhes

transparência e prestação de contas no exercício do governo, participação inclusiva

na tomada de decisões, e acesso à justiça.

a. Defender o direito de todas as pessoas no sentido de receber informação clara e

oportuna sobre assuntos ambientais e todos os planos de desenvolvimento e atividades

que poderiam afetá-las ou nos quais tenham interesse.

b. Apoiar sociedades civis locais, regionais e globais e promover a participação

significativa de todos os indivíduos e organizações na tomada de decisões.

c. Proteger os direitos à liberdade de opinião, de expressão, de assembléia pacífica, de

associação e de oposição.

d. Instituir o acesso efetivo e eficiente a procedimentos administrativos e judiciais

independentes, incluindo retificação e compensação por danos ambientais e pela ameaça

de tais danos.

e. Eliminar a corrupção em todas as instituições públicas e privadas. f. Fortalecer as

comunidades locais, habilitando-as a cuidar dos seus próprios ambientes, e atribuir

responsabilidades ambientais aos níveis governamentais onde possam ser cumpridas

mais efetivamente.

14. Integrar, na educação formal e na aprendizagem ao longo da vida, os

conhecimentos, valores e habilidades necessárias para um modo de vida

sustentável.

a. Oferecer a todos, especialmente a crianças e jovens, oportunidades educativas que

lhes permitam contribuir ativamente para o desenvolvimento sustentável.

b. Promover a contribuição das artes e humanidades, assim como das ciências, na

educação para sustentabilidade.

c. Intensificar o papel dos meios de comunicação de massa no sentido de aumentar a

sensibilização para os desafios ecológicos e sociais.

d. Reconhecer a importância da educação moral e espiritual para uma subsistência

sustentável.

15. Tratar todos os seres vivos com respeito e consideração.

a. Impedir crueldades aos animais mantidos em sociedades humanas e protegê-los de

sofrimentos.

b. Proteger animais selvagens de métodos de caça, armadilhas e pesca que causem

sofrimento extremo, prolongado ou evitável.

c.Evitar ou eliminar ao máximo possível a captura ou destruição de espécies não

visadas.

16. Promover uma cultura de tolerância, não violência e paz.

a. Estimular e apoiar o entendimento mútuo, a solidariedade e a cooperação entre todas

as pessoas, dentro das e entre as nações.

b. Implementar estratégias amplas para prevenir conflitos violentos e usar a colaboração

na resolução de problemas para manejar e resolver conflitos ambientais e outras

disputas.

c. Desmilitarizar os sistemas de segurança nacional até chegar ao nível de uma postura

não-provocativa da defesa e converter os recursos militares em propósitos pacíficos,

incluindo restauração ecológica.

d. Eliminar armas nucleares, biológicas e tóxicas e outras armas de destruição em

massa. e. Assegurar que o uso do espaço orbital e cósmico mantenha a proteção

ambiental e a paz.

f. Reconhecer que a paz é a plenitude criada por relações corretas consigo mesmo, com

outras pessoas, outras culturas, outras vidas, com a Terra e com a totalidade maior da

qual somos parte.

O CAMINHO ADIANTE

Como nunca antes na história, o destino comum nos conclama a buscar um novo

começo. Tal renovação é a promessa dos princípios da Carta da Terra. Para cumprir esta

promessa, temos que nos comprometer a adotar e promover os valores e objetivos da

Carta.

Isto requer uma mudança na mente e no coração. Requer um novo sentido de

interdependência global e de responsabilidade universal. Devemos desenvolver e aplicar

com imaginação a visão de um modo de vida sustentável aos níveis local, nacional,

regional e global. Nossa diversidade cultural é uma herança preciosa, e diferentes

culturas encontrarão suas próprias e distintas formas de realizar esta visão. Devemos

aprofundar e expandir o diálogo global gerado pela Carta da Terra, porque temos muito

que aprender a partir da busca iminente e conjunta por verdade e sabedoria.

A vida muitas vezes envolve tensões entre valores importantes. Isto pode significar

escolhas difíceis. Porém, necessitamos encontrar caminhos para harmonizar a

diversidade com a unidade, o exercício da liberdade com o bem comum, objetivos de

curto prazo com metas de longo prazo. Todo indivíduo, família, organização e

comunidade têm um papel vital a desempenhar. As artes, as ciências, as religiões, as

instituições educativas, os meios de comunicação, as empresas, as organizações não-

governamentais e os governos são todos chamados a oferecer uma liderança criativa. A

parceria entre governo, sociedade civil e empresas é essencial para uma governabilidade

efetiva.

Para construir uma comunidade global sustentável, as nações do mundo devem renovar

seu compromisso com as Nações Unidas, cumprir com suas obrigações respeitando os

acordos internacionais existentes e apoiar a implementação dos princípios da Carta da

Terra com um instrumento internacional legalmente unificador quanto ao ambiente e ao

desenvolvimento.

Que o nosso tempo seja lembrado pelo despertar de uma nova reverência face à vida,

pelo compromisso firme de alcançar a sustentabilidade, a intensificação da luta pela

justiça e pela paz, e a alegre celebração da vida.

ANEXO B

SISTEMA ROLANDO TORO

FACILITADORAS: ANNA ROSAUTA TRANCOSO

LUCIANA PINTO AOLIVEIRA

Biodanza é um sistema de integração realizado através da

música, movimento e emoção. Criado pelo chileno Rolando Toro,

propõe uma reaprendizagem das funções originárias do ser

humano.

O método Biodanza aplicado à crianças apresenta

importantes rendimentos terapêuticos, elevando o nível geral de

saúde, auxiliando em problemas freqüentes como: a timidez,

ansiedade, tendências agressivas, hiperatividade, transtorno da

motricidade, transtorno psicossomático, irritabilidade, dificuldade de

comunicação, dificuldade de atenção e concentração , conflitos com

irmãos (ciúmes, competitividade, resposta agressiva), pavor

noturno, tiques nervosos. Os alunos que apresentam baixo

rendimento escolar respondem bem a esta terapia, uma vez

descartados possíveis problemas sensoriais (visuais ou auditivos).

A função da Biodanza é a temporalidade da criança, o aqui-

agora. É evidente sua ação psicoprofilática: fortalece a saúde

integral durante a infância, evitando futuros problemas psicológicos,

sendo assim, uma das tarefas de maior rendimento terapêutico e de

mais imperiosa necessidade.

1. CONEXÃO AÇÃO E EMOÇÃO

Observa-se que, entre os 04 e 05 anos de idade, a criança já

apresenta sinais de afastamento de um “modelo de integração”

livre, espontâneo e coerente. Sua postura e gestos demostram

copias fiéis de seus pais, com tendências a patologias. A criança se

adapta para ser reconhecida e querida ou se torna desordenada,

caótica ou violenta. Incorporando a dissociação fundamental: entre

o que deseja e expressa. São poucos os momentos na vida da

criança em que pode fazer o que deseja. A pressão constante do

meio ambiente o exige adaptação “boa conduta”.

Nossa ação esta centrada em incentiva-la a que se mostre

como ela é, isto é, que se descubra a si mesmo em seu movimento.

Em orienta-la até a percepção de que ter o que se deseja é mostrar-

se. As agressividades podem ser mascarras para encobrir seus

desejos: ser visto, recebido, ser valorizado, em suma, ser amado.

Nosso objetivo fundamental é a expressão da afetividade,

esse sentimento tão reservado e intimo que não encontra

possibilidade de desdobramento muitas vezes no próprio entorno

familiar. Na escola se menciona o companheirismo, o saber

compartilhar, o respeito pelos professores, etc, mas não

especificamente o afeto e, sobre tudo, como exercê-lo.

2. INTEGRAÇÃO GRUPAL

Promove-se integração harmoniosa do grupo e de cada criança

neste contexto. Nossa atenção estará centrada da mesma forma na

criança que lidera na desordem, como naquele que se isola por

timidez ou sentimentos de fragilidade, bem como reforçando a

integração das aquelas que não apresentam este tipo de

problemática.

O nível de integração que cada criança alcança no seu grupo terá

incidência no sentimento de pertencimento através de um vinculo

afetivo.

3. AUTODISCIPLINA E CONCENTRAÇÃO

Desenvolver o potencial de concentração da criança, é possível

quando o resultado é atrativo. Os exercícios de Biodanza com

crianças estão orientados para esta finalidade, de maneira que o

facilitador dispõe de ferramentas específicas para ajudá-los

autodisciplinar-se e a desenvolver a concentração.

4. PSICOPROFILAXIA

Possibilitar a criança a percepção de que suas emoções podem

expressar-se através do movimento, constitui prevenção de

sintomas psicossomáticos e estímulo a criatividade.

A Biodanza para crianças será aplicada através do Sistema

Rolando Toro, com uma sessão semanal de 1:30 hora.

Os grupos deverão ser mistos, a faixa etária vai de 7 a 11 anos de

idade, ter no mínimo sete crianças.

Para introdução de uma criança ao grupo é necessária uma

entrevista com um adulto responsável, a cada bimestre haverá uma

sessão de Biodanza, de integração com os responsáveis e as

crianças.

O trabalho é um desenvolvimento contínuo e progressivo,

implicando na continuidade do mesmo grupo.

A aula de Biodanza é realizada através de exercícios com música e

movimento.

Trabalha com três linhas de vivência:

VITALIDADE Promove a energia, o ímpeto, a atividade e o

descanso. A integração corporal e

coordenação motora.

AFETIVIDADE Promove o compartilhar, a receptividade e o

respeito carinhoso pelo outro, assim como,

ativa sua capacidade de dar e receber

continente.

CRIATIVIDADE Treinar funções para alcançar um âmbito

criativo (plasticidade, coragem, capacidade

se salto, de equilíbrio, de fluidez, etc.).

Nas sessões de Biodanza, as linhas de vivência estão entrelaçadas

e são trabalhadas juntas respeitando os limites e a progressividade

do grupo.

ANEXO C – Ficha técnica da peça “Menino no Meio da Rua”

ANEXO D

ENCONTRO DE EDUCADORES DA ACB/RJ

ANEXO E – DESENHOS

PEQUENA CRUZADA SANTA TERESINHA

Realizado durante uma sessão de Biodanza

Desenho de A. (10 anos)

Desenho de M. (10 anos)

Desenho de L. (10 anos) – Uma aula de Biodanza.

ESPAÇO DE CONSTRUÇÃO DA CULTURA – AÇÃO DA CIDADANIA

Desenho de J. (8 anos) – acariciamento do rosto

Desenho de P. (9 anos) – Significado da Biodanza

Desenho de N. (10 anos) – Significado da Biodanza

Desenho de R. (7 anos) – Quando iniciou a Biodanza

Desenho de R. (8 anos) –oito meses depois

AÇÃO COMUNITÁRIO DO BRASIL DO RIO DE JANEIRO

Desenho de V. (10 anos) – Uma sessão de Biodanza – Roda.

ANEXO F – FOTOS

ESPAÇO DA CONSTRUÇÃO E DA CULTURA – AÇÃO DA CIDADANIA

Grupo de Crianças

Acariciamento de mãos ao centro

Canto do Nome

Enfeitando a Cinderela

Jogos de vitalidade – Coelho, canguru entre outros.

Grupo de Jovens / Ação da Cidadania

Respiração abdominal

Ação Comunitária do Brasil do Rio de Janeiro – Grupo de Crianças

Liberação de movimento

Liberação de movimento

Grupo de jovens / ACB/RJ

Criatividade – pintura em grupo

Criatividade / Identidade – “Quem sou eu?”

Encontro de educadores / ACB/RJ

Dança rítmica

Integração com pintura

SE ESSA RUA FOSSE MINHA

Grupo de Jovens

Feedback – Intimidade verbal

MONOGRAFIA APRESENTADA À ASSOCIACAO ESCOLA DE BIODANZA

ROLANDO TORO DO RIO DE JANEIRO (AEBRJ), E APROVADA PELA

COMISSÃO JULGADORA, FORMADA PELOS DIDATAS:

Antonio Sarpe Facilitador Didata

Internacional Biocentric Foudation Reg. SP 8515

Katia Maria Theresa Alves da Silva Facilitadora Didata

Internacional Biocentric Foudation Reg. RJ 9722

Visto e permitido a impressão

Rio de Janeiro, 12 de outubro de 2003.

Antonio Sarpe Diretor da AEBRJ

Internacional Biocentric Foudation Reg. SP 8515