Biomecânica em prótese sobre implante relacionada às inclinações das cúspides e às...

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    Introduo

    Os aspectos biomecnicos em prtese sobre implanteinuenciam signicantemente o sucesso dos implantesosseointegrados 1. A localizao e a magnitude de forasoclusais afetam a qualidade e a quantidade de tenso eestresse induzidos a todos os componentes do complexoosso-implante-prtese 2.

    Existem muitos fatores que afetam a distribuio deforas no implante: geometria, nmero, comprimento, di-metro e angulao dos implantes; localizao do implanteno arco; tipo e geometria da prtese, material da prtese,infra-estrutura apropriada; localizao, direo e magnitu-de da aplicao de foras nas prteses; condies do arcoantagonista; deformaes mandibulares; densidade ssea;idade e sexo do paciente e consistncia da alimentao 2-4. No

    entanto, se as foras oclusais excederem o limite de tolern-cia biolgica do osso, que ainda um fator desconhecido naliteratura, este no ter a capacidade de absorver o estressegerado e poder ocorrer a falha do tratamento prottico edo implante 2,4.

    O fator chave para obteno deste sucesso a maneiracomo o estresse transferido ao osso circundante. Nessecaso, os contatos deflectivos localizados nas cspidesoclusais podem ser responsveis pelo desenvolvimento deforas excessivas. Diante deste fato, vrios autores avalia-ram o efeito das cargas oclusais transferidas aos implantesosseointegrados 1,5-10 .

    Em algumas situaes clnicas, o posicionamento inade-quado dos implantes faz com que as cargas mastigatrias noquem distribudas no seu longo eixo. Sahin et al. 2 (2002)relataram que esta transmisso de foras pode criar umbrao de alavanca, causando foras secundrias e momentode fora no osso. Isso demonstra a necessidade de algunsautores avaliarem a distribuio de tenses em implantesinclinados 2,8,10-17 .

    Torna-se interessante, clinicamente, a comparaodos fatores biomecnicos que mais influenciam noestresse interface-osso-implante. Nesse sentido, evidn-cias mecnicas mostram que a inclinao da cspide

    o fator mais potente em relao ao momento de torqueem comparao a outros fatores como a inclinao doimplante 8,11 .

    Baseado no exposto, o objetivo deste trabalho realizar uma reviso da literatura sobre a influncia defatores biomecnicos, como a inclinao da cspide e aangulao do implante osseointegrado, na distribuiode tenso ao osso, a fim de facilitar a compreensodos princpios oclusais e conferir maior segurana aoscirurgies-dentistas na confeco das prteses sobreimplantes.

    Material e mtodo

    A presente reviso da literatura foi realizada utilizandoos indexadores OldMedline e Medline database, no pero-do de 1989 a 2007, cruzando os termos cusp inclination eimplant inclination. Para avaliao da literatura nacional, oindexador BBO foi utilizado. Neste, os termos inclinao dacspide e inclinao do implante foram pesquisados entreo perodo de 1997 a 2007.

    Foram encontrados 107 artigos, sendo que, inicialmente,nenhum critrio de excluso foi utilizado. Aps a leitura dottulo e de seus resumos, apenas 16 artigos foram seleciona-dos, j que esses apresentavam uma maior correlao como objetivo do presente trabalho.

    Reviso da literatura

    Inclinao da cspide

    Chapman 5 (1989) descreveu os princpios oclusais emprtese sobre implante. O autor citou que a prtese sobreimplante requer os mesmos cuidados com a ocluso queuma prtese construda sobre dentes naturais. Entretanto, ainterface osso-implante no responsvel pelo desenvolvi-mento de foras tanto nos contatos deectivos em posiode relao cntrica quanto na posio de intercuspidao ouem contatos oclusais prematuros. Portanto uma ocluso emprtese sobre implante deve ter o mnimo de contatos oclu-sais: contatos bilaterais simultneos; ausncia de contatosprematuros no retorno posio de mxima intercuspidao

    habitual; contatos laterais excursivos sem interferncia nolado de no-trabalho; e distribuio equivalente de forasoclusais. O autor descreve um aparelho computadorizadopara quanticar os contatos oclusais e buscar uma oclusoideal, denominado T-scan (Tekscan Corp). Consiste em ummonitor colorido que utiliza a tecnologia de um sensor,composto de 2 camadas de um lme com traos horizontaise verticais que formam uma modelo de grade.

    Weinberg 6 (1993) avaliou a distribuio de foras biomec-nicas em prteses sobre implante, comparando a distribuiode foras no dente natural. Esta apresenta micro movimentosdevido presena do ligamento periodontal possuindo umpadro de foras alterado qualitativamente em funo da locali-zao do dente e das inclinaes das cspides. Contrariamente,os implantes osseointegrados no apresentam a distribuiode fora associada a este micro movimento. Portanto o autorsugeriu alteraes nas inclinaes das cspides para limitar asobrecarga dos implantes. Para tanto, comparou a distribuiode foras em dentes naturais esplintados a prteses osseointe-gradas, inter-relacionando o mecanismo de interface da distri-buio de foras deste conjunto. Concluiu que a diferena damobilidade presente nos dentes naturais alterou o diagnsticoe o tratamento, sendo necessrios novos princpios para a com-binao de dentes naturais com prteses osseointegradas.

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    e s angulaes dos implantes osseointegrados reviso de literatura 323

    Weinberg, Kruger 7 (1995) avaliaram de forma compara-tiva o torque no parafuso de ouro, parafuso do intermediriovariando a inclinao da cspide, inclinao do implante edeslocamento horizontal e vertical. O mtodo de comparao

    foi expresso como um percentual matemtico de mudanada congurao padro de uma prtese sobre implantemaxilar. Estes dados facilitaram a compreenso clnica deque a inclinao de cspide produz um momento de torquemaior, seguido do dimetro do implante, enquanto a incli-nao do implante e o comprimento produziram um mnimotorque. Para cada 10 de aumento da inclinao de cspide,existem, aproximadamente, 30% de aumento da sobrecargana prtese sobre implante. Para cada 10 de aumento dainclinao do implante, existem, aproximadamente, 5%de aumento de sobrecarga na prtese sobre implante. Paracada 1 mm de deslocamento lingual ( lingual offset ), exis-tem, aproximadamente, 15% de aumento no torque e, paracada 1 mm de deslocamento apical ( apical offset ), existem,aproximadamente, 4% de aumento no torque.

    Weinberg 8 (1998) descreveu a terapia biomecnica comseus procedimentos utilizados para reduo da carga sobre oimplante. O autor relata que devido s variaes siolgicas,cria-se uma ocluso cntrica modicada que contm 1,5 mmde fossa horizontal para produzir resultantes verticais, sem asinterferncias das foras da mastigao como foras laterais.Alm disso, o autor demonstra de forma matemtica que ainclinao de cspide o fator mais potente em relao aotorque produzido (momento). Cita o exemplo que o aumentode 10 na inclinao da cspide produz um momento de

    torque aproximadamente 30% maior na distribuio deforas. Quando uma fora oclusal aplicada, a resultante deforas perpendicular inclinao da cspide. A inclinaode cspide uma variao clnica que no est dentro docontrole dos clnicos, porm deve ser reduzida para melhorara distribuio de foras ao osso circundante.

    Kaukinen et al. 1 (1996) investigaram a inuncia do de-senho oclusal na simulao das foras mastigatrias atravsda quanticao das foras verticais de uma mastigao comcspides com 33 e cspides com superfcie oclusal plana (0).Uma srie de 5 ciclos mastigatrios foi aplicada em cada esp-cime com um teste mecnico universal. A anlise comparou:quantidade de fora necessria para causar a quebra inicial doalimento, fora mxima aplicada para a quebra do alimento nonal da mastigao e tenso mxima registrada pelas tensesaferidas ao nvel do osso. Os autores concluram que a con-gurao oclusal e a inclinao de cspide em prtese sobreimplante tm um grande signicado na transmisso de forase no estresse gerado no osso. Encontraram que a fora inicialpara a ruptura do alimento foi maior quando utilizou cspidescom inclinao de 33. No entanto, no encontraram diferenassignicativas entre as inclinaes de cspides 33 e oclusalplana (0) em relao ao estresse mximo necessrio para aruptura do alimento. Acreditam que a congurao oclusal em

    prtese sobre implante deve ter cspides reduzidas, anatomiaoclusal pouco profunda e sulcos e fossas extensos.

    Moraes et al. 15 (2002) realizaram uma anlise de tensesem implantes osseointegrados variando a inclinao da cspi-

    de e largura da mesa oclusal. Para a execuo desta metodo-logia, confeccionaram modelos contendo implantes com pilarEsteticone e coroas com 30 e 45 de inclinao de cspides.Aplicaram uma carga axial de 100 N na metade do raio daprtese, para anlise da variao do ngulo, e uma carga axialde 100 N distribudos em um segmento de 1,55 mm prximo extremidade da coroa prottica para anlise da variaoda mesa oclusal. Os autores concluram que o aumento nongulo cuspdeo acarretou uma elevao das tenses noscomponentes, assim como as coroas com uma mesa oclusalde maior dimetro vestbulo-lingual apresentaram tambmum aumento de tenses no complexo pilar-implante.

    Eskitzscioglu et al. 4 (2004) investigaram a inunciada localizao da carga oclusal em relao transfernciade estresse para a prtese suportada por implante e ao ossoatravs do estudo do elemento nito tridimensional. Utili-zaram uma seco de uma mandbula com a ausncia dosegundo pr-molar carregada com um implante slido daITI (4.1 x 10 mm), liga de cromo-cobalto como materialestrutural da coroa e porcelana na superfcie oclusal. O im-plante e a infra-estrutura foram simulados em um programade computador chamado Pro/Engineer 2000i. Aplicaram umacarga oclusal nas seguintes localizaes e intensidades: topoda cspide vestibular (300 N); topo da cspide vestibular(150 N) e fossa distal (150 N); ou topo da cspide vesti-bular (100 N), fossa distal (100 N) e fossa mesial (100 N).Os autores concluram que, dentro das condies de cargasinvestigadas, uma tima combinao de cargas verticaisem 2 ou 3 localizaes oclusais diminuiu a distribuio doestresse no osso. Nesses casos, o estresse de Von Misses caconcentrado na estrutura metlica e na superfcie oclusal.

    Misch 10 (2006) descreveu vrios aspectos relacionadoss prteses sobre implante. No captulo de consideraesoclusais, citou que o ngulo de fora em relao ao corpo doimplante pode ser inuenciado pela inclinao da cspide. Adentio natural tem sempre cspides ngremes e inclinadas,e o ngulo de 30 da cspide tem sido restaurado nos den-tes de prteses e nas coroas de dentes naturais. Os ngulosmaiores das cspides podem incisar o alimento mais fcil eecientemente, ainda que os contatos oclusais ao longo dascspides anguladas resultem em cargas anguladas ao ossoda crista. A magnitude das foras minimizada quando ocontato oclusal angulado no um contato prematuro, masem vez disso uma carga uniforme sobre uma srie dedentes ou implantes. Contudo, a carga angulada da cspideaumenta o estresse resultante, sem benefcios observveis.Por conseguinte, nenhuma vantagem obtida, mas o risco aumentado.

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    Implantes angulados

    Weinberg, Kruger 11 (1996) estudaram a evoluo dotorque (momento) em prteses sob implantes. Utilizaramum modelo de congurao geomtrica padro hipottico

    (sem inclinao) e outros modelos nos quais os implantesencontravam-se desviados para vestibular e lingual emambos os arcos. O momento de torque foi calculado noparafuso de ouro, parafuso do intermedirio e 3,5 mm api-calmente cabea do implante. Realizaram comparaesdos percentuais de mudana do torque do modelo hipotticopadro e do desvio vestibular ou lingual do implante. Noarco maxilar, o desvio vestibular diminuiu o torque, enquantoo lingual aumentou. Se o desvio lingual fosse maior nestaregio, o torque total seria pior em comparao a casos nosquais os implantes encontram-se alinhados de forma linear.Quando se utiliza implantes com alinhamento desordenado

    para vestibular ou lingual, geralmente deve-se associar umintermedirio angulado. As foras resultantes produzidaspela anatomia oclusal, geralmente causam uma inclinaovestibular no arco maxilar e uma inclinao lingual noarco mandibular. Os autores concluram que prteses sobimplantes mandibulares so mais favorecidas em termos decongurao que uma prtese maxilar, pois, alm de possu-rem consideravelmente menos torque, suas foras resultantesmandibulares geralmente vo para a lingual, prximas aoscomponentes e osso de suporte. E ainda, o conceito de desviode deslocamento de mltiplos componentes em prtese sobimplante pode ser utilizado na mandbula e no so reco-

    mendados para a maxila, que deve possuir uma inclinaolingual o mais uniforme possvel.Weinberg 8 (1998) acredita que existem 5 procedimentos

    em relao s teraputicas biomecnicas que devem serseguidos em prtese sobre implante: a ocluso cruzada recomendada sempre que possvel; a cabea do implantedeve ser posicionada o mais prximo possvel da linha mdiada restaurao; intermedirios angulados ajudam a manter oacesso ou o paralelismo necessrio; as cspides posterioresinclinadas devem ser reduzidas; deve-se modicar a anato-mia oclusal cntrica em 1,5 mm na fossa horizontal.

    Sato et al. 12 (2000) descreveram o efeito biomecnico dacolocao de implantes largos e de implantes inclinados naregio posterior edntula. Os autores acreditam que tantoos implantes largos quanto os implantes inclinados podemprevenir a perda ou fratura do parafuso de reteno dasprteses, porm, como no est claro como ocorre a distri-buio de foras laterais nestes casos, utilizaram uma anlisetridimensional para calcular a tenso de fora aplicada noparafuso de ouro em situaes clnicas com cargas vestibu-lares ou linguais aplicadas perpendicularmente inclinaoda cspide (10 ou 20) e 4 variaes de posicionamento dosimplantes (3,75 mm): alinhados de forma linear; segundoimplante desviado no sentido vestibular; segundo implante

    desviado no sentido lingual; implante largo colocado naregio mais posterior. Concluram que a associao da co-locao de implantes largos com a diminuio da inclinaoda cspide das coras implantossuportadas so fatores que

    favorecem a diminuio das tenses do parafuso, ao con-trrio da inclinao do implante.Akca, Iplikio lu 13 (2001) avaliaram a inuncia de

    implantes alinhados de forma desordenada e a utilizaode implantes de dimetro largo alinhados de forma linearem uma mandbula posterior edntula atravs da anlise doelemento nito. Simularam 7 diferentes prteses parciaisxas suportadas por 3 implantes osseointegrados em umamandbula classe II de Kennedy com as 2 situaes clnicasmencionadas. Em 5 casos, colocaram implantes com diferen-tes dimetros e profundidades, ordenados de forma linear enos outros 2, posicionaram os implantes desviados no senti-do vestibular e lingual. Aplicaram uma carga perpendicularde 400 N de inclinao vestibular na cspide vestibular emcada caso. Os valores da tenso e da compresso de estres-se foram avaliados no osso cortical da regio cervical dosimplantes. Os resultados demonstraram que os menoresvalores de estresse foram encontrados nos implantes maislargos e posicionados de forma linear. Quanto aos implantesalinhados de forma desordenada para vestibular e lingual,encontraram valores similares de estresse. Concluram queo estresse no diminudo apenas com o deslocamentodo implante, mas pela associao deste com o aumento dedimetro do implante.

    Gross, Nissan 14 (2001) avaliaram a distribuio do

    estresse ao redor do implante maxilar em um modelo foto-elstico anatmico com diferentes variaes geomtricas.Utilizaram 2 crnios fotoelsticos: no primeiro, realizaramum corte frontal na regio de primeiro molar, simulandouma inclinao de 0 e 25 em relao ao plano sagitalmediano no anlogo de metal do implante na regio direitae esquerda da mandbula; no segundo, realizaram um cortevestibular em um cilindro embutido no implante na regiode primeiro molar. A concentrao de estresse principal foifotografada com a carga axial e no-axial acima do implante.Concluram que a preservao do volume de suporte sseovestibular desejvel para a obteno de um modelo deresposta siolgico e aumento da tbua vestibular. Volumesseo insuciente provavelmente resulta em fenestraesvestibulares ou deiscncias, que podem causar irritao namucosa, diminuio do suporte e potencializam o fracassodo implante.

    Moraes et al. 9 (2002) realizaram uma anlise do com-portamento mecnico dos implantes osseointegrados quandosubmetidos a uma variao de carga. Utilizaram 3 tipos demodelos: pilar reto com implante de 75 de inclinao; pilarcom 15 com implante sem inclinao e; pilar com 15 comimplantes 75 de inclinao. Para se estabelecer uma anlisecomparativa entre as 3 condies, foram utilizadas cargas de

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    e s angulaes dos implantes osseointegrados reviso de literatura 325

    100 N e 600 N. Com base nos resultados, pode-se concluirque variaes na angulagem dos implantes so condiesindesejveis podendo acarretar a potencializao das forasmastigatrias sobre o sistema.

    Sahin et al.2

    (2002) realizaram uma reviso da literaturasobre a inuncia das foras funcionais na biomecnicadas prteses implanto-suportadas. Citaram que a sobre-carga nos implantes resulta no aumento da reabsoro aoredor do colar do implante e diminuio no percentual demineralizao do tecido sseo cortical. Quando o carrega-mento precoce ocorre a perda da osseointegrao apsalguns meses. As foras oclusais nos implantes dependemde sua localizao no arco. Os implantes situados na re-gio posterior sofrem maiores riscos de sobrecarga. Porisso, recomenda-se a utilizao de implantes com maiordimetro e maior comprimento. Um dos fatores que afe-tam bastante o tratamento com implantes a qualidadedo osso ao redor dos implantes. Dentre as metodologiasutilizadas para avaliar os fatores biomecnicos existem afotoelasticidade, o strain gauges e o mtodo dos elementosnitos. Desde que a representao do estresse tornou-severdadeiramente possvel e precisa, foi introduzida aanlise dos elementos nitos tridimensionais como umateoria superior em relao anlise dos elementos nitosbidimensionais. Um dos maiores propsitos deste tipo deanlise tridimensional a capacidade de resolver problemasfsicos, determinar a efetividade, comportar-se como umaestrutura existente ou como um componente submetido aum determinado carregamento. Os autores concluram que

    os fatores biomecnicos devem ser avaliados, visto que elesinuenciam diretamente no planejamento de tratamentoscom implantes.

    Watanabe et al. 16 (2003) avaliaram a inuncia da incli-nao do implante, posio e direo da carga na distribuiode estresse compressivo pelo mtodo do elemento nito bi-dimensional. Utilizaram implantes cilndricos colocados naregio de primeiro molar com inclinaes de 0, 5 e 15 paravestibular e para lingual, sob uma carga de 1 kgf (9,81 N)aplicada em 3 pontos diferentes da superfcie oclusal, com3 direes de carga. O modelo com 0 recebeu carga verticalno centro da fossa, na ponta das cspides vestibular e nalingual e uma carga de 45 no centro da fossa; os modelosde 5 e 15 de inclinao receberam carga vertical no centroda fossa e no centro das cspides do lado da inclinao euma outra carga de 45 na ponta das cspides. Os resultadosindicaram que o estresse aumentou proporcionalmente inclinao. Entretanto, nos implantes com inclinao de 5,houve uma leve diminuio no estresse quando comparadoa um implante sem inclinao, quando a carga vertical foiaplicada no centro da fossa. O valor de estresse mais acen-tuado foi em implantes com 15 de inclinao para linguale carga de 45 na ponta da cspide lingual. Os autoresconcluram que como o estresse ao redor do osso bastante

    inuenciado pela posio e direo da carga e inclinao doimplante, deve-se ter muito cuidado para que a carga sejaaplicada de forma vertical ou, em ltimo caso, prxima aolongo eixo do implante.

    aglar et al.17

    (2006) avaliaram o padro de estressede Von Mises atravs de uma anlise de elementos nitostridimensionais ao redor de uma prtese xa sobre implantena regio posterior edntula da maxila. Os implantes foramposicionados no osso maxilar com 2 diferentes congura-es. Na primeira congurao, os implantes localizaram-senas regies de 1 pr-molar, 2 pr-molar e 2 molar. Nasegunda congurao, os implantes foram posicionados nasregies de 2 pr-molar, 2 molar e estendeu-se um cantilevermesial ao espao do 1 pr-molar. O implante localizado naregio de 2 molar apresentou 3 diferentes inclinaes (0,15 e 30). O carregamento foi realizado nos eixos vertical,oblquo e horizontal. Os resultados demonstraram que osmenores valores de estresse foram observados no carrega-mento vertical, e os maiores valores com o carregamentooblquo. Os valores de estresse foram concentrados na reado osso cortical nos 3 tipos de carregamento. Os valoresencontrados no pescoo do implante foram maiores nas reasvestibular e lingual que nas reas mesial e distal. Devido inclinao do implante, os valores de estresse na regiodistal foram maiores que nas regies mesial, vestibular epalatina do pescoo do implante na rea do molar. Para ocarregamento vertical, o estresse no pescoo do implantena regio de pr-molar aumentou 3,5 vezes mais com asegunda congurao e 2 vezes mais com os carregamentosoblquos e horizontal. No modelo com cantilever, os valoresde estresse aumentaram bastante no implante adjacente aocantilever. Os maiores valores de estresse encontrados noestudo foi de 194,2 MPa aps o carregamento oblquo. Noentanto, este valor no excedeu os limites do titnio puro,que 259,9 MPa.

    Misch 10 (2006) descreveu vrios aspectos relacionadoss prteses sobre implante. No captulo de consideraesoclusais em prtese sobre implante, citou ainda que, quandoum implante carregado no seu longo eixo, nenhuma foralateral observada. Contudo, muitas variaes anatmicas,tais como concavidades sseas inuenciam na inclinaodo corpo do implante. Um implante com 15 pode ser res-taurado facilmente com um abutment angulado de 15. Donvel da crista do rebordo ao plano oclusal, o implante parecesemelhante a um implante de corpo axial. Conseqentemen-te, o tcnico de laboratrio e o protesista sempre tratam oimplante angulado e o implante axial de modo semelhante.Contudo, no implante angulado, a carga no osso vestibularaumenta 25,9%. Se o implantodontista instala o corpo doimplante com um ngulo de 30, o componente vestibularda fora de qualquer carga oclusal vai resultar em 50% decarga sendo aplicada no osso vestibular.

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    Discusso

    Inclinao da cspide

    Comparando os resultados dos artigos em relao

    inuncia da inclinao das cspides sobre o estresse sseoem prtese sobre implante, encontra-se que todos os autoresconsideraram que o estresse sseo aumentou proporcional-mente inclinao da cspide 1,6-10 .

    Este fato pode ser explicado por Weinberg 8 (1998) atra-vs da matemtica, pois quando uma fora oclusal aplicadaa uma cspide, a resultante de foras perpendicular incli-nao da cspide, conseqentemente, quanto mais inclinada cspide, a resultante de foras estar mais distante do ossosuporte quando comparada a uma cspide pouco profunda.Outros autores concordam com este relacionamento biome-cnico bsico e acrescentam que esta fora horizontal pode

    ser alterada atravs da anatomia oclusal e/ou orientao ouajuste da inclinao das cspides 7.

    Os mesmos autores acreditam que para cada 10 deaumento da inclinao de cspide, existe aproximadamente30% de aumento da sobrecarga na prtese sobre o implante,o que est de acordo com os relatos de Weinber 8 (1998) eMoraes et al. 9 (2002) que descreveram que um aumento de15 de inclinao de cspide proporcional a um aumentode 40% nas tenses transferidas aos componentes coroaprottica e parafuso de ouro. Nesse sentido, Kaukinen et al. 1 (1996) sugeriram que reduzir a inclinao da cspide oclusal,limitar a quantidade de foras laterais e um benefcio para

    a manuteno e preservao da osseointegrao. Alm disso,os autores concluram que a congurao oclusal em prtesesobre implante deve ter cspides reduzidas, anatomia oclusalpouco profunda e sulcos e fossas extensas.

    Quando se comparam os fatores biomecnicos em rela-o sua inuncia no estresse na interface osso implante,alguns autores 4,7-9,16 concordam que, entre as quatro variantesclnicas (inclinao da cspide, inclinao do implante,dimetro e comprimento), a inclinao da cspide produziumaior momento de torque seguido pelo dimetro do im-plante, enquanto a inclinao e o comprimento do implanteproduziram um momento de torque mnimo.

    Misch 10 (2006) acredita ainda que o contato oclusalsobre a coroa de um implante, como conseqncia, deveser idealmente sobre uma superfcie plana perpendicular aocorpo do implante. Essa posio usualmente acompanhadapor um aumento da largura do sulco central para 2 a 3 mmnas coroas sobre implantes, posicionadas sobre o centro docomponente do implante. A cspide antagonista ajustadapara ocluir na fossa central diretamente sobre o corpo doimplante.

    Portanto, uma ocluso em prtese sobre implante, deacordo Chapman 5 (1989), deve ter o mnimo de contatosoclusais: contatos bilaterais simultneos; ausncia de con-

    tatos prematuros no retorno posio de relao cntrica;contatos laterais excursivos sem interferncia no lado deno-trabalho e distribuio equivalente de foras oclusais.

    Baseado na presente reviso da literatura, acredita-se

    que, para se manter os componentes dos sistemas de im-plantes em condies de suportarem as cargas mastigatrias,deve-se ajustar a ocluso de forma a direcionar as foras nadireo do longo eixo do implante, reduzindo o brao dealavanca, e a ocorrncia de contatos excntricos.

    Implantes angulados

    Comparando os resultados dos artigos em relao in-uncia da angulao dos implantes sobre o estresse sseoem prtese sobre implantes, encontra-se que a maioria dosautores considerou que o estresse sseo aumentou propor-cionalmente angulao do implante 8-10,13,17 .

    Como se pode constatar por Moraes et al. 15 (2002), umavariao na angulagem da ancoragem do implante podegerar fatores potencializadores das foras mastigatriasque incidiro sobre os implantes, conforme citado porWeinberg, Kruger 7 (1995).

    No entanto, Watanabe et al. 16 (2003) perceberam que,com 5 de angulao do implante, houve uma leve dimi-nuio no estresse quando comparado a um implante seminclinao quando a carga vertical foi aplicada no centroda fossa. Este fato difcil de ser explicado, podendo serresultado de um carregamento prximo ao longo eixo doimplante inuenciado pelo ponto de carregamento imprecisorealizado pelo estudo. Em relao distribuio de foras no

    longo eixo do implante, Watanabe et al.16

    (2003) descreveque se deve ter muito cuidado para que a carga seja aplicadade forma vertical ou, em ltimo caso, prxima ao longoeixo do implante. Implantes angulados no apenas fazem atenso aumentar, mas tambm envolvem componentes decisalhamento nocivos, que conduzem perda ssea e podemprejudicar o novo crescimento sseo. Weinberg, Kurger 7 (1995) consideram que para cada 10 de aumento da incli-nao do implante, existe aproximadamente 5% de aumentode sobrecarga na prtese sobre implante.

    As foras oclusais nos implantes dependem de sualocalizao no arco. Sahin et al. 2 (2002) citam que os im-plantes situados na regio posterior sofrem maiores riscosde sobrecarga. O estudo de Weinberg, Kruger 11 (1996) re-lacionou a inclinao do implante com sua localizao noarco. Para arcos maxilares, uma leve inclinao vestibularfoi mais aceitvel que uma inclinao lingual, e o inversofoi considerado para o arco mandibular, no qual foi maisaceitvel uma inclinao lingual.

    Misch 10 (2006) acredita que se a carga oclusal aplicadaa um corpo de implante angulado ou uma carga oblqua aplicada ao corpo do implante, perpendicular ao planooclusal, os resultados so semelhantes. O risco biomec-nico aumenta. Qualquer carga aplicada a um ngulo pode

  • 8/13/2019 Biomecnica em prtese sobre implante relacionada s inclinaes das cspides e s angulaes dos

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    2008; 37(4)Biomecnica em prtese sobre implante relacionada s inclinaes das cspides

    e s angulaes dos implantes osseointegrados reviso de literatura 327

    ser dividida em normal (compressiva e elstica) e forasde cisalhamento. Em anlise de elemento nito, quando adireo da fora muda para uma carga mais angulada ouuma carga horizontal, a magnitude do estresse aumen-

    tada por 3 vezes mais. Somado a isso, em vez de forasprimariamente compressivas, componentes elsticos e decisalhamento so aumentados mais que 20 vezes, se com-parados fora axial.

    Baseado na presente reviso da literatura, acredita-se queas inclinaes dos implantes so condies indesejveis. Noentanto, sabe-se que em algumas situaes clnicas, no possvel evitar o posicionamento inadequado dos implantes,devendo o cirurgio-dentista estar atento com a ocluso dopaciente a m de tentar distribuir as cargas de forma maisprxima ao longo eixo do implante.

    ConclusoDe acordo com os autores analisados pode-se concluir

    que: a ocluso em prtese sobre implante um fator funda -

    mental para melhorar a distribuio de foras ao longoeixo do implante, devendo, para tanto, minimizar ainclinao das cspides, reduzindo o brao de alavancae a ocorrncia de contatos excntricos; e

    as inclinaes acentuadas dos implantes devem serevitadas, sempre que possvel, a m de favorecer adistribuio de foras sempre ao longo eixo do im-plante.

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    Recebido: 05/12/2007Aceito: 21/09/2008

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