Biomidiologia Do Arrastão e Linchamento

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ano 3, nº 6, 1Ed. 2009 Biomidiologia do arrastão e linchamento: A mente coletiva da multidão segundo a bioética. Flávio Mário de Alcântara Calazans* *Livre-Docente pela UNESP. Doutor pela ECA USP Resumo A BIOMIDIOLOGIA pode ser empregada para a compre- ensão de comportamento da multidão como o arrastão ou linchamentos ocorridos no ambiente urbano, pela anatomia e mente coletiva com a hipótese de intoxicação por feror- mônios na dissolução do ego e de início induzido por meio da mídia. !"#"$%"&’()"$* Multidão, Biomidiologia, Comportamento Coletivo, Am- biente Urbano. 1 Artigo +,-%./012. O estudo das formas de compor- tamento coletivo denominadas genericamente como multitudi- nárias (Multidão) apresenta-se como tema complexo e multidisciplinar, sendo a BIOMIDIOLOGIA o paradigma mais ade- quado à sua análise. Objetivando uma melhor compre- ensão destes fenômenos tão corriqueiros no ambiente social dos grandes centros urbanos contemporâneos, os quais en- contram-se interligados com o problema psico-social dos meios de comunicação de massa nos cidadãos, torna-se impres- cindível recorrer a diversas disciplinas para coletar argumentos que melhor ex- ponham as múltiplas facetas dos fenôme- nos sociais biomidiáticamente. Tal cruzamento de campos divergen- tes pode pretender indicar futuros ângulos de abordagem dos comportamentos coleti- vos com implicações neurológicas e bioquí- micas, as quais poderão vir a ser desenvol- vidas pelos biomidiólogos posteriormente.

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  • ano 3, n 6, 1Ed. 2009

    Biomidiologia do arrasto e linchamento: A mente coletiva

    da multido segundo a biotica.Flvio Mrio de Alcntara Calazans*

    *Livre-Docente pela UNESP. Doutor pela ECA USP

    Resumo

    A BIOMIDIOLOGIA pode ser empregada para a compre-enso de comportamento da multido como o arrasto ou linchamentos ocorridos no ambiente urbano, pela anatomia e mente coletiva com a hiptese de intoxicao por feror-mnios na dissoluo do ego e de incio induzido por meio da mdia.

    !"#"$%"&'()"$*Multido, Biomidiologia, Comportamento Coletivo, Am-

    biente Urbano.

    1

    Artigo

    +,-%./012.

    O estudo das formas de compor-tamento coletivo denominadas genericamente como multitudi-nrias (Multido) apresenta-se como tema complexo e multidisciplinar, sendo a BIOMIDIOLOGIA o paradigma mais ade-quado sua anlise.

    Objetivando uma melhor compre-enso destes fenmenos to corriqueiros no ambiente social dos grandes centros urbanos contemporneos, os quais en-

    contram-se interligados com o problema psico-social dos meios de comunicao de massa nos cidados, torna-se impres-cindvel recorrer a diversas disciplinas para coletar argumentos que melhor ex-ponham as mltiplas facetas dos fenme-nos sociais biomiditicamente.

    Tal cruzamento de campos divergen-tes pode pretender indicar futuros ngulos de abordagem dos comportamentos coleti-vos com implicaes neurolgicas e bioqu-micas, as quais podero vir a ser desenvol-vidas pelos biomidilogos posteriormente.

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    1 - Cndido Teobaldo de Souza ANDRADE, Psico-sociologia das relaes pblicas, p 20.

    2 - ENCYCLOPAEDIA of Psychology, v. 1, A-F, p. 234-5.

    3 - Sigmund FREUD, Ttem e tabu, p. 181.

    4 - _____. Psicologia de grupo e a anlise do ego, p. 101.

    5 - Solomon ASCH, Psicologia social, p. 208.

    6 - Maria Benedita DELLA TORRE, O homem e a

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    sociedade, p. 106.

    7 - Paulo Doura de GUSMO, Manual de sociolo-gia, p. 112.

    8 - Gustave LE BON, As opinies e as crenas, p. 60-1.

    9 - A sociedade dos cupins. In: Superinteressan-te, n.0 2, ano 2, p. 25.

    10 - Rmy CHAUVIN, A etologia, p. 163.

    11 - Norman T. ADLER, The biopsychology of hormones and behavior. In: Comparative psicho-hology, P. 326. U

    12 - Rmy CHAUVIN, op. cit., p 145.

    13 - Aldous HUXLEY, Moksha, p. 156-9

    14 - George A. THEODORSON, A modern dictio-nary of sociology, p. 90.

    15 - Lcia Helena de OLIVEIRA, 0 Sentido da vida. In: Superinteressante, n 1, ano 2, p. 72.

    16 - R. H. DAY, Psicologia da Percepo, p. 26.

    17 - Lencio BASBAUM, Histria e conscincia So-cial, p. 161-2.

    18 - Cndido Teobaldo de Souza ANDRADE, Op. cit., p. 25.

    19 - _____ . Para entender relaes pblicas, p. 14.

    20 - Gustave LE BON, Psicologia das multides, p 4.

    21 - Jonathan FREEDMAN, Psicologia Social, P. 202.

    22 - Luis JIMENEZ DE ASUA, Psicoanlisis crimi-nal, p. 55.

    23 - STANCIU, Essais de Psycho-sociologie crimi-nelle, P. 160.

    24 - Mrio Gonalves VIANA, Psicologia das mul-tides: Infantis e adultas, p. 9.

    25 - Ciro MARCONDES FILHO, Violncia das mas-sas no Brasil, p. 16.

    26 - VEJA, 8 de Julho de 1987, p. 18.

    27 - OP. cit. p. 20.

    28 - Cndido Teobaldo de Souza ANDRADE, Para entender relaes Pblicas, p. 14-5

    29 - A GUERRA E O DESARMAMENTO, p. 90-2.

    30 - Cndido Teobaldo de Souza ANDRADE, Psi-co-sociologia das relaes pblicas, p. 27.

    31 - Jos ORTEGA Y GASSET, A rebelio das mas-sas, p. 52.

    32 - Cndido Teobaldo de Souza ANDRADE, Psi-co-sociologia das relaes pblicas, p. 29.

    33 - Erich FROMM, O medo liberdade, P. 161-2.

    34 - Sigmund FREUD, Moiss e o monotesmo, p. 131.

    35 - Wilhelm REICH, Psicologia de massa do fas-cismo, p. 47

    36 - Roger MUCCHIELLI, A Psicologia da publici-dade e Propaganda, p.8

    37 - Karl MARX apud Hector p AGOSTI. Condi-es atuais do humanismo, p. 103.

    38 - Brbara FREITAG, A teoria crtica ontem e hoje, p. 73.

    39 - Herbert MARCUSE, Eros e civilizao, p .103.

    40 - Waldenyr CALDAS, Cultura de massa e Polti-ca de comunicao, p. 30.

    41 - Cndido Teobaldo de Souza ANDRADE, Psi-co-sociologia das relaes pblicas, p. 35-6. L

    42 - Luiz Miller de PAIVA, Crime ... tanatismo, p. 38-9

    43 - Antonio Gomes PENNA, Histria das idias Psicolgicas, p. 63-4.

    44 - Michel RUSE, Sociobiologia, p. 224.

    45 - Luiz Miller de PAIVA, op. cit., ia. 21.

    46 - Mary LONG, Ritual e perfdia. In: Cincia ilustrada, n.0 3, p. 99.

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    (A BIOMIDIOLOGIA um neologismo de propriedade intelectual de Flvio M-rio de Alcntara Calazans e pelos Direitos de Autor deve ser citada sempre com a referncia a seu autor; a BIOMIDIOLOGIA foi registrada na Biblioteca Nacional do Ministrio da Cultura aos 16 de janeiro de 2002, registro 249.607, livro 444, folha 267 como descoberta cientfica de Flvio Mrio de Alcntara Calazans).

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    Folia de Reis e o jornalismo cultural em Ribeiro Preto

    Alessandra Possebon*

    Larissa Canhas**

    Sebastio Geraldo***

    *Graduada em Jornalismo pela Unaerp e mestranda do Programa de Ps Graduao em Comunicao na Unesp

    ** Estudante de Jornalismo na Unaerp*** Ps- doutor em Cincia da Comunicao da Escola de Comunicao e Arte

    (ECA-USP) e docente da Unaerp

    Resumo

    Este artigo visa, a partir da anlise do tratamento jornalsti-co dado s manifestaes das Folias de Reis pelos principais jornais impressos de Ribeiro Preto, desenvolver um esforo na busca do sentido de cultura popular e identidade cultural com o propsito de construir base terica para a reflexo sobre as manifestaes da cultura popular em Ribeiro Pre-to. Ao analisar o espao dos jornais locais percebe-se que manifestaes culturais populares, como as Folias de Reis, so expostas minimamente no jornalismo de Ribeiro Preto e que a divulgao ocorre somente no momento de apresen-tao das folias em praa pblica, portanto, como um evento espetacular.

    Palavras-chaveComunicao, Cultura Popular, Jornalismo Cultural

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    Artigo

    Introduo

    Este trabalho buscou a compreenso da relao entre o jornalismo cul-tural em Ribeiro Preto - por meio da anlise de publicaes nos jornais A Cidade e Gazeta de Ribeiro - e as ma-

    nifestaes culturais populares, com enfo-que aos grupos de Folia de Reis.

    O que motivou essa pesquisa foi a observao preliminar de que manifesta-es culturais populares so praticamen-te excludas das pautas das jornais locais. Manifestaes como as Folias de Reis so

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    expostas minimamente e de maneira no contextualizada no jornalismo de Ribeiro Preto, no entanto, so formas de manifes-tao cultural das classes populares que apresentam sentido comunicacional em todas as suas dimenses, como nas m-sicas, vestimentas, cores, letras e danas expressando aspectos da religio, do la-zer, emoes, opinies, condies sociais e suas relaes com a histria e com a contemporaneidade.

    Para tal compreenso foi realizado um estudo multidisciplinar, um trabalho de campo acompanhando a realidade das companhias, retomando sua histria, formao e realidade scio-cultural no contexto atual, bem como a avaliao do jornalismo cultural, por meio da anlise dos jornais locais citados e avaliao dos momentos, como e com quais enfoques foram publicadas reportagens sobre os grupos de Folia de Reis durante os anos de 2007 e 2008.

    Tal estudo buscou compreender, ainda, a relevncia da resistncia das cul-turas populares na regio de Ribeiro Pre-to e pretende ser significativa para a me-lhor compreenso das relaes entre tais manifestaes e a comunicao jornalsti-ca convencional, possibilitando reflexes em torno da importncia da comunicao na construo das vises de mundo, j que seus produtos veiculam valores e ex-pressam a dimenso simblica que confi-gura parte da formao dos seus leitores.

    No Brasil, a Folia de Reis uma ma-nifestao da religiosidade popular que se caracteriza como a convergncia de dan-as, encenaes e cantorias representan-

    do a viagem dos Reis Magos a Belm para adorar ao Jesus menino, que ocorre tradi-cionalmente de 24 de dezembro (vspera de natal) a 6 de janeiro (dia dos Santos Reis).Os peregrinos visitam casas de fiis para arrecadar alimentos e donativos para festejar o dia de reis e louvar a Jesus.

    Em Ribeiro Preto, anualmente no ms de janeiro, desde 1992, acontece o Encontro Nacional de Folia de Reis, o que faz parte do calendrio de festividades da Secretaria Municipal da Cultura e chega a reunir 15 mil pessoas anualmente no bair-ro de Vila Virgnia.

    O tema proposto tem uma relevn-cia especial em um ambiente multiface-tado em que as manifestaes da cultu-ra contempornea esto historicamente ligadas s diversas identidades culturais advindas de outros lugares e que se en-contram e se atualizam em significados permanentemente.

    Folia de Reis e Seus Significados Em 13231 comeava em Portugal

    uma tradio religiosa que resiste at os dias de hoje: a festa de Folia de Reis.

    A jornada dos reis Magos do Oriente Baltazar, Melchior e Gaspar- est pre-sente no Evangelho de Mateus e relata que os magos partiram de suas terras guiados pela luz de uma estrela resplan-decente, chegaram gruta, em Belm, na Judia, para adorar o filho de Deus que havia nascido, ofertando-lhe rgios pre-sentes: Ouro, Incenso e Mirra (SILVA, 2006, p. 13).

    Tal episdio a essncia da cele-

    _________________________

    1 - MARTINS, Souza Willian. Abram Alas Para a Folia. Revista de Histria da Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro n. 33, p. 34-39, junho 2008.

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    brao da Folia de Reis e rene fiis con-duzidos pela crena e devoo religiosa de diversos pases da Europa e Amrica, contribuindo para o desenvolvimento de manifestaes populares, algumas distan-tes de suas razes.

    Alm do carter religioso, a Festa da Folia de Reis representa ganha entornos de valores da regio do pas onde se rea-liza, um elemento importante na constru-o da identidade local, regional e nacio-nal. A tradio transmitida de gerao para gerao e mesmo no sendo cano-nizados, os Magos do Oriente so vistos como Santos pelos fiis.

    Essa condio de manifestao das Folia de Reis, indica que como diz Fer-reira(2005, p. 75), que a festa um lugar onde se reproduz simbolicamente a con-dio de caos mtico primordial, quando promove a anulao do presente. Assim, a festa um simblico retorno as origens uma origem muitas vezes imaginria ou reinterpretada necessrio para garantir a integridade do indivduo.

    Em Ribeiro Preto, atualmente exis-tem oito Companhias de Folias de Reis: Dos Mineiros, Vitria, Unio, Estrela da Guia, Irmos Adolfo, Parceiros dos Reis, Irmos Rodrigues e Irmos Vieira, que participam de festas e festivais de Folias em cidades da regio, visitam entidades e casas quando convidados e organizam anualmente, em conjunto com a Secreta-ria Municipal da Cultura, o Encontro Na-cional de Folias de Reis de Ribeiro Preto, desde 1992, no bairro de Vila Virgnia. O evento faz parte do calendrio de festivi-dades da cidade.

    O principal smbolo de cada compa-nhia de Reis a bandeira, um elemento de simblico de destaque do processo de comunicao e sempre o primeiro da Fo-lia levada pelo bandeireiro ou alferes. Ele a carrega como cumprimento a alguma

    promessa. A bandeira traz uma imagem bblica da Sagrada Famlia: Menino Jesus, So Jos e Virgem Maria na manjedoura, os Trs Reis Magos e animais. Os fiis prendem a estas imagens fotos, figuras de Santos, fitas e pedidos que representam preces, promessas e agradecimentos.

    Na caminhada realizada no primeiro dia do ms de Novembro de 2008, no Jar-dim Presidente Dutra, bairro zona norte de Ribeiro Preto, a bandeira a primeira a entrar nas casas, ela reverenciada e os fiis a beijam. Tambm uma tradio o dono da casa segur-la durante a cantoria e lev-la nos cmodos que desejar.

    Logo atrs da bandeira vm os guar-dies, que so os palhaos, o capito, mestre ou embaixador que muitas vezes a pessoa responsvel pela companhia e quem puxa os versos; o contra-mestre que quem faz a segunda voz e os demais elementos cantam e tocam instrumentos como violas, violes, sanfonas, cavaqui-nhos, pandeiros, caixas e castanholas.

    Os msicos so nomeados de acor-do com a sua posio de voz. As nomen-claturas, smbolos e a maneira de cantar dependem de cada regio do pas. A for-mao da Folia de Reis composta de elementos da cultura ibrica, que trazem em sua bagagem traos da cultura rabe e que no Brasil sofreram incorporaes tambm da cultura negra e indgena, o que originou uma tradio rica em sincre-tismos culturais populares.

    Tal fora da religiosidade, neste caso, especialmente do catolicismo, tam-bm se explica pela colonizao brasilei-ra em que os conquistadores utilizaram a religio como maneira de integrao das diversas etnias.

    Todos vestem uniformes coloridos que representam o grupo, bem como os instrumentos musicais so ornados com faixas coloridas, apesar de toda cor os

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    palhaos so os elementos que chamam mais ateno com suas mscaras, apitos e seu danar contnuo. Eles representam os protetores do menino Jesus e tambm protegem a bandeira da Companhia, para isso carregam um basto e um chicote, alm de levarem uma pequena bolsa para colocarem as esmolas. Estas persona-gens sintetizam a mistura de ritos cristos e pagos em suas apresentaes.

    A preocupao com a ornamentao revela traos especficos de cada regio que tem vnculo com a histria do lugar e de seus personagens. Tem relao direta com os valores religiosos dos envolvidos e como estes a tornam um ato de devoo (FERREIRA, 2005, p. 87).

    A vestimenta tambm uma manei-ra de cada envolvido se tornar represen-tante de um ato maior, em que prota-gonista. Estes elementos que compem a vestimenta destacam a criatividade da po-pulao que, apesar das limitaes mate-riais, utilizam suas formas de criatividade, de arte para celebrar esses rituais.

    Os versos, na maioria, so passados oralmente de pai para filho ou improvisa-dos e quando as companhias visitam as casas, as rimas so construdas de acordo com a promessa ou devoo daquela fa-mlia.

    O estilo paulista de cantar com-posto pelo seguinte modelo: dois cantam e o restante responde. As letras expressam a emoo que envolve a Companhia em cada visita e descrevem passagens bbli-cas emaranhadas a elementos simblicos tradicionais, religiosos e outros elementos que povoam o imaginrio popular. Como diz Damatta (1990, p.33), no h socieda-de sem uma idia de um mundo extraor-dinrio, onde habitam os deuses e onde, em geral, a vida transcorre num plano de plenitude, abastana e liberdade.

    Baltazar Aparecido Alves, membro

    da Companhia Irmos Adolfo de Ribeiro Preto, explica que os rituais da procisso tm incio nos primeiros finais de sema-na de novembro com o encerramento se d no dia 6 de janeiro - dia de Santos Reis - so praticados conforme os ensi-namentos e registros de cada regio e de cada Companhia. A Companhia Irmos Adolfo cumpre a seguinte tradio: no primeiro dia da peregrinao, reza-se o tero durante uma hora, h um jantar de confraternizao entre os integrantes na casa do festeiro que o membro que fez a promessa e o responsvel pela com-panhia daquele ano. Ali ocorre a chegada da bandeira. A cantoria comea, e quem puxa os versos deste dia geralmente o festeiro. Ele insere falas que remetem promessa e agradece aos Santos Reis. Os folies ajoelham-se diante da bandeira e esta passada sobre suas cabeas, em si-nal de respeito e devoo, eles a beijam e a seguram por alguns instantes. Em segui-da oram o Pai Nosso, Ave Maria e Credo.

    Durante a peregrinao a bandeira passa alguns dias nas casas dos fiis vi-sitados e volta para a casa do festeiro no dia 6, onde acontece a finalizao da pe-regrinao e tradicionalmente se d a pas-sagem de uma coroa feita artesanalmente para o prximo festeiro.

    No ambiente urbano, usa-se trans-porte coletivo ou automveis para a loco-moo dos folies, enquanto no passado usavam-se carroas. Os alimentos arreca-dados so comprados em supermercados e no mais plantados pelas famlias. Na fazenda, um animal era escolhido e desti-nado especialmente aos Santos Reis, hoje, nas cidades, as carnes tambm so com-pradas. Os uniformes esto cada vez mais presentes e ganham patrocinadores. Al-gumas companhias j gravaram CDs e as mulheres que antes eram espectadoras e apenas preparavam as refeies, hoje par-

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    ticipam ativamente tocando instrumentos, cantando e muitas vezes segurando a bandeira.

    As transformaes esto ligadas mudana de costumes e adaptadas ao processo de urbanizao. Na rea rural a Folia de Reis comeava na noite de na-tal e os cristos cantavam todos os dias e noites em peregrinao, por todas as casas das vilas e fazendas, sem retorna-rem para seus lares, at seis de Janeiro. Atualmente as companhias cantam e vi-sitam casas de fiis, quando convidados, durante 13 finais de semana (a tradio conta que a viagem dos reis magos durou treze dias), devido aos trabalhadores no poderem faltar do servio durante a se-mana, para participarem da peregrinao. Nas visitas os membros das Folias arreca-dam dinheiro e alimentos para a festa do dia de Santos Reis, que em Ribeiro Preto acontece no ltimo final de semana do ms de janeiro, na Vila Virgnia e chega a reunir anualmente 15 mil pessoas de v-rias regies do pas.

    Para Ferreira a assimilao e inclu-so de novos elementos constituinte fundamental desse processo extremamen-te dinmico que a cultura. Argumenta, a autora que,

    Nesse espao conflitivo e adaptativo,

    a cultura subalterna refuncionaliza as

    mensagens recebidas, adaptando-as

    ao seu cotidiano. Da resulta que as

    classes subalternas estruturam o seu

    mundo a partir de uma coexistncia

    no harmoniosa, mas nem sempre

    conflitiva, com outras culturas e ide-

    ologias. Como resultado deste exer-

    ccio de sobrevivncia, a cultura das

    classes subalternas no homognea,

    pois nela convivem a influncia das

    classes hegemnicas e dos valores ci-

    vilizatrios ancestrais em combinao

    com as caractersticas culturais gera-

    das pela sua condio de classe opri-

    mida (FERREIRA, 1995, p. 25).

    A festa um importante elemento de estudos, pois apresenta duas caractersti-cas fundamentais ( FERREIRA, 2005) para a constituio das sociedades: a capacida-de de trazer para a contemporaneidade as experincias culturais de outras po-cas e outras populaes e a habilidade de trazer tona sentimentos e costumes do inconsciente, revelando a verdadeira face de um povo, sendo, portanto um aspecto significante da cultura.

    Todas essas festas de origem crist

    trazem tona uma identidade cul-

    tural que resiste ao tempo e s in-

    fluncias da globalizao. Possuem

    uma fora que herana cultural de

    milnios... pois carrega consigo um

    conjunto de smbolos e cdigos, que

    apenas eles, podem decifr-la intei-

    ramente. Seu significado est no sub-

    consciente dos indivduos (WATANA-

    BE, 2005, p. 88).

    A partir destas manifestaes pos-svel compreender como o passado e o presente de uma determinada sociedade se articulam. Se, no passado, as festas eram um dos principais meios da popu-lao se afirmar como coletividade, hoje, com o acirramento de individualidades, a festa se traduz em um reencontro com valores do passado, articulados com o modo de vida do presente em um lugar permanente de reafirmao de identida-des. Para Ferreira

    A festa deve ser vista como um con-

    junto de atos cerimoniais de carter

    coletivo pela sua colocao dentro

    de um tempo delimitado, tido como

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    diverso da cotidianidade. Em qual-

    quer tipo de festa, o grupo ou a co-

    munidade interrompe o tempo ordi-

    nrio para entrar, coletivamente, na

    dimenso de um tempo carregado

    de implicao cultural e de conota-

    o psquica prpria, diferente da-

    quele tempo ordinrio ou cotidiano

    (FERREIRA, 2005, p. 73).

    Na envoltura mtica e simblica das festas, h um complexo vnculo com a re-alidade, o que aumenta a percepo das relaes sociais e das prticas cotidianas. No caso estudado, a festa religiosa cat-lica relaciona os santos homenageados com as razes histrico-culturais da cida-de, retomando valores e crenas locais.

    Por este resgate que se d por meio de elementos artsticos e culturais diver-sos como textos, msicas, danas, ima-gens, oralidades, crenas, costumes e tantos outros a festa se constitui tambm como um atrativo turstico.

    As principais caractersticas de uma festa camponesa tradicional, segundo Gi-mnez (1979) so a ruptura do tempo normal, o carter coletivo, compreensivo e global, realizada em espaos abertos ou ao ar livre, indissocivel da religio, parti-cipao da comunidade, dependncia do calendrio agrcola.

    As caractersticas das festas urbanas, por outro lado so a integrao da festa vida como apndice, complementao ou compensao, o carter privado e de frag-mentao, espaos ntimos e fechados, in-dependente de um calendrio pr-estipu-lado e possuem funo de consumo.

    Canclini acentua que, para as popu-laes camponesas

    as festas so acontecimentos coleti-

    vos... celebraes fixadas de acordo

    com o ritmo do ciclo agrcola ou o

    calendrio religioso, onde a unida-

    de domstica de vida e de trabalho

    se reproduz atravs da participao

    coletiva da famlia. Nas cidades, a

    existncia da diviso entre as classes

    sociais, de outras relaes familiares,

    o maior desenvolvimento tcnico

    e mercantil voltado para o lazer, a

    organizao da comunicao social

    que apresenta um carter massivo

    criam uma festividade que distin-

    ta. maioria das festas as pessoas

    vo individualmente, so feitas em

    datas arbitrrias... ( CANCLINI, 1982,

    p. 112).

    As festas de Folia de Reis tm adap-tado suas tradies ao modo de vida nas cidades, como modo de resistncia e so-brevivncia. O Encontro de Ribeiro Pre-to, por exemplo, se tornou um espetculo, onde os atores da Festa ficam separados dos espectadores, a montagem da festa de responsabilidade dos profissionais da Secretaria Municipal da Cultura; h ven-dedores ambulantes sem vnculos com a festa prximos ao lugar das apresenta-es, o que torna o ambiente um local propcio para a atividade mercantil; nem todos os adereos so feitos artesanal-mente e muitos dos que vo at o local no esto articulados com o processo de realizao a festa.

    O turismo um dos fatores que impulsionam essas mudanas. Com o crescimento das atividades do setor, em muitas localidades a preocupao com o crescimento desse setor de servios aca-ba introduzindo elementos que definem o lugar, o tempo, a forma de organiza-o, que pode participar, enfim introduz elementos que levam novas formas de relao econmica, social e poltica no ambiente da manifestao da cultura po-pular. dessa forma que ela se articula,

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    Artigo

  • ano 3, n 6, 1Ed. 2009

    se renova, ganha novos significados e se apresenta s prximas geraes.

    Canclini questiona o que necess-rio para que a festa popular no se torne inteiramente um espetculo, mantendo a relevncia primordial da vivncia coletiva.

    Pode ela ainda fortalecer a identida-

    de cultural e contribuir para a reela-

    borao da coeso social? Isto pos-

    svel se o povo consegue fazer com

    que a expanso, o desfrute e os gas-

    tos da festa sejam realizados dentro

    dos marcos internos, ou ao menos

    no sejam subordinados aos interes-

    ses do grande capital comercial: se

    os membros do povoado conservam

    um papel destacado na organizao

    material e simblica da festa, se asse-

    guram atravs do sistema de encar-

    gos a reinverso do excedente eco-

    nmico no financiamento das festas

    (CANCLINI, 1982, p. 132).

    Jornalismo e Cultura Popular Com o propsito de enfoque ao

    tratamento dado s manifestaes cultu-rais pelos jornais locais, foram analisados neste estudo os cadernos de cultura das publicaes jornalsticas impressas em Ri-beiro Preto: A Cidade, no perodo de janeiro de 2007 a outubro de 2008 e Ga-zeta de Ribeiro entre janeiro de 2007 e maro de 2008.

    Alm de uma avaliao geral sobre os cadernos de cultura, observando quais os temas mais abordados e de que ma-neira so reportados, foi analisado como as Folia de Reis so retratadas pelos jor-nais citados observando o tamanho das matrias, chamadas de capa, ttulos, fotos, escolha de entrevistados e datas de publi-cao.

    O Jornal A Cidade tem 103 anos,

    dirio desde o incio de sua histria. um jornal pluralista que busca alcanar um amplo espectro de leitores em Ribei-ro Preto e regio. A tiragem de 15.000 exemplares de tera a sbado e 25.000 ao domingos. O jornal passou por uma refor-mulao h dois anos com a entrada do grupo EPTV em sua direo. O Caderno de Cultura conta com oito pginas atual-mente. No momento estudado eram trs jornalistas e um estagirio no Caderno de Cultura, enquanto o jornal todo tinha 28 jornalistas e trs estagirios.

    O jornal Gazeta de Ribeiro tem oito anos de existncia. Sua ltima refor-mulao ocorreu em abril de 2008 e em outubro do mesmo ano passou a ser di-rio com tiragem de 14.000 exemplares. Dez jornalistas e um estagirio compem a redao do jornal, sendo um jornalista responsvel pela Cultura.

    No perodo estudado o jornal Ga-zeta de Ribeiro publicou matrias sobre Folia de Reis duas vezes em 2007 e uma vez em 2008, j no jornal A Cidade no houve publicaes sobre o tema em 2007, enquanto em 2008 foram publicadas seis reportagens.

    A primeira matria analisada foi do jornal Gazeta de Ribeiro de 21 de janei-ro de 2007, cujo ttulo foi Ribeiro Preto sedia Folia de Reis. Apesar da proximida-de com o dia da festa (28/01), a matria a segunda da pgina, ocupando 1/3 da mesma, com apenas uma foto pequena de arquivo do Encontro de 2006. A ma-tria no tem entrevista e possui caracte-rsticas de release, por divulgar apenas o lugar e a programao do evento com su-perficialidade. A reportagem coloca que o Encontro uma realizao da Secreta-ria Municipal da Cultura, sem citar a im-portante participao das Companhias de Folia de Reis. A principal reportagem da pgina tratou de uma matria fria sobre

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    Artigo

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    Artigo

    uma famlia de msicos, com chamada de capa com foto.

    No dia 28 de janeiro de 2007 foi publicado um pequeno texto de dois pa-rgrafos com o ttulo: Vila Virgnia tem encontro de msicos. O texto que ocu-pa o canto direito da pgina repete infor-maes da matria do dia 21 e enfatiza a realizao da Secretaria Municipal da Cultura.

    Um ano depois, no dia 27 de janeiro de 2008, o jornal publicou uma matria com mais informaes sobre a festa. A re-portagem contou com dois representantes da tradio: Adolfo Alves da Companhia Irmos Adolfo e Victor Junior Ferreira da Companhia dos Mineiros. A foto retrata a cantoria: os folies com seus instrumen-tos, a bandeira e um palhao em uma de suas visitas na casa de um fiel, porm, o texto fala apenas do Encontro. Outra ob-servao relevante em relao ao texto de abertura que diz: Ribeiro sedia nes-te domingo, s 9h, na Vila Virgnia, 16 edio de evento que resgata a Folia de Reis. A palavra resgate tem conotao de que o movimento feito por algo que j foi perdido e demonstra certo desprezo pela histria das Companhias tradiciona-listas que permanecem vivas em Ribeiro Preto.

    No dia 6 de janeiro de 2008, no jor-nal A Cidade, foi publicada chamada na capa com foto: Salve a Folia de Reis Hoje seis de janeiro, comemora-se o Dia de Reis. A tradio da cantoria que vem da roa sobrevive em pleno sculo 21. A matria foi capa do caderno de cultura ocupando meia pgina com uma foto pa-recida com a da capa.

    A reportagem conta a histria de uma companhia tradicional de Cssia dos Coqueiros que passou por Ribeiro Preto antes de partir para a festa da cidade de Cajuru que acontece no dia 6 de janeiro.

    O texto utiliza termos especficos como catira e cateret e no explica o signifi-cado dessas palavras ao leitor. Breve di-vulgao do evento na Vila Virgnia dia 27 de janeiro e breve explicao sobre a origem da Festa, porm, no se menciona o porqu da festa acontecer em dias di-ferentes dependendo da localidade. Uma frase que chama a ateno : Tambm h danarinos, palhaos e outras figuras folclricas devidamente caracterizadas. Os significados de palhaos outras figu-ras se perdem no contexto de folclore, como algo distante de prticas vivas que envolvem um significativo contingente da populao em seus ritos anuais, e que representada no veiculo sem a devida contextualizao.

    Ainda no Jornal A Cidade, em ja-neiro de 2008, no dia 24, uma reporta-gem de pgina inteira foi publicada no Caderno de Cultura, mas na seo de gas-tronomia Boa Mesa. A matria intitulada Almoo de Reis apresenta uma grande foto da integrante Maria de Lourdes Alves, esposa do mestre da Companhia Irmos Adolfo. O foco da matria o almoo realizado para o Encontro Nacional que aconteceria trs dias depois da publica-o. A reportagem explicativa em rela-o a importncia deste grande almoo para as Folias e teve vrios entrevistados. Alm da Dona Maria, foram entrevistados a diretora de atividades culturais da Secre-taria Municipal de Cultura e um professor universitrio.

    Uma caracterstica que difere esta re-portagem das demais analisadas o nme-ro de entrevistados e a escolha dos mes-mos, na busca de enfocar diversos olhares sobre a Festa: alm da Dona Maria, que faz parte da Folia e concedeu seu olhar apai-xonado sobre a tradio, foram entrevis-tados a diretora de atividades culturais da Secretaria Municipal de Cultura, Maringe-

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    la Quartim que falou sobre a organizao do evento e o professor universitrio, Al-berto Ikeda que falou sobre a importncia e os sentidos do momento das refeies na Folia de Reis, em diversas pocas. A mat-ria a nica, dentro do perodo analisado, que ocupa uma pgina inteira.

    Apenas uma matria de todas as ana-lisadas apresenta descrio de como so realizadas as visitas que comeam no ms de novembro, uma etapa importante por-que por meio destas que as Companhias conseguem os donativos para a realizao da festa. A matria Folies unidos pela f de 26/01/2008 publicada no Jornal A Ci-dade, foi considerada a mais abrangente nesta pesquisa, pois alm de contar um pouco sobre a histria da Companhia ri-beiropretana Irmos Adolfo, tambm re-lata como a festa chegou ao Brasil, alm de trazer dados do ltimo festival.

    A matria utiliza, tambm, a figura do filho do Adolfo Alves, Baltazar Alves, para contar a paixo e a f das Compa-nhias, aproximando assim o leitor leigo do assunto. Outra caracterstica a n-fase que a matria d a tradio familiar dos folies, as prticas transmitidas de pai para filho, informao relevante que no foi constatada nas outras publicaes ana-lisadas. Evidencia-se, com isso, que hou-ve uma aproximao do reprter com a fonte, e deste com o prprio tema.

    No dia 3 de fevereiro de 2008 o jor-nal A Cidade publicou um especial sobre a Folia de Reis, tratava-se de uma reporta-gem fotogrfica com breve texto sobre o trabalho da fotgrafa do jornal que acom-panhou durante um ano Companhias de Folia de Reis pelos estados de So Paulo, Minas Gerais e Paran. O ttulo da chama-da de capa ilustrada por uma foto foi: Em foco a outra Folia. A matria especial ocu-pou uma pgina e trouxe de forma sim-ples, potica e artstica as cores e simbolo-

    gias que envolvem a Folia. A matria no prope explicar o que a Folia, mas sim retrat-la pelas emoes que a envolve. uma demonstrao de como o fotojornalis-mo pode contribui para a documentao e compreenso da marca histrica e subjeti-va das as manifestaes populares.

    A ltima matria avaliada foi publi-cada em setembro de 2008 no caderno mensal especial do Jornal A Cidade, com o ttulo A Cidade No Bairro. volta-do para os bairros da cidade. Na edio dedicada Vila Virgnia, a Companhia Ir-mos Adolfo aparece na foto da capa, o que refora a importncia da Folia de Reis para aquela comunidade. O ttulo e sub-ttulo so: Folia de Cores e Sons- Com-panhia Irmos Adolfo preserva gerao, aps gerao, a tradio das companhias de folia de reis nas ruas e praas da Vila Virgnia. A matria interna apresenta duas fotos pequenas, sinttica e fala da f dos membros da Companhia.

    Victor Jnior Ferreira da Companhia dos Mineiros e Iraci Rodriguez do Santos da Companhia Estrela da Guia, entrevista-dos pelos pesquisadores, sentem-se inco-modadas com a cobertura feita pela mdia. Para eles, a imprensa s aparece no dia da festa e capta poucas imagens e opinies. O membro da Companhia Irmos Adolfo, Baltazar Aparecido Alves admite que h um reconhecimento da importncia folcl-rica, porm, critica quando a matria no se interessa pelo sentido da festa:

    Sa sim, por dois motivos: primeiro

    se fosse somente a tradio da Fo-

    lia de Reis sem a Secretaria da Cul-

    tura que notcia, talvez no seria

    to divulgado assim, mas no dia 6 de

    Janeiro normalmente eles do nfa-

    se, s que eles do nfase, na minha

    opinio, mais pelo lado folclrico do

    que pelo lado religioso, eles pegam

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    Artigo

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    alguns depoimentos mas eles procu-

    ram sintetizar mais a parte que eles

    conhecem do intelectual, no a par-

    te do corao de quem est fazendo

    entendeu? Isso acho que falta, eles

    no buscam esse lado a. ... ento o

    povo est convidado, mas no entra

    l no corao do devoto entendeu?

    Que falta isso (ALVES, 2008).

    Neste trabalho, foram verificados os guias de programao cultural da cidade, e os eventos realizados pelas companhias de Folia de Reis no foram divulgados. Tambm no houve publicaes aps o Encontro relatando como foi o evento.

    O Caderno de Cultura dos jornais analisados, como tantos outros no pas, tm um grande espao para as varieda-des: programao de cinema, histria em quadrinhos, cruzadinhas, coluna social, horscopo e assim por diante, o que re-vela a dimenso do espao dedicada mercantilizao de valores culturais, em detrimento especialmente da cultura po-pular ou subalterna, o que prprio de seu propsito comercial.

    Em 2007, o caderno dedicado s matrias de cultura do jornal Gazeta de Ribeiro chamava-se Pessoas, depois passou a ser Gente. Esse espao de va-riedades, como j citado anteriormente, porm, neste jornal o espao dedicado cultura popular ainda menor que no jornal A Cidade. Nesse ltimo existem trs pginas voltadas para a coluna social, uma pgina para programao de cinema

    e televiso e duas pginas para gastrono-mia, mais dirigidas ao entretenimento. As matrias com maior enfoque cultural ga-nham espao na capa apenas como se-gunda matria. Constatamos, no entanto que em ambos os jornais, a cultura nunca manchete.

    Matrias de cultura, conforme cons-tatado nas anlises realizadas, somente ocupam pgina inteira quando esto liga-das ao entretenimento e a personalidades conhecidas, como Marisa Monte, Djavan, Pet Shop Boys, Capital Inicial, e Xuxa. So ilustradas com fotos, mesmo os que o evento no esteja ocorrendo na cidade.

    Outra observao a utilizao de fotos de arquivo do prprio jornal ou fo-tos de divulgao de agncias de notcias em matrias sobre cultura, o que empo-brece a contribuio do fotojornalismo. Alm das fotos foi possvel constatar que o vnculo com as agncias de notcia e com as assessorias de imprensa torna o jornalismo redundante, muitas reporta-gens, especialmente as ligadas agenda cultural se repetem nos jornais analisados.

    O pouco espao reservado s mat-rias de cultura, a reportagens tantas vezes trocadas pelos releases e pelas matrias vinculadas agenda cultural e os desta-ques para os assuntos em voga como sho-ws revelam uma maneira de se construir o jornalismo que reflete as caractersticas2 da lgica capitalista, da industrializao e mais recentemente da cibercultura, em que a ve-locidade das notcias supervalorizada e as informaes so tratadas como produto.

    _________________

    2 - VARGAS, Heron. Reflexes sobre o Jornalismo Cultural Contemporneo. Disponvel em , Acesso em 10 de novembro de 2008.

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    A crtica cultural foi elemento im-prescindvel no comeo do jornalismo cultural, hoje em dia essa prtica se per-deu, os jornais analisados mantm apenas um jornalista cultural que tem de abran-ger todas as diversas manifestaes cultu-rais. A crtica, como forma de colaborao para a reflexo sobre a arte tm poucos espaos nos jornais locais.

    A profissionalizao da arte e os vn-culos com grupos empresariais tambm influem na produo do jornalismo cultu-ral em duas vertentes: a primeira em rela-o ao aumento do nmero de produes artsticas e a segunda que os jornalistas so cada vez mais remetidos aos interes-ses dos publicitrios, agncias de notcia e assessorias de imprensa e distanciado das artes populares que ficam renegadas s agendas culturais.

    Outro fator influente que novas expresses artsticas foram inseridas s pautas culturais como o cinema, a televi-so, gastronomia, moda, comportamen-to e arquitetura, ampliando os enfoques possveis.

    Tais observaes parecem ter um sentido negativo, mas devem soar ape-nas como constataes de mudanas que carecem de momentos de reflexo e re-avaliao.

    Na maioria das reportagens sobre Folia de Reis percebemos uma busca do jornalista por informaes, porm, por se tratar de uma festa religiosa e tradiciona-lista, a apurao das informaes imedia-tas no suficiente para informar o leitor. Para tais reportagens importante que se transmita o envolvimento dos sujeitos da festa, que se consiga representar com pa-lavras e imagens as emoes que a com-pe, seu sentido histrico e no recorra a simples matrias de divulgao de um acontecimento transformado e algo exti-co e espetacular.

    Consideraes Finais Este trabalho buscou compreender

    como se d a relao entre o jornalismo cultural ribeiraopretano nas edies de 2007 e 2008 dos jornais A Cidade e Ga-zeta de Ribeiro e as manifestaes das companhias de Folia de Reis da cidade.

    A Folia de Reis se mantm pela cren-a, por ideais intensos carregado de valo-res subjetivos que resiste na preservao de sua identidade, numa manifestao transmitida oralmente de gerao a gera-o. Algumas caractersticas das Folias se adaptaram ao processo de urbanizao e continuam em transformao com o in-vestimento na espetacularizao da festa, ao assimilar o modo de vida urbano.

    Alm da preservao dos valores tradicionais, mesmo nesse contexto urba-no, as Folias colaboram no processo cria-tivo de formao pessoal, como modo de contribuio do indivduo para o coletivo, por meio da assimilao das cores, sons e gestos que muitas vezes no so com-preendidos pelos que esto assistindo, mas que preenchem com euforia queles que executam e refletem um sentido de recuperao de memria histrica de seus membros.

    A pesquisa deu enfoque ao jornalis-mo cultural de Ribeiro Preto por meio da anlise dos veculos citados, escolhidos por serem aqueles de maior representa-tividade na cidade, ambos dirios e com tiragem superior a 14.000 exemplares.

    Foram avaliadas as matrias de capa do caderno, as matrias que ganharam destaque na capa do jornal e as agendas culturais. O principal enfoque, nesse sen-tido, foi a anlise das matrias de Folia de Reis, que no perodo observado foram poucas expressivas e descontextualiza-das. A maioria delas vinculadas ao Encon-tro Nacional que acontece anualmente no ltimo domingo do ms na Vila Virgnia.

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    Artigo

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    Referncias bibliogrficas

    ALVES, Adolfo. Entrevista. Ribeiro Preto, outubro de 2008.

    CANCLINI, Nestor G. Gramsci e as culturas populares na Amrica Latina. In: Coutinho, C. N. e Nogueira, M.A. (orgs) Gramsci e a Amrica. So Paulo: Paz e Terra, 1982.

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    FERREIRA,M. Nazareth. Cultura Subalterna e Neoliberalismo: a encruzilha-da da Amrica Latina. So Paulo: CELACC- ECA/USP, 1995

    FERREIRA,M. Nazareth. Identidade Cultural e turismo emancipador. So Paulo: CELACC-ECA/USP, 2005

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    WATANABE, Elisa Akemi citado em Identidade Cultural e turismo eman-cipador. So Paulo: CELACC-ECA/USP, 2005

    Observou que o Encontro apenas parte da tradio que se inicia em novembro, com as visitas que representam para os fiis a viagem realizada pelos trs reis ma-gos.

    Constatou-se, ainda, que no tare-fa simples para um jornalista em meio a tantas pautas e a to aclamada velocidade de produo, buscar a contextualizao histrica e social desta festa religiosa. O

    jornalismo cultural invoca um tempo de pesquisa e vivncia que na maioria das redaes escasso e a tendncia observa-da que as reportagens ganham caracte-rsticas de releases e simplesmente divul-gam mais um evento.

    Mesmo assim, sempre tempo para refletir e aperfeioar nossas prticas e essa pretensa contribuio dos autores deste trabalho.

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    Laos entre pblico e mdia na sociedade do consumo:

    Amostragem de temasna revista Guia Astral

    Fernanda Maria Cicillini*

    Tas Marina Tellaroli**

    * Fernanda M. Cicillini, Jornalista e Mestre em Comunicao Miditica pela UNESP- Universidade Estadual Paulista

    ** Tas M. Tellaroli, Jornalista, Mestre em Comunicao Miditica pela UNESP- Universidade Estadual Paulista e Doutoranda no

    Programa de Ps Graduao da Universidade Metodista de So Paulo - UMESP.

    Resumo

    Este trabalho procura discorrer sobre a questo da mdia e identidade, com foco nos meios de comunicao de mas-sa, cultura voltada s mdias e a sociedade do espetculo. As estratgias usadas para atrair o pblico se embasam na viso do Kitsch para assuntos que se julgam descartveis, como a Astrologia. O objetivo identificar, a partir das te-mticas mais freqentes em uma revista popular de astrolo-gia, a Guia Astral (Dezembro/2006, n248), os laos que se estabelecem entre leitor e a mdia considerada. A revista tem publicao mensal de 100 mil exemplares e atinge um pblico cativo que se identifica com o contedo veiculado. Foi utilizada como metodologia a anlise de contedo para a coleta e anlise do material. Pode-se concluir que a revista funciona como normatizadora, ditando um padro de estilo e comportamento cunhado nas observaes de uma classe elitizada e atribudo como um pensamento nico entre as massas.

    Palavras-chave

    Identidade, Cultura das Mdias, Comunicao, Revista.

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    Artigo

    Apontamentos sobre

    mdia, cultura e sociedade

    Um trinmio bastante complexo, mas que merece ateno e consideraes das mais diversas reas do estudo huma-no. As articulaes entre Mdia, Cultura e Sociedade surpreendem com suas din-micas, s vezes inesperadas, mas em mui-tas outras, previsveis. O que se pode afir-mar com alguma convico que a Mdia (eletrnica, impressa, virtual) faz parte do cotidiano de bilhes de pessoas todos os dias e que sua separao do contexto scio-cultural praticamente impossvel.

    Denis Cuche (1999, p. 175) ava-lia que para as grandes interrogaes da atualidade h a necessidade, por parte de alguns, de ver cultura em tudo, im-primindo-lhe uma certa responsabilidade quando as coisas do errado ou mesmo para explicar a repetio dos padres. cultura, como discorre Cuche, associa-se tambm a outra palavra de significao expansiva: a identidade.

    Se tudo passa pela cultura, e de certa forma, tambm pela comunicao, atravs das produes de uma socieda-de, deve-se pensar nas diversas possibili-dades das representaes produzidas, as quais vo continuar se articulando para a formao dos indivduos e dessa mesma sociedade.

    A identidade dos indivduos dis-cutida por muitos autores que a explicam como formada por processos sociais, mas que pode ser remodelada, mantida ou modificada pelas relaes sociais (BER-GER e LUCKMAN, 1985, p. 228).

    Para explicar a identidade do ho-mem ps-moderno, Stuart Hall (apud SIL-VA, 2006) explica que esse homem no tem uma identidade permanente: ela se forma e se transforma constantemente en-quanto somos representados pelos siste-mas culturais. Devido a essa falta de iden-

    tidade, o sujeito passa por uma crise.

    Atualmente ele vive um novo estgio

    de identificao, sendo um sujeito

    ps-moderno, sem identidade fixa,

    nascido da diversidade de culturas

    do mundo globalizado, tendo sua

    identidade construda e reconstruda

    permanentemente ao longo de sua

    existncia (SILVA, 2006, p. 7).

    A noo de cultura, como avalia Cuche (1999, p. 11), pode ser compre-endida, em seu sentido mais vasto, como modos de vida e de pensamento que le-vam diretamente a uma ordem simblica. Para o autor

    a cultura permite ao homem no so-

    mente adaptar-se ao seu meio, mas

    tambm adaptar este meio ao pr-

    prio homem, as suas necessidades e

    seus projetos. [...] Nada puramente

    natural no homem. Mesmo as fun-

    es humanas que correspondem

    a necessidades fisiolgicas, como a

    fome, o sono, o desejo sexual, etc.,

    so informados pela cultura: as so-

    ciedades no do exatamente as

    mesmas respostas s essas necessi-

    dades (CUCHE, 1999, p. 10 e 11).

    Tambm a construo da identida-de se faz no interior de contextos sociais e orientam representaes e escolhas. Cuche (1999, p.182) avalia que a cons-truo da identidade no uma iluso, pois dotada de eficcia social, produzin-do efeitos sociais reais. E a mdia atua no sentido de fortalecer, retificar e produzir representaes.

    J Nstor Garcia Canclini (2005) ar-ticula a relao de identidade e cidada-nia no momento em que o consumo a lgica do mercado, num processo de

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    Artigo

    fracionamento articulado do mundo e de recomposio das suas partes, de re-ordenamento de diferenas e desigualda-des, cuja maneira de consumir altera as possibilidades e as formas de exercer a cidadania.

    Homens e mulheres percebem que

    muitas das perguntas prprias do ci-

    dado a que lugar perteno e que

    direitos isso me d, como posso me

    informar, quem representa meus in-

    teresses recebem sua resposta mais

    atravs do consumo privado de bens

    e dos meios de comunicao de

    massa do que pelas regras abstratas

    da democracia ou pela participao

    coletiva em espaos pblicos (CAN-

    CLINI, 2005 , p. 29).

    E este mundo de consumo torna-se um mundo de angstias, de perdas fre-qentes (se pensarmos na volatilidade das bolsas de valores, da tenso blica entre pases e do terrorismo), de degrada-o da poltica e de descrena nas institui-es, palco de estratgias para ampliar as possibilidades de se produzir e distribuir produtos.

    As formas de luta a respeito do que necessrio ou desejvel revelam uma outra articulao no modo de se estabe-lecer identidades: dependem daquilo que se possui, ou daquilo que se pode chegar a possuir (CANCLINI, 2005, p. 30).

    Seguindo a lgica de consumo e identidade, encontramos em Debord (1997) o delineamento de uma socieda-de do espetculo, resultado do modo de produo existente sob todas as suas for-mas particulares - informao ou propa-ganda, publicidade ou consumo massivo de divertimentos -, cujo espetculo cons-titui um modelo atual da vida dominante na sociedade. O autor trata essa questo

    como a afirmao onipresente da escolha j feita na produo, e o consumo que decorre dessa escolha (forma e conte-do) so presena permanente, justificativa total das condies e dos fins do sistema existente, ocupao da maior parte do tempo vivido na produo moderna (DE-BORD, 1997, pp. 14-15).

    O espetculo, sempre presente, se liga ao imaginrio. No possvel fazer uma distino entre a atividade social efe-tiva e a atividade do espetculo.

    A realidade vivida materialmen-

    te invadida pela contemplao do

    espetculo e retoma em si a ordem

    espetacular qual adere de forma

    positiva. [...] Assim estabelecida, cada

    noo s se fundamenta em sua pas-

    sagem para o oposto: a realidade

    surge no espetculo e o espetculo

    real. Essa alienao recproca a

    essncia e a base da sociedade exis-

    tente (DEBORD, 1997, p. 15).

    E nessa aproximao-oposio de realidades e situaes, o espetculo se clarifica como uma reconstruo material da iluso religiosa, local onde os homens haviam depositado suas potencialidades, longe das bases terrestres da existncia. E assim, a partir do momento em que a vida terrestre se torna opaca e irrespirvel, o espetculo, como representao indepen-dente para alm das potencialidades do homem, torna-se um paraso ilusrio, uma necessidade socialmente sonhada, um so-nho necessrio (DEBORD, 1997, p. 19).

    Em oposio ao sonho, e por conse-qncia, ao espetculo, a razo surge, so-bretudo, como prioridade cientfica, com um papel bem definido no dilogo entre o possvel e o real, j que a razo se esfor-a por descrever a natureza e seus fen-menos e distinguir a fantasia da realidade.

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    Artigo

    Mas o homem, como foi demonstrado, est inserido numa dinmica que tem tan-ta necessidade de sonho como de realida-de. E, atravs da crena naquilo que no se pode ver ou pegar, o homem busca alternativas para sua satisfao pessoal. 1

    Dinmica da cultura

    da (s) mdia (s)

    Os fenmenos culturais s funcio-nam culturalmente porque so tambm fenmenos comunicativos. Se a cultura j inseparvel da comunicao, no caso das mdias, isto se torna ainda mais in-dissocivel.

    A expresso Cultura da (s) Mdia (s) se aproxima do conceito de cultura de massas, uma vez que, nas concepes tradicionais de cultura, forjadas por uma elite intelectual, tendem a taxar de vulgar toda e qualquer manifestao diferente das chamadas atividades nobres, como a literatura, a arte, o cinema, o teatro etc, produzidas sob o incentivo das classes polticas e econmicas dominantes.

    em virtude de um novo quadro, com o advento da comunicao e cultu-ra informatizadas e interativas, que L-cia Santaella (1996, p. 14) cunhou a de-nominao do termo Cultura das Mdias no plural para salientar os efeitos dessa interao entre cultura erudita e cultura popular. O termo, a partir de ento, foi rapidamente incorporado e associado ao panorama das novas tecnologias e tor-nou-se voz corrente junto com uma srie de outras expresses, tais como redes mi-diticas, tecnologias miditicas, globaliza-o dos sistemas de comunicao, cultura virtual, era das mdias, entre outros.

    Ampliando a anlise para questes culturais, Douglas Kellner (2001), com uma abordagem ancorada nos Estudos Culturais, parte para observao direta de produtos miditicos, visando sondar a na-tureza e os efeitos do modo como essa forma de cultura influencia aspectos da vida diria e como produz novas formas de cultura (KELLNER, 2001, pp. 10-11).

    A viso de Kellner atenta para o fato que:

    H uma cultura veiculada pela m-

    dia cujas imagens, sons e espetcu-

    los ajudam a urdir o tecido da vida

    cotidiana, dominando o tempo de

    lazer, modelando opinies polticas

    e comportamentos sociais, e forne-

    cendo o material com que as pes-

    soas forjam sua identidade. O rdio,

    a televiso, o cinema e outros pro-

    dutos da indstria cultural fornecem

    os modelos daquilo que significa ser

    homem ou mulher, bem-sucedido ou

    fracassado, poderoso ou impotente.

    A cultura da mdia tambm fornece

    o material com que muitas pessoas

    constroem o seu senso de classe, de

    etnia e raa, de nacionalidade, de se-

    xualidade, de ns e eles. Ajuda

    a modelar a viso prevalecente de

    mundo e os valores mais profundos:

    define o que considerado bom ou

    mal, positivo ou negativo, moral ou

    imoral (idem, p. 9).

    As narrativas e as imagens veicu-ladas pela mdia atuam na formao de smbolos, mitos ou outros recursos que ajudam na construo de uma cultura co-

    _______________________

    1 - A idia desse pargrafo encontra inspirao numa frase de Franois Jacob registrada na contracapa do livro: JAPIASSU, H. Saber Astrolgico: impostura cientifica? So Paulo, Letras & Letras, 1992. Mas sua origem certa, prpria do autor, no consta no interior da obra consultada.

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    Artigo

    mum para uma maioria de indivduos es-palhados por diversas regies do mundo. As identidades, criadas por esse substra-to, inserem os indivduos nas sociedades tecnocapitalistas contemporneas, pro-duzindo uma cultura global e industrial, organizada com base no modelo de pro-duo de massa e produzida para a mas-sa de acordo com gneros, seguindo fr-mulas, cdigos e normas j convencionais para uma cultura comercial, que almeja grande audincia (ibidem, p. 9).

    Kellner (2001, p. 10) analisa tambm que a cultura contempornea da mdia cria formas de dominao ideolgica que ajudam a reiterar as relaes existentes de poder, ao mesmo tempo em que fornece material para a construo de identida-des, modelando indivduos. Em geral, no um sistema de doutrinao ideolgica rgida, que induz concordncia com as sociedades capitalistas existentes, mas sim aos prazeres propiciados pela mdia e pelo consumo. Aqui encontramos forte correspondncia com o produto analisa-do, uma vez que os temas observados na revista associam-se sempre aos seus leito-res pelos vieses do prazer e do consumo.

    O Kitsch: um recurso para a conquista do pblico

    A indstria cultural se especializou em produzir e vender efeitos prontos, prescrevendo com o produto as condies de uso e, com a mensagem, a reao que deve provocar. Em conseqncia desse re-curso, a cultura classificada como mdia e popular no vende mais a obra de arte e

    sim os seus efeitos, levando o artista a per-correr caminhos opostos: fugir da sugesto dos efeitos e caminhar para a compreen-so do processo que leva obra.

    O mau gosto, assim como a arte, pa-dece pela falta de definio: embora to-dos saibam muito bem o que seja, na hora de defini-lo, atrapalham-se. A definio parece to difcil que at para reconhe-c-lo de costume apoiar-se no em um paradigma, mas sim na opinio daqueles considerados peritos ou pessoas de gosto (ECO, 1987, p. 69).

    A princpio, o mau gosto reconhe-cido instintivamente como algo fora do lugar, aquilo que seja menos adequado. Ele individualizado como algo fora de medida e essa medida varia com as po-cas e sociedades. Em uma ltima anlise, a definio de mau gosto, em arte, seria a pr-fabricao e a imposio de efeitos.

    A palavra Kitsch2 tem origem na cul-tura alem por volta de 1860 e deriva das formas Kitschen que quer dizer atravan-car, a tambm da forma Verkitschen, que significa trapacear, vender uma coisa no lugar de outra, segundo Umberto Eco (1987). Da juno desses dois termos que se originou o sentido pejorativo do Kitsch: uma negao do autntico, ordi-nrio, o mau gosto.

    Articulado como uma espcie de mentira artstica, o kitsch seria um projeto cujo valor no seria de despertar desejo pelo conhecimento, mas sim, uma forma de assinalar efeitos. Seu pblico alvo seria ento aquele que deseja usufruir determi-nados valores, mas sem esforar-se para isso. Abraham Moles (1994, p. 33) explica

    _____________________________

    2 - Como um termo particular o kitsch no foi traduzido para outras lnguas, ele foi de imediato transportado.

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    que o kitsch seria uma atitude tpica de origem da pequena burguesia, um meio para afirmao cultural fcil, que goza unicamente de uma imitao secundria da representao do original e aproxima-se, portanto, da cultura de massa.

    Diante das atribuies creditadas ao kitsch, o objeto de estudo deste traba-lho, a revista Guia Astral, se aproxima desse conceito, uma vez que um pro-duto de massa, feito para as classes C, D e E, segundo a categorizao da prpria Editora, mas produzido por jornalistas, redatores, diagramadores, designers, ad-ministradores entre outros profissionais de formao especfica. A Revista tem ti-ragem mensal de 100.000 exemplares e se auto define como

    [...] lder em vendas do segmento

    e uma referncia, em se tratando

    de Horscopo, Astrologia e signos.

    Alm das previses mensais e dicas

    astrais de JOOBIDU, a publicao

    traz, ainda, matrias sobre compor-

    tamento, tira-dvidas sobre amor e

    sexo, testes, artistas, posters e muito

    mais! (Disponvel em: www.altoas-

    tral.com.br. Acesso em: 28/11/2006).

    A aproximao do objeto de estudo com o Kitsch se faz pelo fato do produto ser categorizado como objeto de valor es-ttico distorcido ou exagerado, considera-do inferior, freqentemente associado ao gosto mediano, e fazendo uso de estere-tipos e chaves, visando tomar para si va-lores de uma tradio cultural privilegiada (a leitora, o conhecimento sobre um as-sunto etc). Essa tradio privilegiada atu-aria como normatizadora, a partir do pen-samento de uma classe mdia, produtora desse material, mas que o repele quanto sua apropriao e utilizao pelas classes a que se destina.

    O gnero revista

    As revistas surgem na Europa e nos Estados Unidos no sculo XVIII com obje-tivo diferente dos jornais impressos, o de publicar assuntos variados, de comentar as notcias e aprofundar os temas. No Bra-sil, segundo Muniz Sodr (1978), apenas na segunda metade do sculo XIX que o gnero se populariza.

    Sodr explica que o jornalismo pe-ridico est ligado publicidade. As re-vistas, principalmente, esto vinculadas estrutura capitalista do mercado. Cada re-vista tem a prpria estratgia de anncio que se baseia em um pblico especfico, os anncios so voltados queles leitores das classes A, B, C, D ou E.

    Alm da publicidade, os padres editoriais so importantes para atrair o consumidor. Sodr os resume em trs ter-mos: sensao, sucesso e relaxamento (1978, pp. 46-47).

    Sensao: apenas os ngulos inte-ressantes dos assuntos sero abordados, aspectos tidos como sensacionais, ligados a sexo. Nas revistas o sensacionalismo com maior freqncia intemporal.

    Sucesso: A mensagem da revista se condiciona aos gostos das classes a que se dirigem os anncios.

    Relaxamento: O entretenimento um dos pontos principais de uma revista.

    Mas para atrair o leitor o importante o contedo tem um peso muito grande. Com tantas revistas no mercado comum encontrar especializadas em quase todos os assuntos e para todos os gostos.

    O saber astrolgico

    Nas sociedades, todos os saberes (cientficos, filosficos, astrolgicos, etc.) convivem pacificamente, apesar de no podermos detectar com absoluta certeza a veracidade de alguns, como no caso da Astrologia.

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    O termo saber, no livro intitulado O Saber Astrolgico Impostura Cientfica? designa um conjunto de conhecimentos apreendidos pela razo e pela experin-cia humana que pode ser comunicvel a todos e verificvel tambm por todos. J a Impostura refere-se a atitude de um falsrio consistindo em fazer passar por cientficos certos discursos, certas teorias [...] quando, na realidade, pouco ou nada possuem de propriamente cientficos (JAPIASSU, 1992, pp. 8-10). Nesta obra o autor procura esclarecer, primeiramente, quanto cientificidade do conhecimento para posteriormente questionar as chama-das falsas cincias.

    Donde a proliferao, em nossa cul-

    tura, das chamadas cincias ocultas,

    das pseudo-, para- ou cripto-cin-

    cias, todas elas procurando reivindi-

    car um estatuto de cientificidade ao

    lado das cincias propriamente ditas.

    O que no deixa de ser compreen-

    svel. Porque a cincia uma cons-

    truo humana. Faz parte da cultura

    (1992, p. 14).

    Para muitas pessoas algo s ver-dadeiro quando atestado cientificamente, porm, existem impostores honestos que acreditam cegamente naquilo que pregam utilizando-se de tcnicas cientficas para trazer respostas s inquietaes humanas, predizer o futuro dos homens e escla-recer os segredos de sua vida (idem, p. 10). Quando algum se utiliza da retrica para esclarecer o que o amor, ou algo sobre destino, explora o fascnio do mito, da magia, da ideologia e do sensacional, quando sabemos que suas mensagens so inverificveis e irrefutveis.

    O autor defende que a impostura cientfica pode ser considerada uma ra-zo dona da verdade, onde no so com-

    batidos seus erros, mas sim compreendi-das as razes do seu sucesso e isso se d devido carncia de cultura cientfica da populao, inclusive a letrada. Apenas a Cincia pode responder verdadeiramente nossas questes e problemas tericos, po-rm quando no obtemos resposta, surge o sentimento do abandono, insegurana e decepo, e aqui que entra a astrologia.

    Numa sociedade ainda dominada

    pela religio crist, a astrologia vis-

    ta como uma tentativa de racionali-

    zar o universo. Contribui para a fixa-

    o da idia segundo a qual o futuro

    da vida humana e social no pode

    mais ficar cegamente submetido a

    decises imprevisveis de um Deus

    tambm imprevisvel. [...] A astrolo-

    gia pressupe certo determinismo,

    pois acredita que somos governados

    pelos astros (1992, p. 31).

    A astrologia age como um porto seguro para quem perdeu a crena na ra-zo e no encontra no mundo burocrati-zado um projeto de felicidade pessoal. O futuro, visto da perspectiva astrolgica, uma busca palpvel diante das possibili-dades encontradas na sociedade.

    Metodologia

    Este estudo sobre a revista Guia As-tral utiliza como metodologia de pesqui-sa a Anlise de Contedo na tentativa de encontrar indcios que revelem, ou no, laos entre a mdia e seu pblico, seguin-do um modelo de consumo utilizado pela revista ao explorar o fascnio do mito e a ideologia, atravs da astrologia e assuntos definidos como kitsch. Para tanto, foram selecionados os temas utilizados nas ma-trias, simpatias e outros textos, categori-zados com objetivo de encontrarmos seus assuntos. Partimos de perguntas como:

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    Quais so os temas que aparecem nas matrias, simpatias, dicas, cartas, testes e astrologia da revista Guia Astral? A partir dos temas encontrados, qual seria o perfil do leitor suposto pela revista?

    A anlise de contedo visa des-crio sistemtica, objetiva e quantitativa do contedo manifesto da comunicao (BAUER, 2004, pp. 189-217). utilizada na construo de ndices, como por exem-plo, os apresentados neste estudo sobre a quantidade e caractersticas dos temas.

    Coleta e anlise

    dos resultados

    Para anlise da revista, as categorias foram divididas em cinco sees: 1) Dicas, 2) Simpatias, 3) Testes, 4) Cartas e 5) As-trologia. Exclumos deste estudo o Desta-que, onde entrevistada a personalidade do meio televisivo, Grazielli Massafera, o Parado de sucessos, destinado a duas letras de msica, o Correio paixo, onde pessoas interessadas em relacionamentos trocam recados e parte da seo Joo Bidu conta Tudo, pois destinada a su-gestes e saudaes a Joo Bidu3.

    Dentro das categorias de anlise,

    a proposta encontrar as temticas que mais se destacam, para isso, aps uma leitura da revista foram propostos cinco temas que mais apareceram: a) Amor, b) Dinheiro, c) xito, d) Sexo e e) Beleza.

    a. Amor: assuntos sobre relaciona-mento bem ou mal resolvidos, busca pelo par ideal, desiluso;

    b. Dinheiro: seo ligada estrita-mente a relao de consumo. Aumentar, chamar, atrair, ter mais dinheiro;

    c. xito: situaes de resoluo de conflitos que culminam em resultados satisfatrios, bons ou conseqncia, efeitos positivos, vitria e /ou sucesso;

    d. Sexo: englobam assuntos rela-cionados paixo, teso, sedu-o, intimidade entre casais, pra-zer, orgasmo; gravidez;

    e. Beleza: relacionado ao bem es-tar fsico, boa forma, dicas de es-ttica, sade, etc.

    Com as categorias dispostas, proce-demos sua tabulao para visualizao em conjunto das porcentagens de apari-o de cada tema (Tabela 1):

    ___________

    3 - Joo Bidu astrlogo e responsvel pela Guia Astral. Todas as cartas so respondidas e assinadas por ele.

    Tabela 1: Freqncia e porcentagem das aparies dos temas em cada categoria.

    CATEGORIAS AMOR DINHEIRO XITO SEXO BELEZA TOTAL

    DICASSIMPATIAS

    TESTESCARTAS

    Freq.5 5 212

    %41,7255050

    Freq.0400

    %-

    20--

    Freq.4710

    %33,33525-

    Freq.23110

    %16,71525

    41,7

    Freq.1102

    %8,35-

    8,3

    Freq.12 20424

    %100100100100

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    Na tabela 1 esto dispostas as ca-tegorias de anlise e os temas que mais apareceram em cada uma delas. Foram computados para cada categoria apenas um tema, diferente da Tabela 2, cujas te-mticas no eram excludentes entre si, podendo em apenas uma seo conter um ou mais temas.

    No total foram encontradas 60 ocor-rncias relacionadas em 5 temas: Amor, com 24 (40%) referncias, Dinheiro com 4 (6,7%) aparies, o tema xito apareceu 12 (20%) vezes, Sexo registrou 16 (26,6%) referncias e Beleza 4 (6,7%).

    Na seo Dicas, de um total de 12 assuntos, o destaque foi para o tema Amor que apareceu 5 vezes (41,7%), Dinheiro no registrou nenhuma ocorrncia, xito apareceu 4 vezes (33,3%), Sexo 2 (16,7%) e beleza apenas 1 vez (8,3%).

    Na seo Simpatia, 20 assuntos fo-ram computados. O tema Amor registrou 5 aparies (25%), Dinheiro 4 (20%), o tema xito foi o de maior ocorrncia, 7 (35%), Sexo 3 (15%) e Beleza apenas 1 vez (5%).

    Foi registrado 4 assuntos na sesso Testes com destaque para o tema Amor, que apareceu 2 vezes (50%), no houve ocorrncia para os temas Dinheiro e Be-leza, e os temas xito e Sexo registraram uma apario cada um (25%).

    Nas Cartas foram analisados 24 as-suntos, o tema Amor apresentou 12 ocor-rncias (50%), Dinheiro e xito no foram citados, o tema Sexo apareceu 10 vezes (41,7%) e 2 (8,3%) de Beleza. (Tabela 2)

    A seo Astrologia foi analisada se-paradamente, j que um ou mais temas foram enquadrados na categoria. Assim, para cada apario de um tema, mesmo que repetido, somou-se como uma apa-rio. Um exemplo o tema xito que apareceu sozinho nas Previses 2007 e em conjunto com o tema Beleza em Os astros e voc em Dezembro.

    O tema que mais apareceu foi xito com 5 aparies em um total de 8 assuntos, em segundo lugar os temas Amor e Beleza tiveram 3 registros cada, Sexo apareceu em 2 assuntos e Dinheiro em apenas 1.

    O pblico da

    revista guia astral

    Os cinco temas principais encontra-dos na revista podem sugerir um possvel pblico leitor, seus interesses, desejos e anseios ao consumir a Guia Astral. No-ta-se que aqui, o consumo est ligado busca de algo.

    Geralmente as matrias so reporta-das s mulheres, dicas com tom de acon-selhamento para elas serem bem sucedi-das com o homem amado, o que fazer para ter um bom namoro, etc. No tema Amor fica implcito, no discurso do pro-duto editorial, a idia de que para a mu-lher ser feliz ela deve estar bem com o parceiro (Acabe com os males do amor, Seu ex um problema?, Conquistar um novo amor, Famlia aceitar seu namo-ro so exemplos das frases encontradas na revista). Um exemplo da relao feli-

    Tabela 2: Nmeros das aparies dos temas mais freqentes na categoria Astrologia.

    CATEGORIA AMOR DINHEIRO XITO SEXO BELEZA

    ASTROLOGIA 3 1 5 2 3

    TOTAL 3 1 5 2 3

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    cidade aliada ao amor foi encontrado na matria Solteira e Feliz. No ttulo acre-dita-se que apesar de no ter parceiro, a mulher pode ser feliz, porm dentro da matria encontra-se 2 boxes com os ttu-los: Viva uma nova paixo e Para con-quistar um amor.... O ttulo e os boxes se tornam contraditrios, pois para ser feliz no se pode ficar sozinha e aconselha-se as solteiras a viverem uma paixo e a con-quistar um amor.

    Na matria Eu te amo a revis-ta aconselha as mulheres a demonstrar a paixo com atitudes. Tratar o amado com respeito, afeto, e elogios vale mais que mil declaraes (Revista Guia As-tral, 12/2006, n. 248, p.67). E para se declarar, a mulher precisa criar um clima ideal fazendo um jantarzinho romnti-co, dar presentes, alm de uma incrvel noite de amor [...].

    Para ser feliz preciso, alm de um amor, ter dinheiro. Para conseguir suces-so financeiro, a revista aconselha na se-o das Simpatias o que fazer. Nota-se que no h dicas de investimentos, como abrir um negcio, ensinamentos de ar-tesanato, mas sim uma maneira simples, fazendo simpatias (Ter mais dinheiro, Muito dinheiro no bolso, Atrair fortuna, Lentilha da fortuna).

    As matrias relacionadas catego-ria xito so, na maioria impulsionado-ras, dando conselhos a seguir a vida com fora, acreditar mais no prprio potencial (Livrar-se do azar, Seja mais voc!, Sorte o ano inteiro, Abrir seus caminhos). Aqui, talvez, se possa afirmar que a revista pro-cura incentivar sua leitora a no desistir diante dos percalos da vida. Tanto no horscopo quanto nas matrias, o foco est em fazer acreditar que sempre o que est por vir ser melhor, depositar a espe-rana no ano novo, no futuro.

    Na seo cartas, o tema sexo apa-

    receu em 41, 7% das ocorrncias, s per-dendo para o Amor (50%). Geralmente os assuntos abordados so pessoais, ques-tes que dificilmente as pessoas tm co-ragem de conversar com um amigo, mas se sentem confortveis ao escrever para a revista, pois confiam nela. Na carta Mo-ramos em 29 pessoas um rapaz no sabe como assumir a homossexualidade para a famlia de 29 pessoas. Em outro caso as leitoras perguntam o que fazer para sentir prazer (No sinto prazer). Essas histrias da vida real refletem o lado emocional das leitoras, pessoas que tem problemas com o marido, buscam em outros homens o carinho que no recebem em casa, a imaturidade com que lidam com as ques-tes ntimas, sem a busca de conselhos mdicos.

    Para finalizar, foram encontradas re-ferncias na busca pela beleza, primeiro quanto ao ideal de magreza (Obesidade e Para emagrecer), as mulheres querem dicas, simpatias e dietas, tudo o que for possvel para seguir o padro imposto pela moda, querem ser bonitas cuidando da pele e do cabelo (Mscaras caseiras e Queda de cabelos).

    Analisando os cinco temas, encon-tra-se um padro de mulher, seus an-seios, a busca pela realizao pessoal em cada aspecto da vida, no amor, financei-ramente, conquistando seus ideais, no sexo e esttica.

    O perfil dessa leitora, portanto, surge num mundo idealizado de busca constan-te pelo sucesso. Essa busca encontra con-forto quando o oculto ou o insondvel ganha ares de uma quase amizade com a mdia. Ela atua como uma conselheira, e assim, de forma normatizadora, j que in-duz, atravs de seus temas, a um tipo de-terminado de recortes que so captados pelas leitoras como uma forma de viver, uma meta a seguir para ser feliz.

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    Artigo

    Consideraes Finais

    Cada pessoa possui um desejo que pretende realizar, um estilo de vida que se quer conquistar, amar e ser amado, ideais que ficam explcitos na revista Guia Astral. Em cada categoria, consta-tou-se um pouco desse segmento midi-tico e seus anseios.

    Buscou-se trabalhar com o conceito de cultura das mdias para explicar como a presena constante da mdia, originou uma intensa produo, que, de to oni-presente, gerou uma quase inoperncia das separaes rgidas entre cultura eru-dita, cultura popular e cultura de massas (SANTAELLA,1996, p. 9).

    Esse trnsito infinito de informao e produes culturais camufla algumas ocorrncias interessantes de formao de laos entre o pblico e o produto veiculado. Na sociedade atual, um des-ses laos passa pelo consumo. Atravs do tipo de informao consumida che-gamos a um perfil, que embora genera-

    lizante, revela formas de composio da identidade. Os recursos utilizados, como demonstrado atravs da aproximao da revista com o Kitsch, trabalham a partir da repetio de efeitos prontos: a leito-ra quer, precisa, interage e busca aquela informao. A Revista amiga, o astrlo-go um conselheiro e os temas e as dicas so fundamentais e, at mesmo, necess-rios para esclarecer ou mesmo informar sobre qual o melhor caminho para con-sumir, vestir, pensar, comportar-se e ter xito na vida.

    Considerando que a Revista desti-nada ao pblico C, D e E, o apelo emo-tivo e tambm ao sobrenatural muito forte. No livro Saber Astrolgico, H. Ja-piassu (1992) diz que o uso das chamadas falsas cincias para explicar fenmenos que no so, mas se passam por cient-ficos, podem iludir as pessoas devido carncia que elas tm de conhecimento cientfico e mesmo a crise em relao a eficincia dos padres racionais.

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    Artigo

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    Anlise da inserode elementos narrativos

    inditos do seriadotransmdia Lost em seumaterial promocional

    Glauco Madeira de Toledo *

    *Mestrando em Imagem e Som pela Universidade Federalde So Carlos UFSCar desde 2009. Docente do Instituto Municipal de

    Ensino Superior de Bebedouro IMESB.

    Resumo

    O presente trabalho uma primeira anlise do seriado televisivo Lost, do discurso presente na obra e de como seus produtores trabalham para criar referncias externas pr-pria obra, de forma a criar um conjunto de peas publicit-rias que corrobora idias centrais da narrativa, estendendo assim o universo ficcional para alm do horrio de exibio do seriado. Utiliza-se o ponto de vista da Semitica Peirceana vista por Santaella e Nth.

    Palavras-chave

    Seriado Transmdia, Lost, Anlise.

    Introduo

    Realizado pela emissora norte-ame-ricana ABC e exibido a partir de 22 de setembro de 2004 nos EUA, e de 07 de maro de 2005 no Brasil, Lost o seriado televisivo que teve o episdio piloto mais caro da histria da televiso mundial:

    O episdio piloto de Lost foi o mais

    caro da histria da televiso, tendo

    custado entre 10 e 14 milhes de d-

    lares. O programa tornou-se um dos

    maiores sucessos comerciais da tele-

    viso em 2004 e, juntamente com a

    outra srie estreante da ABC, Donas

    de Casa Desesperadas (Desperate

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    Housewives), ajudou a reverter a m

    fase do canal televisivo.1

    Naturalmente, o piloto mais caro no garantia de sucesso, o que sugere que a srie tem qualidade narrativa ou comercial, seno ambas. O sucesso ocorre desde o incio da primeira temporada, segundo o site do Observatrio da Imprensa:

    Lost atingiu 18 milhes de especta-

    dores nos Estados Unidos, 6 milhes

    na Inglaterra e se tornou um sucesso

    mundial. No Brasil, liderou o horrio

    em todas as faixas etrias no canal

    pago AXN em 2005. 2

    Pallottini define em seu livro Dra-maturgia de televiso (PALLOTTINI, 1998, p. 30) que:

    O seriado uma produo ficcional

    para TV, estruturada em episdios

    interdependentes que tm, cada um

    em si, uma unidade relativa. A uni-

    dade total inerente ao conjunto, ao

    seriado como um todo, mas difere,

    claro, da seqncia obrigatria e in-

    dispensvel da minissrie.

    A estrutura narrativa de Lost usa, en-tretanto, vrias seqncias de aconteci-mentos encadeadas em arcos, o que pede que o espectador assista a todos os epi-sdios (ou o mais prximo possvel dis-so) para compreender adequadamente as tramas de suspense. como se houvesse minissries dentro do seriado. H tramas principais que duram temporadas intei-

    ras e h tramas secundrias, mais rpidas. Por se tratar de um seriado de suspense, a importncia da correta absoro das pis-tas torna a investigao dos espectado-res mais minuciosa. Isso, por si s, tende a segur-los fiis srie, mas dificulta aos espectadores eventuais a compreenso da mesma, o que pode atrapalhar a adeso audincia do seriado. Entretanto, o site da prpria emissora, no endereo www.abc.com, permite aos residentes nos EUA acessar o vdeo em alta definio de qual-quer captulo j exibido. Emissoras de te-leviso que exibem o seriado fazem reca-pitulaes eventuais. Praticamente todos os episdios que precisam de informaes fornecidas anteriormente para serem com-preendidos se iniciam com Previously on Lost, um apanhado das cenas mais rele-vantes do seriado todo, no s do captulo anterior, para o entendimento do episdio a seguir. Soma-se a isso o fato de que in-meros espectadores no-residentes em ter-ritrio estadunidense regularmente fazem download de arquivos piratas dos epis-dios para ter acesso a um trecho perdido na televiso, ou para reassisti-lo.

    importante mencionar que os pro-dutores de Lost realizaram at 2008 a exibi-o de quatro temporadas (82 episdios). H a promessa de produo de mais duas temporadas, com 17 captulos cada. A s-rie ainda no est, portanto, completa. Isso no impede, entretanto, que se faa uma anlise da maneira como o discurso organizado na srie nestas quatro tempo-radas j exibidas at 2008, bem como do material externo srie que pode ser con-siderado material promocional3, mas com

    _______________________

    1 - .

    2 - .

    3 - Comerciais televisivos, aes de marketing/comunicao, recapitulaes, romances e jogos de computador produ-zidos a pedido dos produtores. Excluem-se aqui os licenciamentos para outros grupos comerciais de quebra-cabeas, action figures (bonecos articulados).

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    apelo narrativo complementar ao do mate-rial televisivo original. Essas caractersticas situariam Lost como uma obra transmdia. Segundo Henry Jenkins4 (2007), transm-dia representa um processo em que ele-mentos integrais da fico so dispersos sistematicamente atravs de mltiplos ca-nais de distribuio, com o propsito de criar uma experincia de entretenimento unificada e coordenada. Idealmente, cada mdia faz sua prpria contribuio para o desvelamento da histria.

    Na ilha de Lost

    A sinopse do seriado a seguinte: aps um desastre de avio, alguns sobre-viventes precisam se manter vivos espe-ra de um resgate em uma ilha que, a prin-cpio, parece deserta. As relaes que vo se formando entre os personagens so entremeadas por cenas do passado dos mesmos, o que enriquece as informaes a respeito de seu comportamento, do ca-rter, de suas histrias. Mas os sobrevi-ventes descobrem que no esto sozinhos na ilha, e que o que quer que seja que est ali junto com eles vai amea-los.

    Sendo um seriado de televiso, Lost uma obra extensa (cuja proposta de realizao de 99 episdios de aproxima-damente 42 minutos cada) e, como tal, uma anlise minuciosa de cada plano fil-mado que tenha ido ao ar excede o esco-po deste trabalho. Todavia, algumas refe-rncias visuais se repetem com freqncia no decorrer da srie.

    Os planos de abertura de diversos captulos, dentre eles o plano inicial do episdio piloto (Pilot: Part 1, 2004), um Plano Detalhe (PD) do olho do persona-gem Jack Shephard; em Walkabout (epi-

    sdio 04, 1 temporada), PD do olho de John Locke; em White Rabbit (episdio 05, 1 temporada), PD do olho de Jack ainda criana; em The Moth (episdio 07, 1 temporada), PD dos olhos de Charlie Pace; em Raised by Another, (episdio 10, 1 temporada) PD do olho de Claire Lit-tleton... E as temporadas seguem, repe-tindo o recurso inmeras vezes. clara a preocupao com o detalhe, ou seja, com as mincias da trama de suspense que so colocadas cuidadosamente em cada episdio. Tambm o fato de o tema escolhido para o plano de abertura ser um olho no obra do acaso. como se, montando uma frase, transformando a imagem em texto, tivssemos um aviso do diretor: olho no detalhe. Ou olhe de perto. H tambm para se levar em conta o provrbio de que os olhos so o espe-lho da alma. Quando se escolhe mostrar um PD do olho de um personagem, esse personagem a figura central daquele episdio. quando veremos atravs de sua alma, via de regra atravs do uso de flashbacks, ou seja, de cenas do passado entremeadas nas cenas do presente.

    Estas imagens dos olhos dos perso-nagens so metforas:

    A metfora representa seu objeto

    por similaridade no significado do

    representante e do representado. Ao

    aproximar o significado de duas coi-

    sas distintas, a metfora produz uma

    fasca de sentido que nasce de uma

    identidade posta mostra. (SANTA-

    ELLA, 2005, p. 18)

    Outras mensagens que sero aqui observadas so verbais. O nome do su-

    _______________________

    4 - Henry Jenkins Diretor do MIT Comparative Media Studies Program, no Massachussetts Institute of Technology.

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    pracitado episdio nmero 05, White Rab-bit, uma clara referncia ao coelho bran-co do livro Alice no Pas das Maravilhas. O episdio final da terceira temporada chama-se Through the Looking Glass, ou Atravs do Espelho, nome do outro livro que conta as estrias da personagem Alice.

    Desta forma, referncias intertex-tuais a personagens ou pessoas famosas se encaixam na mesma categoria. im-portante mencionar que, sendo Lost uma srie de suspense, em que cada detalhe uma pista em potencial, os nomes dos personagens trazem uma carga muito im-portante de informao para os especta-dores que conheam as personalidades citadas. Um fato histrico, um elemento da fico, uma teoria cientfica menciona-dos ou referenciados na srie so elemen-tos passveis de averiguao por parte dos ansiosos fs, que pouco ou nada hesitam para pesquisar na internet5 detalhes que ajudem a construir hipteses para suas dedues, indues e abdues.

    John Locke (1632-1704) foi um Fil-

    sofo Iluminista que discutia a relao

    entre natureza e civilizao, mais tar-

    de tem grande influncia nos funda-

    dores dos governos democrticos. Ele

    acredita que, no estado da natureza,

    todos os homens tem direitos iguais

    para punir os transgressores; para as-

    segurar um julgamento justo a todos,

    os governantes eram formados para

    melhor administrarem as leis.6

    Em Lost, John Locke um entusiasta da natureza que acredita que na ilha, todos tem iguais direitos. O site Lostpedia traz o comentrio abaixo sobre o Locke filsofo em comparao com o personagem:

    Em 1693, Locke publicou um trata-

    do entitulado Alguns Pensamentos

    Sobre Educao, mostrando os pas-

    sos que um garoto em crescimento

    devem seguir. Especificamente vol-

    tados para os filhos da burguesia,

    Locke advoga contra a indulgncia

    excessiva e crianas mimadas. Eles

    devem manter as crianas afastadas

    de histrias infantis, devem priv-las,

    instrui-los em desejos prticos, resul-

    tando em um funcional e respons-

    vel membro da sociedade. Esses te-

    mas tem paralelos bvios na conflito

    entre Locke e Michael sobre o qu

    Walt poderia e no poderia fazer en-

    quanto estivesse na ilha.7 (A ltima

    frase da citao se refere aos perso-

    nagens de Lost.)

    Outros filsofos tambm so home-nageados com seus nomes atribudos a personagens e, assim, transformados em metforas. o caso de Jean-Jacques Rous-seau (1712-1778), autor do conceito do nobre Selvagem. A srie tem uma per-sonagem chamada Danielle Rousseau, que viveu por dezesseis anos na ilha selvage-mente e que agora ajuda os sobreviventes.

    Tambm David Hume (1711-1776)

    _______________________

    5 - interessante perceber que, devido ao enorme volume de informaes necessrio para a adequada compreen-so das citaes e referncias da srie a elementos externos, bem como o enorme volume de conexes internas, estruturou-se uma enciclopdia digital aberta para insero de dados por parte de espectadores do mundo todo, no formato da Wikipedia, mas exclusivamente relativa a Lost a Lostpedia.

    6 - .

    7 - Ibidem.

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    mencionado na figura de Desmond Hume; Anthony Cooper (1621-1683 - foi mentor e patrono do filsofo Locke), na srie seu homnimo pai de John Locke; Mikhail Bakunin (1814-1876) tambm o nome de um personagem.